O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Comprova Explica

Investigado por: 14/07/2025

Entenda a sanção imposta pelos Estados Unidos ao Brasil

Comprova Explica
Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros; presidente fala em caça às bruxas contra Bolsonaro e déficit nas relações comerciais.

Conteúdo analisado: Tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alegando falta de reciprocidade nas relações comerciais entre os dois países. A carta aberta enviada ao representante brasileiro e publicada pelo republicano no Truth Social alega suposta caça às bruxas contra Bolsonaro e acusa o Supremo Tribunal Federal (STF) de censura contra big techs estadunidenses.

Comprova Explica: Na última quarta-feira (9/7), uma carta aberta publicada pelo presidente Donald Trump na rede social Truth Social anunciou taxação de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. A medida anunciada pelo republicano pode entrar em vigor em 1º de agosto caso os países não entrem em acordo.

O texto publicado dá argumentos sobre as transações comerciais entre os países, além de apontar questões ideológicas. Segundo o republicano, o Brasil pode ser taxado devido às decisões do STF sobre empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como o X e Trump Media, e a uma suposta falta de reciprocidade nas relações comerciais entre os dois países por conta de “tarifas, políticas e barreiras comerciais não-tarifárias do Brasil”.

Trump inicia o comunicado com acusações de que a Justiça brasileira estaria fazendo uma caça às bruxas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e insta o judiciário a impedir imediatamente a continuidade do processo judicial. Ele alega ainda que o STF emitiu “ordens secretas e ilegais de censura” contra as big techs, com multas e expulsão do mercado brasileiro.

Além da carga tributária, o presidente afirma que pode abrir uma investigação contra o Brasil com base na seção 301 da Lei de Comércio norte-americana. O trecho, intitulado “Alívio de Práticas Comerciais Desleais”, autoriza o representante comercial dos Estados Unidos no país — Jamieson Greer, no caso do Brasil — a investigar e impor medidas para “fazer valer os direitos dos Estados Unidos sob acordos comerciais e responder a certas práticas de comércio exterior”.

O dispositivo pode ser acionado “se os direitos dos Estados Unidos sob qualquer acordo comercial forem negados, ou se um ato, política ou prática de um governo estrangeiro violar, for inconsistente com ou negar benefícios aos Estados Unidos sob um acordo comercial; ou for “injustificável” e “sobrecarregar ou restringir” o comércio dos EUA”. Atualmente, há duas investigações em curso, uma contra a China e outra contra a Nicarágua. Trump também usou a lei para taxar produtos chineses em 2018, imposição que permanece em vigor.

| Carta de Donald Trump endereçada ao presidente Lula na íntegra.

Estratégia de Trump

Embora a carta endereçada ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cite especificamente políticos e instituições do Brasil, o texto tem pontos comuns com ameaças de tarifas a outros Estados.

Na última semana, Donald Trump enviou cartas com anúncio de tarifas a 22 países. O primeiro a receber foi o Japão. Com exceção das mensagens endereçadas ao Canadá e ao Brasil, os demais textos seguem a mesma estrutura e mudam somente o nome do país e a porcentagem da tarifa.

Em todas as mensagens, os Estados Unidos alegam que as relações não são recíprocas, ameaçam aumentar a tarifa em caso de retaliação e afirmam que não vão impôr as taxas caso os países aceitem fabricar seus produtos em solo estadunidense. Esses trechos são copiados em todos os comunicados e mudam apenas as informações do destinatário.

Países notificados:

  • 50% – Brasil
  • 40% – Myanmar e Laos
  • 36% – Tailândia
  • 35% – Sérvia, Bangladesh e Canadá
  • 32% – Indonésia
  • 30% – Argélia, Líbia, Iraque, Bósnia-Herzegovina, África do Sul e Sri Lanka
  • 25% – Moldávia, Brunei, Tunísia, Cazaquistão, Malásia, Coreia do Sul, Japão e Filipinas

Segundo o mestre em Economia Internacional Alexandre Fermanian, Trump estaria fazendo uma jogada para ter margem de negociação com o Brasil. “Os Estados Unidos podem sentir algum impacto, mas é insignificante se comparado ao nosso”. Atualmente, Estados Unidos e China são os mercados que mais importam produtos do agronegócio brasileiro.

Ele explica que, atualmente, a economia dos Estados Unidos tem forte participação do consumo doméstico. Segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA, 52% dos produtos manufaturados comprados no país são produzidos nacionalmente, enquanto outros 48% foram importados. Para o especialista, a estratégia de negociação do republicano pode estar atrelada com a meta de aumentar a industrialização no país.

Embora o Brasil exporte muitos bens para o país norte-americano, o especialista destaca que os produtos são bens primários e do agro, o que inviabiliza a alternativa dada por Trump de que empresas brasileiras passem a produzir em solo estadunidense.

Quem deve ser impactado

A nova tarifa, caso seja implementada, deve atingir com mais força o setor exportador brasileiro. Segundo Carlos Henrique, que dirige a área jurídica e de compliance da Frente Corretora, os produtos mais afetados serão “ferro, aço, café, suco de laranja, carne bovina e também aeronaves”. Ele reforça que “a Embraer tem participação importante nas exportações para os EUA”.

Segundo ele, esses setores têm forte presença no mercado norte-americano e podem enfrentar perda de competitividade com a elevação das tarifas, o que exigiria redirecionamento das exportações para novos mercados.

Carlos destaca que os dois países seriam impactados, mas de formas diferentes. “No Brasil, os prejuízos tendem a ser mais concentrados em setores específicos da economia, afetando diretamente os exportadores e pressionando negativamente o PIB, com projeções de uma possível redução de até 0,6 ponto percentual”, disse.

Esses impactos também seriam sentidos pela população na alta do dólar e na inflação.

“Nos Estados Unidos, o impacto tende a ser mais difuso, afetando consumidores e indústrias que dependem dos produtos brasileiros. Pode haver aumento de preços em itens básicos, como o café e o suco de laranja, além de impactos nas cadeias produtivas”, completou o especialista.

Fontes consultadas: Carta de Donald Trump direcionada a Lula, entrevistas com o especialista em economia internacional Alexandre Fermanian e Carlos Henrique, CCLO da Frente Corretora, além de reportagens veiculadas na mídia.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Aos Fatos explicou porque Trump quer taxar produtos brasileiros e quais as consequências. O Estadão mostrou que Trump não disse que Lula é “escândalo ambulante”.

Golpes virtuais

Investigado por: 11/07/2025

Golpe da falsa taxa da alfândega: entenda o que é e como se proteger

Golpes virtuais
O golpe que cobra uma “taxa da alfândega" para liberação de encomendas tem se tornado cada vez mais comum. Criminosos se aproveitam da expectativa das pessoas de receber pacotes, especialmente aqueles comprados online e vindos do exterior, para cobrar taxas inexistentes via Pix. Para isso, se passam por órgãos públicos e empresas de transporte. O Comprova mostra como os golpistas abordam as vítimas, que táticas utilizam contra elas e como você pode se proteger dessas abordagens.

Golpe da falsa taxa da alfândega

Como os golpistas abordam as pessoas: As vítimas são abordadas por mensagem no WhatsApp, SMS ou via e-mail. Por texto, o golpista afirma ser o transportador responsável pela entrega de um pedido que foi retido pelo controle de remessas ou taxado pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX). A mensagem afirma que, para evitar a devolução do pacote e regularizar a pendência, é necessário acessar um link e pagar um valor. O endereço leva a uma página onde um QRCode é gerado para pagamento via Pix.

Que táticas eles usam para chamar a atenção: As táticas incluem mensagem alarmante – alegando que a encomenda será devolvida caso não haja regularização – e o uso de informações verdadeiras. São citados, por exemplo, nomes de transportadoras reais e de órgãos oficiais, como Correios e SISCOMEX. Também são mencionados dados da vítima, como número de telefone e endereço. Outra estratégia é o uso de links que simulam o endereço de sites verdadeiros. Algumas das URLs encontradas fraudulentas foram “acessosedex .com” e “alfandega .correios360 .com”. Essa abordagem dá aparência de legitimidade à mensagem.

Qual é o objetivo do golpe: Desviar dinheiro das vítimas.

Como se proteger: Ao Comprova, a Receita Federal confirmou que nunca liga ou manda mensagens de cobrança de pagamento para liberar encomendas. Segundo o órgão, o pagamento de impostos sobre mercadorias importadas não é recebido por meio de Pix, QRCode, cartão de crédito ou débito.

O pagamento é feito apenas por meio de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF). Portanto, identificar mensagens que solicitam pagamento de taxas de alfândega por estes meios pode ser uma forma de se proteger dos golpes. Uma página da Receita Federal mostra exemplos de golpes semelhantes contendo mensagens falsas sobre pagamentos de taxas para liberação de mercadorias.

A psicóloga Bianca Orrico, responsável pelo atendimento do Canal de Ajuda da SaferNet, associação que promove a defesa dos Direitos Humanos na Internet, orienta sempre conferir com cuidado o remetente da mensagem, observando número, e-mail ou perfil nas redes sociais. Conforme ela, golpistas costumam usar endereços muito parecidos com os oficiais, mas com pequenas alterações.

Uma das mensagens avaliadas pelo Comprova, por exemplo, tem erros de grafia em relação ao site correto da transportadora citada. Além disso, a página exibida para cobrar o pagamento do usuário também apresenta a descrição da cobrança como “Ministério da Economia”, mas a pasta deixou de existir em 2023, mesmo ano da recriação do “Ministério da Fazenda”.

Bianca afirma ser fundamental desconfiar de mensagens que criem senso de urgência ou contenham ameaças, pois esse é um artifício comum para pressionar a vítima a pagar sem questionar.

Além disso, antes de clicar em links ou efetuar qualquer pagamento, ela sugere entrar em contato diretamente com a empresa ou instituição citada, usando canais oficiais, para confirmar a veracidade da cobrança. É possível verificar se o site é realmente o oficial conferindo o endereço completo (URL) ou buscando a página no navegador e em fontes confiáveis.

Outra sugestão é manter celulares e computadores com antivírus atualizados e verificações em duas etapas em aplicativos e contas, o que ajuda a evitar invasões que podem levar a novos golpes.

A quem denunciar: A Receita Federal orienta procurar uma Delegacia de Polícia Civil especializada para fazer denúncia caso ocorra tentativa de fraude ou extorsão.

A isso, Bianca Orrico acrescenta ser importante também comunicar imediatamente o banco ou empresa envolvida caso o golpe tenha usado o nome das instituições. O Consumidor.gov.br é um serviço público e gratuito que faz a interlocução entre consumidores e empresas para solução alternativa de conflitos de consumo pela internet.

Por fim, se o golpe envolver uso indevido de dados pessoais, é possível apresentar uma reclamação à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) pelo site oficial.

Desconfiou que é golpe? O Comprova pode ajudar a verificar: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, eleições e possíveis golpes digitais e abre verificações para os conteúdos duvidosos que mais viralizam. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já explicou como funciona o golpe do frete, o do falso emprego e também roubos de contas de redes sociais. Verificações também já mostraram como se proteger de golpes de chamadas de robôs e do “Pix errado”. A agência Aos Fatos também fez conteúdo informativo sobre o golpe das encomendas retidas.

Política

Investigado por: 08/07/2025

Comitê Gestor da Internet tem membros eleitos e não é órgão federal de censura

Política
Diferentemente do que diz publicação viral no X, professor aposentado da UFRJ que fez comentário polêmico em foto de filha de Roberto Justus não é mais integrante do comitê.

Marcos Dantas, o professor que sugeriu colocar a filha do empresário Roberto Justus na guilhotina, não é membro do Conselho Gestor da Internet (CGI), tampouco o órgão pertence ao governo federal. O CGI foi criado em 31 de maio de 1995, por meio da Portaria Interministerial nº 147 e, em 3 de setembro de 2003, um decreto no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou sua formatação. O decreto ampliou a representatividade do Comitê, que atualmente tem entre seus membros integrantes eleitos, além de representantes governamentais. A alegação enganosa aparece em um post viral no X, que repercute uma publicação do docente em uma foto da filha de cinco anos de Justus usando uma bolsa de R$ 14 mil.

No post viral, o autor compartilha um print do perfil do docente no programa de pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) e alega que o professor integra “o Comitê Gestor da Internet do governo federal”. Na sequência, outras pessoas comentam a publicação no X afirmando que o comitê é uma espécie de “gabinete da censura” e que os membros que o compõem vão “regulamentar a internet”. Isso não é verdade.

O decreto que instituiu o CGI, ainda em vigor com seu texto original, descreve as atribuições do comitê. Entre suas funções estão: a definição de diretrizes estratégicas para o uso e desenvolvimento da internet; representar o Brasil em fóruns técnicos nacionais e internacionais; estabelecer procedimentos administrativos alinhados a padrões internacionais, podendo firmar acordos e convênios; realizar estudos e recomendar normas e padrões técnicos e operacionais voltados à segurança e uso adequado da rede.

Os membros são eleitos por um colégio eleitoral formado por cada um dos setores com representação e a participação do governo se dá pela presença de representantes de órgãos públicos entre os membros. São 21 integrantes, sendo nove do setor governamental, quatro do setor empresarial, quatro do terceiro setor, três da comunidade científica e tecnológica e um com notório saber em assuntos da internet.

A última eleição ocorreu em 2023 e os representantes têm um mandato de três anos, iniciado em 2024. O nome de Marcos Dantas não aparece entre os atuais membros do comitê. Ele teve cinco mandatos, sendo um representando o Ministério das Comunicações (entre 2003 e 2004) e outros quatro como membro da comunidade científica e tecnológica. Ele foi eleito pela última vez em 2020 e permaneceu como membro até agosto de 2023. Essas informações, assim como o fato de Dantas estar aposentado desde 2022, não aparecem no perfil do docente no site da universidade.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O post que viralizou alcançou mais de 103 mil visualizações e é uma resposta a outra publicação sobre os comentários a respeito da filha de Roberto Justus, que somava 2 milhões de visualizações até 8 de julho. O perfil não tem um nome próprio, mas o autor diz trabalhar com “marketing e vendas para clínicas”. Embora o perfil seja verificado pelo X, ele tem poucos seguidores (255) e as publicações não têm necessariamente ligação com o trabalho do autor.

As postagens não são frequentes e os assuntos são variados: há comentários sobre a trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia, onde a brasileira Juliana Marins morreu após sofrer uma queda, sobre esportes, conflito no Oriente Médio, entre outros. Mas há, também, críticas à esquerda, incluindo o presidente Lula, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o deputado federal André Janones (Avante-MG).

A reportagem não conseguiu contato com o autor porque o perfil não permite o envio de mensagens diretas por usuários que não tenham contas verificadas. Já o perfil no LinkedIn não tem e-mail para contato.

Por que as pessoas podem ter acreditado

É plausível que as pessoas acreditem no conteúdo porque ele usa informações parcialmente corretas: a informação de que o professor Marcos Dantas integra o Comitê Gestor da Internet saiu de uma fonte oficial, o site da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma visita ao site do próprio Comitê, contudo, mostra que o professor não integra mais o grupo, embora tenha sido membro até 2023.

Após a repercussão negativa do comentário, a universidade emitiu uma nota repudiando o conteúdo da publicação, informando que o professor se aposentou em 2022 e que “as postagens publicadas pelo mesmo em suas redes sociais digitais expressam suas opiniões pessoais”. Até o início da tarde de 8 de julho de 2025, contudo, o perfil não dizia que ele estava aposentado e mantinha a informação de que ele integra o CGI.

A publicação engana ao afirmar que o comitê pertence ao governo federal. Essa compreensão equivocada fica clara por conta dos demais comentários no post: há pessoas afirmando que o órgão é um “gabinete da censura” e que vai regulamentar as redes sociais, o que não é verdade.

Quem são os integrantes do CGI?

Cada um dos 21 integrantes titulares do CGI têm direito a um suplente, sempre do mesmo setor. O poder público tem direito a nove integrantes, que são representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (que coordena o comitê), a Casa Civil da Presidência da República, os Ministérios das Comunicações, da Defesa, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços, do Planejamento, Orçamento e Gestão, além da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Atualmente, os representantes governamentais são:

  • Renata Vicentini Mielli (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações);
  • Pedro Helena Pontual Machado (Casa Civil);
  • Hermano Barros Tercius (Comunicações);
  • José Roberto de Moraes Rêgo Paiva Fernandes Júnior (Defesa);
  • Cristiane Vianna Rauen (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e serviços, antigo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior);
  • Luanna Sant’Anna Roncaratti (Gestão e Inovação em Serviços Públicos);
  • Alexandre Reis Siqueira Freire (Anatel);
  • Débora Peres Menezes (CNPq);
  • Cláudio Furtado, do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti).

O engenheiro eletricista Demi Getschko é o representante com notório saber em assunto de internet. Os quatro representantes do setor empresarial são Cristiano Reis Lobato Flôres (provedores de acesso e conteúdo da internet), Marcos Adolfo Ribeiro Ferrari (provedores de infraestrutura de telecomunicações), Henrique Faulhaber Barbosa (indústria de bens de informática, de bens de telecomunicações e de software) e Nivaldo Cleto (setor empresarial usuário).

O terceiro setor tem quatro titulares: Percival Henriques de Souza Neto, Beatriz Costa Barbosa e Bianca Kremer. São mais três representantes da comunidade científica e tecnológica: Rafael Almeida Evangelista, Marcelo Fornazin e Lisandro Zambenedetti Granville. Há, ainda, um secretário executivo: Hartmut Richard Glaser.

Qual a atuação do comitê em relação às redes sociais?

No ano em que o decreto foi instituído, 2003, as redes sociais estavam em uma fase inicial de desenvolvimento. Algumas plataformas já ganhavam destaque e influenciavam pessoas, mas o boom só ocorreu nos anos subsequentes.

O texto do ato normativo não prevê a atuação do CGI em relação às redes sociais. Contudo, nos dias de hoje, o órgão promove discussões sobre o tema. Em maio, o comitê lançou uma consulta aberta visando a construção coletiva de “princípios para a regulação de plataformas de redes sociais digitais”. O texto é composto por 10 princípios, e até o dia 13 de julho o debate ficará aberto para participação da sociedade. Na plataforma em que lança uma proposta preliminar de princípios para a regulação de redes sociais, o CGI reforça que propor o diálogo com a comunidade faz parte da atribuição de “estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no país”.

Os princípios propostos pelo CGI para a regulação de plataformas de Redes Sociais falam sobre: soberania e segurança nacional; liberdade de expressão, privacidade e direitos humanos; autodeterminação informacional; integridade da informação; inovação e desenvolvimento social; transparência e prestação de contas; interoperabilidade e portabilidade; prevenção de danos e responsabilidade; proporcionalidade regulatória; ambiente regulatório e governança multissetorial.

O que disseram a UFRJ e o professor?

O comentário do professor Marcos Dantas que motivou a publicação viral investigada foi feito no X após um outro usuário repostar a notícia de que Vicky, a filha de 5 anos do empresário Roberto Justus com a influenciadora Ana Paula Siebert, havia posado para uma foto usando uma bolsa de grife avaliada em R$ 14 mil. Dantas respondeu com as palavras “Só guilhotina…”. O comentário logo viralizou e provocou uma resposta do empresário e da esposa.

O perfil do professor ainda está ativo no X, mas ele tornou as publicações privadas. Antes disso, segundo publicou a revista Veja, ele afirmou que o comentário tratava-se de uma “metáfora” e pediu desculpas diretamente a Justus: “Se por obra desses incontroláveis fatores próprios da internet, o post lhe chegou a conhecimento e causou-lhe tantas e compreensíveis preocupações, peço sinceramente que me desculpe”.

Em nota publicada no Instagram, a UFRJ repudiou o comentário e disse que o conteúdo expressava opiniões pessoais do autor, que se aposentou em 2022. No Currículo Lattes de Dantas consta que a aposentadoria ocorreu em 30 de outubro daquele ano. Lá, ele também aparece como ex-secretário nacional de Educação à Distância do Ministério da Educação, entre 2004 e 2005, e como subsecretário da Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Administração do Ministério das Comunicações, entre 2003 e 2004.

Procurado pelo Comprova, Marcos Dantas respondeu que é aposentado, que não integra mais o comitê desde 2023 e acrescentou que o CGI não é um órgão do governo, embora tenha representantes do governo. Sobre o comentário a respeito da filha de Justus, tratou como “lamentável episódio” e compartilhou um post no próprio X em que fala sobre o assunto: “Era pra ser, e continua sendo, uma simples metáfora, aliás volta e meia empregada por alguém no X (ex-Twitter).  Uma referência simbólica a um evento dramático, mesmo trágico, que marcou para sempre a história da humanidade: a Revolução Francesa. Qual a causa dessa revolução? Uma realidade de profunda desigualdade social, alimentando o radicalismo político”.

Fontes que consultamos: O Comprova acessou a página da pós-graduação em Comunicação da UFRJ e o currículo Lattes para confirmar as informações sobre Marcos Dantas. Também pesquisou sobre o Comitê Gestor da Internet no Google e acessou o site do Planalto para ler o Decreto nº 4.829 na íntegra. Informações adicionais sobre o perfil de Marcos Dantas, e a repercussão de sua fala sobre a família Justus, foram encontradas em reportagens da imprensa profissional.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou que comentários em redes sociais simulam censura e a atribuem enganosamente a Alexandre de Moraes. Também foi provado que o monitoramento de redes sociais e de notícias pelo TSE não significa ‘terceirização da censura’, como foi expresso em posts.

Notas da comunidade: Não há notas da comunidade associadas à postagem verificada pelo Comprova no X.

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 8 de julho, às 23h, para incorporar a resposta de Marcos Dantas, recebida após a publicação, e em 10 de julho, às 15h30, para corrigir a informação de que o CGI foi criado em 2003 – na realidade, o CGI foi criado em 1995 e teve sua formatação alterada em 2003.

Saúde

Investigado por: 07/07/2025

Pedido de desculpas do Grok publicado por deputado não confirma tese sobre vacinas

Saúde
Publicação do deputado federal Osmar Terra sugere que ferramenta de IA teria “se desculpado” com ele, mas mensagem não confirma informações divulgadas sobre imunização contra covid-19.

É falso que uma interação do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) com a ferramenta de inteligência artificial Grok, da rede social X, possa provar a veracidade de suas críticas à vacina contra a covid-19. Terra alega que mortes pela doença teriam aumentado na cidade de Serrana (SP), em 2021, após uma vacinação em massa. Na verdade, dados públicos mostram que as mortes em Serrana diminuíram em 30%. Além disso, ferramentas de IA não são capazes de avaliar a confiabilidade dos dados que lhe são fornecidos, como já mostrou recentemente o Comprova. O deputado não divulgou a sua interação com o Grok na íntegra e não é possível analisar a espontaneidade da resposta.

Segundo Terra, a plataforma usava a “narrativa da grande mídia” para criticar postagens da época da pandemia em que o parlamentar afirmava que o lockdown era inútil e a vacina, ineficaz. No entanto, de acordo com o autor, a IA “reconheceu o erro e pediu desculpas” após ser “confrontada com evidências”.

O texto de desculpas feito pela ferramenta de IA afirma que “dados fornecidos por você” confirmariam que a alegação do deputado estaria correta. O diálogo em que o Grok teria feito a manifestação não está disponível para consulta pública. Apesar disso, a declaração do Grok publicada por Terra exibe a caixa de mensagens na parte debaixo da imagem, o que sugere que tenha sido redigida em um diálogo no próprio chat da ferramenta.

O texto redigido pela IA também indica que o pedido de desculpas teria sido feito após o próprio deputado enviar dados sobre casos de covid-19 na cidade de Serrana, ao apontar que “os dados fornecidos por você (90 óbitos pré-abril e 63 óbitos pós-abril, totalizando 153, com aumento de 70%) confirmam que a alegação estava correta”. O próprio parlamentar reconhece na legenda de uma das postagens ter sido ele quem passou os dados sobre o caso em Serrana à ferramenta. “Agora, confrontada com evidências que demonstrei […] reconheceu seu erro e pediu desculpas”, escreveu.

A postagem do deputado engana, no entanto, ao dizer que o número de mortes por covid-19 em Serrana teria crescido até 70% no período após a experiência de vacinação em massa. Para a alegação, o deputado utiliza dados do Portal da Transparência do sistema de cartórios de registro civil do país. No entanto, a interpretação dos dados feita por Terra dá a entender que os óbitos se tornaram mais frequentes, o que não é verdade.

A partir de capturas de imagens publicadas em 2022, o Comprova identificou o site utilizado por ele e checou os números utilizados. Entre o início da pandemia — decretada em 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — e o dia 30 de abril de 2021, período pesquisado pelo deputado em postagens de dezembro de 2022 que criticavam a vacinação contra covid, Serrana registrou 90 óbitos por Covid. A imunização em massa foi concluída em abril de 2021. De 1º de maio a 5 de dezembro de 2022, foram outras 60 mortes — número 33% menor do que o registrado no período anterior, e não maior, como sugeriu o “pedido de desculpas” do Grok.

A assessoria de Osmar Terra declarou ao Comprova que o deputado usou fontes confiáveis que comprovaram suas afirmações, as quais, segundo ele, não foram contestadas pelo Grok. A equipe do parlamentar acrescentou ainda que o pedido de desculpas sobre o tema foi publicado em uma foto e que tudo está registrado na postagem, “sem nada mais a declarar”. É importante salientar que as ferramentas de inteligência artificial são falhas e não devem ser utilizadas como recurso único, como reforça texto publicado pelo Comprova.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação foi feita pelo perfil do deputado federal Osmar Terra na rede social X. Até o dia 7 de julho, a postagem tinha 7,9 mil visualizações. Outra publicação semelhante, com a mesma imagem de pedido de desculpas do Grok feita horas depois, alcançou 5,1 mil visualizações até a mesma data.

Terra é médico e foi ministro do Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer e da Cidadania de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2020. Apoiador de Bolsonaro, ficou conhecido na pandemia por difundir teorias antivacina e contrárias ao isolamento social como forma de prevenção à doença.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A postagem usa elementos para sugerir uma perseguição contra o deputado federal, que seria “atacado pela grande mídia” por ter “denunciado” supostas estratégias ineficientes no combate à Covid-19. Também utiliza o print de um suposto pedido de desculpas gerado pela ferramenta Grok, a Inteligência Artificial do X, para dar a conotação de uma retratação da plataforma, que supostamente “reconheceu seu erro e pediu desculpas”, segundo a publicação do parlamentar. A mensagem do Grok reproduzida na postagem também utiliza elementos de persuasão, ao sugerir que o pedido de desculpas ocorreu após o usuário “trazer os números corretos do Portal da Transparência”, em uma tentativa de dar credibilidade aos números citados.

A influência de usuários sobre ferramentas de IA

O pedido de desculpas do Grok publicado por Osmar Terra também mostra que ferramentas de IA dependem de informações externas e podem ser influenciadas por usuários para fornecer respostas específicas.

Ao Comprova, o Head of Data & AI da plataforma de ensino Gran Cursos, Miller Horvath, explica que a inteligência artificial generativa tem alta capacidade de detectar padrões e escolher qual é a palavra mais adequada para completar uma frase.

Ele é bastante suscetível a aceitar algumas informações para ajustar a continuidade da conversa e nem sempre vai ter condição de avaliar se aquilo que o usuário está disponibilizando para ele é factualmente correto ou não”, explica. “Então, se o modelo te apresenta uma informação que é factualmente correta e você o questiona, ele tende a conseguir ‘ir na onda’ do usuário e ajustar suas respostas para utilizar alguma informação que foi compartilhada para ele”.

Essa característica também está relacionada ao conceito de sicofância, espécie de “bajulação” à qual os chats de IA recorrem para buscar a aprovação do usuário, podendo até mesmo mentir ou se contradizer para apresentar uma resposta capaz de agradar. Artigo da OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, admite que em uma das atualizações a ferramenta passou a oferecer respostas “excessivamente favoráveis, mas enganosas”. Para usuários dessas soluções de IA, é importante conhecer essa tendência das plataformas de adotar tom mais bajulador ou voltada a um viés de confirmação em busca da aprovação do usuário, uma vez que isso pode permitir considerar as limitações da ferramenta e possíveis inclinações das respostas.

O Comprova fez um teste com o Grok para tentar chegar a um resultado semelhante ao publicado por Osmar Terra. No primeiro momento, o chatbot avalia que faltam evidências concretas e que há uma possível distorção dos dados por parte do deputado. Ao ser refutada, a IA passa a afirmar que a informação é “numericamente incorreta”, no entanto, mas ainda com cautela ao afirmar que a interpretação dos dados pode ter sido “possivelmente enganosa”.

Seguimos no teste, até o momento em que a ferramenta passou a afirmar que os dados fornecidos pelo deputado estavam corretos. Além disso, nas últimas mensagens, o chat passou a afirmar que o parlamentar merecia desculpas a partir de provocação feita pela equipe.

O pedido de desculpas semelhante ao que aparece na postagem de Terra, no entanto, só foi obtido a partir do comando explícito “formule um pedido de desculpas a Osmar Terra”.

Miller Horvath explica que não é impossível que as IAs se desculpem espontaneamente após o usuário apontar um erro. No entanto, segundo o especialista, o pedido de desculpas feito ao deputado estaria muito estruturado e dificilmente seria feito sem uma orientação direta do usuário.

“Essa orientação direta pode tanto acontecer direto nas interações por texto como também pode estar configurado. A única forma que a gente teria para para saber seria se o deputado tivesse compartilhado a interação”, explica. “É possível que ele não tenha pedido explicitamente, mas eu diria que é improvável”.

O projeto piloto de imunização em Serrana

A pesquisa de imunização em massa contra covid-19, pioneira no mundo, foi desenvolvida pelo Instituto Butantan, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi desenvolvida em parceria com a Secretaria de Saúde e a Prefeitura de Serrana, cidade a cerca de 300 quilômetros da capital paulista. O objetivo era entender qual a efetividade da vacina CoronaVac, compreendendo como a imunização de toda uma população poderia afetar o curso da pandemia. O Butantan afirmou que o Projeto S fez os “casos sintomáticos de covid-19 despencarem 80%, as internações, 86%, e as mortes, 95%”.

Fontes que consultamos: Dados disponíveis no Portal da Transparência, experimentos com o Grok, artigos da OpenAI sobre ferramentas de IA, assessoria do deputado Osmar Terra e entrevista com o especialista Miller Horvath.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou como as ferramentas de IA podem falhar em checagens e buscas e que comentários nas redes sociais enganam ao simular censura e atribuir ao ministro Alexandre de Moraes. Também explicamos como a desinformação sobre vacinas distorce dados e compromete a confiança pública.

Notas da comunidade: A postagem de Osmar Terra não tinha notas da comunidade no X até a publicação deste conteúdo.

Política

Investigado por: 04/07/2025

Carros da BYD foram cedidos a órgãos públicos dentro da lei, não em troca de benefícios

Política
Post no X alega, sem apresentar provas, haver corrupção no caso.

A cessão de carros da montadora chinesa BYD a órgãos públicos como a Presidência da República, o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) se deu por meio de contratos de comodato regulares e públicos. O comodato prevê o empréstimo dos veículos para uso das instituições com data definida para devolução, e é previsto legalmente no Artigo 579 do Código Civil.

Ou seja, os carros não foram um presente, como sugere uma postagem no X investigada pelo Comprova, mas um empréstimo por meio de um instrumento jurídico válido. Para o Estadão Verifica, o advogado e especialista em direito público Marcos Jorge explicou que a medida respeita os princípios de economicidade e eficiência que orientam a administração pública.

Os contratos com os órgãos são os que seguem abaixo:

Diante da cessão dos carros, a postagem que viralizou no X vinculou o ato a supostos benefícios concedidos à empresa, sugerindo corrupção. A postagem faz uma série de ilações, sem apresentar provas, e divulga informações equivocadas.

Em um trecho, diz que houve a cessão de dois veículos à primeira-dama Janja, o que não é verdade. Como mostra o contrato acima, o empréstimo é para a Presidência da República. Ao Comprova, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) confirmou a informação. Segundo o órgão, os carros são para uso da Presidência da República e o contrato é público. A Secom acrescenta que “repudia a divulgação de boatos falsos com objetivos políticos”.

O mesmo trecho vincula a informação equivocada à extensão do regime especial para instalação de fábricas de automóveis no Nordeste até 2032. A prorrogação dos incentivos tributários se deu em dezembro de 2023, durante a tramitação da reforma tributária no Congresso Nacional. A medida foi implementada em votações por parlamentares da Câmara e do Senado (CNN Brasil, Agência Brasil, Poder360). Ela é anterior aos contratos de comodato de cessão dos carros aos órgãos públicos, firmados a partir de janeiro de 2024.

A postagem ainda cita que outro dos supostos benefícios à BYD seria a “entrega” do terreno em Camaçari, na Bahia, pelo governo estadual, para que a empresa construa sua unidade industrial. Mas o terreno foi comprado pela BYD do Governo da Bahia, como mostram Valor, A Tarde, Poder360, Diário do Comércio, Autodata e Autos&Motos.

Outro suposto benefício à BYD seria, segundo postagem, a “vista grossa” feita por órgãos públicos diante do caso de trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão nas instalações da BYD na Bahia. No entanto, foi a Fiscalização do Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho na Bahia (SRTE/BA), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que constatou as irregularidades e lavrou mais de 60 autos de infração contra a BYD.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O Comprova fez contato com o responsável pela postagem, mas não obteve retorno. No seu perfil no X, onde a postagem viralizou, ele se descreve, em inglês, como empreendedor e conservador. E acrescenta: “Lutando por um mundo melhor… através do trabalho, fé e ação sempre que necessário”.

Ele compartilha posts de perfis e veículos hiperpartidários de direita. Postagens compartilhadas com frequência são do perfil do cantor Roger Rocha Moreira, que já foi desmentido diversas vezes pelo Comprova (aqui, aqui e aqui).

A postagem verificada nesta checagem teve, até o dia 4 de julho, mais de 118 mil visualizações e mil compartilhamentos.

Por que as pessoas podem ter acreditado

Por citar alguns fatos verdadeiros, como a cessão de carros da BYD a autoridades públicas, instalação da montadora chinesa em Camaçari e a extensão de benefícios tributários a montadoras no Nordeste até 2032, a postagem pode levar internautas a acreditar nas relações que traça. No entanto, as afirmações são equivocadas e não há provas das associações feitas na tentativa de evidenciar corrupção.

Ao se deparar com notícias amplamente divulgadas pelos principais veículos nacionais, a exemplo da cessão de veículos e da produção em Camaçari, o internauta pode ser convencido de que todo o conteúdo é verdadeiro.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou matérias publicadas na imprensa e em sites oficiais do governo federal e do Congresso Nacional. Além da Secom, o Ministério do Trabalho e Emprego e o Governo da Bahia e o responsável pela postagem foram procurados, mas não responderam até o fechamento deste texto.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica (1, 2), a Agência Lupa (1, 2) e o UOL Confere já desmentiram irregularidades no empréstimo de carros da BYD a órgão públicos. Recentemente, o Comprova mostrou que regras para motoristas de aplicativo e entregadores seguem inalteradas e que vídeo engana ao utilizar IA para simular Janja ostentando compras com dinheiro público.

Notas da comunidade: Até a publicação deste texto, não havia notas da comunidade na postagem no X.

Política

Investigado por: 04/07/2025

Vídeo usa IA para simular protesto contra Hugo Motta

Política
Imagens foram criadas pela ferramenta Veo, do Google, e mostram supostos atos políticos contra o Congresso.

Vídeos de manifestações contra o Congresso Nacional e o presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (REPUBLICANOS-PB) foram produzidos por inteligência artificial. Postagens que circulam no TikTok mostram centenas de pessoas nas ruas em um aparente protesto. Elas exibem cartazes com frases como “Congresso inimigo do povo” e entoam gritos de “Hugo Motta, traidor”.

Nos vídeos, é possível ver marca d’água no canto inferior direito com o nome Veo, ferramenta de geração de vídeos com inteligência artificial do Google. Além do vídeo verificado, o perfil publicou outros recortes de protestos contra o legislativo, todos com a marca da ferramenta. “Nossa, me arrepiei toda, bem diz que a voz do povo é a voz de Deus”, diz um comentário. Outro usuário afirma: “O povo vendo a REALIDADE”.

Embora os vídeos apresentem a marca, não há avisos claros de que foram gerados por IA, o que levou alguns usuários a acreditarem se tratar de registros de manifestações que realmente ocorreram.

O Comprova inseriu os vídeos no SynthID Detector, ferramenta que reconhece conteúdos feitos por IA exclusivamente com produtos do Google. A ferramenta apontou uso de inteligência artificial com alto grau de probabilidade.

| Reprodução de tela com o resultado da análise de frame do vídeo investigado feita com o SynthID, ferramenta do Google para detectar imagens criadas por IA.

É importante salientar que ferramentas de inteligência artificial podem falhar e não devem ser utilizadas com única fonte na checagem. Além do teste, é possível notar alguns elementos ao olhar os vídeos com atenção. Os manifestantes apresentam pele com aspecto de cera e se movem de forma robótica. Outro elemento são cartazes que aparecem com símbolos e palavras desconexas ou em idioma não identificado.

Embora cidadãos tenham se manifestado nas redes sociais com menções a Motta e ao Congresso, não há registros de atos políticos nas ruas contra o deputado.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Perfil no TikTok com a descrição “Notícias do Brasil e do mundo” acumula 13,4 mil seguidores. No momento da publicação da checagem, o vídeo investigado contava com 552 mil visualizações, 81,2 mil curtidas, 10,9 mil comentários e 7,7 mil salvamentos.

O conteúdo do canal é majoritariamente composto por vídeos feitos com inteligência artificial, além de vídeos em que um jovem, aparentemente o titular da conta, se grava fazendo comentários sobre algum tema. As publicações são de assuntos relacionados à política, com críticas ao Congresso Nacional. As publicações geralmente não apresentam descrição na legenda além das hashtags.

O Comprova entrou em contato com o autor, mas não obteve retorno até a última atualização.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A própria descrição do perfil — “Notícias do Brasil e do mundo” — sugere que os conteúdos do perfil são verdadeiros, o que pode levar os seguidores a acreditar nos conteúdos publicados. Outro elemento é a utilização do próprio rosto em alguns vídeos do perfil, o que pode dar certa credibilidade ao interlocutor.

Embora o vídeo tenha a marca d’água do Veo, não há outro indicativo de que tenha sido criado com IA na legenda do post, salvo a hashtag #veo3, que aparece em alguns deles. A escolha por um tema em voga, como as manifestações contra Hugo Motta, também pode tornar o conteúdo mais apelativo e até mesmo deixar os usuários confusos quanto à veracidade dos atos.

Fontes que consultamos: Notícias sobre manifestações políticas nas últimas semanas e as ferramentas para detecção de vídeos criados com IA SynthID e Hive Moderation.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou uma série de conteúdos feitos com inteligência artificial, como vídeo que simula Janja ostentando compras com dinheiro público e outro que manipula imagens para acusar o presidente Lula (PT) de embriaguez durante cúpula do G7. Outros vídeos usam formatos de telejornal para disseminar informações falsas, como novas regras para motoristas de aplicativo e declarações públicas de Lula sobre o Irã.

Política

Investigado por: 04/07/2025

Reforma tributária mantém a livre negociação de preços de imóveis

Política
Nova lei apenas autoriza a Receita a revisar valores declarados para fins de cálculo de impostos, sem tabelar o mercado.

A Reforma Tributária não faz com que o governo seja responsável por fixar o valor de compra e venda de imóveis a partir de 2026, diferentemente do que alega um vídeo no Instagram. Na realidade, a lei permite que o Fisco verifique de forma independente o valor declarado pelo contribuinte, para evitar sonegação de impostos.

Em 16 de janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a Lei Complementar 214/2025, que trata da reforma tributária. A nova legislação altera vários pontos do mercado imobiliário, mas não dá ao governo qualquer atribuição sobre a definição dos preços dos imóveis. Entre as principais alterações está o artigo 256, citado no vídeo em questão, que permite à Receita Federal realizar apurações próprias sobre os preços de compra e venda, em vez de somente aceitar a declaração do contribuinte. Os critérios, segundo a legislação, são:

  • análise de preços praticados no mercado imobiliário;
  • informações enviadas pelas administrações tributárias dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União;
  • informações prestadas pelos serviços registrais e notariais; e
  • localização, tipologia, destinação e data, padrão e área de construção, entre outras características do bem imóvel.

A advogada Paula Beatriz Loureiro Pires, sócia especialista em direito tributário do Eichenberg, Lobato e Abreu Advogados, explicou que o governo vai definir um valor base para calcular os impostos devidos pelo contribuinte. Mas esse valor é apenas para fins fiscais, e pode ser contestado judicialmente.

“Essa informação (do vídeo) é falsa. Todo comprador e vendedor poderá livremente negociar os valores de compra e venda dos seus imóveis. O que vai haver, e isso sim como decorrência da reforma tributária, é a fixação do valor base de cálculo dos tributos incidentes nessa venda”, afirmou.

Segundo a autora do vídeo, que é advogada, “o governo utilizará uma tabela de referência, baseada no cruzamento de dados de cartórios, estados e municípios” para definir as cotações dos bens imobiliários, a partir de “um mecanismo específico para apurar o valor de referência dos imóveis, com o objetivo de estimar o valor de mercado”.

O advogado Kênio de Souza Pereira, diretor-regional de Minas Gerais da Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário (Abami) e vice-presidente da Comissão Especial de Direito Condominial da OAB Nacional, ressalta os erros de interpretação por parte da autora do vídeo aqui investigado.

“Houve um enorme desconhecimento. O artigo 256 trata de regras para apuração do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) da reforma tributária, da mesma forma que ocorre hoje quando o município cobra o ITBI (Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis). Obviamente, os proprietários têm total liberdade de pedir o valor que bem entenderem para vender ou locar seus imóveis, inexistindo qualquer legislação que limite tal direito”, afirma.

Ainda segundo o especialista da Abami, a definição do preço de um imóvel é regida pela lei da oferta e da procura, ou seja, pelo próprio mercado imobiliário. “O valor do bem decorre de vários fatores, como: custo, características do produto, oportunidade, necessidade do comprador ou do vendedor em fazer a transação, capacidade de pagamento do comprador”, diz.

O advogado Guilherme Manier, sócio da área tributária do Viseu Advogados, complementa que a reforma tem como foco estruturar a fiscalização, e não intervir no valor de venda. Segundo ele, o governo vai considerar um valor de referência que será disponibilizado no Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais (Sinter). “Esse valor será atualizado anualmente e poderá ser impugnado pelo contribuinte interessado. A livre negociação entre as partes permanece garantida”, disse.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi criada pela advogada Danielle Alves Ferreira, filiada à seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Minas Gerais desde julho de 2007. Nas redes sociais, ela se autointitula como “especialista há 18 anos em direito automotivo” e “consultora para revendas com experiência de 28 anos”. O registro dela no site da OAB traz, como área de atuação, o direito cível, tributário, empresarial e do trabalho.

Ela soma cerca de 20 mil seguidores no Instagram até a publicação desta verificação. A maioria dos seus posts trata de mudanças realizadas na legislação, que influenciam o mercado de veículos. Quando essa verificação foi publicada, o vídeo em questão contava com cerca de 11 mil visualizações e aproximadamente 1 mil comentários.

Procurada pelo Comprova, Danielle Alves Ferreira argumentou que o proprietário “perdeu a presunção de veracidade” com a reforma tributária. “Vai ser criado um cadastro de imóveis brasileiro. Os estados, municípios e cartórios vão ter o prazo de um ano para alimentar esse sistema, que estará interligado ao Sinter. Com a lei, a proprietário perdeu a presunção de veracidade na declaração dele. O que vai valer vai ser o cruzamento de dados entre informações cartorárias, Receita Federal, municípios e preços de mercado. Se o proprietário não concordar, ele vai ter que manejar uma ação para questionar o valor”, disse.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação usa, como tática de persuasão, uma legenda com fundo vermelho na parte inferior do vídeo, com os dizeres: “Urgente! Dono de imóvel ‘não poderá mais fixar o valor da venda do imóvel! Quem estabelecerá o preço será o governo!'”. Além da cor chamar atenção do usuário, as frases estão em caixa alta. O uso da pontuação também merece destaque, com várias exclamações. A autora também usa aspas, que induzem o usuário a pensar que a frase foi retirada diretamente da nova legislação tributária.

Fontes que consultamos: A íntegra da Lei Complementar 214/2025; o diretor-regional de Minas Gerais da Abami e vice-presidente da Comissão Especial de Direito Condominial da OAB Nacional, Kênio de Souza Pereira; o sócio da área tributária do Viseu Advogados, Guilherme Manier; e Paula Beatriz Loureiro Pires, sócia especialista em direito tributário do Eichenberg, Lobato e Abreu Advogados

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos ou duvidosos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova concluiu que a reforma tributária não obrigará todos os profissionais autônomos a pagar 26,5% do faturamento em impostos e que não prevê taxa de 25% em compra e venda de imóveis. Em outra verificação, o Comprova concluiu que não há proposta do governo de taxar imóveis em 25% e herança em 40%.

Política

Investigado por: 03/07/2025

Regras para motoristas de aplicativo e entregadores seguem inalteradas

Política
Publicação no TikTok engana ao alegar que governo pretende impor mudanças drásticas no modelo de trabalho de profissionais vinculados a aplicativos

É falso que o governo brasileiro tenha anunciado um projeto de lei para implementar, a partir de 1º de julho, mudanças drásticas nas regras de trabalho de motoristas de aplicativos como o Uber e de entregadores do iFood. Uma postagem no TikTok apresenta informações alarmistas sem citar fontes confiáveis, leis, decretos ou documentos públicos que sustentem as alegações.

O Comprova entrou em contato com a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que afirmou não reconhecer as informações veiculadas no vídeo compartilhado. “Desconhecemos qualquer projeto de lei aprovado recentemente ou em vias de aprovação no Congresso Nacional referente à tributação de prestadores de serviços de entregas e transporte de passageiros por aplicativos”, comunicou. O Comprova também buscou, mas não encontrou registros oficiais que confirmem a existência de tal projeto de lei.

O vídeo afirma que todas as plataformas seriam obrigadas a repassar cada centavo do rendimento dos trabalhadores e descontar automaticamente até 30% em tributos, e que motoristas que fizerem mais de três corridas por dia passariam a ser monitorados pelo governo. Também diz que o recebimento de gorjetas em dinheiro resultaria em multa e acusação de sonegação, e contas seriam bloqueadas para quem não aceitasse essas novas regras.

As informações apresentadas pelo vídeo são ditas por uma figura que parece ser um jornalista em uma bancada de telejornal. De acordo com a ferramenta Hive Moderation, o vídeo possui uma estimativa de 99% de chance de ter sido gerado por inteligência artificial.

Ferramentas de IA podem falhar na detecção de conteúdos, por isso devem ser usadas como apoio à análise humana. O Comprova identificou distorções típicas de vídeos produzidos com o uso de inteligência artificial. Um exemplo é a chamada do telejornal, que apresenta duas distorções na palavra “Notícias.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O conteúdo foi publicado por um perfil no TikTok que acumula 33 mil seguidores e divulga vídeos com aparência semelhante à de um telejornal. Nos vídeos publicados na página, aparecem diferentes apresentadores, que veiculam notícias políticas falsas.

As postagens nunca informam o nome dos jornalistas ou do canal onde o noticiário seria veiculado. A conta costuma utilizar as tags #news e #notícias, dando a entender que se trata de uma página jornalística. O vídeo verificado alcançou 150 mil visualizações, recebeu 4 mil curtidas, 500 comentários e foi salvo por 600 usuários até o momento desta verificação.

O uso recorrente de símbolos do jornalismo pode indicar intenção de explorar a autoridade de veículos de imprensa para aumentar o alcance e o impacto de conteúdos enganosos. Comentários da publicação indicam que pessoas acreditaram no que é dito no vídeo. Até o momento, o responsável pela publicação não respondeu ao contato feito pelo Comprova.

Esta não é a primeira investigação do Comprova sobre esse perfil. Em outra verificação, testes realizados com o Hive Moderation — tecnologia que analisa características de vídeos e identifica possíveis criações com inteligência artificial — apontaram 99,9% de chance de o vídeo em que o ‘jornalista’ aparece ter sido gerado por IA.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza diversas táticas de persuasão para provocar medo, indignação e senso de urgência entre motoristas de aplicativos e entregadores. O vídeo começa com a expressão “notícia urgente”, passando sensação de alarme e imediatismo. Em seguida, utiliza linguagem hiperbólica — como “acabar com a vida”, “destruir o trabalho” e “ataque covarde” — para reforçar a ideia de que o governo estaria promovendo uma ação radical e injusta contra trabalhadores.

O conteúdo também se vale de generalizações alarmantes (“todas as plataformas serão obrigadas…”, “vai entrar numa lista de monitoramento fiscal”) que dão a falsa impressão de que medidas extremas já estão definidas e terão aplicação imediata. Há ainda o uso de perguntas retóricas (“isso é justiça ou um ataque covarde?”), que reforçam a opinião do autor enquanto simulam abertura ao diálogo. Por fim, a publicação termina com uma chamada à ação — “curta”, “compartilhe”, “fiquem em alerta” — para estimular o engajamento e aumentar a disseminação da mensagem, fortalecendo a narrativa por meio da mobilização coletiva.

Fontes que consultamos: As empresas Uber e iFood, assim como a Amobitec.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou que é falso que proposta do governo proíba Uber e iFood no Brasil. O UOL Confere e o Aos Fatos também verificaram que é falso que Lula quer acabar com trabalho por aplicativo, como Uber e Ifood. É falso que o g1 publicou reportagem afirmando que iFood pretende encerrar atividades no Brasil.

Política

Investigado por: 02/07/2025

Vídeo engana ao utilizar IA para simular Janja ostentando compras com dinheiro público

Política
O conteúdo satírico tem diversos indícios de ter sido gerado com ferramentas de inteligência artificial, mas ainda assim foi interpretado como real por parte do público

Um vídeo publicado no TikTok apresenta em forma de sátira uma figura criada por inteligência artificial que simula ser Janja da Silva, a primeira-dama do Brasil. Em tom debochado, a personagem narra supostos gastos excessivos e privilégios financiados por impostos da população. Não há qualquer evidência de que a primeira-dama tenha feito compras milionárias com dinheiro público durante viagem à França, diferentemente do que sugere a publicação.

Em março deste ano, entre os dias 26 e 30, Janja esteve na capital francesa em viagem designada pelo presidente Lula (PT) para participar da Cúpula Nutrição para o Crescimento N4G. De acordo com o Portal da Transparência, o valor total da viagem que contou com a primeira-dama e sua comitiva, composta por cinco assessores, foi de R$ 60. 210,58.

No vídeo investigado, a personagem afirma ter retornado de Paris com “sacolas cheias de artigos de luxo” comprados com o dinheiro dos cidadãos e menciona o uso irrestrito de aviões da “UberFab”, uma referência pejorativa à Força Aérea Brasileira (FAB) e ao Uber, aplicativo de transporte. Também declara ter se hospedado em um hotel que teria custado quase R$ 1 milhão e ameaça censurar os críticos por meio do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em determinado momento, o vídeo faz menção ao episódio em que Janja pegou carona em um avião da FAB para ir a uma consulta com um ginecologista em São Paulo, o que de fato aconteceu. A defesa apresentada foi que Janja viajou de carona com o ministro Alexandre de Moraes, a esposa dele, Viviane Barci, e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que foi quem requisitou a aeronave. Não tendo, então, custos adicionais para a União.

Todas as declarações do vídeo são apresentadas como se fossem falas da própria Janja. A postagem não apresenta fontes, documentos ou reportagens que sustentem as afirmações feitas pela personagem gerada por IA. Comentários na publicação indicam que pessoas acreditaram no vídeo. Um usuário afirmou que “parece brincadeira, mas pior que é verdade“.

De acordo com a Hiya.com, ferramenta de reconhecimento de IA, o áudio do vídeo possui 70% de chance de ser sido gerado por Inteligência Artificial. Segundo a ferramenta, se o resultado obtido for maior ou igual a 60%, é porque o áudio foi “muito provavelmente gerado por IA”.

O Hive Moderation, ferramenta que presta o mesmo serviço da Hiya, concluiu que o vídeo possui uma chance de 93% de ter sido gerado com IA. Vale lembrar que ferramentas de IA podem falhar na detecção de conteúdos, por isso devem ser usadas como apoio à análise humana. Outros indícios de que o conteúdo foi gerado por IA incluem bolsas da marca de luxo Chanel com o logotipo distorcido, dedos que se confundem com os cordões ao segurar os acessórios e a voz robótica da personagem ao longo do vídeo.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O conteúdo foi publicado por um perfil que soma cerca de 10 mil seguidores no TikTok. O vídeo investigado acumulou 160 mil visualizações, 10 mil curtidas, mil comentários e 600 salvamentos até a data da publicação desta verificação.

Na descrição da conta, o criador afirma: “Eu não sou de direita e muito menos de esquerda. Eu sou inteligente.” O Comprova entrou em contato com o perfil, mas obteve ofensas como resposta e o autor não mencionou o teor do post.

Apesar da alegação de neutralidade ideológica, o perfil costuma satirizar, com frequência, figuras associadas à esquerda, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o presidente da China, Xi Jinping. As postagens utilizam recursos visuais criados por inteligência artificial, reforçando estereótipos ou ridicularizando os personagens retratados.

A ausência de fontes confiáveis e a recorrência ao uso de imagens manipuladas indicam uma intenção humorística. A combinação entre estética de sátira política e o uso de IA contribui para a ambiguidade do conteúdo, que dificulta a distinção entre crítica bem-humorada e desinformação.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza diversas táticas de persuasão para tentar convencer o público de que a primeira-dama Janja leva uma vida de luxo sustentada com dinheiro público. Há também o apelo emocional, com frases que despertam indignação, como “comprei com o dinheiro de vocês” e “continuem pagando seus impostos para manter minha vida de luxo”.

O recurso visual reforça a narrativa ao mostrar uma figura gerada por inteligência artificial com características exageradas — como várias sacolas de grife e um avião ao fundo —, alimentando estereótipos sobre ostentação. Por fim, o texto utiliza o tom de deboche para provocar o público, buscando criar uma sensação de revolta no espectador.

Fontes que consultamos: Reportagens do Poder 360, Valor Econômico, o Antagonista e as ferramentas detectoras de IA Hiya e Hive Moderation, assim como o Portal da Transparência.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova concluiu que Janja não foi sozinha à Rússia e não há provas de que ela seja vigiada por autoridades norte-americanas e que post inventou que a primeira-dama teve um encontro noturno com Macron em Roma. O UOL Confere publicou uma matéria em que afirma ter desmentido a informação de que Janja teria viajado com 200 malas em um avião da FAB. O Fato ou Fake, do G1, fez outra checagem dizendo que era falso que ela foi barrada com malas de dinheiro na Rússia.

Comprova Explica

Investigado por: 02/07/2025

Como a desinformação sobre apoio do Brasil ao Irã se intensificou com início do conflito e viralizou na internet

Política
Publicações falsas exploram tensões políticas e emocionais para manipular a opinião pública nas redes.

Campanhas de desinformação surgiram e foram disseminadas nas redes sociais depois do início do conflito entre Irã e Israel. Perfis e até figuras públicas produziram e compartilharam conteúdos sobre um suposto apoio bélico do Brasil ao Irã descontextualizando falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criando afirmações inexistentes. Os desinformadores aproveitaram ainda imagens antigas de Lula com o líder do Irã, Ali Khamenei, para dar credibilidade às publicações e sugerir proximidade entre os governantes.

As peças de desinformação começaram a circular logo no início do conflito, em 13 de junho. Um dos posts verificados pelo Comprova, por exemplo, foi publicado no X na mesma data.

O conteúdo inventava que o governo brasileiro teria fornecido urânio para o Irã e exportado o metal para fins bélicos, o que não é verdade. Diversos perfis compartilharam publicações com teor semelhante, ajudando a disseminar a mentira. O post verificado pelo Comprova, que continua disponível na plataforma, foi visualizado 37,3 mil vezes até 1º de julho, e há outros conteúdos, como uma postagem no Instagram com mais de 220 mil visualizações, que reproduzem a mesma falsidade.

O boato teve outros desdobramentos. Posts alegaram falsamente que Israel confirmou o envio do urânio brasileiro, descontextualizando uma fala do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em que ele afirmava que Lula deveria ter “vergonha”. A declaração, no entanto, aconteceu em 2024, após o petista comparar as ações de Israel em Gaza ao holocausto judeu na Segunda Guerra.

As publicações sobre urânio ganharam tração ao serem compartilhadas por figuras públicas, como o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Após agências de checagem desmentirem postagens sobre o fornecimento de urânio, o parlamentar passou a fazer alegações sobre o assunto com uma nova roupagem. Em vídeo, ele cita o desaparecimento de duas ampolas do metal em uma usina de Resende (RJ), detectado em julho de 2023, e o atracamento de barcos iranianos no Brasil, em fevereiro de 2023, dois casos que aparecem na verificação do Comprova e de cuja relação não há evidências.

Logo depois da mentira sobre o urânio, outros boatos se disseminaram. Três dias depois, em 16 de junho, desinformadores espalharam a mentira de que Lula poderia enviar militares brasileiros para lutar pelo Irã – o conteúdo também foi checado pelo Comprova.

As técnicas usadas pelos desinformadores variam. Alguns posts sobre urânio, por exemplo, utilizam capturas de tela de títulos de veículos como o G1. Já o post sobre Lula enviar militares é narrado por uma voz gerada por inteligência artificial, como mostrou o Comprova.

Em comum, ambos os posts usam linguagem emocional e alarmismo. Trechos como “Lula ladrão”, “traição silenciosa” e a insinuação de que “a esquerda vai fingir que não aconteceu” aparecem no conteúdo sobre urânio. O do envio de militares segue a mesma linha, usando trechos como “nossos jovens irão lutar”, “crise sem precedentes” e “o clima esquentou em Brasília”.

Outro ponto em comum de posts falando sobre urânio e sobre Lula apoiar o Irã é que são publicados por perfis bolsonaristas, que exaltam pautas da direita e que, em geral, defendem políticas dos Estados Unidos e apoiam Israel.

Sobre isso, André Pase, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), diz ser uma forma de a direita se fortalecer, fazendo com que apoiadores tenham raiva – ou mais raiva – de Lula. “É uma pequenina peça no tabuleiro eleitoral, jogada em um momento sem urnas.”

Para Beto Vasques, professor de Comunicação Política da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e diretor de Relações Institucionais do Instituto Democracia em Xeque, os posts inventando que Lula estaria dando apoio bélico ao Irã seguem o alinhamento da direita com Israel e o fato de que, “hoje em dia, tudo vira motivo de polarização”. “Acontecesse o que fosse, Bolsonaro apoiaria Israel. E Lula tem uma posição já muito firme contra o Netanyahu, que disse que ele é uma persona non grata. Então, há uma relação muito fácil para esse alinhamento”, afirma.

Além de serem perfis bolsonaristas e usarem linguagem de alarmismo, os perfis que disseminam desinformação usam técnicas semelhantes. Entre as principais, Pase cita estratégias visuais, como conteúdos tentando imitar veículos de imprensa e imagens montadas para chamar a atenção, quase como uma lógica de meme, acompanhadas de um texto mentiroso.

Ele menciona ainda a informação verdadeira tirada de contexto. “Essa foi uma das que apareceu muito agora, trazendo um discurso antigo do presidente e mostrando como se fosse atual. É complicado, porque deixa o público com o pensamento ‘se foi assim no passado, e agora?’”, afirma Pase.

Outra característica em comum dos perfis é que costumam publicar informações sem citar a fonte. “As pessoas não estão buscando mais a verdade. Numa dinâmica onde a política é levada para o campo dos afetos, do nós contra eles, o que as pessoas querem é a validação. As evidências de que houve ou não venda de urânio pouco importam”, diz Vasques.

Fontes que consultamos: André Pase, da PUCRS, e Beto Vasques, da FESPSP, e reportagens de veículos como Folha, Estadão, Globo, CNN e verificações sobre Irã e Lula.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como afirmado acima, o Comprova já verificou que Lula não fez declarações públicas sobre apoiar o Irã na guerra e que o Brasil não forneceu urânio ao país asiático, nem exporta o metal para fins bélicos.