O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.Filtro:
Título de artigo compartilhado em grupos bolsonaristas no Facebook omite que uma pesquisa eleitoral que apresentou vantagem para o atual presidente foi feita apenas em Santa Catarina. O Estado no Sul do país representa apenas 3,5% do eleitorado brasileiro.
Conteúdo verificado: Artigo em site cujo título diz que “Bolsonaro aparece com mais que o dobro que Lula” em nova pesquisa eleitoral.
É enganoso o título de um artigo compartilhado em grupos governistas no Facebook que afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem mais que o dobro de intenções de voto que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A chamada omite que o levantamento foi realizado apenas no Estado de Santa Catarina – que corresponde a 3,5% do eleitorado nacional.
A informação que a pesquisa é estadual aparece apenas no corpo do texto. Mas, como fica evidenciado nos comentários das postagens do link no Facebook, muitas pessoas se confundiram, acreditando se tratar de um levantamento realizado em todo o país.
O Comprova entrou em contato com o site responsável pela publicação, mas não obteve resposta.
Como verificamos?
Consultamos a pesquisa mencionada no artigo, realizada pela empresa Paraná Pesquisas. Verificamos ainda os resultados de outros levantamentos de intenção de voto, feitos pelos institutos Datafolha e Ipec (formado por ex-executivos do Ibope). Procuramos ainda estatísticas de eleitorado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Tentamos contato com o site News Atual, que publicou o artigo verificado aqui, mas não obtivemos resposta.
Verificação
Resultados da Paraná Pesquisas
O levantamento do Paraná Pesquisas indica que Bolsonaro tem 52% das intenções de voto, contra 24,2% de Lula no Estado de Santa Catarina. Os ex-ministros Ciro Gomes e Luiz Henrique Mandetta aparecem com 3,6% e 2,8%, respectivamente. O governador gaúcho, Eduardo Leite, foi mencionado por 2% dos entrevistados.
Foram ouvidos 1.514 eleitores catarinenses, de 86 municípios, entre os dias 15 e 19 de julho. As perguntas foram feitas por telefone. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
A mesma empresa divulgou uma pesquisa nacional em 16 de junho. Nela, Bolsonaro e Lula aparecem empatados tecnicamente: o primeiro, com 34,3%; o segundo, com 32,5%. O apresentador José Luiz Datena tem 7,5% e Ciro, 5,8%. Depois, vem o governador de São Paulo, João Doria, com 3,4%, e Mandetta, com 3,2%.
Este levantamento teve metodologia diferente: foram ouvidos, presencialmente, 2.040 eleitores de 156 municípios do país. Na região Sul, foram feitas 302 entrevistas, 14,8% do total.
O Paraná Pesquisas publicou recentemente outras pesquisas regionais. Em Maceió, capital do Alagoas, 41,3% disseram preferir Lula, e 28,4% citaram Bolsonaro. Em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, o petista teve 32,6% e o atual presidente, 26,1%. No Estado do Ceará, essas porcentagens foram de 45,9% e 19,4%, respectivamente.
Como são feitas as pesquisas de intenção de voto
O objetivo de uma pesquisa eleitoral é fazer um retrato da opinião da sociedade naquele momento. As pesquisas não antecipam resultados, mas podem apontar tendências. Agora, a mais de um ano para as eleições, é preciso olhar para os números com um olhar crítico.
As pesquisas buscam obter informações sobre o eleitorado a partir de uma amostra – um grupo de pessoas com características de sexo, idade, escolaridade, renda e região em proporções semelhantes ao do restante do país. As amostras do Datafolha, por exemplo, costumam ter entre 2 mil e 2,5 mil entrevistados.
Nas últimas pesquisas divulgadas por Datafolha e Ipec, o percentual de moradores do Sul do Brasil foi de 15%. Isso porque, segundo as estatísticas mais recentes do TSE, 14,7% dos votantes vivem lá – são mais de 21,5 milhões de pessoas.
Santa Catarina é o Estado com menos eleitores no Sul. São 5,1 milhões de votantes, que representam 3,5% do eleitorado nacional.
Na pesquisa Ipec divulgada em junho, 35% dos entrevistados do Sul disseram que votariam em Lula; 29% citaram Bolsonaro. O Datafolha de julho indicou números semelhantes: 35% dos sulistas ouvidos mostraram preferência pelo petista, e 29% pelo atual presidente.
É importante ressaltar que as amostras por região são menores. Como explica o Datafolha em sua página de perguntas e respostas, “quanto menor o tamanho do segmento, maior o erro amostral associado aos resultados nele obtidos. Uma amostra de 2.500 entrevistas, por exemplo, fornece bases razoáveis para leituras por região geográfica, mas não pelos Estados. Se houver necessidade de leitura de resultados para determinado Estado ou cidade, é preciso ampliar a amostra nesta região”.
O site checado
O Comprova entrou em contato com o site News Atual para perguntar por que o título do artigo analisado não deixou claro que a pesquisa em questão foi feita apenas entre catarinenses. Não obtivemos resposta. O site já foi checado em outras duas ocasiões pelo Comprova: em uma verificação que desmentiu que o filho de Lula teria “embolsado” R$ 317 milhões com uma delação e em outra que mostrou que o patrimônio de Marisa Letícia pertencia ao casal Lula da Silva.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
O conteúdo verificado teve mais de 15,6 mil interações no Facebook, sendo 1,3 mil compartilhamentos, de acordo com a ferramenta CrowdTangle.
Conteúdos que questionam a credibilidade de pesquisas científicas e estatísticas sobre eleições são prejudiciais porque ajudam a espalhar acusações de que o sistema e o processo eleitoral brasileiros são fraudulentos. Isso cria um ambiente para questionamento dos resultados das eleições, caso eles não tenham o resultado esperado por determinado grupo político, como vem afirmando constantemente o presidente Jair Bolsonaro. Não houve registro de fraudes em eleições brasileiras desde a adoção das urnas eletrônicas, em 1996.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
É enganosa a publicação no site Terça Livre que afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina para combater a covid-19. O texto omitiu que o estudo mencionado, realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12, foi feito em hamsters, e não em humanos.
Conteúdo verificado: Texto do site Terça Livre afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina contra a covid-19.
É enganosa a publicação no site Terça Livre que afirma que um estudo francês apontou a eficácia da ivermectina para combater a covid-19. O texto omitiu que o estudo mencionado, realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12, foi feito em hamsters, e não em humanos. Estudos publicados até o momento são insuficientes para concluir que a ivermectina seja eficaz contra o novo coronavírus.
O Comprova procurou o Terça Livre por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Após o contato, a publicação do site foi editada para incluir a informação de que o estudo em questão foi feito em hamsters.
Como verificamos?
O Comprova leu o estudo citado na publicação e também a checagem feita pela AFP sobre o assunto. Em seguida, consultou o doutor em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Alison Chaves.
Para a verificação, também foram consultadas outras pesquisas sobre o uso da ivermectina no tratamento da covid-19 e agências reguladoras que falam sobre o medicamento.
Por fim, entramos em contato com o site responsável pelo texto.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de julho de 2021.
Verificação
Estudo
O estudo realizado pelo Instituto Pasteur da França e publicado na revista EMBO Molecular Medicine no último dia 12 mostrou que doses padrão de ivermectina foram capazes de prevenir a deterioração clínica e a perda de olfato, além de limitar a inflamação do trato respiratório superior e inferior em hamsters sírios (também chamados de hamsters dourados) infectados com SARS-CoV-2. Foi concluído que a ivermectina melhorou o resultado clínico nos animais infectados com o vírus e está associada a um estado inflamatório reduzido, mas sem impacto das cargas de SARS-CoV-2 no trato respiratório superior e inferior. Por fim, o estudo afirma que traz a prova de conceito de que uma terapia imunomoduladora baseada em ivermectina melhora a condição clínica de hamsters infectados com SARS-CoV-2 e, em ensaios clínicos, aliviaria os sintomas da covid-19 em humanos.
Em nota à imprensa, o Instituto Pasteur informou que os pesquisadores demonstraram que ‘’a ivermectina, uma molécula comercializada como um tratamento antiparasitário, protege contra os sintomas da Covid-19 em um modelo animal’’. O Instituto Pasteur informou à AFP, parceira do Comprova, que esses resultados foram obtidos como parte de um estudo pré-clínico.
Chaves ainda aponta que o modelo animal pode ter uma quantidade muito maior da citocina se comparado a humanos. ‘’Não conheço a fundo os modelos inflamatórios em hamster, mas camundongos, por exemplo, produzem uma enxurrada de interferon. Esta foi uma das limitações na época dos estudos com zika vírus. Os animais não desenvolviam a doença pelo excesso de interferon inerente ao modelo. Isso foi resolvido gerando camundongos geneticamente modificados para expressar menos interferon’’.
O Comprova tentou entrar em contato por e-mail com o pesquisador do Instituto Pasteur Guilherme Dias de Melo, um dos responsáveis pelo estudo, mas não obteve retorno.
O resultado em hamsters significa que será igual em humanos?
Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou à AFP que “todo estudo sobre qualquer droga tem fases pré-clínica e clínica até que fique comprovado por meio de estudos clínicos randomizados, duplo-cego, que esse medicamento combate determinada doença”.
‘’A Sociedade Americana de Infectologia e outras sociedades do mundo afirmam que a ivermectina só poderá ser usada quando sua eficácia for comprovada em estudos clínicos. Até agora não está demonstrada a eficácia da ivermectina para tratar covid-19 em seres humanos”, acrescentou Ribeiro. Ele alertou ainda que após testar uma droga em animais, jamais se pode extrapolar o resultado para seres humanos.
Alison Chaves também aponta que não é possível usar o estudo para embasar qualquer conduta clínica: ‘’Trata-se de um estudo em modelo animal. Por isso não se pode extrapolar esses dados para clínica, como fizeram os autores, tanto ao sugerir melhora clínica (termo inapropriado para modelos animais) quanto ao sugerir que a droga poderia ser usada na clínica para covid-19, considerando estes resultados.”
Estudos com ivermectina não comprovaram eficácia contra covid-19
Embora não exista comprovação científica de que a ivermectina seja eficaz contra a covid-19, o Terça Livre citou outros quatro estudos que supostamente indicariam a eficácia do medicamento. Ao Comprova, o doutor em Microbiologia e Imunologia Alison Chaves analisou cada um deles.
O primeiro é um estudo australiano de junho de 2020. ‘’O estudo australiano aponta o caminho inverso do estudo do Instituto Pasteur. Nesse estudo, a ivermectina reduz a carga viral in vitro. No estudo francês in vivo, não há redução importante da carga viral e os autores sugerem que o caminho é outro (imunomodulação). Estudos in vitro são apenas screening de drogas, não servem para embasar condutas clínicas’’, analisa Chaves.
Outros dois estudos mencionados pelo site são metanálises. Nesses casos, diferentes estudos sobre um mesmo assunto são agrupados e, então, os resultados são comparados. ‘’O estudo da Indonésia é uma metanálise cujas conclusões dependem fortemente de estudos mal feitos e, descoberto mais recentemente, fraudados’’, diz Chaves. Em junho deste ano, ele publicou um artigo na Revista Questão de Ciência sobre como essas metanálises de ivermectina são compostas por estudos suspeitos. “Observe que o estudo de Oxford é outra metanálise que usa exatamente os mesmos estudos problemáticos. Especial atenção para o estudo de Elgazzar em ambas metanálises’’, completa. O Comprova também já publicou uma verificação mostrando que a metanálise publicada no Open Forum Infectious Diseases em julho é insuficiente para apontar a eficácia da ivermectina contra a covid-19.
Já o quarto e último estudo citado, publicado no Chest Journal, é finalmente um estudo clínico. ‘’No entanto, é de baixa qualidade de evidência. O estudo é retrospectivo, não foi controlado em nenhum aspecto. Em síntese, agrupando todos estes estudos, não há contribuição alguma para se reduzir as incertezas sobre eficácia do tratamento proposto. Neste caso, não se pode concluir nada sobre a droga. Uma conclusão negativa seria de qualidade duvidosa pelas mesmas razões já mencionadas’’, conclui.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda que a ivermectina seja usada contra a covid-19, exceto em ensaios clínicos, devido à falta de evidências que comprovem seus benefícios contra a doença. A Agência Europeia de Medicamentos e a FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, compartilham o mesmo posicionamento. No Brasil, a Anvisa também reconhece que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso do medicamento para o tratamento da covid-19.
Quem postou
O Terça Livre pertence a Allan dos Santos, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news. O Google removeu o canal no YouTube do site após decisão judicial favorável à multinacional. Em fevereiro o canal já havia sido derrubado por violar diretrizes da plataforma, mas uma liminar conseguiu permitir o retorno do perfil. O Comprova procurou o Terça Livre por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Após o contato, o texto do site foi editado e a informação de que o estudo em questão foi feito em hamsters foi incluída.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia, processo eleitoral ou políticas públicas do governo federal. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. A publicação verificada aqui teve mais de 4 mil interações no Facebook.
A checagem de conteúdos envolvendo informações sobre supostos tratamentos para a covid-19 é importante, pois a desinformação pode colocar a saúde das pessoas em risco.
A mesma publicação foi verificada pela AFP Checamos na última terça-feira (20).
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
É enganoso vídeo publicado no Facebook e Twitter no qual um médico afirma que o diagnóstico negativo de um exame sorológico que fez provaria que a Coronavac não gera imunidade contra a covid-19. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que o exame não é capaz de medir o nível de proteção garantida por vacinas, pois mede apenas a quantidade de anticorpos neutralizantes, que representam só parte do sistema imunológico humano.
Conteúdo verificado: Em um vídeo publicado nas redes sociais, o médico Delano Santiago Pacheco diz que foi imunizado com duas doses da Coronavac. Porém, ao fazer dois testes sorológicos não teria apresentado anticorpos neutralizantes suficientes contra o Sars-CoV-2. Ele conclui que a vacina não serviu para ele.
Médico engana ao associar o resultado de um teste de anticorpos neutralizantes à eficácia da vacina Coronavac. Os anticorpos só são uma das defesas ativadas após uma imunização e também não se sabe qual a quantidade necessária deles para garantir uma proteção.
Tanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) não aconselham a realização desse tipo de exame após a vacinação por esses dois motivos.
Conforme explicado pela imunologista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Anna Castelo Branco, esse tipo de teste só serve para saber se a pessoa teve contato com o vírus, o que não assegura que ela tenha ou não imunidade contra a doença.
O vídeo foi removido das redes sociais dele, mas circula em outros perfis, como o da ex-deputada federal pelo PTB do Rio de Janeiro Cristiane Brasil. Em outra publicação, do mesmo médico, ele admite que os anticorpos não são a única forma de defesa contra o vírus produzida após a vacinação.
Como verificamos?
O primeiro passo feito pelo Comprova foi procurar saber quem era o médico que falava no vídeo. Com isso, fomos tentar entender que teste ele tinha feito, o que esse exame mede e se ele serve para apontar a eficácia de uma vacina. Para isso, além das notas técnicas divulgadas pela Anvisa e pela SBIm, consultamos a imunologista do ICB-USP Anna Castelo Branco.
Também tentamos entrar em contato com Delano, responsável pelo vídeo, pelo e-mail disponível no site da Câmara Municipal de Divinópolis (MG), onde ele é suplente, e pelo número de WhastApp divulgado em sua página do Facebook, mas até o fechamento dessa checagem, não obtivemos retorno. Além disso, tentamos falar com a ex-deputada federal pelo PTB do Rio de Janeiro Cristiane Brasil pelo Facebook.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2021.
Verificação
Testes sorológicos não são capazes de medir eficácia de uma vacina
Existem dois tipos de testes sorológicos para a covid-19 disponíveis no mercado. Esses exames servem para medir se a pessoa tem anticorpos contra o vírus. O mais simples deles mede se a pessoa tem anticorpos de memória, o IgG – nesse caso só se sabe se a pessoa teve contato com o vírus. O segundo tipo de teste é um pouco mais detalhista. Ele mede se a pessoa tem os chamados anticorpos neutralizantes, que servem para impedir a entrada do vírus na célula. Não fica claro no vídeo exatamente qual o teste que o médico fez, mas ao que parece ele fez um exame de anticorpos neutralizantes.
O problema desse exame é que ainda não há estudos que demonstrem qual a quantidade de anticorpos neutralizantes necessária para impedir uma infecção. De acordo com explicação do site do Laboratório Exame, a única indicação do teste é para quem deseja saber se já teve contato com o vírus da covid-19.
Segundo a imunologista Anna Castelo Branco, nenhum teste sorológico disponível no mercado tem a capacidade de medir a eficácia de uma vacina. “Ainda não foi estabelecida qual é exatamente a necessidade de anticorpos que são necessários para bloquear a entrada do vírus na célula”, destaca Anna.
Além disso, ela lembra que os anticorpos neutralizantes são só uma das defesas ativadas pela vacina. Para as outras não há testes capazes de fazer a medição. “O segundo ponto é que o sistema imunológico é treinado em várias frentes diferentes, como se fosse um exército composto por vários batalhões. O anticorpo é só um desses batalhões, mas a gente tem a imunidade inata, que é primeira linha de defesa, e a adaptativa”, ressalta.
O próprio médico, autor do vídeo, fez essa explicação em outra postagem após a repercussão da primeira. No novo vídeo, ele adota um tom diferente e, apesar de não desmentir o primeiro, diz que o teste sozinho não é capaz de determinar que uma pessoa não está imune. Ele afirma que, além dos anticorpos, existem outras defesas que são ativadas com a vacina, mas que não há como medi-las.
Anna Castelo Branco explica que o médico usa conceitos corretos, mas ele erra ao dizer que a vacina não foi capaz de protegê-lo, já que a defesa não é feita somente pelos anticorpos. “Ele é muito enfático em dizer que não está protegido e isso não é verdade. Ele pega uma única informação e tira uma conclusão clínica. Esse dado isolado de uma única pessoa não representa nada quando a gente fala de eficácia de uma vacina. O que é mais real são os ensaios clínicos que são feitos em várias pessoas. E a Coronavac tem alta efetividade, principalmente no que é prioridade, que são os casos graves e mortes”, destaca.
Uma análise da resposta imunológica provocada pelas diferentes vacinas em uso, publicada na revista científica Nature em julho, apontou que as respostas apresentadas têm sido diferentes e que ainda não há como saber qual dessas defesas é mais eficaz contra a covid-19. Os autores concluem que estudos futuros devem ser feitos analisando as pessoas que se infectaram mesmo estando vacinadas. “Análises abrangentes e cuidadosas de todos os dados imunológicos, comparando as respostas pós-vacina iniciais em indivíduos que foram infectados após a vacinação com aqueles que não foram, acabarão por fornecer uma resposta.”
Com a repercussão do vídeo, a Secretaria de Saúde de Divinópolis (Semusa) emitiu uma nota pública em que contesta a fala do médico. Na publicação, o órgão apresenta orientações da Anvisa e da SBIm que desaconselham o uso de testes sorológicos após a vacinação.
Segundo a SBIm, em nota técnica de março deste ano, testes sorológicos não são recomendados após a vacinação por não terem a capacidade de medir de forma correta se a pessoa está imunizada. “A complexidade da imunidade pós-vacinal ou mesmo após doença natural, no entanto, não corrobora a realização dos testes, pois os resultados não traduzem a situação individual de proteção”, afirma.
A instituição lembra ainda a fragilidade do método, já que a imunização não é formada apenas por anticorpos. “A complexidade que envolve a proteção contra a doença torna desaconselhável a dosagem de anticorpos neutralizantes com o intuito de se estabelecer um correlato de proteção clínica, pois certamente não se avalia a proteção desenvolvida após vacinação apenas por testes laboratoriais ‘in vitro’ através da dosagem de anticorpos neutralizantes”, destaca.
Em nota técnica, a Anvisa também se manifestou contra a realização dos exames. A agência destaca que, para que esses testes pudessem ser de alguma forma utilizados, seria indispensável saber a quantidade de anticorpos que são necessários para neutralizar o vírus. “Assegurar a proteção ao vírus, seja pela imunidade adquirida após uma infecção ou desenvolvida após a vacinação, requer estudos que verifiquem a quantidade de anticorpos necessária para a efetividade da proteção. A avaliação por quanto tempo estes anticorpos ficam viáveis no organismo e que seja verificado também a sua funcionalidade, isto é, a sua capacidade de neutralização. As informações quanto à proteção ao Sars-CoV-2 ainda não foram estabelecidas pela ciência”, diz. “Independentemente do resultado de um ensaio sorológico, devem ser seguidas as orientações e cuidados quanto ao distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos”, completa.
O mesmo entendimento foi destacado pelo Instituto Butantan, fabricante da Coronavac no Brasil. “Testes sorológicos não servem para avaliar se alguém está protegido ou não contra a covid-19. Os testes de anticorpos detectam a presença de anticorpos em determinado momento, sendo úteis apenas para identificar pessoas que foram expostas ao vírus, não para garantir se alguém está protegido ou não contra a doença. Mesmo a Anvisa recomenda não utilizar estes testes para avaliar a proteção”, explicou em post no Instagram.
O que se sabe sobre a eficácia da Coronavac
A Coronavac foi aprovada para uso emergencial no Brasil pela Anvisa em janeiro de 2021 e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho. A vacina teve uma eficácia global de 50,38% na fase três dos testes clínicos no Brasil.
Além dos testes clínicos, um estudo feito pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e constatou queda de 80% nos casos sintomáticos de covid e de 86% nas internações, além da redução de mortes em 95%.
Outra pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, apontou queda de 80% nos casos de covid-19 entre os 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac.
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
Conteúdos sobre vacinas ou tratamentos contra a covid-19 são ainda mais necessários, já que podem induzir a população a recusar medidas de prevenção, como as vacinas, e se expor a riscos durante a pandemia. O conteúdo verificado aqui teve 8,2 mil visualizações e mil interações no Facebook. Já no Twitter, foram mais de 3,1 mil visualizações e 300 curtidas.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Post sobre a covid-19 engana ao afirmar que "não há nenhuma lógica" em se vacinar uma vez que pessoas imunizadas podem, como as não protegidas, transmitir o vírus. A publicação vai na contramão do que afirmam órgãos como Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde, segundo os quais a vacinação é uma das principais ferramentas para conter a pandemia.
Conteúdo verificado: Publicação no Instagram que tenta colocar em xeque a eficácia dos imunizantes contra a covid-19 ao afirmar que tanto pessoas vacinadas quanto não vacinadas podem transmitir o coronavírus.
É enganosa a publicação que viralizou no Instagram comparando pessoas vacinadas com não imunizadas para insinuar que a proteção não é eficaz contra o novo coronavírus. A imagem do post traz a inscrição “Os não vacinados podem pegar covid e podem transmitir covid; os vacinados podem pegar covid, podem transmitir covid, mas estão vacinados” e, na legenda, “A irracionalidade sem nenhuma lógica…pare e pense”.
A reportagem tentou falar com o perfil que publicou o post, @mulherdireitaconvervadora, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Como verificamos?
Inicialmente, a equipe buscou reportagens sobre a relação entre pessoas imunizadas e a transmissão da doença e também sobre estudos ligados à campanha de vacinação.
Também pesquisou informações em sites como os do Ministério da Saúde e da OMS e utilizou uma verificação recente feita pelo Comprova, sobre como o diagnóstico positivo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não indicava a ineficácia da Coronavac.
Além disso, a reportagem entrevistou por telefone o epidemiologista e professor do curso de Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho e tentou falar, via mensagem privada no Instagram, com o perfil que fez a publicação, mas não houve resposta.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2021.
Verificação
Transmissão
O post verificado aqui afirma que “os vacinados podem transmitir a covid”. Esse dado é verdadeiro, já que nenhum imunizante é 100% eficaz contra qualquer doença. Mas, diferentemente do que a publicação faz crer, isso não significa que se vacinar é um ato de “irracionalidade”.
Foi o que evidenciou um estudo do Instituto Butantan realizado em Serrana, no interior paulista. Com 75% da população adulta totalmente vacinada (com duas doses da Coronavac), os pesquisadores já conseguiram observar uma queda importante entre os novos casos sintomáticos da doença e de hospitalizações. Quando 95% estavam imunizados, a cidade viu as mortes caírem em 95%.
Consultado pelo Comprova, o epidemiologista Walter Ramalho explica que é possível perceber uma diminuição no período de transmissão pelas pessoas vacinadas que foram contaminadas pelo novo coronavírus. “Quando uma pessoa imunizada contra a covid-19 entra em contato com o vírus, ela vai ter uma resposta imunológica mais rápida da doença. Vai transmitir, mas o período de transmissão é bem menor em relação às pessoas não vacinadas”, ressalta.
Essa tendência também foi observada em pesquisa realizada em parceria com o Ministério da Saúde, com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e com a Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Os pesquisadores analisaram o cenário epidemiológico entre 3 de janeiro a 27 de maio, e identificaram uma redução significativa de mortes pela covid-19 entre brasileiros com mais de 70 anos – população com maior cobertura vacinal no momento.
No entanto, pesquisas podem apresentar resultados distintos umas das outras por diversos aspectos, que incluem o perfil da população, idade e diferentes respostas imunológicas de cada organismo. É exatamente por isso que não tem como comparar uma vacina com a outra.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ressalta que todas as vacinas analisadas e autorizadas pelo órgão são seguras e possuem perfis de eficácia definidos por estudos desenvolvidos e ainda em andamento. “É importante destacar que estas são vacinas novas e que por isso seguem em monitoramento”, salientou em nota.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. O post verificado aqui atingiu mais de 3,7 mil interações até 22 de julho.
A checagem de conteúdos envolvendo informações sobre a vacina é importante, pois a desinformação pode colocar a saúde das pessoas em risco. Como citado acima, ao contrário do que o post faz crer, a imunização é uma das principais formas para conter a pandemia.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Ministra compartilhou conteúdo enviesado de um site. O estudo original, que ainda não foi revisado por outros pesquisadores ou publicado em revistas científicas, analisa apenas o risco de morte de crianças e adolescentes por covid-19 na Inglaterra, e não as taxas de suicídio.
Conteúdo verificado: A ministra Damares Alves divulgou link para um texto alegando que “cinco vezes mais crianças morreram por suicídio no confinamento do que por covid-19”, supostamente baseado em uma pesquisa do Reino Unido. Na legenda do post, defende a reabertura das escolas.
São enganosas as análises que o site Epoch Times e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, fazem acerca de um estudo que analisa dados sobre mortes de crianças e adolescentes por covid-19 na Inglaterra. Os pesquisadores não analisaram as taxas de suicídio. Não é correto, portanto, atribuir o número de casos a medidas de isolamento, como sugere a postagem.
Tanto o site quanto a ministra associam o número de suicídios entre menores de 18 anos na Inglaterra, citado no levantamento, ao fechamento de escolas e ao distanciamento social. O dado, entretanto, aparece no documento apenas como comparativo com o número de crianças e adolescentes mortos em decorrência da covid-19. Os autores não analisam se houve aumento ou diminuição destes casos em tempos de lockdown. Em junho deste ano, entretanto, o órgão britânico National Child Mortality Database (NCMD) compartilhou em sua página artigo concluindo haver poucos indícios de que tenha havido mortalidade excessiva entre crianças e adolescentes durante o período de lockdown no país.
O Comprova conversou por e-mail com um dos pesquisadores para saber se é correto atribuir os casos de suicídio a medidas de isolamento na pandemia. David Odd, professor da Escola de Medicina da Universidade de Cardiff, respondeu que investigou essa questão em uma outra pesquisa, ainda não publicada, concluindo que “não foram encontradas evidências concretas de que a morte de crianças por suicídio tenha aumentado durante a pandemia de covid-19 na Inglaterra”.
O Comprova procurou Damares Alves e o site que publicou o conteúdo distorcendo a pesquisa britânica. A assessoria da ministra não respondeu aos questionamentos. O site não recebeu a mensagem enviada pelo endereço de contato informado.
Como verificamos?
O Comprova consultou a viralização do conteúdo utilizando a ferramenta CrowdTangle e analisou o estudo original citado na publicação compartilhada pela ministra Damares Alves, buscando também na imprensa reportagens que tivessem feito a divulgação dos resultados.
Os verificadores pediram ao psicólogo Caio Maximino de Oliveira, doutor em Neurociências e Biologia Celular e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que fizesse uma análise do estudo.
Os autores da pesquisa britânica foram procurados por endereços de e-mail que constam nas páginas de suas universidades. David Odd, da Universidade de Cardiff, foi o único que respondeu até a publicação desta checagem.
Por meio de relatórios e reportagens, foi pesquisada a forma como ocorreu o fechamento das escolas na Inglaterra. Por fim, tentou-se contato com o veículo que publicou o conteúdo e com a assessoria da ministra.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2021.
Verificação
Estudo
O estudo “Deaths in Children and Young People in England following SARS-CoV-2 infection during the first pandemic year: a national study using linked mandatory child death reporting data” foi divulgado na primeira semana de julho nas plataformas Research Square e medRxiv.
Esses sites funcionam como repositórios de preprints, ou seja, de versões preliminares de um manuscrito não revisado por outros cientistas. As duas plataformas, inclusive, alertam que o estudo não deve ser absorvido como informação estabelecida, nem utilizado para orientar a prática clínica.
As análises de dados de saúde pública foram conduzidas por pesquisadores britânicos. O grupo de menores de 18 anos que morreu de SARS-CoV-2 na Inglaterra foi comparado ao mesmo grupo que morreu de todas as outras causas usando estatísticas resumidas, e as diferenças entre os grupos foram comparadas.
O estudo concluiu que 25 pessoas menores de 18 anos, ou seja, crianças e adolescentes, morreram de SARS-CoV-2 durante o primeiro ano de pandemia, o equivalente a uma taxa de mortalidade de duas a cada milhão. No Brasil, o resultado foi divulgado pela Revista Crescer.
A maioria dos mortos tinha uma comorbidade subjacente, principalmente neurodeficiências e condições limitantes de vida, e eram de etnias asiática e negra.
Os pesquisadores afirmam ter usado um conjunto de dados de mortalidade nacional exclusivo vinculado aos dados do NHS — sigla em inglês para Serviço Nacional de Saúde —, além de informações do Banco de Dados Nacional de Mortalidade Infantil (NCMD).
Em meio a essas informações, os autores apontam que o SARS-CoV-2 contribuiu com 0,8% das 3.105 mortes registradas entre crianças e adolescentes entre março de 2020 e fevereiro de 2021. É neste ponto do estudo em que são citadas as mortes por suicídio (124) e as mortes por trauma (268), como exemplos para enfatizar que a covid-19 raramente é fatal entre menores de 18 anos naquele país.
Os pesquisadores apontam que, no período entre março de 2020 e fevereiro de 2021, dentre as 3.105 mortes registradas entre crianças e adolescentes, 61 testaram positivo para a covid-19 — 5 mortes a cada 30 dias. Os casos detectados foram revisados, identificando que a doença havia contribuído para a morte de 25 jovens (41%) — duas mortes a cada 30 dias.
O psicólogo Caio Maximino de Oliveira, doutor em Neurociências e Biologia Celular e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), faz algumas ressalvas em relação ao estudo. Ele destaca que passar pela revisão por pares é o padrão básico para avaliar a qualidade de artigo científico, o que ainda não ocorreu nesse caso.
Afirma, também, que o método utilizado pelos autores para calcular o risco não é ideal. “O risco de morte ou de internação foi calculado com base em toda a população de crianças e adolescentes do Reino Unido, e não em relação à população de crianças e adolescentes que pegaram covid-19”, explica Oliveira.
“Só posso saber a mortalidade ou o risco de uma doença causar algum evento grave que leve à internação se analisar quem pegou a doença, e não quem não pegou. A norma, na literatura epidemiológica, é analisar desse jeito, e não da forma como os autores fizeram. Os resultados, portanto, não querem dizer nada”, avalia.
O pesquisador destaca que o estudo original não trata sobre suicídio, cujos dados foram utilizados para comparação na contextualização. “Com certeza, se esse artigo for publicado, isso vai ser retirado da versão final. Eles não fazem inferência estatística sobre isso.”
Suicídios
O suicídio é citado apenas uma vez no estudo, para efeito de comparação em números de mortes em menores de 18 anos. Em determinado trecho, na discussão, os pesquisadores dizem que o “risco de remoção das crianças e adolescentes de suas atividades normais em eventos educacionais e sociais pode ser um risco maior do que o próprio SARS-CoV-2”. A menção, entretanto, é desacompanhada de qualquer dado científico que comprove ou sustente a ideia.
O Comprova buscou as mesmas bases de dados citadas nas referências dos estudos: o Serviço Nacional de Saúde (NHS) e o National Child Mortality Database (NCMD), um sistema que passou a registrar todos as mortes em menores de 18 anos desde abril de 2019, incluindo dados demográficos e clínicos dos eventos que levaram ao óbito.
Foram localizados relatórios a partir do ano terminado em março de 2018. De acordo com o documento “Revisões da morte infantil: ano terminado em 31 de março de 2018”, publicado pelo NHS, foram registradas 190 mortes por suicídio, dano autoinfligido ou aparente suicídio em menores de 18 anos no período.
Este é o último relatório público localizado. Desta forma, o Comprova não teve acesso ao relatório onde constam as 124 mortes por suicídio informadas pelo estudo entre os meses de março de 2020 e fevereiro de 2021.
Em 25 de junho de 2021, o órgão compartilhou o artigo “Mortalidade infantil na Inglaterra durante a pandemia COVID-19”, que concluiu haver poucos indícios de que tenha havido mortalidade excessiva durante o período de lockdown no país. O estudo destaca que os dados utilizados foram coletados junto ao NCMD e que não estão disponíveis publicamente.
Este levantamento aponta terem sido registradas 1.550 mortes de crianças entre 6 de janeiro e 28 de junho de 2020. Destas, diz, 437 das mortes foram ligadas aos registros de virologia do SARS-CoV-2 e 25 (5,7%) e tiveram um resultado de PCR positivo.
As taxas de mortalidade por todas as causas durante o lockdown, no período analisado, foram semelhantes na comparação com as registradas no período de 2019. Conforme a conclusão deste estudo, são poucos os indícios de que tenha havido mortalidade excessiva durante o período de isolamento social.
Outro estudo, publicado na revista The Lancet Regional Health Europe, em abril deste ano, comparou o número de suicídios na população em geral da Inglaterra — não apenas crianças e adolescentes — entre abril e outubro de 2020 com janeiro a março do mesmo ano. O objetivo foi analisar os indicadores antes e depois do primeiro lockdown no país.
“Não observamos um crescimento nas taxas de suicídio na Inglaterra nos meses posteriores ao primeiro lockdown nacional de 2020, apesar das evidências de maior angústia na população”, apontam os autores, que destacam algumas limitações do estudo, como o fato de a pesquisa se concentrar em um período inicial da pandemia e não focar em características populacionais e geográficas.
Em resposta ao Comprova, o pesquisador da Universidade de Cardiff, David Odd, um dos autores do estudo britânico, encaminhou uma outra pesquisa divulgada na plataforma medRxiv que analisou de fato a incidência de suicídios de crianças e adolescentes na pandemia. Esse preprint afirma que foram encontrados 193 prováveis suicídios de jovens com menos de 18 anos na Inglaterra entre abril e dezembro de 2020, mas que aparentemente não houve aumento de casos do tipo durante a pandemia.
A preocupação com a saúde mental das pessoas, principalmente adolescentes, durante a pandemia, entretanto, existe. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, por exemplo, apontam que o número de tentativas de suicídio nessa faixa etária aumentou, de acordo com reportagem da rede CNBC.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) também emitiu um alerta, em setembro do ano passado, afirmando que a emergência de saúde pode aumentar os fatores de risco para o suicídio, como ansiedade e depressão. E esse tipo de problema pode também estar entre as sequelas da doença, de acordo com pesquisas.
A maioria das análises científicas, no entanto, sugere que essa possível alta nos suicídios pode se tratar de uma visão um tanto alarmista. Um artigo recente da revista científica Asian Journal of Psychiatric, por exemplo, sustenta que “a maioria dos estudos abrangentes baseados em dados apresentam uma redução modesta nas taxas de suicídio totais, enquanto o restante não relatou aumentos significativos durante o primeiro ano da pandemia de covid-19”.
Escolas do Reino Unido não ficaram o tempo todo fechadas
De acordo com um relatório do Parlamento Britânico, a maioria das escolas do Reino Unido foi fechada em 23 de março de 2020, data do primeiro lockdown. Apenas algumas crianças sob responsabilidade de trabalhadores essenciais, que não tinham com quem deixar os filhos para trabalhar, foram admitidas.
Ainda em maio do ano passado, o primeiro-ministro, Boris Johnson, anunciou uma retomada gradual do ensino presencial para algumas faixas etárias prioritárias do ensino primário, com reabertura parcial a partir de 1º de junho. Mas a chegada dos alunos na maioria das escolas aconteceu mesmo apenas em 1º de setembro, ao final do período regular de férias de verão e após cerca de cinco meses em casa.
As escolas permaneceram abertas durante todo o restante do segundo semestre de 2020, mesmo com uma série de restrições impostas pelo governo britânico para conter a escalada de casos de covid-19 e de apelos para o cuidado da população nos meses seguintes. Houve um segundo lockdown nacional na Inglaterra, em 5 de novembro, por exemplo, mas as instituições de ensino ficaram de fora.
Em 4 de janeiro de 2021, diante de mais uma onda de contaminação por covid-19, Johnson anunciou a volta do ensino remoto para escolas primárias, secundárias e faculdades da Inglaterra em um terceiro lockdown. A maior parte dos alunos retornou ao ensino presencial três meses depois, no dia 8 de março. Já as universidades foram totalmente reabertas em 17 de maio.
O estudo referido pela ministra Damares Alves, portanto, abrange tanto épocas em que a maioria das crianças e adolescentes da Inglaterra ficou em casa quanto outros períodos em que os estudantes estavam aprendendo presencialmente, mesmo durante a pandemia. As instituições estiveram abertas durante quatro meses no período analisado, entre os meses de setembro e dezembro. Ainda assim, não há registro de que os autores tenham excluído a quantidade de suicídios de jovens nesse período quando mencionam o dado.
Atualmente, as medidas de prevenção nas escolas estão bem mais flexíveis. O governo britânico não exige mais, por exemplo, o sistema de “bolhas”, que procurava restringir o contato dos estudantes apenas a certas turmas ou idades. Também não é preciso mais usar máscaras, nem manter o distanciamento social no ambiente escolar, exceto sob circunstâncias específicas.
Alunos que tiveram contato próximo com casos positivos também não precisam mais entrar automaticamente em isolamento, em um programa conhecido como NHS Trace and Track. Eles devem apenas fazer o teste de covid-19 e seguir o protocolo sanitário caso estejam contaminados. Outras medidas preventivas simples continuam em vigor, como promover a higienização e garantir a ventilação dos espaços escolares.
O Reino Unido estava com 69% da população totalmente vacinada em 20 de julho, ou seja, com as doses necessárias, e 88% com ao menos a primeira dose, segundo dados oficiais. O país flexibilizou as regras com base nos baixos índices de casos positivos entre os meses de fevereiro e maio, mas enfrenta uma nova alta de diagnósticos desde junho deste ano, com cerca de 47 mil novos casos por dia, em média.
As mortes, por outro lado, seguem em patamares baixos, em torno de 52 por dia, como reflexo da imunização. Esse cenário fez com que o governo britânico relaxasse ainda mais as medidas em 19 de julho — que foi apelidado de “Dia da Liberdade” pelos moradores locais. Não há mais obrigatoriedade de uso de máscaras, exceto no metrô de Londres, nem limite para aglomerações em ambientes abertos e fechados.
Quem ligou o estudo aos suicídios e ao isolamento?
O site Epoch Times publicou um texto distorcendo o conteúdo do estudo britânico, ao dar um destaque inexistente ao número relacionado aos suicídios entre crianças e adolescentes e ao relacionar esse dado aos lockdowns na Inglaterra, o que deturpa as informações contidas na análise.
Segundo detalha reportagem publicada em O Globo, o jornal em questão foi fundado em 2000 e é filiado ao obscuro movimento espiritual chinês Falun Gong, tendo crescido nos anos 2016 e 2017 ao apoiar o ex-presidente americano Donald Trump e abrir diversas páginas no Facebook, tornando-se uma das publicações digitais mais poderosas dos Estados Unidos.
É conhecido, também, por ser um importante fornecedor de desinformação de direita. A organização e as filiadas cresceram promovendo teorias de conspiração e acabaram virando uma máquina de espalhar boatos em escala global. Atualmente, possui versões em dezenas de países, inclusive no Brasil, na qual foi publicado o texto aqui verificado.
Em 2019, conforme o jornal The New York Times, o Facebook baniu a publicidade do Epoch Times após a NBC News publicar um relatório informando que o veículo sem fins lucrativos havia gastado mais de US$ 1,5 milhão em cerca de 11 mil anúncios pró-Trump em seis meses.
Nos sites que mantém, o Epoch Times costuma publicar conteúdos de conspiração, como teorias antivacinação. Já os canais no YouTube promovem o movimento QAnon. O Comprova procurou via email a publicação no Brasil, mas um dia depois recebeu uma mensagem automática afirmando ser impossível a entrega da mensagem “apesar das tentativas repetidas”, com a informação de que “o sistema de e-mail do destinatário recusou-se a aceitar uma conexão do seu sistema de e-mail”.
Já a ministra Damares Alves, que compartilhou a publicação associando o número de suicídios ao fechamento de escolas, é uma das figuras centrais do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas e pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
As medidas de distanciamento social, restrição de circulação e lockdown têm sido responsáveis, desde o início da pandemia, por evitar o colapso dos sistemas de saúde de vários países e por diminuir os índices de transmissão e as mortes em decorrência da contaminação pelo coronavírus. Associar essas medidas de forma enganosa aos números de suicídio pode causar pânico nas pessoas e, consequentemente, alimentar atitudes anti-isolamento.
Segundo a ferramenta CrowdTangle, o conteúdo do site recebeu mais de 17 mil interações no Facebook, mais de 1 mil no Twitter e mais de 33 mil no Instagram.A conta que mais contribuiu para a disseminação do conteúdo enganoso foi a da ministra Damares Alves. Todas as interações no Instagram, por exemplo, partiram do perfil dela. No Facebook, apenas o compartilhamento dela somou 7 mil interações. Na plataforma, o conteúdo foi compartilhado também por perfis de apoio ao presidente Bolsonaro.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
São inverídicos os posts que circulam no Facebook e no WhatsApp afirmando que um falso enfermeiro, que seria filiado ao PCdoB, foi preso no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve internado nos últimos dias. A imagem utilizada pelos autores foi feita em abril de 2021, em Manaus, e a prisão em São Paulo foi desmentida pela Polícia Civil.
Conteúdo verificado: Postagens no Facebook e no WhatsApp com a foto de um falso enfermeiro algemado. O texto afirma que o homem é Joilton Batista Silverio, filiado ao PCdoB, preso pela Polícia Civil após ter sido detido pela segurança do Hospital Vila Nova Star, onde Bolsonaro esteve internado recentemente.
É falso que um homem, se passando por enfermeiro, tenha sido preso no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estava internado. A informação foi desmentida pela unidade hospitalar e também pela Polícia Civil do Estado de São Paulo, ao serem procurados pelo Comprova.
A imagem veiculada junto à informação falsa pertence a um homem preso em abril deste ano, em um hospital de Manaus, capital do Amazonas, segundo reportagens publicadas na época. A Polícia Civil do estado e a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde amazonense confirmaram a informação.
O autor da postagem mais antiga localizada pelo Comprova no Facebook foi procurado via Messenger e afirmou ter recebido o conteúdo de “alguém”. A informação falsa foi apagada logo após o contato.
A partir dessa informação, o Comprova encaminhou e-mails para as assessorias de imprensa do governo e da Polícia Civil do Amazonas, questionando as circunstâncias das reportagens e a veracidade das informações.
Em seguida, consultamos o repositório de dados eleitorais do TSE, onde constam os nomes de todas as pessoas filiadas a partidos políticos no Brasil. Por fim, também entramos em contato com os autores das postagens no Facebook.
Verificação
Caso é de Manaus
A pessoa que aparece na foto que circula com a mensagem falsa foi presa, na verdade, no Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo, em Manaus, em abril deste ano. Segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas, o homem de 36 anos se passava por técnico de enfermagem da unidade, da rede estadual, e foi detido por militares da 27ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom). Com ele, foram encontrados medicamentos de vários tipos, além de materiais cirúrgicos.
A direção do hospital disse que o falso profissional de saúde entrou na unidade por meio do serviço de pronto-atendimento, se passando por um paciente. Depois, em um dos consultórios, vestiu um jaleco e passou a circular dentro do hospital, onde solicitou medicamentos aos verdadeiros profissionais de saúde. Ele foi descoberto por uma enfermeira que desconfiou da presença dele e acionou a segurança da unidade e a polícia.
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas também confirmou a história, acrescentando que ele foi detido pelos crimes de tentativa de furto e falsificação de documento (RG). Um inquérito foi aberto sobre o caso e enviado à Justiça.
As publicações verificadas afirmam que o homem que teria entrado no hospital onde Bolsonaro estava internado se chama Joilton Batista Silvério, teria passagem na polícia por tentativa de homicídio e seria filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
No sábado, dia 17 de julho, quando Bolsonaro ainda estava internado, o deputado federal pelo PCdoB, Orlando Silva, desmentiu, no Twitter, as ligações da suposta pessoa com o partido.
O Comprova ainda tentou buscar pelo nome Joilton Batista Silvério no Google, mas os únicos resultados encontrados foram as postagens falsas e as verificações realizadas por outros veículos. A Polícia Civil do Amazonas não informou o nome do rapaz detido por lá.
Internação de Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro sentiu dores abdominais e foi internado no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, na última quarta-feira (14). Sua equipe médica decidiu levá-lo para o Hospital Villa Nova Star, na zona sul de São Paulo, para avaliar a necessidade de uma cirurgia emergencial. Ele ficou em observação durante quatro dias devido a uma obstrução intestinal e teve alta neste domingo (18). Ele não precisou passar por procedimento cirúrgico.
O presidente politizou a sua internação ao relembrar o atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. Ele voltou a alegar falsamente que Adélio Bispo, responsável pelo ataque, teria recebido ordens do PT e do PSOL. Bispo já foi filiado ao PSOL, mas deixou a legenda em 2014, quatro anos antes do atentado. Além disso, as falas de Bolsonaro contrariam a conclusão de todas as investigações policiais feitas até o momento e que apontaram para ação isolada de Bispo.
Autor da postagem
A página “Aconteceu em Praia Grande” foi a primeira a postar a imagem no Facebook, segundo a ferramenta de análise de redes sociais CrowdTangle. A página foi criada em 14 de setembro de 2018 e diz falar de “festas, eventos, atos de corrupção, prefeitura, policiamento, informações, desaparecimentos”. Parte de suas postagens são em defesa de Bolsonaro.
Procurado pelo Comprova, o responsável afirmou: “Só copiei de alguém, já apaguei”. De fato, a imagem foi excluída na manhã desta segunda-feira (19), após o contato da reportagem.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
Desde antes do pleito que elegeu Jair Bolsonaro presidente, em 2018, ele e apoiadores atacam partidos de esquerda, como o PCdoB. Assim como a sigla, PT e PSOL também são alvos frequentes de informações falsas ou enganosas que circulam amplamente em redes sociais, publicadas principalmente por contas bolsonaristas.
Uma das postagens analisadas pelo Comprova foi compartilhada ao menos 255 vezes no Facebook e recebeu 429 reações. O mesmo conteúdo também circula em aplicativos de mensagem, como o Whatsapp. A alegação foi verificada pelo Boatos.Org e também pelo G1.
Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
O conteúdo verificado pelo Comprova destaca trecho revogado da Lei 10.408, que dispõe sobre um mecanismo da urna que permite a impressão do voto. Além disso, não dá o contexto do que foi dito pela deputada estadual Janaina Paschoal, em junho de 2018, sobre a decisão liminar do STF de derrubar o voto impresso nas eleições daquele ano a partir da suspensão do artigo 59-A da minirreforma eleitoral de 2015.
Conteúdo verificado: Posts publicados por diversas páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) trazem um trecho revogado da Lei 10.408, de 10 de janeiro de 2002, que dispõe sobre um mecanismo da urna que permite a impressão do voto, acompanhados com uma foto da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) e uma frase atribuída a ela defendendo que o voto impresso já é lei e deveria ser implementado.
Posts virais no Facebook enganam ao colocar uma frase da deputada Janaina Paschoal (PSL) ao lado de uma lei de 2002 que foi parcialmente revogada.
De fato, a deputada fez declarações de que “o voto impresso já é lei” e “não deveria nem estar sendo discutido, mas implementado” em um post no Twitter em 2018, mas referindo-se a um artigo da lei 13.165 – a minirreforma eleitoral de 2015 – que dispunha sobre o voto impresso.
Já os posts verificados apresentam trechos de outra lei, a 10.408, que foi sancionada em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Esta segunda legislação de fato previa a impressão do voto, mas o artigo sobre este ponto foi revogado no ano seguinte, pela lei 10.740.
A revogação ocorreu após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) detectar “vários inconvenientes” onde os votos foram impressos, tais como mais urnas com defeito, maior número de votos nulos e brancos e contribuição “para a quebra do sigilo constitucional do voto em algumas seções eleitorais”.
Os dois grupos públicos e o perfil pessoal que publicaram os posts verificados aqui são de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Eles foram procurados pela reportagem, mas não responderam até a publicação deste texto.
Como verificamos?
Inicialmente, a reportagem procurou informações oficiais sobre a lei citada nos posts no site do TSE, do STF (Supremo Tribunal Federal) e da Câmara dos Deputados. Nessas mesmas páginas, pesquisou dados sobre suas atualizações.
O segundo passo foi entrar em contato com Janaina Paschoal, que respondeu por e-mail. A equipe também procurou, por mensagem privada no Facebook, três perfis que publicaram os posts verificados aqui.
Além disso, entrevistou o sociólogo Elimar Pinheiro do Nascimento, professor de sociologia política e ambiental da Universidade de Brasília (UnB), para entender a legalidade e a segurança do voto impresso e eletrônico. Sobre este último, também fez pesquisas no site do TSE.
Verificação
Lei parcialmente revogada
A imagem engana ao destacar um trecho da lei 10.408, de 10 de janeiro de 2002, que diz que “a urna eletrônica disporá de mecanismo que permita a impressão do voto, sua conferência visual e depósito automático, sem contato manual, em local previamente lacrado, após conferência pelo eleitor”.
A lei foi sancionada em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso e ainda está em vigor, mas foi parcialmente revogada. Em outubro de 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei 10.740, que instituiu o Registro Digital do Voto (RDV) – uma espécie de tabela digital que permite, a qualquer tempo, a recontagem dos votos da urna eletrônica – e revogou os dispositivos da lei 10.408 que determinavam a impressão do voto.
Na postagem que está circulando, está destacado o inciso 4, que, com a lei de número 10.740 de 2003, teve a redação alterada, como é possível ver nas duas imagens abaixo:
Segundo o TSE, em 2002, foram detectados vários problemas nos locais em que foi realizada a impressão dos votos, no âmbito da lei 10.408. Naquele ano, 7.128.233 eleitores de 150 municípios de todas as unidades da Federação, isto é, 6,18% do eleitorado brasileiro da época, tiveram voto impresso.
De acordo com um relatório elaborado pelo TSE, “a experiência demonstrou vários inconvenientes na utilização do denominado módulo impressor externo e sua introdução no processo de votação nada agregou em termos de segurança ou transparência. Por outro lado, criou problemas”.
Entre os problemas listados, estão: maior tamanho das filas; maior número de votos nulos e brancos; maior percentual de urnas com votação por cédula – com todo o risco decorrente desse procedimento; maior percentual de urnas que apresentaram defeito, além das falhas verificadas no módulo impressor.
Ainda de acordo com o TSE, a impressão em 2002 “contribuiu para a quebra do sigilo constitucional do voto em algumas seções eleitorais, pois para resolver problemas de travamento de papel na impressora, foi necessária a intervenção humana”.
Por fim, o relatório concluiu que “o voto impresso pode ter efeito desastroso em eleições municipais, muitas vezes decididas com diferença de poucas dezenas ou centenas de votos”. Em reunião do Colégio de Presidentes e do Colégio de Corregedores da Justiça Eleitoral, realizada em Florianópolis (SC), em 28 e 29 de novembro de 2002, um mês após o segundo turno do pleito, os participantes concluíram ser imperativa a eliminação do voto impresso no processo de votação. E aí vem a lei nº 10.740, que revogou o que não deu certo.
Declaração de Janaina é de 2018
O conteúdo verificado traz uma foto da deputada Janaina Paschoal e uma frase atribuída a ela: “Voto impresso já é lei. Não deveria nem estar sendo discutido, mas implementado. Simples assim”.
Ela escreveu essa frase no Twitter, em 6 de junho de 2018. A íntegra está abaixo, e o trecho “trata-se de um direito, inerente à Democracia, poder auditar as eleições” foi cortado no conteúdo que está circulando. Print abaixo:
Nesse dia, o STF decidiu liminarmente, por oito votos a dois, derrubar o voto impresso nas eleições de 2018, a partir da suspensão do artigo 59-A da minirreforma eleitoral de 2015 que instituía: “No processo de votação eletrônica, a urna imprimirá o registro de cada voto, que será depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado. Parágrafo único. O processo de votação não será concluído até que o eleitor confirme a correspondência entre o teor de seu voto e o registro impresso e exibido pela urna eletrônica”.
Os ministros entenderam que “o dispositivo coloca em risco o sigilo e a liberdade do voto, contrariando a Constituição Federal”. Além disso, destacaram a “falta de proporcionalidade e razoabilidade da medida, uma vez que impõe altos custos de implantação – estimados em mais de R$ 2 bilhões – e traz riscos para a segurança das votações, sem haver garantia de que aumenta a segurança do sistema. Isso em um contexto em que faltam indícios de fraude generalizada no sistema de voto eletrônico, existente desde 1996. Foi ressaltada a confiança da população no sistema, tido como referência internacional, e no fato de que a alteração poderia, pelo contrário, minar essa confiança”.
Para o relator, o ministro Gilmar Mendes, “não há comprovação de que a impressão incrementará de forma decisiva a integridade das apurações eleitorais, pois se trata de um processo mecânico, mas controlado por dispositivos eletrônicos. Dessa forma, há riscos teóricos de manipulação das impressões, por exemplo, com o cancelamento de votos”.
Procurada pelo Comprova, Janaina Paschoal afirmou que não conhece a origem da montagem que fizeram com o tuíte dela, de 2018. Como explicitado anteriormente, ela afirmou que estava se referindo ao artigo 2º da lei 13.165 – a minirreforma eleitoral de 2015 – que altera a lei 9.504, de 1997, e dispõe sobre a impressão do voto no artigo 59-A, e não ao trecho da lei 10.408, que foi destacado na montagem enganosa.
A deputada ainda disse que defende o voto impresso, “não por duvidar do atual sistema, mas por entender que, quanto mais segurança, melhor” – afirmação que vai na contramão do que dizem o TSE e especialistas, segundo os quais o sistema eletrônico é mais seguro.
Fraude
Para o sociólogo Elimar Pinheiro do Nascimento, da UnB, o voto impresso, além de não ser mais o sistema legal vigente no país, representaria um retrocesso.
Na entrevista ao Comprova, entre as possibilidades de fraude, ele cita o momento da contagem dos votos em papel – o responsável pela verificação conta o voto para um candidato diferente do que o que estava escrito e consegue fazer com que outros fiscais não percebam a mentira.
“Em mais de 20 anos de voto eletrônico, jamais houve uma denúncia que pudesse levantar suspeita real, (o que houve foi) apenas falatório”, diz ele.
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. O conteúdo publicado por diversas pessoas em páginas de apoio ao presidente Bolsonaro atingiu mais de 8 mil interações.
Conteúdos como esses geram desinformação e reforçam a falsa impressão de que o processo eleitoral brasileiro não é seguro, colocando em xeque a própria democracia.
Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
A Coronavac reduz o risco de desenvolver quadros graves da covid-19, mas não elimina a possibilidade de contágio. Isso ocorre com todas as vacinas, contrariando a postagem de influenciador de direita que afirma que o novo diagnóstico de coronavírus do governador de São Paulo, João Doria, é prova de ineficácia do imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan.
Conteúdo verificado: Tuíte afirma que o fato de o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ter se infectado duas vezes com a covid-19 é a prova de que a Coronavac não funciona.
É falso que casos de pessoas infectadas com a covid-19, mesmo após receberem as duas doses da Coronavac, mostrem que a vacina é ineficaz contra o coronavírus. Os imunizantes contra o Sars-CoV-2 reduzem o risco de desenvolver quadros graves da doença, mas não eliminam a possibilidade de contágio.
Nenhuma vacina garante 100% de imunidade contra uma doença. O propósito delas é tornar o contato do sistema imunológico com o vírus mais seguro e reduzir internações e mortes. Quanto maior a quantidade de pessoas vacinadas, menores as chances de o vírus continuar circulando. As informações desmentem alegação de um influenciador de direita no Twitter, de que o diagnóstico de covid-19 do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), “prova que a vacina chinesa não tem eficácia”.
Como verificamos?
Primeiramente, o Comprova verificou quando o governador João Doria foi vacinado e quando se infectou com a covid-19.
Em seguida, procurou dados sobre a eficácia da Coronavac e de como age uma vacina no organismo. Também foi consultado o professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF/USP) Marco Antonio Stephano para entender melhor a atuação dos imunizantes.
O Comprova pesquisou quem era o autor da postagem, @AlanLopesRio, e encontrou notícias sobre sua candidatura a vereador do Rio de Janeiro pelo PSD em 2020. O perfil dele no Twitter é fechado para o envio de mensagens particulares, então, a reportagem tentou contato no diretório estadual do PSD e por um e-mail utilizado na campanha do ano passado e disponível na página do Facebook de sua candidatura. Não houve nenhum retorno até a publicação deste texto.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de julho de 2021.
Verificação
Mesmo vacinado, Doria pegou covid-19 pela segunda vez
Nesta quinta-feira (15/7), Doria anunciou que testou positivo pela segunda vez. Em post no Twitter, o governador disse que fez um teste por prevenção após detectar alguns sintomas e que está se sentindo bem. Ele atribuiu os sintomas leves ao fato de ter sido vacinado.
Vacina não impede infecção, mas, sim, casos graves
O que permite a erradicação de uma doença – ou redução dos casos – é a ampla cobertura vacinal. Ou seja: quanto mais pessoas protegidas, menor a circulação do vírus.
O professor da FCF/USP Marco Antonio Stephano explica que é importante entender que o objetivo das vacinas é evitar casos graves e mortes pela doença. “Quando você faz uma imunização em massa é esperado que 16% da população não tenha uma boa produção de anticorpos. Essa premissa é uma característica genética”, explica.
Além disso, os próprios estudos de eficácia demonstram que uma parcela da população não desenvolverá uma imunidade completa. “As vacinas injetáveis levam a uma imunidade para casos graves da doença. Se a pessoa toma a vacina e não desenvolve anticorpos, essa pessoa tem risco de morrer? Mais ou menos. Um grupo muito pequeno pode desenvolver a forma a grave”, acrescenta Marco Antonio.
O professor ainda ressalta que a eficácia de uma vacina é diferente para cada grupo de pessoas. “A tendência é que em idosos a resposta imune não seja a mesma que em pessoas mais jovens, assim como em quem tem comorbidade”, diz.
Coronavac é menos eficaz?
Antes de apresentar os dados de eficácia, é importante ressaltar que a eficácia e a efetividade de uma vacina não são sinônimos para os pesquisadores, conforme explica reportagem da Veja Saúde. A eficácia é definida a partir de estudos clínicos rigorosos feitos em condições controladas. Já a efetividade avalia os resultados da vacina na população de modo geral.
A Coronavac teve o uso emergencial aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) após apresentar eficácia global de 50,38% – isso representa a proporção de pessoas que não foram infectadas após tomarem a vacina. No entanto, pesquisas podem apresentar resultados distintos umas das outras por diversos aspectos, que incluem o perfil da população, idade e diferentes respostas imunológicas de cada organismo. É exatamente por isso que não tem como comparar uma vacina com a outra.
Um estudo de efetividade conduzido pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e observou quedas de 80% nos casos sintomáticos de covid e de 86% nas internações, além da redução de mortes em 95%.
Outra pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mostra que houve queda de 80% nos casos de covid entre 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac, mesmo tratando-se de agentes de saúde constantemente expostos ao vírus.
Nenhuma das vacinas aprovadas para uso no Brasil apresentaram 100% de eficácia nos testes, conforme explicado anteriormente.O imunizante da Pfizer apresentou uma eficácia de 95% sete dias após a segunda dose, de acordo com a bula. A da Janssen apresentou eficácia de 66,9% contra casos graves e moderados e a da AstraZeneca de 70%.
Segundo o professor Marco Antonio, com todos os imunizantes há casos de pessoas que se infectam mesmo estando vacinadas, mas os que envolvem a vacina do Butantan estão se destacando pela quantidade de informações falsas que rondam o imunizante. “Isso ocorre com todas as vacinas, mas por ter muita desinformação circulando contra a Coronavac, ela fica mais em evidência”, diz.
A desconfiança em torno da Coronavac ocorre desde o ano passado, quando o imunizante entrou no centro da disputa política entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, a vacina virou uma das bandeiras do governador de São Paulo no combate à covid-19, enquanto Bolsonaro passou a desacreditá-la publicamente, tratando-a por “vacina chinesa”.
Por fim, Marco Antonio ressalta a importância das pessoas confiarem nas vacinas e se vacinarem. “Essas coisas fazem com que os grupos antivacinas levantem sua bandeira e as pessoas não se vacinem. Mas são elas que estão salvando pessoas. Se demorarmos, vão surgir novas variantes que vão conseguir neutralizar as vacinas”, alerta.
Reinfecção é possível?
Apesar de raras, já se sabe que reinfecções por covid-19 são possíveis. De acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet, em março, menos de 1% se contagia novamente com o coronavírus. Um outro estudo publicado na The Lancet em abril deste ano mostrou uma chance 84% menor de pegar o novo coronavírus para quem já foi contaminado.
Já uma outra pesquisa feita pela Fiocruz indicou que uma pessoa que é assintomática ou tem sintomas leves, como foi o caso de Doria, está mais propensa a ter uma segunda infecção, por não ter produzido uma resposta imunológica forte. O estudo, inclusive, encontrou indícios de que essa segunda infecção pode provocar sintomas mais fortes do que o primeiro contágio.
De acordo com Marco Antonio Stephano, as reinfecções são provocadas por variantes que conseguem driblar o sistema imune. “Quando mais a gente demora para vacinar as pessoas, mais surgem novas variantes e aumenta o risco de reinfecções”, explica.
Autor é apoiador de Bolsonaro e costuma compartilhar desinformação
O autor do post,Alan Lopes, foi candidato a vereador do Rio de Janeiro pelo PSD em 2020 e, com 2.540 votos, não foi eleito. Ele é descrito como influenciador de direita por reportagem da Aos Fatos, que ressalta o perfil de Lopes nas redes sociais como propagador de notícias falsas. O Comprova tentou entrar em contato com ele, mas não recebeu nenhum retorno até a publicação desta verificação.
No Twitter, Lopes possui mais de 75 mil seguidores e se descreve como “cristão, conservador, casado, pai, empresário e defensor implacável da família tradicional”. Ele é seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e pelo Secretário Especial de Cultura do governo federal, Mário Frias. Entre as postagens na rede social há a defesa à adoção do voto impresso, posts pró-armamento e críticas ao uso de máscaras e distanciamento social. Ele também afirma ser CEO do Instituto Intelectos, plataforma que alega que o Brasil é o maior protetor ambiental do mundo.
A quarta fase do Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia que tenham atingido alto grau de viralização, como o caso da postagem verificada, que apresentou mais de 11,3 mil interações no Twitter.
Em julho de 2021, os participantes do projeto decidiram também verificar desinformações envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Enquetes não têm controle sobre a amostra da população que as respondem e, por isso, não são capazes de indicar uma estimativa das intenções de voto da sociedade. Além disso, o próprio site que realiza a enquete estimula os internautas a compartilharem o link nas redes e, assim, ajudar o candidato preferido a ter mais votos na ferramenta.
Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok que compartilha um site de enquetes como sendo uma forma de saber “quem realmente está na frente das pesquisas” eleitorais para presidente da República, em 2022.
É enganoso um vídeo compartilhado no TikTok que divulga um site de enquetes como uma forma de saber “quem realmente está na frente das pesquisas” eleitorais. Como a participação em enquetes é espontânea, não há como delimitar o público respondente. Dessa forma, um grupo específico pode ter representação maior que a de outros, distorcendo a realidade – na enquete em questão, há votos de moradores do Sudeste em proporção muito maior do que de outras regiões brasileiras.
Pesquisas eleitorais usam métodos estatísticos para selecionar um grupo de pessoas proporcional à população brasileira, de forma que a opinião dos diferentes segmentos da sociedade esteja representada nos resultados.
No vídeo analisado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aparece liderando as intenções de voto, com 40,4%; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em segundo lugar, com 24,6% dos votos; os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Sérgio Moro vêm na sequência, com 15,5% e 9,2%, respectivamente.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada em julho de 2021, Lula tem 46% das intenções de voto; Bolsonaro, 25%; depois, aparecem empatados tecnicamente Ciro (8%), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB, 5%) e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM, 4%). A margem de erro é de dois pontos porcentuais.
O Comprova entrou em contato com o perfil que divulgou o vídeo no TikTok e com os responsáveis pelo site de enquetes, mas não obteve resposta até a publicação.
Como verificamos?
Procuramos o site Eleições ao Vivo, mencionado no vídeo do TikTok, e analisamos os resultados das votações apresentadas. Usamos as ferramentas Who.Is e WebsiteInformer.com para descobrir os responsáveis pelo site. Entramos em contato com os e-mails informados, mas não obtivemos resposta. Também verificamos os compartilhamentos do site nas redes sociais na plataforma CrowdTangle.
Consultamos verificações já publicadas pelo Comprova sobre enquetes, e acessamos resultados de pesquisas de intenção de voto divulgadas recentemente por Datafolha e Ipec.
Por fim, contactamos o perfil que divulgou o vídeo no TikTok, mas não conseguimos resposta.
Verificação
Enquetes não têm valor científico
O Comprova mostrou em outras verificações que enquetes não têm valor científico, e não podem ser usadas como reflexo da opinião da sociedade. Isso porque não se sabe exatamente qual o perfil do público que respondeu – qual a parcela de homens, de que região são os cidadãos, quantas são as pessoas com renda mais alta ou mais baixa etc.
Pesquisas de opinião realizadas por institutos confiáveis, como Ipec (formado por ex-executivos do Ibope) e Datafolha, usam dados sobre a população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para definir cotas de sexo, idade, escolaridade e outras características. Dessa forma, ouvem entrevistados em proporções similares às observadas no restante da sociedade. Isso garante que, mesmo que em número menor, o grupo pesquisado seja representativo do país.
O site de enquetes permite que os participantes preencham a região onde moram. O Comprova verificou a porcentagem de votos de cada região na tarde do dia 15 de julho: 9,6% dos respondentes disseram ser do Sul; 60,5% do Sudeste; 6,2% do Centro-Oeste; 6,2% do Norte; e 17,3% do Nordeste.
Levando-se em consideração que as pessoas preencheram corretamente a região onde moram, os números acima indicam super-representação do eleitorado do Sudeste e sub-representação dos votantes de todas as outras regiões. De acordo com as estatísticas mais recentes do TSE, 14,7% dos eleitores do País moram no Sul; 42% no Sudeste; 7,3% no Centro-Oeste; 7,8% no Norte; e 26,8% no Nordeste.
Outro aspecto importante das enquetes é que o público sabe o resultado antes do encerramento da votação. Dessa forma, os participantes podem se sentir estimulados a mudar o resultado da dinâmica. Esse aspecto está evidente no site analisado, que estimula o compartilhamento da enquete para “fazer seu candidato subir” no ranking. O site não exige qualquer cadastro para votar. Assim, é fácil escolher um candidato mais de uma vez, usando navegadores diferentes ou abas anônimas.
Viés bolsonarista
O Comprova usou a ferramenta CrowdTangle para verificar os compartilhamentos do link para participação na enquete nas redes sociais. É possível ver abaixo que o levantamento tem circulado mais entre grupos bolsonaristas ou de direita; um indício que o número de eleitores de Bolsonaro pode estar inflado.
Outro indício que aponta que o público que acessa o site tem mais afinidade com o governo Bolsonaro está nos resultados de outras enquetes na mesma página. Em uma pergunta sobre o impeachment do presidente, 65,4% das respostas no dia 14 de julho eram contrárias; 34,6% eram favoráveis. Uma pesquisa Datafolha divulgada no dia 10 de julho indica que, na realidade, 54% dos brasileiros querem a abertura do processo na Câmara; 42% rejeitam a ideia.
É possível perceber que o público do site demonstra simpatia por Bolsonaro em outras enquetes sobre a relação do presidente com a mídia e sobre a briga com o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. Em perguntas sobre esses assuntos, 85,3% e 78% dos respondentes, respectivamente, tomaram partido de Bolsonaro.
Qual o resultado de pesquisas de intenção de voto?
A pesquisa Datafolha de intenção de voto mais recente, divulgada em 11 de julho, indicou que Lula venceria a disputa eleitoral no primeiro turno: 46% dos entrevistados preferem o petista. Bolsonaro aparece na segunda posição, com 25%. Foram ouvidos 2.074 eleitores em 146 municípios.
Pesquisa Ipec divulgada em 25 de junho indicou cenário semelhante: se a eleição fosse naquela data, Lula venceria já na primeira etapa, com 49% dos votos. Bolsonaro foi citado por 23% dos entrevistados; mais atrás, estavam Ciro (7%), Doria (5%) e Mandetta (3%).
Importante ressaltar que falta mais de um ano para as eleições e o quadro de candidatos ainda não está definido. Dessa forma, os levantamentos não antecipam resultados, mas mostram um retrato da preferência do eleitorado neste momento em que o governo sofre com desgastes.
Como o Comprova mostrou nesta verificação, em anos eleitorais, a divulgação de pesquisas segue regras elaboradas pelo TSE. Devem ser registradas junto ao Tribunal informações sobre “o contratante da pesquisa, com CPF ou CNPJ; o valor e a origem dos recursos gastos; a metodologia e o período de sua realização; o questionário aplicado ou a ser aplicado; o nome do estatístico responsável; e a indicação do estado em que será realizado o levantamento”.
O TSE proíbe a divulgação de enquetes no período eleitoral. Segundo a Resolução nº 23.600/2019, se encaixam nessa categoria “o levantamento de opinião sem plano amostral, que depende da participação espontânea do interessado e que não utiliza método científico para a sua realização, apresentando resultados que possibilitam ao eleitor perceber a ordem dos candidatos na disputa”.
Quem é o responsável pelo site de enquetes?
A ferramenta Who.Is indica que o domínio do site que realiza enquetes sobre as eleições presidenciais de 2022 no Brasil pertence a Rafael Gustavo. Não há informações sobre contato ou sobrenome da pessoa. Então, usando o Google, o Comprova fez uma busca pelo nome da pessoa associado às palavras “enquete” e “eleições”.
Os resultados levaram à ferramenta Website Informer, que listou os três domínios mais populares em nome de Rafael Gustavo, desta vez com um sobrenome – Neves. Dois deles eram sites de enquetes para eleições e, o terceiro, o site de humor G17, que publica conteúdos falsos em tom satírico.
Lá, havia um endereço de e-mail com o nome de Rafael Gustavo. A reportagem enviou um e-mail para este endereço, mas não obteve resposta até a publicação desta verificação.
Contudo, há indícios de que o dono do G17 é o mesmo dono do site em que a enquete foi publicada. O site de humor foi criado em 2011. No ano seguinte, o jornal O Globo fez uma reportagem sobre sites que publicavam mentiras em tom de humor – um dos criadores citados era Rafael Gustavo Neves, responsável pela criação do G17.
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vem sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
O conteúdo verificado teve mais de 1.000 interações no TikTok e outras 262 mil em páginas do Facebook onde o link do site foi compartilhado. A enquete foi respondida por 3,7 milhões de pessoas.
Conteúdos que questionam a credibilidade de pesquisas científicas e estatísticas sobre eleições são prejudiciais porque ajudam a espalhar acusações de que o sistema e o processo eleitoral brasileiros são fraudulentos. Isso cria um ambiente para questionamento dos resultados das eleições, caso eles não tenham o resultado esperado por determinado grupo político, como vem afirmando constantemente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não houve registro de fraudes em eleições brasileiras desde a adoção das urnas eletrônicas, em 1996.
Desde a última eleição presidencial, quando as supostas falhas no sistema eleitoral passaram a ser divulgadas, o Comprova já verificou diversas vezes conteúdos falsos e enganosos sobre o assunto. Em outubro do ano passado, o projeto mostrou que um documento não prova fraude nas eleições de 2018 nem comprova vitória de Bolsonaro no 1º turno. No mês seguinte, duas publicações do Comprova apontaram para o fato de o voto eletrônico no Brasil já ser auditável. No início desta semana, outra publicação mostrou que é enganoso afirmar que o resultado de uma enquete sobre voto impresso reflita a opinião da população. Recentemente, também comprovamos que um vídeo da ex-candidata a deputada federal Naomi Yamaguchi não prova que houve fraude na votação de 2014.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
É falso um vídeo publicado por um usuário do TikTok alegando haver uma fila de caminhões aguardando para transportar 40 mil cabeças de gado de uma fazenda que pertence a um filho do ex-presidente Lula, em São Félix do Xingu, no sul do Pará. O conteúdo, na verdade, é uma montagem de dois vídeos diferentes e os animais sequer são bois, e sim ovinos.
Conteúdo verificado: Montagem postada por um usuário do TikTok junta dois vídeos, o primeiro mostrando um rebanho de animais e o segundo uma fila de caminhões. Há, também, um comentário escrito “quer ter uma fazenda com 40 mil boi (sic) de 18 arrobas? Basta ter um pai igual a esse!”. Uma narração, em primeira pessoa, afirma que as imagens são da “fazenda do filho de Lula”, em São Félix do Xingu, no Pará. Acrescenta que os bois serão embarcados em direção ao frigorífico.
Um vídeo postado no TikTok atribui, falsamente, um rebanho de bois supostamente mantidos em uma fazenda em São Félix do Xingu, no sul do Pará, a um filho do ex-presidente Lula, sem determinar qual deles.
O conteúdo é uma montagem de dois vídeos distintos. O primeiro foi localizado pelo Comprova sendo compartilhado por diversas contas em redes sociais estrangeiras e sequer apresenta cabeças de gado. Trata-se, na verdade, de um grande rebanho de ovinos sendo pastoreado por dois cães. O segundo apresenta uma fila de caminhões. Não foi possível identificar onde o vídeo foi gravado, mas ele está no YouTube há pelo menos quatro anos.
A equipe procurou o responsável pela postagem da montagem via comentário no TikTok, mas ele não respondeu até esta publicação. O mesmo conteúdo, mas sem as legendas, foi postado por um usuário no Instagram, no dia 9 de junho. O Comprova também entrou em contato, mas não obteve resposta.
Como verificamos?
O Comprova dividiu as duas partes do vídeo e separou os frames utilizando a ferramenta InVid. Em seguida, utilizou o mesmo aplicativo e o TinEye para fazer a busca reversa pelas imagens e saber se os vídeos já haviam sido publicados anteriormente na internet e em qual contexto. O buscador Yandex encontrou publicações desde 2017 que utilizavam trechos dos vídeos.
Em seguida, a verificação enviou mensagens para os responsáveis pelas publicações mais antigas do trecho que mostra os animais e do trecho que mostra os caminhões. No primeiro caso, uma página turca respondeu. No segundo, não houve retorno.
Utilizando o Google, o Comprova também pesquisou os nomes dos filhos do ex-presidente associados à palavra “fazenda”, além de consultar as empresas registradas em nome de um deles, alvo frequente de postagens contendo informações falsas.
Por fim, encaminhou mensagens ao autor da postagem no TikTok e para um usuário do Instagram, que também publicou o conteúdo, mas sem legendas.
Verificação
Filho do Lula e as supostas fazendas
Não há notícia de que os filhos do ex-presidente Lula sejam proprietários de fazendas no sul do Pará. Ao utilizar o Google para pesquisar os nomes deles associados à palavra “fazenda”, o Comprova descobriu que há dezenas de verificações desmentindo boatos de que o mais velho, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, seja pecuarista.
O Boatos.Org, por exemplo, fez verificações semelhantes a esta em junho deste ano, em fevereiro do ano passado e em 2016, destacando que os boatos sobre supostas fazendas da família de Lula circulam há muitos anos.
Em 2013, a página E-Farsas mostrou ser falso que Lulinha comprou uma fazenda avaliada em R$ 47 milhões. Em 2019, a Agência Lupa mostrou que “fazenda de R$ 50 milhões do filho de Lula” é, na verdade, um campus universitário em Piracicaba, e o Estadão Verifica mostrou ser falso que o filho do presidente comprou “a maior fazenda do mundo”. Já em 2021 foi desmentido que ele é dono da Fazenda Fortaleza, no interior de São Paulo, pelo Aos Fatos e pelo G1.
Utilizando a ferramenta CruzaGrafos, o Comprova identificou que Lulinha é sócio de quatro empresas que têm como atividade principal serviços em tecnologia da informação. Elas são holdings de instituições não financeiras, ou seja, entidades controladoras das participações de um conjunto de companhias. São elas a BR4 Participações LTDA., a LLF Participações – Eireli, a FFK Participações LTDA. e a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital LTDA.
Em março deste ano, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região determinou paralisação de uma investigação aberta contra Lulinha, suspeito de ter recebido R$ 132 milhões da operadora Oi/Telemar por meio de contratos com empresas do grupo Gamecorp, que reúne serviços de jogos eletrônicos, mídia e tecnologia. A suspensão é válida até que seja definido quem será o juiz competente.
Ele foi investigado no âmbito da 69ª fase da Operação Lava-Jato e o processo foi remetido à Justiça Federal de São Paulo. Antes da deflagração da fase, a Polícia Federal chegou a pedir a prisão de Lulinha, que foi negada pela 13ª Vara Federal de Curitiba.
A investigação aponta haver indícios de que os valores tenham sido usados na compra do sítio de Atibaia (SP), propriedade pela qual o ex-presidente Lula foi condenado. A condenação foi anulada em março deste ano pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, entendendo que a competência do julgamento é da Justiça Federal do Distrito Federal. Os casos do pai e do filho estão sendo julgados em processos diferentes.
Vídeo mostra rebanho de ovinos
Realizando buscas por fragmentos do vídeo que mostra o bando de animais, o Comprova chegou a uma verificação da AFP Fact Check de Hong Kong que checou um boato em circulação na Ásia. Embora não tenha confirmado quem é o autor das filmagens ou onde elas foram gravadas, o veículo diz que o conteúdo retrata ovinos e foi compartilhado em 2019 em uma rede social russa.
Neste caso, o vídeo também foi utilizado para a construção de informações falsas, mas que circularam fora do Brasil. Na ocasião, os responsáveis pelas publicações enganosas afirmavam se tratar da doação de 30 mil ovinos pela Mongólia à China durante a epidemia de coronavírus. Acontece que antes da doação, anunciada em 27 de fevereiro de 2020, as imagens já circulavam na internet.
O Comprova seguiu fazendo buscas pelas imagens e identificou que o mesmo vídeo foi postado em uma conta árabe intitulada “Raridades da pecuária e da agricultura” no Facebook, com a legenda: “Glória ao Deus Todo Poderoso, Senhor dos mundos”, no dia 15 de agosto de 2020. Nesta publicação, ele é mais extenso e aparecem dois cachorros pastoreando o rebanho.
Dois dias antes, em 4 de maio de 2019, o vídeo do rebanho foi publicado em uma conta do Instagram que só posta vídeos de ovinos. A legenda, em turco, diz: “eles controlam este rebanho com 2 cães”. Essa foi a postagem mais antiga do conteúdo localizada pelo Comprova. Uma mensagem foi enviada ao usuário, questionando mais informações sobre as imagens. Ele respondeu ter visto o conteúdo em uma página há muito tempo, de onde fez o download, mas sem lembrar qual. Afirmou, ainda, não ser o responsável pela gravação das imagens.
Fila de caminhões está no YouTube desde 2017
Não foi possível identificar onde foram gravadas as imagens que mostram uma extensa fila de caminhões. Buscando pelos fragmentos do vídeo, o Comprova chegou a dois arquivos postados no YouTube. Um, de 3 de janeiro de 2020, já associava a presença dos veículos a um “embarque gigante na fazenda do Lulinha em São Félix do Xingu”. A legenda do outro, de 2017, só diz “congestionamento muito grande de caminhões!”. Neste, as imagens estão cobertas por um filtro. O Comprova deixou comentários em ambos os conteúdos, questionando a origem dos vídeos, mas não recebeu retorno até o momento.
Autor é apoiador de Bolsonaro e tem como foco a ufologia
O autor do post verificado no TikTok, Rogério Bin, é de São Paulo, trabalha como dedetizador e escreveu o livro “Os anjos são reais?”. Na conta dele na plataforma, as postagens são principalmente sobre ufologia e óvnis. Em 2019, postou no próprio canal do YouTube uma reportagem da Record na qual afirma, em entrevista, ter sido abduzido. O vídeo original não foi localizado no canal do Repórter Record Investigação.
As postagens políticas começaram a aparecer na conta já em 2021. Foram identificadas, além da verificada aqui, outras quatro neste sentido: uma contra o lockdown – criticando o governador de São Paulo João Doria –, uma de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), uma defendendo o voto impresso e uma culpando os governos estaduais pelo preço do gás. Essas duas últimas questões foram alvos de verificações recentes do Comprova (aqui, aqui e aqui).
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições ou a pandemia de covid-19 que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
Com a proximidade das eleições de 2022, aumenta a circulação de informações falsas construídas para atacar a imagem de figuras políticas ou de pessoas associadas a elas, como no caso dos filhos de Lula. O ex-presidente é cotado como candidato à presidência no próximo pleito.
Postagens falsas ou enganosas podem comprometer a avaliação dos eleitores no momento de decidir por um candidato. Neste caso, por exemplo, o post no Tik Tok alcançou quase 60 mil curtidas, 35 mil compartilhamentos e mais de 2 mil comentários.
Conteúdo bastante semelhante já foi verificado em duas ocasiões pelo Boatos.Org (aqui e aqui). Além disso, há diversas outras verificações desmentindo a propriedade de fazendas por parte do filho de Lula, como as publicadas por E-Farsas, Agência Lupa, Estadão Verifica, Aos Fatos e G1.
Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.