O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Política

Investigado por: 28/08/2025

Homem com hanseníase foi condenado por associação criminosa no 8/1 e não por “vender balas”

Política
Publicações nas redes sociais sugerem que acusado teria sido preso por comercializar doces em acampamento em frente ao quartel do Exército, mas julgamento no Supremo considerou que réu participou dos atos.

Um homem preso em Brasília após os ataques de 8 de janeiro, e que afirmou em depoimento ter ido ao local apenas para “vender balas”, foi condenado por associação criminosa e incitação ao crime. Publicações que circulam nas redes sociais desinformam ao dizer que ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) “por vender balas”.

As postagens foram compartilhadas nos últimos dias por usuários das redes sociais TikTok e X, incluindo o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As mensagens afirmam ainda que o acusado tem “lepra”, termo antigo e depreciativo para se referir à doença hanseníase.

O caso em questão envolve Davi Alves Torres, de 47 anos, morador de Brasília. Ele foi detido no acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército, na capital federal, após os atentados realizados contra os prédios públicos em 8 de janeiro.

Foi o voto do ministro Alexandre de Moraes que embasou a condenação. De acordo com o ministro, no celular de Davi foram encontradas imagens que mostrariam a união dele com outros participantes dos atos golpistas e um vídeo do edifício-sede do STF sendo destruído no dia 8 de janeiro de 2023.

A condenação foi confirmada em 5 de agosto, em julgamento virtual do plenário do STF, por 8 votos a 2, com posições contrárias apenas dos ministros Nunes Marques e André Mendonça.

Davi Torres foi condenado a um ano de reclusão, mas a pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas por 225 horas, além de outras medidas, como multa, participação em curso sobre democracia, proibição de se ausentar da comarca em que reside e de usar redes sociais.

Em exame no Instituto Médico Legal (IML), em 15 de julho, Torres declarou ter hanseníase. Ao longo do processo, também anexou documentos de unidades de saúde do Distrito Federal que comprovam a condição e afirmou que esse diagnóstico é o motivo da sua aposentadoria por invalidez.

Ele foi solto em março de 2023 mediante o uso de tornozeleira eletrônica. Em outubro de 2024, após ser questionada sobre violações da área de circulação informadas pela Justiça, a defesa de Torres pediu a retirada da exigência de tornozeleira eletrônica. A alegação foi que, em razão do quadro de hanseníase, o equipamento “lhe causa inchaço e retenção de líquido”, o que poderia “causar inflamação em decorrência da doença” e “evoluir para novas amputações de membros”. Moraes, então, solicitou que fossem apresentados documentos médicos que comprovassem a condição.

Nos meses seguintes, a Justiça informou novos descumprimentos da área de circulação. Em decisão, Moraes afirmou que, a defesa não apresentou as explicações e novos descumprimentos foram informados. Segundo o STF, foram 17 ocorrências de violação das medidas cautelares de circulação. Em razão disso, em 8 de julho deste ano, Davi teve a prisão preventiva decretada.

De acordo com a Polícia Civil do DF, depois de passar por audiência de custódia na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP), Torres foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória. Ao Comprova, o advogado que representou o réu no caso, Klebes Resende da Cunha, confirmou que ele permanece preso preventivamente. O defensor afirmou que os descumprimentos ocorreram para que Torres fizesse acompanhamento médico em cidades-satélites do Distrito Federal e que isso foi informado à Justiça e reforçado na audiência de custódia. Sobre este assunto, na audiência de custódia, o juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, disse que essas justificativas deveriam ser apresentadas nos autos pela defesa sempre que houver algum tipo de descumprimento.

Apesar disso, Davi permanece preso. Segundo o advogado, o réu afirma ter ido ao acampamento apenas para vender balas para complementar a renda e não teria participado dos atos nos prédios públicos.

| Trecho do voto do Ministro Alexandre de Moraes, relator da Ação Penal 1.254 (AP 1254/DF), no Supremo Tribunal Federal, com imagens extraídas de vídeo encontrado no celular do réu sobre os atos de 8/1/2023. Link.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi criada originalmente pelo criador de conteúdo Danuzio Neto, que divulgou a informação no Instagram em formato de card, com aparência semelhante à de uma notícia jornalística. O conteúdo, por sua vez, reproduz a narrativa publicada pela Revista Oeste, de onde saiu o texto utilizado na legenda. Posteriormente, a imagem foi amplificada pelo vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), que compartilhou o material em suas redes, acrescentando a frase “democraticamente!”.

O interesse na disseminação do conteúdo parece ser político e ideológico, pois busca reforçar críticas ao STF e ao julgamento dos réus do 8 de janeiro, apresentando a condenação de forma distorcida para descredibilizar a Corte. A publicação conta com 110 mil visualizações, 13 mil curtidas e 4 mil republicações até o momento desta publicação.

A alegação central do post investigado é que o STF teria condenado um homem “por vender balas” durante os atos de 8 de janeiro. A formulação sugere que a atividade de ambulante (venda de doces) teria sido tratada como crime e motivo da condenação. No entanto, a pena de 1 ano de reclusão com outras medidas foi aplicada pelas acusações de associação criminosa e incitação ao crime.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza apelo emocional e tenta criar uma sensação de injustiça, sugerindo que o homem preso e condenado no 8 de janeiro estaria apenas “vendendo doces”.

A estratégia, capaz de gerar indignação e empatia, é usada também em outros casos, como o do idoso que utiliza tornozeleira eletrônica e confunde o equipamento com um relógio, mas que o Comprova já mostrou não ter relação confirmada com os atos de 8 de janeiro. Também pode ser identificada nos episódios do pipoqueiro e do sorveteiro citados em um discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas que não estavam trabalhando quando foram presos no acampamento em frente ao quartel do Exército, como também mostrou o Comprova.

O conteúdo também pode favorecer discursos políticos, como as críticas às decisões do STF e a defesa de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. A simplificação de temas jurídicos complexos, que exigem a leitura das decisões judiciais, também pode ser uma tática que ajude o conteúdo a se disseminar nas redes sociais.

Fontes que consultamos: Ação penal contra Davi Alves Torres na página do STF, buscas reversas no Google, contato com as assessorias do STF, da Polícia Civil e da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) e com o advogado de Davi Alves Torres.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que o vídeo de um idoso com tornozeleira eletrônica não tem relação confirmada com os atos de 8 de janeiro, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não ameaçou enviar tropas contra Alexandre de Moraes e que uma postagem que circula nas redes tira de contexto falas de ministros do STF para forjar um embate entre eles.

Notas da comunidade: A publicação no X não tinha Notas da comunidade até a publicação desta verificação.

Contextualizando

Investigado por: 27/08/2025

Posts com frase de Lula sobre homem negro sem dentes mostram fala incompleta

Contextualizando
Presidente criticava imagem escolhida para estampar material do governo por achar que ela poderia ser preconceituosa; para especialista, fala expõe falta de preparo para tratar do tema.

Conteúdo analisado: Posts que repercutem uma frase dita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento em 21 de agosto. Em um deles, publicado no X, um usuário pergunta ao Grok, inteligência artificial da rede social, se é verdade que Lula disse “Isso é fotografia para você colocar representando o Brasil no exterior? Um cara sem dente e ainda é negro?”. Outro post, no Instagram, traz o mesmo trecho, também omitindo a conclusão da fala de Lula.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: A frase que consta nos posts é verdadeira, mas está fora de contexto pois não foi apresentada na íntegra. Durante cerimônia de entrega de 400 Unidades Odontológicas Móveis em Sorocaba (SP), o presidente contou sobre um episódio em que teria chamado a atenção do ministro Paulo Teixeira, a respeito de uma foto usada em um material para um congresso internacional. Segundo Lula, a imagem mostraria uma mulher branca sorridente e um homem negro sem dentes.

Neste momento, o presidente disse ter questionado o motivo da escolha, que, para ele, seria preconceituosa. A frase completa foi: “Isso é fotografia para você colocar representando o Brasil no exterior? Um cara sem dente e ainda é negro? Você não acha que isso é preconceito?”.

As publicações omitem a parte final da fala, em que Lula pergunta se não seria preconceito expor o homem retratado. Assim, geraram críticas ao darem a entender que ele criticava a presença de um homem negro no material. Sem a frase final de Lula, quem teve acesso aos posts pode não ter entendido que seu comentário era uma tentativa de crítica a estereótipos negativos.

Para Jamile Barreto, jornalista e especialista em Direitos Humanos, Diversidade e Violência, a fala do presidente expõe falta de preparo para tratar do tema.

“Ele errou tentando acertar. Faltou letramento racial na fala. Ao enaltecer a pessoa branca e enfatizar negativamente o homem negro, ele falhou”, avalia. “Como figura pública, não pode ser dúbio: precisa ser direto, objetivo e com consciência racial. Ele tentou, mas errou feio, e se continuar com esse tipo de fala, legitima que outros também falem assim.”

Ao site do Poder360, Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, negou que Lula tenha sido racista. Segundo ela, “Lula se referiu a um ‘episódio’ como uma ‘importante crítica ao estigma que pesa nos ombros das pessoas negras’”.

Procurada pelo Comprova, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) afirmou que “a declaração foi tirada de contexto” e que “Lula faz uma crítica à opção editorial que reforçava uma visão preconceituosa e estigmatizada sobre as pessoas negras e a pobreza”.

Quem criou o conteúdo contextualizado pelo Comprova

Um dos posts que teve grande viralização foi publicado por um perfil no X cuja autora se descreve como “comentarista política cobrindo a guerra em Israel e geopolítica mundial”. Ela, que tem 177,6 mil seguidores, informa sua chave Pix para receber colaborações.

Ao usar a técnica de perguntar algo ao Grok, o perfil tenta se isentar da responsabilidade pela informação — no caso, desinformação — e chamar a atenção dos internautas. Mas, como já mostrado pelo Comprova, a técnica, cada vez mais usada pelos desinformadores, pode trazer respostas imprecisas, provocar danos e até colocar em risco a saúde de pessoas que seguem orientações sem validá-las com fontes confiáveis.

O perfil segue mais de 4,3 mil contas, incluindo figuras públicas. A publicação verificada aqui, de 23 de agosto, alcançou 1,6 milhão de visualizações até a publicação deste texto.

Não foi possível estabelecer contato com a proprietária do perfil para obter mais informações sobre a fonte ou a intenção da postagem.

Fontes consultadas: Entrevista com a jornalista e especialista em Direitos Humanos, Diversidade e Violência Jamile Barreto e reportagens sobre o evento do qual Lula participou. O Comprova consultou também o vídeo com a íntegra da declaração de Lula e uma fala de Anielle Franco, ministra da igualdade racial, ao Poder 360.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Estadão Verifica analisou o mesmo conteúdo. O Comprova já publicou textos mostrando que a técnica de perguntar se algo é verdadeiro ao Grok pode trazer desinformação, como o post que mencionava processos envolvendo parentes de Hugo Motta.

Política

Investigado por: 26/08/2025

Ana Estela Haddad atua na área digital do Ministério da Saúde e não comanda programa Farmácia Popular

Política
Vídeo que associa esposa de Haddad ao programa Farmácia Popular e a suposto esquema de fraudes distorce fatos e omite informações básicas sobre a estrutura do Ministério da Saúde.

Não é verdade que a esposa do ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) esteja à frente do programa Farmácia Popular. Uma fala infundada de um deputado estadual do Rio Grande do Sul tem circulado amplamente nas redes sociais. No vídeo, ele alega que Ana Estela Haddad é “diretora do Farmácia Popular” e dá a entender que ela seria conivente com um esquema de fraudes cujo alvo foi o programa do governo federal.

Na verdade, Ana Estela atua desde 2023 no Ministério da Saúde, mas como secretária da Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI). A pasta coordena a transformação digital do SUS. O programa Farmácia Popular é coordenado por Bruno Fernandes Baltazar de Oliveira e está vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS), outra área dentro do ministério.

No vídeo em questão, o deputado comenta uma notícia verdadeira, de que a Polícia Federal estaria investigando um esquema de fraudes operacionalizado por um grupo criminoso atuante no tráfico de drogas internacional. O grupo adquiria empresas que estavam cadastradas no programa Farmácia Popular, mas que haviam encerrado suas atividades. A partir disso, eles alteravam a participação societária e começavam a lançar vendas falsas no sistema.

A PF não informou ao Comprova se agentes públicos estavam envolvidos no esquema. Nas informações divulgadas para a imprensa, consta apenas que um candidato a vereador nas eleições municipais de 2024, em uma cidade no entorno de Brasília (DF), era um dos traficantes beneficiados pelo golpe.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa do deputado Gustavo Victorino (Republicanos-RS), autor da desinformação dita no vídeo investigado. A assessora, porém, informou estar com dificuldade de contactá-lo devido a uma viagem.

Victorino já teve duas postagens anteriormente verificadas pelo Comprova. Em uma delas, mostramos que Lula não derrubou a lei de combate a fraudes no INSS e na outra que o Brasil não enviou US$ 600 milhões para o agronegócio da Argentina.

O vídeo foi republicado por muitas páginas de direita, no X, Instagram e TikTok. Mais de 47,7 mil pessoas assistiram ao conteúdo no TikTok; outras 122 mil viram a republicação do vídeo em uma página do X.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O conteúdo verificado pelo Comprova apresenta uma combinação clara de conteúdo enganoso e falsas conexões. O deputado que aparece no vídeo descreve uma investigação sobre uso fraudulento de farmácias populares ligadas ao narcotráfico e, sem apresentar provas, conecta a suposta responsabilidade ao fato de “a mulher do Haddad” ser diretora do programa. Trata-se de uma descontextualização: elementos reais, como a existência de investigações da Polícia Federal sobre fraudes no programa Farmácia Popular, são misturados a alegações não verificadas e a uma acusação política direta, criando a impressão de vínculo entre familiares de um ministro e o narcotráfico. O recurso da falsa autoridade também aparece, já que o simples fato de ser um parlamentar dá verniz de legitimidade a declarações que carecem de evidência concreta.

A retórica do vídeo e do post reforça um apelo à emoção e à polarização. O discurso apresenta o governo Lula como corrupto e impune, usando expressões carregadas (“roubar os velhinhos do INSS”, “não vai dar nada pra ninguém”) para despertar indignação e raiva. Além disso, há ataque à credibilidade das instituições, insinuando que o sistema de justiça e a mídia (“mídia marrom”) não agem contra irregularidades, o que alimenta a desconfiança social e fortalece narrativas conspiratórias. Por fim, o post acrescenta uma chamada para ação urgente (“vejam o vídeo e compartilhem”), recurso típico de viralização de desinformação, que apela à pressa e impede a checagem crítica antes da disseminação.

Fontes que consultamos: Ministério da Saúde, Polícia Federal e assessoria do deputado Gustavo Victorino. Fizemos a transcrição do conteúdo do vídeo usando o Grok, a IA do X.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo já foi analisado pelo Estadão Verifica. Sobre a Farmácia Popular, o Comprova já explicou os efeitos da gratuidade do programa.

Notas da comunidade: As postagens do vídeo no X não haviam recebido notas da comunidade até a publicação desta verificação.

Política

Investigado por: 25/08/2025

China não rompeu com o Brasil em meio a disputa comercial com os EUA

Política
Declarações oficiais e aumento de investimentos e importações comprovam continuidade da parceria entre os dois países, diferentemente do que alega post viral no X.

Não há registro público de que a China tenha declarado que “não vai ajudar o Brasil na guerra comercial com os EUA”, ao contrário do que afirma post viral da rede social X. A publicação simula uma notícia jornalística, mas não cita nenhuma fonte para sustentar a alegação.

Em 28 de julho, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, disse que seu país está disposto a “trabalhar com o Brasil” para lidar com o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Em 6 de agosto, o próprio chanceler Wang Yi disse, em conversa por telefone ao assessor especial da Presidência Celso Amorim, que apoia o Brasil na luta contra “interferência externa injustificada” nos assuntos internos do país.

O Comprova não encontrou nenhum registro em veículos jornalísticos, pronunciamentos oficiais ou relatórios posteriores a essa declaração que confirmem que a China tenha afirmado que não ajudará o Brasil na disputa comercial com os EUA.

A China fez do Brasil o seu 2º principal destino de investimentos no 1º semestre de 2025, atrás apenas da Indonésia, de acordo com o China Global Investment Tracker, plataforma de monitoramento mantida pelo think tank americano American Enterprise Institute (AEI), um instituto de pesquisa independente que produz análises sobre economia, política e assuntos públicos.

Maior comprador de soja do mundo, o país oriental tem substituído a oferta dos Estados Unidos pela brasileira. As importações chinesas de soja registraram recorde em julho, beneficiando diretamente o Brasil, que ampliou sua presença como principal fornecedor do grão.

No total, a China importou 10,39 milhões de toneladas de soja do Brasil em julho, contra 9,12 milhões no mesmo mês de 2024. O volume representou 89% de todas as compras de soja do país em julho.

O governo chinês também habilitou 183 empresas brasileiras a exportar café para o país. No X, uma autoridade do Ministério das Relações Exteriores da China usou a medida para contrastar a abertura comercial de Pequim com a decisão dos EUA de impor tarifas ao Brasil, destacando uma postura oposta das duas potências.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação foi criada por um perfil no X que tem 113 mil seguidores. O conteúdo alcançou ampla repercussão, com 671 mil visualizações, 21 mil curtidas e 2 mil republicações até a publicação deste texto.

O perfil se apresenta como um canal voltado à “informação de qualidade”, “a serviço da democracia e da clareza dos fatos”, e afirma atuar com “independência no real sentido da palavra”. O conteúdo das postagens é geralmente noticioso, com foco em temas de política nacional e internacional.

O Comprova entrou em contato com o perfil na tentativa de identificar as fontes utilizadas e compreender as intenções por trás da publicação, mas não obteve retorno.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação recorre a diversas táticas de persuasão para provocar impacto emocional, induzindo a uma interpretação negativa da situação. O texto utiliza o emoji de sirene e a palavra “ABANDONOU” em caixa alta, fazendo apelo ao alarme, despertando a sensação de urgência.

A escolha da foto de Lula cabisbaixo com a mão no rosto cria um apelo visual que reforça a ideia de fragilidade, mesmo sem contextualizar o motivo da expressão. Além disso, a simplificação do fato, “China diz que não vai ajudar o Brasil na guerra comercial”, mostra um enquadramento que coloca a narrativa como um rompimento direto, sem explicar detalhes diplomáticos ou comerciais envolvidos.

A combinação desses elementos gera um efeito de apelo dramático, com ênfase na perda de apoio e na imagem negativa do presidente brasileiro, induzindo o público a interpretar o episódio de forma mais crítica.

Fontes que consultamos: Matérias de veículos jornalísticos e plataforma de monitoramento China Global Investment Tracker.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que não é verdade que o governo federal tenha vendido a maior reserva de urânio do Brasil para a China e que não há indícios de que Trump tenha tarifado o Brasil por compra de diesel russo.

Notas da comunidade: A publicação não recebeu nenhuma nota da comunidade até o momento desta publicação.

Política

Investigado por: 22/08/2025

Processo sobre R$ 141 milhões no Maranhão não teve participação de Flávio Dino

Política
Sentença foi anulada pelo próprio juiz que a proferiu após identificar erro processual; ministro do STF não era parte da ação nem poderia julgar o caso por impedimento legal

Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), não absolveu a si próprio do processo que condenava o Maranhão a devolver R$ 141 milhões no período em que ele foi governador do Estado, ao contrário do que afirma post viral na plataforma X.

A sentença foi proferida pelo juiz Clodomir Sebastião Reis, da 3ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Maranhão, e foi posteriormente anulada por ele mesmo. Ele havia determinado que o governo devolvesse R$ 141 milhões à Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP). Segundo o texto, a administração estadual teria absorvido recursos da estatal de forma indevida entre 2017 e 2018.

Dias depois, Reis percebeu um erro processual: incluiu uma ação que ainda não estava pronta para julgamento. Com isso, declarou nula a própria sentença.

Embora o caso tenha ocorrido enquanto Dino era governador – de 2015 a 2022 –, o ministro não é parte do processo nem figura como responsável por qualquer decisão.

Ao Comprova, o STF afirmou que essa acusação “é absolutamente falsa”. A Corte ressaltou que o Código de Processo Civil proíbe que um juiz atue em processo do qual seja parte.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil acumula 66,3 mil seguidores e apresenta, em sua descrição, frases de caráter religioso e nacionalista: “Brasil acima de tudo; Deus acima de todos. Se algumas pessoas se afastarem de você, não fique triste, isso é resposta da oração: Livrai-me de todo mal. Amém!”. A publicação investigada alcançou 122 mil visualizações, registrando 9 mil curtidas e 3 mil republicações, até o momento desta publicação.

O histórico de postagens do perfil indica uma linha voltada para a política nacional, com ênfase em conteúdos de exaltação a figuras da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL).

O Comprova tentou entrar em contato com o perfil responsável pela publicação investigada, mas a conta não permite o envio de mensagens privadas. Embora não tenha sido possível obter um posicionamento direto do responsável pela conta, o padrão das publicações sugere alinhamento ideológico e engajamento com pautas conservadoras.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza uma abordagem emocional e simplista para convencer o leitor. Primeiro, ela começa com uma frase pejorativa como “República dos Bananas”, criando um clima de crítica geral ao país. Em seguida, repete o nome “Dino” várias vezes, como se estivesse criticando o ministro por tomar uma decisão a seu próprio favor. Essa repetição, com a linguagem informal e até mesmo o uso de gírias e palavrões, busca chocar e gerar uma reação de indignação no leitor.

Além disso, a publicação foca em detalhes sensacionalistas, como o valor de “141 milhões”, para dar a impressão de que um grande desvio de dinheiro aconteceu. Em vez de usar argumentos jurídicos ou fatos complexos, ela apela para a emoção, o humor e o ataque pessoal para convencer o público de que uma injustiça foi cometida.

Fontes que consultamos: Reportagens, Supremo Tribunal Federal e decisão judicial do processo nº 1003590-28.2018.4.01.3700.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: UOL Confere, Estadão Verifica e AFP Checamos verificaram o mesmo conteúdo. Dino é frequente alvo de desinformação nas redes sociais. O Comprova já publicou, por exemplo, que post engana ao induzir ligação entre furto em loja e fala do ministro, que homem dançando ao lado dele em vídeo não é acusado de mandar matar Marielle Franco e que é falso áudio em que ele fala em “arruinar a economia”.

Notas da comunidade: A publicação não exibia notas da comunidade até o momento desta publicação.

Política

Investigado por: 21/08/2025

Vídeo de idoso com tornozeleira não tem relação confirmada com atos de 8 de janeiro

Política
Apesar de alegações em redes sociais, defesa nega que homem que aparece em vídeo seja Miguel Cândido da Silva, que cumpre prisão domiciliar.

Vídeo que circula nas redes sociais de um homem idoso com tornozeleira eletrônica que afirma não saber por que está com o dispositivo e o confunde com um relógio não retrata Miguel Cândido da Silva, um dos condenados pelos atos de 8 de janeiro, ao contrário do que sugerem algumas das postagens. O advogado Samuel Castro, que representa Miguel Cândido, negou ao Comprova se tratar de seu cliente nas imagens.

A gravação tem sido republicada por diversas páginas nos últimos meses. Em uma busca reversa com prints do vídeo, no entanto, o Comprova identificou que o vídeo foi compartilhado pela primeira vez em 23 de abril. A maior parte das publicações não identifica o homem do vídeo, menciona apenas que seria um “vendedor de água de 73 anos”.

Duas postagens dos dias 10 e 12 de agosto de usuários no Facebook, no entanto, afirmam nas legendas se tratar de Miguel Cândido da Silva, que foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão em março de 2024 por acusações de tentativa de golpe de Estado, dano ao patrimônio público, associação criminosa e outros crimes associados ao 8 de janeiro, mas está agora em prisão domiciliar.

O Comprova também pediu à defesa de Miguel Cândido se poderia enviar uma foto dele, mas Castro informou que a família não se sentiu à vontade para o envio. Também foi procurado o advogado Ezequiel Silveira, que representa a Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav). Ele disse que a Asfav tentou por várias vezes identificar quem é o homem do vídeo, mas não conseguiu relacioná-lo ao 8 de janeiro.

Em depoimento à Justiça, Miguel Cândido afirmou que estava em casa, em Brasília (DF), no momento das invasões e que ouviu a notícia no rádio. Ainda segundo ele, “como às vezes trabalha como vendedor ambulante, resolveu ir para vender água e refrigerante”, mas que “como chegou tarde, desistiu de levar coisas para vender”. Ainda assim, foi até o interior dos prédios “por curiosidade”. Miguel afirmou ter entrado no Palácio do Planalto “porque estava tudo aberto” e “achou que podia entrar”.

O Comprova consultou o STF, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) sobre o vídeo, mas os três órgãos informaram que não poderiam buscar detalhes sobre tal processo sem a confirmação do nome da pessoa que aparece nas imagens.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Tentamos contato com vários perfis que compartilharam o vídeo do homem. Usando ferramentas de inteligência artificial e a própria busca manual no Google e em redes sociais, o registro mais antigo de compartilhamento do vídeo apresentando o homem como condenado pelo 8 de janeiro foi feito pelo portal AuriVerde, em abril deste ano.

O portal em questão tem grande alcance, com 2,37 milhões de inscritos no Youtube; 153 mil seguidores no Instagram; além dos ouvintes da rádio de mesmo nome, que está sediada em Bauru (SP). O Comprova pediu a um membro da equipe da rádio o contato de quem teria enviado o vídeo, mas ele não o encontrou.

O vídeo investigado pelo Comprova tem circulado em publicações no Facebook, Instagram, TikTok e X, com disseminação tão amplamente difundida que é difícil estimar quantas pessoas já o visualizaram. Em apenas um dos perfis no X, o vídeo foi visto por 638 mil usuários; em outro, no Instagram, mais de 483 mil usuários curtiram o vídeo.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O vídeo faz um apelo emocional, mostrando um homem que aparentemente não tem consciência do motivo pelo qual está usando uma tornozeleira eletrônica. Ele chega a chamar o objeto de “relógio”. As publicações deste vídeo estão recheadas de comentários de pessoas compadecidas com a situação dele.

Além disso, o vídeo tem sido publicado por páginas que se dizem jornalísticas, apesar de não apresentarem pontos fundamentais em uma notícia, como a identificação de quem aparece no vídeo.

Fontes que consultamos: Samuel Castro, advogado de Miguel Cândido, citado em uma das postagens como sendo o homem que aparece no vídeo; Ezequiel Silveira, advogado da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav); portal AuriVerde; Defensoria Pública da União (DPU); Supremo Tribunal Federal (STF); e Ministério Público Federal (MPF). ChatGPT para fazer a busca reversa e tentar chegar à identidade do homem que aparece no vídeo.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova fez várias verificações sobre participantes nos atos de 8 de janeiro. Em uma delas, mostrou que a cabeleireira que pichou a estátua da Justiça foi acusada de cinco crimes, não só de vandalismo. Em outra, provou que era antigo um vídeo de Gilmar Mendes usado para negar a tentativa de golpe e também mostrou que o FBI não estava no Brasil para investigar atos de 8 de janeiro, diferentemente do que afirmava um vídeo viral.

Notas da comunidade: Não há notas da comunidade nas postagens do vídeo encontradas pelo Comprova no X.

Política

Investigado por: 20/08/2025

Dilma não está entre alvos de sanções dos EUA por causa de Mais Médicos

Política
Apesar de ter criado o programa em 2013, ex-presidente não foi incluída entre as autoridades que tiveram vistos revogados pelos EUA.

A ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff (PT) não sofreu sanção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diferentemente do que afirmam publicações nas redes sociais.

As postagens trazem um vídeo que mostra um homem em um carro, com a legenda “Trump Sanciona Dilma Rousseff” e alegam que Dilma estaria entre as autoridades sancionadas por ter participação no programa Mais Médicos.

O programa foi, de fato, instituído no governo Dilma, em 2013, mas a ex-presidente não foi sancionada. No último 13 de agosto, o governo Trump, por meio do secretário de Estado, Marco Rubio, revogou os vistos de outras autoridades ligadas ao programa Mais Médicos: Mozart Júlio Tabosa Sales, hoje secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais e que hoje atua como coordenador-geral para a COP 30.

Rubio também cancelou os vistos da esposa e da filha de 10 anos de Alexandre Padilha, hoje ministro da Saúde, e que ocupava o mesmo cargo quando o Mais Médicos foi criado.

Dilma não foi citada no caso e não há qualquer registro oficial ou comunicado do governo dos Estados Unidos, seja na gestão de Trump ou em qualquer outra, sobre sanções aplicadas a ela. Uma busca nos comunicados oficiais do Departamento de Estado dos EUA, órgão responsável por emitir tais sanções, reforça essa informação, já que o nome de Dilma Rousseff não aparece em nenhuma das notas relacionadas ao caso. Em contraste, os nomes de Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman são explicitamente citados em comunicado.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O autor do post investigado não respondeu ao contato da reportagem. No X, ele se apresenta como Eduardo Matos e diz que é ator, empreendedor, multiplicador e desenvolvedor. O Instagram o categoriza como criador de conteúdo digital. O perfil já teve outra publicação verificada pelo Comprova e recentemente postou, sem apresentar qualquer evidência, que Gleisi Hoffmann teria participado dos atos de vandalismo em 8 de janeiro de 2023.

O vídeo investigado chegou a mais de um milhão de visualizações nos perfis do criador do conteúdo no Instagram e no Facebook.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O post associa Dilma a uma notícia real, mas que não tem relação com ela. Ao misturar um nome conhecido com um evento real (sanções dos Estados Unidos a figuras políticas), a publicação cria uma conexão falsa que confunde o leitor. As pessoas podem acreditar na notícia porque ela parece ter verdade e está inserida em um contexto político familiar.

A publicação se dirige a um público que já tem uma visão crítica em relação à Dilma Rousseff e ao programa Mais Médicos. O conteúdo reforça o viés de confirmação, ou seja, a tendência das pessoas de buscar e acreditar em informações que confirmem suas crenças pré-existentes. A legenda “Trump Sanciona Dilma Rousseff” é chocante e chamativa, fazendo com que as pessoas parem para ler, mesmo que o conteúdo não seja verdadeiro.

Fontes que consultamos: Consultamos reportagens de veículos jornalísticos a respeito das medidas do governo dos Estados Unidos envolvendo o Mais Médicos e comunicados oficiais do Departamento de Estado dos EUA. O Comprova pediu esclarecimentos à embaixada americana no Brasil e ao Departamento de Estado, mas não obteve respostas. Foi feita também uma consulta à lista de estrangeiros que foram alvo de sanções pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já realizou checagens envolvendo esse perfil anteriormente e mostrou que Janja não foi sozinha à Rússia e não há provas de que ela seja vigiada por autoridades norte-americanas. Também publicou ser falsa a alegação de que o governo federal planeja cobrar taxa de donos de animais domésticos.

Notas da comunidade: A postagem no X não recebeu notas da comunidade até o momento da publicação desta checagem.

Política

Investigado por: 20/08/2025

Grok omite absolvição de familiares de Hugo Motta em resposta sobre investigações

Política
Respondendo a um usuário, chatbot do X menciona prisões e operações envolvendo familiares do presidente da Câmara, mas ignora decisão judicial que inocentou acusados e extinguiu o processo.

Um post no X desinforma ao citar processos envolvendo parentes próximos do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. O autor da publicação ativou o Grok, inteligência artificial do X, para solicitar uma “lista de todos os processos e prisões envolvendo a família” do parlamentar. Na resposta, a plataforma responde apontando casos envolvendo o pai, a mãe, a avó, o ex-cunhado e o padrasto do político.

As ações citadas pelo Grok existiram, mas a plataforma erra ao não informar que, exceto o pai de Motta, todos foram absolvidos pela Justiça em 2021. Ou seja, para quem lê o post, a mãe dele, Ilanna Motta, o ex-cunhado, José Willian Madruga, e o padrasto, Renê Caroca, ainda estão presos, o que não é verdade.

Em setembro de 2016, no âmbito da Operação Veiculação, do Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal prendeu preventivamente os três. Ilanna era chefe de gabinete da Prefeitura de Patos, Caroca era prefeito de São José de Espinhara e Madruga comandava o município de Emas — todas as cidades são na Paraíba. A operação também determinou o afastamento de Francisca Motta, avó do deputado, então prefeita de Patos.

Segundo a Polícia Federal, as supostas fraudes investigadas envolviam mais de R$ 11 milhões em recursos públicos, aplicados em ações dos Programas de Transporte Escolar (PNATE), Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), Pró-Jovem Trabalhador e Bloco de Média e Alta Complexidade (Saúde).

Em setembro de 2021, porém, a Justiça Federal absolveu os acusados de integrar uma organização criminosa. De acordo com a decisão, o juiz da 14ª Vara Federal em João Pessoa, Rafael Chalegre do Rêgo Barros, rejeitou os pedidos do MPF alegando a “inexistência de ato de improbidade administrativa” e determinou a extinção do processo. Como afirmado acima, o Grok omite essas informações em sua resposta.

Este caso expõe os riscos de confiar em ferramentas de inteligência artificial como portadoras de verdades definitivas, sem uma análise humana dos resultados obtidos nas buscas. No post verificado aqui mesmo, o Grok emite juízo de valor, o que também é perigoso, considerando que se trata de uma ferramenta tecnológica.

A inteligência artificial acerta apenas ao citar os processos contra Nabor Wanderley, pai de Motta. Em 2013, ele foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa, devido a contratações irregulares com o Instituto Interset. Wanderley recorreu e, dois anos depois, elegeu-se deputado pela Paraíba. Em 2016, foi investigado na Operação Desumanidade por desvio e propina. Nabor foi apontado como líder de grupo criminoso e seria destinatário de 10% do valor dos contratos de terraplanagem de ruas no município de Patos, segundo proposta de delação premiada – ele negou participação no caso.

Já em 2025, o Grok cita processo do Tribunal de Contas da União (TCU) dizendo que Nabor foi alvo indireto em operação da Polícia Federal contra fraude em Patos. Segundo a CNN, a principal investigada é uma servidora da prefeitura, comandada pelo pai de Motta desde 2021.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O conteúdo do Grok foi publicado como resposta a um post de um perfil que se apresenta como “Advogado. Jornalista. Casado. Conservador”.

O perfil manifesta apoio recorrente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e costuma publicar críticas, insultos e sátiras direcionados a figuras da esquerda, incluindo eleitores do PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A publicação alcançou 366,7 mil visualizações, com 183 comentários, cerca de 1 mil republicações e mais de 11 mil curtidas. Já a resposta produzida pela Grok obteve 53 mil visualizações, com 2 mil curtidas, 800 republicações e 137 comentários até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

Cada vez mais usada pelos desinformadores, a técnica do “pergunte ao Grok” chama a atenção das pessoas, mas é prejudicial. Como já mostrado pelo Comprova, as respostas da inteligência artificial podem ser imprecisas, provocar danos e até colocar em risco a saúde de pessoas que seguem orientações sem validá-las com fontes confiáveis.

Se, por um lado, muita gente não sabe disso, por outro, os desinformadores não só sabem como se aproveitam dessa realidade. Ao usar a técnica – fazendo perguntas ou pedidos ao Grok –, eles se eximem da responsabilidade pelo erro – podem dizer que foi a IA do X que errou, que eles apenas fizeram perguntas. E, para quem lê, o fato de ser uma ferramenta de inteligência artificial de uma das principais redes sociais do mundo respondendo passa a ideia de autoridade.

Fontes que consultamos: Reportagens e decisões judiciais sobre os casos abordados na investigação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já publicou texto sobre o uso de IA como fonte de informação em posts. Já sobre IA e Hugo Motta, a iniciativa mostrou que vídeo usou a tecnologia para simular protesto contra o político.

Política

Investigado por: 18/08/2025

Fotos comparativas da Estátua da Liberdade não provam inexistência do aquecimento global

Política
Publicação viral ignora que maré, ângulo da foto e outros fatores alteram a percepção visual, enquanto dados científicos confirmam o avanço do mar.

Diferentemente do que sugere uma publicação feita no X, uma comparação entre duas fotos da Estátua da Liberdade, uma que seria de 1898 e a outra de 2025, aparentemente com o nível da água inalterado, não serve como prova de que não houve aumento no nível do mar neste período. A montagem, que circula nas redes sociais, é enganosa, pois os dados científicos e as medições reais demonstram um aumento progressivo do nível do mar ao longo do tempo.

Além das fotos, a publicação investigada traz um texto, no qual afirma, de forma irônica, que as imagens, com a água aparentemente no mesmo nível, mostram “127 anos de ‘aumento do nível do mar’ devido ao ‘aquecimento global’”.

A imagem de 1898, em preto e branco, é de fato uma fotografia antiga. Já a foto de 2025 é uma imagem colorida e moderna do mesmo monumento.

Ao colocá-las lado a lado, o post sugere que, visualmente, não há diferença no nível da água entre os dois períodos, ignorando medições científicas precisas e o contexto. A comparação visual é falha porque a posição da câmera, a maré no momento da foto e outros fatores podem alterar a percepção da altura da água.

O Comprova também avaliou as imagens com a ajuda de inteligência artificial. Embora as conclusões das IAs devam ser tratadas com reservas, tanto o ChatGPT quanto o Gemini alertam que as fotos de 1898 e 2025 não servem como prova de que não houve aumento do nível do mar no período. As IAs indicam diferenças de perspectiva, incertezas sobre as marés e alterações físicas na ilha como obstáculos para uma conclusão sobre o nível do mar a partir de uma simples comparação das imagens.

| Imagem publicada nas redes sociais comparando o nível da água em diferentes datas (reprodução de postagem no X).

De acordo com Kauane Bordin, bióloga e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em medições feitas pelas Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA na sigla em inglês) dos Estados Unidos, a cidade de Nova York vem apresentando um rápido aumento no nível do mar na sua costa oceânica. “Avaliações recentes mostram que este aumento tem atingido a marca de 2,94 mm por ano”, diz.

Ainda segundo Kauane, existem diferentes formas de estimar o aumento do nível dos oceanos, que variam em precisão de acordo com a área amostrada. Áreas extensas, por exemplo, são monitoradas por meio de imagens de satélite, enquanto avaliações regionais contam com o monitoramento em estações de nível da água com dados históricos e de longo prazo. Este segundo método tem maior refinamento e precisão. No caso de Nova York, as medidas são in loco e acontecem desde 1856.

O derretimento das calotas polares e das geleiras está provocando um aumento no nível do mar de cerca de 3 milímetros por ano em Nova York, afirma a especialista. “À primeira vista, o número pode parecer pequeno — afinal, 3 mm é quase imperceptível numa régua. Porém, quando se fala em oceano, essa escala muda completamente”, diz. “Para entender, basta pensar na diferença entre encher um copo e encher uma bacia: a mesma medida de água ocupa volumes muito diferentes. Assim, 3 mm adicionais na superfície de todos os oceanos do planeta representam bilhões de litros de água a mais”, afirma.

Outra evidência de que o aquecimento global é real é que, como já publicado pelo Comprova, estudos da Nasa mostram que a temperatura média na Terra aumentou pelo menos 1,1° Celsius desde 1880, a uma taxa de aproximadamente 0,15 a 0,20°C por década.

​​Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A imagem foi publicada em um perfil favorável ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que acumula 63 mil seguidores. Na publicação analisada, o alcance chegou a 340 mil visualizações. A página posta outros conteúdos de desinformação com vídeos e fotos sobre o político, que, como seu filho Carlos, segue o perfil.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A principal estratégia é o uso de uma falsa equivalência visual. Ao colocar lado a lado duas imagens, a publicação cria a ilusão de uma comparação científica, sugerindo que o nível do mar permanece o mesmo. Essa abordagem é poderosa porque as pessoas tendem a acreditar mais no que veem se não têm entendimento sobre o assunto. A imagem é mais rápida de ser consumida e interpretada do que um texto longo com dados, e a suposta “evidência visual” parece incontestável, mesmo que seja enganosa.

A tática de manipulação também se apoia em uma simplificação enganosa de um tema complexo. O aumento do nível do mar não é um processo uniforme ou facilmente perceptível a olho nu em um local específico. As variações de maré, a posição da câmera, a época do ano e outros fatores podem influenciar na ideia de que o nível da água mudou. O uso de um monumento icônico e familiar, como a Estátua da Liberdade, torna a publicação ainda mais apelativa. As pessoas se identificam com o local e reconhecem a imagem, e o conteúdo se torna mais fácil de ser compartilhado. Assim, a narrativa se baseia mais na emoção e na intuição, do que em análises e dados científicos capazes de comprovar a realidade.

A combinação de um texto provocativo com uma imagem aparentemente convincente faz com que a publicação seja um exemplo clássico de desinformação, misturando táticas visuais e textuais para manipular a percepção do público.

Fontes que consultamos: Entrevista com a bióloga Kauane Bordin, reportagem da Time Magazine, Gemini e ChatGPT.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que a emissão de gases de efeito estufa pelo ser humano é responsável pelo aumento da temperatura global, ao contrário do que diz vídeo e que é enganoso afirmar que CO2 não tem relação com o aquecimento. Em 2021, a Agência Lupa também verificou uma postagem que usava as mesmas imagens da Estátua da Liberdade e discurso narrativo.

Notas da comunidade: Até a publicação desta reportagem, não foram adicionadas notas da comunidade no X.

Eleições

Investigado por: 13/08/2025

Deepfakes no TikTok usam celebridades para simular apoio a Lula nas eleições de 2026

Política
Cristiano Ronaldo, Messi e Bruna Marquezine tiveram conteúdos manipulados por IA.

Os jogadores de futebol Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, assim como a atriz Bruna Marquezine, não declararam apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições presidenciais de 2026, ao contrário do que publicaram páginas do TikTok.

As postagens em questão apresentam vídeos manipulados por inteligência artificial, a partir da técnica de deepfake – recurso que utiliza algoritmos para criar imagens e áudios falsos, mas com aparência realista, simulando pessoas fazendo algo que nunca ocorreu –, com o objetivo aparente de estimular o apoio político ao petista.

Outro indício de que os vídeos foram gerados artificialmente é que as falas atribuídas aos dois jogadores, publicadas pelo mesmo perfil, são idênticas na maior parte dos dois conteúdos. Isso sugere que o criador utilizou comandos muito parecidos para produzir ambos.

O Comprova realizou três buscas reversas, procedimento que consiste em usar um quadro de vídeo para localizar na internet onde aquele conteúdo foi publicado inicialmente, e encontrou os vídeos originais.

O vídeo de Cristiano Ronaldo foi gravado em 2021, quando o português ainda defendia o Manchester United. Na gravação, o jogador agradece pela conquista do prêmio de “Maior Artilheiro de Todos os Tempos”, do Globe Soccer Awards, e lamenta não estar presente na cerimônia de entrega da premiação.

O vídeo original de Bruna Marquezine foi publicado em junho de 2020 no TikTok oficial da atriz. Nele, Marquezine aparece dublando um meme dela mesma. Também não há nenhuma menção às eleições de 2026.

Durante o período eleitoral de 2022, no podcast “Quem Pode, Pod”, Marquezine chegou a declarar voto no petista ao dizer que não se importava em perder seguidores ou contratos por se posicionar politicamente, gesto que acompanhou fazendo o “L” com uma das mãos. Entretanto, não há nenhum registro da atriz falando das eleições de 2026.

No caso de Messi, o vídeo mais recente encontrado foi publicado em um shorts do YouTube. Na gravação, o argentino apenas se apresenta falando “olá, sou Lionel Messi”, em espanhol.

A reportagem buscou por matérias jornalísticas e consultou os perfis oficiais nas redes sociais das três celebridades, mas não achou nada que correspondesse ao que foi apresentado nos vídeos em questão.

Os três vídeos estão identificados como “marcado pelo criador como gerado por IA”. Eles estão no ar apesar de violarem as regras da plataforma, segundo as quais são “totalmente proibidos” vídeos que utilizam IA para mostrar “uma figura pública quando usada para apoio político ou comercial”.

A plataforma define como figura pública “adultos (com 18 anos ou mais) com um papel público significativo, como um funcionário do governo, um político, um líder empresarial ou uma celebridade”.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Os três vídeos verificados foram publicados por páginas declaradamente alinhadas ao presidente Lula, que utilizam fotos do presidente nos perfis e descrições com frases como “Apoio ao eterno presidente”, “lula 2026”, “siga para ajudar o lula” e “13 sempre”.

O objetivo aparente é reforçar o apoio político ao petista, usando figuras públicas para atrair engajamento e potencialmente influenciar eleitores. Juntas, as publicações somam 285 mil visualizações, 40,6 mil curtidas, 4,3 mil comentários, 7,2 mil salvamentos e 3 mil compartilhamentos. O vídeo com maior alcance foi o do jogador Cristiano Ronaldo, que sozinho registrou 161 mil visualizações, mais da metade do total, e 22 mil curtidas.

Os vídeos de Lionel Messi e Bruna Marquezine também tiveram números expressivos, ultrapassando 49 mil e 75 mil visualizações, respectivamente, ajudando a ampliar a circulação do conteúdo pró-Lula nas redes. O Comprova entrou em contato com os perfis responsáveis pelas postagens, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A tática mais evidente é o uso de deepfakes com celebridades. Ao colocar declarações falsas na boca de figuras famosas, a publicação se apropria da fama que essas pessoas construíram ao longo de suas carreiras. O público, que admira e acompanha essas celebridades, tende a transferir essa confiança para a mensagem que elas supostamente estão publicando.

Os roteiros das publicações foram elaborados para criar um vínculo emocional com o público. Frases como “tenho um carinho enorme pelo país” e “o Brasil merece justiça, humanidade e esperança” exploram sentimentos de patriotismo e empatia. Ao usar essa linguagem, a publicação cria uma identificação com o público, fazendo com que a mensagem pareça mais sincera e menos partidária.

A publicação não se limita a apresentar uma mensagem; ela ativamente busca engajamento. A inclusão de chamadas explícitas para curtir e compartilhar é uma tática para impulsionar o alcance da publicação de forma orgânica. Ao incentivar a interação, o conteúdo se espalha rapidamente pelas redes sociais, atingindo um público muito maior do que se fosse apenas visualizado.

Além disso, os gatilhos políticos diretos, como “Lula 2026” e “força da esquerda”, direcionam a mensagem para um público que é receptivo a essas ideias. Isso não só reforça a mensagem para quem já concorda, mas também a coloca em um contexto de ação política, incentivando o público a se sentir parte de um movimento.

Fontes que consultamos: Busca reversa através do Google Lens, NotebookLM para transcrição dos vídeos, vídeos publicados em redes sociais, reportagem de veículos jornalísticos e site oficial do TikTok.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que vídeos com IA simulam Janja gastando dinheiro público, manipulam áudio para inventar apoio de Luciano Hang a Lula em 2026 e criam falsas paralisações de caminhoneiros.