O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Saúde

Investigado por: 2024-06-12

Post engana ao dizer que Fauci teria afirmado ser um dos criadores da covid-19 e deletado e-mails sobre origem do vírus

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao afirmar que o médico Anthony Fauci, principal conselheiro da Casa Branca durante a pandemia, teria ocultado que o vírus da covid-19 foi desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos usando um laboratório na China. Acusações tiram de contexto mensagens de Fauci divulgadas em 2021.

Conteúdo investigado: Post afirma que Anthony Fauci “foi novamente exposto” no Senado norte-americano. “A covid-19 foi oficialmente desmascarada como um projeto do governo dos Estados Unidos. Um vírus desenvolvido por cientistas norte-americanos usando um laboratório biológico na China”, escreve o autor do conteúdo, que acompanha vídeo do congressista Ronny Jackson fazendo críticas a Fauci. No início do vídeo, a legenda sobre a imagem de Fauci sugere que ele teria dito: “Nós criamos a covid e deletamos todos os documentos de sua origem”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post segundo o qual o infectologista Anthony Fauci, conselheiro principal de saúde na Casa Branca durante a pandemia, teria confessado participação na criação do vírus da covid-19 e deletado documentos sobre a origem do novo coronavírus. A publicação usa as declarações do deputado norte-americano Ronny Jackson durante audiência com o médico promovida pelo Subcomitê sobre a Pandemia do Coronavírus em 3 de junho. O grupo avalia a atuação do governo frente à pandemia e tem feito audiências para investigar a origem do vírus.

Após acusar Fauci de “falhar miseravelmente” em sua atuação frente à pandemia, Jackson, do Partido Republicano, diz que o ex-diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), ligado ao Instituto Nacional de Saúde norte-americano (NIH), teria muito a perder “se o povo americano descobrisse que a covid-19 provavelmente vazou de um laboratório em Wuhan, na China”. Como o Comprova mostrou, ainda não há evidência científica de que o vírus tenha sido criado no local e sua origem ainda está sendo pesquisada.

O deputado também acusou Fauci de ter financiado, por meio do NIH, pesquisas de “ganho de função” conduzidas de forma imprudente no laboratório. Pesquisas de ganho de função envolvem modificações genéticas em um vírus para avaliar se estas tornam o patógeno mais mortal ou contagioso. Fauci declarou, em 2021, que o NIH nunca financiou pesquisas de ganho de função no Instituto de Virologia de Wuhan.

Uma das acusações feitas contra Fauci se baseia em troca de mensagens entre o imunologista e Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, ONG com sede nos Estados Unidos que desenvolve programas de pesquisa relacionados à saúde. O post enganoso distorce o conteúdo dos emails ao afirmar que Daszak teria agradecido Fauci por “esconder que o vírus veio de laboratório“. O email de Daszak elogiava uma declaração pública dada pelo então diretor da Niaid em que ele rejeitou a teoria do vazamento, sem qualquer menção sobre esconder a verdade. O Comprova já fez uma verificação sobre o assunto.

Os emails de Fauci foram divulgados em 2021, após um pedido via Lei de Liberdade de Informação (FOIA, na sigla em inglês) feito por veículos de imprensa. Mas o post investigado aqui desinforma ao dizer que ele teria deletado emails sobre a origem do coronavírus. Um funcionário do NIH incentivou colegas a usar seus emails pessoais como uma maneira de proteger Fauci, mas não há evidências de que a sugestão tenha vindo do médico ou de que ele tenha deletado emails.

Contatado pelo Comprova, o autor do post, BielConn, que se descreve no X como “especialista em desmascarar fraudes que até ‘ontem’ eram teorias da conspiração”, afirmou ter traduzido o que Ronny Jackson disse. Sua página no X saiu do ar após o contato da reportagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado ao menos 432 mil vezes até o perfil ser retirado do ar.

Fontes que consultamos: Buscamos primeiramente entender de que se tratava a audiência por meio de notícias e canais oficiais da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Também pesquisamos por notícias da época, onde pudemos encontrar, na íntegra, os emails de Fauci divulgados em 2021.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou conteúdos que acusam Anthony Fauci de afirmar que o novo coronavírus aparenta ser fruto de engenharia genética e que máscaras são inúteis e que alegam que emails do imunologista revelam que o Sars-CoV-2 foi criado em laboratório. Também mostrou ser enganoso que Fauci e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estariam dizendo que “as vacinas não protegem”.

Contextualizando

Investigado por: 2024-06-11

Lula e Janja irão à Europa em junho para cumprir agenda diplomática

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Contextualizando
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, viajarão para a Suíça e para a Itália esta semana, entre os dias 13 e 15 de junho. Como a viagem acontece na mesma semana do Dia dos Namorados, publicações viralizaram nas redes alegando que Lula vai à Europa festejar a data. Mas, na realidade, o presidente viajará para participar de dois compromissos diplomáticos: a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, e a reunião do G7, em Borgo Egnazia, na Itália. O presidente será o orador principal de um dos painéis em Genebra e participará como convidado da cúpula do G7.

Conteúdo analisado: Publicações que insinuam que Lula e Janja irão para a Europa aproveitar o Dia dos Namorados na Suíça e na Itália.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, viajarão esta semana para a Suíça e para a Itália. Na Europa, Lula cumprirá agenda em dois eventos oficiais: a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, e a reunião do G7, em Borgo Egnazia. Nas redes sociais, contudo, publicações viralizaram ao insinuar que o objetivo da viagem seria a comemoração do Dia dos Namorados, celebrado no Brasil no próximo dia 12 de junho.

Lula e Janja desembarcarão na Suíça no dia 13 para o primeiro compromisso do presidente na Europa, o Fórum Inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social. O painel acontecerá durante a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra. A coalizão foi idealizada em 2022 pelo diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo, e formalizada pelo órgão no ano passado. Lula foi convidado para ser copresidente e, por isso, segundo o Itamaraty, será o orador inicial.

Depois de Genebra, ainda no dia 13, o casal partirá para Borgo Egnazia, onde acontecerá a reunião da cúpula do G7. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), Lula foi convidado pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. Será sua oitava participação como presidente convidado em uma reunião do G7, grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

Além de se reunir com os líderes do G7 e outros presidentes, Lula terá ao menos cinco reuniões bilaterais. O Itamaraty já confirmou que haverá encontros com o papa Francisco, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen.

Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) lamentou as tentativas de “desvirtuar o caráter dessas importantes agendas do presidente da República”. Já a assessoria de comunicação da primeira-dama confirmou que ela “acompanhará o presidente Lula na viagem para a reunião do G7, assim como fez no ano de 2023, e da OIT”.

Copresidência da coalizão da OIT

Alguns dos posts verificados sugerem que o presidente e a primeira-dama estão indo curtir o Dia dos Namorados na Europa enquanto o Rio Grande do Sul ainda sofre com as inundações. Justamente por conta das chuvas, a ida de Lula tanto a Genebra quanto à Itália não estava confirmada até o início do mês, segundo publicou o colunista Jamil Chade, do UOL. No último dia 4 de junho, o Ministério das Relações Exteriores confirmou a viagem ao abrir credenciamento para a imprensa referente aos dois compromissos. Na programação oficial do evento, ainda é o nome do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que aparece como representante do Brasil.

Na manhã de 10 de junho, o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do MRE, embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, explicou que a coalizão se estrutura em torno de seis temas e, uma vez por ano, os integrantes se reúnem a fim de apresentar propostas relacionadas a eles.

“Uma das das questões que nós estamos estudando, por exemplo, é aquela iniciativa Lula-Biden sobre trabalho decente. Estamos discutindo aí com os americanos se ela não poderia ser incluída nesse contexto da Coalizão Global pela Justiça Social”, disse Cozendey, acrescentando que Lula fará a fala de abertura do fórum.

Viagem à Itália como convidado do G7

A segunda parte da viagem desta semana será para a Itália, que recebe a Cúpula do G7 e os líderes convidados em Borgo Egnazia. Os temas discutidos serão inteligência artificial, energia, África e Mediterrâneo. Este é o segundo ano consecutivo que o presidente Lula participa do encontro das maiores economias do mundo como convidado, mas ele já esteve em reuniões do G7 outras seis vezes, segundo o Itamaraty: em 2003, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009.

O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do MRE, embaixador Maurício Carvalho Lyrio, informou que Lula e os demais presidentes convidados chegarão a Borgo Egnazia às 13h do dia 13 de junho e terão um breve encontro inicial.

Em seguida, participarão da reunião entre os líderes do G7 e os convidados. Esta reunião terá o papa Francisco como orador inicial e cada participante falará por cinco minutos, incluindo o próprio Lula. De acordo com Lyrio, o tema central da fala do presidente brasileiro deverá ser a presidência brasileira do G20. “Eu diria que um eixo norteador provável da fala do presidente é um pouco como esses temas [do G7] se relacionam também com a presidência do G20 e com outras prioridades da agenda brasileira do G20, como o lançamento da Aliança Global contra a Fome”, declarou.

Além das reuniões entre todos os líderes, vão acontecer encontros bilaterais. Uma das reuniões já confirmadas ocorrerá entre o presidente Lula e o papa Francisco, na manhã do dia 14. O encontro foi solicitado por Lula. Outros líderes solicitaram reuniões com o brasileiro e tiveram os pedidos aceitos: são os representantes da Índia, da África do Sul, da França e da Comissão Europeia. Segundo o MRE, há ainda quatro convites sendo analisados.

Fontes consultadas: O Comprova procurou o Ministério das Relações Exteriores, a Secom e a equipe de comunicação direta da primeira-dama. Também foram consultadas notas oficiais, comunicados à imprensa e matérias sobre a viagem presidencial.

A reportagem entrou em contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), responsável por uma das publicações que insinuam que a viagem à Europa tinha como objetivo festejar o Dia dos Namorados, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Outras publicações relacionadas a Lula e Janja já foram verificadas pelo Comprova, como a afirmação falsa de que o presidente forjou viagem para a COP 27, no Egito, e discursou em porão cenográfico, e um post enganoso que alega que a primeira-dama encenou entrega de cão a um militar da Força Aérea Brasileira para gravar a cena e divulgar nas redes sociais.

Saúde

Investigado por: 2024-06-10

É enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas contra a covid

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Enganoso
Estudo preprint, não revisado por pares, não permite afirmar, de forma ampla, que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas contra a covid, como afirma um post. Há literatura científica publicada que sugere o contrário. De acordo com esses estudos, revisados por pares, a probabilidade de miocardite como consequência da infecção pelo coronavírus chega a ser sete vezes maior do que em pessoas imunizadas. Autores do estudo preprint afirmam que suas conclusões foram distorcidas pela postagem aqui investigada.

Conteúdo investigado: Postagem com link de artigo publicado pelo site Médicos Pela Vida com o título “Miocardite e pericardite ocorrem apenas em vacinados, revela estudo”. O texto afirma que casos de miocardite e pericardite foram registrados somente em grupos de crianças e adolescentes vacinados contra covid-19 e que o Ministério da Saúde desinforma ao dizer que quem recebeu os imunizantes contra o coronavírus tem menos chances de desenvolver miocardite do que pessoas não vacinadas.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O grupo Médicos Pela Vida, associação criada na pandemia que defende “tratamento precoce” e medicamentos como a hidroxicloroquina contra a covid-19, se baseia em um estudo não revisado por pares para afirmar que “miocardite e pericardite ocorrem apenas em vacinados”. Um post no X publicado no perfil deles sugere uma conclusão abrangente que não condiz com a literatura científica publicada até o momento sobre o tema.

A afirmação enganosa destaca uma frase do estudo, que diz que “entre adolescentes e crianças, miocardite e pericardite foram documentadas apenas nos grupos vacinados”. O estudo em questão, que analisou dados de mais de um milhão de crianças e adolescentes, observou que essas ocorrências foram muito raras.

Ao Comprova, Edward Parker e William J. Hulme, dois pesquisadores envolvidos no estudo, afirmaram que suas conclusões foram distorcidas pelo Médicos Pela Vida. Parker acrescentou que não foi estabelecida relação de causalidade entre as enfermidades e as vacinas.

Além disso, o estudo é um preprint, ou seja, não foi revisado por pares, processo exigido para validação e posterior publicação em revista científica de referência.

O texto também engana ao afirmar que o Ministério da Saúde espalha desinformação ao dizer que “quem se vacinou contra covid-19 tem menos chance de desenvolver miocardite”. A declaração do órgão tem respaldo em, pelo menos, dois estudos revisados por pares. Um deles foi publicado pela editora Frontiers e mostra que o risco de miocardite é mais de sete vezes maior em pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 do que naquelas que receberam a vacina. Foram analisados dados de 58 milhões de pessoas.

Outro estudo publicado pela revista Circulation, da Associação Americana do Coração, mostrou que o risco de miocardite é maior após infecção por SARS-CoV-2 em indivíduos não vacinados do que após a vacinação. Neste, foram observados 43 milhões de casos.

Ao Comprova, o autor do post investigado reforçou os argumentos defendidos no artigo publicado no site Médicos Pela Vida e a crítica ao Ministério da Saúde.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de junho, o post tinha 87,7 mil visualizações, 4 mil curtidas, 2 mil compartilhamentos e 117 comentários.

Fontes que consultamos: Estudos científicos revisados por pares, os autores do preprint, o virologista Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estudo mencionado pelo Médicos Pela Vida e checagens anteriores do Comprova sobre o tema. Fonseca indicou os estudos apresentados nesta verificação.

Casos são raros, como o próprio preprint destaca

Casos de miocardite e pericardite como efeito adverso pós-vacinação com imunizantes de mRNA são conhecidos e raros. A informação consta na bula da vacina Pfizer-BioNTech (BNT162b2), também chamada Comirnaty, que foi aplicada no grupo de mais de um milhão de pessoas observadas no estudo a que o Médicos Pela Vida se refere. Segundo a bula, casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação. A proporção em pessoas acima de 5 anos de idade é de menos de 1 caso a cada 10 mil doses aplicadas.

“Geralmente os casos são leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso”, diz a bula do medicamento.

O próprio estudo destaca que, no universo analisado, os casos de miocardite e pericardite foram raros, sem registro de mortes. “Embora raros, todos os eventos de miocardite e pericardite durante o período do estudo ocorreram em indivíduos vacinados: não houve mortes após miocardite ou pericardite”, diz trecho do estudo, na seção “Discussão”. Mais acima, é relatada a proporção de 27 e 10 casos por milhão de miocardite e pericardite, respectivamente.

O estudo é um preprint, ou seja, não foi revisado por pares e, portanto, como consta na publicação, não deve ser usado para orientar a prática clínica. Além disso, ele não tem o objetivo de analisar ocorrência de miocardite em infectados por covid-19 versus vacinados, mas sim a efetividade da vacinação em crianças e adolescentes. “A observação de miocardites é apenas um achado exploratório”, diz o virologista Flávio Fonseca.

Autores do estudo dizem que conclusões foram distorcidas

Ao Comprova, dois pesquisadores envolvidos no preprint citado como referência no texto do Médicos Pela Vida afirmam que as alegações apresentadas são interpretações errôneas do que o estudo avaliou.

“O número pequeno de casos de miocardite/pericardite ocorreu em indivíduos vacinados. No entanto, avaliar a causalidade é muito desafiador, pois existem outras explicações possíveis para o registro desses casos. Por exemplo, as vacinações em nosso estudo ocorreram após a miocardite e a pericardite terem sido discutidas na mídia, então essa maior conscientização pode ter causado diferentes padrões de comportamento de busca por saúde e diagnóstico após a vacinação”, afirma Edward Parker, professor assistente na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM).

Ele reforça que a pericardite e miocardite foram muito raras tanto em crianças quanto em adolescentes no estudo. “Também vale mencionar que entre os adolescentes em nosso estudo, a vacinação foi associada a uma redução nas internações e hospitalizações por covid, apoiando os efeitos protetores da vacinação como um todo”, destaca.

Já William J. Hulme, da Divisão de Ciências Médicas da Universidade de Oxford, explica que não é possível dizer, a partir do estudo, que o risco de miocardite pós-vacinação é maior em comparação com o risco de miocardite após a infecção pelo coronavírus.

“A nossa é uma análise observacional, e sempre há a possibilidade de confundimento não mensurado e outros vieses. No entanto, nós nos propusemos a responder à pergunta ‘a vacinação em crianças reduz a ocorrência de eventos relacionados à covid, e ela aumenta a ocorrência de certos eventos adversos?’”.

“Embora não tenhamos identificado nenhum caso de miocardite ou pericardite no grupo não vacinado, isso não significa que nenhum ocorreu em todas as crianças não vacinadas, pois incluímos apenas crianças não vacinadas que foram pareadas com crianças vacinadas em nossa análise”, avalia.

Miocardite: incidência em infectados por covid-19 é sete vezes maior do que em vacinados

Ao contrário do que afirma o Médicos Pela Vida, estudos revisados por pares e publicados em revistas científicas mostram que a probabilidade de uma pessoa sofrer miocardite como resultado de infecção por covid-19 é muito maior do que como evento adverso pós-vacinação – como afirma o tuíte do Ministério da Saúde enganosamente chamado de “desinformação” pelo Médicos Pela Vida.

O estudo Myocarditis in SARS-CoV-2 infection vs. COVID-19 vaccination: A systematic review and meta-analysis, publicado pela editora científica Frontiers, mostra que o risco de miocardite é mais de sete vezes maior em pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 do que naquelas que receberam a vacina. “Estes achados apoiam a continuidade do uso das vacinas de mRNA contra a COVID-19 entre todas as pessoas elegíveis conforme as recomendações do CDC e da OMS”, conclui o estudo.

Os autores conduziram uma revisão sistemática de 22 estudos publicados em diferentes países, com um total de 58 milhões de participantes. O estudo foi repercutido no site da Universidade da Pensilvânia.

Publicado no jornal Circulation, da Associação Americana do Coração (American Heart Association), o estudo Risk of Myocarditis After Sequential Doses of COVID-19 Vaccine and SARS-CoV-2 Infection by Age and Sex analisou dados de 43 milhões de pessoas na Inglaterra e mostrou que “o risco de miocardite é substancialmente maior após infecção por SARS-CoV-2 em indivíduos não vacinados do que o risco observado após uma primeira dose da vacina ChAdOx1nCoV-19, e uma primeira, segunda ou dose de reforço da vacina BNT162b2”. O estudo é citado no tuíte do Ministério da Saúde.

Em outro estudo (One-Year Risk of Myocarditis After COVID-19 Infection: A Systematic Review and Meta-analysis), que analisou casos de mais de 20 milhões de pessoas, constam os seguintes dados: miocardite ocorreu em cerca de 0,2 a cada 1000 pacientes que tiveram e sobreviveram à infecção por covid-19. Ou seja, 200 casos por milhão. Já a miocardite como complicação rara das vacinações de mRNA tem uma incidência estimada de cerca de 12,6 casos por milhão de aplicações da segunda dose da vacina de mRNA.

Portanto, a incidência da miocardite em vacinados é mais de 10 vezes menor do que em pessoas infectadas por covid-19.

Miocardite como consequências da covid

Já o estudo Understanding COVID-19-related myocarditis mostra como a infecção por covid-19 pode provocar miocardite, uma inflamação do miocárdio, músculo cardíaco que reveste o coração. Segundo a publicação, a causa mais comum de miocardite são as infecções por vírus, sendo o SARS-CoV-2 um deles. “Assim como outros tipos de vírus, o SARS-CoV-2 pode causar miocardite após infectar o tecido miocárdico, o que é atribuído ao dano direto do vírus e às reações inflamatórias descontroladas”, explica o estudo.

Para o virologista Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o argumento analisado nesta checagem não se sustenta diante das evidências científicas já publicadas:

“O argumento forte é o do Ministério da Saúde, que se baseia numa série de estudos publicados em revistas importantes como a Frontiers, que indicam que o risco de miocardite em pessoas que se infectam com o vírus é maior do que o risco em pessoas vacinadas, independente dessas pessoas vacinadas terem ou não covid-19 no futuro”, diz Fonseca. “O Ministério está correto em sua afirmação, enquanto o grupo de médicos (Médicos Pela Vida) pinçou uma frase solta dentro de um artigo não revisado por pares para embasar seu argumento. O argumento forte continua sendo o do Ministério, enquanto que o do grupo de médicos é fraco e facilmente derrubável, digamos assim”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 são alvo frequente de peças de desinformação. O Comprova já mostrou que a proteção oferecida por elas supera o risco de miocardite em crianças, que não é necessário detox de proteína dos imunizantes e que é enganosa a montagem em que uma deputada associa miocardite de jogador à vacinação. Também mostrou que é falsa a alegação de que a OMS teria admitido que bebês de mães vacinadas estariam nascendo com problemas no coração.

Política

Investigado por: 2024-06-07

Postagem engana ao sugerir que secretário do governo confirmou cobrança de novo imposto sobre Pix

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Post desinforma ao dizer que o governo federal teria confirmado que o Pix e o Drex, o real digital, foram programados para aumentar a arrecadação. O vídeo viral tira de contexto declaração do diretor da Secretaria da Reforma Tributária, Daniel Loria, sobre o split payment, que não é um novo imposto, mas um mecanismo que prevê que o imposto sobre uma compra seja recolhido no momento da compra.

Conteúdo investigado: Vídeo começa com pergunta sobre a possibilidade de um imposto ser criado sobre transações via Pix e avança afirmando que um secretário do governo federal deu uma declaração dando a entender que tanto o Pix como o Drex, o real digital, “estão sendo programados pensando na proposta de arrecadar impostos diretamente de transações digitais”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Post viral no TikTok engana ao sugerir que o governo federal estaria programando criar um imposto para transações via Pix, sistema de pagamentos e transferências de dinheiro instantâneos, e Drex, o real digital. “O governo vai colocar imposto no Pix? O que está por trás disso é assustador”, diz o autor do vídeo.

Em seguida, ele afirma que o “diretor da Secretaria de Reforma Tributária disse que tanto o Pix quanto o Drex estão sendo programados pensando na proposta de arrecadar impostos diretamente de transações digitais”. Daniel Loria afirmou isso, em 3 de maio, em um evento em São Paulo. Mas o secretário falava sobre o split payment, mecanismo da reforma tributária que prevê que o imposto sobre uma compra seja recolhido no momento da compra – ele não falava sobre a criação de um novo imposto.

“A nossa intenção é que o split seja obrigatório em todas as transações de pagamento por meio eletrônico. Estive ontem [2 de maio] no Banco Central conversando com o pessoal. O Pix e o Drex já estão sendo programados pensando nisso”, disse o diretor, referindo-se à intenção de fazer a alteração para que o imposto seja recolhido no momento da compra. Hoje, o recolhimento dos tributos é feito mensalmente.

Depois de sugerir que haveria a criação de um imposto, o autor do vídeo diz não se tratar de uma nova tributação, “mas é mais uma maneira de o governo tirar dinheiro daqueles que não declararam”. De fato, com o split payment, “o fornecedor vai ver reduzido o espaço para sonegação, fraudes e inadimplência”, como informou o Ministério da Fazenda ao Comprova. O órgão ainda afirmou que “é importante destacar que [o slit payment] não se trata de um tributo sobre o Pix e Drex”.

O Drex, como afirmado acima, é o real digital. Ele é a representação virtual da moeda brasileira e deve entrar em vigor no Brasil entre este ano e 2025. De acordo com o Banco Central, a sigla evoca as palavras “digital”, “real”, “eletrônico” e “transação”.

No final do post investigado aqui, o autor convida seguidores a aprender com ele, em outro vídeo, a não pagar imposto. Contatado pela reportagem, Rafael Cezar, o autor, negou que tenha sugerido a criação de um novo imposto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 5 de junho, o vídeo tinha sido visualizado 396 mil vezes e recebido 45,7 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Pesquisamos reportagens sobre o split payment e o site do Ministério da Fazenda, que foi contatado por email.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos sobre economia são frequentemente verificados pelo Comprova. O projeto publicou na seção Comprova Explica detalhes sobre medida do governo de zerar a taxa de importação do arroz e suas consequências e conclui ser falso post com dados sobre PIB e inflação inventando que Fernando Haddad havia dito ser impossível pagar o funcionalismo.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-05

Estrada foi bloqueada em Canoas (RS) para passagem de carretas com material de construção, diferentemente do que afirma post

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Post engana ao afirmar que um bloqueio foi feito na BR-448, na altura do acesso ao bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), para a chegada de 70 carretas vazias com a intenção de esconder algo da população. O bloqueio aconteceu no dia 31 de maio, dia da publicação do conteúdo, mas os caminhões não estavam vazios. Eles levavam material para reconstrução de dique.

Conteúdo investigado: Publicação no X em tom conspiratório afirma que 70 carretas que chegaram ao bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), estavam vazias e sairiam de lá escondendo algo. Nos comentários, há insinuações de que os caminhões eram frigoríficos e sairiam do bairro com corpos de vítimas da enchente.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Postagem engana ao insinuar que 70 carretas entrariam no bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), vazias. Os veículos realmente estiveram na região no dia 31 de maio, passando pela BR-448, mas para levar material de construção para obra do Dique Mathias Velho, conforme informou a Prefeitura de Canoas. Responsável pela obra, a Eurovia disse que toda movimentação de equipamentos e veículos da empresa no local é relacionada a este serviço contratado pela administração municipal.

O número de mortes divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul reforça que as alegações feitas na postagem e nos comentários (de que as carretas transportavam corpos) são enganosas. Até 5 de junho, 31 óbitos haviam sido confirmados no município, um dos mais atingidos pelas chuvas no estado. A quantidade de mortes não justifica operação com dezenas de carretas para transporte de mortos.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 5 de junho de 2024, o post somava 417 mil visualizações, 3 mil curtidas, mil compartilhamentos e 318 comentários.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, foram consultadas a Prefeitura de Canoas e a Eurovia, além da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP) e do Governo do Rio Grande do Sul. A autora do post não permite o envio de mensagens no X e, por isso, não foi possível contatá-la.

Empresa foi contratada emergencialmente para reconstruir dique

A empresa responsável pelas 70 carretas que passaram pela BR-448, próximo ao acesso a Mathias Velho, no dia 31 de maio, é a Eurovia, contratada emergencialmente para reconstruir o dique do bairro. As obras de reconstrução deste dique e de outro próximo, o do Rio Branco, eram essenciais para retirar a água acumulada no lado oeste de Canoas, segundo informou, no dia 30, o jornal O Sul.

A primeira obra a ser finalizada foi a do dique Rio Branco, em 29 de maio, que também fica às margens da BR-448. A empresa responsável pelo reparo foi a Sultepa, que assinou um contrato de R$ 1.868.593,91 no dia 20 de maio, como mostra este documento disponível no Portal da Transparência da Prefeitura de Canoas.

Com a Eurovia, o município assinou outro contrato emergencial, no mesmo dia, no valor de R$ 7.761.903,03, especificamente para a reconstrução do Dique Mathias Velho. Segundo a prefeitura, as 70 carretas que passaram pela BR-448 no dia 31 levavam material para esta obra, já que a do Dique Rio Branco já estava concluída naquele momento.

Em nota, a Eurovia confirmou a informação. “O objeto de nosso contrato se refere exclusivamente à prestação de serviços para a reconstituição provisória do Dique do Pôlder Mathias Velho. Logo, toda a movimentação de caminhões e equipamentos de nossa empresa, na localidade de Canoas, é decorrente dos aludidos serviços”, diz.

A PRF foi procurada, mas disse não ter informações sobre o bloqueio no acesso ao bairro Mathias Velho para a chegada dos caminhões. Segundo a Prefeitura de Canoas, a operação foi acompanhada pela Guarda Municipal.

Corpos não são transportados em caminhões, diz Instituto de Perícias

A insinuação de que os 70 caminhões estariam vazios porque transportariam corpos de vítimas da enchente também não se sustenta. No dia 31 de maio, quando os caminhões chegaram ao bairro Mathias Velho, o número de óbitos pela chuva no Rio Grande do Sul era de 169, mesmo número do início da semana, no dia 27. Ou seja, não houve variação no número de óbitos que justificasse uma grande operação para remoção de corpos.

O número e o nome dos mortos são divulgados diariamente pelo governo, separando os casos por cidade, como uma forma de transparência. Os dados podem ser acessados por qualquer pessoa.

Das 169 vítimas no Estado em 31 de maio, 24 eram de Canoas, e a cidade ainda tinha oito desaparecidos – o que também não justificaria 70 veículos, mesmo que fossem apropriados para o serviço, para remover as vítimas.

Além disso, corpos não são transportados em caminhões ou carretas, segundo informou ao Comprova o Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, ligado à Secretaria da Segurança Pública do Estado. O órgão explicou que os caminhões na BR-448 não pertenciam ao IGP e que “em nenhum momento houve transporte de vítimas em caminhões pelo instituto”.

Em nota, o governo do Rio Grande do Sul informou que contabilizou o maior número de pessoas desabrigadas no dia 13 de maio, totalizando 21.294 em Canoas. O dado de desalojados, que são as pessoas que tiveram que sair de casa, mas não foram para abrigos, não entra nesta contagem. O Observatório Social da Secretaria de Desenvolvimento Social é responsável pelo levantamento diário da situação dos abrigos no Estado. Ainda segundo o governo, até as 9h do dia 5 de junho a confirmação era de 31 mortes no município.

O portal do governo do Rio Grande do Sul também já publicou matéria negando que exista 2 mil corpos congelados e armazenados em frigoríficos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outros conteúdos sobre as chuvas no Rio Grande do Sul. Mostrou que governos atuam no resgate de vítimas desde o dia 30 de abril, diferentemente do que diz vídeo; que um deputado omitiu que o número de mortes citado pelo ministro Paulo Pimenta foi corrigido; e que um homem minimizou o volume de chuvas para alegar falsamente que abertura de comportas de barragens foram responsáveis por alagamentos.

Política

Investigado por: 2024-06-04

Reportagem não disse que Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro

  • Sátira
Sátira
É satírico o post que fez uma montagem e uma alteração em texto de captura de tela de reportagem apurada pelo portal Metrópoles e republicada pelo Diario de Pernambuco para afirmar que Fabrício Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As reportagens abordam áudios em que o ex-assessor do então deputado estadual pelo Rio de Janeiro faz ameaças à família Bolsonaro, sem mencionar paternidade. O perfil do autor da publicação é de paródia e faz sátiras e críticas à direita.

Conteúdo investigado: Post com o texto “Bomba! Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro. Agora está explicado o empenho nas rachadinhas” e uma captura de tela com o título “Fabrício Queiroz ameaça família Bolsonaro em áudios; ouça – Operador das rachadinhas da família admite paternidade e diz que recebia pagamentos para ficar em silêncio”. A imagem acompanha foto de Queiroz e de Jair Bolsonaro.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É uma sátira o post viral segundo o qual Fabrício Queiroz seria pai de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O conteúdo apresenta uma montagem com uma captura de tela de uma reportagem com o título “Fabrício Queiroz ameaça família Bolsonaro em áudios; ouça” e uma chamada inferior, inventada, dizendo “Operador das rachadinhas da família admite paternidade e diz que recebia pagamentos para ficar em silêncio”. O layout da página capturada se assemelha a uma publicação feita pelo jornal Diario de Pernambuco, mas teve o texto alterado.

Na verdade, no jornal pernambucano o subtítulo era “Operador das rachadinhas admite que recebia pagamentos para ficar em silêncio e diz guardar segredos comprometedores”. A reportagem sobre os áudios de Queiroz foi originalmente publicada pelo portal Metrópoles, em 23 de novembro de 2023. O Diario de Pernambuco replicou o conteúdo. Outro elemento diferente na montagem é que, na indicação de autoria, aparece “Por Rodrigo Rangel – Metrópoles asadas”, o que não consta na reportagem verdadeira.

Na legenda da postagem satírica, o publicador escreveu “BOMBA!. Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro. Agora está explicado o empenho nas rachadinhas”. A conta se descreve como um “perfil-paródia”. Os comentários da publicação também indicam tom de piada. “Quem precisa de fonte? Congresso liberou geral”, diz um dos comentários do post, que faz menção à manutenção feita pelo Congresso Nacional a veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a projeto que criminaliza disseminação de notícias falsas durante o período eleitoral.

Outro comentário sugere ao autor do post que o nome do veículo e do jornalista sejam retirados, ao que o perfil responde: “Achei assim, vou deixar”.

Ao Comprova, Rodrigo Rangel afirmou que sua reportagem não faz qualquer menção à paternidade. Publicada no Metrópoles, a matéria é originalmente intitulada “Em áudios, Queiroz pede dinheiro e empareda o clã Bolsonaro”.

Procurado, o Diario de Pernambuco declarou que a imagem não é de uma reportagem do portal. É possível notar que a fonte do texto da postagem é diferente da tipografia utilizada pelo jornal.

Sátira, para o Comprova, são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 4 de junho, o post somava mais de 29,8 mil visualizações, 2 mil curtidas, 617 compartilhamentos e 96 comentários.

Fontes que consultamos: Analisamos a reportagem original do Metrópoles e contatamos o jornalista citado para saber se a matéria fazia alguma menção à suposta paternidade de Queiroz. Uma busca reversa pela imagem de destaque da reportagem mostrou que o conteúdo havia sido veiculado também no Diario de Pernambuco. Com isso, entramos em contato com o jornal para saber se o subtítulo da captura de tela foi utilizado em algum momento pelo portal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou se tratar de conteúdo satírico post que afirma que Elon Musk teria comprado “mais de 99%” das ações do Grupo Globo e vídeo em que um ator diz importar alimentos na Europa com dinheiro da Lei Rouanet.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-31

É enganoso afirmar que CO2 não tem relação com o aquecimento global; entenda o efeito

  • Enganoso
Enganoso
Declaração de político romeno no Parlamento Europeu engana ao afirmar que a baixa porcentagem de dióxido de carbono na atmosfera seria prova de que a emissão do gás pelas atividades humanas não tem relação com o aquecimento global. O raciocínio não tem respaldo na ciência. De fato, o gás representa 0,042% da atmosfera, segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration. No entanto, a agência norte-americana e especialistas consultados apontaram que seu efeito em meio aos demais componentes e o aumento da emissão por atividades humanas ao longo das últimas décadas fazem do gás um dos principais vilões do agravamento do efeito estufa. A concentração atmosférica de CO2 aumentou cerca de 40% ao longo da era industrial.

Conteúdo investigado: Postagem mostra recorte de fala do parlamentar romeno Cristian Terheş, do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, em que ele afirma que o gás carbônico representa apenas 0,041% da atmosfera e levanta dúvida sobre o impacto da emissão de CO2 nas mudanças climáticas. Ao compartilhar o vídeo, o autor do post afirma que “o brabíssimo Cristian Terhes expôs toda a fraude das mudanças climáticas e os objetivos da elite que controla o mundo, em um discurso acalorado ao Parlamento Europeu”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso que a concentração de 0,042% de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera não seja um problema para o aquecimento global. O número é o dado mais recente da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), e apresenta um milésimo de diferença em relação ao dado que o parlamentar cita em vídeo viral (0,041%). O que importa não é o nível de concentração total, mas sim o efeito. Segundo a NOAA e especialistas consultados pelo Comprova, a alta emissão deste tipo de gás pelo ser humano nas últimas décadas faz com que ele seja um dos principais vilões do aquecimento global e das consequentes mudanças climáticas.

O vídeo verificado pelo Comprova traz recorte de três minutos de discurso do parlamentar romeno Cristian Terheş durante debate, realizado em abril de 2023, no Parlamento Europeu, sobre relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado na época. Em seu discurso, Terheş alega que o gás carbônico representa apenas 0,041% da atmosfera e que “apesar desta pequena porcentagem, há décadas são realizadas campanhas para fazerem as pessoas acreditarem que o CO2 produzido pelo homem é a causa das mudanças climáticas”.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A postagem feita no X tem 46,4 mil visualizações, 1 mil compartilhamentos e 2 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O Comprova entrou em contato com a NOAA, consultou dados no site da agência, e ouviu o glaciologista Jefferson Cardia Simões, professor de História do Clima da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, e o meteorologista do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado da Universidade Federal de Goiás (Cempa-Cerrado/UFG), Angel Chovert.

Concentração de CO2 na atmosfera

De acordo com a National Oceanic and Atmospheric Administration, o dado mais recente sobre a concentração média global de CO2 na atmosfera é de 422 ppm (partículas por milhão). Ou seja, em cada milhão de moléculas de ar, 422 são de CO2. Isso significa que 0,042% de toda a atmosfera é formada por CO2, segundo confirmou ao Comprova o glaciologista Jefferson Cardia Simões.

De acordo com o professor, o que interessa não é a proporção, mas sim o efeito. Em uma comparação, ele cita o ozônio, cuja concentração na atmosfera é de apenas 0,000007%. No entanto, tem a função vital de filtrar a radiação ultravioleta que vem do sol. “Parte do ultravioleta causa câncer de pele, entre outros danos no meio ambiente”, explica o professor. “Só porque na atmosfera tem uma proporção muito pequena de um certo gás, não é que ele não tenha importância.”

O meteorologista Angel Chovert faz a mesma observação. Segundo ele, a forma como um determinado componente reage em um sistema não depende apenas de sua quantidade, mas de suas características. “Quanto de álcool é preciso no sangue de uma pessoa em porcentagem de volume para que essa pessoa já comece a sentir os efeitos? Então, é aí que está a questão. Não é a quantidade. É a sua capacidade, a sua propriedade química e física que vai determinar como ele vai influenciar no sistema. Assim é com o CO2 na atmosfera”, explica Chovert.

O efeito estufa natural

Segundo informado pela NOAA por e-mail, na década de 1850, investigadores demonstraram que o dióxido de carbono e outros gases que estão naturalmente presentes na atmosfera evitam que parte do calor irradiado da superfície da Terra escape para o espaço. Esses gases, como o metano (CH4 ), o óxido nitroso (N2O) e o próprio vapor d’água, além do CO2, são os que propiciam o chamado efeito estufa. “Este efeito estufa natural aquece a superfície do planeta criando um habitat adequado para a vida”, explica a NOAA.

“A radiação solar aquece o planeta, que emite radiação de volta para o espaço. Os gases do efeito estufa dificultam essa liberação, aquecendo a atmosfera”, detalha Jefferson Simões. “Se não fosse o efeito de estufa, que é natural, a temperatura do planeta, em vez de ser ao redor de 15 graus Celsius, estaria ao redor de menos 15. Ou seja, seria 30 graus Celsius mais frio”.

Intensificação do efeito estufa e mudanças climáticas

Desde o fim do século 19, a atividade humana tem liberado uma quantidade crescente de gases de efeito estufa na atmosfera por meio da queima de combustíveis fósseis e, em menor grau, desmatamento e mudança de uso da terra. Como resultado, informou a NOAA, a concentração atmosférica de dióxido de carbono, o maior contribuinte para o aquecimento causado pelo homem, aumentou cerca de 40% ao longo da era industrial.

“Essa mudança intensificou o efeito estufa natural, impulsionando um aumento nas temperaturas globais da superfície e outras mudanças generalizadas no clima da Terra que são sem precedentes na história da civilização moderna”, informou a agência.

O fenômeno, segundo Simões e Chovert, é o que os cientistas chamam de intensificação do efeito estufa. “A partir da Revolução Industrial essas concentrações dos gases do efeito estufa têm aumentado significativamente e, portanto, o processo natural de efeito estufa tem se intensificado”, explicou Chovert.

Segundo Simões, a intensificação do efeito estufa provoca o cenário de mudanças climáticas globais atualmente em curso. “Cada vez mais nós estamos vendo eventos extremos do clima, como cheias, secas, enchentes e, principalmente, precipitações concentradas em períodos mais curtos”, explica o professor.

Tragédia no RS e as mudanças climáticas

Especialistas apontam que são fortes os indícios de que as enchentes verificadas no Rio Grande do Sul no início de maio, considerada a maior tragédia climática da história do estado, estão relacionadas às mudanças climáticas. De acordo com Simões, o intenso volume de chuva que caiu sobre a região está relacionado à dificuldade de penetração das massas de ar que vem da Antártica sobre o território brasileiro.

“Esse ar frio, que começa a avançar geralmente nessa época do ano, até o sul do Acre, o sul da Amazônia, não está conseguindo avançar devido a um extremo aquecimento no interior do Brasil. Com isso toda a precipitação de chuva cai em um único lugar”, explica o professor. “Se essa massa de ar tivesse avançado, as chuvas seriam melhor distribuídas pela região Sul e a região Leste, ou mesmo no Centro-Oeste. E ela não avançou porque tinha um bolsão de calor no centro do Brasil. Ao mesmo tempo que no Sul havia essas chuvas enormes, as temperaturas estavam batendo 40 graus em pleno maio no meio do país”.

Político que faz declaração enganosa é do Partido Conservador da Romênia

Cristian Terheş, que faz a declaração enganosa no Parlamento Europeu, é um político romeno, ligado ao Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus. A descrição de sua conta no X informa que ele também é presidente do Partido Conservador da Romênia. O responsável por compartilhar o recorte do discurso de Terheş se identifica no Twitter como “André GAP”. A reportagem entrou em contato com o usuário, mas não houve retorno até a publicação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Um texto na seção Comprova Explica publicado neste ano mostrou que há consenso científico de que a ação humana causa mudanças climáticas. Também foram realizadas verificações recentes na área de mudanças climáticas com foco na tragédia provocada por enchentes no Rio Grande do Sul, como o caso de homem que minimizou volume de chuvas e alegou falsamente que abertura de comportas causou alagamentos.

Política

Investigado por: 2024-05-29

Post distorce reportagem para acusar Eduardo Bolsonaro de doar dinheiro público a Trump

  • Enganoso
Enganoso
O site Intercept Brasil não revelou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) doou dinheiro público para a campanha de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e candidato à presidência nas eleições de 2024. Postagem distorce reportagem do veículo, publicada no dia 23 de maio, sobre o PL ter utilizado R$ 160 mil de seu fundo partidário para pagar o advogado Sérgio Sant'Ana, sócio de Eduardo Bolsonaro no Instituto Conservador-Liberal.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que o site Intercept publicou a denúncia de que o deputado Eduardo Bolsonaro doou R$ 160 mil em dinheiro público para a campanha de Donald Trump, que é novamente candidato à presidência dos EUA. O post utiliza uma foto do candidato ao lado do filho de Jair Bolsonaro e do deputado Mário Frias (PL-SP).

Onde foi publicado: X

Conclusão do Comprova: É enganoso que o site Intercept Brasil tenha revelado que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) doou dinheiro público para a campanha do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A postagem distorce uma reportagem publicada pelo veículo no dia 23 de maio, que revela o pagamento de R$ 160 mil provenientes do fundo partidário do Partido Liberal (PL) para o advogado Sérgio Sant’Ana, sócio de Eduardo Bolsonaro. O post com alegações enganosas foi feito cerca de três horas após a publicação da reportagem.

De acordo com a publicação do Intercept, Sant’Ana é diretor do Instituto Conservador-Liberal, uma organização criada em sociedade com Eduardo Bolsonaro que tem como missão principal a organização das edições brasileiras da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC). O evento, que teve origem nos Estados Unidos, é realizado no Brasil há cinco anos e é organizado pelo instituto desde 2021.

Ao contrário do que alega a postagem, que foi excluída pelo administrador do perfil, não há menção a Trump na reportagem. A imagem utilizada no post é do ex-presidente norte-americano com Eduardo e com o deputado federal e ex-secretário de Cultura no governo Bolsonaro, Mário Frias (PL-SP). O encontro ocorreu em 13 de março deste ano, na casa do republicano em Mar-a-Lago, na Flórida.

Segundo o Intercept, o pagamento do PL ao sócio de Eduardo na organização do CPAC chama a atenção porque, em 2023, o partido utilizou sua Fundação Álvaro Valle para bancar todos os ingressos da edição brasileira do evento. A fundação é mantida, em parte, com recursos do fundo partidário.

A reportagem tentou entrar em contato com o perfil que publicou as alegações falsas, mas não foi possível enviar mensagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até terça-feira (28), a publicação tinha quase 380 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Inicialmente, realizamos uma busca por reportagens do Intercept que mencionam o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Utilizando o Google, identificamos a reportagem que aborda o uso de recursos do fundo partidário pelo PL para pagar o advogado Sérgio Sant’Anna.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A distorção de reportagens veiculadas por meios de comunicação para espalhar denúncias falsas sobre figuras públicas e políticos é uma das táticas utilizadas por propagadores de desinformação. Em outro contexto, o Comprova desmentiu uma postagem publicada no X, que distorceu uma reportagem do jornal britânico Financial Times, alegando que o veículo teria afirmado categoricamente que o governo americano interferiu nas eleições brasileiras para favorecer Lula.

Política

Investigado por: 2024-05-28

Arroz chinês mostrado em vídeos não é de plástico e nem será importado pelo Brasil

  • Enganoso
Enganoso
Posts enganam ao sugerir que o governo federal vai importar arroz de plástico da China para evitar o aumento no preço do produto após as enchentes no Rio Grande do Sul, maior produtor do grão no Brasil. As publicações usam um vídeo da fabricação de arroz artificial em uma máquina de uma empresa chinesa e sugerem que o arroz produzido por esse equipamento é feito de plástico e será comprado pelo Brasil. Esse arroz, no entanto, não usa plástico em sua composição, mas sim quirera de arroz ou outros cereais como milho e trigo, e o edital de importação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não prevê a compra desse tipo de produto.

Conteúdo investigado: Vídeos com alegações de que o arroz que o governo federal importará é feito de plástico. Um deles mostra o processo de produção da empresa chinesa SunPring acompanhado da frase “Este é o arroz chinês. Se o que está sendo colocado a venda é este, não sei, mas seria muito interessante alguém mandar analisar”. Outro conteúdo mostra gravação em que uma mulher afirma que comprou e consumiu arroz de plástico, que derrete ao ser colocado no fogo.

Onde foi publicado: X e Kwai.

Conclusão do Comprova: Vídeos enganam ao sugerir que o arroz a ser importado pelo governo federal é feito na China com plástico e papel. Posts com vídeo do processo de fabricação de arroz em máquinas da empresa chinesa SunPring, verificados pelo Comprova, sugerem incorretamente que o grão produzido por esse equipamento é feito de plástico e será comprado pelo Brasil. Na verdade, a empresa reprocessa grãos quebrados e dá ao produto o formato de um grão de arroz normal.

A SunPring explica em seu site que seu arroz é artificial e pode ser feito com milho, trigo, aveia e soja, além de grãos quebrados de arroz como matéria-prima. É possível ainda incrementar nutrientes como cálcio, zinco e ferro. Em nenhum momento é cogitado o uso de papel ou plástico na produção do grão.

“O valor dos nutrientes do arroz artificial é de 5 a 10 vezes maior que o do arroz normal”, garante a empresa. Ainda segundo a companhia, “o preço do arroz artificial é mais alto do que o arroz normal, mas ele pode ser cozido diretamente ou cozido no vapor com arroz normal na proporção”.

Segundo informou a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), esse processo existe há muitos anos, mas é de baixa produção por não ser economicamente viável.

“O arroz do vídeo é um arroz produzido em máquina extrusora e é fabricado a partir dos grãos quebrados de arroz, quirera, canjica e canjicão de arroz, extrusado por meio de um tubo formatador que corta o amido em forma de arroz”, afirmou a entidade. Neste vídeo, publicado no YouTube pela empresa chinesa, é possível ver a produção em detalhes.

O governo federal não prevê a importação de arroz artificial, como o produzido pela empresa chinesa. O edital da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) evidencia que o arroz importado deve ser tipo 1, ou seja, o de melhor qualidade, da safra 2023/2024. O documento detalha ainda que o produto deverá ter aspecto, cor, odor e sabor característico de arroz beneficiado, sendo vedada a aquisição de arroz aromático. A medida adotada pelo governo federal tem por objetivo suprir a demanda após perdas na safra do Rio Grande do Sul, maior produtor do país, devido às enchentes.

A Conab disse que o arroz poderá ser comprado de todos os países produtores e exportadores de arroz, mas as variedades precisam ser compatíveis ao consumo brasileiro, conforme Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária n.º 06/2009. Essa normativa da Conab especifica que o arroz importado é proveniente da espécie Oryza sativa L., uma das mais cultivadas globalmente, como mostra detalhamento feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O autor do post enganoso foi procurado pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 28 de maio, o post tinha 128,2 mil visualizações, 2 mil curtidas, 1 mil compartilhamentos e 208 comentários.

Fontes que consultamos: Entramos em contato com a Conab, com a Abiarroz e entrevistamos Manoel Maradini Filho, professor do Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Também procuramos pelas regras definidas para o leilão de importação do arroz e fizemos uma busca reversa no Google para identificar a origem de um dos vídeos enganosos verificados.

Mulher diz que comprou arroz de plástico

Em outro vídeo, publicado no Kwai, uma mulher afirma que comprou “arroz de plástico”. Ela coloca os grãos diretamente nas chamas do fogão e alega que estão pegando fogo e “derretendo”. Nem o Rio Grande do Sul nem a China são citados na gravação, mas o vídeo, que circula pelo menos desde maio de 2022, voltou a viralizar no contexto da discussão da importação de arroz pelo Brasil.

O professor Antônio Manoel Maradini Filho, da Ufes, analisou o vídeo a pedido do Comprova. Ele, que atuou por 30 anos no desenvolvimento de produtos e no controle de qualidade em empresas alimentícias, afirma não ser possível dizer que o material que aparece na gravação é arroz. “Parecem ser peletes de material plástico com formato parecido com grão de arroz”, diz. Segundo Maradini, o arroz exposto a uma chama como a do vídeo viraria carvão e não derreteria. “Não tem nenhuma informação do fabricante, não apresenta nenhuma embalagem”, alerta.

Leilão para importação de arroz foi suspenso

Há cerca de duas semanas, o governo federal editou uma medida provisória que autorizou a importação de 104 mil toneladas de arroz pela Conab. O objetivo é evitar o aumento preço do do produto após as enchentes no Rio Grande do Sul, maior produtor do grão no país. A previsão era a de que o leilão ocorresse no último dia 21, mas foi suspenso.

A Conab divulgou no dia 20 um comunicado informando que a nova data de realização “será publicada oportunamente”.

Durante reunião extraordinária, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou as tarifas para dois tipos não parboilizados e um tipo polido/brunido do grão até 31 de dezembro. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que vai monitorar a situação para reavaliar o período de vigência, caso necessário.

Para zerar as tarifas, os três tipos de arroz foram incluídos na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec) do Mercosul. A medida, conforme disse o MDIC, foi solicitada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e pela Conab.

A maior parte das importações de arroz no Brasil vem do próprio Mercosul, sem pagar tarifa de importação. O MDIC diz que a redução a zero da alíquota abre espaço para a compra de arroz de outros grandes produtores, como a Tailândia. Até abril deste ano, o país asiático respondia por 18,2% das importações brasileiras de arroz.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão e a Agência Aos Fatos também concluíram ser falsas as alegações de que o Brasil vai importar arroz de plástico da China. O Comprova já checou outras informações relacionadas às chuvas no Rio Grande do Sul e entendeu ser enganoso o vídeo que alega que a Anvisa impediu o transporte de medicamentos ao estado e explicou que detentos em abrigos gaúchos são do regime semiaberto.

Comprova Explica

Investigado por: 2024-05-28

Entenda medida do governo de zerar taxa de importação do arroz e suas consequências

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Em 20 de maio, o governo federal zerou a tarifa de importação do arroz para garantir o abastecimento devido à tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, que reduzirá a oferta. A medida visa evitar desabastecimento e aumento de preços. Três tipos de arroz foram incluídos na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum. Especialistas e produtores criticam a decisão, argumentando que não há desabastecimento real e que a medida pode prejudicar os produtores locais e afetar a economia.

Conteúdo analisado: Vídeo de trecho de um programa jornalístico exibido no YouTube em que um comentarista traz estatísticas sobre a safra de arroz e afirma que objetivo do governo federal ao importar o produto é destruir o agronegócio no Brasil, em particular na região Sul. Nessa e em outras postagens nas redes sociais, usuários comentam demonstrando preocupação com o agronegócio e com os preços do arroz no país.

Comprova Explica: Em 20 de maio, o governo federal zerou a tarifa de importação do arroz para garantir o abastecimento no Brasil. A medida, aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior, é uma das ações de enfrentamento às consequências econômicas da tragédia ambiental ocorrida no Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do país. As enchentes já deixaram 169 mortos e 56 desaparecidos, segundo o último boletim divulgado em 27 de maio pela Defesa Civil do estado.

Com a medida, dois tipos de arroz não parboilizados e um tipo polido, o que inclui o branco, foram incluídos na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), atendendo a pedido do Ministério da Agricultura e Pecuária e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Ao zerar as tarifas, buscamos evitar problemas de desabastecimento ou de aumento do preço do produto no Brasil, por causa da redução de oferta”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB).

O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional de arroz. O governo autorizou a Conab a comprar arroz importado. Os estoques adquiridos serão destinados à venda direta para mercados de vizinhança, supermercados, hipermercados, atacarejos e estabelecimentos comerciais com ampla rede de pontos de venda nas regiões metropolitanas em todo o país. Esses estabelecimentos comerciais deverão vender o arroz exclusivamente para o consumidor final.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que o governo federal não pensa em concorrer com os produtores de arroz do Rio Grande do Sul e que o objetivo de importar o produto é evitar especulação de preços. “O objetivo da portaria não é concorrer com os produtores gaúchos. O governo não seria insensível de criar uma concorrência, fazer baixar o preço do arroz para o produtor.” O leilão foi suspenso após o governo constatar aumento de preços de fornecedores do Mercosul e um novo edital será divulgado.

Especialistas e associações produtoras de arroz, porém, têm críticas à medida. “É impossível não haver uma concorrência com o arroz produzido no Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul”, disse Anderson Belloli, diretor-executivo e jurídico da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

“Essa polêmica sobre a importação tem como fundamento um suposto desabastecimento aqui no estado em decorrência da tragédia que a gente vive. Porém, das seis regiões arrozeiras, apenas uma foi afetada pelas enchentes. Quando começaram os temporais, 85% da safra já tinha sido colhida. A safra projetada pela Conab é maior do que a do ano passado, mesmo com as perdas”, completou.

De acordo com a CNN, o levantamento semanal da Conab mostrou que o valor do arroz no varejo chegou a acumular aumento de 40% em quatro semanas após a tragédia no Rio Grande do Sul. “O risco gerado pelo próprio governo internalizou um choque negativo na oferta do grão no país, levando a uma combinação de potencial desabastecimento e altos preços”, explicou Pedro Tremacoldi-Rossi, professor adjunto no departamento de Economia da Universidade de Columbia e PhD em Economia Aplicada pela Universidade de Illinois Urbana-Champaign.

“As estimativas dão que 83% da safra atual já foi colhida. Não está claro o quanto dessa safra já foi ‘escoada’ para outros estados, se está em armazéns ou se foi comprometida. Certamente, existe um problema logístico, mas provavelmente não será permanente e, mesmo se boa parte do arroz ainda estiver no estado, deve começar a sair de lá sem muita demora”, afirma.

Uma possível preocupação, diz Tremacoldi-Rossi, é que os efeitos do choque climático se prolonguem. “Seria provável que a próxima safra seja afetada e, possivelmente, o estado leve entre um a três anos-safra para se recuperar. Essa é uma estimativa baseada em outros choques climáticos de alto impacto ao redor do mundo em áreas de boa produtividade”, diz.

O especialista explicou ainda que o Brasil já importa arroz de países do Mercosul e que a taxa de importação para eles já é zerada. A nova medida do governo, portanto, deve afetar compras de outros países, como, por exemplo, a Tailândia. “Vai depender do apetite dos importadores nacionais e dos leilões do governo”, diz.

Segundo ele, o governo estaria tentando enviar um recado aos consumidores de modo a evitar a expectativa de que o produto vai faltar. “Para prevenir potenciais corridas aos supermercados e casos isolados de falta de arroz, que podem alimentar um problema sistêmico – parecido com um pânico bancário –, essas medidas dão a impressão de que a oferta de arroz no país vai se expandir, em teoria acalmando consumidores”, afirma. ”Isso ajuda tanto na disponibilidade quanto nos preços”.

Já Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, lembrou que o Brasil, historicamente, produz mais arroz do que consome e exporta o excedente. “Então, não existe naturalmente uma necessidade de importação para consumo”, diz. Em sua análise, a medida pode ser negativa para o mercado. “O governo, com a intenção de vender arroz a R$ 4 o quilo, vai prejudicar o equilíbrio de mercado. Ele está puxando o preço bem abaixo do preço médio de venda nos varejistas. Ele quer que o varejista venda a R$ 4. Isso não prejudica só o agro, prejudica a economia como um todo”, avalia.

Para Medina, a principal medida que o governo poderia tomar para evitar que o produtor local seja afetado é a reconstrução da infraestrutura no Rio Grande do Sul. “Estradas, acessos, as casas, tudo mais. É onde ele [o governo] pode evitar que o produtor seja prejudicado. Com isso, também, estruturas de armazenamento mais adequadas. A gente sabe que, hoje, um dos entraves do agro é capacidade de armazenamento, e depende de investimento privado para isso. O governo tem pouco investimento nessa área”.

Fontes consultadas: Conab, Federarroz, informações divulgadas pelo governo federal e os especialistas Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, e Pedro Tremacoldi-Rossi, professor adjunto no departamento de Economia da Universidade de Columbia e PhD em Economia Aplicada pela Universidade de Illinois Urbana-Champaign.

Por que explicamos: Com a decisão do governo federal de zerar a taxa de importação de arroz, diversos conteúdos começaram a surgir nas redes sociais com desinformação ou preocupação com o agronegócio e os preços do arroz no país. É importante que seja explicado do que trata sua medida, seus objetivos e as principais críticas e comentários de especialistas para que as informações falsas não sejam espalhadas.

Para se aprofundar mais: Essa não é a primeira vez que desinformações sobre a cultura do arroz no Brasil circulam nas redes sociais. Em setembro de 2020, o Comprova mostrou que a demarcação de terra indígena em Roraima não tem relação com alta do preço do arroz. Já em fevereiro deste ano, publicou ser falso que Brasil pode ficar sem arroz e preços vão aumentar por conta de exportação ilegal. O Estadão Verifica também trouxe que representantes do setor pediram para que a população não faça estoque de arroz por causa de chuvas no RS.