O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Política

Investigado por: 12/08/2025

Trump não ameaçou enviar tropas contra Alexandre de Moraes

Política
Publicação no TikTok distorceu uso da Lei Magnitsky pelo presidente dos EUA, que não fez qualquer declaração sobre ação militar no Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não ameaçou enviar tropas para prender Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), diferentemente do que afirma post viral no TikTok.

O autor da publicação cita a Lei Magnitsky e diz que o envio de militares seria porque o magistrado brasileiro estaria “violando gravemente a democracia e os direitos humanos”. De fato, Trump usou a norma contra Moraes, mas em nenhum momento sugeriu publicamente que enviaria militares para o Brasil.

Como o Comprova já mostrou, a Lei Magnitsky está prevista na legislação norte-americana e é aplicada contra estrangeiros acusados de corrupção ou violação dos direitos humanos.

Trump já relacionou a aplicação da Lei Magnitsky à condução de Moraes de processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. No relatório anual do Departamento de Estado, os Estados Unidos disseram que a situação geral dos direitos humanos enfraqueceu sob o governo Lula e acusaram o Judiciário de suprimir o discurso de apoiadores de Bolsonaro.

Da mesma forma, não é verídico que Lula colocou as Forças Armadas brasileiras de prontidão, como afirma o conteúdo investigado. O presidente brasileiro disse que não deve ligar no momento para Trump porque “ele não fala em negociação”. “Um presidente não pode ficar se humilhando para outro. Quando minha intuição disser que Trump quer negociar, não terei dúvida de ligar”, disse Lula.

A reportagem pesquisou o tema no Google e não obteve nenhum resultado que confirme as alegações, nem na imprensa nacional nem na internacional. Também buscou por “Moraes” no site da Casa Branca, e não há nenhum registro de Trump falando sobre enviar militares para o Brasil. O resultado da pesquisa traz dois links, de 30 de julho deste ano, abordando o mesmo assunto: um é a medida assinada pelo presidente americano impondo tarifas mais altas para o Brasil e o outro é um informativo sobre a medida.

Entre os comentários da publicação, há usuários que demonstram acreditar no conteúdo investigado, incluindo mensagens de apoio a Donald Trump, e declarações de que brasileiros “de bem” estariam ao seu lado.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil, que tinha 139,9 mil seguidores até 12 de julho, se diz uma página de notícias, mas publica diversos conteúdos falsos. Alguns exemplos, além do post verificado nesta checagem, incluem a afirmação de que o impeachment de Alexandre de Moraes havia sido aprovado e a alegação de que Trump acusou a CIA de se envolver nas eleições brasileiras. Não há, porém, qualquer registro oficial que confirme as duas alegações.

O vídeo acumulava, até o momento desta publicação, 109 mil curtidas, 14 mil comentários, quase 9 mil salvamentos e 19 mil compartilhamentos, além de 2,5 milhões de visualizações. O Comprova tentou contatar o dono do perfil, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O vídeo do post, criado com inteligência artificial misturando imagens de Trump e Moraes, começa usando um dos recursos mais frequentes no mundo da desinformação: a palavra “bomba”. Ao utilizar linguagem alarmista, os desinformadores sabem que têm mais chance de que seus conteúdos sejam disseminados. Isso porque o tom de urgência aumenta as chances de o espectador não refletir sobre o assunto, pensar se aquilo faz sentido e, assim, aumenta a possibilidade de as pessoas acreditarem no conteúdo.

Outra tática é o uso de autoridades. Quando o autor diz que Trump fez tais ameaças ao vivo, ele tenta dar credibilidade ao conteúdo. É mais forte dizer que o presidente dos Estados Unidos fez tal declaração do que afirmar “segundo fontes” – embora esta expressão também seja usada por desinformadores.

Fontes que consultamos: Site da Casa Branca e Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já publicou texto sobre a Lei Magnitsky. Especificamente sobre posts dizendo que Trump ameaçou enviar tropas para o Brasil, o UOL Confere e o Fato ou Fake, do G1, também desmentiram os conteúdos.

Saúde

Investigado por: 12/08/2025

USAID financiou projetos sociais no Brasil e não a imprensa

Saúde
Agência norte-americana destinou recursos a projetos de saúde, educação e assistência social

Não há registro de nenhuma transferência de dinheiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, a USAID, para veículos de imprensa brasileiros. Uma postagem no X engana ao afirmar que a USAID “pagou para a imprensa aumentar os números de mortes” de covid-19 no Brasil. A acusação é uma referência ao consórcio de veículos de imprensa criado em 2020 para divulgar os dados da pandemia no país, mas ela não se sustenta. A coleta de dados era feita diretamente com as secretarias de saúde estaduais e os números batem com o que foi divulgado pelo governo federal.

A publicação desinforma ao dizer que a USAID buscava “estigmatizar [o então presidente Jair] Bolsonaro como responsável [pelas mortes por covid-19] só para influenciar nas eleições”, fazendo referência ao processo eleitoral brasileiro de 2022. A criação do consórcio foi uma resposta a ações do governo de Jair Bolsonaro, hoje no PL. Em 6 de junho de 2020, o Ministério da Saúde passou a divulgar apenas os dados de covid-19 referentes a novos casos e óbitos nas últimas 24 horas, retirando os totais acumulados e outros índices importantes.

Diante disso, dois dias depois, nasceu o Consórcio de Veículos de Imprensa, com a iniciativa de levantar e totalizar diariamente os números de casos e mortes coletados das secretarias estaduais de saúde, contornando a ausência de consolidação por parte do Ministério da Saúde. O consórcio foi extinto em janeiro de 2023, após os dados federais terem se mostrado confiáveis.

No ano fiscal de 2022, que vai de 1º de outubro de 2021 a 30 de setembro de 2022, a USAID destinou ao Brasil mais de US$ 29,2 milhões em investimentos a projetos como o Fundo Amazônia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Já no exercício seguinte, encerrado em setembro de 2023, foram destinados US$ 19,9 milhões a organizações que atuam no país.

O Comprova fez uma busca nos projetos da USAID e não encontrou nenhum registro que tenha relação com as denúncias feitas pelo perfil investigado. Os recursos foram direcionados a projetos nas áreas de saúde, educação e assistência social. Esses fundos podem ser acessados no site ForeignAssistance.gov. Não há nenhum registro de pagamentos feitos à rede Globo nos últimos 20 anos.

O boato ganhou força pela primeira vez em 4 de fevereiro de 2025, após Mike Benz, ex-funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos durante o primeiro mandato de Donald Trump, afirmar que “se a USAID não existisse, Bolsonaro ainda seria o presidente do Brasil”, em entrevista ao podcast War Room do estrategista político e ex-assessor de Donald Trump Steve Bannon.

Em 6 de agosto de 2025, Benz afirmou, em uma audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Credn) da Câmara dos Deputados, que recursos teriam sido usados para atacar políticos de direita e favorecer a “censura nas redes sociais”. O ex-funcionário, no entanto, não apresentou provas.

Não é a primeira vez que boatos da USAID circulam pela Internet. Em fevereiro, o Comprova mostrou que é falso que Agência Lupa foi financiada pela USAID para interferir nas eleições de 2022.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação investigada foi feita por um perfil no X com 27,8 mil seguidores, que se apresenta como “Pai de família, empreendedor, músico…”.

O conteúdo mantém o padrão de postagens anteriores do usuário, que costuma atacar figuras da esquerda, como a ministra Gleisi Hoffmann, a quem acusa de defender um “projeto explícito de censura”. O perfil também é recorrente nas críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

Por outro lado, a página costuma compartilhar materiais de influenciadores alinhados à direita, como Rodrigo Constantino e a página Advogados de Direita Brasil. Até o momento desta verificação, a publicação acumulava 79,5 mil visualizações, 8 mil curtidas, 2 mil republicações e 114 comentários.

Parte dessas interações indica que alguns usuários demonstram acreditar nas alegações feitas no post. “Eu não estou nada surpreso. Pessoas informavam que tudo era covid, iam ao hospital com gripe e tinham diagnóstico de covid”, disse um usuário. O Comprova tentou contato com o perfil, mas ele não permite o recebimento de mensagens privadas pela plataforma.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O autor da postagem apela para o sentimento de desconfiança de quem já suspeita das instituições ou da imprensa, ao sugerir que há uma conspiração secreta por parte de entidades poderosas e que informações importantes estão sendo ocultadas do público.

A publicação espalha a mensagem com ironia, criando uma dúvida em quem lê e oferecendo uma falsa impressão de que algo suspeito aconteceu.

Apesar de não apresentar evidências, as postagens possuem milhares de visualizações, curtidas e comentários, o que pode gerar a falsa percepção de credibilidade.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre o tema, audiência pública da Câmara dos Deputados sobre a interferência da USAID no Brasil e dados sobre os investimentos públicos da USAID no Brasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Sobre a USAID, o Comprova já mostrou que é falso que Agência Lupa foi financiada pela agência para interferir nas eleições de 2022 e que imagem de Alexandre de Moraes com boné do órgão foi gerada por IA.

Notas da comunidade: Até o fechamento deste texto não havia “notas da comunidade” nas postagens no X.

Política

Investigado por: 08/08/2025

Tarifas de Trump seguem em vigor; vídeo no X espalha informação desatualizada

Política
Trecho de reportagem publicada em maio circula na rede social como se fosse notícia atual.

As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não estão bloqueadas pela justiça norte-americana, ao contrário do que afirma vídeo viral na plataforma X. A publicação noticia um fato desatualizado ao utilizar um trecho do programa jornalístico Bom Dia Brasil, da Rede Globo, exibido em 29 de maio de 2025.

Na época, o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos bloqueou o tarifaço de Trump, alegando que o presidente extrapolou sua autoridade ao invocar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) para impor tarifas no comércio com quase todos os países do mundo.

No documento, o tribunal concluiu que as ordens tarifárias globais e de retaliação excedem qualquer autoridade concedida ao presidente pela IEEPA para regular a importação por meio de tarifas.

Entretanto, no dia seguinte, a Justiça americana atendeu a um pedido do governo dos Estados Unidos e determinou que as tarifas continuassem valendo enquanto o recurso da Casa Branca contra a suspensão era analisado.

Em 31 de julho, foram ouvidos pela Justiça americana empresários e autoridades estaduais que contestaram o tarifaço. A decisão pode durar semanas e chegar até a Suprema Corte. Enquanto isso, as tarifas seguem aplicadas.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação foi feita por um perfil verificado na plataforma X, que possui 24,3 mil seguidores. Na biografia, o perfil se define como “feminista, eclética, ateia, humanista, antifascista, socialista” e traz a frase: “quem não luta por aquilo que acredita é porque não acredita em nada”.

A foto de capa exibe a sigla BRICS, com cada letra acompanhada pela bandeira de um dos países do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Em uma das postagens, o perfil relata já ter enfrentado restrições na própria plataforma, ao compartilhar a captura de tela de um aviso do X: “para evitar bloqueios futuros ou suspensão da conta, confira as regras do X”. Na legenda, escreveu “de novo gente, tá difícil”, sugerindo que esse não teria sido o primeiro episódio de bloqueio.

O perfil tem histórico de publicações alinhadas à esquerda, frequentemente em tom noticioso, com críticas a líderes da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump. O Comprova não conseguiu entrar em contato com o perfil, pois ele não está configurado para receber mensagens.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação faz uso de autoridade ao inserir um trecho real do Bom Dia Brasil, com imagens e vozes reconhecíveis das jornalistas Ana Luíza Guimarães e Raquel Krähenbühl. Isso dá uma aparência de legitimidade à informação, mesmo que ela esteja desatualizada.

Em seguida, há o apelo visual e textual com a imagem de Donald Trump acompanhada de uma legenda impactante (“Justiça americana cancela tarifa que o presidente Trump tinha colocado no mundo todo”), apresentada de forma simplificada, o que favorece o entendimento superficial e rápido.

A tática de atualização enganosa também é evidente: a informação foi verdadeira em maio, mas é reapresentada sem contexto temporal, o que pode levar o público a acreditar que o fato é recente. Essas estratégias tornam o conteúdo convincente para quem não verifica a data da reportagem nem checa fontes oficiais.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre as tarifas e documentos oficiais da Justiça dos Estados Unidos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou conteúdos semelhantes envolvendo tarifas e sanções impostas pelos Estados Unidos. Recentemente, publicou na seção Comprova Explica detalhes das sanções e da Lei Magnitsky e mostrou que o Pix não pode ser taxado pelo governo norte-americano.

Notas da comunidade: O post não conta com notas da comunidade até o momento da publicação desta verificação.

Política

Investigado por: 07/08/2025

Vídeo de mulher na Geórgia circula como se fosse empresária a caminho de hospedagem em Belém

Política
Publicação na rede social X diz que pessoa estaria mostrando o percurso que teria de fazer até sua acomodação para a COP 30, com preço de R$ 300 mil. Na realidade, o vídeo foi feito na Europa

Diferentemente do que sugere uma publicação no X, o vídeo que mostra uma mulher vestida com blazer preto e sapato de salto alto caminhando por uma área de moradias simples, ruas de terra e vegetação rasteira a caminho de uma hospedagem de R$ 300 mil por semana não foi gravado em Belém, no Pará, cidade que sediará a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em 2025 (COP30).

O Comprova verificou que, na verdade, a gravação foi feita em Tbilisi, capital da Geórgia, na Europa. O conteúdo circula de forma enganosa, ao ser vinculado a críticas sobre os altos preços de hospedagem durante o evento internacional.

Com base em uma das notas da comunidade vinculadas à postagem no X, o Comprova identificou que o vídeo parece ter sido gravado nas proximidades da Fortaleza Narikala, em Tbilisi. No final da peça audiovisual, a construção é avistada ao fundo. Uma pesquisa reversa no Google Lens e buscas no Google Maps resultaram em fotos da construção, indicando que o vídeo seria da cidade europeia, e não de Belém. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Belém também respondeu ao Comprova que, pela área montanhosa e pela geografia da região exibida, o vídeo não é da capital paraense.

Veja, abaixo, a comparação entre as imagens do vídeo investigado (à direita), e imagens da fortaleza em Tbilisi.

O vídeo original foi postado por uma influenciadora no TikTok e já teve mais de 8 milhões de visualizações. A conta dela possui mais de 6 mil seguidores e ultrapassa 1 milhão de curtidas. As imagens foram republicadas também em outras páginas de entretenimento. A legenda da publicação não menciona a localização, mas a Geórgia é citada como possível local do vídeo por usuários do TikTok em comentários. Em um deles, a própria autora do vídeo confirma que as imagens foram feitas na Geórgia.

No X, tuíte que acompanha o vídeo sugere que a mulher seria uma empresária que percorre um caminho em uma região de aparente pobreza para chegar à sua hospedagem de valor exorbitante. O autor da postagem não cita fonte da informação e o conteúdo publicado não possui recursos textuais que identifiquem o local.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

No X, a publicação foi repostada por um perfil com 282 mil seguidores, que se apresenta como uma página de entretenimento. O canal costuma veicular conteúdos de tom humorístico, como sátiras e memes sobre temas variados, incluindo política nacional e internacional.

Nos últimos dias, o perfil tem publicado postagens críticas à realização da COP30 em Belém, especialmente aquelas que questionam a infraestrutura da cidade para sediar o evento. Embora a página publique materiais de humor, não há nenhum indicativo na publicação de que o vídeo da suposta empresária que viria a Belém para a COP 30 seria algum tipo de sátira. O Comprova tentou contato, mas não obteve retorno, já que o perfil bloqueia o recebimento de mensagens.

A peça investigada já acumula 2,5 milhões de visualizações no X, além de 3 mil republicações e 20 mil curtidas. O vídeo, no entanto, foi originalmente publicado no TikTok, na conta pessoal de uma influenciadora.

Uma análise do perfil no TikTok confirma que a mulher exibida é a mesma que aparece no vídeo verificado pelo Comprova. Tanto na descrição da conta quanto na publicação original ela não informa o local da gravação. O Comprova tentou contato com a influenciadora para questionar o contexto em que o vídeo original foi gravado, mas não obteve retorno.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação exagera e utiliza contraste visual como estratégias principais para persuadir o internauta. Ao mostrar uma mulher caminhando por uma área simples, com ruas de terra e moradias precárias, ela associa essa imagem a um suposto valor de R$ 300 mil por semana para hospedagem durante a COP30. Dessa forma, a postagem causa espanto e revolta ao dar a sensação de disparidade imobiliária ao demonstrar uma contradição entre a precariedade da infraestrutura e os preços praticados no mercado.

A postagem também explora polêmica atual, ao se ancorar nas discussões recentes sobre preços abusivos de hospedagens em Belém, reforçando um cenário negativo já sensível à opinião pública. Essas táticas ampliam o engajamento da publicação, espalhando uma informação que não é verdadeira.

Fontes que consultamos: A partir das informações divulgadas nas notas da comunidade, o Comprova buscou a publicação original no TikTok e comparou as imagens da Fortaleza Narikala que constam no vídeo com as que aparecem no Google Maps por meio de busca reversa. Também houve tentativa de contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Belém.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que os filhos do ministro Luís Roberto Barroso não foram deportados dos Estados Unidos nem estão foragidos em consulado e que o Pix é alvo de investigação comercial do governo norte-americano, mas não pode ser taxado por Donald Trump

Notas da comunidade: Usuários do X adicionaram contexto à publicação, afirmando que o vídeo foi filmado em Tbilisi e que a torre no final da gravação seria a Fortaleza Narikala.

Política

Investigado por: 07/08/2025

Vídeo tem áudio manipulado com IA para inventar apoio de Luciano Hang a Lula em 2026

Política
Empresário desejou boa sorte ao presidente em vídeo de 2023, mas nunca declarou publicamente que votaria no petista em 2026.

O empresário Luciano Hang, cofundador e proprietário da Havan, não declarou voto em Lula (PT) nas eleições de 2026, ao contrário do que sugere post publicado no TikTok. Ele teve seu rosto e voz manipulados por inteligência artificial.

Embora a legenda do post traga o aviso “marcado pelo criador como gerado por IA”, o conteúdo foi enviado à verificação por um leitor, o que indica que há pessoas que podem ter acreditado na autenticidade do vídeo.

Na verdade, como verificado pelo Comprova, a imagem usada no post é verdadeira; o que foi manipulado foi o áudio. Fazendo uma busca no perfil oficial de Hang no TikTok, a reportagem encontrou o vídeo usado na publicação verificada aqui.

Nele, Hang não menciona Lula ou as eleições de 2026 em nenhum momento. Em um vídeo sobre a Havan chegando aos 40 anos, o empresário fala sobre qual seria o “segredo do sucesso” do seu negócio.

Por meio da comparação entre o vídeo original, publicado por Luciano Hang, e o material manipulado, é possível notar que os movimentos corporais do empresário são idênticos nos dois registros. Isso indica o uso de deepfake, tecnologia que permite criar vídeos realistas em que pessoas parecem dizer ou fazer algo que nunca aconteceu. Como afirmado acima, a manipulação foi apenas no áudio.

Ao comparar o vídeo verificado e o publicado por Hang, é possível ver que são os mesmos; o desinformador usou imagens do conteúdo original e alterou a voz com uso de IA. Nas imagens, os olhos, a expressão do rosto e a posição das mãos e da cabeça mantêm-se a mesma, mas a boca parece diferente em função do uso de IA para manipular a fala. Confira alguns detalhes:

1 – Mãos abertas

2 – Mãos juntas

3 – Mãos entrelaçadas

4 – Uma mão sobre a outra

5 – Mão direita fechada no canto da imagem

Ao buscar declarações do empresário sobre Lula no Google, os resultados mostram que, em janeiro de 2023, logo após Lula assumir como presidente, Hang publicou um vídeo torcendo pela nova gestão. “Agora temos um presidente novo, temos um governo novo. Vamos torcer para o piloto, como eu sempre falo, fazer uma ótima viagem. Eu estou dentro do mesmo avião”, disse o empresário.

Antes disso, durante o período eleitoral, em 2022, Hang havia feito campanha para Jair Bolsonaro (PL), participando de eventos promovidos pelo ex-presidente. O Comprova tentou contato com o empresário, mas não obteve resposta até o momento desta publicação.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi criada por um perfil que possui 10,9 mil seguidores no TikTok. A conta utiliza como foto de perfil a expressão “Breaking News” em caixa alta, acompanhada de uma sirene vermelha, o que sugere uma estética voltada à divulgação de conteúdos noticiosos.

A biografia da conta, no entanto, permanece sem descrição, e o vídeo investigado é o único conteúdo publicado até o momento desta verificação. O vídeo atingiu 778,2 mil visualizações, o que indica alto alcance e potencial de viralização, mesmo sem histórico anterior de postagens.

Tentamos contato com o responsável pelo perfil para entender se é o autor original do conteúdo ou apenas um reprodutor, bem como para questionar suas fontes e intenções com a publicação, mas o perfil está bloqueado para receber mensagens.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza táticas de persuasão como o uso de figura de autoridade, ao colocar Luciano Hang, empresário conhecido por seu posicionamento político, como suposto autor da fala, conferindo credibilidade ao conteúdo.

Há também apelo à emoção, especialmente à surpresa, ao apresentar uma suposta mudança radical de posicionamento político. A frase “vou contar coisas que ninguém nunca teve coragem” sugere teoria da conspiração e instiga a curiosidade do público, incentivando o engajamento.

Além disso, o vídeo utiliza elementos visuais apelativos, como a imagem do presidente sorrindo com a frase “Lula 2026”, para reforçar a narrativa de apoio e gerar maior impacto visual.

Fontes que consultamos: Matérias jornalísticas envolvendo Luciano Hang, NotebookLM para transcrição do áudio.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova mostrou que vídeo distorce fala de Lula para atribuir a ele ataque à democracia e que vídeo usa IA para manipular imagens do presidente no G7 e simular embriaguez. Em maio de 2024, o Comprova mostrou que é falso que Luciano Hang tenha mais aeronaves atuando no Rio Grande do Sul do que a Força Aérea Brasileira.

Eleições

Investigado por: 04/08/2025

Adélio atacou Bolsonaro sem auxílio externo, concluíram investigadores e a Justiça

Política
Posts em redes sociais que associam deputado petista ao crime contra o então candidato Jair Bolsonaro voltaram a circular.

Não há evidências de participação do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) como mandante da facada contra Jair Bolsonaro (PL) em 2018, cometida por Adélio Bispo de Oliveira. Postagens divulgadas nas redes sociais alegam que o carro em que Adélio foi até o local estava no nome do parlamentar, mas não apresentam qualquer prova ou fonte da informação.

A investigação também não menciona qualquer carro supostamente usado por Adélio no dia do crime. Um dos inquéritos cita apenas que ele estava em meio à população que se manifestava, seguindo apoiadores no trajeto da passeata e “sempre próximo à célula de segurança” formada por policiais federais. Reportagem da TV Globo um dia após o crime citou que Adélio teria se deslocado a pé.

O autor do crime, cometido em Juiz de Fora (MG), está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) e foi investigado em dois inquéritos na Polícia Federal, em 2019 e 2020. Ambos concluíram que Adélio agiu sozinho. O mais recente, aberto para apurar se Adélio contou com apoio de algum cúmplice ou teria recebido dinheiro para executar o crime, foi arquivado após o juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, aceitar os argumentos do Ministério Público Federal (MPF) e dos inquéritos da PF de que não há indícios dessas possibilidades.

A decisão aponta ainda que Adélio seria inimputável por sofrer de Transtorno Delirante Persistente (Paranoia). Por conta disso, ele deveria permanecer internado por tempo indeterminado em instituição de saúde mental. Por falta de vagas deste tipo na rede de saúde pública mineira e pelo possível risco à segurança de Adélio, a Justiça determinou que ele continue internado na penitenciária de Campo Grande. O assunto é alvo de um conflito de competências entre a Justiça Federal de Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul. A sentença contra Adélio indica ainda que o crime foi cometido de forma “extremamente rudimentar” com uma faca que era utilizada como utensílio de cozinha, o que derrubou teses de apoio material ou financeiro.

“Não foram comprovados (sic), por exemplo, a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou mesmo paramilitares em qualquer das fases do ato criminoso (cogitação, preparação e execução)”, diz o documento assinado pelo delegado da PF Rodrigo Morais Fernandes.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O Comprova analisou publicações de dois perfis no X. O primeiro conta com mais de 91,5 mil seguidores. O perfil tem publicações críticas ao governo Lula (PT) e à esquerda política. Entramos em contato com o autor, que alegou ter feito a postagem para comentar boatos que viu na internet. Ele cita vídeo de suposto militar que teria feito a acusação a Lindbergh Farias. O perfil mencionado pelo autor foi desativado e não conseguimos localizar o titular.

A segunda postagem analisada foi feita por um perfil com 10,6 mil seguidores. A conta publica constantemente conteúdos de perfis de viés bolsonarista, que defendem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e fazem críticas a Lula e a Alexandre de Moraes. A autora também publica afirmações sem comprovação e sem citação de fontes.

Por que as pessoas podem ter acreditado

As postagens evitam trazer afirmações e lançam dúvidas sobre o leitor. Frases como “se foi ou não, talvez um dia seja investigado e confirmado” e “faz sentido” incitam a curiosidade e podem gerar suspeitas em quem lê a postagem.

Outra característica é a ausência de fontes, o que dificulta a verificação, bem como o aviso de que mais informações devem ser reveladas em breve.

Fontes que consultamos: Postagens na imprensa sobre o caso, relatório oficial da PF, assessoria do deputado e da Justiça Federal de Minas Gerais.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou ser falso que Adélio Bispo tenha incriminado PT ou prestado novo depoimento sobre facada em Bolsonaro e publicou um Explica sobre o que é comprovado e o que é falso sobre a facada.

Notas da comunidade: Não havia notas da comunidade na postagem do conteúdo no X até a publicação desta verificação.

Política

Investigado por: 01/08/2025

Preta Gil não escreveu carta a Bolsonaro; vídeo foi gerado por inteligência artificial

Política
Conteúdo falso usa trecho inventado e manipula contexto de diálogo antigo da cantora com o ex-deputado.

Não é verdade que a cantora Preta Gil, que morreu em 20 de julho, tenha deixado uma carta pedindo perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diferentemente do que afirmam vídeos virais no YouTube.

Os conteúdos foram gerados por inteligência artificial. Um deles começa com o que seria um trecho da falsa carta – “Se um dia eu partir e não puder mais pedir perdão em vida, que essa carta fale por mim” – e tira alguns fatos de contexto. O vídeo, por exemplo, cita um episódio do extinto programa ”CQC” em que Preta fez uma pergunta a Bolsonaro, o que de fato ocorreu, em 2011. Mas mente ao afirmar que a artista teria tentado constranger o político. Na ocasião, ela perguntou como ele reagiria se um filho se apaixonasse por uma negra, e Bolsonaro respondeu: “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”.

O uso de IA pôde ser detectado a olho nu. A imagem de um homem que seria o apresentador do conteúdo é típica da ferramenta, o que se conclui ao observar a forma como a figura mexe a boca, os olhos e as mãos.

O Comprova também fez uma consulta no Hive Moderation, plataforma que reconhece o uso de IA que pode ser usada por qualquer pessoa que desconfie de uma imagem. Segundo a tecnologia, há 99% de chance de o vídeo verificado aqui ter sido gerado por IA. 

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil, com 286 mil inscritos, posta apenas vídeos criados por IA, muitos deles disseminando boatos sobre política sem informar a fonte oficial.

Conteúdos dizendo que Preta teria se arrependido do que falou sobre Bolsonaro começaram a ser publicados dois dias após sua morte. O primeiro deles, sobre mentiras que Preta teria dito sobre o ex-presidente, foi visualizado 130 mil vezes até a publicação deste texto. Ele foi um dos vídeos mais vistos do canal – de 85 publicados, 53 tinham menos de 15 mil visualizações até a publicação deste texto

O vídeo verificado pelo Comprova foi o terceiro sobre Preta (o segundo era sobre pontos que ela falou que supostamente acabaram acontecendo com ela) e o mais visto até a publicação deste texto, com 1,4 milhão de visualizações. Depois, o canal ainda inventou que a artista teria enviado um áudio para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e que o ex-presidente teria surpreendido “no adeus a Preta Gil”.

O Comprova tentou contatar o responsável pelo canal que publicou os vídeos, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O vídeo traz elementos típicos dos conteúdos de desinformação, como o uso de linguagem alarmista. “A verdade que ninguém quer contar”, “o Brasil todo quer saber” e “se um dia sumirem com esse canal, você ainda vai poder me encontrar” são algumas das expressões utilizadas.

Outra técnica é o uso de caixa alta. O título do vídeo é “PRETA GIL ELA ESCREVEU PRA BOLSONARO ANTES DE MORRER? O CONTEÚDO VAZOU!”. Ao usar letras garrafais, os desinformadores tentam criar o sentimento de urgência, pois sabem que, dessa forma, têm mais chance de que as pessoas não reflitam se o conteúdo faz ou não sentido e acreditem nele.

Dizer que a carta de uma artista conhecida nacionalmente teria “vazado” aguça a curiosidade dos internautas e, ao afirmar que “começou a circular em diversos perfis independentes de jornais e páginas de fofoca”, o vídeo tenta passar uma sensação de credibilidade – que não existe.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre Preta e Bolsonaro e o detector Hive Moderation.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: UOL Confere, Fato ou Fake, do G1, também publicaram verificação sobre a falsa carta. Sobre IA e Bolsonaro, o Comprova já investigou alguns conteúdos, como um vídeo que inventava que um artista teria feito uma escultura em homenagem ao político e outro que fazia uma sátira de Lula (PT) pedindo votos para o ex-presidente em 2026.

Política

Investigado por: 31/07/2025

Filhos de Barroso não foram deportados dos EUA nem estão foragidos em consulado

Política
Posts com desinformação começaram a circular após Estados Unidos anunciarem cancelamento de vistos de ministros do STF.

Poucos dias após a viralização de posts mentirosos dizendo que a filha de Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), seria deportada dos Estados Unidos, perfis disseminaram no X outro boato infundado. Agora, espalharam a desinformação de que os dois filhos do magistrado teriam sido deportados ou que eles teriam se refugiado no Consulado do Brasil em Nova York.

Barroso tem dois filhos, Luna e Bernardo van Brussel Barroso, e, segundo a assessoria de imprensa do STF, os dois não estão nos Estados Unidos. “Não é verdade que os filhos tenham sido deportados ou estejam refugiados”, afirmou o órgão ao Comprova.

O Itamaraty não respondeu ao email do Comprova sobre voos com brasileiros deportados, mas a reportagem não encontrou registro de casos recentes de aviões vindos dos Estados Unidos.

Luna, a filha mais velha de Barroso, trabalha no escritório Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça Advogados (BFBM), o mesmo no qual seu pai atuou antes de ingressar no Supremo Tribunal Federal, e realiza doutorado em Direito Constitucional na Universidade de São Paulo (USP). No site do escritório, consta que ela trabalha no Rio de Janeiro.

De acordo com as redes sociais de Bernardo, ele ocupa o cargo de diretor associado no banco BTG Pactual, em Miami, nos Estados Unidos. Seu perfil indica que ele trabalha de forma presencial no cargo.

O Comprova tentou contato via email com Luna e com o escritório em que ela trabalha, e também com Bernardo, via e-mail e Linkedin, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

As mentiras envolvendo os filhos de Barroso começaram logo após o governo de Donald Trump anunciar a proibição da entrada de Barroso e outros ministros do STF no país. “Ordenei a revogação dos vistos de (Alexandre de) Moraes e seus aliados no tribunal, bem como de seus familiares próximos, com efeito imediato”, escreveu Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, no X em 18 de julho.

Embora os posts com desinformação afirmem que os vistos dos filhos de Barroso teriam sido anulados, o STF disse ao Comprova que “não há informações oficiais sobre cancelamentos de vistos” de Luna e Bernardo.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Um dos posts virais foi publicado por um perfil com 60,3 mil seguidores. Na descrição da conta, o responsável pela página afirma: “Amo meu país. Lamento vê-lo tão assaltado, saqueado, com uma justiça tão decrépita e uma quadrilha no poder. Sofro pelo meu país e pelo meu povo”.

O titular do perfil não exibe sua imagem e nem seu próprio nome. Ele usa uma foto do ator Alain Delon no filme “Os Aventureiros” e o nome “Tom Riplay” no perfil. Tom Ripley, com “e”, é o personagem interpretado por Delon em outro filme, “O Sol por Testemunha”, uma adaptação do romance “O Talentoso Ripley” de Patricia Highsmith.

O conteúdo do perfil é predominantemente político, com publicações recorrentes de ataques ao presidente Lula (PT) e outras figuras da esquerda brasileira. O chefe do Executivo é frequentemente citado com termos pejorativos, como “anãozinho diplomático”.

Em outra postagem, o autor afirma que pesquisas indicam Lula como o pior presidente da história do Brasil, mas não apresenta qualquer fonte que comprove a informação. O Comprova entrou em contato com o perfil, que afirmou ter sido advertido por um amigo de que a informação era falsa e excluiu a postagem.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza diversas táticas típicas da desinformação para reforçar uma falsa narrativa. Entre elas, destaca-se o uso de linguagem sensacionalista, como a expressão “BREAKING NEWS” e a frase “PERDEU, MANÉ!”, que buscam criar um senso de urgência e atrair atenção imediata.

Além disso, há o uso de insinuações sem provas, como a alegação de que “filhos do ministro Barroso estão entre os deportados”, apresentada sem qualquer evidência ou fonte confiável.

A publicação também recorre a uma tentativa de deslegitimar uma autoridade institucional, no caso o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, explorando o imaginário de “humilhação” de uma figura pública associada ao Judiciário.

Por fim, o uso de imagens impactantes, como a de um avião militar dos Estados Unidos (com a inscrição “USAF”), reforça a ideia de veracidade e dramatiza a narrativa, mesmo que não haja conexão comprovada entre a imagem e os fatos alegados.

Fontes que consultamos: Assessoria de imprensa do STF e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Investigações de UOL Confere, Estadão e O Globo concluíram que a filha de Barroso mora no Brasil e não será deportada dos Estados Unidos. Posts também mentiram ao dizer que ela teria publicado vídeo chorando ao saber que seria deportada, o que foi verificado por Aos Fatos. O ministro é alvo de vários conteúdos de desinformação checados pelo Comprova, como o vídeo usado de forma editada para dizer que ele era contra o PT ou o post mentiroso dizendo que ele teria prometido atuar contra a eleição de Jair Bolsonaro (PL).

Notas da comunidade: A publicação no X não recebeu nenhuma nota de comunidade até o momento desta publicação.

Contextualizando

Investigado por: 28/07/2025

Pix é alvo de investigação comercial dos EUA, mas não pode ser taxado por Trump

Contextualizando
Relatório de apuração norte-americana aberta após anúncio do tarifaço contra o Brasil cita serviço de pagamento instantâneo desenvolvido pelo governo, mas não propõe tributação da ferramenta

Conteúdo analisado: Postagens de políticos do governo e da oposição especulam sobre as motivações e o alcance de uma investigação dos Estados Unidos sobre práticas comerciais do Brasil.

Onde foi publicado: No X.

Contextualizando: Políticos do governo e da oposição publicaram diferentes versões nas redes sociais sobre uma investigação dos Estados Unidos a respeito de práticas comerciais brasileiras. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria querendo “taxar o Pix”. Já o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) disse que Trump não quer prejudicar o método de pagamentos brasileiro, mas sim permitir que empresas americanas também ofereçam o serviço. O engajamento em torno do tema aumenta com a iminência da entrada em vigor de tarifas sobre produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos, previstas para 1º de agosto.

A declaração de Haddad divulgada em um trecho publicado em posts nas redes sociais foi feita durante entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele afirmou que o governo federal “esclarece” os pontos levantados pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) na investigação comercial, mas questionou alguns pontos. “Agora, é estranho. Um presidente de um país querer taxar o Pix de outro país. Além de taxar as exportações, vai taxar o Pix? Ele vai encarecer os custos de transações financeiras no país”, disse.

A investigação comercial foi anunciada em 15 de julho, seis dias após Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, enviar uma carta ao presidente Lula (PT) comunicando que as exportações brasileiras sofrerão uma taxação adicional de 50% a partir de 1º de agosto. A proximidade dos dois eventos e a circulação acelerada de informações nas redes sociais gerou interpretações confusas sobre o tema.

O Pix é uma forma de pagamentos regulada pelo Banco Central (leia mais abaixo). O advogado Guilherme Costa Val, mestre em Tributação Internacional e sócio do escritório Ayres Westin Advogados, afirma que os Estados Unidos não poderiam taxar diretamente o Pix, por se tratar de um mecanismo de pagamento interno do Brasil. “O que eles poderiam fazer seria criar um mecanismo de pressão indireta. Por exemplo: bancos que utilizarem Pix para realizar pagamentos no Brasil serão penalizados de alguma forma pelos Estados Unidos através de uma multa qualquer. Isso seria possível. Acho improvável, mas seria possível”, afirma.

O especialista também diz que, pelo mesmo motivo, os Estados Unidos também não poderiam impedir o uso do Pix no Brasil — outra suspeita infundada difundida nas redes nos últimos dias. Segundo o advogado, a preocupação dos Estados Unidos com o Pix parece estar associada a uma suposta ameaça a empresas americanas que atuam no setor de pagamentos, uma vez que o Pix é gratuito.

Ao Comprova, o Ministério da Fazenda informou via assessoria de imprensa que a fala de Haddad ocorreu dentro do contexto da entrevista e se referia à possível ameaça representada pelo Pix e por novidades como o Pix parcelado, também gratuito e que entra em vigor em setembro, a mecanismos pagos de pagamento e parcelamento de empresas norte-americanas. Segundo a assessoria, o ministro não se referia a um risco de taxação do Pix, algo que a pasta reconhece não ser possível, por se tratar de um serviço brasileiro.

Trump vs Pix

Não há declarações oficiais de Trump contra o Pix ou anunciando a taxação do serviço de pagamento brasileiro por parte do governo norte-americano. Porém, no release em que a investigação do USTR é divulgada, é descrito que ela foi aberta para atender uma “direção específica” de Trump. A intenção é investigar, entre outras coisas, “os atos, políticas e práticas do Brasil relacionados ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico”.

Nos documentos oficiais, o governo norte-americano não cita o Pix diretamente, mas assinala que o Brasil possui “práticas injustas em relação aos serviços de pagamentos eletrônicos”, enfatizando que aqueles desenvolvidos pelo governo brasileiro obtêm vantagem. Essa prática (Pix) estaria minando a competitividade comercial de empresas dos EUA, segundo o relatório norte-americano.

Uma hipótese para o interesse dos Estados Unidos sobre o uso do Pix seria o fato de que o surgimento do Pix em 2020 poderia ter reduzido a dependência de bandeiras de cartão de crédito e de big techs, interessadas em soluções de pagamento como o WhatsApp Pay — ferramenta que teve a função de transferência por meio de cartão de débito descontinuada no Brasil no fim de 2024 em favor de outras opções mais populares de pagamento, como o próprio Pix.

O escrutínio das autoridades estadunidenses sobre o Pix não é novidade, de acordo com o que foi noticiado pela Agência Brasil. Há três anos o USTR já deixava claro, em um documento oficial, que o país estava preocupado com os impactos da massificação do Pix.

A edição de 2022 do relatório foi a única até o momento a mencionar nominalmente o meio de pagamento brasileiro.

O Comprova procurou o Banco Central para questionar o caso, mas não obteve retorno até a publicação deste conteúdo.

O que é o Pix

Idealizado pelo Banco Central do Brasil (BC) desde 2016 e em operação desde novembro de 2020, o Pix é um meio de pagamento instantâneo que possibilita que transferências bancárias sejam realizadas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia da semana.

O Pix é rápido e fácil porque, em vez de informar todos os dados bancários da pessoa que vai receber, o usuário só precisa da chave Pix, que pode ser o CPF, celular, e-mail, CNPJ ou uma chave aleatória. Com essa chave, o sistema já encontra a conta correta para enviar o dinheiro. Também é possível pagar usando um QR Code gerado pelo recebedor.

O Banco Central é o responsável pela regulação do Pix. A instituição possui independência do governo federal. O governo Lula não pode determinar mudanças no método de pagamentos.

Fontes consultadas: O Comprova buscou nos veículos de imprensa profissionais notícias de declarações de Donald Trump sobre o Pix. A reportagem procurou o site da USTR para acessar os documentos a respeito da investigação aberta. Para traduzir os documentos, foi usada a ferramenta NotebookLM do Google. Portais do governo e da imprensa oficial brasileira também foram acessados. Também foram feitos contatos com a assessoria do Banco Central do Brasil, do Ministério da Fazenda e entrevista com o advogado Guilherme Costa Val.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Estadão Verifica investigou postagens que afirmaram que Trump quer acabar com o Pix. O Comprova já explicou sobre a sanção imposta pelos Estados Unidos ao Brasil e que a tarifação em Pix para empresas é facultativa e existe desde 2020.

Política

Investigado por: 28/07/2025

Postagem tira de contexto falas de ministros do STF para forjar embate entre eles

Política
Vídeo combina trechos desconectados dos discursos de Fux e Moraes para gerar narrativa falsa

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux não criticou publicamente seu colega de corte Alexandre de Moraes em discurso, ao contrário do que sugere vídeo viral publicado inicialmente no Instagram e replicado no X. A publicação une dois vídeos de ocasiões diferentes, um de cada ministro, e tira as falas de contexto para dar a ideia de que Fux estava respondendo Moraes.

O discurso de Fux foi em junho de 2024, durante o julgamento que descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal. Na ocasião, ele disse que os ministros do STF não são “juízes eleitos” e que “o Brasil não tem governo de juízes”, referindo-se aos políticos brasileiros, que “empurraram” a decisão para o Judiciário, o que teria causado uma exposição do STF.

“Essa prática tem exposto o Poder Judiciário, em especial o STF, a um protagonismo deletério, corroendo a credibilidade dos tribunais quando decidem questões permeadas por desacordos morais que deveriam ser decididas na área política”, afirmou Fux na ocasião.

Para o ministro, o Poder Judiciário acaba arcando com um alto custo social por ser acionado com frequência para resolver questões que outras instâncias não solucionam. Ele destaca que, por não serem eleitos e não prestarem contas diretamente ao eleitorado, os juízes acabam se tornando o destino final de demandas que deveriam ser resolvidas em outras esferas. O ministro já tinha feito essa observação quando tomou posse da presidência do STF, em 10 de setembro de 2020.

A fala de Moraes, por sua vez, é de 14 de setembro de 2023. Ele criticava o advogado Hery Kattwinkel, que defendia o réu Thiago de Assis Mathar, posteriormente condenado pelos atos de 8 de janeiro com pena de 14 anos.

Na ocasião, o ministro chamou Kattwinkel de “patético e medíocre”, afirmando que ele subiu à tribuna do STF com um “discurso de ódio para postar nas redes sociais”. Portanto, a fala de Moraes não teve nenhuma ligação com o ministro Luiz Fux.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação foi feita por um perfil na rede social X que soma 165,8 mil seguidores. Em sua descrição, a responsável pela página se identifica como “cristã, direita até pra estacionar, pra trás só pra pegar impulso, bolsonarista até debaixo d’água”.

O conteúdo do perfil está alinhado à própria apresentação da usuária: são frequentes as postagens em apoio a figuras da direita brasileira, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em contrapartida, a página também costuma veicular críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

O vídeo analisado é uma reação a uma postagem do perfil “No Centro da Política”, que publica conteúdos com uma roupagem noticiosa voltados para temas políticos. Entretanto, o perfil também costuma satirizar figuras públicas associadas à esquerda e destacar positivamente personagens da direita. Entre as manchetes publicadas, estão: “DETONOU: Jornalista faz pergunta maliciosa e é detonado por Flávio Bolsonaro” e “PIADA [emoji de palhaço]: Lula implora contato com Donald Trump”.

O vídeo alcançou 115,6 mil visualizações e, até o momento desta verificação, registrava 9 mil curtidas, 2 mil republicações e 123 comentários. O Comprova tentou entrar em contato com o perfil responsável pela publicação, mas não conseguiu, pois a conta está configurada para não receber mensagens privadas.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação se vale de um vídeo que conecta falas de dois ministros do STF fora de seus contextos originais, criando uma narrativa enganosa. O vídeo dá a falsa impressão de que Fux estaria rebatendo Moraes em tom crítico. Essa edição proposital leva o público a interpretar que há um embate direto entre os ministros.

Outro fator que torna o vídeo convincente é o uso de uma comentarista que reage às falas com entusiasmo e ironia, reforçando o julgamento emocional do espectador. Quando Moraes fala, ela o chama de “patético”; quando Fux fala, ela aplaude. Com isso, a mulher atua como mediadora da interpretação, guiando a audiência a adotar o mesmo ponto de vista. Esse tipo de reação encenada ajuda a manipular a percepção do público, reforçando a credibilidade de uma narrativa falsa.

O vídeo também apresenta uma frase que diz “HISTÓRICO: ‘pior do que não saber direito é um juiz que não tem coerência’. Fux detona Moraes e vídeo viraliza”. Termos como “Histórico” e “Fux detona Moraes” são hiperbólicos e apelam para o senso de urgência e conflito, o que aumenta a sensação de que algo grave está acontecendo.

Fontes que consultamos: Reportagens publicadas por veículos jornalísticos e vídeos dos discursos dos ministros do STF Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O UOL Confere verificou que Fux não criticou ministros do STF e sua fala é anterior à posse de Trump, assim como o Aos Fatos mostrou que vídeo em que Fux afirma que “Brasil não tem governo de juízes” é anterior à eleição de Trump. A AFP concluiu que Fux não anulou seis processos de Jair Bolsonaro até maio de 2025.

Notas da comunidade: O post não apresenta nota da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.