O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Eleições

Investigado por: 2022-04-08

Protesto contra Lula em Guarapuava (PR) ocorreu em 2018 e ex-presidente não estava no local

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo em que um homem afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de manifestação ocorrida na Câmara de Vereadores de Guarapuava (PR). O autor cita o protesto, mas omite que o fato ocorreu em 2018 e mente ao dizer que Lula foi recebido no local. Segundo a assessoria de Lula, ele não visita a cidade paranaense há pelo menos 10 anos.

Conteúdo investigado: Vídeo de dois minutos publicado no YouTube no dia 3 de abril deste ano com o título “Lula passa vergonha em Guarapuava; recepção calorosa ao petista”. O autor da publicação fala sobre um protesto contra o ex-presidente ocorrido no Paraná. São apresentadas imagens da manifestação. Ele também afirma que o ataque sofrido contra uma caravana de Lula naquele estado foi simulado e que o político deixou de fazer campanha em locais abertos por medo de atentados. O conteúdo também circula no WhatsApp.

Onde foi publicado: YouTube e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que cita uma manifestação contra o ex-presidente Lula na Câmara de Vereadores de Guarapuava, no Paraná, como se o episódio tivesse ocorrido recentemente. Na publicação, o autor afirma que o grupo recebeu o ex-presidente aos gritos de “Lula ladrão, teu lugar é na prisão”, mas o protesto aconteceu em 2018 e o político não estava presente.

Além da falta de contextualização das informações sobre o protesto, o fato do conteúdo ter sido publicado em 3 de abril deste ano também corrobora a ideia enganosa de que se trata de um acontecimento atual.

O vídeo tem cerca de 2 minutos e mostra um homem dando informações sobre o protesto contra Lula em Guarapuava, com base em um vídeo publicado anteriormente no canal Brasil Simples, também no YouTube.

O autor do vídeo mistura informações recentes com situações antigas. Ele também diz que um ataque a uma caravana de Lula foi simulado e usa este tema para afirmar que o ex-presidente se sente ameaçado e evita participar de eventos abertos. No entanto, o autor omite que o ataque aconteceu em maio de 2018.

A investigação sobre o ataque foi feita pelo Ministério Público do Paraná e não foi conclusiva (a última informação sobre o tema foi divulgada em outubro de 2021). Desta forma, não é possível afirmar que o atentado foi simulado. O vídeo aqui verificado foi tirado do ar pelo YouTube no dia 8 de abril por violar as diretrizes do site.

A manifestação citada ocorreu em março de 2018 na Câmara de Vereadores de Guarapuava, cidade paranaense distante 270 quilômetros de Curitiba. Em vídeo publicado no canal do YouTube do próprio Legislativo é possível ver um grupo reunido no local gritando frases como “Lula ladrão”. Ao Comprova, a assessoria da Câmara também confirmou que o protesto ocorreu em 2018.

Lula não aparece no vídeo da Câmara e a assessoria do ex-presidente informou ao Comprova que o político não esteve no local. O PT também negou que a campanha do pré-candidato à presidência esteja limitada a eventos fechados.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: Questionado se sabia que o protesto é antigo, o jornalista e youtuber Toni Rodrigues se limitou a dizer que fala no vídeo que, em 2018, Lula foi mal recebido em todo o Sudeste do país. No entanto, no conteúdo aqui verificado, o autor afirma que “’Lula ladrão, teu lugar é na prisão’ são palavras de ordem que vêm sendo empregadas pelos críticos do ex-presidente desde 2018, antes da campanha eleitoral”, ou seja, Toni não deixa claro que o protesto aconteceu há 4 anos.

Como verificamos: Primeiro a equipe tentou confirmar a veracidade do protesto citado no vídeo. A partir da busca reversa das imagens feita pela plataforma Invid, foi possível encontrar dois vídeos que mostram o protesto, ambos publicados em 2018.

Em um segundo momento, a reportagem encontrou, por meio de busca no YouTube, um vídeo da sessão da Câmara de Vereadores de Guarapuava do dia 26 de março de 2018, que mostra a manifestação por outro ângulo. Na página do Legislativo do município paranaense, foi localizada a ata da referida sessão.

Também entramos em contato com a Câmara de Vereadores de Guarapuava, com a assessoria de Lula e com Toni Rodrigues, autor do vídeo verificado.

Manifestação citada no vídeo ocorreu em 2018

A manifestação na Câmara de Guarapuava ocorreu em 26 de março de 2018. A data e a realização do protesto foram confirmadas pela Casa, que informou que imagens do protesto a partir de outro ângulo podem ser vistas no vídeo da sessão do dia 26, publicado no canal do YouTube do próprio Legislativo.

Na transmissão, a partir de 1:12:20, é possível escutar os manifestantes gritarem palavras de ordem contra Lula, após o discurso de uma vereadora petista. O áudio é semelhante ao do vídeo aqui verificado. Os brados se repetem em 1:40:30 e 1:44:35.

Uma matéria publicada no site da Câmara e a ata da sessão parlamentar também comprovam que, naquela data, ocorreram manifestações contrárias e favoráveis ao ex-presidente por conta da votação de uma Nota de Repúdio à presença de Lula em Guarapuava, apresentada pelo vereador Valdomiro Batista e aceita pela maioria dos parlamentares. Na época, Valdomiro era filiado ao PRB, partido que passou a se chamar Republicanos em 2019.

Além disso, a partir da busca reversa dos frames do vídeo verificado, feita pela plataforma Invid, foi possível encontrar pelo menos outras duas publicações (aqui e aqui) que mostram o protesto, ambas publicadas em 2018.

Lula não esteve em Guarapuava em 2018

Ao Comprova, a assessoria de Lula informou que o ex-presidente não visita Guarapuava há pelo menos 10 anos.

Lula tinha agenda na cidade paranaense em 28 de março de 2018, dois dias após os protestos na sessão da Câmara de Vereadores de Guarapuava, mas cancelou a viagem após o ataque a dois ônibus da caravana na estrada entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. O episódio foi amplamente noticiado por veículos de comunicação (G1, Folha de São Paulo, Brasil de Fato, El País, BBC News Brasil) e, em outubro de 2021, o Ministério Público do Paraná afirmou que, até aquele momento, as investigações não conseguiram descobrir os responsáveis pelo crime.

A assessoria do ex-presidente nega que os atentados e ataques com tiros e pedras à caravana de Lula foram simulados.

A passagem por Guarapuava fazia parte do projeto Lula pelo Brasil, em que o ex-presidente percorreu Minas Gerais, além das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do país entre os dias 19 e 28 de março de 2018. Na época, a viagem pelo Sul, que cobriu 3 mil quilômetros e 18 cidades, causou muitos protestos e ataques à comitiva (1 e 2).

No Paraná, foram registrados confrontos e agressões durante a visita do ex-presidente. Ele encerrou a caravana na Praça Santos Andrade, em Curitiba.

Quem é o autor do vídeo

Toni Rodrigues é um jornalista, radialista e escritor nascido em Piripiri, no Piauí, em 1967. Em seu canal do YouTube, que tem 55,7 mil inscritos, ele costuma publicar conteúdos sobre política e críticas ao ex-presidente Lula e ao PT.

Em vídeos anteriores, que no geral utilizam títulos sensacionalistas, o youtuber afirmou que as cantoras Pabllo Vittar e Marina Sena fizeram campanha política antecipada e cometeram um crime ao se manifestarem a favor de Lula no festival Lollapalooza e que o ex-presidente deveria passar por um exame mental por conta de uma fala sobre a guerra na Ucrânia.

No dia 28 de março, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Raul Araújo, que censurou o Lollapalooza a pedido do partido de Bolsonaro, derrubou a própria liminar que proibia manifestações políticas e previa uma multa de R$ 50 mil caso os artistas se posicionassem contra ou a favor de qualquer candidato.

Toni Rodrigues também compartilha os materiais em um site e em suas redes sociais. No Facebook, sua página conta com 1,3 mil seguidores, enquanto no Instagram e no Twitter ele possui 3 mil e 4 mil seguidores, respectivamente.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos sobre a pandemia, políticas públicas e eleições que viralizaram nas redes sociais. Neste caso, o vídeo tira de contexto uma informação antiga para embasar a sua percepção sobre um pré-candidato à Presidência. Ele também traz informações falsas.

No contexto atual de polarização política e com o crescente número de fake news, é importante investigar esse tipo de conteúdo viral, que pode contribuir tanto para difamar determinado candidato quanto favorecer seu oponente.

Alcance da publicação: Até o dia 7 de abril de 2022, o vídeo publicado por Toni Rodrigues teve mais de 100 mil visualizações, 11 mil curtidas e 860 comentários. No dia 8 de abril, a equipe constatou que o vídeo foi tirado do ar pelo YouTube por violar regras do site. Já o conteúdo do canal Brasil Simples alcançou 19 mil visualizações, 2 mil curtidas e 162 comentários. O vídeo continua publicado.

Outras checagens sobre o tema: Em outras verificações, o Comprova já mostrou que é falso que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tenha prometido atuar contra a reeleição de Bolsonaro. O projeto também mostrou que uma fala de Lula sobre negros foi retirada de contexto e era uma crítica à elite brasileira.

Eleições

Investigado por: 2022-04-07

Vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com Lula

  • Falso
Falso
É falso que a Polícia Militar do Ceará prendeu um grupo de pessoas que planejava saquear supermercados a mando do ex-presidente Lula. O vídeo mostra uma abordagem a integrantes da torcida organizada Jovem Sport. Eles estavam a caminho de Fortaleza para assistir à partida entre Sport e Fortaleza pela final da Copa do Nordeste, na Arena Castelão, no dia 3 de abril de 2022. A abordagem foi feita próximo à cidade de Aracati, a 151 quilômetros da capital cearense. Ninguém foi preso e não há qualquer relação entre os torcedores e o ex-presidente Lula.

Conteúdo investigado: Vídeo de abordagem policial a um grupo de pessoas ao lado de ônibus em rodovia no Ceará. Na legenda, o autor do post afirma que vândalos estavam a caminho de Fortaleza para saquear supermercados a mando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Onde foi publicado: Twitter e grupos de WhatsApp

Conclusão do Comprova: O vídeo de uma abordagem de rotina da Polícia Militar do Ceará a passageiros de um ônibus está sendo compartilhado no Twitter e no WhatsApp com uma informação falsa: a de que as pessoas abordadas foram presas a caminho de Fortaleza quando se preparavam para saquear supermercados na cidade por ordem do ex-presidente Lula.

O post ainda destaca o fato de as pessoas na abordagem usarem camisas amarelas, o que foi interpretado por outros que interagiram com a postagem como uma tentativa de relacionar os supostos vândalos a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Esta alegação também é falsa. As camisas amarelas são o uniforme da torcida organizada Sport Jovem e as pessoas que aparecem na abordagem são torcedores do Sport Clube do Recife. Elas estavam indo para Fortaleza para acompanhar a partida final da Copa do Nordeste entre Sport e Fortaleza, em 3 de abril.

De acordo com a Polícia Militar do Ceará, a abordagem é um procedimento de rotina “para garantir a segurança, evitar tumultos e confrontos entre as torcidas”. Ainda segundo a corporação, nada de ilícito foi encontrado e os torcedores, depois de vistoriados, foram escoltados até o local da partida, a Arena Castelão.

Em sua conta no Instagram, a Torcida Jovem Sport postou uma fotografia da abordagem e agradeceu o tratamento e respeito da Polícia Militar do Ceará. “Todo o diálogo se deu início através do tenente Queiroga e o comandante Ladim que conduziram toda a narrativa conosco desde a nossa saída de Recife até a chegada na cidade de Aracati, onde fomos revistados com respeito e posteriormente levados ao estádio”, diz a nota oficial.

O Twitter sinalizou o vídeo como conteúdo enganoso.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato por e-mail com o lutador de MMA e professor de jiu-jitsu Renzo Gracie, autor do tuíte, mas não houve resposta. Procurou ainda, por e-mail, o gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que compartilhou a publicação. Também não houve resposta.

Como verificamos: Primeiro, foi feita uma busca reversa de imagens no Google utilizando frames do vídeo, que levaram a outras checagens do mesmo material.

Em seguida, foram identificados elementos na farda dos policiais que pudessem indicar de que estado eles eram. Na manga direita da camisa de um dos policiais há uma bandeira do Ceará. As siglas dos batalhões identificadas no fardamento também pertencem a corporações do estado.

Uma vez observado o padrão nas camisas, foram feitas pesquisas por abordagens policiais a torcidas organizadas. O resultado apontou para notícias sobre torcedores do Sport Clube do Recife terem ficado por duas horas na Arena Castelão após o término do jogo entre Sport e Fortaleza pela Copa do Nordeste. Mesmo sem ver detalhes, foi possível perceber que o padrão das camisetas era parecido com as que aparecem na abordagem.

Então, foi feita uma pesquisa sobre torcidas organizadas do Sport. As cores mais próximas às que apareciam nas duas eram as da Torcida Jovem Sport. Foi feita, então, uma busca por perfis da torcida em redes sociais, o que levou a um post no Instagram com uma fotografia da mesma abordagem que aparece no vídeo e informações sobre o ocorrido.

Segundo a torcida, a abordagem aconteceu no município cearense de Aracati. A partir desta informação, o Comprova fez uma pesquisa no Facebook com os termos “torcida sport policia fortaleza aracati”. Na rede social, encontrou exatamente o mesmo vídeo, postado no dia 3, cerca de três horas antes do jogo, por dois perfis diferentes. As informações falam em abordagem policial aos torcedores. Não há qualquer referência a saques, prisões ou ao ex-presidente Lula.

Por fim, foram procuradas a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, além de Renzo Gracie, o autor do post viral feito no Twitter dois dias após a abordagem, em 5 de abril. O gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro também foi procurado.

 

A caminho de Fortaleza

De todas as afirmações feitas no post aqui verificado, a única verdadeira é que as pessoas abordadas no vídeo estavam a caminho de Fortaleza. É possível identificar policiais militares do Ceará nas imagens através de detalhes no fardamento, como a bandeira do estado na manga direita do uniforme de um policial que aparece no primeiro segundo do vídeo.

As siglas dos batalhões nas fardas dos demais policiais também pertencem à Polícia Militar do Ceará, como o BPRE (Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual), o BEPI-COD (Companhia de Operações de Divisas do Batalhão Especializado de Policiamento no Interior) e a ROMU (Ronda Ostensiva Municipal).

A vegetação visível ao fundo das imagens é característica da região: são palmeiras do tipo carnaúba, encontradas às margens da rodovia BR-304, que dá acesso à cidade de Aracati, no Ceará. Segundo informações da Torcida Jovem Sport, cujos integrantes estão sendo abordados nas imagens, foi na chegada a esta cidade que a revista aconteceu, a 151 quilômetros de Fortaleza.

Final da Copa do Nordeste

Os torcedores viajaram de Recife (PE) até a capital cearense para acompanhar a partida de volta da final da Copa do Nordeste, que aconteceu na Arena Castelão, em 3 de abril deste ano, entre Fortaleza e Sport Club do Recife. Um dos indícios de que as imagens mostravam uma abordagem a um grupo de torcedores, e não a prisão de suspeitos de assalto, é o padrão nas roupas das pessoas abordadas. Quase todos usam camisas amarelas com detalhes em vermelho e preto, cores do time de Pernambuco.

Depois de identificar, pelo fardamento, que os policiais que aparecem nas imagens são da Polícia Militar do Ceará (PMCE), o Comprova enviou o vídeo para a corporação e questionou se eles haviam participado da operação, quando e onde ela tinha acontecido. A PMCE, então, confirmou se tratar de uma abordagem de rotina aos torcedores. Ninguém foi preso porque nada de ilícito foi encontrado com os integrantes do grupo.

“A Polícia Militar do Ceará (PMCE) informa que o vídeo é de uma abordagem realizada a torcedores do Sport Club do Recife que estavam em deslocamento para Fortaleza, onde o clube disputou a final da Copa do Nordeste, partida disputada em Fortaleza no último domingo (03)”, diz a nota, que não faz qualquer menção a saques, prisões ou ao ex-presidente Lula.

Vídeos postados no Facebook

Exatamente o mesmo vídeo que ilustra a postagem com informações falsas foi publicado no Facebook no domingo (3), o dia da final da Copa do Nordeste entre Sport e Fortaleza.

O primeiro foi postado às 15h21 por um perfil pessoal de um homem que se identifica como jornalista. O mesmo vídeo também foi postado, às 15h39, na página do Facebook TV Web Camocim. As publicações foram feitas cerca de três horas antes do jogo, que começou às 18h30. As duas postagens trazem as informações reais dos acontecimentos: abordagem policial a torcedores do Sport.

Os dois perfis foram procurados. Por WhatsApp, a TV Web Camocim respondeu:

“Se vc leu nossa materia, deve ter verificado que nao existe nenhuma linha falando de pt, ou de qualquer outro partido. Fala de averiguação policial normal de torcedores. Video da Internet, nao foi a nossa equipe que gravou”.

Já o tuíte de Renzo Gracie com as informações falsas vinculadas ao mesmo vídeo foi postado dois dias depois, no dia 5, e depois compartilhado por Eduardo Bolsonaro. Também no dia 5, um outro perfil postou o vídeo no Twitter também com informações falsas. A postagem dizia que a Inteligência da Polícia Militar do Ceará interceptou uma “comunicação entre líderes do PT e facções de militantes a caminho de Fortaleza, com o objetivo de invadirem supermercados”.

Agradecimento

Embora o autor do post viral afirme, sem nenhuma prova, que a Polícia Militar impediu que um grupo de vândalos saqueassem supermercados, as imagens não mostram pessoas sendo presas, e sim abordadas. Em um momento, é possível ouvir um policial ordenando que as pessoas fiquem com as mãos na cabeça e olhando para a frente, mas não há voz de prisão.

A própria Torcida Jovem Sport, que foi abordada no local, disse que o tratamento dos policiais foi de “respeito mútuo”. Em um post no Instagram, os torcedores destacaram a “eficiência dos policiais” e reforçaram que foram “bem tratados”. A nota de agradecimento foi publicada um dia depois da partida, na segunda-feira (4).

Quem é o autor

O vídeo foi publicado pelo lutador de MMA e professor de jiu-jitsu Renzo Gracie. Após a publicação, o lutador passou a atacar perfis que questionavam a veracidade da informação.

Renzo, que faz parte da família que fundou o jiu-jitsu brasileiro, tem uma relação de proximidade com o presidente Jair Bolsonaro. No último ano, durante a passagem por Dubai, o chefe do Executivo foi convidado para assistir ao Mundial de Jiu-Jitsu ao lado de Renzo. Ele também acompanhou Bolsonaro em viagem a Nova York. Em 2019, foi nomeado embaixador do turismo pelo então presidente da Embratur, Gilson Machado.

No mesmo ano, o lutador se envolveu em polêmica ao publicar um vídeo em que chama o presidente da França Emmanuel Macron de “palhaço” e diz que ele tem “pescoço de franga”. Recentemente, Gracie lançou sua biografia escrita por Roberto Alvim, ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, demitido por fazer apologia ao nazismo.

O Comprova entrou em contato com o lutador por e-mail, mas não houve resposta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo falso tentando relacionar uma abordagem policial de rotina a um ato ilícito supostamente ordenado pelo ex-presidente Lula, que é pré-candidato à Presidência da República, é prejudicial ao processo eleitoral porque pode influenciar a tomada de decisões do eleitorado com base em uma informação inventada com o objetivo de prejudicar um dos candidatos.

Alcance da publicação: 106,7 mil visualizações no Twitter, além de 4,3 mil curtidas e quase 2 mil retuítes até o final da tarde de 6 de abril de 2022.

Outras checagens sobre o tema: Este conteúdo também foi checado pelo Aos Fatos, Fato ou Fake, Lupa, Boatos.Org e AFP Checamos. Recentemente o Comprova verificou que a dívida de Lula com a União é real, mas é questionada na Justiça após anulação de processos da Lava Jato e que uma apreensão de droga atribuída a Bruno Maranhão ocorreu quatro anos após sua morte.

Eleições

Investigado por: 2022-04-06

É falso que Barroso tenha prometido atuar contra reeleição de Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que o ministro do STF Luís Roberto Barroso tenha dito que “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” em uma live com juízes franceses, conforme afirma um texto que circula nas redes sociais. O texto é anônimo e não apresenta nenhuma prova de que isso seja verdade. Não há registro do evento ou da suposta declaração em fontes confiáveis de informação, e a mensagem foi desmentida pelo Supremo.

Conteúdo investigado: Postagem em blog sem qualquer indicação de autoria afirma que Barroso participou de live com juízes franceses e, na ocasião, fez as seguintes afirmações: “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver” e “Lula merece uma segunda chance”.

Onde foi publicado: Blog, Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a afirmação em blog sem autoria conhecida de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tenha participado de uma live com juízes franceses e dito a frase “Bolsonaro será reeleito se passarem por cima do meu cadáver”. A postagem ainda afirma que Barroso teria dito que “Lula merece uma segunda chance”. Não há qualquer registro de que esse evento tenha existido e menos ainda das supostas declarações atribuídas ao magistrado.

Na tarde desta terça-feira, 5, após o amplo compartilhamento do conteúdo nas redes sociais, o site do STF divulgou nota afirmando serem inverídicas as informações. A nota afirma que o gabinete do ministro informou “que tal encontro virtual nunca ocorreu e que o ministro jamais deu as declarações”. O esclarecimento também foi publicado nos canais do STF no Instagram e no Twitter, e em diversos veículos na internet.

O blog que publicou a postagem falsa não traz qualquer informação sobre a autoria da página, nem apresenta provas do que alega sobre Barroso. O texto não é assinado e nele não consta informação adicional ou link da suposta live entre Barroso e juízes franceses. Na internet, não há notícias sobre o suposto encontro, seja em veículos noticiosos ou em canais oficiais do Poder Judiciário e do ministro.

O conteúdo foi classificado como falso pelo Comprova porque foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Após dias circulando nas redes sociais, o material foi apagado sem nenhuma explicação no site.

O que diz o autor da publicação: O texto é anônimo, o que impede o contato com o autor da desinformação.

Como verificamos: O Comprova fez essa verificação a partir de pesquisas sobre o assunto na internet, análise da mensagem anônima e navegação no site que primeiro divulgou a desinformação. A equipe ainda tentou descobrir a origem do blog com as ferramentas Who.is e DNSlytics, mas essa busca não trouxe informações relevantes porque a página está hospedada em um servidor compartilhado.

A ausência de registro do suposto evento e das declarações de Barroso na imprensa, as características comuns a boatos no texto checado, a fonte questionável da alegação e a nota oficial do TSE desmentindo a história guiaram a conclusão do Comprova.

O blog anônimo

O blog que publicou a informação é anônimo, ou seja, não há informações sobre pessoa, grupo ou instituição responsável pela página, nem meios de contato. O blog está hospedado na plataforma WordPress, que permite a criação de páginas gratuitamente.

Nas seções “Sobre” e “Contato”, as informações são inexistentes e apenas reproduzem um modelo pronto do WordPress.

Da mesma forma, os links para redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram), que aparecem no blog, não levam a nenhum endereço específico.

A ausência dessas informações exime o verdadeiro autor da postagem de eventuais responsabilizações, criminais ou jurídicas, já que o conteúdo atribui falas a uma das autoridades máximas do Judiciário brasileiro, que tem sua foto mostrada no blog.

A postagem, um parágrafo com quatro linhas, também não divulga o link da live que menciona: outro indício de conteúdo falso. Isso, inclusive, é questionado por dois internautas nos comentários:

Porém, há pessoas que tomam a informação como verdadeira sem qualquer questionamento:

STF desmente

A postagem no blog traz a data 4 de abril. O conteúdo viralizou nas redes sociais e, na tarde do dia seguinte, o STF publicou nota desmentindo a existência do suposto encontro e afirmando que o ministro Luís Roberto Barroso jamais deu tais declarações.

Nas redes sociais (1, 2, 3) e em seu site oficial, o ministro Luís Roberto Barroso costuma divulgar informações sobre as atividades de seu dia a dia profissional, como palestras, entrevistas, debates e encontros. Em todos esses canais, não há qualquer menção a live ou encontro com juízes franceses.

O site do STF divulga a agenda dos ministros. As informações no site estão disponíveis entre 7 de março e 12 de abril. Não há qualquer encontro com juízes franceses.

Da mesma forma, não há notícias do suposto encontro em nenhum outro lugar na internet, o que acende ainda mais o alerta para conteúdo falso dada a gravidade das declarações atribuídas a Barroso.

Outras postagens do blog

O blog que fez a publicação relacionada a Barroso tem postagens com temas diversos. Desde a conjuntura internacional, com várias publicações referentes ao presidente russo Vladimir Putin, ao caso de um suposto estupro que teria sido praticado por um pichador.

Há muitas menções também ao governo de Jair Bolsonaro e com referências elogiosas ao presidente, e citações a artistas de maneira depreciativa. Alguns textos têm links para conteúdos de veículos já consolidados, a exemplo de uma publicação que trata do veto à Lei Paulo Gustavo feita nesta quarta-feira (6/4) pelo blog. Nela, os hiperlinks direcionam para notícias publicadas pelo portal UOL. No entanto, várias informações dadas ao longo do texto, incluindo supostas declarações do presidente Jair Bolsonaro, não condizem com a realidade. A inserção desses links pode ser uma tentativa de conferir credibilidade a esta e outras publicações que misturam informações verdadeiras com desinformação.

Barroso é alvo de desinformação

Luís Roberto Barroso foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por cerca de dois anos, entre maio de 2020 e fevereiro de 2022, e virou alvo do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados ao defender a segurança das urnas eletrônicas e criticar uma proposta que tentava estabelecer um comprovante de voto impresso nas próximas eleições. A matéria, patrocinada pelo governo, acabou rejeitada em comissão especial e no plenário da Câmara dos Deputados no ano passado.

A falsa declaração atribuída ao ministro sugere a tese infundada de que membros do Judiciário estariam planejando manipular as eleições presidenciais para favorecer Lula e prejudicar Bolsonaro. Esse tipo de alegação é desprovida de evidências, assim como mensagens dizendo que o sistema eletrônico de votação seria fraudulento. Desde que as urnas eletrônicas passaram a ser adotadas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude em qualquer pleito.

Barroso não faz mais parte da composição do TSE desde 16 de fevereiro deste ano. O presidente do órgão hoje é o ministro do STF Edson Fachin, que entrega o cargo em 17 de agosto, quando termina seu mandato na Corte. Durante as eleições, o presidente do TSE será o ministro Alexandre de Moraes.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem analisada nesta checagem é prejudicial porque espalha uma mentira para colocar em descrédito o processo eleitoral brasileiro.

A divulgação de conteúdo falso ou enganoso referente a eleições e candidatos pode confundir a população no momento de decidir seu voto — que deve se basear em fatos, e não em desinformação.

Alcance da publicação: A publicação no site teve mais de 2,7 mil interações até o dia 5 de abril de 2022, antes de ser excluída. No Twitter, alcançou cerca de 1,2 mil interações e, no Facebook, engajou 5.843 pessoas até o dia 6 de abril.

Outras checagens sobre o tema: As eleições presidenciais e os nomes dos principais pré-candidatos na disputa para ocupar a cadeira no Palácio do Planalto são frequentemente envolvidos em conteúdos desinformativos. Os ministros do STF e do TSE também costumam ser citados, numa tentativa de tirar a credibilidade do órgão no julgamento de ações e na condução do processo eleitoral brasileiro.

Sobre o mais recente caso, aqui investigado, a agência Lupa assegurou que é falsa a declaração atribuída a Barroso. A mesma conclusão aparece em checagens do UOL Confere e do Boatos.org.

O Comprova já fez inúmeras verificações relacionadas às eleições, como as que demonstram que uma fala de Lula sobre negros foi tirada de contexto e que é falso que um líder de movimento social, ligado ao ex-presidente petista, foi preso com drogas. Também apontou se tratar de um meme com ator pornô uma suposta imagem viral de apoio a Bolsonaro e concluiu que um vídeo engana ao dizer que as pesquisas eleitorais de 2018 foram forjadas.

Em relação ao Supremo, o Comprova mostrou um post enganoso que dizia que o STF não queria agir contra o governador de São Paulo sobre doses interditadas da Coronavac e verificou que quatro decisões do órgão contra o governo Bolsonaro estão dentro das atribuições da Corte.

Eleições

Investigado por: 2022-04-06

Linha de trem que liga o Pará ao Maranhão existe há 36 anos e não é obra do governo Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso tuíte parabenizando o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) pela operação do Trem de Passageiros que faz linha entre Parauapebas (PA) a São Luís (MA). Há 25 anos, o trecho é de responsabilidade da mineradora Vale S. A.

Conteúdo investigado: Uma publicação no Twitter parabeniza o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelo trem de passageiros da Estrada de Ferro Carajás, da Vale, que liga a capital maranhense à cidade de Parauapebas, no Pará. O texto acompanha um vídeo publicado originalmente no TikTok, sem referência ao governo federal, de uma passageira apresentando o funcionamento da linha.

Onde foi publicado: O conteúdo foi publicado no Twitter e circulou no WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É enganoso um tuíte que utiliza o vídeo de uma criadora de conteúdo publicado no TikTok para parabenizar o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas por uma obra que não foi realizada pelo atual governo.

As imagens são referentes ao trem de passageiros operado pela mineradora Vale entre Parauapebas, no Pará, e São Luís, no Maranhão. O conteúdo original apresenta o meio de transporte e informações relacionadas à viagem, sem citar o governo federal.

A ferrovia existe há 36 anos e a empresa confirmou que é utilizada não apenas para o transporte de passageiros, mas principalmente para escoar minério de ferro e outros produtos da Serra de Carajás até o porto no litoral maranhense.

A autora do vídeo disse ter comprado a passagem no site da mineradora e garantiu não ter havido intuito político na publicação, afirmando que o sentido foi deturpado pelo usuário que reproduziu o conteúdo no Twitter.

O que diz o autor da publicação: O Comprova não conseguiu contato com o autor da publicação, identificado apenas como ‘Wil’. O perfil não aceita mensagens, não sendo possível contato direto com o autor. Na descrição da página, o usuário afirma ser a terceira conta criada e dá a entender que as anteriores foram suspensas.

Como verificamos: Nas respostas ao tuíte aqui verificado, muitos usuários alertavam que o trem seria da Vale S.A. e não teria relação com o governo federal. No vídeo, também é possível visualizar as cores da comunicação visual da mineradora nos vagões. O Comprova então pesquisou a existência de um trem que fizesse a linha Parauapebas (PA) – São Luís (MA) e identificou a Estrada de Ferro Carajás. Entrou em contato com a Vale e também com a autora do vídeo publicado no TikTok. O Ministério da Infraestrutura foi procurado e não respondeu.

 

Trem que aparece no vídeo é da Vale

Os vagões que aparecem no vídeo postado no Twitter junto do agradecimento ao presidente Bolsonaro e ao ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas são, na verdade, do trem operado pela mineradora Vale S.A. entre o município de Parauapebas, no sudeste do Pará, e a capital do Maranhão, São Luís.

Procurada pelo Comprova, a Vale S.A. confirmou que as imagens do vídeo são do Trem de Passageiros da Estrada de Ferro Carajás, em operação há 36 anos. A informação sobre a concessão ser da empresa até 2027 consta na página da Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT.

A mineradora também compartilhou material publicado por ocasião dos 35 anos do trem, em março de 2021.

O texto informa que os vagões transportam até 1.500 pessoas na alta temporada e é o que percorre a maior distância entre os pontos de partida e chegada no Brasil, totalizando 861 km, com 15 pontos de parada ao longo de 27 municípios, sendo 24 no Maranhão e 3 no Pará. A viagem tem duração de 16 horas.

| Cores no vagão indicam que o trem de passageiros é operado pela Vale.

A Vale acrescenta que, segundo a ANTT, há apenas duas linhas de trens de passageiros regulares no país. A EFC, interligando o Maranhão ao Pará; e a Estrada de Ferro Vitória a Minas, com 664 km, interligando Minas Gerais ao Espírito Santo. Ambas são operadas pela empresa.

Além de transportar passageiros, a EFC também é utilizada para escoar a produção da mina de ferro que a Vale mantém na Serra de Carajás até o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís. Circulam cerca de 35 composições simultaneamente.

A EFC está interligada com outras duas ferrovias: a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que corta sete estados da região Nordeste, e a Ferrovia Norte-Sul, que passa pelos estados de Goiás, Tocantins e Maranhão.

Vídeo não teve motivação política

Procurada pelo Comprova, via Instagram, a autora do vídeo publicado no TikTok informou ter comprado as passagens para a viagem no site da Vale.

Por áudio, disse ter conhecimento de que pessoas estariam usando as imagens a favor de Bolsonaro e negou que o conteúdo tivesse qualquer intenção neste sentido. “Eu nem apoio e nem falo de nenhum político, por questões pessoais, e fico muito chateada vendo as pessoas levando para um outro lado”, lamentou.

Segundo ela, a produção do material foi meramente ilustrativa para compartilhar a experiência de uma viagem de trem. “Antes de morar em Parauapebas eu não sabia como era isso, então quis passar essa experiência”, afirmou.

Por fim, ela reiterou que a postagem não teve cunho político: “Quero dizer que foi apenas com intuito de informação e não tem nada a ver com Bolsonaro”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo enganoso em relação a pré-candidatos – como Bolsonaro e Tarcísio de Freitas – pode levar o eleitor a definir o voto com base em uma desinformação, o que prejudica o processo democrático. Isso pode ser observado em algumas das respostas ao tuíte:

| Imagens capturadas em 4 de abril de 2022.

Alcance da publicação: Até o dia 6 de abril, a publicação no Twitter tinha mais de 1.500 interações. Não é possível medir quantos usuários de WhatsApp foram alcançados.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente o Comprova verificou outras publicações relacionadas a pré-candidatos, como a fala de Lula sobre negros que foi retirada de contexto e era uma crítica à elite brasileira, o vídeo de protesto contra Lula em show de Marina Sena que era falso e que ponte sobre o Rio das Mortes em Mato Grosso é obra do estado e não do governo federal.

Saúde

Investigado por: 2022-04-06

Máscaras ajudam a proteger contra transmissão e contaminação por covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Ao contrário do que afirma postagem no Twitter, o uso de máscaras serve tanto para que pessoas contaminadas com a covid-19 não transmitam a doença quanto para que pessoas saudáveis se protejam da contaminação.

Conteúdo investigado: Imagem publicada no Twitter mostra uma interação entre dois usuários da rede, na qual um deles afirma que máscaras não seriam eficazes para impedir a contaminação pelo novo coronavírus. “A máscara protege de não transmitir. De pegar, ela não protege”, escreveu o empresário e youtuber Peter Jordan, autor do post inicial que originou a interação.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É enganosa postagem que circula pelo Twitter que afirma que as máscaras não protegem da infecção pelo coronavírus, e que o uso do item serviria apenas para impedir que infectados transmitam a doença. A afirmação foi feita pelo empresário e youtuber Peter Jordan. No dia 26 de março, ele fez um tuíte se queixando de que foi infectado pela covid-19 após circular com máscara por um shopping, onde poucas pessoas utilizavam o item.

Um usuário questionou como era possível ele ter pegado a doença, uma vez que as máscaras deveriam conferir proteção. “A máscara protege de não transmitir. De pegar, ela não protege”, escreveu Jordan. Uma imagem da sequência desses três tuítes foi postada por um outro usuário, no dia seguinte, 27 de março.

O post do youtuber em que ele relata a ida ao shopping foi apagado, mas a sequência do diálogo continua publicada. Na conversa, um quarto usuário pediu explicação sobre o argumento de Peter, mas o empresário apenas respondeu que não sabia como explicar e atribuiu a informação ao seu médico, mas não citou o nome do profissional. “Eu não sei explicar Rael (nome do usuário), foi meu médico que me disse. Eu geralmente confio nele”, escreveu Peter.

De acordo com autoridades sanitárias de todo o mundo, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas ouvidos pelo Comprova, o uso de máscaras é uma das principais medidas de combate à pandemia de covid-19, e serve para ambas as situações (evita que infectados transmitam a doença e que pessoas saudáveis sejam infectadas).

Ou seja, quando pessoas com covid-19 e pessoas saudáveis estão dividindo um mesmo ambiente, os riscos de contaminação podem ser muito reduzidos, desde que todos estejam usando máscaras de qualidade. O distanciamento social, a higienização das mãos e a ventilação em ambientes internos também são medidas importantes para diminuir o risco de contaminação.

A efetividade do uso das máscaras também depende do tipo de objeto utilizado e da forma que o item está colocado no rosto. Utilizar a mesma máscara por muito tempo ou de maneira incorreta contribui para a perda da efetividade. Máscaras do tipo PFF2 ou N95 asseguram um grau de filtragem das partículas externas de até 95%, que é maior do que as máscaras cirúrgicas (89%) de TNT (78%) e de algodão ou pano (40%).

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: A reportagem entrou em contato com Peter Jordan por meio de e-mail disponível em suas redes sociais. Inicialmente, não houve retorno, mas após a publicação da verificação ele se manifestou, afirmando ser defensor do uso das máscaras. Não foi possível entrar em contato com o responsável pela postagem do print com a sequência do diálogo porque o envio de mensagens diretas em seu perfil no Twitter é bloqueado.

Como verificamos: Como a postagem verificada foi feita no Twitter e traz o print de outra publicação na mesma plataforma, o primeiro passo da verificação foi buscar o post original. Neste procedimento, a equipe constatou que Jordan apagou a postagem em que relata ter ido ao shopping e, em seguida, ser diagnosticado com covid-19. No entanto, a resposta a um outro usuário – em que o youtuber afirma “A máscara protege de não transmitir. De pegar, ela não protege” – continua publicada.

Para entender se há base científica na afirmação de Jordan, o Comprova entrevistou os infectologistas Raphael Guimarães, do Observatório covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Boaventura Braz, do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), de Goiânia.

Além disso, a equipe também fez pesquisa em publicações oficiais da OMS em busca do histórico de recomendações da instituição sobre o uso de máscaras. Também realizamos um levantamento sobre outras verificações realizadas pelo Comprova sobre o tema.

Por fim, buscamos informações sobre as atuais regras de uso de máscara no Brasil e entramos em contato com Peter Jordan e o usuário do Twitter que publicou o print da postagem do youtuber.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 5 de abril de 2022.

 

Máscaras são importantes para proteger contra covid-19 e evitar transmissão

Desde que passou a recomendar o uso de máscaras como forma de prevenção à covid-19, em junho de 2020, a OMS destaca que a utilização do item serve tanto para evitar que o portador infectado transmita o vírus a terceiros, quanto para oferecer proteção contra a infecção ao usuário da máscara que esteja saudável. Atualmente, a OMS mantém o uso de máscaras listado no seu site como uma das formas de prevenção à covid-19, ao lado de diversas outras medidas, e ressalta que, dependendo do tipo, as máscaras “podem ser usadas para proteção de pessoas saudáveis, prevenir a transmissão, ou ambos”.

Ao longo de toda a pandemia, foram realizados diversos estudos e experimentos apontando a eficiência do uso das máscaras, alguns deles citados em checagens recentes do Comprova (1, 2 e 3). De acordo com artigo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), de dezembro de 2021, uma pessoa não vacinada sem máscara a uma distância de até três metros de outra, infectada pela covid-19 e também sem máscara, leva menos de cinco minutos para se infectar com o novo coronavírus, o que reforça a importância do uso do item. Segundo a mesma publicação, em situação idêntica, mas com ambas as pessoas com máscaras do tipo PFF2 ou N95, as chances de infecção pela doença são de apenas 0,1% e em um tempo de exposição quatro vezes maior (cerca de 20 minutos).

A importância do uso da máscara, independentemente de a pessoa estar infectada ou não, também é corroborada por especialistas ouvidos pelo Comprova. Para o infectologista Raphael Guimarães, as máscaras são eficientes tanto para pessoas não serem contaminadas, quanto para que os infectados deixem de transmitir o vírus, mas desde que seu uso seja feito da maneira correta.

“Alguns detalhes precisam ser observados. Por exemplo, o uso de uma mesma máscara por muito tempo, inevitavelmente, leva à sua perda de efetividade. Quanto mais tempo uma máscara é utilizada, mais úmida ela fica, por conta da respiração e da fala da pessoa, e a umidade faz o material perder efetividade”, explica o pesquisador, que ainda cita outros aspectos que podem contribuir para o mau funcionamento das máscaras: “O grau de vedação é um segundo ponto importante, porque não deve haver nenhum espaço ou buracos entre a máscara e o rosto. Assim, é importante observarmos se o elástico ao redor da orelha não está muito frouxo, ou se o clipe nasal está mal ajustado”, acrescenta Guimarães. “Não se trata apenas de usar máscara, mas de utilizá-la da forma correta”, pondera.

Por fim, Guimarães comenta que em um ambiente fechado em que há circulação de pessoas infectadas pela covid-19 e sem máscara (como provavelmente era o caso do shopping mencionado na postagem), qualquer descuido com o item, por mais breve que seja, pode resultar na infecção. “Tirar a máscara, que seja por poucos segundos para comer ou beber algo, por exemplo, pode ser o suficiente para entrar em contato com partículas contaminadas”.

O infectologista Boaventura Braz também afirma que estudos científicos mostram, até o momento, que o uso de máscara é eficaz para evitar transmitir e ser contaminado com covid-19. “Quando você está usando máscara, principalmente do tipo N95, pois estou falando das melhores máscaras para proteção, você consegue se proteger, sim”, afirma o médico.

A atual flexibilização do uso de máscaras

Nas últimas semanas, estados e prefeituras têm publicado decretos liberando a população da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, sob o argumento de que há melhora no cenário epidemiológico. Dados do consórcio de veículos de imprensa, coletados a partir de informações das secretarias estaduais de Saúde, mostram que a média móvel de mortes pela covid-19 no Brasil é de 196. Entre os estados, 20 registram queda, cinco estão com dados estáveis e um, o Amazonas, tem alta.

Em relação à vacinação, 81,95% da população recebeu a primeira dose contra a covid-19. Já a segunda dose foi aplicada em 75,12%. Os dados foram atualizados no dia 5 de abril de 2022.

Na visão de Braz, a máscara deve continuar a ser usada em situações de aglomeração, tanto em ambientes fechados quanto abertos. Além disso, ele recomenda que pessoas com imunodepressão continuem fazendo o uso regularmente. “Em ambientes hospitalares, os profissionais com certeza devem manter uso de máscara, até para proteger pessoas que já estão com a saúde debilitada”, afirmou.

No dia 1º de abril, os ministérios do Trabalho e Previdência e da Saúde publicaram portaria com flexibilização do uso de máscaras em ambientes de trabalho. De acordo com o documento, fica dispensado o uso e fornecimento do objeto em estados ou municípios que deixaram de exigir a máscara em ambientes fechados. Em caso de aumento de casos de covid-19 localmente, a medida pode ser reavaliada.

A OMS já mudou seu posicionamento sobre uso de máscaras?

Embora o uso de máscaras seja hoje defendido por especialistas e autoridades sanitárias de todo o mundo, no início da pandemia, o entendimento não era exatamente o mesmo. Foi só em junho de 2020 que a OMS, por exemplo, passou a recomendar o uso das máscaras pela população em geral como forma de prevenção ao novo coronavírus.

Em um comunicado de abril de 2020, a OMS reconheceu que as máscaras eram uma forma de conter a disseminação do novo coronavírus, mas que o uso do item deveria ser direcionado para pessoas com sintomas ou já diagnosticadas com a doença. “No momento não há evidência de que o uso de uma máscara (seja cirúrgica ou de outros tipos) por pessoas saudáveis na comunidade em geral, incluindo o uso universal de máscara na comunidade, possa prevenir uma infecção por vírus respiratórios, inclusive a covid-19”, escreveu a entidade.

Na época, a OMS frisou ainda que o uso de máscara pela população saudável poderia criar uma “falsa sensação de segurança”, fazendo com que as pessoas negligenciassem outras medidas essenciais, como as práticas de higienização das mãos e o distanciamento físico. A organização citou ainda que o uso universal de máscaras poderia acarretar na falta do item para profissionais da saúde.

Dois meses depois, após novos estudos sobre o comportamento e as características de transmissão da covid-19, a OMS apresentou novos direcionamentos em relação às máscaras, passando a recomendar a utilização do item por toda a comunidade. “Para prevenir a transmissão da covid-19 com eficácia em zonas de transmissão comunitária, os governos devem encorajar o público em geral a usar máscaras em situações e ambientes específicos, como parte de uma abordagem abrangente para suprimir a transmissão do SARS-CoV-2”, escreveu a OMS. De acordo com a entidade, a recomendação do uso de máscaras por toda a população tinha como objetivo “evitar que o portador infectado transmita o vírus a terceiros, e/ou oferecer proteção contra a infecção ao utilizador [da máscara] saudável”. Ao longo de toda a pandemia, a OMS manteve essa recomendação.

Quem é Peter Jordan?

Peter Jordan é um empresário e produtor de conteúdo digital que atua no segmento geek. Ele é o fundador do site Ei Nerd, dedicado à cobertura de cinema, TV, games e histórias em quadrinhos. O canal do Youtube do Ei Nerd, onde Jordan apresenta vídeos sobre o universo geek e cultura pop, conta com mais de 12 milhões de inscritos. De acordo com informações da descrição do próprio canal, desde 2018 o Ei Nerd é eleito pelo Youtube como um dos 50 canais da plataforma mais influentes do Brasil.

Jordan também é dono de outros dois canais no Youtube: Nerds de Negócio e Peter Aqui, e é CEO da empresa de inovação digital e desenvolvedora de sites Pentaxxon. Ele possui cerca de 2 milhões de seguidores no Instagram e pouco mais de 520 mil no Twitter, onde o post sobre as máscaras foi feito.

Atualização em 7 de abril de 2022: Após a publicação desta checagem, a assessoria de Peter Jordan procurou o Comprova na manhã de quinta-feira, 7 de abril, para prestar esclarecimentos sobre o post. A assessoria alegou que não havia recebido o e-mail enviado pela equipe do Comprova inicialmente. No esclarecimento, Jordan afirmou que no dia seguinte à postagem, constatou que estava apenas com um resfriado, e não com covid-19, e que por isso o tuíte original foi deletado. A respeito da afirmação de que “máscaras não protegem contra a contaminação”, ele disse que se baseou em reportagens publicadas pela imprensa e “conversas informais com médicos”.

“No caso do post, não foi a minha intenção causar uma discussão, apenas compartilhei o que li: que algumas máscaras protegem a saída e não a entrada do vírus. Como já havia deletado o post principal e este era somente uma resposta isolada a uma pergunta de um seguidor, que também já tinha sido excluído, não me posicionei mais sobre o assunto, exatamente por não ter sido intencional nenhum tipo de questão além do post”, explicou Jordan.

Em relação à conclusão feita pela checagem do Comprova, Jordan disse que sempre usou e continuará usando e apoiando publicamente a utilização do item. “Por fim, reforço que posso ter me expressado mal mas, este post que mencionam, iniciou-se basicamente porque respondi uma pessoa que não defendia o uso de máscaras. Tentei com a resposta defender o uso e sua importância, como sempre farei! Além disso, aproveito para reforçar também, para quem não é profissional da saúde como eu, que sempre busquem sanar dúvidas com fontes oficiais e médicas. Estudar é sempre a melhor escolha”, acrescentou.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo falso relacionado ao uso de máscaras por causa da covid-19 pode levar a população a deixar de usar o objeto mesmo em situações de aglomeração, o que pode provocar o aumento de casos da doença.

Alcance da publicação: Até o dia 6 de abril de 2022, a postagem teve 7,7 mil interações no Twitter.

Outras checagens sobre o tema: Em reportagens publicadas recentemente, o Comprova mostrou que é falso que o Brasil tenha sido escolhido pela OMS como um dos três países que melhor atuaram no combate à pandemia. O projeto também já verificou que um texto no Telegram espalha teoria conspiratória sobre tratado internacional da OMS e que vacinas de mRNA não são terapia genética e não causam covid-19.

 

 

Política

Investigado por: 2022-04-05

Polícia Federal nega que ONGs que atuam na Amazônia transportaram ouro ilegalmente como afirma publicação

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas as publicações nas redes sociais que atribuem transporte ilegal de barras de ouro a ONGs que atuam na Amazônia. As publicações usam o vídeo de uma abordagem policial que encontrou barras de ouro dentro de peças de carro. A ação ocorreu em Goiás e acarretou na prisão de contrabandistas que faziam a extração de ouro de forma irregular no interior do Pará.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado nas redes sociais mostra um militar abrindo uma peça de motor e encontrando dentro dele uma grande quantidade de envelopes com barras de ouro. Na legenda, os autores das publicações afirmam ser uma investigação do Exército brasileiro, que desconfiava da quantidade de motores enviados por ONGs que atuam na Amazônia para fora do país para conserto.

Onde foi publicado: Facebook, Telegram e Youtube

Conclusão do Comprova: São enganosas as publicações que usam vídeo de uma apreensão de ouro para culpar ONGs que atuam na Amazônia. Essas publicações associam indevidamente uma ação da Polícia Militar – que acarretou em uma apreensão de ouro escondido dentro de peças de carros – a uma investigação do Exército brasileiro sobre o envio para conserto no exterior de motores de veículos de ONGs que atuam na Amazônia. Ao Comprova, a Polícia Militar e a Polícia Federal negaram a participação de ONGs no caso.

O vídeo mostra na verdade uma apreensão feita pela Polícia Militar do estado de Goiás durante uma abordagem na cidade de Montes Claros de Goiás, no Centro-Oeste. Os policiais apreenderam 19 barras, com mais de 11 quilos ao todo, e que somavam mais de R$ 4 milhões. Os dois ocupantes do veículo foram presos. Conforme a Polícia Militar, o ouro seria oriundo de garimpos ilegais no interior do estado do Pará.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: Os autores das publicações foram procurados pelas redes sociais e até o momento não retornaram os questionamentos do Comprova.

Como verificamos: Com a utilização do Youtube DataViewer e do InVid, ferramentas gratuitas que permitem a análise de vídeos, foi possível fazer a busca reversa no Google e nas redes sociais usando frames, imagens congeladas do vídeo, e encontrar outras publicações semelhantes.

Entre as opções destacadas pelas ferramentas estavam vídeos com descrições iguais ao vídeo investigado e matérias dos sites Metrópoles e Jornal Opção, ambas com data de publicação anterior aos vídeos afirmando ser uma operação do exército contra ONGs, que mostravam uma abordagem policial que tinha apreendido cerca de 11 quilos de ouro em uma cidade no interior de Goiás.

O Comprova procurou a Polícia Militar de Goiás e a Polícia Federal sobre o caso.

 

Ouro foi apreendido em Goiás

Em 18 de fevereiro deste ano, a Polícia Militar de Goiás, por meio do Comando de Operações de Divisas (COD), apreendeu 19 barras de ouro durante a abordagem de uma caminhonete em Montes Claros de Goiás, distante 270 quilômetros de Goiânia. A ocorrência foi descrita pela própria corporação em seu site oficial (veja aqui).

Conforme a polícia, a presença de uma peça de câmbio avulsa na carroceria do carro chamou atenção. Ao abrir a peça, a equipe encontrou o ouro. Ao todo foram localizadas 19 barras com tamanhos e pesos diversos. O material apreendido totalizou 11,3kg.

Ainda de acordo com a nota da polícia, o metal precioso era proveniente de garimpos e explorações ilegais. Os dois ocupantes do veículo foram presos em flagrante e conduzidos para a Polícia Federal de Goiânia.

O ouro e o carro foram apreendidos. O prejuízo calculado pelos polícias com a ação era de R$ 4 milhões.

Vídeo da apreensão foi divulgado por jornais

O Metrópoles divulgou em seu canal no Youtube um vídeo da apreensão. As imagens são as mesmas que foram usadas na publicação verificada. Além do vídeo, o portal publicou matéria sobre o caso.

A ação policial também foi noticiada pelo Jornal Opção. A matéria ainda divulga o vídeo do momento da apreensão.

O Estadão Verifica também apurou o conteúdo no último mês de março e chegou à mesma conclusão de que o vídeo de apreensão de ouro em peça mecânica não tem relação com ONGs da Amazônia.

Polícia Militar e Polícia Federal negam envolvimento de ONGs

A Polícia Militar de Goiás confirmou ao Comprova o caso e as circunstâncias. A corporação afirmou que nenhuma relação com ONG foi feita durante o trabalho dos PMs.

Já a Polícia Federal revelou que o ouro apreendido foi apresentado e que duas pessoas foram presas. A investigação da PF não determinou nenhuma relação entre o ouro e ONGs.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais.

Sobre o conteúdo aqui investigado, o Comprova apurou postagens que estão desinformando sobre a operação da PM de Goiás que prendeu dois suspeitos de transportarem minério extraído de garimpo ilegal. O boato amplamente divulgado em redes sociais e aplicativos insinua que ONGs que atuam na Amazônia seriam as responsáveis pelo ouro encontrado escondido em peça mecânica e que as organizações também estariam praticando crimes ambientais na Amazônia.

Alcance da publicação: No Facebook, até 4 de abril de 2022, a postagem teve 1,1 mil visualizações e 468 interações. No Twitter, até 4 de abril, a publicação alcançou 1.998 views.

Outras checagens sobre o tema: Em outras verificações, o Comprova já mostrou que um vídeo de protesto contra Lula em show de Marina Sena é falso e que um tuíte distorceu fatos sobre redução de preços de gasolina em ano eleitoral.

Eleições

Investigado por: 2022-04-05

Dívida de Lula com a União é real, mas questionada na Justiça após anulação de processos da Lava Jato

  • Comprovado
Comprovado
É verdade que tanto Lula quanto o Instituto Lula têm dívidas com a União. A cobrança em relação ao ex-presidente é referente às multas impostas pelas condenações aplicadas pela operação Lava Jato -- que posteriormente foram anuladas. Já o instituto teve sua isenção de impostos retirada e o valor devido se refere a multas e ao total dos impostos equivalentes ao período de existência do instituto. Nos dois casos, as cobranças estão sendo questionadas na Justiça.

Conteúdo investigado: Uma postagem questiona se as pessoas sabem que Lula e o Instituto que leva o seu nome têm dívidas com a União de mais de R$ 18 milhões.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: É verdadeira a informação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem o nome inscrito na dívida ativa da União por um débito de mais de R$ 1,3 milhão, como informa uma publicação feita no Twitter. Também está correta a informação de que o Instituto Lula possui uma dívida superior a R$ 18 milhões com a União.

Os valores devidos pela entidade são decorrentes da revogação de isenção por desvio de finalidade. No caso de Lula, os valores estão relacionados a duas condenações, que posteriormente foram anuladas.

O Comprova considera comprovados os fatos verdadeiros; eventos confirmados; cuja localização foi comprovada; ou conteúdo original publicado sem edição.

O que diz o autor da publicação: Procurado por meio de suas redes sociais, o perfil FamíliaDireitaBrasil, que publicou a postagem, não respondeu aos questionamentos do Comprova.

Como verificamos: Pelo nome completo do ex-presidente Lula, amplamente divulgado e passível de confirmação no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Comprova fez uma busca no site do Governo Federal, que disponibiliza uma área com os contribuintes que estão inscritos em dívida ativa da União e do FGTS. Nele, consta o nome de Luiz Inácio Lula da Silva e um saldo de mais de R$ 1,3 milhão.

Procuramos a assessoria do ex-presidente, que confirmou a informação e explicou que se trata de uma dívida decorrente das condenações aplicadas pela 13ª Vara da Justiça Federal no âmbito da operação Lava Jato.

Lula teve duas condenações, em primeira e segunda instância. As sentenças foram consultadas tanto no site da Justiça Federal do Paraná, como no site do Tribunal Federal da 4ª Região. Além da pena aplicada em tempo de reclusão, foi aplicada uma multa ao ex-presidente.

Já a dívida do Instituto Lula é decorrente da retirada da isenção de impostos da instituição, publicada no Diário Oficial da União em 2016.

 

Dívida de Lula

O ex-presidente teve duas condenações no âmbito da operação Lava Jato. A primeira, em julho de 2017, foi referente ao que ficou conhecido como o caso do triplex do Guarujá. Nessa ação, o então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba Sergio Moro sentenciou Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, o ex-presidente teria recebido vantagens indevidas do Grupo OAS, responsável pela reforma do apartamento no litoral de São Paulo, e também teria ocultado a verdadeira titularidade do mesmo apartamento.

Como pena foram aplicados 9 anos e seis meses de reclusão em regime fechado e ainda uma multa de 212 dias-multa, sendo cada dia-multa equivalente a 5 salários mínimos vigentes em dezembro de 2014. Assim, essa condenação, além da prisão, rendeu uma dívida ao ex-presidente de R$767.440,00. Essa sentença foi reformada pelos juízes no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que passaram a pena para 12 anos e um mês de reclusão em regime fechado e a multa para 280 dias-multa. Assim, a dívida subiu para R$ 1.013.600,00. Em abril de 2019, os ministros do STJ mantiveram a condenação de Lula, mas reduziram a pena para 8 anos, 10 meses e 20 dias e estabeleceram 175 dias-multa. Dessa maneira, a dívida a ser paga passou a ser de R$ 633.500,00.

Em fevereiro de 2019, Lula foi condenado pela segunda vez, também referente às investigações da operação Lava Jato. A juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, já ministro da Justiça nessa época, aplicou uma pena de 12 anos e 11 meses de reclusão em regime fechado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A acusação é de que o ex-presidente tenha favorecido a empreiteira Odebrecht em contratos e, em troca, tenha recebido vantagens em forma de reformas em um sítio que ele frequentava em Atibaia, interior de São Paulo.

Além da prisão, a juíza estabeleceu 212 dias-multa como sanção econômica, sendo cada dia-multa fixado em 2 salários mínimos. Essa sentença também foi reformada pelo TRF-4, que passou a pena para 17 anos e 1 mês de prisão e estabeleceu 422 dias-multa como penalidade econômica. Convertida em valores, a multa estabelecida ficou em R$ 611.056,00.

Lula não chegou a pagar nenhuma das multas, que foram somadas e corrigidas, chegando ao valor de R$ 1.306.955,05. Em junho de 2021, o STF declarou o ex-juiz Sergio Moro parcial ao condenar Lula e decidiu anular as sentenças dadas. Dessa maneira, a defesa do ex-presidente entende que as multas também devem ser anuladas. Os advogados já entraram com uma representação junto à Receita Federal.

Dívida do Instituto Lula

O Instituto Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Instituto Lula, foi criado em 2011 pelo ex-presidente com o propósito de ser um espaço de interação e diálogo para aqueles que compartilham as ideias defendidas por ele. O instituto tem seu CNPJ inscrito em atividades de associações de defesa de direitos sociais, atividades de organizações associativas ligadas à cultura e à arte e atividades de defesas de minorias, meio ambiente e apoio a serviços educacionais em nível municipal.

Durante a operação Lava Jato, o instituto foi alvo dos investigadores. As palestras do ex-presidente e as doações feitas ao instituto foram questionadas e até denunciadas pelos procuradores do Ministério Público Federal. As informações obtidas foram compartilhadas com a Receita Federal que decidiu, em dezembro de 2016, multar o instituto.

Segundo os auditores, houve simulações de prestações de serviço por algumas empresas, entre elas de Fábio Luís, filho de Lula, como forma de mascarar a transferência de recursos da entidade para o ex-presidente e parentes. Enquadrado como desvio de finalidade, o Instituto teve revogada a isenção de impostos a que era submetida e ainda aplicada uma multa de cerca de R$ 2 milhões.

Assim como no caso de Lula, o Instituto entende que com a anulação das sentenças imposta pelo STF as multas e a dívida devem ser anuladas. Em ação para recorrer da punição, o instituto também defende que cumpre com sua missão estatutária e que foram comprovados inclusive os gastos que estão sendo questionados.

Pagamento de multa

De acordo com o Código Penal, no artigo 50, o dia-multa é o valor unitário a ser pago pelo réu a cada dia de multa determinado pelo magistrado. A quantia é recolhida ao Fundo Penitenciário Nacional e deve ser de, no máximo, 360 dias-multa, sendo o valor máximo por dia de 5 salários mínimos. O mínimo aplicado é de 10 dias-multa e o valor unitário de um dia-multa de um trigésimo do salário mínimo.

A multa deve ser paga em até dez dias depois do trânsito em julgado da ação. O pagamento pode ser parcelado e, se o réu não pagar, será inscrito entre os devedores da Fazenda Pública, o que ocorreu com Lula.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo falso ou enganoso em relação a um pré-candidato à Presidência da República pode levar o eleitor a definir seu voto com base em uma desinformação, o que prejudica o processo democrático.

Alcance da publicação: A postagem feita no Twitter dia 29 de março teve mais de 10 mil interações em apenas 3 dias, alcançando uma grande quantidade de pessoas em pouco tempo. No dia 5 de abril apenas essa postagem tinha sido publicada novamente por outros usuários mais de 2 mil vezes.

Outras checagens sobre o tema: O portal UOL publicou reportagem sobre a dívida de Lula com a União, já o jornal Folha de SP fez uma explicação de como está a situação jurídica do ex-presidente depois das decisões do STF.

Eleições

Investigado por: 2022-04-04

Fala de Lula sobre negros foi retirada de contexto e era uma crítica à elite brasileira

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo que mostra fala do ex-presidente Lula sobre negros e escravos é enganoso. O trecho apresentado foi retirado de uma entrevista e está editado, sem contexto. A mensagem de Lula era justamente uma crítica aos que pensam da maneira retratada.

Conteúdo investigado: Vídeo em que o ex-presidente Lula supostamente diz que negros deixaram de ser escravos para “virar vagabundo”.

Onde foi publicado: Kwai

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que circula no Kwai em que o ex-presidente Lula (PT) e pré-candidato ao Planalto em 2022 supostamente reproduz falas racistas. O trecho foi recortado de uma entrevista e publicado fora de contexto. A fala é uma crítica ao que Lula afirma ser o pensamento da elite brasileira em relação à população mais pobre e negra.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

O que diz o autor da publicação: Procurados por meio das redes sociais, os autores das publicações não responderam aos questionamentos.

Como verificamos: O Comprova usou o mecanismo de busca reversa do Google, que permite procurar a partir de uma imagem publicações visualmente semelhantes ao vídeo investigado. A partir disso, a equipe chegou ao vídeo original, publicado no canal do portal Diário do Centro do Mundo, mais conhecido como DCM.

Em buscas por palavras-chave das falas foi possível chegar até verificações feitas anteriormente pelo Estadão Verifica e pela Agência Lupa.

Contexto da declaração de Lula

A declaração que viralizou foi retirada de uma entrevista do ex-presidente ao portal DCM. No trecho investigado, Lula diz que “os negros não foram libertados para virar cidadãos ou cidadãs. Eles deixaram de ser escravos para virar vagabundos.” No entanto, dentro do contexto, é possível atestar que a fala não exprime a opinião de Lula sobre essa população e, sim, o que o ex-presidente afirma ser o pensamento da elite brasileira em relação às pessoas mais pobres e negras.

“Aqui no Brasil tem uma classe que é originária do escravagismo neste país que ela acha que é o seguinte: só tem que ter 35% da população deste país que come, que viaja, que vai para Miami, que vai para Bariloche, que vai ver museu na Europa, vai ver museu nos Estados Unidos. O restante tem que se lascar. É assim. Desde a Proclamação da República, desde o fim da escravidão, eles pensam assim.”

Em seguida, vem a fala que é reproduzida no vídeo investigado. “Os negros não foram libertados para virar cidadãos ou cidadãs. Eles deixaram de ser escravos para virar vagabundos. É assim que a elite tratava eles e continua tratando até hoje”, disse.

A declaração foi dada em entrevista a Kiko Nogueira, fundador do DCM, aos também jornalistas Vinícius Segalla e Pedro Zambarda, em 8 de abril de 2021. A entrevista também está disponível no canal oficial do ex-presidente. Conteúdos de mesmo teor do vídeo investigado nesta verificação começaram a circular pouco tempo depois da conversa ir ao ar. Em maio do mesmo ano, o portal DCM publicou uma matéria desmentindo as publicações enganosas propagadas nas redes sociais.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo enganoso em relação a um pré-candidato à Presidência da República pode levar o eleitor a definir seu voto com base em uma desinformação, o que prejudica o processo democrático.

Alcance da publicação: Os vídeos, publicados na plataforma de vídeo Kwai, alcançaram quase 100 mil visualizações em apenas 3 dias. Foram publicadas por perfis com quase 500 mil seguidores somados.

Outras checagens sobre o tema: Outras verificações foram feitas com o mesmo vídeo. O Estadão mostrou que o vídeo foi editado, já a agência Lupa explicou que a fala foi tirada de contexto. Em outra verificação do Projeto Comprova foi mostrado que um outro vídeo de Lula foi editado com a intenção de modificar a mensagem transmitida.

Eleições

Investigado por: 2022-04-04

Apreensão de droga atribuída a Bruno Maranhão ocorreu quatro anos após sua morte

  • Falso
Falso
É falso que Bruno Maranhão, líder do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), tenha sido um dos presos em uma operação feita pela Polícia Federal, em Paraguaçu Paulista (SP), em 2018. Um vídeo antigo dessa ação voltou a circular. Apontado como um dos detidos, Maranhão morreu quatro anos antes da filmagem.

Conteúdo investigado: Publicações acompanhadas por um vídeo mostram uma operação da Polícia Federal, em 2018. Nas imagens, dois homens aparecem deitados no chão e um terceiro está sentado em uma cadeira, com as mãos para trás, aparentemente algemado. A postagem acompanha um texto que atribui a ação policial à prisão de Bruno Maranhão.

Onde foi publicado: Facebook e Twitter

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de posts segundo os quais um aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamado Bruno Maranhão, foi preso acusado de tráfico de drogas. O vídeo que circula nas redes sociais mostra, na realidade, uma operação da Polícia Federal (PF) realizada em 2018, em Paraguaçu Paulista (SP), quatro anos depois da morte de Maranhão.

Naquela ação da PF, os agentes apreenderam 900 quilos de maconha, um avião agrícola e outros 400 quilos da mesma droga escondidas no hangar. Uma reportagem da TV Record veiculada na ocasião mostra, a partir de 1 minuto e 40 segundos, o nome dos acusados de envolvimento no crime e não há qualquer menção a Maranhão. A matéria apresenta as mesmas imagens mostradas no vídeo verificado.

Bruno Maranhão não poderia ter sido relacionado pela polícia neste caso porque morreu em 2014. Outro boato da postagem é a participação dele no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na verdade, Maranhão era liderança em outro grupo, o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST).

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou contato com os três perfis em que o vídeo viralizou. O primeiro, Informe Amapaense, é identificado como um blog pessoal no Facebook e tem mais de 51 mil seguidores. O contato foi feito por e-mail e pela plataforma. Nela, em troca de mensagem, foi informado um celular para contato diretamente com o editor. Procurado pelo Comprova, o editor do Informe Amapaense não respondeu aos questionamentos e disse apenas que “o assunto já está encerrado.”

Uma usuária do Twitter identificada como Nalva compartilhou a publicação naquela rede social. Com mais de 5,8 mil seguidores, ela se declara apoiadora do presidente Jair Bolsonaro e frequentemente publica conteúdos em defesa do presidente. A autora também não respondeu a mensagem.

O terceiro perfil que publicou o vídeo no Twitter não tem canal para mensagem direta e não foi possível o contato.

Como verificamos: Por ser um conteúdo já investigado em outras ocasiões, começamos essa apuração recorrendo a materiais publicados por agências e seções de checagem sobre o mesmo assunto. Também buscamos reportagens para explicar quem foi Bruno Maranhão, sua atuação em movimentos sociais e sua morte.

O Comprova ainda procurou os responsáveis pelas publicações que, embora já desmentidas algumas vezes, voltaram a viralizar nas redes sociais.

Operação mirou tráfico de drogas

A apreensão mencionada nos vídeos ocorreu em março de 2018. Segundo o portal G1, a investigação apurava um caso de tráfico de drogas no interior de São Paulo. Os policiais federais interceptaram o avião carregado de maconha e contaram com a ajuda da Polícia Militar para realizar as prisões.

No dia da operação, três pessoas foram presas. A aeronave estava no aeroclube de Paraguaçu Paulista, cidade distante 117 quilômetros de São Paulo. Segundo os policiais, os criminosos adaptaram o tanque do avião para conseguir transportar a droga.

Vinte dias após essa apreensão, a PF deflagrou a operação “Voo Cego”, como desdobramento das investigações. Nesta ocasião, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão também na cidade de Paraguaçu Paulista, além dos municípios de Cornélio Procópio e Londrina – ambos no Paraná. Nesta ação, uma segunda aeronave foi apreendida.

Em nenhuma das reportagens sobre a operação, o MST ou Maranhão são citados.

Quem é Bruno Maranhão

Filho de usineiros de Pernambuco, o engenheiro mecânico Bruno Maranhão defendia a reforma agrária no país. Uma reportagem do Estadão sobre sua morte, que aconteceu em 25 de janeiro de 2014, ressalta sua última ação pública, três anos antes, na Marcha da Reforma Agrária do Século XXI, realizada pelo MLST, uma dissidência do MST.

Maranhão foi militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR) e, após voltar do exílio na França imposto pela ditadura militar, ajudou a fundar o PT. Ele morreu de falência múltipla dos órgãos, aos 74 anos. Na ocasião, o Instituto Lula divulgou uma nota de pesar, assinada pelo ex-presidente e pela ex-primeira-dama Marisa Letícia. No documento, Maranhão foi destacado como um companheiro de luta.

Relacionamento com Lula

Natural de Pernambuco, assim como Lula, Maranhão e o ex-presidente se aproximaram no processo de fundação do PT, partido do qual o líder do MLST quase foi expulso após participar de um ato no Congresso Nacional que acabou em quebra-quebra, em junho de 2006. O episódio chegou a ser cogitado como um risco à campanha de reeleição do ex-presidente naquele ano.

Membro da Executiva nacional do PT, Maranhão tinha a função de mobilizar os movimentos sociais em apoio a Lula, conforme uma reportagem da Folha de S. Paulo em que traçava o seu perfil. Com a vitória de Lula nas eleições de 2006, em janeiro de 2007, Maranhão foi um dos convidados especiais, como dirigente petista, a integrar a comitiva na posse do ex-presidente.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos sobre políticas públicas, pandemia e as eleições presidenciais de 2022 que viralizam na internet. As postagens sobre Bruno Maranhão, falsamente associado ao tráfico de drogas e indicado como braço direito de Lula nos vídeos aqui investigados, podem distorcer a percepção das pessoas sobre o ex-presidente petista que é, hoje, pré-candidato à Presidência da República. A decisão da população no momento de votar deve ser baseada em fatos, e não em boatos. Mentiras enfraquecem o processo eleitoral e democrático.

Alcance da publicação: Até o dia 1º de abril, a publicação tinha mais de 1,1 mil visualizações no Facebook e mais de 580 visualizações em um perfil do Twitter. Após contato do Comprova, a postagem no Facebook foi deletada.

Outras checagens sobre o tema: Esta não é a primeira vez que o nome de Bruno Maranhão é associado, indevidamente, ao tráfico de drogas. O boato já havia circulado em 2019 e foi desmentido pelo G1, e, em 2020, foi contestado pela Aos Fatos. O Estadão Verifica também apontou que se tratava de boato a prisão por tráfico de Maranhão, que já havia morrido na época da operação policial. Em outra reportagem, ressaltou que fotos de drogas e armas não foram tiradas em acampamento do MST.

Conteúdos falsos e enganosos relacionados a eleições e candidatos estão frequentemente circulando nas redes sociais. O Comprova já mostrou que vídeo engana ao dizer que pesquisas eleitorais foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018 e também que Parque do Iguaçu não foi criado por Lula.

Eleições

Investigado por: 2022-04-01

Vídeo de protesto contra Lula em show de Marina Sena é falso

  • Falso
Falso
É falso um vídeo publicado no TikTok que mostra o público do festival Lollapalooza Brasil 2022 entoando um coro de xingamentos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante uma apresentação da cantora Marina Sena. É possível constatar pela própria postagem que o áudio não é autêntico e que uma ferramenta do TikTok foi usada para incorporar o som de outro vídeo à filmagem do festival, publicada originalmente no perfil do canal Multishow, sem o áudio de protesto.

Conteúdo investigado: Vídeo de uma apresentação da cantora Marina Sena no festival Lollapalooza em que o público teria xingado o ex-presidente Lula, entoando um coro de “ei, Lula, vai tomar no **”.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: É falso um vídeo publicado no TikTok que mostra o público do festival Lollapalooza de 2022, durante uma apresentação da cantora Marina Sena, e, ao fundo, um áudio com xingamentos ao ex-presidente Lula.

O post usa uma ferramenta da plataforma que permite reaproveitar os sons originais de publicações anteriores em outros conteúdos. Essa é uma função popular em vídeos de dublagem de músicas (ou lip-syncing) que fazem sucesso na rede social. O TikTok informa de onde o som original foi retirado.

Nesse caso, o áudio vem de um vídeo da torcida do Flamengo publicado por outro perfil no dia 13 de fevereiro de 2022 — embora essa gravação possa ter sido editada antes de ser postada na plataforma. O mesmo áudio também foi inserido por um terceiro perfil em um vídeo do rapper Matuê se apresentando no Lollapalooza, com o texto “cantor tenta Lacrar e é humilhado junto com seu lula ladrão #Bolsonaro2022”.

Ambos os vídeos do festival traziam ainda marcas d’água com os nomes dos perfis que originalmente os publicaram — as gravações de Marina Sena e Matuê foram feitas pelo canal Multishow e por um cinegrafista amador, respectivamente. Visitando esses perfis, foi possível encontrar as filmagens originais (1 e 2), que não trazem o coro de xingamentos ao ex-presidente.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

O que diz o autor da publicação: O autor da publicação foi procurado, mas, até o momento, não respondeu aos questionamentos do Comprova.

Como verificamos: O primeiro indício de que o áudio do vídeo havia sido editado veio do próprio TikTok, que mostra ao usuário quando o som de uma publicação teve origem em outra. O aplicativo permite acessar uma página com todas as postagens que usaram o mesmo áudio.

| No TikTok, é possível identificar que o som usado em uma publicação teve origem em outra postagem. Para isso, basta observar a indicação de “som original” na parte inferior da tela. Ao clicar, o usuário tem acesso à lista de postagens já feitas com o mesmo som.

A gravação verificada também trazia o logotipo do canal Multishow, a hashtag #LollaBRnoMultishow e a marca d’água do perfil do Multishow no TikTok, indicando que o vídeo original havia sido publicado pelo canal na plataforma. A equipe, então, pôde encontrar o mesmo vídeo, sem som de protesto, na página da emissora.

Uma busca no Google pelo usuário que publicou o vídeo editado retornou com verificações das agências Boatos.org, AFP Checamos e Estadão Verifica sobre outro conteúdo falso de teor similar, publicado pelo mesmo perfil no TikTok. Também fizemos pesquisas em buscadores por notícias sobre o Lollapalooza, para reunir informações de contexto sobre protestos políticos realizados no festival.

Por fim, tentamos contato com a organização do evento e com o autor do post verificado, mas não houve resposta de ambos.

Festival e censura

O Lollapalooza Brasil 2022 foi realizado em São Paulo, nos dias 25, 26 e 27 de março. O vídeo do show de Marina Sena com áudio editado viralizou no contexto de polêmica envolvendo protestos de artistas no festival contra o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

No primeiro dia do evento (25), a cantora Pabllo Vittar desceu do palco e levantou uma toalha com o rosto e o nome do ex-presidente Lula. Depois do show, a artista também fez sinal de “L” com a mão, em outro gesto de apoio ao petista. Já a cantora britânica Marina Diamandis xingou Bolsonaro e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante sua apresentação.

No domingo (27), o ministro Raul Araújo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), classificou manifestações políticas de cantores como propaganda eleitoral e determinou multa de R$ 50 mil ao festival em caso de novos atos. A decisão liminar atendeu parcialmente pedido do PL, partido de Bolsonaro, e proibia manifestações favoráveis ou contrárias a qualquer candidato.

Mesmo com a decisão do TSE, artistas continuaram fazendo as manifestações. Marina Sena não citou Bolsonaro diretamente, mas fez discurso pedindo que fãs maiores de 16 anos tirem o título de eleitor para que possam votar no pleito deste ano. A cantora também fez sinal de “L” com a mão.

Raul Araújo derrubou sua própria liminar na segunda-feira (28), após o PL desistir da ação. Nos bastidores, a informação é de que o partido tomou a decisão após Bolsonaro se irritar com a repercussão negativa do caso.

Outros vídeos falsos

Verificações dos sites Boatos.org, AFP Checamos e Estadão Verifica investigaram outros conteúdos publicados pelo mesmo perfil responsável pelo vídeo editado do show da Marina Sena. Nestes casos, a ferramenta de dublagem do TikTok também foi usada para inserir um áudio inautêntico de xingamento ao ex-presidente em um vídeo da torcida em uma partida da seleção do Brasil contra o Chile, realizada em 24 de março de 2022.

Conforme mostrou a AFP Checamos, esse mesmo áudio foi usado em sete vídeos diferentes do perfil; quatro vezes sobreposto a imagens de torcidas em estádios. O TikTok aponta que o som original vem de uma gravação de torcedores do Flamengo, mas é possível que o vídeo tenha sido editado antes de ser publicado na plataforma.

O Boatos.org afirma ter encontrado em um post no Twitter a gravação original, na qual a torcida não faz xingamentos contra o ex-presidente, e sim canta uma música de apoio ao Flamengo. A página que o publicou se encontra fora do ar atualmente.

Já o Estadão Verifica mostrou o caso em que áudio com xingamentos a Lula foi incluído em edição de vídeo gravado no Maracanã durante o jogo entre Brasil e Chile, que ocorreu em março deste ano.

Em 2021, o Comprova investigou outro conteúdo com o coro contra Lula, dessa vez em um vídeo da torcida do Atlético Mineiro. Nesse caso, a gravação era real, mas não recente: foi feita em 2016, durante um jogo contra o time chileno Colo-Colo. Posts falsos afirmavam que o protesto teria acontecido em uma partida à qual o ex-presidente Lula teria comparecido, e com isso tentavam descreditar as pesquisas eleitorais, que mostram o petista à frente das intenções de voto para a Presidência em 2022.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo falso em relação a críticas a um pré-candidato à Presidência da República – como no caso do vídeo aqui verificado – pode levar o eleitor a definir seu voto com base em uma desinformação, o que prejudica o processo democrático.

Alcance da publicação: Até o dia 31 de março, a publicação no TikTok alcançou 2,4 mil visualizações, além de 123 curtidas e 28 comentários.

Outras checagens sobre o tema: Em outras verificações, o Comprova já mostrou que um vídeo engana ao dizer que pesquisas foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018 e que o parque do Iguaçu não possui reserva de gás e foi criado por Vargas, não por Lula. O projeto também publicou recentemente conteúdo explicando que pesquisas eleitorais seguem métodos científicos, ao contrário de enquetes.