Drex foi criado pelo BC, que é independente do governo, e não acaba com a poupança
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- Posts também desinformam ao dizer que moeda digital acabaria com dinheiro físico
O Drex, versão digital do real brasileiro, não foi criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não substituirá o dinheiro em espécie e nem impedirá que os brasileiros mantenham contas de poupança em bancos, ao contrário do que afirmam vídeos publicados no TikTok e no Instagram.
As postagens investigadas alegam que, quando implementado, o Drex eliminará cédulas e moedas, permitirá ao governo monitorar todas as transações, impedirá o acúmulo de recursos e ainda fará o dinheiro “expirar”, restringindo o uso a determinadas localidades, em um modelo comparado a “países socialistas”. Também indicam que entraria em vigor em janeiro de 2026. Nenhuma dessas informações encontra respaldo em documentos oficiais.
Em resposta ao Comprova, o Banco Central afirmou que é o responsável pelo desenvolvimento do Drex e destacou que o projeto é conduzido pela autarquia, sem envolvimento da Presidência; não terá impacto sobre a manutenção de poupança; e segue em fase de testes. Em fevereiro de 2025, o BC publicou o Relatório da 1ª fase do Piloto Drex, abordando arquitetura, privacidade e segurança.
Verificado pelo Comprova, o documento não menciona qualquer plano de substituir o dinheiro físico, impedir poupança ou restringir o uso da moeda, como alegam as postagens. O relatório da 2ª fase, que reuniu casos de uso propostos por instituições financeiras e empresas de tecnologia, está em elaboração e deve ser divulgado em breve, segundo a instituição. Já a 3ª fase, prevista para começar ainda em 2025, terá como foco principal a eficiência no uso de ativos como garantia em operações de crédito.
A autora dos posts verificados afirma ainda que o “dinheiro em papel vai acabar”, mas segundo o BC, o Drex será uma opção adicional ao real físico, operado em plataforma digital e intermediado por instituições financeiras autorizadas. O objetivo é ampliar a eficiência e a segurança das transações, com uso de contratos inteligentes que só concluem uma operação quando todas as condições forem cumpridas. Trata-se, portanto, de uma opção adicional, e não um substituto para cédulas, moedas ou contas já existentes.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
Os vídeos com as alegações sobre o Drex foram publicados em 3 de setembro pela influenciadora Carla Cout, que se apresenta como missionária, comunicadora, cantora e terapeuta. Ela mantém o perfil @carlacoutoficial1 no TikTok, com mais de 136 mil seguidores e 891 mil curtidas, e o perfil @carlacoutoficial no Instagram, com cerca de 2,8 mil seguidores. Nas descrições, afirma ser “militante da direita e do bolsonarismo”.
A publicação verificada alcançou cerca de 392 mil visualizações no TikTok até 10 de setembro, além de 17 mil curtidas, 15 mil compartilhamentos e 2.537 comentários. No Instagram, o mesmo vídeo somava cerca de 34 mil visualizações.
Por que as pessoas podem ter acreditado
O conteúdo pode ter convencido parte do público porque usa uma informação real — a existência do projeto Drex — e a insere em um cenário distorcido de vigilância e repressão. Essa técnica de descontextualização dá aparência de plausibilidade à narrativa, pois o público já ouviu falar da moeda digital, mas desconhece detalhes técnicos sobre seu funcionamento.
Além disso, o vídeo utiliza exagero e alarmismo, afirmando que “acabou seus sonhos” e que o dinheiro “vai expirar”, o que gera medo imediato e desativa o pensamento crítico. O apelo emocional é reforçado com comparações ao comunismo e à Venezuela, referências que ativam memórias negativas em parte da audiência e fortalecem o sentimento de urgência.
A fala também inclui ataques à credibilidade do presidente e polarização, colocando o governo como inimigo do povo. Isso dialoga diretamente com grupos já críticos ao governo federal e ativa o viés de confirmação, levando essas pessoas a aceitar a mensagem sem checar informações oficiais.
Fontes que consultamos: Banco Central do Brasil, pesquisa em veículos jornalísticos, verificação anterior do Comprova, postagens nas redes sociais, relatório da 1ª fase do Drex e comunicado da Secretaria de Comunicação Social.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que o Drex não mudaria o sigilo bancário nem representaria um instrumento de controle social pelo governo, além de ter publicado na seção Comprova Explica como funciona a moeda digital. O projeto também checou a informação enganosa de que o recurso seria utilizado para arrecadar impostos diretamente de transações digitais.