Filtro:

Investigado por: 2018-08-30

Venezuelanos recém-chegados ao Brasil não podem tirar título eleitoral, muito menos votar

É falso o boato de que os venezuelanos que cruzam a fronteira estão recebendo ou tirando título de eleitor para votar nas eleições do Brasil em 2018. Publicações com essa informação falsa começaram a circular em Roraima e se espalharam nas redes por todo o país.

Os venezuelanos que estão chegando a Roraima agora não poderiam tirar título e votar na eleição de outubro, nem teriam tempo para obter a nacionalidade brasileira antes do pleito. As regras e prazos eleitorais não permitem que algo do tipo aconteça. Em ano eleitoral, só são emitidos os títulos solicitados até 151 dias antes da eleição. Em 2018, o último dia para solicitação e regularização do título de eleitor e poder votar neste ano foi 9 de maio. A partir dessa data, quem não possui título ou está irregular só vai poder atualizar sua situação depois de 5 de novembro – após o segundo turno das eleições.

Além disso, de modo geral, estrangeiros não podem participar das eleições – a menos que sejam naturalizados brasileiros, um processo que é longo e burocrático. O artigo 14 da Constituição estabelece que os estrangeiros não podem se alistar como eleitores. Para um estrangeiro sem laços familiares ou conjugais com brasileiros, a naturalização só é possível depois de morar no Brasil por um período de pelo menos quatro anos.

Até existe uma proposta de emenda constitucional, de 2012, que poderia alterar os artigos da Constituição para estender aos estrangeiros com residência permanente no Brasil capacidade eleitoral nas eleições municipais. O projeto, entretanto, aguarda leitura de requerimento na Secretaria Legislativa do Senado Federal desde 24 de julho deste ano.

Uma postagem no Twitter sobre um suposto “número gigantesco de venezuelanos chegando ao Brasil, com documentação pronta”, inclusive título de eleitor, contava no dia 29 de agosto com mais de 270 retuítes e 416 curtidas. Embora com alcance menor, outras postagens com sugestões semelhantes podem ser encontradas tanto no próprio Twitter quanto no Facebook. O WhatsApp do Comprova também recebeu prints de posts desta natureza.

Dados do governo federal, apresentados em reunião do Comitê Federal de Assistência Emergencial, mostram que de 2017 e até julho deste ano, 127,7 mil imigrantes venezuelanos entraram no Brasil pela cidade de Pacaraima, em Roraima. Mais da metade já deixou o país: foram registradas 68,9 mil saídas – 47,8 mil o fizeram pela fronteira terrestre e 21,1 mil pegaram voos internacionais. De 2015 a junho de 2017, a Polícia Federal recebeu 56,7 mil pedidos de refúgio ou residência no Brasil.

A emissão de títulos de eleitor para venezuelanos imigrantes também foi desmentido pelo site Boatos.org e pelo Fato ou Fake, do G1.

Investigado por: 2018-08-29

Livro exibido por Bolsonaro no Jornal Nacional nunca foi comprado pelo MEC

Ao longo desta quarta-feira (29), uma série de postagens circula nas redes sociais relacionando o livro “Aparelho Sexual e Cia” ao que ficou conhecido como “kit gay”, conteúdos de combate à homofobia para serem divulgados nas escolas públicas brasileiras. O livro, porém, nunca fez parte de nenhum “kit gay” nem foi comprado pelo MEC para ser distribuído nas escolas públicas.

A relação foi impulsionada pela entrevista do candidato à presidência Jair Bolsonaro concedida ao Jornal Nacional na noite de terça-feira (28).

A publicação apresentada pelo presidenciável na televisão e nas redes sociais é a tradução do livro francês “Aparelho sexual e cia”, lançado no Brasil em 2007 pelo selo juvenil da Companhia das Letras. A obra utiliza o conhecido protagonista da série em quadrinhos “Titeuf”, de origem suíça, e seu conteúdo está destinado à orientação sexual para crianças e adolescentes. A assessoria de imprensa da editora confirmou que o interior de um exemplar mostrado por Bolsonaro no mesmo dia da entrevista, em uma publicação no Facebook onde afirma que o mesmo é ensinado nas escolas, realmente faz parte do livro.

Segundo a assessoria de imprensa da editora brasileira, o livro “nunca foi comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto ‘kit gay’. O Ministério da Cultura comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas”. Também afirmou que o livro “conta ainda com uma seção chamada ‘Fique esperto’, que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia — mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do Disque-Denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos”. A Companhia das Letras informou também que a indicação do livro, quando em catálogo, era para “o 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, ou seja, para alunos de 11 a 15 anos.

A obra foi publicada em 10 línguas e vendeu mais de 1,5 milhão de exemplares, foi transformada em uma exposição apresentada por duas vezes na Cité des Sciences et de l’Industrie em Paris.

A informação de que o livro da escritora francesa Hélène Bruller seria distribuído em escolas públicas começou a ser difundida por Bolsonaro no dia 10 de janeiro de 2016 através de um vídeo que publicou no Facebook. Dois dias depois, o ministério da Educação e Ciência (MEC) emitiu um comunicado onde afirma que “não produziu e nem adquiriu ou distribuiu o livro ‘Aparelho Sexual e Cia’”. A instituição também declarou que “não há qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco consta nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta”.

O Movimento Brasil Livre (MBL) publicou no Twitter a falsa informação de que o candidato pelo PSL expôs o “Kit Gay” na entrevista organizada pela Rede Globo. Outros usuários disseminaram a informação de que crianças recebem a obra nas escolas. O Comprova não verificou se o livro foi distribuído em escolas particulares ou por secretarias estaduais de Educação.

Investigado por: 2018-08-29

Áudio em que mulher grita “eu voto Lula” em vídeo de campanha de Alckmin é montagem

Uma montagem viral que circula pelas redes sociais sugere que uma mulher diz votar em Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência pelo PT, em um vídeo de campanha divulgado pelo também presidenciável Geraldo Alckmin, do PSDB.

O vídeo original, que não tem a voz da mulher, foi publicado pela primeira vez no Instagram do candidato tucano no dia 23 de agosto. “Olha que beleza aqui o sítio da dona Marluce com a criação de ovelhas e carneiros”, diz Alckmin no vídeo.

Já a versão adulterada do vídeo acrescenta a voz de uma mulher dizendo: “Não, não, comigo não… Eu voto é no Lula”. Como mostra checagem feita pela Folha de S.Paulo, a tal voz está com volume constante, enquanto a câmera se movimenta. O normal em uma gravação do tipo seria uma oscilação do áudio. O primeiro “não” da voz feminina é exatamente igual ao segundo, o que significa se tratar de um áudio montado.

Na filmagem original, que tem poucos segundos, Alckmin aparece em uma fazenda falando sobre propostas para ampliar o número de cisternas em regiões de seca. Segundo o candidato, o vídeo foi feito numa fazenda chamada Terranova, na região de Petrolina (PE), pertencente a Marluce Rodrigues. A agenda pública de Alckmin informou apenas que, no dia em questão, o candidato esteve, durante a tarde, na fazenda Tropicália e, durante a noite, em encontro com lideranças políticas na Casa Zé Matuto.

Ao Comprova, a assessoria do candidato afirmou que Alckmin foi à Tropicália, onde se reuniu com a imprensa, e que na Terranova ele gravou programas – o que não é agenda pública, embora a imprensa até tivesse sido avisada. Também de acordo com sua assessoria de imprensa, o ex-governador de São Paulo estava apenas com o profissional responsável pela captura de imagens no momento da gravação do vídeo.

O Comprova não conseguiu localizar a mulher citada no vídeo, Marluce Rodrigues, nem confirmar a existência da fazenda. Questionada, a assessoria do candidato não deu detalhes sobre o endereço do local nem da mulher mencionada na gravação.

O vídeo adulterado com a voz de uma mulher foi publicado no dia 24 de agosto — um dia após a divulgação do original no Instagram de Alckmin — em páginas do Twitter como “Haddad Tranquilão”, “Burguesia Fede” e “Rosa de Nagasaki”. Só nestes três perfis, até quarta-feira, 29 de agosto, o vídeo teve 126,5 mil visualizações. Após uma primeira publicação, a página “Rosa de Nagasaki” afirmou que o vídeo era montagem.

O perfil verificado do senador Humberto Costa, do PT, também replicou o vídeo na mesma rede social.

No dia 25 de agosto, o site de Alckmin divulgou esclarecimentos sobre o vídeo original e pediu para que internautas denunciassem a montagem enganosa. “[No vídeo] Ouvimos o balido dos animais e os sons de pés se movendo na terra, não há voz feminina ao fundo”, diz trecho do texto. O boato sobre o vídeo também foi verificado pelo site Boatos.org no dia 27 de agosto.

Investigado por: 2018-08-28

Montagem distorce declaração de Lula sobre maioridade penal

Um comentário minimizando a necessidade de punição a menores de 18 anos que cometam assassinatos e defendendo que adolescentes de 16 e 17 anos não sejam responsabilizados por crimes que cometerem está sendo atribuído, nas redes sociais, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Contudo, não há registro de que o petista tenha feito tal declaração, em que pese ele seja contrário à redução da maioridade penal. O material é, portanto, enganoso.

A frase aparece em uma imagem que tem, ainda, a foto de Lula e a logomarca da revista Época, como se a declaração fizesse parte de algum conteúdo da publicação, mas não contém link nem referência à data da suposta reportagem. Além disso, o texto tem erros de ortografia, acentuação e pontuação. Procurada pelo Comprova, a revista informou que jamais publicou a declaração.

A suposta declaração é: “Sou totalmente contra prender menor que mata pessoas. Devemos coloca-lo na escola para reeduca-lo. Quem morreu, morreu não volta mais. Agora deixar preso um muleque só porque ele matou, sou contra”.

Não foram encontrados registros de nenhum discurso ou entrevista que coincida com essa fala disseminada na internet. A única reportagem publicada pela revista Época em que Lula comenta a maioridade penal é de 3 de julho de 2015 e tem o seguinte título: “Lula diz que violência não se resolve ‘colocando jovens na cadeia’”. Ela reproduz declarações dadas pelo ex-presidente durante evento da FUP (Federação Única dos Petroleiros), em Guararema (SP).

“Será que o Estado brasileiro cumpriu com suas obrigações com os jovens de 16 anos? Será que oferecemos a educação necessária? Será que oferecemos oportunidades para esses jovens terem opção?”, disse Lula, de fato, durante discurso. “O Estado que não cumpriu com suas obrigações resolve acabar com a violência colocando moleque na cadeia”, prosseguiu. “Mas o que essa meninada está precisando é de oportunidade, não de cadeia.”

De acordo com a Época, esta é “a única reportagem da revista que relaciona Lula com o tema”. “Quem quer que tenha produzido esta imagem modificou o sentido da declaração. Além disso, ao descontextualizar a citação e — sem permissão — inserir o logotipo da Época na imagem, provavelmente tinha a intenção de causar um efeito distinto do pretendido originalmente pela matéria”, afirmou a publicação em nota enviada ao projeto Comprova.

O tema estava em evidência na ocasião porque na véspera a Câmara dos Deputados havia aprovado em primeiro turno emendas à PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 171/1993 para reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos para crimes hediondos como estupro, latrocínio e lesão corporal seguida de morte.

Outros veículos fizeram a cobertura jornalística (aqui e aqui) do evento da FUP, mas em nenhum deles Lula aparece dizendo ser contra prender um adolescente “só porque ele matou”. O material preparado pela FUP também não faz menção a isso. O discurso feito por ele na ocasião está disponível aqui.

A assessoria do ex-presidente reiterou ao Comprova que Lula é contra a diminuição da idade mínima para aplicação das leis penais, mas asseverou que o petista jamais fez o comentário atribuído a ele.

Após aprovada em segundo turno na Câmara, em 19 de agosto de 2015, a PEC foi encaminhada para apreciação no Senado, onde ganhou o número 115/2015. A proposta ainda não entrou em vigor e está parada na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania do Senado.

O primeiro registro da declaração falsamente relacionada a Lula, encontrado pelo Comprova, é de 2 julho de 2015, no Facebook e no Twitter. Exatamente o mesmo dia da primeira aprovação da PEC na Câmara dos Deputados. Mas, no dia 3, o site Jo Notícias fez um post com a mesma declaração e disse se tratar de “entrevista divulgada pela revista Época”.

Como citado acima, a revista Época não encontrou reportagens anteriores com declarações semelhantes de Lula.

Antes da participação no evento da FUP, Lula afirmou, em 1º de maio de 2015, durante evento do Dia do Trabalhador, em São Paulo, ser “bem possível que muitos jovens cometam crimes”, mas ponderou que era necessário apontar o “crime do Estado brasileiro” contra eles “ao longo de 500 anos”. Os comentários de Lula sobre crimes praticados por jovens foram destaque na cobertura da imprensa na ocasião (aqui e aqui).

O material para verificação foi enviado ao Comprova por meio do WhatsApp.

Investigado por: 2018-08-28

Marido de Marina Silva não extraiu madeira ilegalmente em 2003 como sugere meme

É enganoso o meme, distribuído pelas redes sociais, que sugere que o marido de Marina Silva, candidata à presidência da República pela Rede, estaria envolvido em um caso de desmatamento e que não teria sido punido por sua ligação com a candidata, ministra do Meio Ambiente na época dos fatos. Há uma comparação desse caso com o de um homem punido por raspar a casca de uma árvore. Esse boato já circulou durante a campanha presidencial de 2014.

A montagem compartilhada destaca a imagem de um homem idoso e de uma árvore raspada com a frase: “Crime ambiental, foi preso porque raspou a casca de uma árvore para fazer remédio para a esposa doente”. Logo abaixo, está destacada a imagem de Marina e de seu marido Fábio Vaz de Lima e, ao lado deles, uma imagem aérea de uma madeireira. Acima das fotos, a frase: “Cortou 6 mil árvores ilegalmente da floresta, ficou solto porque é marido da ministra do Meio Ambiente” (sic). A prisão de um homem por raspar árvore realmente ocorreu (leia mais abaixo), mas as informações sobre o marido de Marina Silva são falsas.

O caso remonta a uma discussão que ocorreu em maio de 2011, em sessão do Senado que discutia o Código Florestal. Durante um debate, o então deputado pelo PCdoB Aldo Rebelo se irritou com uma provocação feita por Marina no Twitter, que criticava a apresentação de um texto com “novas pegadinhas, minutos antes da votação”. Rebelo foi à tribuna e rebateu a ex-ministra, lançando a acusação de que seu marido havia fraudado “contrabando de madeira”. No dia seguinte, Marina convocou uma coletiva de imprensa para tratar das acusações, classificadas de “levianas e infundadas”. O deputado também se manifestou, dizendo ter feito as declarações de cabeça quente e afirmando que ligaria para se desculpar.

Rebelo fez referência a uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2004. O órgão investigou a doação de quase seis mil toras de madeira clandestina apreendidas na Amazônia para a ONG Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), por um convênio via Ibama. Em 2003, a Fase recebeu 5.731 toras de mogno. A investigação se deu por divergências entre o valor real da madeira e o valor atribuído.

O caso ocorreu durante a gestão de Marina Silva como ministra do Meio Ambiente – ela ocupou o cargo entre 2003 e 2008, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e enquanto ainda era filiada ao PT. A ligação de Fábio Vaz de Lima com o caso é que ele havia sido um dos fundadores do Grupo de Trabalho amazônico (GTA), grupo ao qual a ONG Fase era ligado. Em uma nota oficial de Marina, ainda em 2011, ela explicava que o marido havia trabalhado no GTA entre 1996 e 1999, quando deixou o grupo para trabalhar no governo estadual do Acre, durante a gestão de Jorge Viana (PT), entre 1999 e 2007.

Ainda em 2011, Marina pediu ao Ministério Público Federal (MPF) para investigar as acusações contra o seu marido. O MPF não encontrou elementos sobre a denúncia e arquivou o processo. O então procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, assina a conclusão do procedimento administrativo, divulgada em 23 de julho de 2013. “Quanto às acusações feitas contra Fábio Vaz de Lima, não há um único elemento que confira foros de verossimilhança aos fatos noticiados pela imprensa. Como disse a representante, à data em que assumiu o Ministério do Meio Ambiente o seu marido já não mantinha vínculos com as entidades que integram o Grupo de Trabalho Amazônico – GTA, não havendo a indicação de um fato concreto que o vincule à FASE na época em que foi feita a doação do mogno”, diz a decisão.

O Boatos.org já publicou um desmentido sobre outra versão deste boato em 2014. A própria candidata também já publicou sua versão sobre o fato. Em 2018, o boato voltou a circular por WhatsApp.

E o lavrador preso por raspar uma árvore?

Parte do meme realmente conta uma história verdadeira: um homem realmente foi preso por raspar a casca de uma árvore para fazer um remédio para a esposa. O Comprova não encontrou registros que comprovem a autenticidade das imagens usadas na montagem, no entanto.

O lavrador Josias Francisco dos Anjos, 55, foi preso por raspar uma árvore em 2000. Ele usaria a raspa para fazer chá a sua mulher, que sofria da doença de Chagas. O fato ocorreu em 19 de junho de 2000 e o lavrador foi preso em flagrante enquanto retirava lascas de almesca, em área de preservação ambiental em Planaltina (a 44 km de Brasília).

Segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, de 23 de junho de 2000, o lavrador disse que passou a fazer isso quando soube que o chá de almesca melhorava as condições de pessoas portadoras da doença de Chagas, como era o caso de sua mulher, Erotildes Guimarães. A prisão não durou uma semana pois o juiz da Vara Criminal de Planaltina (DF) Ademar Silva de Vasconcelos concedeu liberdade provisória ao lavrador, que saiu da prisão em 23 de junho daquele ano.

Enquetes em redes sociais não têm valor científico e não valem como pesquisa eleitoral

A propagação de resultados de enquetes feitas nas redes sociais, mesmo que realizadas com uso de ferramentas de plataformas como o Facebook, contribui para a desinformação. Essas consultas não têm rigor científico e não substituem as pesquisas eleitorais registradas nos tribunais eleitorais.

Algumas dessas enquetes são apresentadas como contraponto às pesquisas realizadas pelos institutos. Um exemplo recente foi compartilhado pela página “Mais Saúde Menos Corruptos”, que postou no Facebook um infográfico que aponta o candidato Jair Bolsonaro com mais de 86,57% das intenções de voto, seguido por Lula (8,21%), Alckmin (2,99%), Ciro (1,49%) e Marina (0,75%).

A fonte é uma página no Facebook chamada de “Instituto de Pesquisa Oficial do Face”. O Comprova entrou em contato com Sylvio Montenegro, que se apresenta como diretor do instituto. Ele explicou que utiliza, entre outros métodos, a ferramenta de enquete que o Facebook disponibiliza para qualquer página para colher esses dados.

Para chegar aos resultados apontados no post em questão, Montenegro utilizou uma metodologia sem qualquer base científica ou amostragem. Nesse caso, as pessoas tinham cinco opções de candidatos e escolhiam seus preferidos nos comentários. Segundo ele, foram cerca de 500 votos. Ele alega que os institutos de pesquisa precisam “olhar” para as redes sociais.

Para outro levantamento, desta vez somente entre o deputado Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, foi utilizada a ferramenta de criação de enquetes do Facebook que só permite duas opções de respostas. Foram mais de 1 milhão de votos e Bolsonaro, mais uma vez, aparece na frente. Segundo Montenegro, a enquete foi feita por ele e compartilhada por seguidores.

Como explica o material didático produzido pela Gazeta do Povo, não é possível confiar em enquetes eleitorais (feitas, por exemplo, por sites apenas com as pessoas que acessam essas páginas). Isso porque elas não são realizadas usando uma metodologia científica, ao contrário do que ocorre com as pesquisas.

Pesquisas de institutos de opinião com reputação conhecida são registradas na Justiça Eleitoral e auditadas para garantir sua validade. A divulgação de levantamentos falsos ou que não foram registrados por meios de comunicação geram multa de até R$ 100 mil.

A desconfiança de parte da população sobre os resultados das pesquisas tradicionais, em parte, vem do fato de que a maior parte das pessoas nunca foi entrevistada num desses levantamentos. A possibilidade de alguém ser entrevistado para uma pesquisa, de fato, é baixíssima. O Brasil tem 147,3 milhões de eleitores e uma pesquisa de abrangência nacional pode ter, em alguns casos, apenas 400 entrevistados. A pesquisa recente do Datafolha (BR 04023/2018), feita entre os dias 20 e 21 de agosto, ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios brasileiros. Ainda assim, a metodologia das pesquisas assegura que os poucos que foram ouvidos representam todo o eleitorado com elevado grau de precisão.

Isso ocorre porque os institutos de pesquisa fazem a chamada estratificação da amostra de eleitores. Ou seja, selecionam um grupo de pessoas que representa o eleitorado por sexo, faixa etária, escolaridade, renda e região em que mora. A montagem da amostra da pesquisa é feita com dados oficiais do IBGE e do TSE.

O Facebook informou que a página do Intituto de Pesquisas Oficial do Facebook, IPOF, foi removida “por ferir nossos Padrões da Comunidade, que não permitem representação falsa”.

Essa verificação também foi feita por Aos Fatos.

Investigado por: 2018-08-24

Homem faz busca incorreta no TSE e diz que pesquisa do Datafolha não foi registrada

É falsa a informação de que a pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na terça-feira, 21 de agosto, não tem registro na Justiça Eleitoral. O boato se espalhou nas redes sociais e no WhatsApp após um homem, que não se identifica, gravar um vídeo lendo o resultado da pesquisa no portal de notícias G1 e procurando o registro dela no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Como o homem preencheu os campos de busca no site do TSE de maneira errada, ele não consegue encontrar o registro da pesquisa e, então, acusa: “Ou a ‘Globo.com’ está mentindo, ou o Datafolha está mentindo, ou o Tribunal Superior Eleitoral está mentindo. São três responsabilidades: de quem registra, de quem diz que registrou e de quem está passando a informação”.

Foram dois os equívocos do autor do vídeo: no campo para preencher o período da pesquisa, o correto não é colocar os dias em que ela foi realizada nas ruas, mas a data do seu registro. Como esta informação não costuma constar nas notícias, ela não precisa ser informada na busca: basta preencher o número correto do registro, que neste caso é BR-04023/2018. Este foi o segundo equívoco do homem: ele digitou o número sem o hífen.

Para não se enganar mais, confira o passo-a-passo para pesquisar se uma pesquisa tem, ou não, registro no TSE:
1. Acesse o site do TSE
2. Na aba “Eleições”, clique em Pesquisas eleitorais – Eleições 2018
3. Na parte de baixo da página, clique em Consulta às pesquisas registradas
4. Preencha os campos corretamente e clique em “Pesquisar”. Se a pesquisa for da disputa presidencial, escolha “Eleições gerais 2018 no campo “Eleição” e “Brasil” no campo “UF”. Se não souber a data de registro, não tem problema. Basta inserir o número de registro corretamente, com o hífen.
5. Pronto, você já pode ter a certeza de que a pesquisa foi registrada.

Ou veja neste tutorial que preparamos para você.

O vídeo foi gravado no dia 22 de agosto e o primeiro registro dele no Facebook é do mesmo dia, às 20h42. O autor não foi identificado. A gravação foi compartilhada por várias outras páginas, alcançando um total de mais de 15 mil interações e 160 mil visualizações em dois dias. Na quinta-feira, 23 de agosto, o G1 publicou a verificação deste vídeo.

Investigado por: 2018-08-24

Imagem de Marina Silva “invadindo fazenda” é, na verdade, de ato contra desmatamento

É enganosa uma imagem que afirma que a candidata à Presidência da República pela Rede, Marina Silva, teria invadido uma fazenda no Acre em 1986 de maneira semelhante ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na verdade, a foto que circula no WhatsApp mostra um “empate”, manifestação feita por seringueiros para impedir o desmatamento na Fazenda Bordon, em Xapuri.

O Comprova entrou em contato com a assessoria de Marina, que negou que a imagem esteja relacionada à invasão de terras ou ao MST. Segundo a nota da candidata, no “empate” os manifestantes se colocavam em frente às árvores para impedir sua derrubada. A assessoria acrescentou que a coordenador do movimento de seringueiros era o ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.

Em um artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, o antropólogo Mauro de Almeida descreve o empate liderado por Chico Mendes na fazenda Bordon. O acadêmico escreve que o ambientalista coordenou “cerca de cem seringueiros, que caminharam durante três dias pelas coivaras enegrecidas e fumegantes de florestas recém-queimadas”. Entre os participantes do protesto estavam “um fotógrafo, dois agrônomos, um antropólogo e uma jovem professora sindicalizada, Marina Silva”.

Marina recordou o episódio em um discurso no Plenário do Senado, em 14 de novembro de 1996, quando ela representava o Acre na Casa. “Após andarmos seis horas a pé, chegamos onde os fazendeiros iriam derrubar ilegalmente 700 hectares de floresta. Enfrentamos os peões e a Polícia — paga com o dinheiro público — que estavam ali de prontidão para defender os interesses dos fazendeiros e percebemos que éramos impotentes para resolver um problema tão grande. Voltamos a pé e foi necessária uma engenharia enorme para permanecermos na luta”.

Em uma reportagem publicada em 2013 pelo portal G1, a zeladora Maria Elvana Pereira relembrou sua participação no mesmo empate, quando tinha 15 anos. Assim como nos relatos anteriores, ela indica que os seringueiros não permaneceram ou ocuparam a fazenda. “Foi todo mundo e quando chegou lá tava a peãozada derrubando tudo e o Chico Mendes de frente, para a gente falar com os chefes lá, e eu no meio toda animada. […] Aí voltamos e em seguida o Chico Mendes fez um ato público e disse que estava sendo ameaçado de morte, que sabia que ia morrer e ele não queria que ninguém deixasse. Ele queria que continuasse a luta”.

Outro elemento que reforça que a imagem não retrata uma ocupação do MST é o fato de o movimento não estar organizado no Acre. “Não realizamos, até então, nenhuma ocupação por lá. Ou seja, não temos um nível de organicidade construída, nem assentamentos ou acampamentos”, informou a assessoria do grupo, fundado oficialmente em 1984, no Paraná. Portanto, dois anos antes do protesto do qual Marina participou.

A foto com a informação falsa apareceu como altamente compartilhada, nos últimos dias, no Monitor de WhatsApp, ferramenta desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para acompanhar conteúdos difundidos em grupos abertos. Há uma outra versão do boato. A diferença deste é que o texto é mais assertivo. Indica, também falsamente, que a imagem retrata Marina Silva “liderando a quadrilha do MST” em uma invasão de fazenda. Não identificamos o autor da foto original.

O site e-farsas também desmentiu a ligação do empate de Marina com o MST.

Investigado por: 2018-08-23

Quadro de Programa Silvio Santos foi alterado na internet para simular apoio a Bolsonaro

O vídeo do Programa Silvio Santos (SBT), com um suposto apoio do apresentador de TV ao candidato Jair Bolsonaro que está sendo compartilhada pelas redes sociais é falso. O vídeo foi alterado digitalmente e foi publicado por um canal que também faz sátiras.

O programa realmente foi ao ar e uma pessoa da plateia citou o nome de Bolsonaro. A edição do vídeo, no entanto, corta a pergunta feita pelo apresentador e altera as dicas apresentadas no quadro “Jogo das 3 Pistas”. O primeiro registro do vídeo nas redes sociais é de outubro de 2017. Ele voltou a circular em grupos de WhatsApp e teve viralização em algumas páginas de Facebook em agosto de 2018.

A montagem faz parecer que Silvio Santos, apresentador e dono do SBT, está usando seu programa para favorecer um candidato, o que não ocorreu. O perfil oficial do SBT no YouTube publicou a íntegra do Programa Silvio Santos, que foi ao ar em 15/10/2017. A brincadeira que acabou adulterada na montagem era o “Jogo das 3 Pistas”, disputado pelas filhas do apresentador, Patrícia e Rebeca Abravanel.

No jogo, Silvio Santos dá até três pistas para que elas descubram quem é o personagem. Se elas erram, é a vez da plateia tentar adivinhar – quem acerta ganha um valor em dinheiro.

No programa original, as três dicas eram: “Foi do exército”, “Mudou o regime” e “15 de novembro”. A primeira pessoa da plateia que tentou adivinhar, uma mulher chamada Gabrielly, começa a responder dizendo que não tem certeza, mas palpita “Jair Messias Bolsonaro”, e já emenda um comentário dizendo que errou a resposta. Silvio Santos na hora questiona se ela “estava lá para fazer propaganda ou se era do comitê do deputado federal”. A segunda pessoa acerta a resposta: “Marechal Deodoro da Fonseca”.

As primeiras montagens desse conteúdo começaram a circular logo após o programa ir ao ar. As páginas oficiais de Jair Bolsonaro no Facebook e Twitter compartilharam uma versão editada do programa, em que aparece a menção feita a ele, no dia 16/10.

Depois, a partir do dia 17/10, começaram a aparecer as primeiras montagens com edição às dicas que apareciam na tela, no YouTube. Nesse caso, as pistas foram alteradas e aparecem as opções: “Próximo presidente”, “Vai salvar o Brasil” e “Não é corrupto”.

Agora, em agosto de 2018, o conteúdo voltou a viralizar. Pelo menos desde o dia 20/08, o vídeo está circulando por grupos de WhatsApp. No Facebook, a reprodução do conteúdo começou antes, no dia 17/08. A página “Jair Bolsonaro 2018, a última Esperança da Nação” compartilhou no dia 17 de agosto e em seis dias teve 2.935 interações, 138 comentários e 3.954 compartilhamentos. O vídeo gerou 90.836 visualizações no período. Duas das páginas de Facebook que compartilharam esse conteúdo, “Bolsonaro – Eu apoio” e “General Mourão, eu apoio”, publicaram o vídeo apenas um minuto após a primeira publicação.

A montagem já foi verificada pelo Teleguiado, ainda em 2017. Também verificaram essa informação o Aos Fatos e Boatos.org. O e-farsas também verificou a montagem em outra postagem que desmentia um boato relacionado a um programa de Silvio Santos.

Investigado por: 2018-08-23

Impugnar não significa barrar candidatura, como sugere imagem “carimbada”

Uma imagem publicada no Facebook por Carla Zambelli, candidata a deputada federal pelo PSL por São Paulo, sobre a impugnação do registro de candidatura do ex-presidente Lula (PT) vem dando margem a dúvidas sobre a elegibilidade dos três candidatos que aparecem no post.

O termo “impugnado” estampado sobre as fotos de Lula, de Dilma Rousseff, candidata ao Senado por Minas Gerais, e do senador Lindbergh Farias, que tenta a reeleição no Rio de Janeiro, fez surgir a dúvida entre os próprios seguidores. Afinal, as candidaturas estão ou não barradas? A própria autora do post esclareceu: “Impugnação é o pedido para que não participem. A palavra final será da Justiça Eleitoral”. Mas no mesmo post, ela diz que o “PT é o partido dos inelegíveis”.

O Comprova constatou que Lula tem 16 impugnações e notícias de inelegibilidade, o que o impediria, se assim decidir o Tribunal Superior Eleitoral, de disputar as eleições. Ele recorre de todas. De acordo com o próprio TSE, impugnar é o ato de pedir o indeferimento do registro e não barrá-lo, como dá a entender a publicação. Os processos, que têm como relator o ministro Luís Roberto Barroso, podem ser consultados por meio do PJE (Processo Judicial Eletrônico), utilizando o nome completo do candidato.

A Resolução Nº 23.548, de 18/12/2017, do TSE, explica todo o processo de contestação de candidaturas e quem pode ou não se tornar inelegível. No caso de Lula, a Procuradoria-Geral da República pede que ele seja barrado com base na Lei da Ficha Limpa, pelo fato de já ter sido condenado em 2ª instância no caso do triplex do Guarujá, no litoral de São Paulo. A sentença do juiz Sérgio Moro foi confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que elevou a pena para 12 anos e 1 mês. O ex-presidente está preso desde o dia 07/04 na Superintendência da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba, e recorre da condenação nos tribunais superiores.

A publicação de Carla Zambelli foi feita no dia 22/08 e já no dia seguinte contava com 13 mil compartilhamentos. O post gerou 4,6 mil curtidas e 450 comentários em dois dias e está sendo compartilhado em páginas como a “Mais Saúde e Menos Corruptos”.