O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Comunicados

Projeto Comprova inicia checagem de conteúdos sobre o novo coronavírus

Tem início nesta quarta-feira (25 de março) um expediente especial do Projeto Comprova sobre o novo coronavírus, causador da covid-19. Os 24 veículos de comunicação que compõem a coalizão agora se dedicam a monitorar redes sociais e aplicativos de mensagens em busca de informações duvidosas sobre o vírus e a doença.

Além de reforçar a capacidade de verificação dos conteúdos já desenvolvida por diversas iniciativas no Brasil e no mundo, o objetivo da iniciativa é expandir a disseminação das informações verdadeiras. Fazem parte da coalizão do Comprova veículos impressos, radiofônicos, televisivos e digitais de grande alcance, como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, SBT, Band News FM e UOL, entre outros.

“A imprensa como um todo tem feito uma ótima cobertura direcionada para o coronavírus. O conteúdo informativo e de serviço está muito bom. Mas o conteúdo de verificação da desinformação que circula nas redes precisa ter seu alcance reforçado”, explica Sérgio Lüdtke, editor do Comprova.

É possível enviar ao projeto sugestões de conteúdos duvidosos e que podem ser verificados. No site, há o canal “Pergunte ao Comprova”, e os boatos também podem ser enviados por WhatsApp (11 97795-0022). Para acompanhar as verificações que serão produzidas, basta acessar o site do projeto e as redes sociais (Twitter e Facebook). Os 24 veículos membros da coalizão também replicarão as verificações em seus canais.

O presidente da Abraji, Marcelo Träsel, reforça que a iniciativa pretende contribuir com a capacitação dos cidadãos na hora de discernir o que é falso sobre a pandemia da covid-19. “Queremos desbancar os boatos nocivos, mas também instrumentalizar jornalistas e o público em geral para identificar as características dos embustes e ajudar a filtrar desinformação de forma autônoma”, afirma.

O expediente especial sobre o novo coronavírus conta com patrocínio de Google News Initiative (GNI), Facebook Journalism Project, First Draft, WhatsApp e apoio da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Checagens já feitas por agências de fact-checking e iniciativas de verificação

A International Fact-Checking Network | IFCN coordena uma aliança de mais de 100 iniciativas de checagem de quase 50 países que verificam informações duvidosas que circulam sobre coronavírus e a covid-19. Essas checagens são identificadas nas redes sociais com as tags #CoronaVirusFacts e #DatosCoronaVirus

Antes da volta do Comprova, agências de fact-checking, seções de verificação de veículos de comunicação e outras iniciativas de checagem já estavam investigando conteúdos suspeitos compartilhados nas plataformas, sites de internet e em aplicativos de mensagens. Confira as verificações publicadas por algumas delas:

Comunicados

Investigado por: 2019-12-18

Como foi a segunda fase do projeto Comprova

O projeto Comprova foi criado para verificar a veracidade de conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais durante as eleições presidenciais de 2018. Por três meses, jornalistas de 24 veículos de comunicação monitoraram redes sociais e aplicativos de mensagens para localizar e checar informações duvidosas relacionadas ao pleito.

Em 2019, o projeto voltou a reunir as 24 organizações e por cinco meses, de 15 de julho a 15 de de dezembro, colocou sua atenção em conteúdos duvidosos relacionados a políticas públicas no âmbito do governo federal.

Como os temas associados a políticas públicas são complexos e o ambiente político continuou tensionado após as eleições, o Comprova optou por fazer nesta segunda fase um jornalismo mais explicativo, agregando mais contexto as suas verificações.

As checagens em 2019 foram também mais complexas. As apurações exigiram mais tempo e esforço e demandaram narrativas mais atraentes. Nossas reportagens deveriam ser capazes de competir com as informações suspeitas, principalmente quando os conteúdos se mostraram falsos ou enganosos, com potencial de causar danos à sociedade.

Optamos por publicar verificações ainda mais transparentes, convidando os leitores para refazer os caminhos das investigações e compartilhamos com eles todos os materiais reunidos pelas apurações.

Outro ponto que se mostrou fundamental para validar nossas conclusões nessa segunda fase do Comprova foi a busca obsessiva pelas fontes originais, pela primeira publicação do conteúdo investigado. Determinar a primeira vez em que um conteúdo foi a público permite traçar o caminho completo percorrido por uma informação e localizar os pontos em que ela foi ganhando tração nas redes ou quando mudou o contexto original.

Inquirir essas fontes fez também com que pudéssemos, em alguns casos, provocar a publicação de desmentidos e erratas ou, no limite, fazer com que os perfis, páginas ou grupos apagassem os conteúdos falsos que haviam publicado.

Em cinco meses de trabalho, foram produzidas 77 reportagens que, multiplicadas pelas publicações em cada um dos veículos que fizeram parte da coalizão, se transformaram em ao menos 520 artigos.

Todas essas verificações foram feitas colaborativamente por jornalistas de distintos veículos e checadas por ao menos outros três meios de comunicação para que estivessem aptas para publicação. O Comprova também preparou alguns estudos de caso para mostrar como foram feitas as verificações.

No encerramento desta segunda fase do Comprova, gostaríamos de nominar as equipes de investigação e de apoio que trabalharam durante os cinco meses do projeto.

Equipe de Redação

Alessandra Monnerat

Amanda Miranda

Ana Carolina Santos

Bernardo Barbosa

Bianca Giacomazzi

Camila Caroline Cecilio

Carlos Mazza

Cecília Sorgine

Cido Coelho

Cinthia Macedo

Clara Cerioni

Clarissa Pacheco

Eric Raupp

Gabriel Ruggiero (estagiário)

Geraldo Campos Jr

Giordano Moreira Pienegonda (estagiário)

Helio Miguel Filho

Isabel Marquezan

José Antonio Lima

João Pedro Caleiro

Karla Torralba

Larissa Neumann

Lucas Jozino

Mahila Ames de Lara

Marcel Hartmann

Maria Clara Pestre

Marina Cid

Mariana Vick

Paulo Roberto Netto

Renata Galf

Romulo Tesi

Sérgio Lüdtke

Tiago Aguiar

Vanessa Selicani

Equipe de gestão

Adriana Garcia

Adriana Miziunas

Pedro Noel (First Draft)

Passo a passo

Investigado por: 2019-12-13

A foto de uma obra na BR-163 dos tempos de Lula que foi usada para elogiar Bolsonaro | Como verificamos

  • Estudo de caso
Estudo de caso
O Comprova está publicando relatos de algumas de suas investigações para mostrar como e por que investigou conteúdos duvidosos encontrados na internet sobre políticas públicas do governo federal.

A pavimentação da BR-163 no Pará, rota de escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste, foi um tema recorrente nas redes do presidente Jair Bolsonaro em 2019. Ao longo do ano, ele fez pelo menos 13 posts no Twitter sobre as obras na estrada, cujo asfaltamento terminou em novembro, informou o governo.

Mesmo com os trabalhos sendo realizados, houve quem preferisse abordar o assunto de forma mentirosa nas redes. No começo do ano, Agência Lupa, Estadão Verifica, Aos Fatos, e-Farsas, e Boatos.org fizeram verificações sobre posts que usavam dados falsos ou fora de contexto com o objetivo de dizer que o governo Bolsonaro tinha começado os trabalhos na rodovia.

Em julho, chegou a vez de o Comprova entrar nesta história. Um post feito no Facebook pela página “O Mito” comparava duas fotos que seriam da BR-163 para dizer que, no governo Bolsonaro, as obras estavam a todo vapor. O contraste era feito com a suposta situação da estrada nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff: um atoleiro só. A montagem tinha mais de 20 mil compartilhamentos.

A verificação feita pelo Comprova revelou, no entanto, uma história bem diferente daquela que o post pretendia passar.

Como verificamos

Para verificar a veracidade das imagens e do contexto em que elas foram apresentadas, precisávamos responder algumas perguntas:

– As fotos mostravam trechos da BR-163? Se sim, de que locais?
– Quando as fotos foram feitas?
– Quem tirou as fotos?

Vimos que a montagem trazia um selo escrito “Geração Conservadora”. Procurando por esse termo no Google, descobrimos que havia um perfil no Instagram com esse nome. Acessamos o perfil e, fazendo uma busca manual, encontramos um post de março com a mesma montagem.

O post do Geração Conservadora ainda não respondia, no entanto, a nenhuma pergunta nossa. Por isso, o passo seguinte foi separar as duas imagens – a do atoleiro e a das obras – para podermos fazer buscas por elas na internet e verificar se tinham sido publicadas em outro lugar. Esse processo é chamado de busca reversa de imagens.

A separação das fotos foi feita de forma simples no Paint, um programa básico do Windows. Depois, foi a hora de fazer a busca reversa no Google Imagens. A busca nos mostrou que as duas imagens já tinham sido publicadas em outros sites, e que representavam coisas bastante diferentes dos posts que viralizaram.

A foto do atoleiro foi publicada pelo site paraense Folha do Progresso, em 6 de fevereiro de 2017, em uma notícia sobre o aumento do tempo de viagem na BR-163 justamente por causa das más condições da estrada.

Por telefone, conseguimos contato com o editor do Folha do Progresso, Adécio Piran, que nos ajudou a chegar ao autor da foto, o jornalista Juliano Simionato. Ele nos contou que fez uma viagem de caminhonete pela BR-163 justamente em fevereiro de 2017. Além disso, nos confirmou que o ônibus que aparece na foto fazia o trajeto entre as cidades de Itaituba e Rurópolis, no qual a BR-163 e a BR-230 (Transamazônica) são a mesma estrada.

Ou seja: a foto do atoleiro era sim da BR-163, mas não da época dos governos Lula e Dilma, e sim do governo de Michel Temer (MDB).

Já a busca reversa pela foto dos tratores na estrada nos levou a uma notícia no site do Superior Tribunal Militar (STM) publicada em setembro de 2017. Isso já seria suficiente para dizermos que a imagem não mostrava obras do governo Bolsonaro, que começou só em janeiro de 2019. Mas nosso objetivo era chegar à origem da imagem.

O site do STM não tinha informações suficientes sobre isso. A legenda dizia apenas “imagem ilustrativa – obras de engenharia do Exército”. Procuramos a assessoria de imprensa do tribunal, que nos informou que a foto era do site do 8º BEC (Batalhão de Engenharia de Construção), que atua no Pará. No entanto, o site não existia mais, e os e-mails que mandamos para o 8º BEC não foram respondidos.

Fim da linha? Não. Acessamos o Flickr do Exército e, fazendo a boa e velha busca manual, olhando uma a uma as imagens, chegamos à foto – com a data de 15 de dezembro de 2008.

Para nossa sorte, entre as informações da foto no Flickr do Exército estavam seus dados EXIF. Os dados EXIF são uma espécie de carimbo de informações que a câmera coloca no arquivo da foto. Uma destas informações é a data: sim, a foto era de 15 de dezembro de 2008.

Agora sim, fim de papo: a foto era de obras na BR-163 – só que ainda no período de Lula, que governou entre 2003 e 2010.

Conclusão

Assim, a verificação do Comprova levou à conclusão de que a montagem era enganosa, já que o post verificado usou imagens verdadeiras, mas retirou-as do contexto correto, alterando seu significado.

Esta verificação foi feita por Ana Carolina Santos (piauí) e Bernardo Barbosa (UOL) e publicada pelo Comprova em 27 de julho de 2019 com o título Foto de obra na BR-163 usada em montagem enganosa como sendo do governo Bolsonaro é dos anos Lula. A verificação foi validada por Nexo, Poder360, Jornal do Commercio, Estadão e NSC Comunicação, membros do Comprova.

Passo a passo

Investigado por: 2019-12-12

Presidente da UNE não estava na universidade desde os 11 anos | Como verificamos

  • Estudo de caso
Estudo de caso
O Comprova está publicando relatos de algumas de suas investigações para mostrar como e por que investigou conteúdos duvidosos encontrados na internet sobre políticas públicas do governo federal.

Os bloqueios de recursos nas universidades e institutos federais deste ano e as propostas do governo federal para a educação geraram uma série de boatos envolvendo o setor, estudantes e professores. Um deles atingiu diretamente o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Os ataques começaram logo após a eleição de Iago Montalvão à presidência da entidade, em julho deste ano. Na ocasião, ele interrompeu o ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante a apresentação do programa Future-se, que propõe investimentos privados nas universidades federais, para criticar a proposta.

“Ministro, cadê o dinheiro da educação? Queremos solução para os estudantes que estão sem bolsa. Queremos uma resposta para isso, uma resposta imediata. Como vamos pensar um projeto para o futuro se no presente não funciona?”, questionou, segundo publicação do site da Revista Fórum.

Naquela época, Iago foi chamado de “Thiego Lula da Silva” e uma publicação com informações falsas sobre ele foi compartilhada centenas de vezes: dizia que tinha 33 anos e que estudava Ciências Sociais desde 2004 — havia 15 anos, portanto. No início de novembro, um conteúdo similar voltou a circular nas redes, desta vez chamando Iago de “Tiago Montalvão”.

Essa nova publicação foi verificada pelo Comprova. O post usava uma fotografia verdadeira de Iago durante a manifestação “Tsunami da Educação”, no mês de agosto, em São Paulo. Contudo, as informações pareciam estar incorretas. Assim, começamos a verificar uma postagem compartilhada no Facebook e em perfis no Twitter.

O objetivo da verificação era saber quem era o presidente da UNE, se ele era a pessoa que aparecia na foto, qual era sua idade, que curso ele frequentava ou tinha frequentado e em que contexto a imagem havia sido registrada.

Passo a passo

Começamos fazendo uma busca reversa da imagem no Google Imagens. Esse recurso serve para buscar na internet outras publicações com a mesma imagem ou com imagens semelhantes. É possível buscar fazendo um upload do arquivo da foto no sistema. Usamos a busca por imagens do Google para confirmar se a pessoa que aparecia na foto era, de fato, o presidente da UNE.

Localizamos a fotografia na imagem de capa do Facebook de Iago Montalvão, na conta oficial da UNE no Flickr — uma rede social de compartilhamento de fotos — e em sites noticiosos como o Vermelho, que é gerido pela Associação Vermelho em convênio com o PC do B.

Em seguida, buscamos informações sobre a eleição da UNE e localizamos o histórico acadêmico de Iago Montalvão por meio de uma busca no Google e na plataforma de currículos Lattes, que faz parte do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Também entramos em contato com as universidades onde havia informações de aprovação de Iago em seus processos seletivos.

Primeiro, buscamos o nome de Iago Montalvão no Google e localizamos listas de aprovação em processos seletivos em universidades do país. Depois, localizamos um currículo Lattes com o nome e a foto dele, mas com informações de duas universidades que não apareciam na busca do Google: o Centro Universitário Cesmac, em Maceió (AL), e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Entramos, então, em contato com todas as instituições encontradas e com o próprio Iago, que afirmou nunca ter estudado nestas duas instituições – ele também não constava nas listas de aprovados no vestibular das instituições. As demais confirmaram o percurso acadêmico informado por ele: primeiro, começou a cursar História na Universidade Federal de Goiás (UFG), em 2011; depois, se transferiu para a Universidade de Brasília (UnB), dentro do mesmo curso, em 2016.

(https://projetocomprova.com.br/wp-content/uploads/2019/11/UFG.jpeg)

Em seguida, Iago foi aprovado para o mesmo curso na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mas não chegou a cursar, porque também foi aprovado para o curso de Economia na Universidade de São Paulo (USP), em 2018, onde está atualmente matriculado. A informação foi confirmada pela universidade. Iago nunca estudou Ciências Sociais.

Uma vez descartada a possibilidade de Iago ser estudante de Ciências Sociais, precisamos confirmar sua idade. Nos perfis publicados no site da UNE e em jornais à época da eleição para a presidência da entidade, havia a informação de que o estudante tinha 26 anos – e não 33, como afirmavam as postagens. Ou seja, tendo Iago 26 anos, não seria possível que ele fosse universitário há 15 – para isso, ele precisaria ter ingressado na universidade aos 11 anos de idade.

Já tínhamos informações sobre a data e o local de nascimento, nome dos pais, curso e universidade de Iago. Mesmo assim, pedimos que ele nos enviasse uma imagem de um documento de identidade que provasse que ele tinha mesmo 26 anos. Iago nos enviou, então, uma cópia de sua Carteira Nacional de Habilitação. Assim, conseguimos confirmar que Iago nasceu no dia 14 de maio de 1993 e tem, portanto, 26 anos de idade.

Atualização

No dia 23 de novembro, um dos responsáveis pela página no Facebook ‘Jovens de Direita’, uma das que tinham compartilhado a postagem falsa sobre Iago Montalvão, respondeu ao Comprova informando que o conteúdo tinha sido retirado do ar “certamente por ser apurado como fake news”. A resposta continua: “Tentamos ser rigorosos com isto, mas nem todos editores têm o mesmo nível de rigor. Sempre que postada informação falsa, o editor é advertido ou punido”. A página também informou que não era autora do conteúdo e que havia compartilhado de outro usuário.

Conclusão

O conteúdo investigado foi considerado falso. Esta verificação foi feita por Marcel Hartmann (Gaúcha ZH), Marina Cid (TV Band), Bernardo Barbosa (UOL) e Clarissa Pacheco (CORREIO) e publicada pelo Comprova no dia 7 de novembro de 2019 com o título Para desqualificar presidente da UNE, boato diz que ele estuda Ciências Sociais há 15 anos. A conclusão foi ratificada por Folha de S.Paulo, Estadão e Poder 360, membros do Projeto Comprova.

Passo a passo

Investigado por: 2019-12-11

Avião não apagava incêndio na Amazônia brasileira, mas sim na Bolívia | Como verificamos

  • Estudo de caso
Estudo de caso
O Comprova está publicando relatos de algumas de suas investigações para mostrar como e por que investigou conteúdos duvidosos encontrados na internet sobre políticas públicas do governo federal.

Em meio a uma crise internacional gerada pelos incêndios na Amazônia e a uma onda de críticas à falta de ação do governo federal — que chegou a culpar ONGs pelo ocorrido— , as queimadas também foram tema de desinformação nas redes.

O número de focos de incêndio até o dia 1º de setembro de 2019 foi recorde dos últimos nove anos, com 91.891 pontos de fogo. Desses, mais de 50% dos focos de incêndio foram na Amazônia. Nos últimos dez anos, somente 2010 teve um ano pior em queimadas.

O mês de agosto, acompanhando o número geral, também foi o pior da década, com 30.901 focos — novamente, só superado por 2010.

O boato

Diversas páginas e perfis brasileiros no Twitter e no Facebook divulgaram, em setembro de 2019, um vídeo em que era possível ver um avião jogando água sobre uma floresta. Ao fim da gravação, a mulher que filmava comemora e grita de alegria com a queda das gotas de água.

As publicações diziam que as imagens mostravam um avião israelense apagando fogo na Amazônia. A postagem da página República de Curitiba, que foi uma das que mais viralizaram, chegou a mais de 500 mil visualizações e 21 mil compartilhamentos.

Essa não era a primeira vez que circulavam boatos envolvendo o apoio de Israel ao Brasil. Em abril, por exemplo, diversas postagens apontavam uma suposta doação de 15 helicópteros ao Brasil, depois de Bolsonaro ter visitado o país, mas a informação era falsa.

A checagem

Aviões israelenses estavam apagando incêndios no Brasil?

Quem buscasse na internet encontraria textos da última semana de agosto informando que o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, tinha declarado que seu país doaria de 200 a 300 toneladas de um produto químico para ajudar a combater as queimadas na Amazônia.

Na semana seguinte, uma delegação com 11 especialistas israelenses em combate a incêndios e salvamento foi enviada ao Brasil. Diante do alto custo, o país teria desistido de enviar o produto químico.

Com isso, um dos primeiros passos do Comprova foi entrar em contato com o Ministério da Defesa, que afirmou que a ajuda de Israel se deu “por meio do envio de bombeiros militares munidos de equipamentos para combate às chamas”.

Ainda de acordo com o órgão, o Brasil teria recebido duas aeronaves civis do Chile para combater as chamas no Pará. O modelo das aeronaves chilenas não correspondia ao visto no vídeo viralizado.

Quem fez o vídeo original?

Era preciso descobrir onde tinha sido filmado o vídeo em questão. Teria sido mesmo no Brasil, mas com outro avião?

Com o uso do Invid, é possível buscar (por meio de imagens congeladas do vídeo) postagens que compartilham determinada gravação. Basta ter o arquivo do vídeo salvo no computador ou o link do vídeo.

Dessa forma, o Comprova localizou, pela imagem de parte da roda do trator, o mesmo vídeo viralizado em um site holandês.

Mesmo com a ferramenta, chegar a esse site não foi tão simples. Como o vídeo checado trazia uma imagem pouco específica e de pouca qualidade (uma paisagem na floresta com um trator e pouco depois um avião), a busca retornava diversos outros resultados, mas na maior parte das vezes nenhum deles correspondia ao vídeo procurado — algo que acontece em muitas verificações.

A postagem no site holandês era do dia 6 de setembro. Apesar de não parecer ser o registro original, um dos comentários dizia se tratar de um “747 Supertanker”.

O Comprova buscou então no Twitter pelos termos “747 Supertanker” e chegou a um tuíte de 6 de setembro com o mesmo vídeo viralizado, com legenda que afirmava se tratar de um 747 Supertanker apagando incêndios na Amazônia boliviana.

Notícias da CNN e do G1 também informavam sobre o uso do Supertanker no combate ao fogo na Bolívia.

Partindo do forte indício de que o vídeo tinha sido filmado na Bolívia, o Comprova contatou diversas páginas de notícias locais que tinham compartilhado o vídeo, mas nenhuma delas soube informar a origem da filmagem.

Afirmações precisam ser comprovadas

Entre os tuítes, foi localizado o de uma jornalista boliviana que creditava o vídeo a um empresário também boliviano. Em uma notícia, ele aparecia como tendo sido intermediador das negociações entre a empresa dos Estados Unidos e governo boliviano.

O Comprova fez contato com ele, que afirmou ser de fato quem teria filmado o vídeo. Pedimos então os metadados para confirmar. Metadados são como a impressão digital de um arquivo (foto ou vídeo): por meio dessas informações, é possível checar o dia, a hora e o local onde o arquivo foi feito, além do local de armazenamento.

Solicitamos que ele enviasse o vídeo por meio de algum site de transferência de arquivos, visto que pelo Whatsapp e redes sociais os metadados são automaticamente zerados. No entanto, nenhum dos arquivos enviados por ele tinham informações de data, hora ou local.

O próximo passo então foi contatar Dan Reese, presidente da empresa norte-americana dona do Supertanker. Ele assistiu ao vídeo viralizado, enviado a ele pelo Comprova, e afirmou que a gravação de fato parecia mostrar um de seus aviões do modelos 747.

No entanto, negou que o empresário boliviano tivesse sido responsável por intermediar qualquer negociação. Sem os metadados e com o discurso desmentido pelo dono do avião, o Comprova voltou à busca do vídeo original.

Nem todos entendiam o porquê da necessidade dos metadados

O registro do vídeo mais antigo que foi localizado é do dia 5 de setembro, dia anterior à postagem do empresário, e foi publicado pela página “boliviaalalucha” no Instagram.

A postagem foi enviada por jornalistas locais, depois de o Comprova acionar uma rede de jornalistas sul-americanos, pedindo sugestões ou dicas para dar seguimento à verificação.

Ao entrar em contato com o administrador da página mencionada, ele indicou a pessoa que seria responsável pelo vídeo. Entretanto, mais uma vez, não era o autor.

Depois de contatar a página, o Comprova conversou com outras duas pessoas, que informavam que a localidade da filmagem era a cidade de Concepción, na Bolívia. Ao insistir em entrar em contato diretamente com a pessoa que teria filmado o vídeo, elas pareciam tomar o questionamento como falta de confiança na palavra delas.

Por fim, uma dessas pessoas forneceu o contato de María René Céspedes Bazán, que afirmou ser a autora do vídeo e contou que estava ajudando a apagar os incêndios em uma propriedade da região, com seu marido e outros voluntários, quando o avião sobrevoou o local. É ela quem grita ao fim do vídeo.

No entanto, ela desconhecia plataformas que suportassem o envio dos arquivos, mesmo as mais conhecidas, como o Drive do Google. Tentamos explicar a ela como isso poderia ser feito, mas não funcionou.

A forma encontrada para obter os dados do vídeo foi a seguinte: ela utilizou o próprio celular para filmar a gravação original no celular de seu marido, com o qual afirmou ter filmado a cena do avião, e mostrou os metadados do vídeo.

Cruzamento de dados: a última confirmação

Finalmente o Comprova tinha fortes indícios de que a autora do vídeo tinha sido encontrada. Ainda assim, apesar de pouco provável neste caso, os metadados do vídeo poderiam ter sido adulterados.

Por isso cruzamos os dados do vídeo de Bazán (data, horário, percurso e localização) com os dados sobre os voos da empresa Global Supertanker na região naquela data.

O Comprova localizou no FlightAware (site de rastreio de voos) que, no dia 5 de setembro, o Boeing 747 da empresa Global SuperTanker decolou do Aeroporto Internacional Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, às 10h40 e retornou ao mesmo aeroporto às 11h37. A foto de Bazán consta como tendo sido tirada às 11h09.

Além disso, ao comparar o trajeto do voo no site e a distância entre o aeroporto e a localidade de Concepción, as informações de Bazán também se mostravam compatíveis. A distância apontada no percurso é de cerca de 190 km, e a distância real percorrida pelo avião, contando ida e volta, foi de 394 km.

Colaboraram com esta verificação os jornalistas Cecilio Moreno, da revista Vistazo, do Equador, e Fabiola Chambi, de Los Tiempos de Cochabamba, na Bolívia.

Conclusão

Concluímos que o boato era falso. Israel não enviou aeronaves ao Brasil para combater incêndios na Amazônia, e o vídeo que viralizou foi feito em Concepción, na Bolívia, no dia 5 de setembro. Esta checagem reforça a importância de confirmar a procedência e autoria de vídeos antes de compartilhá-los.

Esta verificação foi feita por Renata Galf (Folha de S.Paulo) e Mariana Vick (Nexo) e publicada pelo Comprova em 17 de setembro de 2019 com o título “É falso que aviões israelenses tenham sido enviados para apagar incêndio na Amazônia brasileira”. O texto foi ratificado por O Estado de S. Paulo, Poder360, Jornal do Commercio, Jornal Correio, GaúchaZH e SBT.

Passo a passo

Investigado por: 2019-12-10

O “navio venezuelano” era português | Como verificamos

  • Estudo de caso
Estudo de caso
O Comprova está publicando relatos de algumas de suas investigações para mostrar como e por que investigou conteúdos duvidosos encontrados na internet sobre políticas públicas do governo federal.

Após manchas de óleo começarem a atingir praias do Nordeste brasileiro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, levantou a hipótese de que a origem do material seria venezuelana. A declaração foi feita em outubro e, em seguida, viralizou um vídeo em que aparece um navio fazendo um serviço de dragagem na Praia de Matosinhos, em Portugal. De forma enganosa, a gravação, que na verdade é de abril, foi compartilhada como se fosse de um navio da Venezuela despejando petróleo no litoral nordestino.

O vídeo verificado pelo Comprova, da página Capitão Bolsonaro, foi publicado no dia 10 de outubro e teve 6,8 mil compartilhamentos em um dia.

À época da checagem, segundo análise do governo e um estudo da Universidade Federal da Bahia, a hipótese mais aceita era que o óleo teria origem venezuelana e estivesse em um navio fantasma (sem identificação e que passa despercebido pelos sonares)

Porém, no início de novembro, depois da publicação da verificação do Comprova, a Polícia Federal deflagrou a Operação Mácula, que investiga o derramamento de óleo. No período, a principal suspeita era sobre navio grego Bouboulina, de onde o vazamento de óleo teria ocorrido entre 28 e 29 de julho, a cerca de 730 km leste da divisa da Paraíba e do Rio Grande do Norte, em águas internacionais no Oceano Atlântico. Esse vazamento teria gerado uma mancha de óleo de 200 km de extensão.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), no entanto, até agora, a causa, o local exato do vazamento e os responsáveis não foram identificados.

O boato

No começo de outubro deste ano, bem à época das declarações do ministro, um vídeo que mostrava um navio supostamente venezuelano jogando petróleo no mar brasileiro começou a viralizar nas redes sociais. As postagens afirmavam terem ‘descoberto’ o enigma da origem das manchas de óleo que atingiram o litoral do Nordeste brasileiro desde o fim de agosto.

O Comprova foi atrás de checar o boato porque muitos elementos denotavam que as informações contidas nessas postagens pareciam ser falsas: o que era jogado do navio não parecia ser petróleo, a praia também não tinha as paisagens das praias do Nordeste brasileiro e o navio não aparentava ser um cargueiro de petróleo.

Os textos das postagens tinham muitos indicativos de boatos: palavras alarmantes, momento oportuno para divulgação (durante o aparecimento das manchas de óleo), poucos dados e informações e nenhum veículo de mídia havia publicado o vídeo.

A checagem

Nesse processo de checagem, optamos por fazer inicialmente uma busca reversa em um frame (que é uma foto de um instante de um vídeo) pelo InVid – uma extensão do navegador Google Chrome que fragmenta vídeos em fotos. “Busca reversa” é quando você procura imagens semelhantes à imagem que você tem fazendo um upload da própria foto no sistema.

Contudo, só fomos direcionados para links que continham as mesmas informações do boato. Abaixo, você pode conferir exemplos do que é uma busca reversa:

Depois pesquisamos o termo “navio venezuelano” no Facebook, mas só encontramos outras páginas compartilhando boatos semelhantes e o vídeo com as mesmas informações: de que seria um navio venezuelano que estava despejando óleo no litoral nordestino.

Contudo, uma dessas postagens trazia uma versão do vídeo que continha uma marca d’água com o nome “Diz Não Ao Paredão” (como destacado na imagem acima). Buscamos essas palavras no Google e encontramos uma página no Facebook e um perfil no Instagram de um movimento contra a construção de um paredão no porto da cidade de Matosinhos, em Portugal.

Com essas informações, o Comprova visitou a página “Diz Não Ao Paredão” e confirmou que o vídeo vinha de lá e que havia sido postado em 30 de abril de 2019, portanto, antes do aparecimento das manchas de óleo.

Não satisfeitos, procuramos por mais evidências de que o vídeo havia sido filmado em Portugal, então pesquisamos as imagens que haviam sido publicadas com a localização “Praia de Matosinhos” no Instagram. Localizamos um post do dia 30 de abril do usuário @tiagofazendeiro. Por mensagem na rede social, ele confirmou ter sido o autor da foto e disse ser morador da região e apoiador do movimento.

Quando descobrimos que a origem das imagens estava nessa postagem do “Diz Não ao Paredão”, mandamos mensagens e e-mail para a página a fim de confirmar o que tínhamos achado. O dono da página e líder do movimento, Humberto Silva, nos respondeu o e-mail no mesmo dia afirmando que o vídeo havia sido filmado por ele mesmo em Matosinhos, Portugal.

Apesar de termos esta resposta, não podíamos afirmar com certeza que ele realmente havia gravado o vídeo. Respondemos ao e-mail perguntando se ele poderia nos mandar os metadados do arquivo de vídeo. Metadados são como a impressão digital de um arquivo (foto ou vídeo) – só ele tem aqueles parâmetros únicos. Por meio dessas informações, podemos checar o dia, a hora e o local onde o arquivo foi feito, além do local de armazenamento.

Humberto prontamente nos enviou os metadados do vídeo e pudemos ter a certeza de que ele era o verdadeiro autor (o vídeo havia sido gravado em 29 de abril de 2019, em Matosinhos, Portugal, portanto, um dia antes da postagem). Portanto, não havia nenhuma chance de que as informações contidas nos boatos pudessem ser verdadeiras.

Humberto Silva é o administrador da página “Diz Não ao Paredão”, que é um movimento contrário ao prolongamento no Porto de Leixões, em Matosinhos, Portugal. O movimento alega que esta obra no porto prejudicaria as atividades de surfe no local, além de interferir negativamente na biodiversidade marítima.

O vídeo mostrava, na verdade, um navio do tipo draga que realizava um processo de dragagem, que consiste no desassoreamento, alargamento, desobstrução, remoção ou escavação de material do fundo de rios, lagos, mares, baías e canais de acesso a portos.

Segundo a página com a petição contra as obras, o objetivo desta dragagem era depositar cerca de 3 milhões de metros cúbicos de areia no fundo do mar para prolongar em 300 metros a extensão do quebra-mar do Porto de Leixões, o que possibilitaria aos navios chegarem mais perto da costa, consequentemente aumentando a quantidade de cargueiros. Contudo, a área do Porto de Leixões é repleta de atividades para a comunidade, como surfe e aulas de surfe, além de ser uma praia bastante frequentada por banhistas.

Após nosso contato, Humberto Silva fez uma edição no texto que acompanhava o vídeo na página do Instagram para desmentir os boatos e esclarecer que as imagens estavam sendo compartilhadas no Brasil com informações erradas.

Conclusão

Após dias de verificação, o Projeto Comprova confirmou que o vídeo era verdadeiro (não havia nenhum tipo de edição ou montagem), mas que foi compartilhado fora de seu contexto. O vídeo foi filmado em Portugal antes das manchas de óleo aparecerem no Brasil; e, por fim, o verdadeiro autor, que é português, confirmou o local da filmagem.

Esta verificação foi feita por Amanda Miranda (Jornal do Commercio), Cinthia Macedo (SBT), Paulo Roberto Netto (Estadão) e Marina Cid (TV Band) e publicada pelo Comprova em 14 de outubro de 2019 com o título Navio português é usado em postagens como se fosse petroleiro da Venezuela despejando óleo no Nordeste. O texto foi ratificado por Folha de S.Paulo, A Gazeta, Poder 360, O Povo e Correio do Povo, membros do Comprova.

Urgente

Investigado por: 2019-12-10

Mulher atirando com fuzil em vídeo não é Greta Thunberg, mas engenheira sueca

  • Enganoso
Enganoso
Imagens foram compartilhadas como se fossem da ativista sueca, que tem feito alertas sobre as mudanças climáticas

O vídeo de uma mulher atirando com um fuzil usado para prática esportiva está sendo compartilhado como se mostrasse a ativista sueca Greta Thunberg. Apesar das semelhanças, a gravação na verdade mostra uma mulher chamada Emmy, que também é da Suécia e confirmou ao Comprova ser a pessoa que aparece no vídeo.

Emmy compartilhou a gravação em sua conta no Twitter no dia 7 de dezembro. Ela também publicou um segundo vídeo da mesma ocasião, filmado de outro ângulo, em que ficam mais claras as diferenças em relação a Greta. Nos comentários, ela chega a brincar com a semelhança com a ativista sueca.

Em mensagem ao Comprova, ela comentou ser mais velha que Greta, que tem apenas 16 anos. “Aparentemente nós somos parecidas, mas sou 15 anos mais velha”, disse.

Emmy contou que o vídeo foi feito durante um treinamento de tiro. Ela disse ter achado engraçada a repercussão de seu tuíte. “Espero que as pessoas realmente não pensem que sou ela. Não quero causar nenhum mal a Greta, acho ela muito legal”, afirmou. A sueca também tuitou brincando com o fato de ter virado “meme” no Brasil.

No LinkedIn, Emmy se apresenta como engenheira em uma empresa em Estocolmo, na Suécia.

O vídeo original foi encontrado por meio da busca reversa dos frames através da ferramenta InVid.

A gravação publicada originalmente por Emmy tem 18 segundos e, ao final, é possível vê-la se levantando, momento em que se pode constatar que não se trata de Greta Thunberg. Os vídeos viralizados com a atribuição enganosa, por sua vez, têm somente 11 segundos, excluindo a parte em que ela se levanta.

Emmy fez outras postagens em sua conta no Twitter em que aparecem armas. No dia 20 de novembro, ela postou uma foto que mostra o mesmo fuzil que aparece no vídeo sobre um sofá, ao lado de um gato e de um livro intitulado “Como falar com seu gato sobre segurança de armas”. A legenda da foto, que aparece num tuíte fixado, é “Assumi minha responsabilidade como proprietária de animais e armas”.

A mesma arma já tinha aparecido em outra postagem do dia 16 de novembro, quando ela publicou uma foto de diversas armas com a legenda “Difícil pegar a arma errada quando você tem o AR-15 mais bonito do norte da Europa”. O mesmo fuzil rosa e azul que aparece no vídeo viralizado é mostrado no canto direito da foto.

Contexto

Greta voltou a ficar sob os holofotes nesta quarta (10), quando o presidente brasileiro Jair Bolsonaro a chamou de ‘pirralha’ depois que a ativista comentou declarações sobre o assassinato de dois indígenas da etnia Guajajara no Maranhão no último sábado (7).

Thunberg mudou a descrição do seu perfil no Twitter para ‘pirralha’ após as declarações de Bolsonaro e o termo ficou nos Trending Topics do Brasil da rede social no dia.

Em setembro, Greta já havia feito algo parecido após declarações do presidente dos EUA, Donald Trump. Na ocasião, a adolescente participava da Cúpula de Ação Climática da ONU e pediu que líderes globais tomassem medidas urgente contra o aquecimento global.

Trump havia iniciado a retirada dos EUA do acordo mundial para a redução na emissão de gases efeito estufa e ironizou Greta dizendo que ela “parecia uma garota jovem e muito feliz que espera um futuro brilhante e maravilhoso.” Ela então trocou a descrição do seu perfil no Twitter e adicionou a fala do presidente norte-americano.

Em setembro, Greta foi alvo de outros boatos que foram investigados pelo Comprova. Na ocasião, ela havia discursado na Cúpula de Ação Climática da ONU e chegou a ser atacada pelo filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Política

Investigado por: 2019-12-09

Postagens sobre transposição do São Francisco inflam responsabilidade de governo Bolsonaro por andamento das obras

  • Enganoso
Enganoso
Obras realizadas este ano foram majoritariamente para corrigir problemas anteriores, não de avanço físico. Valores investidos na transposição do Rio São Francisco pelo governo federal são inferiores que os indicados na postagem e menores que os de outros anos.

Diversas postagens enaltecendo a atuação do governo do presidente Jair Bolsonaro em relação à transposição do Rio São Francisco viralizaram nas redes sociais desde o início de novembro. Um dos vídeos que viralizou, e que é alvo desta checagem, afirma no título: “Bolsonaro desbanca Lula e coloca projeto no nordeste (sic) para funcionar”.

No entanto, o contexto das postagens e do vídeo foi o religamento de uma bomba que já tinha sido colocada em funcionamento em 2017 e que permite que as águas cheguem ao município de Monteiro (PB) e à região de Campina Grande, também na Paraíba.

A bomba em questão, localizada em Sertânia (PE), esteve desligada em dois períodos este ano: de abril a julho e de agosto a outubro, devido a vazamentos na barragem de Cacimba Nova.

O trecho final do vídeo mostra o vereador de Campina Grande Sargento Neto (PRTB), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Câmara Municipal, comemorando a retomada do bombeamento da água. O mesmo conteúdo foi publicado na página oficial do parlamentar no Facebook, no dia 11 de novembro, quando Jair Bolsonaro esteve na cidade.

Apesar de inaugurada em março de 2017, no governo Temer, a obra apresenta vários problemas e até hoje não possui drenagem, por exemplo. No mesmo mês da inauguração, houve um rompimento que fez com que a operação fosse interrompida por cerca de duas semanas. À época, Lula e Dilma também fizeram uma inauguração simbólica da obra.

O valor de R$ 1,4 bilhão divulgado no conteúdo verificado como sendo o investimento do governo Bolsonaro na transposição também está incorreto. Os gastos no projeto foram de R$ 582 milhões de janeiro a novembro — menos da metade do que o informado no vídeo, que incluiu na conta outras obras de segurança hídrica no Nordeste, além da transposição.

Além disso, desse montante, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), 40% foram gastos com manutenção e energia para o bombeamento, e não com obras efetivamente. Em nota, o órgão afirmou que o gasto anual com energia chega a R$ 300 milhões.

Esta verificação analisou um vídeo do canal de Youtube “Notícias News N.N”. O Comprova entrou em contato com o canal, que afirmou ter usado um texto do site Conexão Política como fonte sobre os valores investidos. Quanto ao contexto das imagens no vídeo mostrando a chegada das águas, o canal não respondeu.

De fato, o texto do Conexão Política mencionado tem o seguinte título: “Governo federal investe R$ 1,4 bilhão na transposição do São Francisco”. Apenas ao longo do texto é deixado claro que os valores investidos pelo governo englobam outros projetos que não somente a transposição.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

Para checar este vídeo, o Comprova pesquisou quais outras postagens têm sido feitas sobre o Rio São Francisco nas redes e leu notícias recentes e antigas sobre a obra para comparar com a cronologia nas redes sociais.

A reportagem entrou em contato com o MDR para questionar os dados oficiais do governo, consultou textos publicados no site do órgão e pesquisou pedidos de informação antigos.

Foram analisadas as conclusões do relatório de auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre a transposição, divulgado em abril de 2018.

Também consultamos Francisco Sarmento, que é professor de engenharia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenou por 14 anos os estudos e planejamentos hidrográficos da transposição, para tirar dúvidas técnicas e entender melhor o histórico da obra.

O que é a transposição do Rio São Francisco?

As obras da transposição do rio São Francisco começaram em 2007, no segundo mandato de Lula.

O objetivo do projeto é interligar, através de canais, a bacia do São Francisco com rios temporários (que secam em períodos de estiagem) de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

O São Francisco nasce em Minas Gerais e passa por Bahia, Pernambuco, Sergipe e termina em Alagoas.

Os primeiros registros da proposta de construir canais para levar a água até o Ceará são do período do Império.

Antecessores de Lula, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco também fizeram projetos para a transposição, mas nenhum deles saiu do papel.

Como a obra foi dividida?

A transposição foi dividida em dois eixos, ambos começando em Pernambuco.

O eixo leste tem início no município de Floresta e segue para o Agreste de Pernambuco e Paraíba. Entre as áreas beneficiadas estão centros urbanos como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE).

Já o eixo norte vai do município de Cabrobó e deve beneficiar o Sertão de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, beneficiando cidades como Fortaleza (CE), Juazeiro do Norte (CE) e Mossoró (RN).

Em 2007, primeiro, coube ao Exército construir canais de aproximação, para ligar o rio às primeiras estações de bombeamento. O restante da execução do empreendimento foi dividido em 14 lotes.

A partir de 2012, o governo deixou de usar a divisão de lotes e os transformou em seis metas de execução — três em cada um dos eixos.

Para ver a imagem original.

Eixo leste

Qual a situação atual?

O eixo leste foi inaugurado em março de 2017, durante o governo Temer, e desde então se encontra no que o governo chama de ‘pré-operação’. No mesmo mês da inauguração, ocorreu um rompimento na Barragem de Barreiros (Sertânia). As operações foram retomadas em 15 dias, e as reformas definitivas à época levaram cerca de cinco meses.

Essa parte da obra foi recebida pelo governo Bolsonaro com 100% de execução. De acordo com o governo, essa contagem considera “o avanço físico e operacional” de cada meta. Não são consideradas, portanto, outras obras necessárias ao funcionamento efetivo do empreendimento.

O que foi feito em 2019?

Neste ano, o bombeamento do eixo leste foi interrompido por duas vezes: de abril a julho e de agosto a setembro. Segundo o MDR, isso aconteceu devido a vazamentos na barragem de Cacimba Nova.

A bomba EBV-6 foi religada no início de novembro. E, em 20 de novembro, a água chegou novamente a Monteiro, na Paraíba.

Questionado sobre o que foi feito no trecho, além da manutenção relativa ao vazamento, o MDR cita apenas a realização de inspeções, análises, estudo geofísico e monitoramento.

De acordo com o governo, a empresa pré-operadora responsável pelo trecho retomou a operação da barragem Cacimba Nova com o nível do reservatório no mínimo necessário à passagem de água.

O que ainda é preciso fazer?

Nem a drenagem nem as muretas da obra foram feitas ainda. Segundo o governo, será preciso realizar novos contratos, pois os consórcios responsáveis abandonaram o trecho sem concluí-lo.

Eixo norte

Qual a situação atual?

De acordo com o MDR, o eixo norte apresenta índice de conclusão de 97,35%. Desse montante, 1,3% corresponde a obras realizadas em 2019.

Esse eixo tem três metas, e a terceira (3N) é a que está em estágio mais avançado. No entanto, a água ainda não chegou ao fim do trecho da primeira meta (1N), que vai de Pernambuco ao Ceará. Segundo estimativas do governo, isso deve acontecer até março de 2020.

  • Meta 1N: 96,35%

Cabrobó (PE) → Jati (CE) – 140 km

  • Meta 2N: 99,2%

Jati (CE) → Brejo Santo (CE) – 39 km

  • Meta 3N: 98,8%

Brejo Santo (CE) → Cajazeiras (PB) – 81 km

O que foi feito em 2019?

Em 30 de agosto deste ano, a estação de bombeamento EBI-3, que permite que a água siga rumo a Jati, no Ceará, foi ligada para testes.

A bomba em questão tinha sido ligada em agosto de 2018, mas, de acordo com o governo, como foram identificadas “vazões anormais”, os testes foram interrompidos. As obras que permitiram a retomada da operação foram iniciadas em novembro de 2018.

A meta 1N é levar água de Pernambuco a Jati, no Ceará, ao longo de um trecho de 140 km. De acordo com o governo, estão sendo construídos 2 km de canais para ligar um local ao outro, ou seja menos de 2% do total do trecho, e menos de 1% do total do empreendimento como um todo.

Além disso, também segundo o governo, estão sendo feitas obras de drenagem, construção de muretas, instalação de instrumentos para monitoramento das barragens, ajustes em equipamentos e os programas de proteção ambiental.

Quanto foi investido?

O orçamento inicial de toda a obra de transposição saltou de R$ 4,5 bilhões para R$ 12 bilhões. Até o momento foram investidos R$ 10,7 bilhões. Desse montante, cerca de R$ 582 milhões (pouco mais de 5% do total) foram gastos na gestão de Jair Bolsonaro.

Obra nem foi finalizada e já deteriora

A obra sempre foi apontada como a solução para a seca no Nordeste, a partir do beneficiamento de 12 milhões de pessoas e do impulsionamento de um novo modelo econômico.

Porém, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo em setembro, hoje a construção apresenta sinais visíveis de deterioração: paredes de concreto rachadas, estações de bombeamento paralisadas, barreiras de proteção rompidas, sistema de drenagem obstruído e assoreamento do canal em alguns trechos.

Atualmente, são atendidas cerca de 1 milhão de pessoas na Paraíba e em Pernambuco, através do eixo leste. A obra só deve chegar a 12 milhões quando todas as obras complementares em cada um dos estados forem concluídas, mas o cronograma está atrasado.

Em Pernambuco, por exemplo, onde está o maior trecho de canais do eixo leste, a água chega a apenas a 12 municípios, enquanto 34 são atendidos na Paraíba.

O que impede o pleno funcionamento dos canais no estado são principalmente duas obras complementares, uma delas é o Ramal do Agreste, iniciativa federal que vai captar a água do São Francisco no município de Sertânia e tem previsão de entrega para 2021. A outra é a Adutora do Agreste, obra estadual realizada com recursos da União que, sem o ramal, passou a receber parte da água da transposição através de projetos alternativos.

Problemas ainda sem solução

Em 2018, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que, ao priorizar a execução das obras da transposição, o então Ministério da Integração (que, em 2019, passou a integrar o MDR) postergou o planejamento de como se dariam a operação, manutenção e sustentabilidade do empreendimento.

Entre os custos que ameaçam a sustentabilidade do projeto está o gasto com energia para bombeamento das águas, que, de acordo com o relatório, pode chegar a R$ 800 milhões anuais.

Atualmente, o gasto com a pré-operação do eixo leste, que chega a R$ 300 milhões anuais segundo o MDR, é bancado pelo governo federal.

Em 10 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro tuitou que o ministro do MDR, Gustavo Canuto, pretende utilizar energia de placas solares, o que, segundo o tuíte, poderia reduzir o custo da operação em até 25%. A ideia de usar energias renováveis já está em estudo desde 2018.

Ainda assim, além de o potencial custo da operação permanecer elevado, não há consenso de como ele seria dividido entre os estados. Um dos motivos é a diferença do consumo de energia para levar a água a cada um dos estados.

Em agosto, o projeto entrou por decreto na lista de possíveis privatizações do presidente Jair Bolsonaro. Com isso, a manutenção e operação ficariam a cargo da iniciativa privada. A intenção de privatizar a operação da transposição foi anunciada em agosto de 2017, ainda no governo Michel Temer. Não há clareza de quanto dos custos da operação seriam repassados aos beneficiados pela chegada das águas.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O vídeo verificado teve, até a tarde de segunda-feira (9), mais de 114 mil visualizações no YouTube.

Passo a passo

Investigado por: 2019-12-09

O falso diamante gigante da Amazônia

  • Estudo de caso
Estudo de caso
O Comprova está publicando relatos de algumas de suas investigações para mostrar como e por que investigou conteúdos duvidosos encontrados na internet sobre políticas públicas do governo federal.

Em um momento em que a alta no desmatamento da Amazônia provocava tensões entre o governo do presidente Jair Bolsonaro, organizações não governamentais (ONGs) e o presidente da França, Emmanuel Macron, um vídeo de um grande mineral sendo colocado na parte de trás de um veículo circulou nas redes sociais com diversas alegações — todas falsas.

A gravação, visualizada mais de 300 mil vezes até 13 de setembro de 2019 — quando foi publicada a verificação do Comprova —, viralizou como se mostrasse um diamante, ou uma esmeralda, de mais de duas toneladas, apreendido pelo Exército, ou pela Polícia Federal, em uma ONG estrangeira. Algumas postagens detalhavam, ainda, que o mineral havia sido encontrado na Amazônia e que estaria sendo enviado para a França.

Após dias de apuração, a equipe do Comprova chegou à conclusão que nenhum dos elementos mencionados nas redes era verdadeiro: o vídeo mostra, na verdade, um cristal rutilado encontrado por garimpeiros na Bahia e a pedra tinha cerca 400 kg, e não mais de duas toneladas. O Exército e a PF não tinham, por sua vez, qualquer relação com as imagens. O caminho até a origem do vídeo foi, contudo, cheio de desvios.

Passo a passo

Começamos consultando a assessoria de imprensa das instituições públicas envolvidas: tanto a Polícia Federal quanto o Exército negaram que o vídeo mostrasse seus agentes apreendendo uma pedra preciosa, seja um diamante ou uma esmeralda, em uma ONG.

Procuramos, então, especialistas em Mineralogia com a expectativa de identificar a pedra vista nas imagens. Conversamos com professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Museu Nacional. Todos rejeitaram a possibilidade de que o mineral fosse um diamante de mais de duas toneladas.

Os especialistas sugeriram também lugares onde aquele mineral poderia ser encontrado. No entanto, sem mais informações sobre a gravação, eles não puderam concluir qual era efetivamente a pedra. Passamos a nos dedicar, então, a descobrir a origem do vídeo.

Quando acreditamos ter encontrado os autores do vídeo

Em um primeiro momento, submetemos a gravação à ferramenta InVID, que a fragmenta em capturas de tela, permitindo que pesquisássemos registros anteriores destas imagens no Google. Essa busca nos levou a uma publicação feita por um canal de garimpeiros no YouTube.

Por se tratar do registro mais antigo que havíamos encontrado da gravação até o momento, e também porque o canal era composto majoritariamente por vídeos próprios, acreditamos ter chegado à origem do material viralizado. Os donos do canal não forneciam, no entanto, qualquer dado de contato para que pudéssemos confirmar essa informação, o que nos forçou a ser criativos.

Após deixar comentários no vídeo pedindo informações, analisamos os outros conteúdos publicados em busca de pistas. Foi assim que identificamos que grande parte das gravações publicadas pela conta eram do garimpo da Quixaba, localizado perto do município de Sento Sé, na Bahia.

Pedimos, então, ajuda aos nossos colegas integrantes do Comprova no Nordeste, que nos recomendaram procurar estabelecimentos comerciais locais e perguntar se eles conheciam os autores do vídeo, uma vez que o município tinha pouco mais de 40 mil habitantes.

Com esse objetivo, conseguimos conversar com o proprietário de um supermercado local, que afirmou já ter visto o vídeo na Internet, mas que não conhecia os responsáveis pela gravação.

Como a única pista que tínhamos apontava para a cidade de Sento Sé, continuamos insistindo. Depois de algumas tentativas, falamos com uma representante da Prefeitura da cidade, que nos enviou o contato do presidente da cooperativa dos garimpeiros regional — talvez ele conhecesse as pessoas que encontraram a pedra gigante.

No entanto, só conseguimos falar com o garimpeiro com um número de telefone fornecido por um jornalista do Correio, da Bahia, que é um dos parceiros do Comprova. O presidente da cooperativa disse, em mensagens, que tinha certeza que a pedra não vinha da Serra da Quixaba.

Enquanto isso, continuamos assistindo aos outros vídeos publicados no mesmo canal com a esperança de encontrar uma informação de contato, o que finalmente aconteceu. Em uma gravação em que o dono do canal mostrava pedras preciosas que estavam à venda, ele divulgava um número de telefone para possíveis compradores: conseguimos estabelecer contato.

Ao contrário do que acreditávamos, entretanto, ele não era o autor do vídeo. Ao Comprova, ele disse ter apenas recebido a gravação de amigos e não saber quem era o autor das imagens.

Uma nova pista

Para retomar a investigação, fizemos uma segunda busca reversa por outras capturas do vídeo e chegamos a um resultado que não havia aparecido antes: uma matéria de um portal de notícias baiano informando que a gravação havia circulado com alegação de que a pedra tinha sido encontrada na cidade de Nordestina, na Bahia.

Como o vídeo havia circulado bastante, decidimos perguntar à Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) se eles tinham alguma informação sobre as imagens. De fato, a assessoria de imprensa da instituição já sabia sobre qual vídeo estávamos falando e tinha uma nota pronta sobre o assunto.

A CBPM confirmou que se tratava de um cristal rutilado — conforme os especialistas que consultamos adiantaram — e informou que o mineral foi encontrado na cidade de Novo Horizonte, na Bahia. A nota da instituição citava um geólogo local que tinha analisado a pedra. Precisávamos falar com ele para saber mais detalhes sobre o vídeo.

Conseguimos o contato de Osmar Martins com a assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia. A ligação para ele durou mais de meia hora. O geólogo falou sobre a descoberta da pedra e contou outras histórias sobre o garimpo de Novo Horizonte.

Ao Comprova, Osmar confirmou ter analisado o cristal visto no vídeo, que avaliou em R$ 1 milhão, e disse conhecer os responsáveis por sua extração. O geólogo disse, ainda, que a pedra tinha cerca de 400 quilos, e não mais de duas toneladas como alegado nas publicações viralizadas.

Ele também forneceu números de processos da Agência Nacional de Mineração (ANM) que comprovavam que ele era o responsável técnico da cooperativa de garimpeiros da cidade. Checamos esses documentos e o registro profissional de Osmar.

Enviamos as informações fornecidas pelo geólogo aos especialistas com quem havíamos conversado antes. Para eles, tanto a identificação do mineral, quanto o local de extração informados por Osmar fizeram sentido.

Não conseguimos, por meio do geólogo, entrar em contato com os garimpeiros que retiraram o cristal rutilado nem com o responsável pelo vídeo. Mas consideramos já ter provas suficientes da verdadeira origem da pedra para publicação.

Quatro dias depois de publicada a checagem do Comprova, o serviço Fato ou Fake conseguiu localizar a Cooperativa de Garimpeiros de Novo Horizonte. O presidente da associação mostrou à reportagem outros documentos que confirmavam que o achado foi feito na cidade baiana, e não na Amazônia.

Conclusão

O conteúdo investigado foi considerado “Falso”. Esta verificação foi feita por Alessandra Monnerat (Estadão) e Maria Clara Pestre (AFP) e publicada pelo Comprova no dia 13 de setembro de 2019 com o título É falso que vídeo mostra apreensão de diamante gigante retirado da Amazônia por ONG estrangeira. A conclusão foi ratificada por Correio, Jornal do Commercio, GaúchaZH, Folha de S. Paulo e Poder360, membros do Projeto Comprova.

Política

Investigado por: 2019-12-05

Outdoor que pede fim de “privilégios” para pessoas com deficiência é ação de marketing de 2015

  • Enganoso
Enganoso
Uma publicação de 2015 que mostra uma mensagem ofensiva às pessoas com deficiência em um outdoor em Curitiba foi compartilhada agora sem informar que se tratava de uma ação de marketing para chamar a atenção para o tema

Uma notícia do portal G1 de 2015 sobre um outdoor em Curitiba com a frase “pelo fim dos privilégios para deficientes” viralizou nas redes sociais nesta quinta-feira, 5. Os compartilhamentos mais recentes da notícia no Facebook não explicam que, apesar de ter gerado polêmica na época, no dia seguinte foi revelado que a peça publicitária era uma provocação, parte de uma campanha do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência da prefeitura da capital do Paraná.

Depois que a notícia voltou a ser compartilhada, o G1 atualizou a matéria original, mostrando que, no dia 1º de dezembro de 2015, o outdoor ganhou uma nova mensagem: “se tantos se revoltaram, por que tantos ainda desrespeitam?”. Em uma página no Facebook, a entidade responsável pela campanha se explicou: “Esperamos que cada um que se revoltou, na internet, seja uma VOZ REAL na luta pelos nossos direitos. Que não se calem ao ver uma pessoa com deficiência sendo desrespeitada ou discriminada”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.

Como verificamos

O Comprova procurou em ferramentas de busca reportagens que explicassem a campanha sobre direitos de pessoas com deficiência. Também consultou a legislação brasileira sobre o assunto.

Qual a história do outdoor?

O outdoor com a mensagem contra “privilégios” de pessoas com deficiência foi colocado na rua Santa Cecília, no bairro Pilarzinho, no dia 30 de novembro de 2015. No mesmo dia, foi criada uma página no Facebook com o nome “Movimento pela Reforma de Direitos”.

Na fanpage, não havia identificação dos criadores. O suposto movimento reivindicava a redução em 50% das vagas exclusivas em estacionamentos, filas e assentos; o fim das cotas em empresas e em concursos públicos; e o fim da isenção de impostos na compra de carro zero.

Além da página no Facebook, o grupo também criou uma petição pública online endereçada ao governo federal.

A mensagem contrária aos direitos de pessoas com deficiência gerou revolta nas redes sociais e manifestações de repúdio da Comissão de Acessibilidade da Ordem dos Advogados do Paraná (OAB-PR) e da Câmara dos Vereadores de Curitiba. O outdoor chegou a ser pichado com a palavra “vergonha”.

No dia seguinte, porém, a mesma página publicou uma mensagem explicando a ação de marketing, com um vídeo da então presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Mirella Prosdócimo. O slogan da campanha era “não é privilégio, é direito”.

A ação buscava conscientizar sobre o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, comemorado no dia 3 de dezembro, e o Dia Nacional da Acessibilidade, no dia 5 de dezembro. A página do “Movimento pela Reforma de Direitos” no Facebook não está mais no ar.

Vários veículos de imprensa reportaram sobre a campanha curitibana: Estadão, Estado de Minas, Jovem Pan, Gazeta do Povo, UOL, Meio & Mensagem, A Gazeta, Diário de Pernambuco, entre outros.

Contexto

O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é comemorado anualmente em 3 de dezembro e a campanha foi colocada no outdoor pouco antes desta data, em 30 de novembro de 2015.

De acordo com o Ministério da Saúde, são consideradas pessoas com deficiências aquelas que “têm impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

Instituída por meio da portaria nº1.060, de 5 de junho de 2002, a Política Nacional de Saúde para Pessoas com Deficiência prevê que elas tenham direito integral à saúde e que possam procurar os serviços de saúde em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), quando necessitarem de orientações ou cuidados, incluindo serviços básicos de saúde como imunização, assistência médica ou odontológica, ou ainda serviços de atenção especializada como reabilitação ou atenção hospitalar.

As diretrizes dessa política visam a promoção da qualidade de vida das pessoas com deficiência; assistência integral à saúde da pessoa com deficiência; prevenção de deficiências; ampliação e fortalecimento dos mecanismos de informação; organização e funcionamento dos serviços de atenção à pessoa com deficiência; capacitação de recursos humanos.

Em 6 de julho de 2015, foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, comumente chamado de Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146). Suas diretrizes previam “assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”.

Esta lei aplica-se quando forem necessárias mudanças, projetos ou reformas para garantir a acessibilidade; para a extinção de barreiras urbanísticas, arquitetônicas, tecnológicas; e no transporte e meios de comunicação. Ela também garante o atendimento público gratuito e prioritário, conforme as disposições da Política Nacional de Saúde para Pessoas com Deficiência, além da garantia ao direito à reabilitação, educação, moradia e trabalho.

Entre 4 e 10 de dezembro, é comemorada anualmente a “Semana Nacional da Acessibilidade e Valorização da Pessoa com Deficiência”, data instituída pelo Senado em 2008. Já em 5 de dezembro, é comemorado o Dia Nacional da Acessibilidade.

Repercussão nas redes

De acordo com a ferramenta CrowdTangle, ao menos 58 páginas de Facebook divulgaram o link antigo do G1 nesta quinta-feira e geraram mais de 31 mil interações (curtidas, comentários e compartilhamentos) na rede social. A página “Dilma mais que Bolada” comparilhou o link com a legenda “os sulizista” e teve 5,4 mil compartilhamentos. No grupo “Blog Vamos Discutir o Golpe”, uma publicação com a legenda “Curitiba é a capital do nazismo do País” teve 3,8 mil compartilhamentos.

No Twitter, 428 perfis compartilharam a matéria e obtiveram 325 interações.