O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2021-10-01

Vaia em Belo Horizonte foi para manifestante anti-Bolsonaro, não contra o presidente

  • Enganoso
Enganoso
Não é verdade que Jair Bolsonaro (sem partido) tenha sido vaiado enquanto participava de cerimônia nesta quinta-feira (30), em Belo Horizonte (MG). As vaias foram destinadas a uma opositora que xingou o presidente.
  • Conteúdo verificado: Postagens no Facebook, Instagram e Twitter apresentam vídeo de parte de uma fala de Bolsonaro sendo interrompida por gritos seguidos de vaia. Os autores dos posts afirmam que o presidente foi vaiado em Belo Horizonte.

Não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha sido vaiado em público durante um discurso em Belo Horizonte nesta quinta-feira (30). O vídeo cortado e compartilhado no Twitter, no Facebook e no Instagram induz os internautas a interpretarem de forma errada o que aconteceu na ocasião.

As vaias ouvidas durante a transmissão ao vivo do evento foram feitas pelos apoiadores do presidente contra uma manifestante que o chamou de “genocida”. A agenda fazia parte do calendário de comemoração dos mil dias de governo, completos nesta semana.

O argumento utilizado pelas pessoas que compartilharam as imagens nas redes sociais não encontra respaldo na realidade. Isso porque o vídeo foi recortado e tirado de contexto, dando margem para uma interpretação errada do que ocorreu.

A reportagem entrou em contato com os perfis que divulgaram o vídeo no Instagram, Facebook e Twitter. Apenas uma respondeu às mensagens.

O Comprova considera enganosos conteúdos retirados do contexto original e usados em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

Inicialmente, a reportagem foi em busca da transmissão completa do evento do qual Bolsonaro participou em Belo Horizonte, no dia 30 de setembro.

O Comprova assistiu à transmissão do evento feita ao vivo pela TV Brasil e pelo YouTube e consultou notícias sobre o ocorrido. Também ouvimos uma jornalista da BandNews FM que estava no local para a cobertura da agenda oficial.

A reportagem consultou a agenda oficial da presidência na data e assistiu à live semanal de Bolsonaro, na qual ele falou sobre o assunto.

Por fim, entrou em contato com os autores das postagens.

Verificação

Manifestante foi vaiada, e não Bolsonaro

A vaia registrada em vídeo durante pronunciamento de Jair Bolsonaro, no dia 30, em Belo Horizonte, foi voltada a uma manifestante e não ao presidente, como pode ser analisado na transmissão completa do evento e conforme foi noticiado pela imprensa.

A partir de 47 minutos e 44 segundos de vídeo, é possível identificar gritos femininos e, em seguida, o coro de vaia. Neste momento, uma manifestante contrária ao presidente havia furado o bloqueio de seguranças que mantinha os opositores afastados do local onde ocorria a cerimônia, na Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais.

A mulher se aproximou do palco e xingou o presidente. Apoiadores do governo que estavam próximos e até algumas autoridades no palco começaram a vaiar a manifestante. Em seguida, ela foi retirada do local pelos seguranças.

Conforme reportagem do Estado de Minas, em um primeiro momento, os contrários chegaram a ficar cara a cara com apoiadores, porém logo se deslocaram para um espaço reservado, mas de frente à área dos bolsonaristas, que foram liberados para se aproximarem do palco a pedido do presidente.

Antes do evento, informou o veículo, houve troca de xingamentos e um princípio de confronto rapidamente controlado pela polícia e seguranças da Presidência da República. Os manifestantes contrários estavam em menor número, mas expressivos.

A jornalista da BandNews FM Bruna Valle, que estava no local, foi ouvida pelo Comprova e contou que uma confusão foi registrada entre os apoiadores e opositores antes do início do evento, que foi contida por seguranças.

“Quando o presidente foi começar a falar, ele pediu que os apoiadores, que estavam atrás de uma grade, atrás das cadeiras dos convidados, chegassem mais perto. Foi liberado para que se aproximassem, e eles ficaram na frente da área reservada para a imprensa”, afirmou.

Sobre o momento em que foram registradas as vaias, Valle contou que uma das opositoras conseguiu furar o bloqueio e entrar na área reservada, para xingar o presidente. “Nesse momento em que ela xingou Bolsonaro, os apoiadores, que eram muitos e estavam próximos do palco, vaiaram-na e tentaram avançar para cima dela, mas foram contidos pela segurança. As vaias foram exclusivamente para ela”, completou.

Antes do discurso de Bolsonaro, outro trecho da transmissão também mostra que havia muito mais apoiadores do presidente e que eles estavam mais próximos das câmeras, o que impediria que qualquer manifestação do grupo de opositores fosse registrada ao vivo. Aos 33 minutos da transmissão, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), começa a discursar de máscara, mas o coro ouvido ao fundo grita para que ele a retire e aplaude quando ele o faz.

Bolsonaro criticou manifestante e o PT

Após as vaias, o presidente afirmou que não iria “ofender essa senhora que proferiu essas palavras que nem deu pra entender”. Em seguida, afirmou haver um velho ditado que diz: “Quem até os 30 (anos) não foi de esquerda, não tem coração. Quem depois dos 30 (anos) continua na esquerda, não tem cérebro”. A fala foi aplaudida pelo público e por autoridades que estavam no palco, seguida por gritos de “mito”.

Em seguida, Bolsonaro criticou o PT: “Não vim aqui falar de política, mas se, porventura, vir candidato ano que vem, terei o maior prazer em debater com o candidato dessa senhora. Vamos comparar 14 anos do PT com quatro do meu governo”.

À noite, durante sua live semanal, voltou ao assunto aos 58 minutos de transmissão e fez ataques machistas à manifestante. “Estava lá falando do metrô, de repente, entra uma mulher, não sei se casada ou solteira, aparentando 35 anos, 40 anos, fala um montão de (ruídos). Fico imaginando em casa o que o marido passa com ela, se ela for casada, né? Não deu nem para entender, mas estava me ofendendo, o pessoal vaiou, vaiou, vaiou, (ela) saiu fora, a imprensa vai falar que eu levei vaia, mas tudo bem.”

Em seguida, repetiu o dito por ele na cerimônia, sobre não ofender a manifestante e o ditado sobre a esquerda, além de afirmar que a mulher teria se referido aos ex-presidentes Lula e Dilma, ambos do PT.

“Eu acho que protesto é válido, se fizer outro não tem problema nenhum. Lógico, a gente evita porque é querer tumultuar, querer ir para a agressão, ir para o ódio, né? O nosso pessoal não faz isso”, finalizou.

Agenda em Belo Horizonte

A agenda oficial do presidente para a manhã do dia 30 de setembro previa a partida dele de Brasília para Belo Horizonte, onde participaria da cerimônia de sanção do Projeto de Lei para Obras do Metrô de BH e do Lançamento de Pedra Fundamental do Centro Nacional de Vacinas MCTI da Universidade Federal de Minas Gerais, além de um almoço com lideranças empresariais mineiras.

O Projeto de Lei foi aprovado pelo Congresso na última segunda-feira (27), ao passar pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal no mesmo dia. O texto prevê a privatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa que administra o metrô de BH.

Há a previsão de ser realizado um aporte de R$ 2,8 bilhões mais R$ 400 milhões do governo estadual para pagamento de dívidas, término de uma linha e construção de outra no metrô Em relação ao lançamento da pedra fundamental do primeiro Centro Nacional de Vacinas, a iniciativa é uma parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e da UFMG, e a construção deve começar no ano que vem.

Por fim, além do almoço com os empresários, ele participou de reunião na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Autores

O Comprova entrou em contato com os autores das publicações por mensagens via Instagram e WhatsApp. A princípio, a reportagem questionou a todos se haviam assistido à transmissão completa do evento.

A autora da publicação no Instagram informou que “foi um evento presencial” e compartilhou o link de uma transmissão do evento feita pelo Poder360. No entanto, não respondeu ao questionamento sobre ter visto o momento da vaia dentro do contexto em que ela ocorreu.

O autor da publicação no Twitter visualizou a mensagem encaminhada pelo Comprova, mas não respondeu. A reportagem também contatou o autor da postagem do Facebook, por meio de mensagem ao número de WhatsApp disponível em seu perfil – não houve retorno.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. As publicações feitas no Facebook, Twitter e Instagram alcançaram, respectivamente, 2.643 mil interações, 353 interações e 898 interações.

Conteúdos em vídeo, retirados de contexto, são perigosos porque geram desinformação em massa nas redes sociais, induzindo outras pessoas ao erro.

Ainda que a popularidade do presidente tenha caído nos últimos meses em função das ações e omissões do governo federal diante da pandemia do coronavírus, o vídeo descontextualizado traz impactos para a avaliação dos internautas sobre Bolsonaro, que é possível candidato à reeleição em 2022.

O Comprova já verificou diversos outros conteúdos relacionados a vídeos envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, como o que afirmava, de maneira falsa, que ele foi ovacionado no aeroporto de Nova York, quando o ocorrido aconteceu em Natal, no Rio Grande do Norte e outro sobre obras do governo baiano que teriam sido realizados para “atrapalhar” Bolsonaro.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-09-24

Vídeo de Bolsonaro ovacionado em aeroporto foi feito em Natal, e não em Nova York

  • Falso
Falso
É falso que um vídeo do presidente Jair Bolsonaro sendo recepcionado por multidão tenha sido gravado quando ele chegou ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, em 19 de setembro, para participar da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). A gravação já circula nas redes sociais desde 2017, quando foi postada pelo próprio Bolsonaro durante recepção no Aeroporto de Natal, no Rio Grande do Norte, quando ainda era deputado federal.
  • Conteúdo verificado: Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra Jair Bolsonaro sendo recepcionado por centenas de pessoas em aeroporto. O post acompanha legenda dizendo que o presidente estava chegando a Nova York, onde ele desembarcou em 19 de setembro para participar da 76ª Assembleia da ONU.

É falso o post que circula nas redes sociais com vídeo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sendo recepcionado por uma multidão em aeroporto e legenda afirmando que ele estava chegando ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York – o presidente esteve na cidade americana entre 19 e 22 de setembro, onde participou da 76ª Assembleia das Nações Unidas.

As imagens, na verdade, foram capturadas em Natal, no Rio Grande do Norte, em 8 de junho de 2017, como mostra tuíte do próprio Bolsonaro à época. Na ocasião, o então deputado federal foi recebido por apoiadores no Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, na capital do Rio Grande do Norte.

A reportagem tentou contatar um usuário do Twitter e um do Facebook que compartilharam o conteúdo, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.

O Comprova considerou o conteúdo falso porque a informação de que ele foi gravado em Nova York foi inventada de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Buscamos informações nas redes sociais de Bolsonaro e de outros representantes do governo federal que viajaram para Nova York. Pesquisamos também no YouTube, em sites oficiais do governo e em páginas jornalísticas.

Na busca, constatamos que a agência Lupa, Boatos.org e AFP Checamos já haviam verificado o vídeo em questão. A partir da informação de que a gravação era antiga, buscamos o tuíte de Bolsonaro feito em 2017 por meio do TweetDeck e comparamos elementos visuais (como letreiros) dos vídeos postados antes e agora.

Tentamos contato com uma usuária do Twitter que compartilhou o vídeo em 20 de setembro, data em que o conteúdo viralizou, mas não obtivemos resposta. Tentamos falar também com um usuário do Facebook que poderia confirmar se um vídeo postado por uma conta do YouTube em 8 de junho de 2017, com o mesmo nome de usuário dele, era de sua autoria, mas ele também não respondeu.

Verificação

Presidente em NY

No site FlightAware, foi possível confirmar que o voo da Força Aérea Brasileira (FAB) com Bolsonaro partiu em 19 de setembro de 2021 às 9h07 do Aeroporto de Brasília e chegou ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy às 16h40 do mesmo dia.

Além disso, veículos como Poder360 publicaram conteúdos sobre a chegada de Bolsonaro a Nova York, citando o aeroporto JFK.

Bolsonaro foi à cidade para participar da 76ª Assembleia das Nações Unidas. Ele fez o discurso de abertura do evento em 21 de setembro. Na noite anterior, ao chegar ao hotel, ele entrou por uma porta que não a principal, onde havia um protesto de cerca de dez pessoas com faixas em defesa dos indígenas e contra militares em cargos do governo.

Aeroporto de Natal

Bolsonaro esteve na capital potiguar em junho de 2017, quando era deputado pelo PSC, a convite da União Nordestina de Produtores de Cana, como mostrou a Folha. A reportagem contou, à época: “gritos ricocheteiam no saguão do aeroporto de Natal” e o político foi “levantado no ar”, exatamente como mostra o vídeo postado agora – falsamente dizendo que foi em Nova York – e publicado naquela ocasião por Bolsonaro.

Comparando os vídeos frame a frame foi possível perceber que se trata do mesmo conteúdo. O Comprova também encontrou outras gravações feitas em Natal, como uma publicada pelo Poder360, que só reforçou a conclusão. Nas gravações, aparecem as mesmas pessoas e sinalizações, por exemplo. Uma bandeira do Brasil pendurada em uma escada também comprova que se trata da mesma situação.

 

| Frames do vídeo verificado (vertical) e do publicado pelo Poder360 (horizontal) mostram os mesmos elementos: uma placa onde se lê “Welcome” (bem-vindo, em inglês), além um homem careca, de óculos escuros.

 

| Frames do vídeo postado agora (vertical) e do publicado por Bolsonaro em 2017 (horizontal) mostram bandeira do Brasil pendurada em escadaria

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados ao governo federal, pandemia e eleições que viralizam nas redes, como o vídeo checado aqui, que teve cerca de 4,1 mil visualizações no Facebook até 24 de setembro. No Twitter, só um post tinha mais de 2,2 mil visualizações.

Em um momento em que a popularidade de Bolsonaro vem caindo, o vídeo prejudica a avaliação da população ao levar a crer que ele teria sido ovacionado na semana passada, o que não ocorreu.

O conteúdo também foi verificado por Agência Lupa, Boatos.org e AFP Checamos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Esta reportagem foi produzida com a participação de jornalistas que recebem formação em verificação pelo Programa de Residência no Comprova.

Eleições

Investigado por: 2021-09-23

É falso que Dilma e Lula pagaram 6 mil euros por jantar em Paris

  • Falso
Falso
É falso que Lula e Dilma "gastavam 6 mil euros por um prato em jantar". Reportagem mencionada em post trata de evento oferecido para a então presidente brasileira pelo governo francês em 2012 – os petistas não gastaram nada no evento; Lula nem participou dele – e o valor citado não se referia à refeição, mas ao preço de um prato de porcelana da marca Puiforcat usado na ocasião.
  • Conteúdo verificado: Post em redes sociais afirma falsamente que Lula e Dilma “gastavam 6 mil euros por um prato em jantar” e compara a suposta atitude dos ex-presidentes com a de Jair Bolsonaro, “que comeu pizza em pé, do lado de fora de restaurante”, como fez recentemente em Nova York.

É falso o post viral que afirma: “Prefiro um presidente que come pizza em pé, do lado de fora do restaurante, do que os ‘pais dos pobres’, que gastavam 6 mil euros por um prato em jantar!”.

Reportagem do Terra, cujo título – “Paris: sem Lula, jantar de gala para Dilma serviu prato de 6 mil euros” – foi usado na publicação, trata de evento realizado pelo governo francês em 2012, quando Dilma era a chefe do Executivo brasileiro. Ela era a convidada de honra do então presidente daquele país, François Hollande, ou seja, não pagou nada pelo jantar. O valor de 6 mil euros a que se refere a matéria era do prato de porcelana da marca Puiforcat usado na ocasião, e não o custo da refeição. A matéria informava que esse era o preço que poderia alcançar um único prato de porcelana dessa marca.

Posts com o conteúdo falso que circulavam no Twitter e no Facebook foram removidos. Procuramos a autora de uma das publicações com mais interações via mensagem privada no Facebook, mas ela não nos respondeu e seu post não pôde mais ser visualizado. Para o Comprova, é falso o conteúdo inventado, como nesse caso, e divulgado de modo deliberado a espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova buscou a reportagem do Terra citada no conteúdo aqui verificado. Logo já ficou claro que o jantar não foi pago por Dilma ou pelo governo brasileiro.

Conferimos também o site da Biblioteca da Presidência da República, que tem registros do evento com a mesma data.

Pelo Cartão de Pagamentos do Governo Federal que seria utilizado para arcar com esse tipo de despesa, não foi localizado nenhum gasto próximo a esse valor no dia 11 de dezembro de 2012 ou em datas próximas.

Verificação

Dilma e o jantar

No dia 11 de dezembro de 2012, o governo francês, por meio do então presidente François Hollande, ofereceu um jantar de gala em honra à visita oficial da ex-presidente Dilma Rousseff e ministros ao país europeu.

Realizado no Palácio do Eliseu, a residência oficial do presidente da França, o evento recebeu políticos, empresários e celebridades dos dois países. Dilma também posou para fotos ao lado de Hollande e de estudantes brasileiros que participavam do programa Ciências Sem Fronteiras, como publicado na Biblioteca da Presidência da República.

Bolsonaro e a pizza

“Prefiro um presidente que come pizza em pé, do lado de fora do restaurante”, começa o post falso. O conteúdo se refere ao dia 19 de setembro deste ano, quando o presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), para evitar a exigência da vacina contra a covid-19 em Nova York, jantou pizza, em pé, na calçada de um restaurante.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados ao governo federal, pandemia e eleições que viralizam nas redes. A publicação verificada aqui teve ao menos 700 interações até 21 de setembro – depois, foi removida do Facebook. Outras publicações no Twitter também não estão mais acessíveis. O post que mais repercutiu foi postado no grupo “Bolsonaro 2022 🇧🇷” do Facebook com quase 1 milhão de integrantes. Um tuíte no perfil @n7contii_ alcançou 932 interações até 23 de setembro.

O conteúdo, que também foi verificado por Estadão Verifica e Aos Fatos, tenta enaltecer Bolsonaro e desmerecer os ex-presidentes Dilma e Lula – este à frente de Bolsonaro na corrida presidencial segundo pesquisas recentes – a partir de uma mentira. Recentemente, o Comprova publicou outras verificações com o mesmo propósito, como a do vídeo que omite ações de governos anteriores para exaltar obras de Bolsonaro na Transamazônica e a da gravação que fala em trama com participação de Lula e do STF para matar Bolsonaro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Esta reportagem foi produzida com a participação de jornalistas que recebem formação em verificação pelo Programa de Residência no Comprova.

Eleições

Investigado por: 2021-09-10

Post usa montagem de foto no 7 de Setembro para atacar senador

  • Falso
Falso
É falsa publicação compartilhada no Facebook e por WhatsApp que afirma ser montagem uma foto de manifestantes bolsonaristas ao lado de um morador de rua. O registro foi feito em Brasília durante manifestação pró-Bolsonaro no feriado de 7 de Setembro. Além de alegar que o registro original tratava-se de montagem, a usuária da rede social postou uma imagem adulterada afirmando se tratar da verdadeira.
  • Conteúdo verificado: Publicação do dia 8 de setembro no Facebook apresenta print de uma foto postada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que retrata manifestantes bolsonaristas caminhando, em Brasília, ao lado de uma pessoa aparentemente em situação de rua deitada no asfalto. Ao lado, a autora do post compartilhou a mesma foto com a legenda “montagem” e outra, sem o morador de rua e com um círculo destacando o espaço onde ele estava, com a legenda “original”. Na descrição do post, ela critica o senador.

É falsa postagem no Facebook que apresenta uma foto verdadeira das manifestações de 7 de Setembro como se fosse montagem. A publicação ainda traz uma imagem manipulada digitalmente e afirma tratar-se da original.

O conteúdo teve como objetivo atacar o senador Randolfe Rodrigues, líder da oposição a Jair Bolsonaro no Senado, que postou o registro original, o qual retrata manifestantes caminhando ao lado de uma pessoa aparentemente em situação de rua.

O caso foi esclarecido ao Comprova pela jornalista Sarah Teófilo, responsável pela fotografia. Ela enviou ao Comprova a imagem original. Além disso, é possível observar que uma das imagens foi grosseiramente manipulada para apagar a pessoa que está deitada.

A autora do post foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

Para o Comprova, é falso o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.

Como verificamos?

O Comprova analisou a publicação do senador Randolfe Rodrigues e percebeu que ele havia colocado crédito na foto, marcando a jornalista Sarah Teófilo. Em seguida, entrou em contato com ela, que confirmou a autenticidade da imagem e deu detalhes sobre dia, local e horário em que o registro foi feito.

A fotógrafa encaminhou a imagem original ao Comprova e conferimos os metadados da imagem (abaixo). Metadados são informações gravadas pelos equipamentos de captura de fotos digitais e que armazenam em arquivo dados como data, hora e localização da captura, equipamento utilizado e outras informações técnicas sobre a imagem.

A reportagem também analisou a imagem adulterada e procurou o senador e a responsável pela postagem no Facebook, mas nenhum retornou até o momento.

Verificação

Senador postou a foto original

A fotografia autêntica mostra um casal que passa ao lado de um homem em situação de rua deitado no chão. Eles vestem a camisa da Seleção Brasileira e a mulher segura um banner com a imagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Líder da oposição ao governo Bolsonaro no Senado Federal, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) publicou a foto com a legenda: “Uns comemoram a fome. Outros padecem dela”.

A publicação do congressista foi feita no dia 7, quando foram mobilizados atos antidemocráticos em favor de Bolsonaro, em prol do voto impresso e do fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os dias 8 e 9 de setembro, fotos adulteradas, em que o homem em situação de rua foi apagado, foram compartilhadas em resposta a Randolfe, para sustentar que a crítica política que o senador fez aos bolsonaristas teve base em uma foto montada. Na publicação, contudo, o político do Amapá dá o crédito à autora do retrato. É a jornalista Sarah Teófilo, repórter do Portal R7 em Brasília.

Em conversa com a reportagem do Projeto Comprova, Sarah confirmou ser a autora da foto, feita no dia 7, na capital federal, por volta de 7h10min. Ela detalha que captou a imagem no Eixo Monumental, precisamente no viaduto situado logo após o Museu Nacional da República. “Dá até pra ver um pedacinho do Museu no lado esquerdo da foto”, explica.

O registro foi publicado pelo Portal R7. Outras fotos foram feitas por ela a partir do mesmo ângulo, ou seja, com os manifestantes a passar ao lado do homem deitado no chão.

| Foto original, da jornalista Sarah Teófilo, registrada em 7 de setembro e publicada pelo senador Randolfe Rodrigues.

Imagem adulterada

A autora do post no Facebook é Ruane de Lima Pinheiro, suplente de vereadora no município de Santana, no Amapá, pelo PSD. Ela mantém mais de uma conta no Facebook, onde declara apoio ao presidente.

Na publicação feita pelo perfil dela, no dia 8 de setembro, é apresentada a foto original, feita pela jornalista Sarah Teófilo, com a legenda “montagem”. Já outra, sem o morador de rua e com um círculo destacando o espaço onde ele está na verdadeira foto, é identificada com a legenda “original”.

Observando a imagem, é possível perceber que a manipulação é grosseira. Por exemplo, a sombra de um homem que antes era cortada pela presença da pessoa em situação de rua, continua cortada quando a imagem dela é removida.

Em outro ponto, uma sombra tem início “do nada”, não acompanhando o padrão das demais sombras provocadas pelo ângulo do sol no horário em que a imagem foi registrada.Também é perceptível que o asfalto está com aspecto borrado.

A autora do post foi procurada pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

Manifestações

O feriado de 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil, foi marcado por atos pró e contra o presidente Jair Bolsonaro em várias partes do país. As manifestações foram amplamente noticiadas pela imprensa nacional e ganharam espaço também em veículos de comunicação internacionais.

Bolsonaro esteve pessoalmente em duas das manifestações favoráveis a ele, em Brasília e em São Paulo.

Na Esplanada dos Ministérios, que começou a ser ocupada já na noite anterior, segunda-feira (6), o presidente discursou pela manhã, com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), principal alvo do bolsonarismo atualmente.

À tarde, na Avenida Paulista, voltou a falar dos ministros do STF. Outras capitais e cidades do interior também registraram manifestações, tanto de apoiadores quanto de opositores.

Do lado contrário a Bolsonaro, a pauta dos atos girou em torno de críticas à forma como o governo conduz o combate à pandemia de covid-19 e aos preços elevados de alimentos e combustíveis. Os manifestantes também pediram o impeachment do presidente.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que tenham viralizado nas redes sociais, como é o caso desta postagem, que teve grande número de compartilhamentos no WhatsApp.

No Facebook, a postagem reuniu 248 interações, sendo 120 compartilhamentos. De lá, foi compartilhada também no Twitter e utilizada principalmente para atacar a mesma postagem, com a foto original, feita no perfil do senador nesta rede. O Comprova identificou contas que apagaram, posteriormente, o conteúdo.

Esta checagem foi realizada a partir de sugestões enviadas por leitores por WhatsApp. Pelo número 11 97045-4984 ou por este link é possível fazer indicações de conteúdos cuja veracidade esteja sob questionamento. A foto da qual esta investigação trata também foi verificada pela AFP Checamos e pela agência Aos Fatos.

Com a proximidade das eleições do próximo ano, tem aumentado a circulação de informações falsas construídas para atacar a imagem de figuras políticas, como é o caso do senador. Postagens desta natureza podem comprometer a avaliação dos eleitores no momento de decidir por um candidato.

Recentemente, o Comprova mostrou se tratar de montagem vídeo em que Reinaldo Azevedo aparece fazendo duras críticas ‘na cara’ de Lula; que um vídeo em que ex-deputado critica Lei da Ficha Limpa foi tirado de contexto para sugerir manipulação eleitoral; e ser enganoso tuíte que acusa Bolsonaro de acabar com o Bolsa Atleta.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-09-03

Vídeo em que ex-deputado critica Lei da Ficha Limpa é tirado de contexto para sugerir manipulação eleitoral

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo gravado por uma apoiadora de Jair Bolsonaro engana ao afirmar que ministros do STF teriam poder de manipular o resultado eleitoral. A mulher sustenta sua alegação em uma fala do ex-deputado Wadih Damous tirada de contexto no qual ele criticava a Lei da Ficha Limpa e a Operação Lava Jato e não se referia ao processo eleitoral.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no qual uma mulher alega que um ex-deputado petista estaria confessando um acordo com um ministro do STF para manipular o resultado das eleições por meio de fraude nas urnas eletrônicas.

Uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) gravou um vídeo no qual tira de contexto uma fala do ex-deputado Wadih Damous (PT) para sugerir uma conspiração eleitoral envolvendo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na gravação, de 2018, o petista critica a Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível o candidato que tenha uma condenação em segunda instância. No entanto, a autora do vídeo não reproduz essa explicação. Com isso, ela sugere que o ex-deputado estaria confessando um acordo com Gilmar Mendes para manipular o resultado da eleição. Essa ideia é reforçada quando ela questiona “E aí, você tem alguma dúvida do que eles fazem com as urnas eletrônicas?”

A autora do vídeo foi procurada, mas não retornou até a publicação. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Como verificamos?

O primeiro passo foi buscar a íntegra do vídeo para saber se o seu contexto original foi preservado. Como o Comprova reconheceu o ex-deputado que aparece no vídeo como sendo Wadih Damous (PT), foi feita uma busca no Google com as palavras-chave citadas no vídeo, como “Wadih Damous”, “Gilmar Mendes” e o advogado “Tacla Durán”. Isso permitiu encontrar links na imprensa (O Antagonista e Jovem Pan) com o vídeo completo.

Consultamos os dados sobre a atuação de Damous no site da Câmara dos Deputados e no site de divulgação de candidaturas e contas eleitorais da Justiça Eleitoral, o DivulgaCandContas.

Em seguida, foram consultadas matérias na imprensa para saber a relação dos personagens citados com o tema debatido e o contexto em que a fala foi dita.

Por fim, procuramos uma forma de contato com a autora do vídeo em suas redes sociais, mas não encontramos. Então fizemos a solicitação de um posicionamento por meio do PRTB, partido pelo qual ela disputou a eleição em 2020.

Verificação

Ex-deputado criticou Lei da Ficha Limpa

O vídeo foi publicado pelo portal O Antagonista em 22 de abril de 2018. Nele, o ex-deputado Wadih Damous faz críticas à Lei da Ficha Limpa e à atuação de procuradores da Lava Jato.

Um pequeno trecho no começo mostra o deputado dizendo: “O PT embarcou nessa onda moralista desde lá de trás. O que é a Lei da Ficha Limpa? A Lei da Ficha Limpa significa dizer o seguinte: ‘O povo não sabe escolher, quem sabe escolher é o Poder Judiciário. O povo é burro, o povo só escolhe corrupto e bandido’”.

Esse trecho foi recortado do vídeo checado. Com isso, este conteúdo se torna enganoso porque não permite compreender o sentido original da fala do deputado petista. Embora ele criticasse uma lei específica, a autora do vídeo checado questiona se “você tem alguma dúvida do que eles fazem com as urnas eletrônicas?”, como se o deputado estivesse falando de alguma ingerência do Judiciário na integridade da votação e no resultado da eleição.

Damous criticava a Lei da Ficha Limpa, de 2010. Ela foi criada a partir de uma iniciativa popular do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) que, entre outros pontos, tornou inelegíveis os candidatos que tenham condenação por um órgão colegiado. Isso impossibilitava a pretensão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se candidatar nas eleições de 2018 – ele realmente ficou impedido de concorrer naquele ano.

| Fonte: Palácio do Planalto

Damous é ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ). Ele concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados, em 2014, pelo PT. Não teve votos suficientes para ser eleito e ficou na fila de suplentes. Assumiu o mandato como suplente em três ocasiões entre 2015 e 2016, até que foi efetivado no cargo em dezembro de 2016, quando o titular da vaga, Luciano Horta, renunciou para assumir a prefeitura de Maricá (RJ).

O ex-deputado é crítico à possibilidade de prisão de condenados em segunda instância – caso de Lula à época. Na Câmara, apresentou um projeto de lei que reforçava a possibilidade de prisão unicamente após condenação em todas as instâncias cabíveis, alegando a presunção de inocência.

A autora também não dá informações importantes, como a data de divulgação do vídeo. Assim, quem assistir pode pensar que o vídeo é atual.

Ex-deputado faz referência à Lava Jato

Em certo momento do vídeo, Damous cita um encontro com Gilmar Mendes. Sem o contexto original, isso reforça a ideia – passada pela autora do vídeo checado – de que o Supremo Tribunal Federal poderia manipular o resultado das eleições. No entanto, quem aplica as leis para a administração do processo eleitoral é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora parte dos seus integrantes seja do STF – dos sete ministros, três são provenientes de lá –, Gilmar Mendes não faz parte da atual composição deste Tribunal.

Damous afirma ter se encontrado com o ministro Gilmar Mendes para “levar as denúncias do Tacla Durán” e que ele vai “colocar a boca no trombone”. “O Gilmar, hoje, é nosso aliado. Amanhã, volta a ser inimigo, mas hoje é aliado”, disse o ex-deputado, referindo-se a um embate envolvendo a Lava Jato.

Tacla Durán é um advogado apontado por procuradores da Lava Jato como um dos operadores de propinas da Odebrecht. Eles afirmam que o escritório de advocacia dele teria recebido dinheiro das empresas investigadas. Durán chegou a ser preso na Espanha, em 2019, mas a prisão foi revogada. Ele não foi extraditado por possuir dupla cidadania.

Durán é um crítico da Lava Jato e do juiz Sergio Moro. Ele já disse ter pago dinheiro a um juiz amigo de Moro para ajudá-lo a obter vantagens em um processo de delação. A Procuradoria-Geral da República investigou e arquivou o caso, em 2018, afirmando que não encontrou provas dos ilícitos citados.

Gilmar Mendes também já fez duras críticas à operação Lava Jato e às forças-tarefas estaduais que a conduziram, especialmente a de Curitiba. Mais recentemente, durante a votação da suspeição de Moro, Mendes votou para reconhecer a parcialidade do ex-juiz federal. Em seu voto, chegou a citar Tacla Durán, lembrando que a Interpol retirou o advogado da sua lista de procurados ao reconhecer a possível parcialidade de Moro.

Em 2020, circulou na imprensa a notícia de que a Procuradoria-Geral da República estaria estudando reabrir o processo de delação premiada de Tacla Durán. A mudança ocorreu meses após Moro abandonar o governo federal. O atual PGR, Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro, enfrentou de frente os procuradores nos estados e conduziu um processo que acabou com o modelo de forças-tarefas da operação. Até a publicação desta checagem, não havia confirmação da delação.

A autora do post

O vídeo descontextualizado foi publicado no canal do YouTube de Val Paschoalini. Em outra rede social, ela se diz “100% Bolsonaro”. Suas postagens vão ao encontro das bandeiras defendidas pelo presidente. Ela faz posts com ataques ao STF e defende o voto impresso, uma pauta que o presidente utilizou para atacar o processo eleitoral em meio a sua perda de popularidade. Desde sua implementação, em 1996, as urnas eletrônicas não tiveram nenhuma fraude comprovada.

O Comprova não conseguiu entrar em contato com Val porque ela não possui nenhuma informação desse tipo nas redes sociais. Pedimos um contato por meio da página do PRTB de São Bernardo do Campo, partido e cidade pelos quais ela concorreu à câmara de vereadores em 2020, mas não obtivemos retorno.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal e eleições. Só checamos posts que tenham chegado a um grande número de pessoas. O vídeo verificado foi visualizado ao menos 74 mil vezes no YouTube e recebeu ao menos 4 mil compartilhamentos no Facebook, segundo a ferramenta de monitoramento de redes CrowdTangle.

Conteúdos enganosos sobre as eleições representam supressão do direito ao voto porque desencorajam os cidadãos de participarem do processo democrático. O Comprova já mostrou ser falso que um inquérito da PF investigasse fraude no processo de votação. Também verificamos que são falsas as alegações de fraude na eleição de 2014 feitas por Naomi Yamaguchi em um vídeo.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-09-02

É montagem vídeo em que Reinaldo Azevedo aparece fazendo duras críticas ‘na cara’ de Lula

  • Falso
Falso
É falso vídeo publicado no TikTok no qual aparecem o jornalista Reinaldo Azevedo e o ex-presidente Lula. As imagens foram editadas para dar a impressão de ser uma entrevista recente, mas pertencem a momentos diferentes. O trecho que mostra Lula é de uma conversa entre os dois ocorrida em abril deste ano, mas o que apresenta a fala do jornalista foi gravado em 2017.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok traz Reinaldo Azevedo, do lado esquerdo, fazendo duras críticas a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT) e o ex-presidente em silêncio do lado direito. Uma legenda sobre as imagens diz “a verdade sendo dita na cara do maior ladrão da história”. Embaixo, outra frase afirma se tratar de uma entrevista do programa “O É da Coisa Especial”, da Rádio BandNews FM. Na descrição, o autor da postagem utiliza hashtags a favor da reeleição de Bolsonaro (sem partido) e contra a esquerda.

É montagem um vídeo publicado no TikTok que apresenta o jornalista Reinaldo Azevedo fazendo duras críticas a Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores (PT), enquanto o ex-presidente permanece em silêncio na tela ao lado.

O jornalista, procurado pelo Comprova, confirmou que o conteúdo é falso e que apresenta imagens de dois momentos distintos: a primeira de uma fala dele criticando Lula em 2017 e, a segunda, do presidente Lula durante uma entrevista concedida a ele em 2021. A assessoria de Lula também informou que o vídeo não é verdadeiro.

O tempo decorrido de quatro anos entre os dois vídeos utilizados na montagem foi verificado pela reportagem, que localizou os dois conteúdos publicados na conta da Rádio BandNews FM no YouTube, um em julho de 2017 e o outro em abril de 2021.

O autor da postagem no TikTok foi procurado, mas não respondeu.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova analisou o vídeo publicado no TikTok e, com a utilização da ferramenta de buscas do Google, pesquisou se Lula havia concedido entrevista a Reinaldo Azevedo, localizando o conteúdo de abril de 2021 no YouTube.

A partir dele, foram comparadas as imagens do ex-presidente e comprovado, por meio da roupa, do cenário e de gestos, que esta entrevista foi utilizada na montagem.

As imagens do jornalista, contudo, não eram as mesmas da entrevista. O Comprova localizou, também no YouTube, a gravação original, que é de um trecho de programa de rádio veiculado em julho de 2017.

A reportagem entrou em contato com o jornalista e com a assessoria do ex-presidente, que confirmaram ser falso o vídeo postado no TikTok. Também procurou o responsável pela publicação do conteúdo, mas não recebeu resposta.

Verificação

Vídeo no TikTok mistura imagens de 2017 e 2021

A montagem do vídeo, de um minuto e vinte e cinco segundos, apresenta Reinaldo Azevedo do lado esquerdo, fazendo duras críticas ao governo de Lula e ao PT, e o ex-presidente do lado direito, em silêncio, durante um trecho e, sorrindo, em outro.

A fala de Azevedo, contudo, foi retirada de outro vídeo, este de sete minutos e dezoito segundos e postado há quatro anos, em 6 de julho de 2017, no canal Rádio BandNews FM no YouTube. O trecho utilizado na montagem inicia aos cinco minutos e vinte e dois segundos.

Na ocasião, o jornalista comentava uma fala do ex-presidente criticando o governo de Michel Temer (MDB) durante entrevista concedida um dia antes à Rádio Arapuan, da Paraíba.

Já as imagens de Lula que aparecem na montagem são de uma entrevista concedida pelo ex-presidente ao jornalista no programa “O É da Coisa Especial”, mas em 1º de abril deste ano. O vídeo tem duração de uma hora, vinte e cinco minutos e trinta e dois segundos e também está disponível no canal da Rádio BandNews FM no YouTube.

É possível associar claramente as imagens de Lula na entrevista de 2021 com as utilizadas na montagem junto ao vídeo de 2017, tanto pelas roupas e gestos dele, quanto pelo cenário.

 

| Captura de tela realizada pelo Comprova no dia 01/09/2021 a partir da montagem publicada no TikTok.

| Captura de tela feita pelo Comprova no dia 01/09/2021 a partir do vídeo original publicado no YouYube.

O tom adotado pelo jornalista durante a conversa em 2021 não é o mesmo de 2017, sendo inclusive descontraído, com direito a uma imitação de Lula. Azevedo também pergunta ao ex-presidente se a imitação dele é boa.

No dia seguinte à entrevista, o jornalista também publicou o vídeo em sua coluna no Uol com o título: “‘Histórica?’ Acho que sim!” e comentando que “Vale a pena assistir. O resultado parece muito bom, concorde-se ou não com o ex-presidente…”.

Conteúdo falso

O Comprova procurou o jornalista por e-mail, questionando se o vídeo postado no TikTok era verdadeiro, além de outras informações sobre o assunto. Ele respondeu se tratar de conteúdo falso e confirmou que a crítica ao PT foi feita por ele em 2017, acrescentando ter entrevistado Lula no dia 1° de abril de 2021. “Editaram os dois momentos, com intervalo de quatro anos, como se eu estivesse dizendo aquilo a Lula durante a entrevista”, declarou.

A assessoria de Lula também afirmou que o vídeo é falso, alegando que o ex-presidente é alvo de um ataque de desinformação inspirado pelo presidente Jair Bolsonaro: “Infelizmente grupos de apoiadores de Bolsonaro têm, inspirados por ele, divulgado mentiras sobre uma série de assuntos com objetivos políticos, até atrapalhando o enfrentamento da pandemia. Lamentamos tais práticas que devem ser coibidas e responsabilizadas pelas plataformas de redes sociais e autoridades competentes”.

Autor da postagem

O vídeo foi postado no TikTok no dia 13 de agosto pela conta @rogeriocpf, que possui como descrição o lema “Brasil acima de tudo! Deus acima de Todos!”, utilizado pelo presidente Bolsonaro, além da frase “Deus e Família, a base de tudo!”. A conta é destinada a conteúdos defendendo o presidente e críticas a Lula e ao PT.

Em um trecho do conteúdo é possível verificar uma espécie de assinatura de outra conta: @canal_patriota. O Comprova procurou por este usuário no próprio TikTok, encontrando-o e localizando a publicação da mesma montagem no dia 9 de agosto, mas sem a legenda “a verdade sendo dita na cara do maior ladrão da história”.

A conta, que tem número bem menor de seguidores, foi procurada por meio de comentário no vídeo, já que a caixa de mensagens é fechada para não seguidores, mas o Comprova não recebeu retorno até esta publicação. O mesmo aconteceu com o autor do post aqui verificado, procurado por mensagem privada em duas ocasiões.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, pandemia de covid-19 e eleições que tenham atingido alto grau de viralização, como o caso do vídeo manipulado e postado no TikTok, que envolve o nome de um presidenciável. O conteúdo teve mais de 22 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos na plataforma.

Com a aproximação das eleições de 2022, cresce o número de informações falsas e enganosas circulando nas redes sociais com o intuito de confundir o eleitor.

O Comprova vem publicando diversas verificações referentes ao assunto, como a que esclareceu que o inquérito da PF não investiga fraude no processo de votação, que pesquisa antiga foi usada para sugerir que Bolsonaro é aprovado por metade da população e que vídeos enganam ao atribuir obra no RN apenas à gestão de Bolsonaro, ao dizer que se trata de Lula em quadra poliesportiva e que o STF quer barrar cristãos na política.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-08-27

Vídeo mostra prefeito de Tianguá em quadra poliesportiva, e não Lula

  • Falso
Falso
É falso um vídeo que mostra um homem tentando chutar uma bola de futebol em uma quadra como sendo o ex-presidente Lula sob efeito de álcool. Na verdade, o registro mostra Luiz Menezes, prefeito do município de Tianguá, no Ceará, durante a inauguração do espaço esportivo.
  • Conteúdo verificado: Vídeo que circula no Twitter mostra um homem tentando chutar uma bola de futebol em uma quadra com crianças, mas acertando um círculo branco no chão. A legenda que acompanha o vídeo diz “O líder das pesquisas com o c* cheio de cachaça”, dando a entender que o homem é o ex-presidente Lula.

É falso que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha sido gravado em uma quadra poliesportiva jogando futebol de salão com crianças. O vídeo viral foi compartilhado no Twitter de modo que dá a entender que o líder petista estava sob efeito de álcool. Contudo, não é ele quem aparece na filmagem, e sim Luiz Menezes (PSD), prefeito de Tianguá, município do interior do Ceará.

O Comprova considera falsos conteúdos inventados ou que tenham sofrido edições para mudar o seu significado original.

Como verificamos?

O primeiro passo foi observar as mensagens escritas por leitores no vídeo compartilhado. Um dos comentários feitos no retuíte com as imagens faz menção ao prefeito de Tianguá. A partir desse indício, o Comprova foi às redes sociais de Luiz Menezes com o objetivo de localizar registros do prefeito na quadra vista no vídeo.

Também consultamos o site da Prefeitura de Tianguá. Outra estratégia foi buscar informações na conta Fortaleza Ordinária – o vídeo compartilhado carrega o selo desta página humorística.

Verificação

Circula no Twitter um vídeo que sugere que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava embriagado em uma quadra esportiva no interior do Ceará. A legenda do post diz: “o líder das pesquisas com o c… cheio de cachaça.” A publicação foi feita pela conta @Evandropontes2 e tinha mais de 87 mil visualizações até a publicação desta checagem. O vídeo foi originalmente publicado no TikTok, mas, nesta rede social, não há qualquer menção ao líder petista.

Embora Lula não esteja nominalmente citado na publicação do Twitter, ele é o pré-candidato à Presidência da República que aparece na dianteira das últimas pesquisas de intenção de voto.

De acordo com o último levantamento Datafolha, publicado em 9 de julho deste ano, o petista lidera todos os cenários de primeiro e segundo turnos. Foram entrevistadas 2.074 pessoas, em 146 municípios de todo o país. A margem de erro foi de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O tuíte de @Evandropontes2 foi compartilhado pelo influenciador bolsonarista Kim D. Paim, ganhando ainda mais alcance, com mais de 6,2 mil curtidas e 1,4 mil compartilhamentos até o momento desta publicação. “Lula está ficando cego ou é impressão minha?”, ele escreveu.

No Instagram de Luiz Menezes, há um post do dia 22 de julho com informações sobre a inauguração da quadra poliesportiva da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Maria Vilanir de Jesus, no distrito de Bom Jesus. O prefeito, inclusive, aparece trocando passes com o deputado federal e aliado político Domingos Neto (PSD-CE). O site da Prefeitura de Tianguá publicou a informação dois dias depois, em 24 de julho deste ano, citando a data da inauguração: 22 de julho.

A conta no Twitter do Fortaleza Ordinária publicou o vídeo na data da inauguração acompanhado da legenda “O prefeito de Tianguá achou que a tinta na quadra era a bola”. A página Fortaleza Ordinária atua reproduzindo situações potencialmente cômicas da vida cotidiana cearense, sejam pessoas públicas, sejam anônimas.

Lula no Ceará

Entre os dias 20 e 23 de agosto, Lula cumpriu agenda no Ceará como parte do roteiro pré-eleitoral de conversas e negociações com diversos atores políticos pelo país – os últimos dias foram dedicados ao Nordeste. A postagem do perfil @Evandropontes2 foi feita justamente durante a estadia do ex-presidente no Ceará, em 23 de agosto, dando a entender que teria sido feita enquanto Lula estava no estado. No entanto, o vídeo original, com o prefeito Menezes, foi gravado um mês antes, em 22 de julho.

Desinformação sobre Lula bêbado

É comum a circulação de peças que contenham desinformação sobre Lula e embriaguez, um meio usado por adversários políticos e pessoas que não têm simpatia pelo ex-presidente para atacar a imagem do petista. Outros conteúdos semelhantes já foram objeto de checagem da AFP, da Agência Lupa, do Aos Fatos, do Estadão Verifica, do Fato ou Fake do G1 e do UOL Confere.

Quem é Luiz Menezes

O prefeito Luiz Menezes (PSD), 75 anos, teve sua primeira experiência no Executivo municipal em 2000. Ele retornou ao cargo em 2016. Mas, em 2018, teve o diploma cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).

Menezes havia sido cassado em 2008 por abuso de poder durante a eleição e ficou inelegível por oito anos. Como se elegeu em 2016 sem que o tempo de inelegibilidade tivesse sido cumprido, ele teve o diploma cassado. Curiosamente, retomou o poder quando foi realizada eleição suplementar em Tianguá, em 2019.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos enviados por leitores que falem da pandemia de covid-19, de políticas públicas ou eleições, e que tenham atingido um alto grau de viralização. O vídeo verificado foi uma sugestão de leitores enviada pelo WhatsApp do Comprova (11 97045-4984) e teve 88,8 mil visualizações no Twitter.

O Projeto Comprova já mostrou ser falso o tuíte lido pela jornalista Leda Nagle, que atribuía ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, denúncia de que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tramavam juntamente com Lula o assassinato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A conta no Twitter não é de Maiurino e o conteúdo do tuíte não tem correspondência com a realidade. Em dois inquéritos, a Polícia Federal já concluiu, por exemplo, que Adélio Bispo agiu sozinho ao dar uma facada em Bolsonaro.

O Comprova também checou e concluiu ser falso um pedido de prisão de Lula pelo surfista Italo Ferreira ao receber a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio.

Falso, para o Comprova, é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-08-25

Vídeo engana ao dizer que STF quer barrar cristãos na política

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo que sugere que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) querem impedir a eleição de candidatos cristãos ao criar o “abuso de poder religioso”. O vídeo interpreta de maneira equivocada uma tese proposta pelo ministro do STF Edson Fachin, que foi rejeitada pelo plenário do TSE há mais de um ano, em agosto de 2020. Os outros dois ministros do Supremo que participaram da decisão, Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, votaram contra a ideia.
  • Conteúdo verificado: Vídeo postado no TikTok mostra uma advogada afirmando que o STF e o TSE querem “impedir que o povo cristão seja representado por seus irmãos na fé”. Antes, dois apresentadores afirmam que há um projeto para “criminalizar aqueles que propagam a palavra de Deus”.

É enganoso um vídeo que circula nas redes sociais que afirma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria “acabado de inventar o crime de abuso de poder religioso” e que, com isso, poderia “cassar todos os candidatos cristãos que forem eleitos”. Essas alegações são feitas na gravação por uma advogada e ex-candidata a vereadora, mas contêm imprecisões.

A tese, aventada pelo ministro Edson Fachin durante um julgamento do TSE em agosto de 2020, não visava impedir a presença de pessoas de nenhuma crença na política. Ela pretendia incluir o abuso de poder religioso entre os tipos de conduta que podem afetar a igualdade entre candidatos numa eleição – atualmente, são considerados os abusos econômico e de autoridade, além do uso indevido dos meios de comunicação. Sem nenhum indicativo de data, o vídeo dá a entender que o tema é atual.

O conteúdo também é enganoso porque introduz um trecho de um programa jornalístico fora de contexto. Nele, os apresentadores falam de uma “nova lei que entrará em vigor” e que poderia ser “uma caçada aos cristãos”, como se eles se referissem à discussão no TSE. No entanto, eles falavam de uma legislação na Bolívia.

O responsável pela publicação do vídeo no TikTok foi procurado pelo Comprova e afirmou não ter dito que o projeto ainda estava em discussão, mas que apenas quis abrir os olhos dos cristãos para o que os magistrados querem fazer. A advogada que aparece no vídeo, Lenice Moura, também foi procurada, mas não respondeu. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, e que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Buscamos no Google pelo material original a partir de palavras-chave ditas pelas pessoas no vídeo. Isso nos levou a duas checagens, do Boatos.org e do Coletivo Bereia, que já indicavam os links originais.

Para compreender o contexto original das discussões sobre o abuso de poder religioso, consultamos notícias no site da justiça eleitoral (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Consultamos informações sobre Lenice Moura na página DivulgaCandContas, do TSE. Também buscamos o seu contato por meio do seu registro na OAB do Rio Grande do Sul. Entramos em contato com ela por meio de sua página no Facebook.

No perfil do Tik Tok, encontramos o perfil do Instagram do homem que compartilhou o vídeo com maior viralização. No Instagram, ele divulga o próprio telefone. O Comprova o procurou usando o WhatsApp e ele respondeu por mensagem de áudio.

Verificação

Tese de abuso de poder religioso foi rejeitada

Em junho de 2020, o TSE começou a julgar um recurso do Ministério Público Eleitoral que pedia a cassação do mandato de uma vereadora de Luziânia (GO), eleita em 2016. No pedido, a promotoria narrava que ela teria cometido abuso de poder religioso ao se reunir com pastores na catedral da Assembleia de Deus da cidade para pedir votos. A acusação é de que ela teria usado sua condição de autoridade religiosa para influenciar a escolha dos eleitores. Quem organizou o evento foi o pai dela, pastor e dirigente da igreja no município.

No caso específico da vereadora, o ministro-relator do caso, Edson Fachin, avaliou que não se deveria cassar o mandato porque não havia provas suficientes de que ela teria cometido abuso de poder. No entanto, frisou que a Justiça Eleitoral deve impedir que “qualquer força política” possa coagir moral ou espiritualmente os cidadãos e propôs a inclusão de investigação do abuso de poder de autoridade religiosa no âmbito das Ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aijes).

“A imposição de limites às atividades eclesiásticas representa uma medida necessária à proteção da liberdade de voto e da própria legitimidade do processo eleitoral, dada a ascendência incorporada pelos expoentes das igrejas em setores específicos da comunidade”, defendeu Fachin. Ele argumentou que há jurisprudência internacional para isso e que princípios constitucionais já garantiriam a pluralidade política e a liberdade religiosa.

Atualmente, os três tipos de abuso de poder presentes na Lei das Inelegibilidades (64/90) são o abuso de poder econômico, de autoridade (político) ou a utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social. São condutas que se considera que possam afetar a igualdade na disputa entre candidatos em uma eleição, segundo o TSE. A proposta de Fachin não era de proibir a candidatura de pessoas ligadas a uma fé específica, mas, sim, coibir o que ele acreditava poder ser configurado como um tipo a mais de abuso.

O tema atraiu a atenção e a mobilização de grupos evangélicos. O ministro Fachin chegou a debater virtualmente o assunto com parlamentares da bancada evangélica e com o Instituto Brasileiro de Direito e Religião.

Em agosto do mesmo ano, os demais ministros do TSE concordaram com a absolvição da vereadora. Quanto à possibilidade de punir o abuso de poder religioso, todos divergiram do relator. O ministro Alexandre de Moraes contestou que “não se pode transformar religiões em movimentos absolutamente neutros sem participação política e sem legítimos interesses políticos na defesa de seus interesses, assim como os demais grupos que atuam nas eleições”. Como exemplo, citou grupos sindicais e empresariais.

O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que a legislação eleitoral já proíbe o abuso de poder religioso ao vedar doações a candidatos e partidos por instituições religiosas e propaganda política em templos. No entanto, considerou que o caso julgado não possuía ligação com essas condutas.

Vídeo sobre a Bolívia

O vídeo verificado aqui começa com dois apresentadores de um telejornal falando sobre uma proposta que seria “uma verdadeira caçada aos cristãos”. O conteúdo tem um corte antes e depois, que torna difícil saber a que projeto eles estão se referindo. Usando a busca reversa de imagens do Google, porém, foi possível encontrar o vídeo completo postado em um canal do YouTube em janeiro de 2018. A reportagem de 2 minutos e 48 segundos não trata do Brasil, mas de uma tentativa de reforma no código penal da Bolívia, que considerava como análogo ao tráfico de pessoas o “recrutamento para a participação em conflitos armados ou organizações religiosas ou cultos”.

Naquele mesmo mês, o governo boliviano voltou atrás sobre o artigo que foi alvo de polêmicas. Como o Boatos.org mostrou, a reportagem já havia ressurgido em julho de 2020 como peça de desinformação.

Como o vídeo completo tem a entrevista de um pastor brasileiro que atua na Bolívia, Eder Luís, da Igreja Internacional da Graça de Deus, buscamos no Google o nome dele associado a palavras-chave como “Bolívia” e “código penal”. Encontramos o site Gospel+, que numa postagem de janeiro de 2018 traz o mesmo vídeo. Segundo o site, a entrevista do pastor foi dada ao “Jornal da RIT TV”.

Assim, descobrimos que se trata do “Jornal das 22”, que vai ao ar pela RIT TV de segunda à sexta-feira, às 22h30. Os apresentadores são Alexandre Giachetto e Beatriz Do Vale (Aqui, é possível ver o print do vídeo verificado e o material promocional do jornal).

Quem é Lenice Moura?

Segundo o coletivo Bereia, o vídeo que está no TikTok foi originalmente postado no canal da própria Lenice Moura. O link publicado pelo site, porém, mostra que o conteúdo não está mais disponível. Pesquisando o nome dela no YouTube, achamos um canal com apenas dois vídeos; ambos com críticas aos ministros do STF.

A pesquisa no YouTube também retornou o link de uma live feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com candidatos a vereador nas eleições de 2020. No vídeo, o parlamentar apresenta Lenice como candidata por Natal (RN).

Consultamos então o DivulgaCandContas, aplicativo da Justiça Eleitoral. Lenice Silveira Moreira de Moura é advogada, natural de Campinas (SP), e nascida em 29 de dezembro de 1972. Ela se declarou branca e casada ao registrar sua candidatura. Não indicou nenhum bem no seu nome. Ao todo, arrecadou R$ 20.210,92 ao longo da campanha de 2020, tendo doado, ela própria, R$ 2.900,47 desse valor. Lenice era filiada ao PRTB, teve 1.088 votos e acabou não sendo eleita. Como o PRTB não elegeu nenhum vereador, também não ficou na suplência.

Em seu perfil no Facebook, ela defende Bolsonaro, o voto impresso e já tirou foto abraçando a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, quando esta esteve em Natal. No Cadastro Nacional de Advogados (CNA), mantido pela OAB Nacional, ela aparece com o registro 39459/RS.

Segundo o currículo Lattes, Lenice se formou em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Pela mesma instituição, fez um mestrado em Integração Latino-Americana. Depois, concluiu o doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Ela diz que atua nas áreas tributária e empresarial. Até a última atualização do currículo, em setembro de 2018, era professora do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNIRN) e da Faculdade Estácio de Natal.

Vídeo da advogada também é antigo

Na página do Facebook de Lenice, encontramos o vídeo original, publicado em 1º de julho de 2020. Na época, o TSE discutia a adoção do “abuso de poder religioso”. Ele tem 55 segundos e não inclui o trecho do telejornal.

Ela repostou o mesmo vídeo três dias depois, comemorando que ele estava viralizando. Essa segunda versão tem um minuto e sete segundos, já incluindo o trecho do programa da RIT TV. Na legenda, ela afirma “Vejam esse telejornal”. Nessa data, o caso ainda não havia sido decidido pelo TSE.

Em 23 de agosto de 2021, mais de um ano após o tema ter sido rejeitado pelo TSE, ela voltou a republicar o vídeo, dessa vez com uma convocação para que os seguidores participem dos atos convocados para o dia 7 de setembro.

Justificativa

No TikTok, um homem chamado Allan Fernandes publicou o conteúdo verificado aqui. Ele se descreve como “polêmico” e “patriota”. A partir dele, o conteúdo foi parar novamente no Facebook e no YouTube. A conta dele na rede social de vídeo remete para o perfil do próprio no Instagram, onde conseguimos achar o seu número de celular.

Por áudio, ele disse ter informado nos comentários que o debate era antigo e explicou porque compartilhou o vídeo mesmo assim. “Se você analisar direitinho, esse vídeo eu coloquei não dizendo que é um projeto que está em aberto. Foi simplesmente para abrir os olhos da população desse pessoal que quer mandar em tudo, entendeu? Foi só um alerta para abrir os olhos para o que eles querem fazer, o que eles propõem fazer para gente, principalmente o povo cristão”, disse.

“E se você analisar direitinho todo o histórico de comentário, você vai ver lá que eu coloquei que foi em aprovação, mas ele não foi aprovado. Mas é um alerta para abrir os olhos da população. Não coloquei dizendo que é um projeto que vai ser votado”, prosseguiu.

Procurando pelos comentários da publicação verificada, achamos uma mensagem em que Allan diz que a proposta de Fachin “Graças a Deus foi prorrogada, para melhor análise, mas nosso Deus não vai deixar, ser aprovada!”. Ele completa: “Postei aqui para abrir os olhos do povo cristão”. O comentário foi feito no dia 18 de agosto; antes, portanto, de o Comprova entrar em contato com Allan.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos enviados por leitores que falem da pandemia de covid-19, de políticas públicas ou eleições. Só checamos conteúdos que tenham atingido um alto grau de viralização. O vídeo com alegações enganosas sobre a discussão do abuso de poder religioso teve ao menos 29.583 reações no TikTok.

Este conteúdo também já foi checado pelo Coletivo Bereia.

A desinformação sobre eleições mina a confiança da população e desencoraja a participação no processo democrático. O Comprova já mostrou que é enganoso que o voto impresso já estaria previsto em lei e que é falso que urnas brasileiras teriam sido hackeadas nos Estados Unidos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-08-24

É falso que diretor da PF tenha denunciado participação de Lula e STF em trama para matar Bolsonaro

  • Falso
Falso
É falso que o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Paulo Maiurino, tenha denunciado no Twitter um conluio entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assassinar o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Propagado em live pela jornalista Leda Nagle, o boato foi desmentido pela PF em abril deste ano e a própria jornalista também se desculpou em vídeo, admitindo o erro. Um perfil falso havia sido usado para fazer a divulgação usando o nome do delegado.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok mostra a jornalista Leda Nagle lendo um tuíte falsamente atribuído ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, sobre um suposto esquema entre o STF e o ex-presidente Lula para matar Bolsonaro. Material originalmente divulgado em abril, voltou a viralizar neste mês.

É falso que o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Paulo Maiurino, tenha denunciado no Twitter um conluio entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assassinar o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

No boato propagado em live pela jornalista Leda Nagle, são quase dois minutos de vídeo em que ela lê o falso tuíte. Na mensagem, o perfil promete descrever com mais detalhes o plano para matar o presidente da República.

Apesar de não ser recente, o vídeo voltou a ser compartilhado no TikTok, com mais de 80 mil visualizações. A conta de Twitter que apresentava a suposta denúncia não é de Maiurino.

A verdadeira conta do delegado na rede social é @PMaiurino. A conta falsa (@d_delegado) não existe mais. A ex-apresentadora do Sem Censura, da TV Brasil, reconheceu o erro dois dias após a live, em 19 de abril de 2021.

Polícia Federal, STF e Lula se manifestaram mais uma vez sobre o caso, negando o conteúdo. A reportagem do Comprova tentou contato com Leda Nagle, mas não obteve resposta. A conta @adamilsonkorban no TikTok também não respondeu às perguntas enviadas no espaço para troca de mensagens.

O Comprova considerou o conteúdo falso porque ele foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. A equipe tentou falar com o perfil que publicou o vídeo, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos?

O Comprova fez uma busca avançada pela conta do delegado Paulo Gustavo Maiurino no Twitter associada ao nome de Lula, de Bolsonaro e também ao STF. E não há resultado relacionado a nenhum dos três. Essa consulta foi motivada pelo fato de que, embora a verificação seja de uma publicação no TikTok, o conteúdo fazia referência a uma suposta postagem do policial no Twitter.

Ao fazer uma pesquisa convencional com o nome do delegado, no entanto, apareceram vários compartilhamentos do conteúdo suspeito e ainda outras verificações sobre o assunto, como a da Boatos.org, que o classifica como falso.

A reportagem do Comprova também consultou outras checagens sobre o tema, feitas pela Agência Lupa, Aos fatos, Uol Confere e Estadão Verifica. Também usou a ferramenta Wayback Machine para conferir posts da conta atribuída a Maiurino.

O Comprova entrou em contato com o Departamento de Polícia Federal (DPF) para questionar sobre a veracidade das informações imputadas ao chefe da instituição.

Além disso, procurou pelas redes sociais a jornalista Leda Nagle, que aparece no vídeo lendo o texto atribuído a Maiurino, e ainda pela seção “contato”, disponibilizada em seu site para interação com seguidores.

Também foram consultados Lula e o STF, mencionados na publicação, bem como o Twitter, que foi questionado sobre a conta atribuída ao delegado federal, mas não deu um retorno conclusivo. O autor da publicação (@adamilsonkorban) foi procurado por meio de sua conta no TikTok, mas, até a publicação deste texto, não se manifestou.

Verificação

O vídeo

Leda Nagle aparece no vídeo recém-divulgado no TikTok fazendo a leitura de um tuíte no Clube da Notícia, um quadro do seu canal no YouTube em que repercute assuntos do dia. A live é do dia 17 de abril deste ano e atribui ao delegado federal Paulo Maiurino o conteúdo sobre uma suposta armação para matar Bolsonaro.

Em um dos trechos, mostrando a fachada do Supremo, o perfil falso diz que partiu dali, em conjunto com Lula e outros, a ideia do atentado contra o presidente. Dois dias depois, em nota, Leda Nagle pede desculpas pelo erro.

“Algum membro do grupo, por má-fé, ou porque ficou impactado pela notícia, pinçou um trecho de 2 minutos de uma live de 47 minutos e viralizou antes mesmo que eu tivesse voltado com a checagem completa da informação, até porque não tem live no domingo e isto só aconteceria às 20 horas de hoje na live aberta de toda segunda-feira. Lamento o ocorrido”, escreveu a jornalista. Novamente procurada sobre o caso, Leda Nagle não se manifestou.

O vídeo, porém, voltou a viralizar no TikTok há poucos dias, após ter sido publicado pelo perfil @adamilsonkorban. A postagem é acompanhada de hashtags como “#bolsomito”, “#bolsonarotemrazao” e “#fechadocombolsonaro”. As demais publicações do dono da conta sugerem que ele é apoiador de Bolsonaro, pois são reproduções de falas do presidente, de aliados ou de influenciadores bolsonaristas.

Conta verificada

A Polícia Federal desmentiu, em nota enviada ao Projeto Comprova, todo o teor da denúncia lida por Leda, ressaltando que o boato já havia sido refutado em abril. A conta correta que Paulo Maiurino mantém no Twitter é @PMaiurino e tem o selo de verificação da rede social.

Segundo o Twitter, o selo “informa às pessoas que uma conta de interesse público é autêntica”. A rede social também esclarece que, para receber a verificação, o perfil deve ser autêntico, notável e ativo. O perfil @d_delegado não continha a marca.

A reportagem ainda consultou outras checagens sobre o tema, feitas pela Agência Lupa, Aos fatos, Boatos.org, Uol Confere e Estadão Verifica.

Com o auxílio do Wayback Machine, a reportagem da Lupa verificou uma série de tuítes do perfil @d_delegado, que vão de “curtidas” em tuítes de Jair Bolsonaro e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) a ofensas contra petistas. Chegam até mesmo a uma tentativa de golpe em apoiadores do presidente. O Comprova confirmou a existência dos posts a partir da mesma ferramenta.

“Preciso de parceiros que possam ajudar financeiramente a entrega de mais de 2,5 mil cestas básicas, as cestas já temos precisamos da doação financeira para podermos pagar o transporte, será entregue em 6 estados para mais de 1,5 mil famílias, se você puder ajudar me chame no privado!”, escreve o perfil fraudulento.

A Polícia Federal é uma instituição de estado, e não de governo. Isto é, embora seja do presidente da República a prerrogativa de nomear o diretor-geral da instituição, os policiais federais têm autonomia para executar quaisquer investigações, inclusive contra membros do governo federal. O Ministério da Justiça está diretamente acima da Polícia Federal na cadeia de comando, mas não tem poder para interferir na atuação da instituição, de modo a cessar ou estimular investigações.

Dessa forma, falas a favor de um governante de turno (“vocês querendo ou não, eu sou a favor do @jairbolsonaro”) ou contrárias a políticos, ou organizações partidárias (“petistas vagabundos”) soam suspeitas, vez que os gestos maculam a credibilidade de agentes federais que podem, eventualmente, conduzir investigações contra os alvos destes comentários.

O que dizem STF e Lula

Em abril passado, o STF publicou um texto no site oficial para alertar sobre o conteúdo falso relacionando a instituição à suposta armação para matar Bolsonaro. Em um dos trechos, ressaltava “a importância da checagem de informações suspeitas, como forma de evitar a propagação de fake news com o nome de autoridades e membros da Suprema Corte”. Questionado sobre o assunto pelo Comprova, o STF compartilhou o link do mesmo alerta para responder à nova viralização do conteúdo falso.

O ex-presidente Lula também foi procurado e, segundo reforçou a assessoria, a própria jornalista Leda Nagle já pediu desculpas por divulgar o boato.

“Infelizmente, grupos bolsonaristas têm usado fake news com fins políticos contra a democracia, o combate à covid-19 e o povo brasileiro. As autoridades e as plataformas de redes sociais ainda não têm conseguido impedir que grupos de profissionais de fake news atuem na política”, acrescentou, em nota.

Atentado contra Bolsonaro

Durante a campanha presidencial, em 6 de setembro de 2018, Bolsonaro sofreu um atentado em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ele levou uma facada no abdômen, golpe desferido por Adélio Bispo de Oliveira – diagnosticado, posteriormente, com uma doença mental e, portanto, inimputável.

Após o crime, várias teorias conspiratórias passaram a circular nas redes sociais, e alimentadas pelo próprio presidente Bolsonaro, de que o atentado teria o envolvimento de opositores. Adélio Bispo já havia sido filiado ao PSOL, mas tinha deixado o partido quatro anos antes do ataque. Na ocasião, Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, afirmou que o partido não deveria responder pelo ex-filiado, mas repudiou o ato. Em nota, declarou se tratar de “um grave atentado à normalidade democrática e ao processo eleitoral.”

Na resposta da Polícia Federal sobre o post atribuído a Paulo Maiurino, a instituição faz referência ao atentado sofrido por Bolsonaro no período de campanha eleitoral. “Sobre as investigações relativas ao atentado ao então candidato à Presidência, foram abertos dois inquéritos, os quais foram concluídos e encaminhados à Justiça.” Nos dois documentos, a conclusão da polícia foi que Adélio Bispo agiu sozinho.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. O vídeo aqui verificado teve mais de 80 mil visualizações e 6,5 mil curtidas.

Neste conteúdo estão citados dois prováveis candidatos à Presidência da República nas eleições de 2022 – Jair Bolsonaro e Lula –, criando uma situação falsa de enfrentamento fora das disputas democráticas do sistema eleitoral. Além disso, lança suspeita sobre o STF, órgão que tem sido constantemente atacado por grupos bolsonaristas e pelo próprio presidente.

Desde que iniciou a verificação relacionada às eleições, o Comprova já mostrou que inquérito da Polícia Federal não investiga fraude em votação, que pesquisa antiga engana ao ser usada para sugerir que Bolsonaro é aprovado por metade da população e que frase de ministra do STF é retirada de contexto para dizer que Lula não poderá se candidatar em 2022.

Sobre o conteúdo verificado, a página Boatos.org o classificou como falso, assim como o Uol Confere, Agência Lupa e o Estadão Verifica. O STF também emitiu um alerta sobre a postagem falsa, como já informado.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Eleições

Investigado por: 2021-08-13

Inquérito da PF não investiga fraude no processo de votação

  • Enganoso
Enganoso
A Polícia Federal não concluiu, em um inquérito, que houve invasão às urnas eletrônicas ou fraude no sistema de votação. O ataque hacker ao TSE, investigado pela PF e mencionado pelo presidente Bolsonaro, só atingiu o sistema interno do Tribunal, sem comprometer as eleições.
  • Conteúdo verificado: Postagens virais no Instagram e Facebook, além de um vídeo no YouTube, afirmam que o presidente tem provas sobre a insegurança das urnas eletrônicas – se referindo a documentos sigilosos de uma investigação da Polícia Federal publicados por Bolsonaro no Twitter.

Não é verdade que um inquérito da Polícia Federal prove que as urnas eletrônicas brasileiras já foram invadidas ou que já houve qualquer fraude no sistema eleitoral.

As alegações circulam em postagens enganosas no Facebook e Instagram, além de terem sido repetidas por um youtuber, em vídeo que viralizou.

Todos se referem aos documentos publicados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais, que se tratam, de fato, da investigação da PF sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nem as publicações, nem o chefe do executivo mencionam, porém, que a invasão foi ao sistema interno do TSE, sem qualquer implicação na segurança das urnas eletrônicas – que contam com dispositivos adicionais de proteção.

Não há no inquérito nenhum dado relevante ou que comprove as alegações. Em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, as fontes ouvidas — estudiosos do tema e um participante da investigação — confirmaram que não há prova de fraude ou de mudanças no código-fonte do software de votação.

A Polícia Federal foi procurada, mas disse apenas, por email, que não comenta inquéritos em andamento.

O Comprova considera as postagens enganosas, porque usam dados imprecisos ou que induzem a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Primeiramente, assistimos à entrevista concedida pelo presidente ao programa Pingos nos Is, da Jovem Pan, para saber melhor sobre as alegações feitas por ele.

Em seguida, analisamos o conteúdo dos documentos publicados por Bolsonaro em sua conta oficial no Twitter: o inquérito 1.468, da Polícia Federal, que investiga a invasão do sistema GEDAI; o relatório do TSE sobre o caso; o ofício da denúncia de fraude e o email do servidor hackeado. Nesta sexta-feira (13) os documentos não estavam mais disponíveis nos links disponibilizados pelo presidente.

Depois, buscamos o posicionamento do TSE a respeito das alegações e entramos em contato com a Polícia Federal para tentar obter mais detalhes a respeito do inquérito. O Tribunal havia publicado uma nota sobre o assunto, mas a PF disse que não se pronuncia a respeito de investigações que estão em andamento — apesar de ter confirmado que o documento publicado pelo presidente é verdadeiro.

Procuramos por especialistas em segurança digital e no sistema eletrônico de votação e, ainda, por reportagens já publicadas em outros veículos sobre o assunto.

Tentamos contato com os responsáveis pelas postagens, por email e mensagem nas próprias redes sociais onde o conteúdo foi publicado, mas não tivemos retorno até a conclusão desta verificação.

Verificação

Urnas não foram comprometidas

Não há, nos documentos divulgados por Bolsonaro, qualquer conclusão que aponte para a insegurança das urnas eletrônicas ou para a possibilidade do processo de votação ter sido afetado.

A investigação foi aberta pela Polícia Federal em 8 de novembro de 2018, na Superintendência Regional do Distrito Federal, após ser acionada pelo TSE. A motivação foi a suposta invasão de um hacker ao Sistema Gerenciador de Dados, Aplicativos e Interface com a Urna Eletrônica (GEDAI-UE) – aplicativo que permite a instalação na urna das listas com os nomes e dados dos candidatos, junto com o software do sistema de votação, além de registrar a presença dos eleitores –, e ainda o acesso a documentos sigilosos do Tribunal Superior Eleitoral. O caso foi descoberto a partir de uma reportagem do jornalista Felipe Payão, do Portal TecMundo, que foi contatado pelo hacker.

Em 210 páginas, o inquérito mostra que foram adotadas várias diligências diferentes pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal para a investigação do caso, mas não há conclusão ou suspeita de que as urnas eletrônicas tenham sido comprometidas.

Na reportagem publicada pela Folha a respeito do assunto, os especialistas ouvidos também ressaltam que o inquérito não tem nenhuma conclusão neste sentido. “E, mesmo se o atacante tivesse obtido acesso de escrita ao repositório de códigos-fonte interno do TSE, o Git [sistema de controle] tem algumas salvaguardas contra modificações no repositório central de códigos: ele guarda o histórico de alterações, e não é possível alterar o histórico antigo. Então, seria possível detectar se houve modificação pelo invasor”, diz o professor Paulo Matias, do Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos.

Nesta quinta-feira (12), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu uma notícia-crime do TSE e mandou investigar Bolsonaro por suposto vazamento de dados sigilosos em relação ao inquérito da PF.

Código-fonte não é sigiloso

O caso de 2018 também foi alvo de uma sindicância interna do TSE, cujos documentos constam no inquérito. Em um ofício que trata das consequências da invasão, o secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal, Giuseppe Dutra Janino, afirma que “o código-fonte do GEDAI-UE, acompanhado de seus binários compilados, permite a importação de dados; contudo, o software de urna utilizado não tem as assinaturas oficiais da lacração, o que fica evidenciado pelo LED de segurança da urna e pelos procedimentos de verificação de hash, que são resumos digitais realizados para garantir que os códigos lacrados são os mesmos que auditados, e assinatura; também não seria possível a geração de um boletim de urna válido para a totalização a partir disso”.

O código-fonte do software de votação, que corresponde ao programa inserido na urna eletrônica, é sempre analisado por técnicos dos partidos políticos, Polícia Federal, Ministério Público Federal e entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Não se trata, portanto, de um arquivo sigiloso.

No dia 12 de agosto, aliás, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, anunciou que o prazo para análise do programa pelos representantes dos partidos será ampliado: todos receberão o dado em 1º de outubro, um ano antes do primeiro turno de 2022. A ideia é fortalecer a publicidade e a transparência dos mecanismos que garantem a segurança do processo eleitoral.

Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro chegou a afirmar que no período de abril a outubro de 2018 o código-fonte esteve na mão de um hacker, e que, por isso, poderia ter “acontecido tudo, aperta 17 e sai nulo”. Em entrevista à Folha, Diego Aranha, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, contesta a hipótese levantada pelo presidente. “É naturalmente falso o argumento de que a posse do código-fonte é suficiente para provocar fraude. Se fosse o caso, os fiscais de partidos políticos que possuem acesso ao código-fonte nas dependências do TSE estariam fraudando as eleições a torto e a direito desde o princípio, o que não é nada razoável de se assumir”, afirma.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre governo federal, pandemia e eleições que tenham atingido alto grau de viralização. As afirmações aqui verificadas tiveram ao menos 20,6 mil interações no Instagram e o vídeo foi visualizado 445,9 mil vezes no YouTube.

Conteúdos que questionam a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro por meio de informações manipuladas e enganosas corroboram as acusações, sem fundamentos, que o presidente faz constantemente à autenticidade do processo eleitoral. Desde o início do voto eletrônico no Brasil, em 1996, nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado.

Desde a última eleição presidencial, quando as supostas falhas no sistema eleitoral passaram a ser divulgadas, o Comprova já verificou diversas vezes conteúdos falsos e enganosos sobre o assunto. Entre as checagens mais recentes está uma de julho deste ano que engana ao afirmar que o resultado de uma enquete sobre o voto impresso reflete opinião da população. Em outubro do ano passado, o projeto mostrou que um documento não prova fraude nas eleições de 2018 nem comprova vitória de Bolsonaro no 1º turno. No mês seguinte, duas publicações do Comprova apontaram para o fato de o voto eletrônico no Brasil já ser auditável.

Para o Comprova, um conteúdo é enganoso quando confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano, porque usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor, além de ter sido retirado do contexto original e usado em outro, com alterações no significado.