O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-09-19

É falso que pesquisadora do Datafolha negou entrevistar bolsonarista por causa de posicionamento político

  • Falso
Falso
É falso que uma pesquisadora do Instituto Datafolha tenha deixado de entrevistar um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) por causa do posicionamento político dele, como sugere um vídeo que circula nas redes sociais Kwai e Facebook. É parte do procedimento padrão da empresa não aceitar entrevistas de pessoas que se ofereçam para responder o questionário, o que ocorreu naquela ocasião, segundo o Datafolha. Isso é feito para garantir que a amostra seja aleatória e evite vieses. Ao Comprova, os institutos Quaest e Ipec afirmaram que a prática é comum.

Conteúdo investigado: Vídeos publicados nas redes sociais Kwai e Facebook, em 13 de setembro, que mostram dois homens abordando uma mulher identificada como pesquisadora do Datafolha e acusando-a de se recusar a entrevistar eleitores que declaram voto no presidente Bolsonaro.

Onde foi publicado: Kwai, Facebook e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que uma pesquisadora do Instituto Datafolha tenha se negado a entrevistar um homem porque ele é apoiador do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PL). “Se você é bolsonarista, ela não aceita; só aceita do Lula”, diz o autor da gravação. Nota publicada pelo instituto informa que o homem abordou a pesquisadora, perguntou se ela trabalhava no Datafolha e solicitou que ela o entrevistasse. O fato ocorreu, segundo a empresa, no dia 13 de setembro, na cidade de São Paulo.

Como o Datafolha publicou, “não aceitar entrevistas de pessoas que se ofereçam para responder a um questionário é uma das principais normas de condução que esses pesquisadores devem atender durante sua abordagem”. Desta forma, as afirmações feitas pelo autor do vídeo são falsas, já que, conforme explica o Datafolha, “os pesquisadores do instituto recebem um treinamento padronizado, que determina que pessoas que se oferecem para serem entrevistadas devem ser obrigatoriamente evitadas, para que a amostra seja aleatória”.

“É uma prática comum entre os institutos de pesquisa não entrevistar quem se dispõe a responder. Isso é para evitar vieses”, diz a cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – Escola de Humanidades (FESPSP). Ela explica que esse cuidado é para evitar, por exemplo, respostas de eleitores de determinado candidato que, ao saber que a pesquisadora está naquele local, se desloquem até lá para participar da pesquisa.

Consultado pelo Comprova, o Quaest, instituto que também tem feito pesquisas eleitorais semanais nesta campanha, informou que segue o mesmo procedimento. “Temos protocolos de condução de entrevista e abordagem que incluem a orientação de não entrevistar pessoas que se ofereçam para esse fim”, afirmou a empresa. O Ipec também confirmou que seus pesquisadores são orientados a não entrevistar pessoas que se ofereçam para participar da pesquisa.

No vídeo aqui verificado, o autor filma a pesquisadora, tenta mostrar o nome dela no crachá e a agride verbalmente. Como explica a Folha, os pesquisadores também são instruídos “a não dar permissão para ser filmado e a não usar o crachá do Datafolha enquanto estiver se deslocando”.

Em certo momento, a mulher tenta interromper a filmagem, mas, em seguida, usa uma prancheta para esconder o rosto, continua andando na calçada e se afasta do agressor, ainda sob ataques verbais.

A última rodada da pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial, publicada em 15 de setembro, mostrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 45% das intenções de voto para o 1º turno. Bolsonaro aparece em seguida, com 33%. Na rodada anterior, divulgada no dia 10 de setembro, antes da gravação do vídeo, Lula registrou 45% e Bolsonaro, 34%. O fato de o levantamento apontar o presidente atrás do petista na pesquisa é motivo de frequentes ataques de bolsonaristas.

O Comprova classifica como falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos que tenham maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de setembro, o vídeo teve cerca de 50 interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos, no Kwai. No Facebook, que sinaliza o conteúdo como informação falsa, foram mais de 3 mil interações, entre visualizações, curtidas, comentários e compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: As publicações no Kwai e no Facebook tiveram origem em um vídeo postado, inicialmente, no TikTok. Como esta plataforma não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova encontrou o perfil do autor da publicação original, Israel Rangel, no Facebook. Não obtivemos retorno dele, entretanto. Conseguimos entrar em contato com o outro homem que aparece no vídeo verificado, Tiago Candeias, mas não foi possível colher o depoimento dele antes do fechamento desta verificação. Em caso de resposta, este texto será atualizado.

Como verificamos: Fazendo uma busca no Google pelas palavras-chave “pesquisadora” e “Datafolha”, o Comprova encontrou duas checagens que tratavam do mesmo vídeo aqui investigado, uma feita pela Reuters e a outra, pela Fato ou Fake. Além disso, a pesquisa resultou em uma nota do Datafolha sobre o caso, relatando procedimentos seguidos pela funcionária no episódio. Outro resultado obtido foi uma reportagem da Folha de S.Paulo, ao qual o Datafolha é associado, sobre a hostilidade sofrida por pesquisadores do instituto em geral.

Em seguida, para confirmar a localização do vídeo, o Comprova identificou elementos que pudessem indicar onde a abordagem à pesquisadora ocorreu, como o número de um edifício e dois detalhes de fachadas de prédios.

| Capturas de tela do vídeo investigado mostram elementos na fachada de um prédio

No vídeo, o autor diz: “Datafolha fazendo a pesquisa aqui na Queiroz Filho, no Alto da Lapa”. Na nota do instituto, há informação de que a pesquisadora foi abordada na Vila Leopoldina, na cidade de São Paulo. Com isso, a equipe buscou no Google Maps por “Queiroz Filho, número identificado em um prédio no vídeo e Vila Leopoldina”. O endereço em questão fica, na verdade, na Vila Hamburguesa, bairro ao lado da Vila Leopoldina e do Alto da Lapa. Elementos da imagem do Google Street View confirmam que o vídeo verificado foi gravado nessa localização.

| Capturas de tela do Google Street View mostram os mesmos elementos identificados no vídeo investigado

Os vídeos postados no Kwai e no Facebook têm marca d’água que indicam que o vídeo foi originalmente postado no TikTok por usuário identificado na rede como Israel Rangel. No dia 14 de setembro, Israel postou na rede social uma gravação criticando o TikTok por ter apagado um vídeo que ele havia postado e citou o caso de uma pesquisadora do Datafolha. O vídeo com as críticas à rede social também foi apagado (não é possível afirmar se a medida foi tomada pela plataforma ou pelo usuário).

A reportagem também entrevistou, por telefone, a cientista política Tathiana Chicarino, professora da FESPSP. Os institutos Quaest e Ipec, que realizam e divulgam pesquisas sobre a eleição presidencial, também foram consultados.

Pesquisadora seguiu procedimento padrão

Em nota publicada no dia 14 de setembro, o Instituto Datafolha informou que, no dia anterior, uma pesquisadora havia sido atacada enquanto realizava seu trabalho na cidade de São Paulo. O instituto esclareceu que a profissional foi abordada pelo segurança de um estabelecimento comercial após fazer uma entrevista em frente ao local. O homem, diz a nota, estava filmando a pesquisadora, perguntou se ela trabalhava no Datafolha e pediu-lhe para ser entrevistado.

De acordo com o instituto, a profissional procedeu de forma correta, explicando que não poderia entrevistá-lo, porque as abordagens da pesquisa devem ser aleatórias: pedidos como o que ele fez ferem o critério de aleatoriedade. Segundo o Datafolha, a pesquisadora também explicou que tinha cotas de idade a cumprir, as quais a pessoa que a abordou não atenderia.

O Datafolha informou ainda que realiza treinamentos regulares para orientar os pesquisadores de campo e esclareceu que uma das principais normas é não aceitar entrevistas de pessoas que se ofereçam para responder ao questionário. O desrespeito a essa regra leva ao cancelamento automático de todos os questionários do pesquisador em questão.

“Dessa forma, diante da recusa em não entrevistar pessoas que se ofereçam ou agressivamente exijam responder a um questionário, a pesquisadora não só atendeu a todos os parâmetros que uma pesquisa séria deve seguir, mas também protegeu o objeto de seu trabalho”, diz o texto.

O Datafolha mostrou que a hostilidade contra os pesquisadores é crescente. Em apenas um dia, o instituto registrou dez casos em municípios de diferentes regiões do país. Ao todo, são 470 pesquisadores atuando na empresa.

Prática comum

De acordo com a cientista política Tathiana Chicarino, professora da FESPSP, o procedimento da pesquisadora do Datafolha no vídeo verificado, além de ser o correto, costuma ser o padrão de institutos de pesquisa. “Quando você faz uma pesquisa estatisticamente válida, há essa prioridade. Você não pode pegar alguém que quer responder, porque isso pode resultar no enviesamento da pesquisa”, diz ela.

O Quaest, instituto de pesquisa com sede em Belo Horizonte, confirma. Ao Comprova, afirmou orientar seus pesquisadores a não entrevistar quem se oferece para tal e que intensificou a preparação dos pesquisadores em relação a situações violentas, como a agressão sofrida pela entrevistadora do Datafolha. Entre os pontos, o Quaest destaca que “qualquer tentativa de intimidação deve ser relatada à polícia local e à supervisão de campo, se o entrevistador perceber que está sendo gravado, a entrevista deve ser interrompida imediatamente e relatada à supervisão de campo para substituição de entrevistador na área sorteada e entrevistas devem ser feitas sem a presença de terceiros para evitar influência ou favorecer indução”.

Em nota, o Ipec Inteligência informou que os pesquisadores do instituto também são orientados a não entrevistar pessoas que se ofereçam para responder o questionário, pois a seleção do entrevistado tem que ser aleatória. “No nosso caso, a pesquisa é realizada em setores censitários que são conjuntos de quarteirões que foram selecionados para a amostra através do método PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho). Ele só pode entrevistar pessoas que residam naquele conjunto de quarteirões. Ele pode bater nas casas ou abordar pessoas que estejam circulando no setor, desde que residam naquele conjunto de quarteirões e que preencham as características determinadas na amostra”, explicou o Ipec.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. A menos de 20 dias do primeiro turno das eleições deste ano, cresce o número de conteúdos que tentam desacreditar as pesquisas de opinião. Publicações como a verificada nesta checagem prejudicam a confiança das pessoas sobre os institutos de pesquisa e podem influenciar o voto de forma equivocada. A decisão do eleitor deve ser tomada com base em informações e fatos.

Outras checagens sobre o tema: Outras agências de checagem como a da Reuters e a Fato ou Fake, do G1, também classificaram o vídeo verificado pelo Comprova como falso. Em maio deste ano, o Estadão Verifica desmentiu conteúdo semelhante.

Em verificações anteriores envolvendo pesquisas eleitorais, o Comprova mostrou que uma entrevista sobre voto foi feita por humorista, não pelo Datafolha, que um pesquisador agiu corretamente ao não mostrar questionário de pesquisa eleitoral e que um senador ironizou resultado de instituto para desacreditar pesquisas eleitorais.

Eleições

Investigado por: 2022-09-16

É falso que Lula defendeu o nazismo e o fascismo em evento do PT em 2017, como afirma vídeo

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Falso
É falso vídeo publicado no Kwai em que o ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz ser necessário incentivar as pessoas à “negação da política” e no qual defende “fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia.” Trata-se de uma montagem antiga que voltou a circular. O conteúdo original, uma transmissão ao vivo feita pela página do Facebook do petista em 2017, foi cortado em trechos específicos e editado, o que fez com que o contexto fosse deturpado, e o sentido do discurso parecesse o oposto do original.

Conteúdo investigado: Vídeo de um minuto e 44 segundos publicado na plataforma de vídeos Kwai em que Lula supostamente diz ser preciso negar a política e no qual o petista é associado à defesa do fascismo, nazismo e qualquer outro regime autoritário adverso à democracia. Acima das imagens do petista, foram inseridas a palavra “demônio” e a frase “ele quer a nossa destruição”. Abaixo, a seguinte legenda: “Este vídeo foi guardado a sete chaves pelo PT”.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso vídeo supostamente “guardado a sete chaves pelo PT” no qual o ex-presidente Lula parece afirmar que o partido “precisa convencer as pessoas a negação da política” e defender “fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia”. Editado, o conteúdo teve trechos suprimidos para alterar o sentido do discurso. No vídeo original, de 2017, o presidenciável diz justamente o contrário.

As imagens, apontadas como sigilosas na publicação verificada, foram, na verdade, transmitidas ao vivo pela página de Lula no Facebook. No conteúdo original, que tem pouco mais de 44 minutos, Lula começa a falar aos 21 minutos da gravação e seu discurso dura cerca de 20 minutos.

Amplamente compartilhada em 2017, a versão manipulada do vídeo voltou a viralizar duas vezes em época de campanha eleitoral – em 2018 e 2022 – e, desde então, vem sendo desmentida por agências de checagem, inclusive pelo Comprova.

Em nota, a assessoria de imprensa do PT afirma que o conteúdo foi “pesadamente editado e manipulado para criar frases nunca ditas pelo ex-presidente”.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Kwai, até o dia 16 de setembro, o vídeo havia sido visualizado 126,3 mil vezes. A publicação havia alcançado 5,8 mil curtidas, quase 2,6 mil comentários e 16,2 mil compartilhamentos. Antes disso, o mesmo conteúdo manipulado já havia viralizado em 2017 e em 2018, ano do último pleito eleitoral para presidência da república.

O que diz o autor da publicação: Procuramos Nancy Martins, autora da publicação. Questionada se tinha conhecimento de que o vídeo havia sido editado/manipulado, Nancy respondeu que: “Não tem nada de errado com esse vídeo. Muito menos manipulado. É exatamente isso que ele [Lula] prega”. No Kwai, Nancy tem 38,8 mil seguidores.

Como verificamos: Inicialmente, fizemos uma busca no Google pelas seguintes palavras-chave: “lula”; “vídeo”; “negação”; “política”; e “fascismo”. A pesquisa retornou links de verificações do mesmo vídeo feitas anteriormente por agências de checagem, como Estadão Verifica, Fato ou Fake e Aos Fatos.

A partir do vídeo original, uma transmissão ao vivo de evento do PT feita pelo Facebook, comparamos a fala de Lula na íntegra com as frases do vídeo cortado, editado e distribuído na internet. A edição é nítida, com cortes abruptos de áudio e imagem.

Também fizemos contato com a assessoria de imprensa do PT e procuramos a autora do post verificado.

Vídeo original x versão editada

O vídeo original foi publicado na página oficial de Lula em 22 de setembro de 2017. Trata-se da transmissão ao vivo do lançamento da campanha de filiação ao PT em São Paulo. No segundo semestre daquele ano, eventos como esse eram promovidos pelo partido em diversos pontos do país. Esta ocasião, especificamente, contou com a presença de Lula, que fez um discurso voltado a atrair novos membros para a legenda.

Como já verificado pelo Comprova, no trecho original do vídeo, o petista diz: “Eu penso que as pessoas devem se filiar ao PT. Primeiro porque o PT precisa convencer as pessoas de que não existe saída para o Brasil e para qualquer país do mundo fora da política, ou seja, o PT tem que ser o partido que enfrenta essa discussão contra a negação da política. Fora da política, nós teremos fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia.”

Na versão editada e compartilhada pelo perfil do Kwai de Nancy Martins, o vídeo é cortado, palavras são suprimidas e as frases, retiradas de contexto. A edição faz com que o discurso ganhe sentido oposto ao original.

A declaração do ex-presidente é alterada para: “Eu penso que as pessoas devem se filiar ao PT. Primeiro porque o PT precisa convencer as pessoas a negação da política. Fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia.”

Conteúdo circula desde 2017

Esta é a segunda vez que o conteúdo distorcido volta a ser compartilhado nas redes sociais. O vídeo circula na internet desde 2017. A uma semana das eleições presidenciais de 2018, voltou a circular com força. À época, foi desmentido pelo Comprova. Quatro anos depois, a menos de um mês das eleições presidenciais de 2022, a peça de desinformação viralizou mais uma vez.

Ainda que já tenham sido desmentidos, conteúdos falsos e/ou enganosos costumam voltar a circular em épocas propícias de forma estratégica, como é o caso deste que ganha força a cada eleição. Por vezes, o material é reproduzido exatamente nos mesmos moldes, mas ele também pode ser “reciclado” e adquirir novas roupagens.

PT reafirma manipulação

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula, que já havia emitido nota quando o conteúdo circulou pela primeira vez, voltou a afirmar que “o vídeo foi pesadamente editado e manipulado para criar frases nunca ditas pelo ex-presidente”. Acrescentou ainda que o material “foi montado e circula em grupos, em geral de simpatizantes de Bolsonaro, como arma para estimular o ódio político contra Lula e o PT”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos e sátiras envolvendo candidatos à presidência, como a peça aqui verificada, podem influenciar os eleitores, que devem basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo foi investigado pela primeira vez em outubro de 2018 pela equipe do Comprova. Dias depois, foi também desmentido pelo Fato ou Fake. No ano seguinte, em 20 de setembro de 2019, o Estado de S.Paulo fez a checagem do mesmo vídeo. A peça também foi alvo de verificação do Aos Fatos em agosto de 2020.

O Comprova também já investigou conteúdos similares envolvendo candidatos à presidência. Recentemente, apontou manipulação de vídeo para inserir ofensa a Lula em discurso de apoiadora em Pernambuco, que vídeo foi editado para deturpar fala de Lula sobre ‘ideologia do PT’ e que vídeo de Bolsonaro criticando direitos trabalhistas é de 2019.

Eleições

Investigado por: 2022-09-16

Fala em apoio a Bolsonaro foi feita por jornalista argentino e não por embaixador, como afirma vídeo

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Falso
É falso o conteúdo de vídeos publicados no Kwai que mostram um suposto embaixador falando que “não tem nenhum motivo econômico para alguém não votar na reeleição do [Jair] Bolsonaro”. O homem que aparece no vídeo não é embaixador, e sim o jornalista argentino Gustavo Segré, que fez as declarações durante sua participação em uma edição do programa “Direto ao Ponto”, da Jovem Pan News.

Conteúdo investigado: Vídeos que circulam no Kwai com o trecho de uma fala do jornalista argentino Gustavo Segré em um programa do canal de notícias Jovem Pan News. Na parte superior do vídeo está escrito: “embaixador fala que Bolsonaro é fera mesmo”. No vídeo, Segré faz críticas aos governos “populistas de esquerda” na Argentina e defende que “não tem nenhum motivo econômico” para não votar na reeleição de Jair Bolsonaro (PL), no Brasil.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso que um embaixador estrangeiro tenha dito que Bolsonaro “é fera mesmo” ou afirmado que “não tem nenhum motivo econômico para alguém não votar na reeleição do [Jair] Bolsonaro” nas eleições deste ano, diferentemente do que sugere um vídeo que circula na rede social Kwai. As falas foram feitas, na verdade, pelo jornalista argentino Gustavo Segré durante sua participação na edição do programa “Direto ao Ponto”, da Jovem Pan News, transmitida em 8 de agosto deste ano. O próprio Segré publicou, em seu Instagram, um trecho que aparece no conteúdo verificado. Correspondente do jornal argentino La Nación no Brasil, Segré é conhecido por seu posicionamento crítico a governos ditos de esquerda na América Latina. Ele também é associado ao partido de direita argentino Republicanos Unidos, criado em 2020.

A mesma edição do programa, apresentado pelo jornalista Augusto Nunes, contou com a presença da embaixadora da Venezuela no Brasil, Maria Teresa Belandria, nomeada em 2019 pelo autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó. Entretanto, no vídeo aqui analisado, ela não faz nenhuma afirmação de defesa ao voto em Bolsonaro. O governo brasileiro reconheceu Belandria como embaixadora oficial da Venezuela em junho de 2019, cargo que ela ainda ocupa, de acordo com o site oficial da única embaixada venezuelana reconhecida no Brasil.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Nas duas postagens que deram origem à verificação do Comprova, é possível ver uma marca d’água com o nome de um outro perfil (“Marina Vascocelos424escritoraa”), o que, no Kwai, indica ser o usuário que publicou o vídeo originalmente. Nesse perfil, no entanto, a publicação foi excluída. As duas postagens que reproduziram o conteúdo, e foram analisadas na verificação, somavam, até o dia 16 de setembro de 2022, 27 mil visualizações. Além desses vídeos, uma busca no próprio Kwai com a frase “embaixador fala que Bolsonaro é fera mesmo” mostra que existem pelo menos outros 93 conteúdos idênticos já publicados na rede, e com números de visualização variados.

O que diz a autora da publicação: Não conseguimos contactar a autora do conteúdo verificado pelo Kwai, onde ele foi publicado originalmente. Encontramos um perfil no Facebook com o mesmo nome e características semelhantes ao perfil do Kwai, além de cinco fotos diferentes da mesma mulher. A reportagem enviou uma mensagem privada, que foi visualizada, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Procuramos no Google pela frase-chave da publicação verificada, “não tem nenhum motivo econômico para alguém não votar na reeleição do Bolsonaro”. Usamos aspas na pesquisa para obtermos apenas os resultados com a frase na íntegra. Encontramos variações desse mesmo conteúdo em outras redes sociais. O segundo resultado, uma publicação com a mesma peça de desinformação em uma página no Facebook atribuída a um suposto escritório de advocacia, mostra um outro ângulo do vídeo, no qual aparece escrito no fundo do cenário: “O Pêndulo da América Latina”.

Assim como no conteúdo da transmissão original da Jovem Pan, os vídeos no Kwai mostram também o jornalista brasileiro Augusto Nunes. Pesquisamos, então, no Google, pelos termos “O Pêndulo da América Latina” e “Augusto Nunes”. Deparamos-nos com a edição de 8 de agosto do programa “Direto ao Ponto”, do canal de notícias Jovem Pan News, e reconhecemos que se tratava do mesmo vídeo.

Contexto do vídeo

Os vídeos aqui analisados apresentam trechos da edição do programa “Direto ao Ponto”, do canal de notícias Jovem Pan News, transmitido no último dia 8 de agosto. Apresentado pelo jornalista Augusto Nunes, o “Direto ao Ponto” é um programa de entrevistas semanal “que se aprofunda nos debates de temas relevantes da atualidade”, de acordo com o site da emissora.

A edição usada no vídeo do Kwai tinha como tema “debater os efeitos políticos e econômicos do crescimento do número de governos esquerdistas na América Latina” e trazia como convidados o jornalista argentino Gustavo Segré (apresentado por Nunes como “jornalista e analista político internacional”); a embaixadora venezuelana reconhecida pelo governo brasileiro Maria Teresa Belandria; a deputada chilena Chiara Barchiesi e o jornalista e candidato a deputado federal Carlos Cauti (Novo-SP).

Um dos recortes divulgados nas redes sociais, de 1 minuto e 42 segundos de duração, começa com uma fala de Segré sobre os “riscos” dos países que, segundo ele, são governados por “políticos populistas de esquerda”. A fala de Segré acontece no momento em que os convidados debatiam sobre as recentes negociações de empréstimos entre os governos argentinos e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segré então cita números do chamado “risco-país” da Argentina e da Ucrânia e diz que o impacto de um governo populista de esquerda na economia de uma nação é pior do que o de uma guerra. Nesse trecho, Segré afirma que o “risco-país” da Argentina é de 2.400 pontos e o da Ucrânia de 1.800, sem, no entanto, especificar a fonte dessa medição. No início de julho, o indicador do banco JP Morgan atribuído à Argentina ultrapassou os 2.600 pontos, patamar próximo ao citado pelo jornalista. O Comprova, no entanto, não encontrou informações da mesma fonte, isto é, o ranking de risco-país do JP Morgan, atribuído da Ucrânia. Em outras publicações, como os sites Country Risk e Credendo, os níveis de risco no grau de investimento atribuídos aos dois países são bastante semelhantes.

Em seguida há um corte e o trecho seguinte é uma outra fala de Segré, na qual ele afirma que, sob o ponto de vista econômico, não há motivo para os brasileiros não votarem pela reeleição do atual presidente Jair Bolsonaro.

Uma outra versão do mesmo vídeo, com 4 minutos e 5 segundos de duração, também circula no Kwai. Essa versão apresenta, nos primeiros minutos, um outro recorte de uma fala de Segré, em que ele recorre a uma analogia para explicar o que é o “socialismo”, que, segundo ele, aconteceu na Venezuela no passado e está acontecendo na Argentina atualmente.

Quem é Gustavo Segré

Gustavo Segré é argentino e mora em São Paulo. É sócio da empresa de consultoria Segré y Asociados e correspondente no Brasil do La Nación Más, canal de TV do jornal argentino La Nación, onde faz análises de temas como economia e política. Com frequência, Segré também faz comentários em veículos do Brasil, principalmente a Jovem Pan, onde ele deu a declaração no post verificado neste texto.

Segré é crítico da esquerda e de medidas dos governos petistas no Brasil e dos governos de Cristina Kirchner (2007-2015) e de Alberto Fernández na Argentina, principalmente na economia. Ele demonstra apoio a grande parte das ações de Jair Bolsonaro. Em 2021, definiu-se desta forma em uma conversa no Twitter: “sou liberal e não sou bolsonarista, mas prefiro Bolsonaro a um governo socialista/populista”.

Na última terça-feira, 13, Segré compartilhou em seu Twitter um vídeo insinuando que as pesquisas do Datafolha apontam vitória do presidente Lula porque impedem que os entrevistados respondam que irão votar em Bolsonaro — o que não é verdade, segundo verificação publicada pela Reuters Brasil.

Gustavo Segré também faz parte do Republicanos Unidos, partido argentino criado a partir da fusão de quatro legendas de direita: Unidos por Argentina, Libertario, Mejorar e Recrear. Fundada em 2020, a sigla disputou as primeiras eleições legislativas em 2021 e elegeu um deputado, Ricardo Lopes Murphy, que também é presidente do partido. Em seu site, a legenda diz defender a liberdade, a propriedade e o respeito à vida.

Segundo a plataforma Lattes, Segré se graduou em administração de empresas pela Universidade Bandeirante de São Paulo em 2006 e também em ciências contábeis pela Universidade Paulista em 2007. Antes, cursou economia na Universidade de Buenos Aires. Em 2010, fez pós-graduação em controladoria na Unip. Segundo seu próprio perfil no LinkedIn, ele é ex-professor de graduação da universidade.

Em nenhum de seus comentários, redes sociais e páginas na internet, Segré diz ser embaixador, como afirma o vídeo verificado. Desde 2020, o embaixador argentino no Brasil é o político e empresário Daniel Scioli. Em junho de 2022, ele deixou temporariamente o cargo para assumir o Ministério do Desenvolvimento Produtivo da Argentina, mas em setembro Fernández decidiu enviá-lo de volta ao Brasil.

A autora do vídeo no Kwai

As duas versões do vídeo aqui analisadas foram publicadas por usuários diferentes no Kwai, mas trazem uma mesma marca d’água com o nome de outro perfil (Marina Vasconcelos424 escritora), provavelmente a primeira a compartilhar o conteúdo. O perfil de Marina no Kwai, contudo, não apresenta mais a postagem com o vídeo, o que indica que o material foi excluído. No Kwai, Marina Vasconcelos se apresenta como “escritora, formada em psicologia e empresária” e cita alguns livros de sua autoria. Na rede, boa parte dos conteúdos compartilhados por ela são de apoio ao presidente Bolsonaro.

Ela também possui um perfil no Facebook, por onde o Comprova tentou fazer contato, mas não houve retorno.

De acordo com o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marina tentou ser candidata a vereadora por Salvador pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC) em 2020, mas teve a candidatura indeferida. Segundo o TSE, a candidatura foi indeferida por “ausência de requisito de registro”. Ela também tentou ser deputada estadual pela Bahia em 2014 e 1998, não sendo eleita em nenhuma das ocasiões.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. O post verificado sugere de forma mentirosa que um embaixador, uma autoridade tida como representante de uma visão técnica e internacional, apoia a reeleição de Jair Bolsonaro. O conteúdo é danoso ao processo democrático, porque distorce a compreensão das pessoas da realidade no contexto das eleições gerais deste ano. A população tem o direito de saber a verdade e de basear suas escolhas eleitorais em informações de confiança.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova fez outras verificações sobre conteúdos que distorcem os fatos na que tentativa de favorecer a candidatura de Bolsonaro à reeleição, e mostrou ser falso que um instituto de pesquisas eleitorais funciona dentro do Instituto Lula; que não há registro de que o presidenciável petista tenha afirmado que enfermeiros “só servem para servir sopa”; e que post engana ao associar o preço atual das carnes no Brasil a um suposto complô do PT com a empresa do setor de alimentos JBS.

Eleições

Investigado por: 2022-09-16

Não é Fabio Assunção em vídeo de apoio a Bolsonaro e com críticas ao PT e à esquerda

  • Falso
Falso
Postagem mente ao atribuir ao ator Fabio Assunção declarações em defesa da reeleição de Jair Bolsonaro (PL), acompanhadas de críticas ao PT e à esquerda. Quem aparece no vídeo é o candidato a deputado federal David Cardoso (PL-SP). O conteúdo gravado por ele passou a ser compartilhado como sendo o artista e já foi desmentido também por outras agências de checagem e pelo próprio autor do vídeo.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula nas redes sociais atribui ao ator Fabio Assunção críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT). No conteúdo, um homem apontado como sendo o artista defende a candidatura à reeleição do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e faz críticas à esquerda. O vídeo, de 1 minuto e 57 segundos, é acompanhado da seguinte legenda: “Importantíssimo recado do Fabio Assunção (ex-petista)! Assista e viralize!!!”

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falsa a publicação nas redes sociais em que um homem apontado como sendo o ator Fabio Assunção faz críticas ao PT, à esquerda e defende a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. O conteúdo que circula nas redes sociais mostra um homem com características semelhantes às do artista, mas quem aparece nas imagens é David Cardoso, candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo, pelo partido Partido Liberal (PL).

O vídeo original foi postado por David Cardoso em sua conta no Instagram, de onde o material foi retirado para a inserção da legenda falsa: “Fabio Assunção (ator e ex-petista)”.

Após a montagem, o próprio David Cardoso postou vídeo em que afirma ser “fake news” que seja Fabio Assunção na imagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 15 de setembro, a postagem verificada tinha 2,5 mil compartilhamentos, 5,3 mil curtidas e mais de 130 mil visualizações no Twitter. Ela foi apagada, mas pode ser vista nesta captura de tela por meio da ferramenta WayBack Machine.

O que diz o autor da publicação: Não foi possível contatar o autor da postagem que viralizou no Twitter, pois o usuário não permite o envio de mensagens. A postagem foi excluída da rede social.

Como verificamos: Primeiramente, a equipe do Comprova pesquisou palavras-chaves com o nome de “Fabio Assunção” + “Bolsonaro” e a consulta retornou reportagens (Extra, Forum) que já indicavam a falsidade do conteúdo aqui investigado e apontavam David Cardoso como o autor original dos vídeos.

Na conta do Instagram de David, procuramos por vídeos com os mesmos elementos visuais, como as roupas e os óculos. Encontramos a postagem em que ele foi associado a Fabio Assunção.

Também foram feitas consultas pelo nome do ator associado ao de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente e candidato ao Palácio do Planalto. Nessa pesquisa, surgiu matéria (O Globo) com o mesmo teor, apontando que não se tratava de Fabio Assunção no vídeo, e outros conteúdos que mostravam a proximidade do artista com o ex-presidente, como um vídeo no Twitter em que Assunção felicita o petista pelo aniversário.

A reportagem também fez contato com a assessoria de imprensa que consta no perfil do Instagram de Fabio Assunção, mas não houve retorno.

Vídeo foi gravado por candidato a deputado

Quem aparece nas imagens é David Cardoso, candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo, pelo partido Partido Liberal (PL). O próprio David Cardoso postou vídeo, em 5 de setembro, em que esclarece a situação:

A postagem original foi feita também em seu Instagram, em 19 de julho. O vídeo foi retirado do canal e publicado em redes sociais com a inserção da legenda “Fabio Assunção (ator e ex-petista)”. Nesse processo, a imagem perdeu qualidade, o que contribuiu para reforçar a mentira.

Diversos sites jornalísticos e agências de checagem publicaram conteúdo com a mesma conclusão do Comprova: não é Fabio Assunção na imagem (AFP Checamos, Agência Lupa, Boatos.org, Extra, Revista Fórum, Brasil 247, Diário do Centro do Mundo).

À Agência Lupa, a assessoria de imprensa de Fabio Assunção confirmou que não é o ator quem aparece no vídeo: “Esse vídeo não é o Fabio. Claramente. É outra pessoa”.

Posicionamento político de Fabio Assunção

O Comprova não localizou declarações de Fabio Assunção sobre as eleições presidenciais deste ano. Porém, em 2020, o ator demonstrou apoio a Dilma Rousseff (PT) ao compartilhar entrevista em que ela comenta a homenagem feita por Bolsonaro, então deputado federal, a Carlos Alberto Brilhante Ustra durante a votação na Câmara, em 17 de abril de 2016, do seu processo de impeachment. Brilhante Ustra foi reconhecido pela Justiça brasileira como torturador durante a Ditadura Militar (1964-1985).

Na ocasião, Fabio Assunção escreveu: “A desumanidade não cabe em nenhuma ‘legenda’. Tô sem palavras”. E marcou o perfil oficial de Dilma Rousseff, inserindo, ao lado, emojis com o símbolo de um coração e de um punho cerrado.

Em 2019, o perfil oficial de Lula no Twitter divulgou vídeo de Fabio Assunção em que ele parabeniza o ex-presidente pelo seu aniversário e afirma ter sido a prisão de Lula “uma prisão política”.

No ano anterior, em entrevista ao Brasil de Fato, Fabio Assunção comentou as diferenças entre ele e o personagem que então interpretava na série “Onde nascem os fortes”, Ramiro Curió, a quem descreveu como “extremamente cruel e conservador”.

“A minha visão de mundo é completamente outra. Sou orientado por duas questões fundamentais que são o princípio humanitário e esse lado progressista”, disse Assunção.

Já em 2017, o ator se filiou ao PT.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O conteúdo faz referência a Bolsonaro, que disputa a reeleição, e critica o PT, partido de Lula, que concorre ao mesmo cargo. Ao atribuir o vídeo ao ator Fabio Assunção, que é conhecido por apoiar as pautas de esquerda, como se ele tivesse mudado seu posicionamento político, o autor contribui para espalhar uma falsidade, o que afeta o processo democrático das eleições. A população tem direito de fazer as suas escolhas baseadas em conteúdos verdadeiros e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: As eleições têm sido o tema preferencial dos conteúdos de desinformação que circulam nas redes sociais. Nesta semana, o Comprova demonstrou que é falso o vídeo que afirma que militares fizeram ataque a petistas durante o desfile de 7 de Setembro e também um áudio em que o presidente xinga Michelle Bolsonaro no mesmo evento. Além disso, apontou ser enganoso um vídeo de Bolsonaro criticando direitos trabalhistas e que se trata de uma sátira um vídeo sobre a participação de Lula em comício em Belém.

Eleições

Investigado por: 2022-09-16

Vídeo edita fala de Lula para afirmar que ele chamou apoiadores de vagabundos e traficantes

  • Falso
Falso
É falso o vídeo que circula na plataforma Kwai mostrando, de forma editada, o discurso em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente e candidato à Presidência da República, supostamente xinga apoiadores. No vídeo original, gravado em área ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), em outubro de 2017, Lula fala o contrário do que sugere a versão manipulada e diz que no local não existem traficantes, vagabundos e bandidos.

Conteúdo investigado: Postagem com conteúdo falso no Kwai mostra Lula chamando apoiadores de “vagabundos”, “traficantes” e “bandidos”. Após o discurso do petista, é inserido à montagem outro vídeo, em que o deputado estadual Conte Lopes (PL-SP) afirma que o ex-presidente “não fala coisa com coisa”.

Onde foi publicado: Kwai, Twitter, Instagram, Facebook e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso vídeo no Kwai que mostra Lula chamando apoiadores de “vagabundos”; “traficantes” e “bandidos”. A gravação é editada para suprimir o termo “não” antes das palavras. A postagem também tem outro vídeo inserido, em que o deputado Conte Lopes faz críticas ao petista.

Durante uma ocupação em São Bernardo do Campo (SP), organizada pelo MTST, o ex-presidente discursou para as pessoas presentes, em outubro de 2017. No vídeo original, Lula afirma: “A primeira coisa é que eles têm que saber que aqui não tem vagabundo. Aqui não tem traficante. Aqui não tem bandido”.

No último dia 3 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que redes sociais retirassem do ar publicações contendo o mesmo vídeo com falas editadas de Lula, sob a justificativa de manipulação do discurso do ex-presidente com a finalidade de atingir a integridade do processo eleitoral.

O Comprova considera falso qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o dia 15 de setembro, a postagem no Kwai teve 273 curtidas, 132 comentários, 415 compartilhamentos e 11,2 mil visualizações. A decisão do TSE pela retirada do mesmo vídeo cita publicações em outras redes sociais. Até 1º de setembro, uma postagem do Twitter teve mais de 18 mil visualizações. Outro post teve mais de 1,1 milhão de visualizações no TikTok. No Facebook, foi visto mais de 130 mil vezes.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação por meio do recurso de troca de mensagens no Kwai. O perfil, identificado como Aladir Leite Albuquerque, não respondeu até a publicação desta checagem. Aladir foi candidato em várias eleições e concorreu ao senado em 2018 no Mato Grosso pelo PPL. Ele não se elegeu.

Como verificamos: Em pesquisa no Google pela frase “Lula xinga apoiadores”, identificamos outras checagens sobre o mesmo vídeo (AFP, Reuters, Estadão, Uol) e decisão do TSE em relação ao vídeo. Por meio de pesquisa reversa da imagem, verificamos que as cenas finais são de Conte Lopes, deputado estadual por São Paulo e candidato à reeleição, em um podcast compartilhado em seu canal no YouTube. Também entramos em contato com o autor da publicação no Kwai.

Discurso MTST

Conforme verificado pelo Comprova, em reportagens na internet (AFP) e no próprio site do MTST, Lula foi à ocupação Povo Sem Medo, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, no dia 21 de outubro de 2017. Ele discursou para uma multidão em São Bernardo do Campo.

O vídeo do discurso pode ser visualizado no canal Mídia Ninja, no YouTube. O conteúdo mostra, a partir de 1:19:54, o momento da fala de Lula que foi manipulado na edição para gerar um sentido contrário ao que ele disse de fato.

“É importante que eles saibam quem são vocês. A primeira coisa é que eles têm que saber que aqui não tem vagabundo. Aqui não tem traficante. Aqui não tem bandido. E muito menos bandida. Aqui tem homens, mulheres, mães e pais, que certamente ou ainda estão trabalhando ou já trabalharam e foram mandados embora. E que eles não querem confusão”, discursou Lula.

Decisão TSE

No dia 3 de setembro deste ano, o ministro do TSE Paulo de Tarso Vieira Sanseverino determinou que redes sociais retirassem do ar publicações contendo o mesmo vídeo checado pelo Comprova, com falas editadas do ex-presidente Lula.

A decisão abrangeu plataformas como o Twitter, Instagram, Facebook e TikTok. Na ocasião, o Kwai não foi citado como uma das redes sociais em que o conteúdo foi publicado. O ministro determinou a suspensão da divulgação do material em 24 horas, sob pena de multa de R$ 10 mil. O tribunal atendeu em parte o pedido da federação que apoia a candidatura do petista à Presidência, a Coligação Brasil da Esperança, formada pelos partidos PT, PV, PCdoB, PSOL, REDE, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros.

“Infere-se, pois, serem plausíveis as alegações de que as publicações impugnadas na inicial foram, de fato, manipuladas e editadas no intuito de alterar o sentido da fala do candidato e a verdade sobre os fatos e, com isso, repercutir e interferir negativa e irregularmente no pleito, o que deve ser reprimido pela Justiça Eleitoral”, diz trecho da decisão do ministro.

Sobre o vídeo

O Comprova apurou que o vídeo aqui verificado apresenta uma montagem com duas partes. Na primeira, com as falas editadas do ex-presidente Lula; e, na segunda, com um trecho de 9 segundos de um outro vídeo publicado na página do YouTube de Conte Lopes.

Nessa segunda parte, a partir da afirmação sobre o ex-presidente, “não fala coisa com coisa”, entende-se que o deputado se refere às falas manipuladas da primeira parte do vídeo, que distorcem o sentido das declarações de Lula. Na realidade, as alegações de Conte Lopes estão relacionadas a outro assunto.

Elas são copiadas de um vídeo em que Lula aparece criticando Bolsonaro por ter concedido graça ao ex-deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 9 meses em regime fechado. Depois de ver as falas do ex-presidente sobre o assunto, Conte Lopes reage afirmando que o petista está “caducando” e que “não fala nada com nada”.

Quem é Conte Lopes?

O político identificado no vídeo, que tem as falas dizendo que Lula “não diz coisa com coisa”, é Roberval Conte Lopes Lima (PL), mais conhecido como Capitão Conte Lopes. De acordo com o site oficial da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), ele foi eleito em 2018 para o quinto mandato consecutivo com cerca de 207 mil votos.

Em 1998, foi o segundo deputado mais votado no estado. Atuou como membro das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) do Crime Organizado, em 1997, e do Narcotráfico, em 1999. Em 2001, foi escolhido líder do PPB (hoje PP) na Alesp e membro da CPI do Sistema Prisional. Em março de 2003, foi reconduzido à liderança do partido. Atualmente, filiado ao Partido Liberal, é candidato a deputado estadual nas eleições de 2022.

Por que investigamos: O Comprova checa conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Nesta verificação, o conteúdo editado induz o eleitor a um entendimento equivocado em relação ao que disse o candidato Lula, há cinco anos. Material de desinformação como este atrapalha o processo eleitoral, pois engana a população, que deve fazer sua escolha a partir de dados verdadeiros e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo já foi checado em outras oportunidades por veículos como AFP, Reuters, Estadão e Uol.

Também envolvendo o candidato Lula, o Comprova realizou recentemente algumas checagens. Uma delas foi sobre vídeo manipulado para inserir ofensa a Lula em discurso de apoiadora em Pernambuco. Em outra checagem, foi concluído que Lula não disse que vai implantar ditadura no Brasil em entrevista a canal chinês. Também recentemente, o Comprova checou vídeo falso que fazia montagem de Lula declarando voto em Bolsonaro.

Eleições

Investigado por: 2022-09-15

Vídeo mente ao afirmar que militares fizeram ataque a petistas durante desfile de 7 de Setembro

  • Falso
Falso
É falso que militares tenham entoado canto contra petistas e a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante desfile de 7 de Setembro, em Brasília. Postagem no TikTok mostra, de fato, a cerimônia na capital federal, na última semana. Porém, o áudio original foi substituído por outro, retirado de um vídeo feito em 2018 e encontrado em posts na internet a partir de 2021, gravado nas dependências da Polícia Militar do Pará.

Conteúdo investigado: Vídeo de 19 segundos traz trechos do desfile cívico-militar deste 7 de Setembro que ocorreu em Brasília, em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil. Filmado de uma arquibancada, o conteúdo é acompanhado por áudio de grito de guerra: “Se liga v***, é Bolsonaro no Brasil. Ei petista, pensou que ia escapar? Se liga v***, tu vai ter que trabalhar. Brasil! Brasil! Acima!”

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Tropas militares que participaram do desfile do 7 de Setembro em Brasília (DF), na última semana, não gritavam contra petistas, nem exaltavam Jair Bolsonaro durante a cerimônia. Um vídeo que viralizou no TikTok nos últimos dias trocou o áudio ambiente do desfile por uma espécie de paródia de uma canção de Treinamento Físico Militar (TFM), feita por um grupo que participava de um treinamento nas dependências da Polícia Militar do Pará, em 2018.

O vídeo de onde o áudio foi retirado circula nas redes pelo menos desde 5 de setembro de 2021. Ele mostra um grupo de militares fazendo um treinamento físico, enquanto outra pessoa exclama algumas frases, repetidas pelo restante do grupo, que bate palmas enquanto entoa o grito de guerra.

O áudio original do treinamento físico no Pará foi usado em 384 vídeos diferentes apenas no TikTok até o início da tarde desta quinta-feira (15). A maioria das publicações foi feita após o desfile do 7 de Setembro deste ano.

O desfile dos 200 anos da Independência foi transmitido ao vivo pela TV Brasil. Fica evidente que as tropas que passavam pelo local não proferiram nenhum ataque verbal ao PT nem defesa a Bolsonaro. As imagens mostram os soldados marchando, mas sem bater palmas ou entoar qualquer canto (TV Brasil, Poder 360).

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 15 de setembro, o vídeo teve 7,2 milhões de visualizações, 675,7 mil curtidas, 10,4 mil comentários e 71,8 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O conteúdo foi publicado pelo perfil do Clube de Pesca e Pousada Boa Sorte, localizado em Itauçu, Goiás. Como o TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova localizou outras redes sociais do estabelecimento (Instagram e Facebook) e encontrou um endereço de e-mail. Entramos em contato com o clube, mas não houve retorno até o fechamento desta checagem.

Como verificamos: O primeiro passo foi investigar a origem do vídeo. Para isso, comparamos a cena exibida no conteúdo investigado com as imagens oficiais da transmissão feita ao vivo pela TV Brasil. O Poder 360 retransmitiu o desfile, e o vídeo mostra a passagem das tropas entre 1:37:50 e 1:39:50. Esse é o mesmo momento que o vídeo investigado mostra.

Em seguida, buscamos o áudio. Na parte inferior do post, há um link para o que seria o “som original” do vídeo – ao clicar nele, o TikTok leva a uma página que mostra outros vídeos que utilizaram o mesmo som. Esse é um recurso popular da plataforma, muito usado em vídeos de dublagem, que permite que um mesmo som seja usado em diversos vídeos. O TikTok informa onde o mesmo som foi utilizado. No início da apuração, em 12 de setembro, havia 304 vídeos com o mesmo áudio, número que saltou para 384 até a tarde do dia 15. O mais antigo deles foi postado por um usuário no dia 28 de junho deste ano, o que já indica que o áudio não poderia ter sido registrado durante os desfiles deste 7 de Setembro.

Legenda: Captura de tela da página do TikTok que mostra em quantos vídeos o áudio usado pelo conteúdo verificado pelo Comprova foi utilizado.

Uma busca reversa com ferramentas como o Google Imagens e o Yandex, cruzada com pesquisas no Google e nas redes sociais a partir de trechos das frases ditas no áudio, levou ao vídeo de um treinamento militar que já circula no YouTube pelo menos desde 5 de setembro de 2021.

Ao identificar que o áudio original pertencia a esse vídeo, gravado nas dependências da Polícia Militar do Pará, o Comprova entrou em contato com a corporação e com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) para saber quando o vídeo tinha sido feito, em quais circunstâncias e se alguém tinha sido punido.

O Comprova buscou contato, por fim, com o autor da postagem no TikTok, também sem retorno.

Áudio pertence a vídeo feito em treinamento militar no Pará

Apesar de aparecer em centenas de posts no TikTok, o áudio utilizado no vídeo investigado já circula pela internet pelo menos desde o dia 5 de setembro de 2021. Ele foi retirado de vídeos no YouTube que mostram um treinamento dentro das dependências da Polícia Militar do Pará – nenhum dos vídeos, contudo, informa quando e onde as imagens tinham sido feitas.

Entre os segundos 11 e 12 dos diversos vídeos postados no YouTube, é possível ver que um homem segura o mastro de uma bandeira de tecido preto com brasão e letras brancas. Uma parte do que está escrito é visível: “Pela ordem, Choque!”. A parte inferior do brasão que aparece na bandeira também pode ser vista, assim como dois ramos nas laterais, mas a baixa qualidade das imagens não permite identificar a que corporação a bandeira pertence.

| Bandeira tem parte de slogan usado por Batalhões de Choque das Polícias Militares brasileiras: Pela Paz e Pela Ordem

Ao buscar por postagens nas redes sociais de batalhões de choque das Polícias Militares do Brasil, o Comprova identificou um post no Facebook feito em 14 de maio de 2019 em uma página atribuída ao Batalhão de Polícia de Choque do Pará. Apesar de a foto ser de 2019, e não de 2021, ela mostra o mesmo padrão de bandeira e de boné usado pelos homens que aparecem no vídeo. Segundo o post, a foto registra participantes de um Curso de Ações de Choque da PM do estado.

| Foto postada na página do Batalhão de Choque do Pará no Facebook mostra bandeira e bonés parecidos com os que aparecem no vídeo do treinamento com o grito de guerra. Crédito: Reprodução

A partir de uma das frases ditas pelos homens que aparecem no vídeo do suposto treinamento, o Comprova localizou um arquivo em PDF com uma coletânea de canções de TFM (Treinamento Físico Militar). Embora a canção dita pelos homens nas imagens não apareça no documento, há uma frase similar, que indica a possibilidade de o vídeo ser uma paródia da canção de número 80, chamada “Sangue do Pedroso”. Enquanto no vídeo, os homens gritam “Ei, petista, pensou que ia escapar? Se liga, v***, tu vai ter que trabalhar”, o texto original diz: “Ê, v***, pensou que ia escapar? Agora no inferno pocotó vai cavalgar”.

O documento está nomeado em diversos sites como “Canções de TFM – SD Magno PMPA”, mas o conteúdo em si não faz menção a um soldado em específico. Um texto de apresentação diz que a finalidade é “reunir canções militares, especialmente, aquelas utilizadas no decorrer das atividades físicas da 1ª Companhia ROTAM e da 2ª Companhia ROTAM MOTOS pertencentes ao Batalhão de Polícia Tática – BPOT”. Ainda segundo o documento, ele deve servir “como uma fonte de consulta para os futuros Cursos, Nivelamentos e Estágios no âmbito da Polícia Militar do PARÁ”.

O Comprova, então, conseguiu localizar um vídeo de treinamento de campo das Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam) do Pará. As imagens, publicadas no YouTube em 2013, mostram o mesmo local que aparece nas imagens do vídeo com o grito de guerra. É um campo de futebol ao lado de um prédio que serve como sede da Banda de Música da PM do Pará. Ao fundo, há uma cobertura ligeiramente arredondada, que pertence ao prédio do Almoxarifado Central, bem perto da sede da Rotam, que fica na Avenida Brigadeiro Protásio, no bairro Marco, em Belém.

Vídeo do treinamento de onde o áudio foi extraído, publicado em 5 de setembro de 2021

Vídeo de treinamento da Rotam do Pará, publicado em 7 de setembro de 2013

Imagem de satélite do local onde as imagens foram feitas, na sede da Rotam, na Avenida Brigadeiro Protásio, em Belém (PA)

Em nota, a Polícia Militar do Pará informou que “este vídeo foi gravado em 2018, portanto não está relacionado com a atual gestão. A PM ressalta que é terminantemente proibida qualquer manifestação político-partidária dentro dos quartéis da corporação e que vai apurar qualquer conduta que não esteja de acordo com o código de ética da PM”.

Vídeo foi gravado no desfile de 7 de Setembro em Brasília

O vídeo investigado foi filmado de uma arquibancada no dia 7 de Setembro de 2022, durante o desfile em comemoração ao bicentenário da Independência, que ocorreu na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Na transmissão ao vivo feita pela TV Brasil e repercutida pelo Poder 360, é possível ver as diferentes tropas do Exército que aparecem no vídeo postado no TikTok. O desfile das tropas é mostrado entre 1:37:50 e 1:39:50. Apesar da narração dos comentaristas da TV Brasil, não há, em nenhum momento do desfile, o grito de guerra em apoio ao presidente Bolsonaro como sugere o vídeo investigado.

O vídeo foi postado no TikTok a partir da conta do Clube de Pesca Boa Sorte, que fica em Itauçu (GO). O proprietário do clube, Gleybson Cesar da Silva, estava no desfile. Ele aparece nesta publicação no TikTok e também em diversos vídeos no perfil do clube no Instagram.

De acordo com reportagem do G1, cerca de 3,1 mil militares desfilaram, sendo, aproximadamente, 600 da Marinha, 2 mil do Exército e 500 da Aeronáutica – além de veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), integrantes do Programa Força no Esporte (Profesp), e ex-integrantes das Forças de Paz.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Publicações que envolvem candidatos e foram editadas para mudar o seu significado original podem influenciar na imagem construída pelos eleitores sobre determinado político. Isso é prejudicial para o processo democrático e para os cidadãos, que têm o direito de fazer sua decisão com base em informações verídicas e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes a respeito do bicentenário da Independência, o Comprova mostrou que post usa imagens de ângulos diferentes para depreciar ato pró-Bolsonaro de 7 de Setembro e que é falso áudio em que presidente xinga Michelle Bolsonaro antes do desfile de 7 de Setembro.

Anteriormente, o Comprova verificou peças de desinformação que, assim como essa, traziam áudios adulterados. Por exemplo, mostrou que vídeo com áudio falso enganou ao sugerir que ex-governador da Paraíba teria humilhado Lula e elogiado Bolsonaro, que post adulterou áudio e mentiu ao afirmar que Lula foi xingado em Caruaru e que pessoas gritavam a favor de Lula, e não contra ele em vídeo na Sapucaí.

Eleições

Investigado por: 2022-09-15

Vídeo satiriza participação de Lula em comício em local destruído pela chuva em Belém

  • Sátira
Sátira
Vídeo no Instagram satiriza a participação do ex-presidente Lula (PT) em comício em Belém, em local que foi destruído por uma forte chuva um dia antes do evento. A postagem usa trecho de gravação publicada em página de deputado federal petista e, na sequência, coloca imagens de estrutura despencando em temporal e finaliza com um meme de pessoa dizendo "Ele não vai, não", mesma frase utilizada na legenda. Ao sugerir que Lula não iria ao local, o vídeo tenta desestimular as pessoas a comparecerem ao ato. O conteúdo foi publicado um dia antes do comício, previsto para o dia 1º de setembro. Diferentemente do que o post sugere, o ato de campanha foi realizado com a participação de Lula.

Conteúdo investigado: Vídeo no Instagram com a legenda “Ele não vai não!!!” mostra uma mulher apresentando uma área coberta no Espaço Náutico Marine Club, em Belém, no Pará, “local onde vai ser realizado o ato com o presidente Lula e o nosso senador Beto Faro”, como ela diz. Na sequência, imagem de um temporal que destrói o local e, depois, uma pessoa dizendo “ele não vai, não”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É sátira um vídeo afirmando que o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não participaria de evento em Belém com o deputado federal Beto Faro, do mesmo partido, porque o local em que o ato ocorreria foi destruído por um temporal um dia antes. O post mostra imagens de uma moça apresentando o local, no Espaço Náutico Marine Club, e, em seguida, uma cobertura sendo destruída pela chuva. O conteúdo de desinformação termina com uma pessoa, em um meme em vídeo, repetindo “Ele não vai, não”, mesma frase usada na legenda.

O temporal, de fato, ocorreu e destruiu a estrutura metálica do Marine Club, mas, de acordo com a assessoria de imprensa de Lula, a armação foi reconstruída e o comício petista foi realizado, como mostra vídeo publicado pelo Poder360 e reportagem do Jornal Nacional. A informação sobre o ato também foi confirmada pelo Marine Club.

Publicado em um perfil de humor no Instagram, o conteúdo foi verificado a pedido de um leitor, que enviou as imagens para o Comprova por meio do número de WhatsApp (11) 97045-4984. O projeto também verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

A um usuário do Instagram que escreve “Ah, ele vai sim! E estaremos lá!”, o dono do perfil responde “Pois eu não vejo a hora de não ir!”. A outro que publica “ele veio e foi lindo demais. Faz o L, faz o coração grandão”, o autor escreve “foi lindo demais, segundo os números oficiais 10 mil pessoas! Esqueceram de detalhar o número 20% estavam ganhando 30 reais pra bandeirar!”, sem apresentar provas.

À outra pessoa, que pontua que a chuva poderia ter até matado alguém, ele responde: “Amiga, se tivesse sido uma tragédia onde tivesse mortos com certeza essa página não estaria fazendo humor com este episódio! Mas quer uma coisa pra se preocupar de verdade? Nestes encontros se discutem iniciativas públicas como liberação de drogas e aborto…isso eu não preciso nem falar que é errado de acordo com a Bíblia!”, também sem trazer nenhuma evidência.

Alcance da publicação: Até o dia 15 de setembro, o post foi visualizado 4,4 mil vezes e teve 150 curtidas no Instagram.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou contato por mensagem direta no Instagram, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos: Inicialmente, ligamos no Marine Club e a pessoa que atendeu confirmou que o comício foi realizado. Também falamos, por mensagem de texto no WhatsApp, com a assessoria de imprensa de Lula, com a equipe do deputado Beto Faro e, via mensagem direta do Instagram, com Daynara Calandrini, que apresenta um dos vídeos usados no post satírico.

Ao buscar por palavras-chave no Google, como “Marine Club” e “Lula”, o resultado mostrou reportagens sobre a chuva e sobre o ato, como textos de Poder360 e G1. Em matérias do Jornal Nacional e de O Liberal pudemos confirmar que o comício ocorreu.

O evento

“Estamos aqui no Marine Club, local onde vai ser realizado o ato com o presidente Lula e o nosso senador Beto Faro. O espaço fica bem ao lado da UFPA (Universidade Federal do Pará) e vai garantir conforto e segurança para todas as caravanas que virão encontrar conosco”, diz a mulher que aparece na primeira parte do vídeo verificado. Ela se refere ao comício que seria realizado em 1º de setembro deste ano no Espaço Náutico Marine Club, no bairro do Guamá, em Belém. O vídeo utiliza um trecho do original, postado no Instagram do deputado federal petista Beto Faro, que concorre ao Senado, em 31 de agosto.

Ao acrescentar as imagens da estrutura despencando por conta da forte chuva daquele dia, o autor do post satírico afirma que o evento não ocorreria, mas não foi o que aconteceu. O ato foi realizado, conforme mostram notícias e os canais do PT e do Poder360 no YouTube, que transmitiram o comício ao vivo e deixaram-o gravado. Além disso, uma pessoa que conversou com a reportagem pelo telefone do Marine Club confirmou a realização do evento – ela não quis se identificar.

O evento, chamado de Todos Juntos pelo Pará, durou aproximadamente duas horas e contou com a participação de Lula e de apoiadores, como Beto Faro e Randolfe Rodrigues (Rede), que integra a equipe do presidenciável.

A mulher que aparece na primeira parte da montagem verificada é Daynara Calandrini. Em contato com a reportagem, ela afirmou ser apresentadora nas redes sociais de Beto Faro, militante do PT e secretária de organização da juventude do partido no estado do Pará. Sobre o evento, Daynara disse que “deu tudo certo”.

A chuva

De acordo com reportagem de O Liberal, a estrutura para o comício estava sendo montada quando foi atingida pela forte chuva e caiu em 31 de agosto. Ainda segundo o mesmo veículo, o ato foi mantido.

No mesmo dia, o Diário do Pará informou que aquela tarde “pode ser considerada uma das mais complicadas dos últimos meses” pelos moradores de Belém devido ao mau tempo. O temporal que caiu sobre a cidade trouxe inúmeros prejuízos e transtornos em diversos bairros da capital paraense.

A equipe de Beto Faro enviou ao Comprova nota emitida após o temporal, em 31 de agosto. Nela, afirmava que, “em virtude das fortes chuvas em Belém, a campanha da Coligação Brasil da Esperança esclarece que o Corpo de Bombeiros está vistoriando o local” e que “três pessoas foram atendidas e já liberadas”. As pessoas atingidas pela estrutura atuavam na montagem do evento.

O perfil

O conteúdo satírico foi publicado no Instagram pelo perfil @mangacomfebre, “página de humor do comediante Anderson Freitas”, conforme mostra a descrição.

O primeiro post do perfil foi publicado em 18 de agosto de 2021. Desde então, foram postados 21 conteúdos, inclusive o verificado aqui, que foi o mais visualizado – além dele, só mais um, de março, foi visto mais de 1 mil vezes.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos e sátiras envolvendo candidatos à presidência, como a peça aqui verificada, podem influenciar os eleitores, que não devem fazer suas escolhas com base em materiais deste tipo e, sim, em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos enganosos envolvendo Lula e o PT, como vídeo que associa preço da carne a suposto monopólio da JBS e complô com o partido e post no TikTok que afirma, erroneamente, que a Justiça Eleitoral rejeitou candidatura de Lula em 2022.

Eleições

Investigado por: 2022-09-14

Vídeo de Bolsonaro criticando direitos trabalhistas é de 2019

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo publicado no TikTok com trechos de entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL) a uma emissora de TV no início do seu mandato presidencial, em janeiro de 2019, quando fala sobre direitos trabalhistas. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que existem direitos demais no país, mas reconheceu que os benefícios para o trabalhador considerados cláusulas pétreas da Constituição Federal não podem ser excluídos da legislação. Bolsonaro também falou sobre a intenção de acabar com a Justiça do Trabalho, mas o projeto não foi adiante.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no TikTok mostra trechos de uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao SBT e coloca a frase “Bolsonaro quer acabar com os direitos trabalhistas” sobre as imagens divulgadas. Na peça, os apresentadores de um telejornal da emissora apresentam trechos da fala de Bolsonaro à rede e dizem que o presidente “estuda acabar com a Justiça do Trabalho”. Em um dos trechos, o chefe do executivo declara que o Brasil é o “país dos direitos em excesso” e que “falta emprego”, argumentando que encargos trabalhistas atrapalham aquelas pessoas que querem empreender. Em outro momento do vídeo, lideranças de associações ligadas à Justiça do Trabalho rebatem a fala de Bolsonaro.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Uma postagem feita no TikTok reproduz trechos de entrevista antiga de Jair Bolsonaro para alegar que ele pretende acabar com direitos trabalhistas, caso seja reeleito. A entrevista em questão foi concedida ao SBT em 2019 e não há registros recentes de declarações do presidente para extinguir direitos previstos na Constituição Federal. A peça de desinformação foi postada no dia 6 de setembro deste ano, mas as declarações do presidente, reproduzidas na postagem, foram dadas aos jornalistas Carlos Nascimento, Débora Bergamasco e Thiago Nolasco no dia 3 de janeiro de 2019. Entre outros assuntos, na época, o presidente falou sobre reformas e emprego.

Embora o presidente tenha, de fato, declarado nessa entrevista que há direitos trabalhistas demais no Brasil, ele reconheceu que não poderia alterar alguns desses benefícios, já que eles são cláusulas pétreas da Constituição, ou seja, não podem ser mexidos nem mesmo com emendas.

Por outro lado, Bolsonaro disse que seu governo pretendia avaliar a viabilidade de acabar com a Justiça do Trabalho, propondo que as causas trabalhistas passassem a ser analisadas pela Justiça comum. O projeto não foi adiante durante o seu mandato.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: No TikTok, a peça verificada alcançou mais de 697,7 mil visualizações, 8.542 curtidas, 1.068 comentários e 13,8 mil compartilhamentos até o dia 14 de setembro de 2022.

O que diz o autor da publicação: O TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente. O Comprova buscou o perfil do autor da publicação em outras redes sociais, mas não encontrou correspondências até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: A verificação começou com buscas no Google pelos termos “entrevista”, “Bolsonaro” e “SBT”. Os resultados apontaram para alguns momentos em que o chefe do Executivo conversou com jornalistas e personalidades da emissora ao longo dos seus quase quatro anos de mandato.

Um dos vídeos, presentes no canal do YouTube do SBT e datado de 2019, mostra Jair Bolsonaro com a mesma gravata em que aparece na postagem alvo da checagem e com o mesmo cenário de fundo. Assistindo à entrevista, é possível concluir que se trata do mesmo momento reproduzido no vídeo checado.

O Comprova também procurou, por e-mail, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) para questionar sobre a proposta de extinção da Justiça especializada nas questões trabalhistas e sobre ações adotadas pelo governo federal que tenham afetado o direito do trabalhador. Não houve retorno às solicitações.

A equipe de reportagem ainda fez contato com o gabinete da Presidência, que redirecionou os questionamentos apresentados ao Ministério do Trabalho. O órgão federal também não retornou o contato.

Fala de Bolsonaro ao SBT foi em 2019

A declaração do presidente Jair Bolsonaro utilizada em recortes do vídeo alvo da checagem é de janeiro de 2019, portanto, do início do mandato da atual gestão federal. A fala ocorreu durante uma entrevista ao SBT que foi ao ar no dia 3 de janeiro daquele ano (ver a partir de 9min e 6seg). A posse de Bolsonaro foi no dia 1º do mesmo mês. Na entrevista, o presidente conversou com os jornalistas Carlos Nascimento, Débora Bergamasco e Thiago Nolasco. Entre os assuntos comentados, ele falou sobre temas como a reforma da Previdência e questões envolvendo a Justiça do Trabalho.

Em um trecho da entrevista, Carlos Nascimento questiona Bolsonaro sobre a possibilidade de uma nova reforma trabalhista ser encaminhada pelo seu ministro da Economia, Paulo Guedes, e se as eventuais mudanças poderiam afetar os trabalhadores. A pergunta do jornalista teve como base uma declaração feita por Guedes à época: de que a gestão de Bolsonaro abandonaria a “legislação fascista” da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), em referência à proposta de criação da Carteira Verde e Amarela.

O presidente respondeu que Guedes sabia que “os direitos trabalhistas são previstos no artigo 7º da Constituição e não podem ser mexidos por emenda, porque estão na tal das cláusulas pétreas” e que o que o ministro pretendia fazer era “facilitar a vida de quem produz no Brasil”.

Bolsonaro extinguiu Ministério do Trabalho, mas voltou atrás

No primeiro dia de seu governo, Bolsonaro extinguiu o Ministério do Trabalho. À época, com 88 anos de atuação no País, a pasta foi incorporada pelo Ministério da Economia. A medida já vinha sendo anunciada por Bolsonaro meses antes de assumir a Presidência. Em novembro de 2018, o atual presidente informou que a pasta do Trabalho seria incorporada “a algum ministério”, sem dar mais detalhes. A declaração gerou manifestações de servidores contrários à extinção.

Pouco mais de dois anos depois, em julho de 2021, Bolsonaro editou uma Medida Provisória que recriou a pasta, agora como Ministério do Trabalho e Previdência. Na ocasião, o deputado federal Onyx Lorenzoni (PL-RS) foi nomeado para o cargo de ministro. Segundo o texto que recriou o ministério, a pasta ficaria responsável por áreas como: Previdência, Previdência complementar, política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao trabalhador, política e diretrizes para a modernização das relações de trabalho, fiscalização do trabalho, política salarial, intermediação de mão de obra, formação e desenvolvimento profissional, segurança e saúde no trabalho, regulação profissional e registro sindical.

A alteração fez parte de uma minirreforma ministerial feita por Bolsonaro na época. Antes, Lorenzoni estava no comando da Secretaria-Geral da Presidência da República. Quando ele foi para o Ministério do Trabalho, a vaga foi ocupada por Luiz Eduardo Ramos. Já Ramos estava à frente da Casa Civil, cargo que passou para Ciro Nogueira, presidente nacional do PP e um dos integrantes do centrão. Bolsonaro convidou Nogueira para comandar a pasta com o objetivo de conseguir apoio no Congresso na época.

Sobre a recriação da pasta, a reportagem questionou o governo sobre os motivos de ter recriado o Ministério do Trabalho cerca de dois anos após extingui-lo e se havia alguma intenção de eliminar a Justiça do Trabalho. Não houve retorno.

Carteira Verde e Amarela

O projeto da Carteira Verde e Amarela foi uma das principais apostas do governo Bolsonaro referentes ao setor trabalhista durante o seu mandato. Nos últimos anos, houve múltiplas tentativas de implementá-lo, mas sem sucesso. Ainda em 2019, o presidente editou uma Medida Provisória (MP 905/2019) que criava o programa.

A ideia era reduzir impostos das empresas para estimular contratações de jovens, que poderia ser viabilizada pela alteração de algumas regras previstas pela CLT. A MP chegou a ser aprovada na Câmara, mas não foi votada no Senado e acabou sendo revogada pelo próprio chefe do executivo.

Em 2021, a Medida Provisória 1.045/2021 foi apresentada para a criação de um novo programa de redução ou suspensão de salários e jornada de trabalho durante a pandemia de covid-19. No entanto, o texto sofreu diversas alterações na Câmara dos Deputados e passou a instituir três novos programas de geração de emprego e qualificação, além de alterar a CLT e outros dispositivos. Com isso, a MP passou a ser chamada de “minirreforma trabalhista”. Ao chegar no Senado, o texto foi majoritariamente rejeitado.

Reportagem do jornal Estado de S.Paulo, publicada em agosto deste ano, mostrou que o ministro Paulo Guedes já demonstrou interesse em que a proposta da Carteira Verde e Amarela seja retomada num eventual novo mandato de Bolsonaro.

O que diz o governo

O Comprova questionou o governo, via Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), sobre a alegação do vídeo checado e solicitou um posicionamento sobre as medidas adotadas para assegurar os direitos dos trabalhadores. Posteriormente, a Secom informou que a demanda seria reencaminhada para o Ministério do Trabalho e Previdência. Não houve retorno do governo após o encaminhamento feito pela secretaria.

Na página 15 do documento do Plano de Governo de Jair Bolsonaro de 2022, no entanto, localizado na plataforma DivulgaCand Contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a reportagem encontrou informações sobre os posicionamentos e pretensões do presidente quanto aos direitos trabalhistas caso seja reeleito. No programa, o chefe do executivo afirma que: “a geração de emprego e renda deve preservar aspectos básicos do trabalhador, como saúde do trabalho, seus direitos trabalhistas, respeito à dignidade humana e levar ao bem-estar social”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A postagem faz referência a Jair Bolsonaro, candidato à reeleição em 2022. A desinformação no período eleitoral é danosa ao processo democrático porque retira das pessoas o direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos verdadeiros e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: A menos de um mês do primeiro turno, as eleições são tema preferencial de conteúdos de desinformação. O Comprova já demonstrou que é enganoso que recursos do Pis/Pasep vão financiar benefícios a caminhoneiros, que o preço da carne está associado a um complô com o PT, que a Justiça rejeitou candidatura de Lula em 2022 e que Simone Tebet iria retirar dinheiro dos pobres.

Eleições

Investigado por: 2022-09-14

É falso áudio em que presidente xinga Michelle Bolsonaro antes do desfile de 7 de Setembro

  • Falso
Falso
É falso o áudio atribuído ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em gravação que mostra suposta discussão entre ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Peritos ouvidos pelo Comprova explicam que o perfil vocal da voz presente no vídeo não coincide com o de Bolsonaro. A similaridade verificada foi de apenas 6%, sendo que percentuais abaixo de 80% demonstram não haver relação entre as vozes comparadas.

Conteúdo investigado: Vídeo de suposta discussão entre o presidente Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro momentos antes do desfile em comemoração ao Dia da Independência do Brasil, em 7 de Setembro de 2022, em Brasília. A publicação exibe imagens captadas pela TV Brasil. O conteúdo é acompanhado por áudio e legenda do que seria uma declaração do presidente: “Tá querendo me f*, po**a. Vai subir lá e vai fazer cara bonita. Tira essa cara feia, tira essa cara de c*. Tem que subir lá e sorrir pra todo mundo”.

Onde foi publicado: TikTok, Twitter e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo que circula em redes sociais e que atribui ao presidente Jair Bolsonaro um áudio com xingamentos supostamente à primeira-dama Michelle Bolsonaro, momentos antes do desfile do bicentenário da Independência, no 7 de Setembro deste ano, em Brasília.

As imagens são reais e foram captadas pela TV Brasil, emissora pública federal. No momento da suposta discussão, a gravação foi interrompida por um membro da equipe presidencial. O teor da conversa não foi captado pela emissora.

Um relatório forense preliminar sobre o vídeo aqui verificado foi elaborado pelo perito e professor do Centro de Estudos Periciais Mauricio de Cunto. O documento aponta que os parâmetros de Vocal Profile Analysis (VPA) – análise do perfil vocal – da voz presente no vídeo não coincidem com a voz de Bolsonaro. Para Cunto, o áudio é comprovadamente editado, com nenhuma garantia de rastreabilidade, originalidade e integridade.

O professor de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC) Mário Gazziro afirmou que a similaridade verificada entre a voz contida no conteúdo e a de Bolsonaro foi de apenas 6%. O especialista explica que o percentual abaixo de 80% demonstra que praticamente não há relação entre as vozes comparadas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No TikTok, a publicação passava de 39 mil curtidas, com 2,1 mil comentários e 1,5 milhão de visualizações até o dia 14 de setembro. No Twitter, são mais de 4,8 mil curtidas, 303 comentários, além de 1,5 mil retuítes e 83 mil visualizações.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com a conta que compartilhou o conteúdo no Twitter, mas não houve retorno. Em relação ao TikTok, a plataforma não permite troca de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente.

Como verificamos: Após assistir ao vídeo da publicação, a equipe fez buscas no Google utilizando os termos “Bolsonaro”, “Michele Bolsonaro”, “briga” e “7 de setembro”. A busca retornou reportagens que repercutiram a suposta briga entre o casal, como as dos veículos Valor Econômico, O Povo e Metrópoles. Nenhum dos conteúdos continha o áudio da conversa.

O vídeo aqui verificado traz a logo da TV Brasil. Diante disso, a equipe procurou, no canal do YouTube da emissora, pela transmissão original das comemorações do bicentenário da Independência. A partir de 38min15s, a TV mostra imagens exclusivas da saída de Bolsonaro do Palácio da Alvorada.

Nas imagens, ele conversa com uma pessoa que está dentro de um carro, se afasta, depois retorna, e fala com a mesma pessoa no carro novamente. No vídeo original, durante a transmissão das imagens com Bolsonaro na porta do carro, não é possível escutar o que o presidente diz. Os apresentadores narram as imagens e um deles afirma que Bolsonaro conversa com uma pessoa que parece ser a primeira-dama.

Veja comparação entre a imagem original da TV Brasil e o trecho reproduzido no vídeo aqui verificado:

| Print da transmissão da TV Brasil no momento em que Bolsonaro conversa com uma pessoa que está dentro do carro.

| Print da peça de desinformação que mostra a logo da TV Brasil e em que foi incluída legenda e áudio que não constam no vídeo original.

A partir de então, consultamos o professor de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC) Mário Gazziro e o perito forense e professor do Centro de Estudos Periciais Mauricio de Cunto. A reportagem também entrou em contato com o autor da publicação.

Suposta briga foi captada pela TV Brasil

As imagens que viralizaram nas redes sociais mostram uma suposta discussão entre o presidente Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro, na manhã de 7 de setembro. O registro foi feito pelas câmeras da TV Brasil.

A emissora acompanhava a saída do comboio presidencial do Palácio da Alvorada em direção à Esplanada dos Ministérios, onde foi realizado o desfile em comemoração ao bicentenário da Independência, em Brasília.

Na cena captada, Bolsonaro se preparava para deixar o local. A gravação tem início no momento em que a pessoa apontada na imprensa como sendo a primeira-dama já estava dentro do veículo oficial. Bolsonaro se aproxima e abre a porta dianteira do lado do passageiro. Em seguida, ele se afasta e caminha em direção a outro veículo. Instantes depois o presidente retorna, volta a abrir a porta e tem uma aparente discussão com a pessoa, que segue dentro do veículo.

O áudio da conversa não foi captado pela TV Brasil. No momento da suposta briga, a gravação foi interrompida por um membro da equipe presidencial.

Informações de bastidores divulgadas pelos colunistas Igor Gadelha, do portal Metrópoles, e Bela Megale, do jornal O Globo, afirmam que o presidente tentava convencer a primeira-dama a acompanhá-lo no desfile no Rolls-Royce. Michelle teria resistido a desfilar com o marido no carro aberto, sob o argumento de que aquele deveria ser um momento só dele. Por fim, ela cedeu ao pedido do presidente.

Peritos afirmam que voz não é de Bolsonaro

Um relatório forense preliminar sobre o vídeo aqui verificado foi elaborado pelo perito Mauricio de Cunto. O documento aponta que os parâmetros de Vocal Profile Analysis (VPA) – análise do perfil vocal – “da voz presente no vídeo não coincidem com a voz original da pessoa flagrada nas imagens”, ou seja, Bolsonaro.

De acordo com o relatório de Cunto, a gravação é curta, ruidosa e de baixa inteligibilidade. Os parâmetros técnicos do áudio foram considerados pobres, similares aos da transmissão de uma rádio AM, mas com baixíssima intensidade sonora.

“Por se tratar de uma gravação de apenas 13 segundos e muito ruidosa, editada e legendada, transmitida por WhatsApp, tal conjunto de características acaba favorecendo enormemente qualquer tipo de edição fraudulenta, visto que não existe nenhuma forma de rastreabilidade, originalidade, materialidade e confiabilidade quanto à ligação com o material original”, diz análise descrita no relatório.

Assim, a gravação da TV Brasil se tornou “alvo fácil para adulteração de frases e/ou palavras, dublagens, montagem de frases com inserção e/ou remoção de palavras, escondidos pelo intenso ruído de fundo, ruído este que poderia ter sido minimizado mas, inexplicavelmente, foi a única coisa que o editor não o fez”.

Quanto ao movimento labial, o documento informa que a qualidade da imagem é pobre e impede sua decodificação. O relatório também chegou à conclusão de que “o áudio não condiz com uma voz distante que deveria ter menor inteligibilidade independente do ruído intrínseco”. Isso ocorre porque o vídeo mostra Bolsonaro a certa distância da câmera, onde supostamente estaria a gravação do áudio.

Para Cunto, o áudio é comprovadamente editado, com nenhuma garantia de rastreabilidade (o arquivo analisado foi enviado por WhatsApp e, com isso, perdeu dados que poderiam indicar sua criação), originalidade (não é possível confirmar o tipo de câmera em que foi feita a gravação) e integridade.

O áudio da postagem aqui verificada também foi analisado pelo professor Mário Gazziro, a pedido de veículos de imprensa. O conteúdo foi comparado com o áudio de vídeo publicado por Bolsonaro nas redes sociais em setembro de 2018, quando ele estava internado em recuperação após sofrer atentado a faca durante a campanha daquele ano. A publicação de 2018 foi amplamente reproduzida pela imprensa e por apoiadores de Bolsonaro.

De acordo com Gazziro, a similaridade verificada foi apenas de 6%. O especialista explica que o porcentual abaixo de 80% demonstra que praticamente não há relação entre vozes comparadas. Para chegar à conclusão, Gazziro analisou o trato vocal (características da voz que são específicas de cada pessoa e podem ser comparadas a uma impressão digital da voz).

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos que envolvem candidatos podem influenciar na compreensão da realidade e na imagem construída pelos eleitores sobre determinado político. O Comprova busca colaborar para que a escolha sobre um candidato seja definida com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo checado nesta verificação também foi analisado pela Folha de S. Paulo, Boatos.org e Lupa, que classificaram a informação como falsa.

Ainda sobre eleições, recentemente, o Comprova mostrou que não há registros de Lula ter dito que ‘enfermeiros só servem para servir sopa’, que Simone Tebet prometeu reduzir impostos dos mais pobres, ao contrário do que sugere um post, e que é enganoso o vídeo que associa o preço da carne a um suposto monopólio da JBS e complô com PT.

Eleições

Investigado por: 2022-09-13

É enganoso que valores do PIS/PASEP vão custear benefícios a caminhoneiros e motoristas

  • Enganoso
Enganoso
São enganosas as informações veiculadas em um vídeo do TikTok em que um homem afirma que o governo federal “está devendo” aos brasileiros o valor do abono salarial do PIS em 2021, e que o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) teria redirecionado esses recursos para pagar benefícios a caminhoneiros e motoristas. Em março de 2021, uma decisão de um órgão vinculado ao Ministério do Trabalho modificou o calendário de pagamento do PIS/PASEP. Assim, quem trabalhou em 2021 com carteira assinada receberá o benefício em 2023. As benesses aos caminhoneiros e taxistas de fato existem, e resultam da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº1/2022 aprovada em 14 de julho de 2022, sem vínculo com a alteração nos calendários de pagamento do PIS/PASEP.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no TikTok no qual um homem caminha por uma rodovia enquanto fala sobre o abono salarial do Programa de Integração Social (PIS). Apoiador do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), o homem afirma que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro não pagou o abono salarial referente ao ano de 2021 e que os valores foram usados para criação de outros benefícios, como o auxílio para caminhoneiros sancionado na chamada PEC Kamikaze, aprovada em julho no Congresso Nacional.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que o pagamento do abono salarial do PIS em 2022 esteja atrasado ou que o presidente Jair Bolsonaro tenha propositalmente usado os recursos desse benefício para pagar vouchers a caminhoneiros e motoristas de táxi neste ano, como afirma um vídeo publicado no TikTok.

Até 2020 o pagamento do PIS/PASEP era feito a partir do segundo semestre do ano seguinte ao ano-base de referência. Por exemplo, trabalhadores que tiveram vínculo com carteira assinada durante o ano de 2019 podiam receber o pagamento do benefício a partir de julho de 2020. No entanto, esse entendimento foi alterado em março de 2021, quando o pagamento do abono PIS/PASEP não foi feito, e o calendário passou a determinar que o benefício deveria ser pago no início do ano: trabalhadores que tiveram vínculo com carteira assinada em 2020 passaram a ter direito ao saque do benefício só em 2022. Assim, os valores do PIS/PASEP de quem trabalhou com carteira assinada ao longo de 2021 estão previstos para serem pagos em 2023.

Não é possível afirmar que a medida teve relação com a criação de benefícios para taxistas e caminhoneiros, como afirma o vídeo, já que esses benefícios foram viabilizados apenas em julho de 2022, com a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que turbinou recursos destinados ao programa Auxílio Brasil.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 13 de setembro, o conteúdo no TikTok tinha cerca de 137,3 mil visualizações, 5.386 curtidas e 622 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou contato com o autor do vídeo, mas o TikTok não permite o envio de mensagens para contas que não se seguem mutuamente. Também não foram encontrados perfis do mesmo usuário em outras redes.

Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar no Google sobre “abono salarial 2021” e “atrasos”. Resultados de reportagens publicadas em sites como Jornal do Commercio explicavam que o abono salarial do PIS/PASEP do ano-base 2021 seria pago em 2023.

Em seguida, fizemos buscas no Google por notícias sobre os calendários de pagamento do PIS/PASEP nos últimos anos. As pesquisas foram feitas para retornarem resultados de acordo com o filtro de data selecionado no buscador.

Por fim, também acionamos a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho e Previdência.

O que é PIS

O Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio Público (PASEP) foram criados em 1970 e são contribuições sociais pagas pela iniciativa privada e órgãos da administração pública, respectivamente. Desde 1988 esses recursos eram direcionados para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), administrado pelo Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência. Em 2020, o governo federal extinguiu o fundo PIS/PASEP e transferiu os valores para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Os valores que compunham o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT (agora no FGTS) têm como principal fonte de receita as contribuições do PIS/PASEP. Esses valores também seguem custeando programas como o seguro-desemprego e o chamado “abono salarial”. O vídeo aqui analisado faz referência ao pagamento do abono salarial do PIS, que ocorre anualmente e é direcionado aos trabalhadores com carteira assinada do setor privado que recebem até dois salários mínimos por mês.

Para receber o benefício, o trabalhador precisa ter exercido atividade remunerada com carteira assinada por pelo menos 30 dias no ano-base do pagamento. É preciso estar inscrito no sistema PIS/PASEP há pelo menos cinco anos e ter dados atualizados pelo seu empregador na Relação Anual de Informações Sociais (Rais). O calendário de pagamento do PIS leva sempre em consideração o mês de nascimento dos trabalhadores da iniciativa privada. Já os saques do PASEP, voltados para trabalhadores do serviço público, são liberados de acordo com os dígitos finais do número de inscrição no sistema.

O valor do abono do PIS corresponde ao valor do salário-mínimo dividido por 12 e multiplicado pela quantidade de meses trabalhados. Ou seja, o valor do abono pode variar entre 1/12 do salário mínimo e um salário mínimo inteiro. Considerando o valor atual do salário mínimo de R$ 1.212, uma pessoa que trabalhou os 12 meses com carteira assinada no ano-base de pagamento do PIS receberá um abono de R$ 1.212. Se o trabalhador teve apenas um mês de carteira assinada no ano-base, receberá um abono no valor de R$ 101 (1.212/12), e assim sucessivamente, conforme detalha o site do governo federal.

Mudanças no calendário de pagamento

O pagamento dos valores do PIS/PASEP costumava acontecer a partir do segundo semestre de cada ano com valores referentes ao ano anterior. Por exemplo, no início do segundo semestre de 2019 começaram a ser pagos os valores do PIS/PASEP para quem trabalhou com carteira assinada durante o ano de 2018. Assim, o calendário de pagamentos do PIS/PASEP referente ao ano-base de 2018 começou em julho de 2019 e foi até junho de 2020.

Para quem trabalhou com carteira assinada ao longo de todo o ano de 2019, a lógica se manteve: o pagamento foi liberado gradualmente a partir do segundo semestre de 2020, com os saques podendo ser feitos até o fim do primeiro semestre de 2021.

Em março de 2021, contudo, foi anunciado que o pagamento do PIS/PASEP referente ao ano-base de 2020 seria feito apenas em 2022, conforme noticiaram o UOL e a CNN Brasil. A decisão partiu do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) após acordo com o governo federal, empresas e trabalhadores. O Codefat é composto por representantes dos trabalhadores, empregadores e do governo federal. As mudanças foram estabelecidas por meio da resolução nº 896 de 23 de março de 2021 do Codefat, disponível aqui.

Com o adiamento do abono determinado em 2021, os pagamentos do PIS/PASEP começaram a ser anuais: os pagamentos referentes ao ano-base de 2020 iniciaram em fevereiro de 2022 e estarão liberados até 29 de dezembro deste ano, conforme noticiaram o G1 e o Jornal Agora. Assim, o pagamento do PIS para quem trabalhou em 2021, de fato, ainda não foi realizado, conforme afirma o vídeo aqui analisado, e deverá ser feito só em 2023. O calendário para os saques dos valores do PIS 2023 ainda não foi divulgado.

De acordo com o UOL e o Jornal Extra, o adiamento dos pagamentos do PIS/PASEP em 2021 representou uma economia de cerca de R$ 7,6 bilhões ao governo federal naquele ano. Também de acordo com essas publicações, representantes da Central de Trabalhadores do Brasil (CTB), que participaram das reuniões do Codefat sobre o adiamento do pagamento do PIS/PASEP, afirmaram que o governo federal colocou a mudança como condição para a recriação de outro programa, o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm). O BEm foi criado pelo governo federal no início da pandemia de covid-19, em abril de 2020, para garantir pagamentos aos trabalhadores formais que tiveram seus contratos suspensos ou jornadas de trabalho reduzidas quando começaram a ser tomadas medidas de isolamento social. O benefício emergencial permaneceu até o fim do ano de 2020 e foi recriado pelo governo em abril de 2021, ou seja, após a resolução do Codefat.

Embora as alterações no PIS/PASEP tenham sido feitas em um cenário em que o governo buscava formas de viabilizar recursos para a manutenção ou criação de programas sociais no contexto da pandemia, a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) informou ao Comprova que a decisão “não se referiu a um adiamento do pagamento do ano-base 2020, mas a uma mudança no fluxo de processamento do abono salarial, para evitar pagamentos indevidos e casos de não-pagamento”, que, segundo o órgão, ocorriam com o sistema anterior.

A assessoria da pasta ainda informou que os calendários antigos de pagamento, em que valores já empenhados tinham pagamentos realizados durante dois exercícios fiscais diferentes, ou seja, durante dois anos diferentes, eram questionados pela Controladoria-Geral da União (CGU). Com a mudança, os procedimentos operacionais para identificação dos trabalhadores com direito ao abono passaram a ser realizados pela pasta entre o mês de outubro do ano anterior ao pagamento e janeiro do ano de pagamento, o que, segundo o ministério, “evita equívocos na identificação dos pagamentos ou no cálculo dos valores a serem recebidos”.

Por fim, em relação aos recursos não pagos em 2021, o ministério afirmou que “nenhum real deixou de ser gasto com o pagamento do abono salarial, em nenhuma de suas modalidades”, e que os valores já empenhados naquele ano foram apenas anualizados para o exercício fiscal seguinte. Quanto aos valores que já estavam empenhados para o abono salarial em 2021, mas que não foram gastos no ano passado, o MTP disse que “não faz gestão orçamentária” e que as realocações “são de competência do Congresso Nacional”.

Recursos do PIS não têm relação com pagamento de auxílio para motoristas

No vídeo aqui analisado, o autor afirma que o presidente Bolsonaro “alegou na imprensa que não tinha dinheiro em caixa para fazer o pagamento do PIS em 2022”. Em pesquisas no Google e nas redes sociais do presidente, no entanto, o Comprova não encontrou falas como esse teor. Em seguida, o autor do vídeo ainda diz que, mesmo não tendo esse dinheiro em caixa, o governo teria conseguido viabilizar benefícios financeiros para caminhoneiros e motoristas, fazendo referência à aprovação de uma PEC que turbinou recursos do Auxílio Brasil válidos até dezembro de 2022.

Entre outras coisas, a PEC 1/2022 garantiu o aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600; a criação de um “voucher” de R$ 1 mil para caminhoneiros autônomos e taxistas e o aumento do valor do auxílio-gás para R$ 53. Todas essas medidas têm validade até 31 de dezembro deste ano. No total, o custo estimado para bancar esses benefícios é de R$ 41,2 bilhões, que não estavam previstos no orçamento deste ano, o que fez com que a medida fosse chamada de “PEC Kamikaze”.

O Tribunal de Contas da União (TCU) pediu explicações ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para entender de onde virão esses valores. No final de julho, conforme a coluna Radar Econômico, da Revista Veja, o governo federal ainda pediu que as estatais Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) antecipassem “o pagamento de dividendos neste ano” e modificassem “a periodicidade dos repasses de semestral para bimestral para aumentar seu caixa em ano eleitoral e cobrir o rombo causado pela PEC Kamikaze que estoura o teto de gastos em 41 bilhões de reais”. O Banco do Brasil, segundo a coluna, alegou que não seria possível operacionalizar a antecipação, enquanto as outras estatais ainda não tinham se pronunciado.

Não é possível apontar ligação entre os valores da chamada PEC Kamikaze e o abono salarial. Isso porque os valores do abono foram transferidos para o FGTS quando o governo extinguiu o FAT, ainda em 2020. E também porque o governo ainda não explicou como e de onde virão os valores para cobrir os gastos da PEC Kamikaze, aprovada apenas em julho deste ano.

Vídeo foi gravado em rodovia da Bahia

O Comprova procurou também o local onde o vídeo foi gravado. Enquanto caminha pela rodovia, o homem passa por placas de trânsito, visíveis no fundo da imagem. Uma destas placas indica que um aeroporto e a localização de Lauro de Freitas estão um quilômetro distantes. Pesquisamos no Google a combinação das palavras “aeroporto” + “Lauro de Freitas”.

O principal resultado remete ao Aeroporto Internacional de Salvador – Dep. Luís Eduardo Magalhães e ao município de Lauro de Freitas, na Bahia. Por meio da visualização de satélite do Google Maps, olhamos rodovias no raio de um quilômetro do aeroporto com as mesmas características do vídeo: via duplicada, com duas pistas em cada sentido e dividida por peças de concreto. A maior semelhança era da rodovia estadual BA-526.

Com auxílio do Google Street View, rodamos pela pista e logo foi possível encontrar o trecho onde o vídeo foi gravado, com as mesmas placas de trânsito ao fundo e também outros elementos iguais no vídeo e na imagem do Google, como prédios, casas e árvores.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais deste ano, à pandemia da covid-19 e a políticas públicas do governo federal. Conteúdos fora de contexto ou com dados imprecisos sobre as eleições podem influenciar na concepção do eleitor sobre determinado candidato, atrapalhando o livre exercício do voto e do sistema democrático brasileiro como um todo.

Outras checagens sobre o tema: O Projeto Comprova fez outras checagens recentemente. Foi mostrado que posts enganam ao sugerir que Bolsonaro e ministros olhavam para Lula em foto feita no TSE; que vídeo engana ao sugerir que motorista pode pedir reembolso de ‘imposto federal’ de combustível e que Simone Tebet prometeu reduzir impostos dos mais pobres, ao contrário do que sugere vídeo.