O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Eleições

Investigado por: 2022-10-27

É falso que Lula estivesse sem segurança em ato de campanha no Complexo do Alemão

  • Falso
Falso
É falso o vídeo que sugere relações do ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com facção do tráfico de drogas do Rio de Janeiro por ele ter feito, sem segurança, uma caminhada no Complexo do Alemão, em uma região à qual a polícia não teria acesso. O evento, no entanto, contou com a Polícia Federal, Polícia Militar do Rio de Janeiro e Guarda Municipal.

Conteúdo investigado: Em vídeo, o deputado federal eleito por Goiás Gustavo Gayer (PL) diz que o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou caminhada no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em um local em que a polícia não pode entrar. O autor afirma que o ex-presidente estava sem segurança no território dominado pelo Comando Vermelho e que a facção criminosa estaria obrigando o voto dos moradores em Lula.

Onde foi publicado: O vídeo foi publicado na rede social Gettr, fundada por Jason Miller, ex-assessor do ex-presidente americano Donald Trump, e no YouTube.

Conclusão do Comprova: É falso o vídeo publicado pelo deputado federal eleito Gustavo Gayer (PL-GO) que sugere relações do ex-presidente e candidato Lula com facção do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. O autor afirma que o petista realizou, sem segurança, caminhada no Complexo do Alemão em uma região que a polícia não tem acesso. “Ele é recebido, autorizado a entrar numa área que nenhum cidadão de bem pudesse jamais cogitar essa hipótese”, afirma no vídeo.

O evento, no entanto, contou com a presença de agentes da Polícia Federal, Polícia Militar do Rio de Janeiro e Guarda Municipal. No complexo de favelas da Zona Norte do Rio há quatro Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A região e a via na qual transcorreu a caminhada são, inclusive, palco de ações e operações policiais cotidianamente.

Tampouco há registro, por parte das autoridades responsáveis, de coação eleitoral por parte de traficantes no Complexo do Alemão. O Ministério Público Eleitoral e o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmam que não há denúncia neste sentido.

Falso, para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No YouTube, o vídeo investigado alcançou 129.269 visualizações, 36 mil curtidas e 2.138 comentários até 26 de outubro de 2022. No GETTR, a mídia teve 444 curtidas e 67 compartilhamentos até a mesma data.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com o autor do vídeo através de e-mail, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

Como verificamos: Por meio de pesquisa no Google, confirmamos que a caminhada realizada pela campanha do ex-presidente Lula no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, aconteceu no feriado do dia 12 de outubro. O aviso de pauta da campanha marcava o ato para as 10h daquele dia.

Confirmamos a área em que ocorreu a caminhada com lideranças, como Renê Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades, e com o aviso de pauta à imprensa enviado aos veículos de comunicação e publicado no site da campanha. Para saber se a polícia tinha acesso à área, pesquisamos no Twitter da Polícia Militar do Rio de Janeiro, em que a divulgação de ações são frequentes, e encontramos registro de ação no local.

Verificamos com o assessor da Polícia Militar por ‘WhatsApp’ quais Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) atuam no complexo de favelas. Utilizamos o Google Maps para calcular a distância entre a sede da UPP Alemão e a Estrada do Itararé, onde ocorreu a caminhada.

Pedimos à plataforma Fogo Cruzado o número de ações policiais realizadas no Complexo do Alemão neste ano até o dia 21 de outubro.

Para apurar quais órgãos atuaram na segurança do evento, mandamos email para a campanha do presidenciável do PT, para a Polícia Militar e para o Governo do Estado do Rio. Nenhum deles respondeu. Procurada, a Guarda Municipal informou que participou do ordenamento do trânsito. A Polícia Federal afirmou que não divulga informações sobre segurança de autoridades.

Na transmissão da caminhada no canal do candidato, foi possível identificar a presença de uma viatura da PM. O vídeo da caminhada publicado pela campanha de Lula foi retirado do ar posteriormente.

Entrevistamos o coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), Daniel Hirata, sobre a influência da facção criminosa Comando Vermelho na área.

Para verificar as imagens que foram exibidas pelo influenciador bolsonarista, salvamos um print do vídeo e fizemos uma busca no aplicativo Invid. A plataforma mostrou outras publicações do mesmo vídeo do dia 12 de outubro.

No vídeo exibido por Gayer, uma mulher afirma que trabalha na secretaria de Serviços Públicos e que teria sido obrigada pelo secretário Christiano a participar do comício. Verificamos que o nome coincidia com o do secretário Christiano Miranda Pontes, de Belford Roxo. Pedimos à Prefeitura do município da Baixada Fluminense esclarecimentos sobre o conteúdo.

Para apurar se traficantes estariam obrigando as pessoas a votarem no Lula, questionamos os Ministérios Público do Rio e Eleitoral, além da Polícia Civil do estado.

Lula fez caminhada no Complexo do Alemão

O ex-presidente Lula fez uma caminhada no Complexo do Alemão no feriado de 12 de outubro deste ano. A última vez que o petista esteve no complexo de favelas foi em 2008, na inauguração das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na comunidade, quando ele era presidente. A caminhada, marcada para as 10h encerrou-se no início da tarde, entre 13h e 13h30, conforme a cobertura da imprensa.

Polícia tem acesso à área da caminhada

A caminhada aconteceu na Estrada do Itararé, no Complexo do Alemão. Segundo Renê Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades, que participou da organização do evento, a caminhada iniciou na Estrada do Itararé, na esquina da Rua Engenheiro Efren Dantas e seguiu um percurso de 750 metros, terminando na esquina da Rua Paranhos.

| ARTE: David Michelson/Comprova

A Polícia Militar tem acesso ao local. Verificamos uma publicação no Twitter da Polícia Militar do Rio de Janeiro que mostra um patrulhamento da área. “Policiais da #UPP #Alemão estão presentes na Estrada do Itararé, no Complexo do Alemão”, diz o tuíte do dia 22 de julho deste ano.

O Complexo do Alemão também conta com quatro Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs): Fazendinha, Nova Brasília, Alemão e Adeus/Baiana.

A sede da UPP Alemão fica a 500 metros a pé da Estrada Itararé (mapa abaixo), onde transcorreu a caminhada. A unidade fica em frente à estação do Teleférico do Alemão.

Órgãos de segurança participaram do evento

O UOL Confere apurou que 30 policiais federais reforçaram a segurança do candidato à presidência no evento. O homem que aparece atrás de Lula no carro de som (foto abaixo) é o delegado da PF Alexsander Castro Oliveira. Ele é o chefe operacional da segurança do ex-presidente durante a campanha. O delegado da PF Andrei Augusto Passos Rodrigues também estava no carro. Ele é o coordenador da segurança do petista.

Aqui vale destacar que a segurança pessoal exercida por agentes da Polícia Federal é direito dos candidatos à Presidência da República, segundo o art. 10 do Decreto nº 6.381, de 27 de fevereiro de 2008. Além disso, verificamos por meio do vídeo de transmissão da caminhada que pelo menos uma equipe da Polícia Militar esteve presente no ato. Na transmissão da caminhada realizada pela campanha do petista é possível visualizar uma viatura da Polícia Militar do Rio no evento, circulada em branco na imagem abaixo. O vídeo da caminhada foi retirado do ar. Questionamos a campanha do ex-presidente Lula e a Justiça Eleitoral sobre o motivo da retirada do vídeo, mas não obtivemos retorno até a publicação deste texto.

| Viatura da PM aparece em transmissão da caminhada de Lula no Complexo do Alemão

O UOL Confere também identificou uma viatura em uma fotografia feita na cobertura do comício pela fotojornalista Érica Martins, do Estadão.

A Guarda Municipal do Rio atuou no evento com foco exclusivo no trânsito. Foram empregados 19 guardas municipais da Subdiretoria Técnica de Trânsito para operar os bloqueios viários já estabelecidos e também atuar no monitoramento do trânsito em geral. 

A campanha de Lula não retornou sobre o esquema de segurança do petista no ato. A Polícia Federal afirmou que não divulga informações ou dados operacionais, em especial relacionados à segurança de autoridades. A Polícia Militar e o Governo do Estado do Rio de Janeiro não responderam os pedidos de informação da reportagem sobre o policiamento no dia da caminhada.

Comando Vermelho atua no Complexo do Alemão

Segundo o Mapa dos Grupos Armados no Rio de Janeiro, do Geni-UFF, a facção criminosa Comando Vermelho atua no Complexo do Alemão. A região tem quatro UPPs e é alvo frequente de operações policiais.

Localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, na Serra da Misericórdia, subúrbio da Leopoldina, o Complexo do Alemão é um bairro criado em 1993 pela lei nº 2055. Ele faz limite com os bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso, Inhaúma e Higienópolis. Os dados do último Censo, de 2010, apontam uma população de aproximadamente 70 mil habitantes.

Hoje, o complexo é formado pelas comunidades de Nova Brasília, Reservatório de Ramos, Parque Alvorada, Morro das Palmeiras, Casinhas, Fazendinha, Canita, Pedra do Sapo, Mineiros, Morro do Adeus, Morro da Baiana, Matinha, Grota (ou Joaquim Queiroz) e Morro do Alemão. Esta última localidade emprestou seu nome ao complexo, muito embora o personagem que inspirou a alcunha fosse, na verdade, polonês, como narra a MultiRio (Empresa Municipal de Multimeios, vinculada à Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro), no texto “A história do jovem bairro do Complexo do Alemão”, de 2015, da série Bairros cariocas.

| ARTE: David Michelson/Comprova

O coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF) Daniel Hirata destaca que não apenas os grupos armados definem quem entra ou não numa favela.

“Lula foi convidado por moradores, associações, lideranças. Há outras formas de dignidade e de pertencimento para além do tráfico. Há muitos grupos de assistência que atuam no Alemão e uma cena importante de movimentos e organizações. Foram essas pessoas que convidaram Lula para estar ali e me parece um sinal de que há vida ali para além do tráfico de drogas. Muitas outras coisas que não apenas o tráfico acontecem nas favelas do Rio”, diz o professor de sociologia.

A MultiRio lembra ainda que, segundo informações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, a ocupação do bairro pelo tráfico de drogas e de armas ocorreu no início dos anos 1990.

Imagens noturnas contrariam período do evento

No vídeo, Gustavo Gayer exibe imagens de pessoas com adesivos de campanha de Lula e em atos do presidente. Elas dizem que foram obrigadas a participar da manifestação. Como as imagens aparecem desfocadas e os rostos escondidos, o Comprova não conseguiu confirmar se os áudios são de fato dessas pessoas. Além disso, as cenas foram gravadas à noite enquanto a caminhada de Lula no Complexo do Alemão foi realizada pela manhã.

Outras contas no Twitter e no TikTok que publicaram as mesmas imagens no dia 12 de outubro afirmaram tratar-se de ato do candidato em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, realizado na noite da véspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida.

Uma das mulheres que aparece no vídeo diz que trabalha na Secretaria de Serviços Públicos do secretário Christiano Miranda Pontes, de Belford Roxo, que teria obrigado os funcionários a participar do comício. 

A Prefeitura de Belford Roxo afirmou que desconhece a informação e disse que não é prática da administração municipal adotar este tipo de conduta, pois entende que o país é democrático e a pessoa tem o direito de escolher o seu candidato livremente. 

Não há denúncias sobre coação eleitoral

O Comprova também não encontrou nos órgãos oficiais denúncias de coação eleitoral por parte de traficantes no Complexo do Alemão. A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (PRE/RJ) informou que não houve registro de nenhum incidente na região e a Ouvidoria do Ministério Público do Rio de Janeiro não recebeu nenhuma denúncia nesse sentido.

A Polícia Civil, por sua vez, não respondeu ao Comprova.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas do governo federal e a pandemia. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população. No contexto das eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo. A propagação de desinformação impede que o eleitor tome sua decisão com base em informações verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente o Estadão Verifica desmentiu que traficantes ameaçaram eleitores para votarem em Lula na Rocinha, assim como o Aos Fatos. O Comprova já mostrou que a sigla “CPX”, em boné usado por Lula, significa complexo (conjunto de favelas) e não tem relação com facção criminosa, e checou também que um vídeo afirmando que Lula chamou apoiadores de vagabundos e traficantes é falso.

Eleições

Investigado por: 2022-10-26

É falso que aplicativo do TSE não permita denúncias contra o PT; eleitor deve selecionar federação partidária

  • Falso
Falso
É falso que o aplicativo de disque-denúncia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para eleições, o Pardal, não aceite queixas contra o Partido dos Trabalhadores (PT). A ferramenta acata denúncias contra a legenda, mas, como ela compõe uma federação partidária com outras siglas, é preciso denunciar a federação em si, no caso, a Brasil da Esperança, que também inclui o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o Partido Verde (PV). O PL, do presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, pode ser denunciado como partido, visto que não integra nenhuma federação.

Conteúdo investigado: Tuíte alegando que o aplicativo de disque-denúncia do TSE, o Pardal, não aceita queixas contra o PT. A postagem inclui um vídeo de uma tentativa fracassada de denunciar a sigla.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que o aplicativo de disque-denúncia do TSE para eleições, o Pardal, não aceite queixas contra o PT. Ele acata denúncias contra a legenda, mas, como ela compõe uma federação partidária com outras siglas, é preciso denunciar a federação em si, no caso, a Brasil da Esperança, que também inclui o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o Partido Verde (PV).

A mesma regra se aplica a todos os outros partidos federados, que são siglas unidas em uma eleição e durante os quatro anos posteriores. Atualmente, as únicas outras duas federações existentes envolvem PSDB e Cidadania, sob o nome Federação PSDB Cidadania, e PSOL e Rede Sustentabilidade, como Federação PSOL REDE.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o final da manhã de 26 de outubro, o tuíte investigado havia sido retuitado mais de 3 mil vezes e tinha mais de 6,1 mil curtidas e 52,4 mil visualizações.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com o autor do tuíte verificado por mensagem direta no Twitter, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Pesquisamos, no Google, por páginas que contivessem as palavras-chave “Pardal”, “denúncias”, “PT” e “TSE”. Obtivemos como resposta publicações do próprio TSE, da agência de checagem de fatos Lupa e dos sites de notícias O Antagonista e Yahoo News, que desmentem o conteúdo verificado. Depois, encontramos artigo da agência de checagem AFP Checamos sobre o tema. O Comprova também baixou o Pardal para testar o sistema de denúncia do aplicativo.

Pardal aceita, sim, denúncia contra o PT

Partidos federados, como é o caso do PT, não podem ser denunciados individualmente no Pardal. Perceba que o aplicativo também não permite protocolar queixa contra o PSDB, outra legenda federada.

| Ao tentar buscar o PSDB como partido para denunciar, o Pardal não reconhece a sigla também, porque, assim como o PT, ela compõe federação partidária

Para denunciar o PT, o PSDB ou qualquer outro partido federado, é preciso selecionar, como “objeto da denúncia”, a opção “Federação”, e não “Partido”. Também é possível denunciar um candidato específico ou uma coligação, que é um grupo de partidos aliados para apenas a disputa das eleições.

| Menu do Pardal na etapa do processo de protocolar queixa na qual o usuário nomeia o partido, coligação, candidato ou federação denunciado

Escolhida a opção “Federação”, o usuário poderá informar qual grupo partidário será denunciado. O Pardal, então, apresenta automaticamente como opções disponíveis as três federações partidárias existentes nas eleições de 2022: Brasil da Esperança; PSDB Cidadania; e PSOL REDE.

| Menu do Pardal com denúncia contra a Federação Brasil da Esperança, que representa o PT e os outros dois partidos que a integram, o PC do B e o PV

O PL, do presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, pode ser denunciado como partido, visto que não integra nenhuma federação.

Para mais informações sobre como denunciar potenciais irregularidades nas eleições deste ano, o eleitor pode acessar a página no site oficial do TSE com instruções de uso do Pardal.

O que são federações partidárias

As federações partidárias são um tipo de aliança política, assim como as coligações. Mas, enquanto as coligações duram apenas pela disputa de uma eleição, os partidos federados ficam também ligados por, pelo menos, os quatro anos da legislatura decorrente.

Partidos federados agem como uma única bancada no Congresso durante esse período, assim aumentando a expressão das siglas aliadas. Em específico, uma das principais vantagens das federações é permitir que siglas menores superem a cláusula de barreira sem a necessidade de se fundir.

Também conhecida como cláusula de desempenho, essa regra restringe o acesso a fundo partidário e propaganda gratuita com base em limite mínimo de porcentagem de votos válidos ou número de deputados federais eleitos.

Estas são as primeiras eleições com federações partidárias, visto que elas foram regulamentadas apenas em setembro de 2021, pela Lei nº 14.208. A data limite para registro de federações nestas eleições foi 31 de maio.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população. No contexto das eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo, pois podem enganar os eleitores brasileiros sobre a integridade da Justiça Eleitoral.

Outras checagens sobre o tema: A peça de desinformação verificada já foi desmentida pelo TSE em setembro e, nesta semana, pelas agências de checagem de fatos Lupa e AFP Checamos, e pelos sites de notícias O Antagonista e Yahoo News. Sobre publicações envolvendo denúncias no processo eleitoral, o Comprova já mostrou que o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, não disse que vai mandar prender eleitor que reclamar das urnas, que queixas sobre urnas devem ser registradas com o presidente da mesa, não em aplicativo do TSE e que vídeo faz apologia ao crime ao incentivar os eleitores a escreverem o próprio voto no caderno de assinaturas da seção eleitoral.

Eleições

Investigado por: 2022-10-25

Tuíte atribuído a Xuxa é falso e policial federal ferida por Roberto Jefferson não estava grávida

  • Falso
Falso
É falso que a policial federal Karina Lino Miranda de Oliveira estava grávida e perdeu o filho após ser atingida por uma granada atirada pelo ex-presidente do PTB e ex-deputado federal Roberto Jefferson. Um tuíte atribuído à apresentadora Xuxa Meneghel sobre o caso também é falso, de acordo com apuração do Comprova e informações fornecidas pela assessoria da artista à reportagem. Karina não estava grávida e teve ferimentos leves por estilhaços de vidro do para-brisa da viatura, atingido pelo explosivo no último dia 23 de outubro.

Conteúdo investigado: Uma publicação no Facebook mostra um suposto tuíte atribuído à apresentadora Xuxa, no qual ela teria prestado solidariedade a uma policial federal ferida durante operação para a prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB). Segundo a peça de desinformação, a agente de segurança estaria grávida e teria perdido o bebê após o conflito com o ex-parlamentar. “Até quando, irmão evangélicos (sic), vai continuar insistindo em seguir um governo desumano desses. Romanos 1:32 não somente que faz, mas também quem consente”, escreve o perfil que fez a postagem no Facebook.

Onde foi publicado: Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso que a policial federal Karina Lino Miranda de Oliveira estava grávida e perdeu o filho após ser atingida por uma granada atirada pelo ex-presidente do PTB e ex-deputado federal Roberto Jefferson. A Polícia Federal (PF) negou que a policial estivesse grávida. Karina de fato fazia parte da equipe da PF que foi atacada por Roberto Jefferson, mas ela teve apenas ferimentos leves.

Também é falso que a apresentadora Xuxa Meneghel tenha publicado um tuíte alegando que a agente de segurança teria perdido o suposto bebê em decorrência das ações do ex-parlamentar que resistiu à prisão. Uma busca avançada no perfil de Xuxa no Twitter não mostra resultados para as expressões utilizadas na peça alvo da checagem. Ao Comprova, a assessoria de imprensa da artista negou que ela tenha publicado tal conteúdo.

A postagem já recebeu do Facebook o selo de “informação falsa”, com base em checagens feitas por verificadores independentes, mas a publicação continua acessível na plataforma. O Facebook recomendou ainda aos usuários que acessem o site da Justiça Eleitoral para encontrar informações oficiais sobre as eleições de 2022 e disponibilizou link para o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Facebook, a peça alvo da checagem tinha 620 reações, 572 comentários e 623 compartilhamentos até o dia 25 de outubro de 2022.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou mensagem ao perfil que publicou o tuíte falso de Xuxa, mas não obteve resposta até a publicação deste material.

Como verificamos: O Comprova entrou em contato com fontes oficiais da Polícia Federal tanto do Rio de Janeiro, quanto de Brasília, para checar a informação de que a policial federal Karina de Oliveira estava na viatura atacada por Roberto Jefferson. Durante o contato, também checamos se a agente estava grávida, o que foi negado pelo órgão. Depois, entramos em contato com a assessoria de imprensa de Xuxa.

Xuxa não fez postagem sobre o caso

Em seu perfil no Twitter, a última atualização feita pela apresentadora foi no dia 18 de outubro, ou seja, quase uma semana antes do ocorrido, no dia 23 de outubro.

A equipe da apresentadora confirmou que a mensagem não foi publicada originalmente no perfil de Xuxa. “Fake. Xuxa não fez esse post”, foi a resposta enviada ao Comprova.

Além disso, a foto do perfil do Twitter atribuído a Xuxa, utilizada na montagem que está sendo compartilhada, não condiz com a atual foto utilizada pela apresentadora no seu perfil na rede social.

PF nega que policial ferida estivesse grávida

Karina de Oliveira não estava grávida, logo, não perdeu nenhum filho por conta dos ferimentos. A informação não consta em nenhum boletim de ocorrência e foi negada por fontes oficiais da PF.

A agente foi ferida na cabeça e em outras partes do corpo por estilhaços de vidro do para-brisa, que foi atingido por uma granada lançada por Roberto Jefferson, segundo a PF. Karina foi prontamente atendida e teve ferimentos leves. Ela foi levada para um hospital da região e recebeu alta no mesmo dia.

Roberto Jefferson é indiciado por tentativas de homicídio

Karina não foi a única a ser ferida no episódio. O delegado federal Marcelo Vilella também estava na viatura e foi atingido por estilhaços. O policial teve ferimentos sem gravidade e recebeu atendimento no mesmo hospital que Karina.

Roberto Jefferson foi indiciado por quatro tentativas de homicídio, duas pelo ataque aos policiais Karina e Marcelo e outras duas relacionadas a agentes que estavam numa viatura, mas que não chegaram a ser atingidos.

O caso aconteceu no dia 23 de outubro, em Levy Gasparian, município que fica no interior do estado do Rio de Janeiro, onde mora Jefferson. Agentes da PF foram até a residência do político para cumprir ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e foram atacados pelo ex-deputado com granadas e um fuzil.

Jefferson se entregou depois de oito horas de descumprimento da decisão do STF. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP), ele teve a prisão mantida nesta segunda-feira (24), por determinação da Justiça, e foi levado para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8), no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste.

O ex-deputadoé investigado no inquérito que apura atividades de uma organização criminosa (milícia digital) que teria agido com o intuito de provocar um atentadocontra o Estado Democrático de Direito. Jeffersonvinha cumprindo prisão domiciliar e estava proibido de usar as redes sociais. No entanto, na última semana, ele apareceu em um vídeo nas redes proferindo xingamentos contra a ministra do STF Cármen Lúcia, reclamando de uma decisão judicial tomada por ela.

Autora da postagem é advogada e filiada ao PT

Maria Aparecida Vieira de Lima tem 52 anos e nasceu em Inajá, Pernambuco. É advogada inscrita na subseção da OAB da cidade de Santo André, na Grande São Paulo. Em seu perfil no Instagram, consta que possui PhD em Teologia, Pós-graduação em Direito Constitucional, em Direito Eleitoral e Prática Previdenciária. Tem aulas online gravadas sobre religião e política. Nas eleições municipais de 2020, a advogada concorreu pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para o cargo de vereadora da cidade de Santo André, utilizando o nome de Pastora Maria Aparecida.

De acordo com a Justiça Eleitoral, Maria Aparecida é filiada ao PT desde 2018.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como a peça aqui verificada, podem induzir a interpretações equivocadas sobre a realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Em checagem recente o Boatos.org desmentiu que a policial federal atingida na ocasião estivesse grávida, assim como o portal G1. A agência Reuters também já confirmou que a postagem que está sendo compartilhada não foi feita por Xuxa. O Comprova já mostrou ser montagem um tuíte atribuído a Jair Bolsonaro (PL) com menção de acabar com o feriado de Nossa Senhora Aparecida, que é falso que Lula tenha defendido o uso de mentiras na política e que sinal de “L” feito por traficantes não é referência ao petista e, sim, saudação de facção que atua no Rio de Janeiro.

Eleições

Investigado por: 2022-10-25

É falsa a mensagem que atribui a Arthur Lira condução de romeiros a Juazeiro para gerar abstenção no 2º turno

  • Falso
Falso
É falsa a mensagem que circula no WhatsApp segundo a qual o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), estaria usando verba do orçamento secreto para levar romeiros a Juazeiro do Norte, no Ceará, para uma estadia de 28 de outubro a 2 de novembro em busca de gerar abstenção no 2º turno das eleições. Não há evidências da ocorrência do crime eleitoral (até o momento, não há denúncias no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Ministério Público Eleitoral ou mesmo qualquer veiculação de matéria nos meios de comunicação); o deputado classifica a publicação como “fake news”; e a professora citada na mensagem nega ser a autora do conteúdo verificado.

Conteúdo investigado: Texto atribuído à ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas Ana Dayse (UFAL), em que ela teria afirmado que o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) estaria usando verba do orçamento secreto para levar romeiros a Juazeiro Norte, no Ceará. A estadia seria de 28 de outubro a 02 de novembro – coincidindo com a data do segundo turno da eleição presidencial. Segundo a mensagem, a romaria evitaria o comparecimento de eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às urnas.

Onde foi publicado: WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falsa a mensagem que circula no WhatsApp na qual consta que o deputado federal e presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estaria usando verba do orçamento secreto para levar romeiros de cidades do Nordeste a Juazeiro do Norte – município símbolo de devoção ao Padre Cícero, no Ceará –, para uma estadia de 28 de outubro a 2 de novembro em busca de gerar uma possível abstenção no 2º das eleições, que ocorrerá dia 30 de outubro.

A mensagem indica que as pessoas transportadas nas caravanas seriam “na grande maioria eleitores do Lula”, candidato do PT à Presidência da República. Lira é aliado do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Conforme apurado pelo Comprova, não há evidências da ocorrência do crime eleitoral – até o momento, não há denúncias no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nem no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), sobre o assunto, tampouco no Ministério Público Eleitoral (MPE) no estado. Também não há, até agora, veiculação de reportagens sobre o caso.

Consultada pelo Comprova, a assessoria do deputado informou que classifica a publicação como “mais uma fake news”. A professora citada como a suposta autora da mensagem, a ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Ana Dayse, nega que tenha produzido o conteúdo inverídico.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O conteúdo circula no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, com a anotação “encaminhada com frequência”, sinalização que indica a viralização do conteúdo.

O que diz o responsável pela publicação: O conteúdo circula no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, não sendo possível localizar o responsável pela publicação.

Como verificamos: Iniciamos a verificação buscando no Google pelas palavras “Arthur Lira”, “romeiros”, “juazeiro”, que retornou conteúdos já apurados pelo UOL, Boatos.org, além de uma reportagem do site Tribuna Hoje, a respeito de nota em que a Academia Alagoana de Educação (Acale) repudia veiculação de mensagem falsa de cunho político envolvendo a presidente da entidade.

Também procuramos a Universidade Federal de Alagoas – na qual a professora Ana Dayse é reitora honorária –, o Ministério Público Eleitoral no Ceará, o TSE, a Acale e a Prefeitura de Juazeiro do Norte.

O Comprova buscou, ainda, contato com a assessoria de imprensa do deputado Arthur Lira e falou, por WhatsApp, com a professora Ana Dayse – citada no conteúdo de desinformação.

Romarias em Juazeiro do Norte (CE)

O conteúdo enganoso afirma que há “verdadeiras caravanas com ônibus repletos partindo de diversas cidades e estados nordestinos, para que esses eleitores estejam no Ceará e não votem. São pessoas simples e devotas do Padim Pe. Cícero, na grande maioria eleitores do Lula”.

A cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, de fato, é marcada pelo turismo religioso, sendo um município símbolo de devoção ao padre Cícero Romão Batista. O calendário oficial de eventos do município registra 10 romarias. A mais movimentada é a Romaria de Finados, que ocorre de 29 de outubro a 2 de novembro.

Em 2022, a programação divulgada pela Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores confirma que o evento acontecerá nesta data, mas devido ao 2º turno das eleições, nos dias 29 e 30 de outubro a programação encerrará mais cedo.

A Prefeitura de Juazeiro do Norte informou ao Comprova que, baseada nas últimas romarias, a estimativa é de que 400 mil fiéis devem passar pela cidade na Romaria de Finados. A gestão também foi questionada se, em algum momento, devido à ocorrência do 2º turno das eleições no dia 30, foi cogitado antecipar ou adiar o evento religioso e respondeu que não houve proposta alguma de mudança de data.

Em nota, a Prefeitura afirmou que “a programação da Romaria é da Igreja e já existe um calendário”, cabendo ao município auxiliar nos serviços de apoio e acrescentou: “acreditamos que um número elevado de romeiros estarão exercendo seu papel de cidadania no domingo e virão depois da votação. Assim como alguns já estão vindo e retornarão antes das eleições, ou seja, pode acontecer de no domingo de eleição, o número de fiéis não ser como nos anos anteriores”.

Em 2018, o 2º turno das eleições ocorreu no dia 28 de outubro e a programação da Romaria dos Finados teve início no dia 29 de outubro, seguindo até o dia 2 de novembro.

A mensagem indica que Lira, para levar os romeiros a Juazeiro do Norte, estaria usando o dinheiro do orçamento secreto, nome dado às emendas de relator, mecanismo criado em 2019 e implementado em 2020, que permite que deputados e senadores façam o requerimento de verba da União sem detalhes como identificação ou destinação dos recursos.

No orçamento secreto, os nomes dos parlamentares beneficiados não aparecem no sistema, somente o nome do relator do orçamento, por isso a expressão “secreto”. Em novembro de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a suspender os repasses. No fim do ano passado, o Supremo liberou o pagamento das emendas, depois que o Congresso aprovou novas regras de transparência, e deu prazo de 90 dias para que o sistema de monitoramento (com individualização, detalhamento e motivação das indicações) fosse instituído. Ainda assim, o dispositivo é criticado já que, por meio dele, o presidente da República pode negociar com as bancadas do Congresso Nacional em busca de apoio político. Recentemente, o Comprova fez um conteúdo explicativo a respeito do tema.

Lira é um dos defensores do orçamento secreto. Em pronunciamentos públicos, o deputado já argumentou que é um erro chamá-lo de “secreto” e, segundo ele, é um orçamento municipalista. Em maio de 2022, matéria do Portal Metrópoles apontou que Lira indicou ao menos R$ 357,477 milhões em emendas parlamentares via orçamento secreto nos últimos dois anos. O montante, diz a reportagem, foi destinado a cidades de Alagoas, estado natal de Lira.

Não há registro de denúncias na Justiça Eleitoral

O Comprova entrou em contato com o TSE e questionou se a Justiça Eleitoral tem conhecimento do suposto caso mencionado na mensagem. O Tribunal esclareceu inicialmente que o Código Eleitoral prevê que “promover concentração de eleitores no dia da eleição com a finalidade de impedir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto é crime eleitoral” e a penalidade pode chegar a até seis anos de reclusão.

Mas, no que diz respeito ao caso concreto, explicou o órgão, se houver alguma denúncia ela tramita primeiro no TRE de cada localidade. Na situação específica seria no Tribunal Regional do Ceará. Conforme o TSE, até a noite de sexta-feira, 21 de outubro, o TRE-CE informou que “a comissão de fiscalização da propaganda da corte regional não recebeu nenhuma denúncia sobre o caso”.

O Ministério Público Eleitoral no Ceará também foi consultado pelo Comprova e informou, via e-mail, que até o início da tarde de segunda-feira, 24 de outubro, “não há procedimento instaurado sobre o referido caso”.

Ex-reitora da UFAL nega autoria de mensagem

Na publicação verificada consta que a mensagem teria sido “encaminhada pela ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas, professora Ana Dayse”. Em contato com o Comprova, Ana Dayse Rezende Dórea garante que a publicação “é fake” e ela não é autora do texto.

Ana Dayse, conforme consta no site da UFAL, é reitora honorária da instituição (título que confere honraria a ex-reitores, mas, na prática, não implica em qualquer prestação de serviço ou remuneração por isso). Ela foi professora adjunta da universidade e exerceu o cargo de reitora em duas gestões, de 2003 a 2007, e de 2007 a 2011.

Em 2021, Ana Dayse foi eleita presidente da Academia Alagoana de Educação (Acale) para o biênio 2022-2023. Na quinta-feira, 22 de outubro de 2022, a Acale divulgou uma nota na qual repudia a informação de que Ana Dayse “teria postado na mídia social um comentário em relação a determinado político de Alagoas, divulgada em 20.10.2022, via WhatsApp”.

A nota indica repúdio “à prática de divulgação de notícias falsas, assim como de informações mentirosas que possam desabonar a conduta ética, profissional e cidadã da presidente da Acale”.

O documento ressalta ainda que Ana Dayse “tem um lastro de seriedade e reconhecimento público em todo o Estado de Alagoas, com meritório trabalho em prol da educação, nacionalmente aplaudido”.

Camilo Santana não é mais governador

A mensagem que circula no WhatsApp diz ainda que “temos que apelar para que o governador Camilo Santana intervenha e adie a data. Senão teremos uma enorme abstenção”. Citado na publicação, Camilo Santana (PT) não é mais governador do Ceará desde abril de 2022. Ele governou o Estado por dois mandatos, de 1º de janeiro de 2015 até 2 de abril de 2022. Nesta data, deixou o cargo – como estipula a legislação eleitoral – para concorrer ao Senado Federal.

Na eleição de 2 de outubro, foi eleito senador pelo Ceará, com 2.831.810 votos (68,68% dos válidos). O Ceará hoje é governado por Izolda Cela (sem partido), eleita como vice de Santana em 2014.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Publicações enganosas que guardam alguma relação com candidatos à presidência podem prejudicar o processo eleitoral, induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo analisado nesta verificação foi checado também por Boatos.org e UOL Confere, que classificaram a mensagem como falsa.

O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos que guardam relação com os presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que Marcelo Madureira não é autor de texto com críticas a Lula, que vídeo mente ao insinuar que protesto em Recife teria sido convocado por Lula e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.

Eleições

Investigado por: 2022-10-24

É falso que Janja e cantor tenham incitado a morte de Bolsonaro em música

  • Falso
Falso
É falso que a socióloga Rosângela da Silva, esposa de Lula (PT), e um suposto criminoso tenham incitado a morte de Jair Bolsonaro (PL) em vídeo de dancinha, diferentemente do que afirma postagem no Twitter. Dançarino ao lado de Janja, que não possui antecedentes criminais, o cantor MC Dourado explicou que a gíria paraense usada na música do vídeo significa derrota em uma competição.

Conteúdo investigado: Tuíte do mestre de jiu-jitsu Renzo Gracie, declarado apoiador de Jair Bolsonaro (PL), acusando a socióloga Rosângela da Silva, esposa de Lula (PT), e um suposto criminoso de terem incitado a morte do atual mandatário em um vídeo de dancinha gravado na casa do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). No tuíte, o lutador diz que a letra da música cantada por Janja e Mc Dourado (“agora é sal, Bolsonaro”) é sinônimo de “matar”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que a socióloga Rosângela da Silva, esposa de Lula (PT), e um suposto criminoso tenham incitado a morte de Jair Bolsonaro (PL) em vídeo de dancinha.

O dançarino ao lado de Janja, como Rosângela é conhecida, é o funkeiro Wagner Sabino da Silva, baseado no Pará e conhecido como MC Dourado. Ele, que não possui nenhum antecedente criminal, explicou que “agora é sal no Bolsonaro”, citada na música do vídeo, é usada, no Pará, para se referir a alguém que perde em uma competição. Outras fontes encontradas pelo Comprova embasam essa afirmação.

O vídeo foi, de fato, gravado na casa do governador Helder Barbalho (MDB), no dia 9 de outubro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o final da tarde de 24 de outubro, o tuíte investigado havia sido retuitado mais de 5,9 mil vezes e tinha mais de 15,7 mil curtidas e 214 mil views. Gracie, autor da publicação, tem mais de 253,3 mil seguidores. O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou entrar em contato com Renzo Gracie pelo Instagram, visto que ele não aceita mensagem direta no Twitter por parte de quem ele não segue. Entretanto, não houve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Pesquisamos, no Google, pelas expressões-chave “Janja”, “Helder Barbalho” e “matar Bolsonaro” para obter informações da dança gravada. Encontramos um artigo de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, republicado no Yahoo News sobre o episódio. Para apurar a inexistência dos antecedentes criminais de MC Dourado, procuramos, no Google, por “MC Dourado”, e descobrimos que ele foi candidato a deputado estadual nas eleições gerais deste ano. Na sua página de perfil no portal de candidaturas do TSE, encontramos certidões de antecedentes criminais negativas, que é um documento obrigatório no registro dos candidatos.

“Agora é sal” significa derrota em uma competição

O episódio do vídeo da dança de Janja foi noticiado pela Folha de S. Paulo. O dançarino ao lado de Janja é o funkeiro Wagner Sabino da Silva, baseado no Pará e conhecido como MC Dourado.

Ele explicou que a gíria “agora é sal no Bolsonaro”, citada na música do vídeo, é usada, no Pará, para se referir a alguém que perde em uma competição.

“Aqui, quando um time ganha, a gente fala ‘sal’ [para o outro], significa que acabou. Então ficou ‘sal no Bolsonaro'”, disse MC Dourado à Folha.

Outras fontes encontradas pelo Comprova embasam essa afirmação. Vídeo de jogadores do Paysandu, time do Pará, no Facebook, e tuíte de torcedor do Remo, outro clube paraense, mostram o uso dessa gíria após vitórias contra adversários em campeonatos de futebol.

Quanto ao local e à data do vídeo, ele foi, de fato, como alegou Gracie no tuíte verificado, gravado na casa do governador Helder Barbalho, em Belém. A gravação é de 9 de outubro.

MC Dourado não possui antecedentes criminais

No tuíte verificado, Gracie chama MC Dourado de “criminoso confesso”. Entretanto, isso também não é verdade.

O funkeiro foi candidato nas eleições gerais deste ano. Ele concorreu a deputado estadual no Pará pelo União Brasil e ficou na suplência.

Na página de perfil dele no portal de candidaturas do TSE, encontramos certidões de antecedentes criminais negativas (1 e 2), que é documento obrigatório no registro dos candidatos.

Quem é Renzo Gracie

O autor do tuíte verificado é professor de jiu-jitsu e membro da família Gracie, um dos mais influentes clãs da arte marcial no mundo. Gracie também é apoiador declarado de Jair Bolsonaro, já tendo ameaçado agredir críticos do governo.

As ligações entre o lutador e a gestão Bolsonaro vão além do apoio. Em dezembro de 2021, Gracie recebeu o então-secretário de Cultura, Mario Frias, em Nova York, para tratar de um “projeto cultural envolvendo produção audiovisual, cultura e esporte”. A viagem, que foi oficial, custou R$ 39 mil aos cofres públicos.

Integrantes da família Gracie morando nos Estados Unidos aparecem no Portal da Transparência como beneficiários do auxílio emergencial do governo para a pandemia, como reportou o site de notícias Congresso em Foco.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, a realização de obras públicas e a pandemia. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população. No contexto das eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo, pois podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Renzo Gracie, autor da tuíte verificado, é reincidente em disseminar peças de desinformação, em especial com o intuito de promover o seu candidato, Bolsonaro, e atacar seu principal rival, Lula. Envolvendo publicações do mestre de jiu-jitsu, o Comprova já mostrou que post troca local de ato contra Lula para desacreditar pesquisas, que vídeo de abordagem da PM a torcedores do Sport não tem relação com o petista e que é falsa foto de Schwarzenegger com camiseta de apoio a Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-10-24

Trecho de entrevista de Lula é tirado de contexto para sugerir desprezo aos mais pobres

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que tira de contexto uma frase do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre os pobres, como se ele considerasse a população de baixa renda dispensável após as eleições. Na verdade, durante a entrevista em questão, que o ex-presidente concedeu ao podcast PodPah, exibido originalmente em dezembro de 2021, Lula condena a prática de alguns políticos que, na opinião do petista, demonstram interesse pelos mais pobres somente em período eleitoral.

Conteúdo investigado: Post em vídeo mostrando a declaração de Lula durante o PodPah. O vídeo, com apenas oito segundos, mostra o candidato petista falando aos interlocutores e, na tela, a legenda “Não diga! Ainda tem quem vote num imbecil desse!”, acompanhada de emojis de espanto e vômito.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que apresenta uma frase de Lula sobre os pobres, sugerindo que o petista, após as eleições, não teria mais interesse nesta parcela da população. Usada fora de contexto, a declaração dá a entender que o candidato do PT considera descartáveis as pessoas em situação de pobreza, mas o sentido original é justamente o contrário: em sua fala, Lula se referiu em tom crítico aos políticos que se importam com a população pobre apenas em período eleitoral.

Com apenas oito segundos, o vídeo aqui investigado é um recorte de uma entrevista de 2h28min concedida por Lula ao podcast PodPah, exibida originalmente no dia 2 de dezembro de 2021.

O presidenciável falava sobre o programa Bolsa Família, que fora instituído ainda durante o seu governo (por meio da Lei Federal 10.836, em 9 de janeiro de 2004), e das mudanças implementadas no sistema de transferência de renda durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Candidato à reeleição, o presidente substituiu o benefício, que já tinha 18 anos, pelo programa federal Auxílio Brasil, medida que, na opinião do petista, tem fins eleitorais.

Na sequência, Lula diz que o pobre muitas vezes é tratado como se fosse “papel higiênico”, descartado após as eleições, ou apenas um número, fazendo uma crítica a políticos que se comportam dessa maneira em relação à população vulnerável.

Mas a fala do petista foi resumida ao seguinte trecho: “Acabou as eleições, acabou o interesse pelo pobre. O pobre não é visto como ser humano, é visto como número, sabe?”. Com o corte, fica a impressão enganosa que o presidenciável considera a população de baixa renda descartável.

Contudo, no vídeo original, tem-se o contexto da frase, que expressa outro sentido, justamente de crítica ao que o conteúdo verificado insinua, como se percebe a partir de 49 minutos e 42 segundos. “Cê sabe o que acontece? Eu vou dizer uma coisa pra vocês com todo respeito das pessoas que estão acompanhando vocês. É que pobre muitas vezes nesse país é tratado como se fosse papel higiênico. Usou, jogou fora, acabou. Acabou as eleições, acabou o interesse pelo pobre. O pobre não é visto como ser humano, é visto como número, sabe?”

O candidato do PT já usou esses termos em outros eventos, e postagens sobre o assunto foram identificadas como enganosas em checagens do Comprova, Aos Fatos, Lupa e Yahoo.

O Comprova classifica como enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações e que confunda, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O vídeo publicado no TikTok alcançou mais de 279 mil interações até 24 de outubro, sendo 126,6 mil curtidas, 9,1 mil comentários e 143,8 mil compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação nos perfis do TikTok e Facebook, mas não houve resposta até a publicação desta verificação.

Como verificamos: A reportagem iniciou a checagem fazendo a transcrição da fala do ex-presidente exibida no vídeo do TikTok. Na sequência, pesquisando pelas palavras-chave “Lula” + “vídeo” + “pobre”, a consulta retornou, entre outros conteúdos, um sobre “vídeos de Lula falando mal dos pobres”.

Nessa publicação, há uma gravação com duração um pouco maior que o vídeo aqui investigado em que o presidenciável aparece com a mesma roupa e, em dado momento, ele cita o nome de um dos apresentadores do PodPah, Igão. O próximo passo foi pesquisar “Lula” + “Igão” e, então, foi possível identificar o conteúdo original.

Após assistir à entrevista, o trecho recortado foi registrado entre os 49 minutos e 58 segundos e 50 minutos e 05 segundos do vídeo.

A equipe também fez contato com o autor da postagem, tanto na plataforma de vídeo quanto em um perfil no Facebook, mas não houve resposta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre eleições que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como a do vídeo analisado pela equipe de reportagem, podem induzir a erros ou interpretações equivocadas por parte dos eleitores, que têm direito de fazer suas escolhas baseadas em informações confiáveis e verdadeiras.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdo semelhante, que traz outra declaração de Lula sobre os pobres, já foi verificado pelo Comprova e pelas agências de checagem Aos Fatos e Lupa. O tema também foi alvo de verificação do portal Yahoo Notícias.

As eleições entram na reta final e os conteúdos de desinformação se espalham com mais velocidade. Nos últimos dias, o Comprova demonstrou que é mentira que homem em ato de Lula foi preso por tiros durante agenda de Tarcísio em São Paulo e também que é falso que o petista tenha defendido o uso de mentira na política e, ainda, que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias.

Comprova Explica

Investigado por: 2022-10-24

Auditorias externas atestam confiabilidade de sistema eleitoral no 1º turno

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Diante de uma série de postagens em redes sociais que questionam a lisura da votação em primeiro turno, no dia 2 de outubro, o Comprova explica as etapas de auditoria e fiscalização realizadas no sistema eletrônico de votação a partir de informações de entidades que fizeram parte do processo. Todas as instituições que enviaram respostas foram unânimes em afirmar que não foi encontrado nada que pudesse comprometer a segurança e confiabilidade do sistema.

Conteúdo analisado: Postagens que lançam dúvidas sobre a segurança e confiabilidade do sistema eletrônico de votação brasileiro.

Comprova Explica: Ao constatar uma série de postagens que questionam a lisura do primeiro turno das eleições, o Comprova apurou as conclusões das entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação após as etapas de auditoria realizadas antes, durante e após a votação do dia 2 de outubro.

Em resposta ao Comprova, o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público Federal (MPF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) afirmaram não terem encontrado vulnerabilidades capazes de trazer insegurança ao processo. Manifestação no mesmo sentido, por parte da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP), Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), foram localizadas em documentos e notas disponíveis na internet.

Como verificamos: A partir da página Oportunidades de Auditoria e Fiscalização, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Comprova buscou informações sobre cada etapa do processo de verificação das urnas. As buscas foram feitas no portal da instituição, com entidades fiscalizadoras do sistema eletrônico de votação e em veículos de imprensa.

As seguintes entidades foram questionadas sobre as conclusões a que chegaram: Tribunal de Contas da União, Ministério da Defesa, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Senado Federal, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sociedade Brasileira de Computação (SBC), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que inspecionou os códigos-fonte da urna e dos sistemas de votação, também foi procurado.

No site do TSE, o Comprova localizou conclusões da Unicamp sobre a inspeção dos códigos-fonte da urna e do sistemas eleitorais; da USP sobre o Teste Público de Segurança (TPS); e de entidades internacionais que acompanharam a votação do primeiro turno. Já nos sites da SBC e da Abradep, foram localizadas notas em que as entidades apontam para a confiabilidade do processo eleitoral.

O PTB, a OAB e a SBC não responderam até o fechamento desta verificação. No site da SBC, há uma nota, publicada em 25 de julho, em que a entidade “confirma a sua confiança no atual sistema eletrônico de votação utilizado no processo eleitoral brasileiro”.

Dispositivos de auditoria e fiscalização do sistema eletrônico de votação

Os procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação estão regulados pela Resolução nº 23.673, de 14 de dezembro de 2021, do TSE. Já a Portaria nº 578/2021, de 8 de setembro de 2021, criou a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), com o objetivo de “ampliar a fiscalização e transparência do processo eleitoral”. As entidades fiscalizadoras estão aptas a participar dos procedimentos, descritos na página Oportunidades de Auditoria e Fiscalização, no site do TSE.

Auditorias durante e após a votação

Procurado pelo Comprova, o TSE informou, por email, que apenas o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério da Defesa fizeram verificações externas das urnas durante o primeiro turno de 2022.

O TCU realizou entre os dias 2 e 3 de outubro uma auditoria de 560 boletins de urna emitidos na votação do primeiro turno. Segundo o ministro e presidente em exercício do tribunal, Bruno Dantas, a análise, que checou o trabalho do TSE de conferir os votos registrados para os cargos de presidente, governador e senador, “não registrou nenhuma inconsistência de dado incorreto”.

Para o presidente em exercício do TCU, a fiscalização feita após o primeiro turno “evidenciou, uma vez mais, a transparência do sistema eleitoral brasileiro”. A corte disse que, depois da checagem feita nos dias 2 e 3 de outubro, deve fazer uma auditoria ainda maior sobre mais de 4 mil boletins de urna emitidos na votação de 2022. O resultado desse trabalho deve ser divulgado entre novembro e fevereiro de 2023. A avaliação da sistemática da votação eletrônica brasileira feita pelo TCU se dá no âmbito do processo 014.328/2021-6, de relatoria de Dantas.

Outra auditoria da votação do dia 2 de outubro foi feita pelas Forças Armadas, representadas pelo Ministério da Defesa. Ao Comprova, a assessoria de imprensa da pasta informou, por telefone, que o relatório da auditoria das Forças Armadas será divulgado apenas após a votação do segundo turno, ainda sem uma data definida.

Fora esses casos, a Justiça Eleitoral dispõe de outros meios para fiscalizar as urnas. O primeiro deles é a zerésima, documento impresso na própria urna no dia da votação que atesta que não há nenhum voto registrado no aparelho. Depois da impressão, os mesários guardam o documento e afixam cópias em local visível nas seções eleitorais. Apenas depois dessa verificação a votação pode começar.

Missões internacionais que vieram ao Brasil para observar o processo eleitoral acompanharam a emissão da zerésima e outros procedimentos feitos em algumas seções eleitorais do país no dia do primeiro turno. Relatórios preliminares desses grupos disponíveis no site do TSE dizem que as urnas brasileiras são seguras e parte deles menciona a zerésima. Não há relato de irregularidades nas seções visitadas.

Entre as entidades que acompanharam a eleição no Brasil estão a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Outro procedimento feito no dia da votação é o Teste de Integridade. Conduzido por todos os Tribunais Regionais Eleitorais em um pequeno grupo de urnas, o teste simula a votação. Os participantes preenchem cédulas de papel com os números de candidatos, digitam esses números na urna e verificam no fim se os dados coincidem no boletim de urna (documento impresso pelo aparelho após a votação).

Em 2022, o teste foi ampliado para abranger um número maior de urnas, e foi realizado momentos antes da votação do primeiro turno em 641 urnas espalhadas no país, segundo o TSE. Partidos políticos e outras entidades fiscalizadoras acompanharam a simulação em todos os estados. O procedimento também foi filmado e pode ser conferido no YouTube. Segundo o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) não encontraram nenhuma irregularidade nos aparelhos testados.

“Como não poderia deixar de acontecer, todos os votos registrados na urna conferiram com os votos em papel”, disse em sessão plenária no tribunal no dia 6 de outubro. Segundo o TSE, os relatórios sobre os testes de integridade conduzidos tanto no primeiro quanto no segundo turno de 2022, que está marcado para o dia 30 de outubro, devem ser publicados até o dia 29 de novembro no Portal da Corte Eleitoral.

Ações feitas antes da votação

As ações realizadas antes das eleições estão expostas no item Auditoria e fiscalização, dentro da página do TSE dedicada ao tema ”urna eletrônica e segurança do processo eleitoral”. Elas estão distribuídas em sete tópicos, sendo que os dedicados aos Testes Públicos de Segurança permitem consultar as conclusões do relatório final, em 11 páginas.

A primeira etapa é a Abertura do código-fonte, que neste ano teve prazo mais longo, começando um ano antes do pleito. Nesta etapa, são abertos todos os sistemas da urna eletrônica, incluindo sistema operacional, bibliotecas, programas de criptografia e seus compiladores. São abertos também os sistemas usados na geração de mídias para as urnas eletrônicas e na transmissão, no recebimento e no gerenciamento dos arquivos de totalização. Todas as alterações nos sistemas são rastreáveis e ficam disponíveis para verificação das entidades fiscalizadoras.

A inspeção dos códigos-fonte dos sistemas utilizados na urna teve início em 4 de outubro de 2021 e prosseguiu até a conclusão (Terra, Band) da Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas Eleitorais, a um mês do primeiro turno. O Comprova contatou algumas entidades que realizaram a inspeção.

Ao Comprova, a Procuradoria Geral da República (PGR) respondeu que em todas as etapas de que participou o “Ministério Público não identificou nenhum aspecto que pudesse comprometer a segurança, a transparência e a auditabilidade das urnas eletrônicas e dos sistemas de apuração”.

Além da inspeção dos códigos-fonte, o Ministério Público Federal (MPF), órgão da PGR, participou do Teste Público de Segurança (TPS), da Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas, da verificação dos sistemas eleitorais instalados no TSE e dos destinados à transmissão dos boletins de urna, conforme detalhou a assessoria da PGR por e-mail.

Os códigos-fonte também foram inspecionados pela UFRGS, UFPE e Unicamp. Em 25 de agosto, o TSE publicou notícia sobre o recebimento do relatório de conclusão da UFPE, Unicamp e USP, e afirmou que “as instituições foram unânimes e categóricas em atestar a segurança dos sistemas e dos equipamentos”. No caso da USP, o relatório é sobre o Teste Público de Segurança (TPS), em que planos de ataques são executados para testar a integridade do sistema.

Os relatórios das universidades foram disponibilizados pelo TSE e estão nestes links: UFPE, Unicamp e USP.

Em contato com o Comprova, o professor Jéferson Campos Nobre, do Instituto de Informática da UFRGS, também afirmou que “não foi encontrada nenhuma vulnerabilidade, nada que indicasse algum problema com o sistema eletrônico de votação em relação à segurança”. O professor acrescenta que a UFRGS foi convidada para participar ainda do Teste de Integridade pelo TRE. “A nossa avaliação é que o sistema eletrônico de votação é muito seguro, muito confiável”, diz o professor.

As Forças Armadas, a Polícia Federal, o Senado Federal e o PTB também inspecionaram o código-fonte da urna e dos sistemas de votação. Ao Comprova, a assessoria do Senado disse que as avaliações estão cobertas por Termo de Sigilo e Confidencialidade. Já a Polícia Federal encaminhou um link sobre a inspeção das urnas, mas não informou a conclusão do trabalho. O Ministério da Defesa informou que a avaliação sobre os códigos-fonte irá compor o relatório de auditoria das Forças Armadas, que será divulgado após o fim da votação em segundo turno. O PTB não respondeu.

Teste Público de Segurança (TPS)

Faltando 11 meses para a eleição, foi iniciado o Teste Público de Segurança (TPS), etapa na qual a Justiça Eleitoral disponibiliza as urnas eletrônicas e os sistemas a serem usados na próxima eleição para ataques, em busca de possíveis vulnerabilidades. Diferentemente da etapa anterior, além de ter acesso ao código-fonte, os investigadores podem propor e executar planos de ataques e verificar sua efetividade.

Para as eleições de 2022, 26 investigadores realizaram 29 planos de ataques e quatro deles tiveram algum tipo de “achado”. A Justiça Eleitoral fez os ajustes sugeridos e, seis meses antes da eleição, ocorreu o Teste de Confirmação do TPS, para que as entidades verificassem a resolução de eventuais problemas. O teste foi acompanhado por comissão formada por TSE, MPF, Congresso Nacional, TCU, PF, SBC, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Universidade de Brasília (UnB).

O resultado consta no relatório final da comissão avaliadora. O documento mostra que os investigadores não conseguiram chegar à manipulação de voto. Ou seja, as tentativas de ataques contra o software não tiveram sucesso e sugestões de melhorias foram acatadas.

Dois meses antes do pleito, há a cerimônia de assinatura digital e lacração dos sistemas, na qual o TSE assina digitalmente todos os sistemas que serão usados nas eleições. Essa medida impede que haja qualquer mudança nos arquivos. Um mês depois, os TREs convocam os partidos políticos, coligações, Ministério Público e OAB para acompanharem os trabalhos de gerar os dados que serão carregados nas urnas eletrônicas para a eleição. A etapa final antes do dia da votação se dá na véspera da eleição, quando as entidades fiscalizadoras podem verificar, em cerimônia pública, a integridade e a autenticidade dos sistemas eleitorais de transmissão de dados instalados nos equipamentos do TSE ou das zonas eleitorais.

Checagens esclarecem boatos sobre fraude

No dia da votação do primeiro turno e ao longo das semanas seguintes, iniciativas que trabalham na verificação de conteúdo publicado na internet ajudaram a apontar narrativas falsas e enganosas sobre a eleição brasileira. O Comprova mostrou, por exemplo, que é falso que a cidade de Barreiras, na Bahia, registrou número de votos em Lula superior à população do município. Além disso, não há comprovação de que uma urna tenha impedido voto em Bolsonaro no Pará e é falso que o Exército tenha interferido na apuração de votos para presidente.

Após a eleição, publicações também tentaram enganar o eleitor ao inventar dados sobre cidades para insinuar fraude eleitoral a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alegar que um algoritmo teria fraudado as urnas em favor do petista. Os dois casos foram classificados pelo Comprova como falsos.

O TSE também mostrou que o comprovante de votação do segundo turno foi entregue por engano a um eleitor de Belém (PA), que não votou duas vezes e que um eleitor pressionou duas teclas ao mesmo tempo para simular problema na votação para presidente em Novo Hamburgo (RS).

Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. A seção Comprova Explica é usada para a divulgação de informações a partir de conteúdos que estão causando confusão, como as diversas mensagens e posts sugerindo fraude eleitoral que circularam e circulam nas redes sociais antes, durante e após o pleito de 2022. Esses conteúdos apontam erroneamente fragilidade nas urnas eletrônicas, desrespeito ao sigilo de voto e manipulação do sistema eleitoral em favor de candidatos. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre a contagem de votos e o processo eleitoral podem criar suposições sem fundamentos sobre o pleito, prejudicando a decisão dos eleitores, as eleições, as instituições e a democracia brasileira.

Outras checagens sobre o tema: A página Fato ou Boato, do TSE, e a Agência Lupa esclareceram logo depois do primeiro turno que vídeo que apontava 55% dos votos para Bolsonaro não provava uma falha do TSE, mas indicava o resultado do primeiro turno no Paraná.

O Estadão Verifica também mostrou ser falso que a totalização de votos a cada intervalo de 12% indique fraude no primeiro turno das eleições.

Desinformações que põem em xeque o processo eleitoral do país têm sido recorrentes nos últimos anos. Em 2020, o Boatos.org desmentiu documento que atribuía vitória a Bolsonaro e fraude no 1º turno das eleições de 2018.

Em checagens recentes sobre a eleição, o Comprova mostrou que Marcelo Madureira não é autor de texto com críticas a Lula; ator declarou voto no petista, que vídeo mente ao insinuar que protesto em Recife teria sido convocado por Lula e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.

Eleições

Investigado por: 2022-10-24

É falso que homem em ato de Lula tenha sido preso por tiroteio durante agenda de Tarcísio em SP

  • Falso
Falso
É falso que o autor de disparos enquanto o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) visitava a comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, seja o mesmo homem que aparece em vídeo ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em ato de campanha. O apoiador do petista é Anderson Mamede, líder comunitário do Nordeste de Amaralina, bairro na região sul de Salvador, na Bahia. Além disso, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) diz que não é possível falar em atentado contra Tarcísio, ao contrário do que afirmam os posts virais. Os conteúdos desinformam ainda ao dizer que o evento de campanha do petista era no Rio de Janeiro, quando, na verdade, foi na capital baiana.

Conteúdo investigado: Posts em vídeo mostram foto de três homens detidos, em um carro de polícia, com destaque para um deles. A seguir, os conteúdos mostram uma gravação de Lula em meio a multidão e o momento em que ele acaricia a cabeça de um apoiador que, segundo os posts, seria o homem da foto, detido após tiroteio durante ato de campanha do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas, na capital paulista.

Onde foi publicado: Kwai, TikTok e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o homem que aparece ao lado do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em vídeo gravado durante ato de campanha tenha sido preso como suspeito por tiros durante ato de campanhado candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em uma comunidade paulista, ao contrário do que afirmam posts nas redes sociais. O homem a quem os conteúdos mentirosos se referem como suspeito de crime é, na verdade, Anderson Mamede, líder comunitário que preside a Associação Cultural Nordeste de Amaralina (ACNA), em Salvador.

Além de mentir sobre quem é o homem, os conteúdos desinformam ao dizer que o que ocorreu com Tarcísio foi um atentado. De fato, houve um tiroteio no momento em que ele visitava Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, em 17 de outubro, mas os tiros foram em um local próximo ao que ele estava, e não direcionados a ele. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Um suspeito foi baleado após entrar em confronto com policiais militares. Ele foi socorrido no Hospital Campo Limpo, mas não resistiu. Um segundo suspeito foi identificado e está foragido, informou, em nota, a pasta de Segurança do governo de São Paulo.

Outra mentira dos posts é que o ato de campanha onde o homem que aparece no vídeo estava foi no Rio de Janeiro. Como verificado pelo Comprova, a gravação ao lado de Lula foi feita em Salvador.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 19 de outubro, os dois vídeos publicados no Kwai somavam 171 mil visualizações. No mesmo dia esses conteúdos foram apagados.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova procurou os responsáveis pela publicação por meio de mensagens diretas no Kwai. Um deles tornou seu perfil privado assim que visualizou as mensagens e não deu retorno até a publicação desta checagem.

Outro usuário alegou que o vídeo não foi produzido por ele e afirmou que fez apenas um dueto, modo em que um perfil compartilha uma interação com a postagem de outra pessoa.

Os conteúdos não estão mais disponíveis no Kwai e no TikTok.

Como verificamos: Iniciamos a verificação pesquisando no Google por “homem envolvido em atentado contra Tarcísio estava em comício de Lula no RJ”. Chegamos a outras checagens que também investigaram o mesmo conteúdo, tais como as agências de checagens Aos Fatos, Estadão Verifica e Fato ou Fake, do G1.

Entrevistamos Mamede e procuramos também as secretarias de segurança pública de São Paulo e da Bahia. Recebemos notas das duas pastas.

O homem no vídeo

Os conteúdos verificados unem diferentes imagens. Inicialmente, há uma foto que mostra três homens detidos e uma marcação em um deles. Depois, aparece o vídeo de um apoiador junto a Lula durante uma passeata. As publicações relacionam o homem indicado na primeira imagem com o que surge na gravação posterior.

Quem aparece próximo a Lula no vídeo usado nos posts aqui verificados é Anderson Mamede, líder comunitário do Nordeste de Amaralina, bairro na região sul de Salvador. Conhecido como Dakota ou Rasta, ele é presidente da Associação Cultural Nordeste de Amaralina.

Ao Comprova, Mamede disse que o conteúdo de desinformação coloca sua vida em risco. “Eu, pai de família, faço trabalho social no bairro e fazem uma palhaçada dessas”, afirmou.

O vídeo usado nos posts falsos foi feito por ele mesmo, em 12 de outubro, durante um ato de campanha de Lula em Salvador –e não no Rio de Janeiro, como afirmam as peças de desinformação. Mamede conta que, antes de ir ao comício, comandou uma ação social em seu bairro. À reportagem, ele enviou fotos desse momento, mostrando que estava com a mesma camiseta com a qual aparece no vídeo falso. “Como eu sou querido no bairro, na cidade, a mentira foi desmentida.”

I Legenda: Anderson Mamede em ação social, com a mesma camiseta em que aparece no vídeo que viralizou.

Já na foto usada nos posts falsos, ele aparece ao lado de outros dois homens, com as mãos aparentemente algemadas para trás, em um camburão. A partir dessa imagem, os conteúdos afirmam que ele teria sido preso por suspeita de envolvimento com os disparos em Paraisópolis, o que não é verdade. Uma outra versão, anterior a essa, afirmava que ele era traficante no Rio de Janeiro.

“Isso aí, me relacionam ao crime pelo fato de eu ter uma foto como se eu estivesse preso, mas, na verdade, eu fui levado para a delegacia para a averiguação”, diz Mamede. “Quem mora em favela, em comunidade, já sabe como é o tratamento, vai para averiguação como se fosse preso, é algema na mão, algema no pé”, contou ele ao Comprova, sobre o episódio ocorrido em 2019.

Em nota, a SSP-BA informou ser mentira que “uma pessoa de apelido Rasta lidere uma organização criminosa, no Complexo do Nordeste de Amaralina”. O órgão afirma ainda que o “homem que tem a sua imagem atribuída, nas redes sociais, a esse suposto criminoso, registrou um Boletim de Ocorrência na 28ª Delegacia Territorial do Nordeste de Amaralina”.

Mamede enviou à reportagem a imagem do boletim, registrado em 17 de outubro. Nele, ele disse ter sido alertado por familiares e amigos que sua imagem estava circulando em redes sociais como se ele fosse um traficante do Nordeste de Amaralina. “Preocupado, atônito e temendo por sua integridade física ou até mesmo por sua vida, (…) e sem ter ideia de quem produziu e divulgou o vídeo, veio prestar queixa”, finaliza o documento.

Ato em Salvador

Diferentemente do que os posts afirmam, o vídeo em que Lula aparece foi gravado em Salvador e não no Rio de Janeiro. O petista esteve na capital baiana em 12 de outubro e, como mostra a Folha, participou de evento no Farol da Barra, onde Mamede gravou o vídeo.

É possível confirmar que o ato em que Mamede se aproxima de Lula foi este,em Salvador pela roupa do ex-presidente e detalhes do carro em que ele está, que tem cordas verdes sobre a capota.

I Legenda: Cordas verdes amarradas em carro no vídeo viral e em foto de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula

Tiroteio em Paraisópolis

Ao contrário do que afirmam os posts verificados aqui, o que ocorreu em Paraisópolis, em São Paulo, em 17 de outubro, não é considerado pela Polícia Militar como um atentado contra Tarcísio de Freitas. No momento em que visitava a comunidade paulistana, para participar da inauguração de um polo universitário, o candidato e sua equipe foram surpreendidos por um tiroteio próximo ao local em que estavam. Inicialmente, o político postou em sua conta no Twitter que haviam sido “atacados por criminosos”.

Em seguida, viralizaram nas redes posts falsos falando ter sido um atentado, versão que foi descartada pela polícia. Na tarde do mesmo dia, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, afirmou que era prematuro afirmar que houve um atentado.

Mais tarde, durante pronunciamento à imprensa, Tarcísio afirmou que o tiroteio tinha relação com uma “questão territorial”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à presidência, como a peça alvo desta verificação, podem induzir o cidadão a interpretações equivocadas sobre a realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm o direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: As agências de checagens Aos Fatos, o Estadão Verifica, AFP Checamos e o Portal G1 também investigaram o mesmo conteúdo.

Recentemente, o Comprova mostrou que sinal de ‘L’ feito por traficantes não é referência a Lula e, sim, saudação de facção que atua no Rio de Janeiro, que militantes petistas não invadiram igreja em Joinville e, na verdade, manifestação aconteceu em pátio da instituição de ensino após demissão de professora, e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

Marcelo Madureira não é autor de texto com críticas a Lula; ator declarou voto no petista

  • Falso
Falso
É falso vídeo que atribui texto com críticas ao ex-presidente e candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do humorista Marcelo Madureira, um dos integrantes do antigo programa de televisão Casseta & Planeta. O ator, inclusive, publicou tuíte desmentindo ter escrito o texto, que circula nas redes sociais pelo menos desde 2013.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no TikTok mostra texto atribuído ao humorista Marcelo Madureira, integrante do antigo programa de televisão Casseta & Planeta, da Rede Globo, com críticas ao ex-presidente e candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Intituladas “Volta, Lula!”, diferentes versões desse conteúdo foram divulgadas nas redes sociais, pelo menos desde 2013. Desta vez, o conteúdo volta a viralizar no mesmo momento em que o ator declarou apoio ao candidato petista.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que o ator e humorista Marcelo Madureira seja o autor do texto “Volta, Lula!”, com uma série de críticas ao petista. No dia 9 de outubro, o artista publicou um tuíte negando a autoria do conteúdo. “Voltou a circular na internet um texto atribuído a mim, chamado “Volta, Lula!”. Quero dizer que este texto NÃO é meu. Eu nunca publiquei ou compartilhei esse material”, disse. Em 2016, o mesmo conteúdo foi atribuído a Madureira, como mostrou o Boatos.org, que desmentiu o boato na época. O texto apareceu também, em 2013, no Facebook, mas sem autoria atribuída.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: A publicação alvo da checagem tinha 708,6 mil visualizações e quase 32,8 mil curtidas, 1.752 comentários no Tik Tok até o dia 21 de outubro de 2022. A publicação também teve 45,8 mil compartilhamentos no WhatsApp.

O que diz o responsável pela publicação: Por meio do TikTok, o Comprova tentou contato com a responsável por publicar o vídeo na rede social. Porém, a plataforma permite que apenas contas que se seguem mutuamente possam enviar mensagens entre si, o que impossibilitou o contato com a autora do post. O perfil também foi encontrado no Instagram, mas não retornou às tentativas de contato.

O Comprova também entrou em contato com o perfil que publicou o texto no Facebook, em 2013, no que parece ser a primeira vez que o conteúdo foi publicado na rede social, mas não recebeu retorno.

Como verificamos: O Comprova procurou, primeiro, por declarações oficiais do próprio Madureira e encontrou a publicação em que ele desmente que seja o autor do conteúdo verificado e reclama do fato dessa desinformação circular há anos. Também procuramos por outras ocorrências do texto nas redes sociais para tentar identificar o autor verdadeiro, mas nenhuma das publicações traz essa informação.

O vídeo

Um texto intitulado “Volta, Lula!” circula nas redes sociais desde, pelo menos, 2013. Nos anos seguintes, passou a ter sua autoria atribuída a Marcelo Madureira. O conteúdo traz uma série de críticas aos governos do ex-presidente Lula, com alegações sobre mensalão, transposição do Rio São Francisco, SUS, Petrobras e outros temas que costumam estar presentes nos discursos de adversários do petista.

Na publicação analisada, o texto é divulgado em um vídeo, no TikTok, mas, antes, circulou em redes sociais como Twitter e Facebook. Nem sempre ele está escrito da mesma forma e foi passando por mudanças ao longo dos anos, com a inclusão de temas que foram sendo inseridos no discurso antipetista.

Em 2016, por exemplo, o Boatos.org verificou um texto que, diferentemente do que foi analisado aqui, trazia uma referência ao ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), agora eleito senador pelo Paraná.

Marcelo Madureira nega

Embora tenha circulado em todos os anos desde 2013, o conteúdo voltou a viralizar neste mês no mesmo momento em que Madureira declarou apoio a Lula. O ator já havia desmentido que teria escrito o texto, mas precisou voltar a se pronunciar para negar.

Ao desmentir seu vínculo com o texto, Madureira acrescentou que já fez críticas ao PT, mas que, hoje, apoia a eleição de Lula. “Embora já fiz críticas ao PT, hoje faz-se necessário unir forças para que o governo Bolsonaro não permaneça em 2023. Justamente por isso e por defender a democracia, votarei no Lula neste segundo turno”, escreveu.

No dia 10 de outubro, Madureira esteve em São Paulo para declarar apoio ao ex-presidente nas eleições de 2022.

Lula chegou a publicar uma foto com o ator, acompanhada da legenda: “Frente ampla pela democracia e contra Bolsonaro com Marcelo Madureira”. O apoio surpreendeu seguidores do ator nas redes sociais, devido ao seu voto em Jair Bolsonaro (PL) na eleição de 2018.

Em 2019, no entanto, o humorista já havia se posicionado contra o atual presidente da República. Em protesto contra o projeto que endurecia punições para situações de abuso de autoridade, em Copacabana, no Rio de Janeiro, Madureira chegou a ser expulso de um carro de som pelas críticas a Bolsonaro. “Não tenho medo de vaias. Votei no Bolsonaro e vou criticar todas as vezes que for necessário”, disse na época.

Conteúdo tem uma alegação enganosa

Além de críticas comuns a opositores do ex-presidente Lula, o texto checado pelo Comprova contém também uma alegação enganosa. A mensagem diz que Lula teria doado duas refinarias de petróleo para a Bolívia, o que é enganoso.

Como já mostraram agências de checagem (Estadão Verifica, Aos Fatos), a Petrobras recebeu duas parcelas de US$ 56 milhões para transferir o controle das instalações ao governo de Evo Morales. As refinarias foram compradas pelo Brasil em 1999, por US$ 102 milhões.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como o vídeo aqui verificado, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Boatos.org desmentiu pela segunda vez que o texto tenha sido escrito por Marcelo Madureira. A primeira verificação foi feita em 2016, quando o mesmo conteúdo viralizou.

O Projeto Comprova já mostrou ser montagem um tuíte atribuído a Jair Bolsonaro com menção de acabar com o feriado de Nossa Senhora Aparecida. Também mostrou ser falso que Lula tenha defendido o uso de mentiras na política. Além disso, foi mostrado que há conteúdos enganosos circulando sobre empréstimos do BNDES nas gestões do ex-presidente.

Eleições

Investigado por: 2022-10-21

Vídeo mente ao insinuar que protesto em Recife teria sido convocado por Lula

  • Falso
Falso
É falso que o protesto realizado no centro de Recife, no dia 13 de outubro deste ano, tenha sido convocado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como afirmado em vídeo. A manifestação foi realizada pelo Movimento de Luta e Resistência pelo Teto (MLRT) e a fala do candidato do PT utilizada no vídeo é de um discurso, de abril de 2018, feito em São Bernardo do Campo (SP).

Conteúdo investigado: Vídeo que sugere que protesto realizado em Recife (PE), em outubro deste ano, teria sido convocado por Lula. As imagens mostram uma manifestação enquanto a narração afirma que os participantes são “o pessoal do PT” e, em seguida, surge uma cena com fala de Lula sobre ocupações e queima de pneus.

Onde foi publicado: YouTube. Um vídeo similar também circula no Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que o protesto realizado no centro de Recife, em outubro deste ano, tenha sido convocado por Lula. A manifestação foi realizada pelo Movimento de Luta e Resistência pelo Teto e cobrava respostas sobre o que será feito com as famílias que ocupam o prédio Segadas Viana, no centro da capital pernambucana, após o fim do prazo para a reintegração de posse, em 31 de outubro. O protesto interditou o cruzamento da Ponte Maurício de Nassau com a Avenida Martins de Barros e a Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, por cerca de uma hora.

O vídeo utilizado para insinuar que a manifestação teria sido convocada pelo candidato do PT é, na verdade, trecho de discurso feito pelo ex-presidente em São Bernardo do Campo (SP), em 2018, antes de se entregar à Polícia Federal para cumprir pena de prisão estabelecida em processos da Lava-Jato. As condenações de Lula foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 15 de abril de 2021. Na íntegra, Lula incentiva os apoiadores a darem continuidade às lutas sociais, mesmo sem a presença dele.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Antes de ser apagado pelo autor da postagem, o vídeo somava mais de 15 mil curtidas e cerca de 2 mil comentários, além de 200 mil visualizações.

O que diz o responsável pela publicação: O autor da publicação é Odécio Carneiro (Solidariedade), ex-vereador de Recife e atual suplente de deputado estadual no Ceará. O Comprova tentou contato com Carneiro e não houve resposta até a publicação desta verificação. Contudo, após as tentativas, o vídeo foi retirado da plataforma.

Como verificamos: Inicialmente procuramos registros de protesto na data e local citados no vídeo. Ao pesquisarmos no Google, encontramos matérias nos portais de notícia G1 e Folha de Pernambuco. A interdição durou pouco mais de uma hora e ocorreu no fim da manhã do dia 13 de outubro.

Na pesquisa, também chegamos a reportagens publicadas pela Folha de São Paulo e Agência Lupa, que afirmam que o protesto teria sido realizado pelo MLRT contra a reintegração de posse do prédio Segadas Vianna, pertencente ao INSS e que está ocupado, desde 2021, por cerca de 400 pessoas ligadas ao movimento. Segundo os textos, o ato teria sido motivado pelo fato de que será permitida a realização de reintegração de posse a partir de 31 de outubro, porém as autoridades ainda não responderam para onde as famílias serão levadas.

No vídeo, é possível ver a bandeira do movimento com a sigla MLRT.

| Capturas de tela do vídeo verificado, nas quais pode-se ver a bandeira do MLRT

Procurado, o Movimento de Luta e Resistência pelo Teto não respondeu ao contato do Comprova.

Para entrar em contato com o responsável pela publicação do vídeo, buscamos no Google pelo nome que consta no canal no YouTube. Entre os principais resultados foram encontrados os perfis do ex-vereador no Facebook e no Instagram, e ainda dois endereços de e-mail atribuídos a ele. Apesar das tentativas de contato por esses quatro canais, não houve resposta até a publicação desta verificação.

Fala de Lula utilizada em vídeo é de 2018

O vídeo em circulação une imagens do protesto de 13 de outubro, no Recife, com discurso de Lula em cima de um palanque, feito em outra oportunidade, para insinuar que os protestos estariam sendo convocados pelo candidato do PT. No trecho recortado, Lula aparece dizendo: “eles têm que saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes do que eu e poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas que tanto vocês queima (sic), fazer as ocupações no campo e na cidade”.

O trecho faz parte de pronunciamento realizado pelo candidato do PT no dia 7 de abril de 2018, em São Bernardo do Campo, antes de se entregar à Polícia Federal. O discurso pode ser conferido, na íntegra, no canal do Youtube do Partido dos Trabalhadores. Nele, o ex-presidente incentiva os apoiadores a darem continuidade a lutas sociais. A partir dos 45 minutos do vídeo, é possível ouvir o trecho em questão.

O diretório do Partido dos Trabalhadores no estado de Pernambuco foi questionado sobre o conteúdo do vídeo e a manifestação mostrada nas imagens, mas informou que não foi possível contato com o presidente do PT-PE, Doriel Barros, que está em agenda no interior do estado. O Comprova também pediu esclarecimentos à assessoria de imprensa do candidato Lula sobre a manifestação e o discurso mostrado nas imagens verificadas, entretanto não houve resposta.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado é uma montagem de dois vídeos tirados de contexto e atribui falsamente ao PT uma manifestação do MLRT, contra a reintegração de posse do prédio do INSS em Recife. A disseminação de peças de desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos relacionados aos presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que um vídeo que mostra confusão entre petistas de Sergipe é de 2013 e não envolve ato de Lula, que um vídeo foi editado para mostrar Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec sobre segundo turno, e também que militantes não invadiram igreja em Joinville, na verdade, tal manifestação aconteceu em pátio de uma instituição de ensino após demissão de professora.

Outras agências de checagem e jornais já desmentiram o conteúdo verificado, como Lupa, Estadão Verifica, e Folha de São Paulo.