O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2021-09-29

É falso que morte de jovem no Rio Grande do Sul esteja associada à vacina contra covid

  • Falso
Falso
É falso que a morte de jovem de 22 anos em Vera Cruz, no Rio Grande do Sul, tenha relação com a vacina contra a covid-19. A ligação inventada é mencionada em dois posts publicados no Twitter e no Instagram. Secretarias de saúde da cidade onde ele morava e de onde ele morreu, hospital onde o óbito ocorreu, família e Anvisa descartam qualquer suspeita de relação causal entre morte por AVC e o imunizante.
  • Conteúdo verificado: Posts no Twitter e no Instagram usam imagem com anúncio de sepultamento de jovem de 22 anos, morador da cidade de Vera Cruz, no Rio Grande do Sul, para afirmar que ele morreu por causa da vacina contra o coronavírus.

É falso que Samuel Pimentel de Oliveira, 22 anos, morreu por ter sido vacinado contra a covid-19. Dois posts compartilhados na semana passada no Twitter e no Instagram relacionam a morte do jovem, morador da cidade de Vera Cruz, no Rio Grande do Sul, à vacina contra a covid-19. A relação foi inventada. Samuel foi internado no dia 6 e morreu no dia 14 de setembro, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.

Nem o hospital e nem a vigilância epidemiológica da cidade de Cachoeira do Sul, onde fica a unidade, relacionam o óbito ao imunizante. A Prefeitura de Vera Cruz e a família do rapaz também negam essa ligação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recebeu nenhuma notificação sobre suspeita de causalidade entre a morte do rapaz e a vacina. Samuel havia tomado a primeira dose mais de 30 dias antes da morte.

A morte cerebral do jovem foi confirmada em 14 de setembro no Hospital de Caridade e Beneficência (HCB) de Cachoeira do Sul, cidade a 88 km de Vera Cruz. Na certidão de óbito dele, consta que a causa do óbito foi “lesão encefálica anóxica, acidente vascular encefálico isquêmico”. (Entenda o que isso significa mais abaixo)

As duas publicações verificadas aqui reproduzem uma imagem divulgada na página do Facebook da Funerária Caminho da Paz, na qual a morte e o sepultamento de Samuel são informados, e distorcem a realidade ao afirmar que o falecimento dele foi provocado pela “injeção de veneno” e que o jovem é “mais uma vítima da vacina contra a covid-19”.

Pelos comentários nos dois posts, é possível perceber que os seguidores interpretaram, mesmo no caso tuíte, em que a vacina não é citada diretamente, que o imunizante teria sido o responsável pela morte.

Os autores dos posts no Instagram e no Twitter foram procurados pelo Comprova, mas não responderam até o fechamento desta reportagem.

Esse conteúdo foi classificado como falso porque a relação entre a morte do rapaz e a vacina foi inventada e divulgada de modo deliberado para espalhar uma mentira.

ATUALIZAÇÃO: Após a publicação desta verificação, a autora do tuíte que relaciona a morte de Samuel à vacina contra a covid-19 respondeu ao pedido de contato do Comprova. Pelo Twitter, ela encaminhou um link em que o próprio post é utilizado como fonte para afirmar que jovem recebeu “injeção de veneno”. Também disse que o caso de Samuel não é isolado e enviou links de vídeos em que outras mortes são atribuídas às vacinas (atualização publicada em 30 de setembro de 2021).

Como verificamos?

Primeiramente, buscamos no Google notícias de que um jovem morador de Vera Cruz, chamado Samuel Pimentel de Oliveira, tinha realmente morrido nos dias anteriores aos posts investigados aqui. Além do próprio tuíte verificado e de um texto em um blog que faz referência a ele, havia uma notícia em um site local que afirmava que os órgãos do rapaz tinham sido doados.

Em seguida, encontramos o perfil nas redes sociais da Funerária Caminho da Paz. O nome do estabelecimento aparece na imagem compartilhada pelos dois posts, anunciando a morte de Samuel. Encontramos a imagem postada no Facebook da funerária, que tem uma unidade na cidade de Vera Cruz, no dia 16 de setembro. No post, além do nome completo de Samuel, havia também os nomes dos pais, da esposa e dos irmãos do rapaz, e ainda sua data de nascimento.

A partir dessas informações, buscamos pelos perfis no Facebook da mãe, da esposa e de uma das irmãs de Samuel, que confirmaram a morte dele. Através dos familiares, que souberam das publicações que falavam do jovem pelo Comprova, tivemos acesso às informações da certidão de óbito do jovem. Essas informações também foram confirmadas pela Secretaria de Saúde de Cachoeira do Sul.

Entramos em contato com as prefeituras de Vera Cruz, onde Samuel morava, e de Cachoeira do Sul, cidade em que fica o hospital onde ele morreu, além do HCB. Por fim, procuramos a Anvisa, a neurologista e coordenadora do Programa de Neurologia Vascular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Sheila Martins, e os autores dos posts verificados, que não responderam até a publicação desta reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de setembro de 2021.

Verificação

Samuel sofreu AVC

O jovem de 22 anos morreu no dia 14 de setembro de 2021 após sofrer um AVC. Segundo a família do jovem, ele foi internado no dia 6 de setembro na instituição. O Comprova entrou em contato com a Prefeitura de Cachoeira do Sul e a assessoria de imprensa respondeu, por meio de áudio no WhatsApp, que Samuel foi levado ao HCB porque, no momento em que precisou de atendimento, não havia leitos de UTI disponíveis em Vera Cruz.

Também por WhatsApp, a prefeitura informou que, na certidão de óbito de Samuel, registrada no Cartório de Registros Público de Vera Cruz, consta que a causa da morte foi “lesão encefálica anóxica, acidente vascular encefálico isquêmico”.’

A família de Samuel compartilhou com o Comprova o trecho da certidão de óbito do jovem onde consta a causa da morte.

De acordo com a especialista em neurologia vascular Sheila Martins, existem dois tipos de AVCs: o hemorrágico, que é quando uma artéria cerebral se rompe, e o isquêmico, que acontece quando a artéria que leva o sangue ao cérebro sofre uma obstrução, entope e impede a passagem do sangue. “Hoje, o AVC isquêmico é o mais comum, sendo 85% dos casos de acidente vascular”, afirma a neurologista.

O superintendente do Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul, Luciano Morschel, disse ao Comprova, por mensagem no WhatsApp, que a causa da morte de Samuel “foi uma isquemia cerebral”. Segundo ele, não é possível dizer, ainda, o que provocou a isquemia, pois “há várias hipóteses”.

Assim como as autoridades de saúde e administração dos municípios, familiares de Samuel contatados pelo Comprova também não acreditam nas afirmações feitas nas publicações verificadas.”Não acreditamos que a vacina tenha ligação com a morte do meu irmão”, afirmou, por WhatsApp, Geísa.

Não há relação entre morte e vacina

De acordo com informações do setor de Epidemiologia e Imunizações do Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) da Secretaria Municipal da Saúde de Cachoeira do Sul, “o óbito de Samuel nunca foi relacionado à vacinação”.

Luciano Morschel, superintendente do HCB, também afirmou não saber se há alguma investigação sobre uma eventual relação entre a morte de Samuel e a aplicação da vacina contra a covid-19 e sugeriu que o Comprova entrasse em contato com a vigilância epidemiológica de Vera Cruz.

Por e-mail, a Secretaria Municipal de Saúde de Vera Cruz informou que não é de conhecimento da pasta que a morte de Samuel tenha relação com a vacina. O Comprova perguntou se e quando Samuel foi vacinado, e com qual vacina, mas não obteve resposta.

Então, o Comprova questionou a Anvisa se a agência investiga se há relação entre a morte de Samuel e a vacina contra a covid-19. Por e-mail, o órgão federal informou não ter sido notificado sobre caso suspeito de morte provocada por vacina.

“Não identificamos notificação com as características relatadas. Todas as notificações de suspeitas de eventos adversos são avaliadas pela Anvisa na busca por evidências de relação causal”, diz a nota.

Primeira dose da vacina tinha sido aplicada no dia 11 de agosto

Por telefone, a Prefeitura de Cachoeira do Sul informou que Samuel havia tomado a primeira dose da vacina quase 30 dias antes da morte. A vacina foi aplicada na cidade de Vera Cruz, onde ele morava. Procurada, a prefeitura da cidade não informou a data específica da aplicação, nem o fabricante da vacina.

Contudo, a imunização para a faixa de idade dele – acima de 18 – foi aberta no dia 10 de agosto. Dois dias antes, a vacina começou a ser aplicada em quem tinha mais de 23 anos, o que não era o caso de Samuel.

De acordo com a irmã do jovem, Geísa, ele foi vacinado no dia 11 de agosto com a primeira dose da Pfizer em Vera Cruz. Conforme mencionado anteriormente, Samuel foi internado no Hospital de Cachoeira do Sul somente no dia 6 de setembro, quase um mês depois de ser vacinado.

A neurologista e Coordenadora do Programa de Neurologia Vascular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Sheila Martins, afirma que não existe comprovação científica que a vacina, independentemente do fabricante, ocasione um AVC, sendo o paciente jovem ou não.

Sheila ainda afirma que, ao contrário das afirmações das postagens verificadas, pessoas que não se vacinam e são contaminadas com a covid-19 têm mais chance de sofrer um acidente vascular cerebral, já que a doença costuma aumentar os riscos de AVC.

Família quer que posts sejam apagados

O Comprova também conversou via WhatsApp com a esposa de Samuel, Emilin Gabriele. A jovem, assim como a irmã dele, Geísa, não acredita que exista relação da morte do rapaz com a vacinação realizada quase um mês antes.

Tanto Geísa, quanto Emilin não sabiam da existência das publicações verificadas nesta reportagem. Após tomarem conhecimento das postagens, as duas concordaram em conversar com o Comprova a fim de verificar as publicações.

“Isso é, com certeza, uma fake news. Estão usando a imagem de uma pessoa que não está mais aqui e sendo mentirosos”, afirma Emilin, que pediu ajuda da reportagem para que os posts fossem apagados.

Efeito dos posts

Dos dois posts verificados aqui, o tuíte foi postado primeiro – às 17h21 do dia 18 de setembro de 2021. A autora não cita diretamente a vacina como responsável pela morte de Samuel, mas usa o termo “injeção de veneno”. Apesar de não fazer uma citação direta, os comentários no post deixam claro que esta foi a interpretação de boa parte das pessoas que interagiram com a postagem.

Muitos citaram, com ironia, que aquele era mais um “caso isolado”. Outros, questionaram a fonte das informações, o tipo de vacina aplicada e até mesmo o que a autora realmente quis dizer com o uso do termo “injeção de veneno”.

Em outro comentário, uma pessoa sugere que o caso seja notificado à Anvisa, ao que a autora responde que vai “postar no grupo”, dando a entender que teria recebido a informação de algum outro lugar. O Comprova entrou em contato com a autora através de um comentário na postagem, mas não recebeu resposta até a publicação desta verificação.

A postagem do mesmo conteúdo em um perfil do Instagram foi feita no dia seguinte, 19 de setembro. Desta vez, o post é mais direto: o autor incluiu uma inscrição na própria imagem em que atribui a morte de Samuel à vacina contra a covid-19.

Nos comentários, mais interações que desencorajam a vacinação. Em um deles, uma pessoa pergunta qual a fonte da informação e é repreendida por outra pessoa. Na resposta, a mulher afirma que não vacinou a filha e não quer ter outro post derrubado pela rede social, “como já aconteceu antes”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. Os posts no Twitter e Instagram verificados aqui somam quase 5 mil interações.

Conteúdos que tentam criar uma relação causal entre óbitos e vacinas, desacreditando-as e influenciando outras pessoas a não se vacinarem, são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde pessoal e coletiva em risco.

O Comprova já publicou diversos conteúdos sobre imunização. Um deles, na última semana, mostrou que a morte de uma adolescente em São Bernardo do Campo (SP) não teve relação causal com o produto da Pfizer. Também já mostrou como um médico enganava ao afirmar que as vacinas não funcionam contra a variante delta, como um post desinformava ao afirmar que o CDC e Anthony Fauci não acreditam nos imunizantes e o caso de uma médica que enganava ao afirmar que vacinas são experimentais.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Saúde

Investigado por: 2021-09-28

Vacinas de RNA mensageiro não geram doenças autoimunes

  • Falso
Falso
É falso vídeo viral publicado na rede social Kwai que afirma que vacinas que usam a tecnologia de RNA mensageiro, como Pfizer e Moderna, podem gerar doenças autoimunes e uma série de complicações respiratórias ou cardíacas. Ao contrário do que prega o vídeo, as vacinas são seguras, passaram pelas três fases de testes e foram aprovadas por agências relevantes de vigilância sanitária como a FDA, dos EUA.
  • Conteúdo verificado: Vídeo compartilhado no Kwai defende que os imunizantes que usam a tecnologia de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna) geram doenças autoimunes, levam a quadros severos respiratórios e cardiovasculares e podem matar dentro de poucos minutos.

É falso um vídeo viral publicado no Kwai que estabelece relação de causa e consequência entre vacinas de RNA mensageiro e doenças autoimunes – quando o sistema imunológico produz anticorpos contra componentes saudáveis do organismo. O vídeo também cita, de forma falsa, que a enfermeira norte-americana Tiffany Dover morreu após receber a dose da Pfizer contra a covid-19.

O argumento utilizado no vídeo não tem respaldo científico. Fia-se em concepções erradas sobre como as vacinas de RNA mensageiro se processam no organismo e fornece um conceito errado sobre o significado de doença autoimune.

O conteúdo afirma que, se um corpo vacinado entrar em contato com o Sars-Cov-2 e atuar para neutralizá-lo, “estará combatendo algo que ele mesmo está produzindo”. E conclui: “Isso se chama doença autoimune”. A lógica não é verdadeira e vai na contramão do que especialistas explicaram ao Comprova para esta verificação.

A doença autoimune consiste no mau desempenho do sistema imunológico, que passa a atuar contra células saudáveis do próprio organismo. Não há evidências de que vacinas levem a esse quadro.

Procurado, o autor da publicação, Adilson Winans Goldberg, respondeu que viu a publicação em um “grupo de notícias”. O Comprova recebeu o vídeo por meio do WhatsApp, canal disponível para que leitores deem sugestão de conteúdos que podem ser checados.

O Comprova considera falso o conteúdo que tenha sido inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, buscamos informações em verificações acerca da vacina de mRNA e doenças já publicadas pelo Comprova, como esta, da semana passada. Depois, entrevistamos o virologista, coordenador do curso de biomedicina do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR) e membro da Rede do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde, Raphael Rangel.

A imunologista Letícia Sarturi, mestre pela Universidade de São Paulo e doutora em Biociências e Fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá, também foi consultada. Realizamos uma busca na internet pelas reportagens a respeito de Tiffany Dover, enfermeira que desmaiou após receber a vacina e foi citada no vídeo como se tivesse morrido. Encontramos checagens sobre esse episódio feitas pelo Estadão, Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.orgFato ou Fake.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 28 de setembro de 2021.

Verificação

Como a vacina de mRNA age no corpo

Indagada sobre como as vacinas de mRNA agem no organismo humano, a imunologista Letícia Sarturi afirmou de início que o mRNA é um trecho de RNA responsável por “dar a receita” para que as células produzam exatamente a proteína spike do Sars-Cov-2.

A proteína Spike é exclusiva do vírus da covid-19 e fica em sua superfície. É usada para entrar nas células do corpo. Sarturi salienta que o mRNA destes imunizantes é “bem produzido” e executado mediante “controle rígido”.

Ainda de acordo com ela, o mRNA está dentro de um lipídio cuja função é “entrar” nas células para que elas produzam sua própria proteína spike. As células então fazem o processamento desta proteína e a “apresentam” para os linfócitos T.

Estes linfócitos T são os responsáveis por “lembrar” de combater o vírus sempre que entrarem em contato com ele.

A explanação da pesquisadora está em linha com o que afirma o Centro de Controle de Doenças(CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos sobre o funcionamento da tecnologia mRNA.

As vacinas que atualmente usam a tecnologia de mRNA são a Pfizer, desenvolvida pela empresa de biotecnologia alemã BioNTech, e a estadunidense Moderna; esta não disponível no Brasil. O FactCheck.org disponibilizou guias com informações sobre a Pfizer e a Moderna.

Quem é Tiffany Dover?

O autor do vídeo cita a enfermeira americana Tiffany Dover, que desmaiou durante uma entrevista logo depois de tomar uma dose da vacina contra covid-19 da Pfizer, no dia 17 de dezembro de 2020.

Defendeu-se, no material publicado no Kwai, o argumento de que vacinas mRNA podem matar em uma questão de minutos atacando o sistema respiratório, “como o que aconteceu com Tiffany Dover”.

Tiffany, no entanto, não morreu. O boato vem circulando desde o dia 21 de dezembro de 2020, e já foi desmentido pelo Estadão, Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.orgFato ou Fake.

O hospital CHI Memorial, localizado em Chattanooga, Tennessee, onde ela trabalhava na época, chegou a divulgar uma nota afirmando que a enfermeira estava saudável.

Depois do episódio, publicações em outras redes sociais relacionaram o desmaio à vacinação, o que é falso.

Tiffany Dover falou, em entrevista à Estação de TV WRCB Chattanooga: “Eu tenho um histórico de resposta vagal hiperativa e, com isso, se eu sinto dor por qualquer coisa (…), se eu bato um dedo do pé, eu posso simplesmente desmaiar”, explicou. “Eu provavelmente desmaiei seis vezes nas últimas seis semanas, é comum para mim”, acrescentou.. Ou seja, ela não atribuiu seu desmaio à vacina, mas à dor no momento da injeção.

Doenças autoimunes

O virologista Raphael Rangel, do IBMR, explica que a doença autoimune se caracteriza essencialmente pela incapacidade do corpo em “tolerar imunologicamente algumas proteínas que nós mesmos produzimos”.

O corpo humano, prossegue, “consegue distinguir o que nós produzimos do que é externo”. Ou seja, a doença autoimune é um problema imunológico não ocasionado pela vacina de RNA mensageiro – esta, um elemento inicialmente externo.

“Devemos estar sempre atentos e empenhados para desconstruir narrativas mentirosas contra as vacinas”, adverte o virologista.

Não se sabe ao certo o que leva o sistema imunológico a atacar células do próprio organismo. Doenças autoimunes geralmente são crônicas, ou seja, duram mais de um ano e necessitam de cuidados médicos constantes. Exemplos de doenças autoimunes são esclerose múltipla, artrite reumatoide e o lúpus.

Convulsões e paralisia de Bell?

No vídeo, o narrador cita que as vacinas produziriam danos ao sistema nervoso central e gerariam paralisia de Bell – o enfraquecimento ou a paralisia de um dos lados do rosto. Para ilustrar o primeiro exemplo, o conteúdo mostra uma mulher com tremores e dificuldades para caminhar. O Comprova printou a imagem da mulher e pesquisou a origem dela no Google.

O primeiro resultado da pesquisa é de um perfil no Twitter (@constanzag77) com publicações – no formato de fio – com série de supostos exemplos de eventos adversos causados pela vacinação contra a covid-19. Ao clicar no primeiro tuíte da série de posts, é possível verificar que o Twitter o classifica como “enganoso”.

A terceira publicação da sequência leva ao vídeo usado no conteúdo aqui verificado. No tuíte, o perfil escreve: “Mamãe de Brant Griner depois de receber a vacina da Pfizer.” Na mesma postagem, há o link da conta no Facebook de Brant Griner.

O Facebook alerta na parte inferior da publicação de Griner que a publicação é sem contexto. A plataforma disponibilizou para os usuários uma checagem do Estadão Verifica, que diz não haver provas de que o vídeo da mulher tenha relação com a vacina da Pfizer.

A checagem do Estadão leva ao PolitiFact, site americano de verificação de fatos, para quem Griner disse que a mãe, Angelia Gipson Desselle, de 45 anos, tomou a vacina Pfizer em 5 de janeiro e três dias depois teria começado a sentir sensações similares a de convulsões na perna esquerda. Mas ele se recusa a responder onde ela tomou a vacina, em que hospital ou quem aplicou o imunizante. Alegou que iria preservar a privacidade da mãe.

Ao Estadão Verifica, o Departamento de Saúde do Estado de Louisiana disse que investiga o caso e que não o confirma como efeito adverso da vacina.

No caso dos quatro casos de paralisia de Bell, o vídeo publicado no Kwai usa um print somente do título de uma matéria publicada no site de notícias R7 em dezembro de 2020, dentro da qual se lê um relatório publicado pelo FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora dos Estados Unidos. Nele, os pesquisadores afirmam não haver base para conclusão de que houve uma relação causal entre a vacina e os casos.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O vídeo verificado aqui teve mais de 15 mil curtidas e 25 mil compartilhamentos. O Kwai é um aplicativo chinês criado para compartilhamento de vídeos rápidos. Foi pensado inicialmente como uma plataforma para troca de imagens GIF. Em 2012 ganhou o formato atual.

O conteúdo fraudulento é prejudicial por desinformar e ter potencial de afastar as pessoas da vacinação num contexto em que o país se aproxima da marca de 600 mil mortos pelo vírus. A comunidade científica tem emitido sucessivos alertas de que somente a vacinação em massa devolverá o mundo a um ambiente de normalidade.

Conteúdos que tentam desacreditar as vacinas ou minimizar os riscos da pandemia, portanto, são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco. Em alguns comentários na publicação, é possível verificar o potencial de desinformação dessas postagens.

“Conhecimento é poder, parabéns”, escreveu um usuário em resposta ao vídeo falso. “Pessoal, divulguem esse vídeo. Mais um falando a verdade. Deus tenha misericórdia de nós”, reagiu outra usuária da rede social. “Essas vacinas são para os cobaias”.

O Comprova já publicou diversos conteúdos sobre imunização, como o que informa que morte de adolescente não tem relação causal com vacina da Pfizer, o do médico que engana ao afirmar que os imunizantes não funcionam contra a variante delta e o post que desinforma afirmando que o CDC e Anthony Fauci não acreditam nas vacinas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

(CORREÇÃO: Uma primeira versão desta verificação trouxe, em seu resumo, a informação de que a vacina da Moderna tinha aprovação da Anvisa. Na realidade, não há solicitação referente à vacina da Moderna na Anvisa, seja para registro ou para uso emergencial. Dessa forma, não há processo em análise na Anvisa. Correção feita em 29 de setembro de 2021)

Eleições

Investigado por: 2021-09-24

Vídeo de Bolsonaro ovacionado em aeroporto foi feito em Natal, e não em Nova York

  • Falso
Falso
É falso que um vídeo do presidente Jair Bolsonaro sendo recepcionado por multidão tenha sido gravado quando ele chegou ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, em 19 de setembro, para participar da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). A gravação já circula nas redes sociais desde 2017, quando foi postada pelo próprio Bolsonaro durante recepção no Aeroporto de Natal, no Rio Grande do Norte, quando ainda era deputado federal.
  • Conteúdo verificado: Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra Jair Bolsonaro sendo recepcionado por centenas de pessoas em aeroporto. O post acompanha legenda dizendo que o presidente estava chegando a Nova York, onde ele desembarcou em 19 de setembro para participar da 76ª Assembleia da ONU.

É falso o post que circula nas redes sociais com vídeo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sendo recepcionado por uma multidão em aeroporto e legenda afirmando que ele estava chegando ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York – o presidente esteve na cidade americana entre 19 e 22 de setembro, onde participou da 76ª Assembleia das Nações Unidas.

As imagens, na verdade, foram capturadas em Natal, no Rio Grande do Norte, em 8 de junho de 2017, como mostra tuíte do próprio Bolsonaro à época. Na ocasião, o então deputado federal foi recebido por apoiadores no Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, na capital do Rio Grande do Norte.

A reportagem tentou contatar um usuário do Twitter e um do Facebook que compartilharam o conteúdo, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.

O Comprova considerou o conteúdo falso porque a informação de que ele foi gravado em Nova York foi inventada de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Buscamos informações nas redes sociais de Bolsonaro e de outros representantes do governo federal que viajaram para Nova York. Pesquisamos também no YouTube, em sites oficiais do governo e em páginas jornalísticas.

Na busca, constatamos que a agência Lupa, Boatos.org e AFP Checamos já haviam verificado o vídeo em questão. A partir da informação de que a gravação era antiga, buscamos o tuíte de Bolsonaro feito em 2017 por meio do TweetDeck e comparamos elementos visuais (como letreiros) dos vídeos postados antes e agora.

Tentamos contato com uma usuária do Twitter que compartilhou o vídeo em 20 de setembro, data em que o conteúdo viralizou, mas não obtivemos resposta. Tentamos falar também com um usuário do Facebook que poderia confirmar se um vídeo postado por uma conta do YouTube em 8 de junho de 2017, com o mesmo nome de usuário dele, era de sua autoria, mas ele também não respondeu.

Verificação

Presidente em NY

No site FlightAware, foi possível confirmar que o voo da Força Aérea Brasileira (FAB) com Bolsonaro partiu em 19 de setembro de 2021 às 9h07 do Aeroporto de Brasília e chegou ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy às 16h40 do mesmo dia.

Além disso, veículos como Poder360 publicaram conteúdos sobre a chegada de Bolsonaro a Nova York, citando o aeroporto JFK.

Bolsonaro foi à cidade para participar da 76ª Assembleia das Nações Unidas. Ele fez o discurso de abertura do evento em 21 de setembro. Na noite anterior, ao chegar ao hotel, ele entrou por uma porta que não a principal, onde havia um protesto de cerca de dez pessoas com faixas em defesa dos indígenas e contra militares em cargos do governo.

Aeroporto de Natal

Bolsonaro esteve na capital potiguar em junho de 2017, quando era deputado pelo PSC, a convite da União Nordestina de Produtores de Cana, como mostrou a Folha. A reportagem contou, à época: “gritos ricocheteiam no saguão do aeroporto de Natal” e o político foi “levantado no ar”, exatamente como mostra o vídeo postado agora – falsamente dizendo que foi em Nova York – e publicado naquela ocasião por Bolsonaro.

Comparando os vídeos frame a frame foi possível perceber que se trata do mesmo conteúdo. O Comprova também encontrou outras gravações feitas em Natal, como uma publicada pelo Poder360, que só reforçou a conclusão. Nas gravações, aparecem as mesmas pessoas e sinalizações, por exemplo. Uma bandeira do Brasil pendurada em uma escada também comprova que se trata da mesma situação.

 

| Frames do vídeo verificado (vertical) e do publicado pelo Poder360 (horizontal) mostram os mesmos elementos: uma placa onde se lê “Welcome” (bem-vindo, em inglês), além um homem careca, de óculos escuros.

 

| Frames do vídeo postado agora (vertical) e do publicado por Bolsonaro em 2017 (horizontal) mostram bandeira do Brasil pendurada em escadaria

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados ao governo federal, pandemia e eleições que viralizam nas redes, como o vídeo checado aqui, que teve cerca de 4,1 mil visualizações no Facebook até 24 de setembro. No Twitter, só um post tinha mais de 2,2 mil visualizações.

Em um momento em que a popularidade de Bolsonaro vem caindo, o vídeo prejudica a avaliação da população ao levar a crer que ele teria sido ovacionado na semana passada, o que não ocorreu.

O conteúdo também foi verificado por Agência Lupa, Boatos.org e AFP Checamos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Esta reportagem foi produzida com a participação de jornalistas que recebem formação em verificação pelo Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2021-09-24

É enganosa conexão entre distribuição de ivermectina e controle da pandemia em estado da Índia

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte engana ao sugerir que queda no número de casos e mortes de covid-19 no estado de Uttar Pradesh, na Índia, foi causada pelo uso da ivermectina. Não existe, até o momento, comprovação científica de que o medicamento salve vidas de infectados pelo novo coronavírus, conforme afirmam Anvisa e OMS, entre outras autoridades sanitárias.
  • Conteúdo verificado: Postagem no Twitter mostra imagens de gráficos e matéria do jornal indiano Hindustan Times afirmando que 33 distritos do estado de Uttar Pradesh estão livres da covid-19. Ainda neste tuíte, a autora menciona que neste estado foi distribuído “um remedinho para verme”, fazendo alusão ao vermífugo ivermectina. No entanto, na matéria do jornal indiano não é feita nenhuma relação entre a diminuição das mortes e o uso do remédio, apenas a vacinação é mencionada na matéria.

É enganosa uma postagem no Twitter que sugere que a ivermectina seria responsável pela queda do número de casos e mortes por covid-19 no estado de Uttar Pradesh, na Índia. Embora autoridades locais de saúde tenham adotado um protocolo com o medicamento, os potenciais benefícios clínicos e preventivos do remédio ainda não foram comprovados em estudos científicos bem estruturados.

Segundo especialistas consultados pelo Comprova, isso faz com que a associação do vermífugo ao declínio da transmissão do coronavírus no estado indiano seja uma “falácia”. Afinal, outros aspectos epidemiológicos podem ter influenciado no quadro da pandemia em Uttar Pradesh.

Com mais de 2 mil interações no Twitter, a postagem enganosa mostra uma matéria publicada em 10 de setembro no jornal Hindustan Times. O artigo cita que 33 distritos de Uttar Pradesh não registravam casos ativos de covid-19 naquela data e ressalta o avanço da vacinação no país. Não há qualquer menção à ivermectina ou outras substâncias, além dos imunizantes contra a doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras agências sanitárias do mundo não aconselham ou se posicionam contrárias ao uso do medicamento fora de ensaios clínicos. Justamente porque faltam evidências confiáveis, de estudos adequados, para definir se a ivermectina traz algum benefício a pacientes com covid.

A reportagem do Comprova questionou o Ministério da Saúde da Índia e com o Governo de Uttar Pradesh sobre a distribuição do vermífugo para a população, mas até a publicação desta matéria não teve retorno.

O Comprova considerou a postagem enganosa pois é um conteúdo que usa dados imprecisos, já que a matéria citada no tuíte não menciona o uso do vermífugo ao relatar a diminuição de casos e mortes de covid-19.

Como verificamos?

O Comprova realizou uma busca reversa no Google para localizar as imagens do tuíte verificado. Depois disso, buscou matérias em portais de notícias da Índia sobre a situação da pandemia, a vacinação e a distribuição de ivermectina no país (aqui, aqui, aqui e aqui).

Também conversou com o médico infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) André Siqueira e com o médico e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia Julival Ribeiro. O Comprova também contatou a International Fact-Checking Network (IFCN), para auxiliar na busca por matérias que atualizassem a distribuição da ivermectina na Índia.

Além disso, entrou em contato com o Ministério da Saúde da Índia e com o Governo da Uttar Pradesh, via e-mail, mas não recebeu retorno até o fechamento deste material. A reportagem do Comprova não conseguiu entrar em contato com a autora do tuíte, já que não é possível enviar mensagem direta no em seu perfil no Twitter.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de setembro de 2021.

Verificação

Covid-19 na Índia

Os gráficos sobre a vacinação apresentados na publicação verificada foram extraídos do Google. A plataforma de buscas digitais compila dados coletados pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, que tem sido uma referência de informações epidemiológicas sobre a pandemia.

Segundo país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia bateu recordes de infectados e mortos por covid-19 em maio e junho deste ano. Essas marcas foram responsáveis pelo colapso no sistema hospitalar do país. O país asiático acumula 445.385 mortes em decorrência da doença, de acordo com levantamento do governo indiano.

Depois de sofrer duras críticas pela posição adotada no enfrentamento à pandemia, o governo da Índia iniciou em junho uma campanha nacional e gratuita para a vacinação de todos os adultos. Desde então, a média de doses aplicadas diariamente tem sido positiva no país, que chegou a bater o recorde de 10 milhões de doses aplicadas em um único dia. O primeiro-ministro do país, Narendra Modi, comemorou em uma rede social o número atingido.

Atualmente, cerca de 45% da população indiana já foi vacinada contra a covid-19 com ao menos uma dose, e 16% da população já está totalmente vacinada, de acordo com o Our World in Data.

Até o momento, Uttar Pradesh é o estado que mais vacinou pessoas na Índia. Dados disponibilizados pelo governo mostram que mais de 97 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 47% da população do estado, já foram vacinadas com ao menos uma dose da vacina, enquanto mais de 17 milhões estão com o esquema vacinal completo.

Em Uttar Pradesh, mais precisamente na cidade de Agra, está localizado o Taj Mahal.

Indicação da ivermectina

A curva de infecções em Uttar Pradesh ganhou tração em abril de 2021, atingiu um pico de mais de 30 mil casos diários no final do mesmo mês, até recuar a um patamar de menos de 200 registros diários a partir de junho. Os dados do estado são usados de forma inadequada para defender o uso da ivermectina contra a covid-19 porque autoridades locais aplicaram um protocolo medicamentoso com a substância.

Desde 2020 a Índia possui um protocolo para o uso da ivermectina – bem como a hidroxicloroquina – no tratamento de pacientes com covid-19. O medicamento, que é indicado para doenças parasitárias, foi amplamente distribuído pelos distritos do estado de Uttar Pradesh. Apesar de não ter obtido resposta das autoridades sanitárias e governamentais da Índia, a reportagem do Comprova listou em ordem cronológica as autorizações ao uso da ivermectina para o combate a covid-19 no país, de acordo com a mídia internacional.

  • Maio de 2020: No site do Governo de Uttar Pradesh é disponibilizado um documento que oferece orientações sobre o uso da ivermectina como tratamento para a covid-19. O documento é datado de maio de 2020.
  • Agosto de 2020: De acordo com o The Indian Express, em 6 de agosto de 2020 o Departamento de Saúde de Uttar Pradesh introduziu a ivermectina como uso profilático para contatos próximos de pacientes contaminados e profissionais de saúde através de uma ordem governamental.
  • Junho de 2021: O Governo de Uttar Pradesh iniciou uma campanha de distribuição de kits de medicamento de acordo com a idade e pesagem dos pacientes. Os kits tinham comprimidos de paracetamol, pacotes de SRO, multivitaminas e comprimidos de ivermectina, de acordo com o Times Of India.
  • Agosto de 2021: O distrito de Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh, instalou quiosques para distribuição de ivermectina para a população. As autoridades locais indicam que os comprimidos devem ser administrados com base nos sintomas do infectado, de acordo com matéria do Hindustan Times.

Apesar da ampla divulgação da ivermectina como tratamento profilático no estado de Uttar Pradesh, o próprio governo indiano descreve o vermífugo como uma “terapia baseada na baixa certeza de evidência” em documento disponibilizado pelo Conselho Indiano de Pesquisa Médica, órgão que aconselha as decisões do governo sobre a pandemia.

‘Falácia epidemiológica’

Para o médico infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), André Siqueira, a análise compartilhada na postagem é uma “falácia epidemiológica”. Ele explica que até o momento as principais evidências científicas indicam que a ivermectina não traz nenhum benefício clínico para pacientes com covid ou na prevenção da doença.

“Diversos fatores que não foram controlados podem estar relacionados. Não é possível dizer que foi o uso da ivermectina”, aponta o especialista.

Siqueira cita que a evolução dos dados da pandemia no estado indiano poderia sofrer a interferência de medidas restritivas de circulação ou mesmo da imunidade adquirida pelas pessoas infectadas e já recuperadas, cuja duração ainda é incerta para a ciência.

O estado de Uttar Pradesh instituiu lockdowns para conter a pandemia entre abril e junho de 2021, mostra esta matéria do India Today. Outras reportagens mostram que, em setembro, autoridades flexibilizaram um toque de recolher vigente no estado e relaxaram restrições a números de convidados em casamentos.

O médico e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Julival Ribeiro, concorda que a associação do número de casos com um suposto efeito da ivermectina é insustentável. De acordo com ele, a forma adequada para avaliar os benefícios e segurança de um medicamento é por meio de ensaios clínicos randomizados duplo cego.

Neste tipo de estudo, voluntários são divididos em dois grupos: o primeiro recebe a terapia com o medicamento avaliado na pesquisa, o outro é submetido ao protocolo padrão ou recebe placebo (substância sem efeito). Os pesquisadores aplicam uma série de técnicas para minimizar ao máximo a possibilidade de fatores externos influenciarem nos resultados.

Eles estabelecem critérios rigorosos para selecionar pacientes, com o intuito de garantir que os voluntários presentes nos dois grupos tenham características mais similares possíveis. Nos estudos ‘duplo-cego’, nem pacientes, nem os médicos que aplicam o tratamento sabem quem tomou o medicamento e quem recebeu placebo.

“Não há indicação para uso da ivermectina contra a covid. O que sabemos é que quando você aumenta a cobertura de vacinação há um efeito na redução de hospitalizações e mortes pela doença”, destaca Julival Ribeiro.

Faltam evidências que comprovem o benefício da droga

Estudos laboratoriais com ivermectina mostraram um potencial efeito do fármaco contra o novo coronavírus em células animais. Como explicou o Comprova em verificações anteriores, os resultados observados nesse tipo de teste nem sempre são confirmados em ensaios clínicos com pacientes. Isso porque o organismo humano é muito mais complexo e envolve condições que não podem ser reproduzidas no laboratório.

No decorrer da pandemia, surgiram evidências contra e a favor de protocolos com a droga no tratamento da covid, mas as pesquisas conduzidas até o momento sofrem de limitações metodológicas que impedem os resultados conclusivos. Uma pesquisa que sugeriu resultados milagrosos da ivermectina contra a covid, por exemplo, foi retirada de uma plataforma de pré-publicação sob acusações de manipulação de dados pelos autores.

O painel de evidências dos Institutos de Saúde dos Estados Unidos (NIH) diz não recomendar contra nem a favor do uso do remédio. De acordo com o órgão, são necessários mais dados de ensaios clínicos bem conduzidos e estruturados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também afirma que as evidências são inconclusivas.

Até que mais informações estejam disponíveis, a entidade recomenda que o tratamento seja usado exclusivamente em ensaios clínicos. Também não há qualquer orientação para uso da droga de forma preventiva.

Julival Ribeiro destaca que um estudo recente indicou que a ivermectina não demonstrou capacidade de reduzir mortes ou tempo de hospitalização de pacientes com covid moderada. O especialista lembra que uma pesquisa ainda em andamento conduzida pela Universidade de Oxford deve fornecer dados sólidos sobre a questão.

O mesmo estudo já testou a eficácia de outros tratamentos para covid e não encontrou, por exemplo, benefícios do antibiótico azitromicina. Ribeiro alerta que a automedicação com ivermectina pode ser perigosa.

“Temos relatos de pessoas que tiveram problemas hepáticos [no fígado] por uso contínuo do medicamento”, alerta o especialista.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O tuíte verificado aqui teve mais de 2,8 mil interações entre curtidas e retuítes.

Conteúdos que induzem o público a desacreditar na eficácia das vacinas ou incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

Assim como o Comprova que já verificou posts que mostram que estudo é insuficiente para comprovar eficácia da ivermectina, veículos como o Aos Fatos e o Estadão também verificaram publicações sobre o vermífugo.

Enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-09-24

Site usa título sensacionalista sobre morte de vacinados contra a covid e engana leitores

  • Enganoso
Enganoso
Título alarmista usado em publicação destoa do teor do texto, retirado de portal jornalístico, e engana leitores, que questionam a eficácia da vacinação.
  • Conteúdo verificado: Publicação de site com o título “BOMBA: Mais de 19 mil pessoas já morreram após tomar duas doses da vacina, mostra levantamento”, que reproduz matéria jornalística publicada originalmente com outro título.

É enganoso o título alarmista utilizado por um site na publicação de um texto sobre a morte de pessoas que já foram vacinadas contra a covid-19.

A reportagem foi copiada do Portal Metrópoles, que a publicou com um título totalmente diferente: “Mortos após imunização chegam a 19 mil. Entenda por que isso não reduz importância da vacinação”.

O texto traz, além dos dados, a fala de diversos especialistas, que explicam como funcionam as vacinas e porque as restrições sociais e sanitárias ainda são importantes para reduzir a circulação do novo coronavírus.

Uma análise dos comentários feitos sobre a matéria verificada, porém, mostra que boa parte dos leitores não acessou o conteúdo completo e compartilhou o link apenas com base no título — que induz a um questionamento da eficácia dos imunizantes contra a covid-19.

Em contato com o Comprova, um dos responsáveis pelo site disse que todos os títulos de publicações possuem palavras chamativas, como a expressão “bomba!”, mas todo o conteúdo é checado e os comentários de leitores sobre as matérias são monitorados.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O primeiro passo da reportagem foi analisar o conteúdo publicado pelo site. Como o texto fazia referência ao Portal Metrópoles, o Comprova fez uma pesquisa e chegou à publicação original sobre o assunto.

Após comparar as informações e conferir que se tratava de uma reprodução, a equipe passou à análise do título que, no site aqui verificado, tem um tom alarmista, contraditório à publicação do próprio veículo e também bastante diferente do Metrópoles.

Para verificar o impacto do título no leitor, o Comprova leu diversos comentários referentes à publicação do Terra Brasil Notícias e constatou que boa parte dos perfis se deteve na informação contida no título.

A equipe também fez contato com o site para entender por que razão a reportagem é acompanhada de um título com um enfoque tão diferente da matéria.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de setembro de 2021.

Verificação

Texto original

O texto publicado pelo site Terra Brasil Notícias é uma cópia exata de parte de uma reportagem do portal Metrópoles, do dia 17 de setembro, assinada por Lucas Marchesini. O título original, porém, tem o tom inverso ao usado pelo Terra Brasil Notícias: “Mortos após imunização chegam a 19 mil. Entenda por que isso não reduz importância da vacinação”.

O texto original também é mais longo do que o publicado no site Terra Brasil Notícias, e traz informações sobre a faixa de idade das pessoas que, mesmo vacinadas, morreram devido à covid. Segundo a reportagem, a maioria das vítimas era idosa, com idade entre 61 e 97 anos. O médico sanitarista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro, ouvido na matéria, explica que a resposta do organismo às vacinas diminui nas pessoas mais velhas – o que torna necessária uma terceira dose.

Além disso, a reportagem aponta que o surgimento de novas cepas também pode comprometer a eficácia de imunizantes já disponíveis. “Conjugados com o avanço da vacinação, os protocolos sanitários garantem uma redução mais expressiva na circulação da doença, protegendo as pessoas com imunidade mais baixa e também diminuindo a probabilidade de surgimento de novas variantes”, diz o texto.

O texto do Terra Brasil Notícias também omite todos os links que estavam no texto original e que ajudam a dar mais contexto à reportagem publicada pelo Metrópoles.

Os leitores

Embora o texto do site aponte elementos que demonstram a importância da vacinação contra a covid-19, o título induz muitos leitores a uma ideia equivocada sobre a imunização ao destacar o número de mortes após duas doses a uma “bomba”. Uma notícia bombástica, no meio jornalístico, é uma expressão que carrega em seu significado uma grande revelação ou denúncia.

E essa indução é fácil de ser constatada pelos inúmeros comentários que a matéria recebeu na publicação no Twitter, como o do usuário que escreveu: “E agora, quem é o responsável? Vacina sem eficácia usando o povo de cobaia”.

Ou a internauta que marca outro perfil para chamar a atenção para a matéria: “Veja a quantidade de pessoas que já morreram após tomar as vacinas: 19 mil.”

Tem ainda o perfil que pergunta: “Adiantou a vacina? E completa: “Ainda é permitido questionar ou a pergunta é absurda?”

Diante da matéria, um usuário conclui que os mortos de covid eram um alarde e que os mortos vacinados não têm importância. “Durma-se com esse barulho”, comenta.

Outro também faz uma ilação: “Vão dar um jeito de pôr na conta do Bolsonaro, pode crer.”

Esses são alguns dos comentários que sugerem que essas pessoas leram apenas o título, que nada tem a ver com o tom da reportagem. Uma pesquisa divulgada pela revista Galileu, há dois anos, já demonstrava que a maioria dos leitores de títulos tinha pouca informação, mas confiança em excesso sobre os seus conhecimentos.

E mesmo quando algum perfil tenta explicar, como o que menciona o percentual de mortes em comparação ao número de vacinados, há outros que retrucam, a exemplo do que escreveu: “0,02% de pessoas mortas pela vacina é grave, não é 0,02% baixa eficácia, é diferente… nenhuma fabricante colocou no estudo que pessoas morreriam por causa da vacina, ou colocou?”

Vale ressaltar que, diferentemente do que afirma o internauta em seu comentário, os números não estão relacionados a mortes provocadas pela vacina. Os óbitos registrados são de pessoas que, após duas doses, contraíram o coronavírus e morreram. O trecho da reportagem do site diz o seguinte: “O número de vacinados que terminariam como vítimas da doença é pequeno (0,02% do total) diante da quantidade de 72,8 milhões de pessoas protegidas contra a doença ou do total de mortes por conta do coronavírus, de 588,6 mil”. Mesmo assim, ele é utilizado por ativistas antivacinas para criticar a aplicação do imunizante.

Outro aspecto a ser observado é que, na página do site no Instagram, não há link para o texto. O único destaque é para o título que, como já mencionado, induz o leitor a uma interpretação errada sobre a vacina contra a covid-19.

O que diz o site?

O Comprova procurou o site Terra Brasil Notícias para saber o porquê do termo “bomba” no título; se eles perceberam o efeito causado em seus leitores e se, após a repercussão, houve uma revisão editorial.

Em resposta ao e-mail enviado pela nossa equipe, e em conversa pelo WhatsApp, o diretor e editor do site, Júnior Melo, que também é advogado e jornalista, informou que, “nossa linha editorial faz esse chamamento para a maioria de nossas notícias. Qualquer notícia que tenha maior relevância social, sempre chamamos atenção através de títulos superlativos: ‘bomba, lascou, deu ruim’ e etc.”

Júnior Melo ressaltou ainda que, “outras vezes, quando a notícia é mais amena, a equipe coloca uma “pitada de irreverência”. “Esse é nosso diferencial jornalístico, com notícias sempre checadas e que temos zelo pelo nosso trabalho de sempre passar a notícia verdadeira.”

Levantamento recente do Net Lab da Universidade Federal do Rio de Janeiro revela que o Terra Brasil Notícias é o mais compartilhado por bolsonaristas em grupos de WhatsApp e Telegram. Fundado há pouco mais de um ano, por um casal de Mossoró (RN), chegou a ter 12 milhões de visitas em julho, segundo reportagem publicada pela Folha de São Paulo em 16 de agosto deste ano.

Parte do conteúdo publicado copia notícias de veículos tradicionais e replica com um viés conservador. As postagens são alvos frequentes de checagens do Projeto Comprova, como o post que dizia que a ginasta Rebeca Andrade se apresentou ao som do “Funk de Bolsonaro”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal, eleições e pandemia que tenham viralizado nas redes sociais, como é o caso desta publicação. Ela teve mais de 2 mil interações, no Twitter e Facebook, até o dia 24 de setembro.

Apesar de o conteúdo do texto ser verdadeiro, o tom alarmista do título induz o leitor a associar as 19,3 mil mortes como um efeito das vacinas contra a covid-19. Além disso, o site reproduz apenas parte da reportagem publicada originalmente pelo portal Metrópoles, omitindo o perfil dos mortos — idosos — e a análise dos especialistas.

O Comprova vem mostrando conteúdos enganosos e falsos sobre as vacinas, como a postagem sugerindo que a morte de uma adolescente de 16 anos, moradora de São Bernardo do Campo (SP), teria relação com a vacina da Pfizer. Ou a afirmação do médico americano Ryan Cole, de que as vacinas provocam aumento dos casos de câncer.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e publicado de modo que seu significado sofreu alterações, induzindo a uma interpretação diferente da intenção do autor. O conteúdo publicado confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2021-09-23

É falso que Dilma e Lula pagaram 6 mil euros por jantar em Paris

  • Falso
Falso
É falso que Lula e Dilma "gastavam 6 mil euros por um prato em jantar". Reportagem mencionada em post trata de evento oferecido para a então presidente brasileira pelo governo francês em 2012 – os petistas não gastaram nada no evento; Lula nem participou dele – e o valor citado não se referia à refeição, mas ao preço de um prato de porcelana da marca Puiforcat usado na ocasião.
  • Conteúdo verificado: Post em redes sociais afirma falsamente que Lula e Dilma “gastavam 6 mil euros por um prato em jantar” e compara a suposta atitude dos ex-presidentes com a de Jair Bolsonaro, “que comeu pizza em pé, do lado de fora de restaurante”, como fez recentemente em Nova York.

É falso o post viral que afirma: “Prefiro um presidente que come pizza em pé, do lado de fora do restaurante, do que os ‘pais dos pobres’, que gastavam 6 mil euros por um prato em jantar!”.

Reportagem do Terra, cujo título – “Paris: sem Lula, jantar de gala para Dilma serviu prato de 6 mil euros” – foi usado na publicação, trata de evento realizado pelo governo francês em 2012, quando Dilma era a chefe do Executivo brasileiro. Ela era a convidada de honra do então presidente daquele país, François Hollande, ou seja, não pagou nada pelo jantar. O valor de 6 mil euros a que se refere a matéria era do prato de porcelana da marca Puiforcat usado na ocasião, e não o custo da refeição. A matéria informava que esse era o preço que poderia alcançar um único prato de porcelana dessa marca.

Posts com o conteúdo falso que circulavam no Twitter e no Facebook foram removidos. Procuramos a autora de uma das publicações com mais interações via mensagem privada no Facebook, mas ela não nos respondeu e seu post não pôde mais ser visualizado. Para o Comprova, é falso o conteúdo inventado, como nesse caso, e divulgado de modo deliberado a espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova buscou a reportagem do Terra citada no conteúdo aqui verificado. Logo já ficou claro que o jantar não foi pago por Dilma ou pelo governo brasileiro.

Conferimos também o site da Biblioteca da Presidência da República, que tem registros do evento com a mesma data.

Pelo Cartão de Pagamentos do Governo Federal que seria utilizado para arcar com esse tipo de despesa, não foi localizado nenhum gasto próximo a esse valor no dia 11 de dezembro de 2012 ou em datas próximas.

Verificação

Dilma e o jantar

No dia 11 de dezembro de 2012, o governo francês, por meio do então presidente François Hollande, ofereceu um jantar de gala em honra à visita oficial da ex-presidente Dilma Rousseff e ministros ao país europeu.

Realizado no Palácio do Eliseu, a residência oficial do presidente da França, o evento recebeu políticos, empresários e celebridades dos dois países. Dilma também posou para fotos ao lado de Hollande e de estudantes brasileiros que participavam do programa Ciências Sem Fronteiras, como publicado na Biblioteca da Presidência da República.

Bolsonaro e a pizza

“Prefiro um presidente que come pizza em pé, do lado de fora do restaurante”, começa o post falso. O conteúdo se refere ao dia 19 de setembro deste ano, quando o presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), para evitar a exigência da vacina contra a covid-19 em Nova York, jantou pizza, em pé, na calçada de um restaurante.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados ao governo federal, pandemia e eleições que viralizam nas redes. A publicação verificada aqui teve ao menos 700 interações até 21 de setembro – depois, foi removida do Facebook. Outras publicações no Twitter também não estão mais acessíveis. O post que mais repercutiu foi postado no grupo “Bolsonaro 2022 🇧🇷” do Facebook com quase 1 milhão de integrantes. Um tuíte no perfil @n7contii_ alcançou 932 interações até 23 de setembro.

O conteúdo, que também foi verificado por Estadão Verifica e Aos Fatos, tenta enaltecer Bolsonaro e desmerecer os ex-presidentes Dilma e Lula – este à frente de Bolsonaro na corrida presidencial segundo pesquisas recentes – a partir de uma mentira. Recentemente, o Comprova publicou outras verificações com o mesmo propósito, como a do vídeo que omite ações de governos anteriores para exaltar obras de Bolsonaro na Transamazônica e a da gravação que fala em trama com participação de Lula e do STF para matar Bolsonaro.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Esta reportagem foi produzida com a participação de jornalistas que recebem formação em verificação pelo Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2021-09-23

Vacinas contra covid-19 não provocam câncer, diferentemente do que afirma médico dos EUA

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo publicado no Telegram em que médico afirma estar observando aumento de casos de câncer do endométrio e outras doenças em pessoas que se imunizaram contra a covid-19.
  • Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Telegram em que médico norte-americano afirma ter observado aumento em 20 vezes dos casos de câncer de endométrio em pessoas que se vacinaram contra o Sars-Cov-2. Segundo ele, outras doenças também estão se tornando mais frequentes nesse público.

É enganoso vídeo publicado no Telegram em que o médico norte-americano Ryan Cole afirma ter observado aumento em 20 vezes dos casos de câncer do endométrio em pacientes vacinados contra o novo coronavírus. O médico também diz que percebeu uma diminuição na capacidade do sistema autoimune de matar células infectadas nesse público e cita o aumento também de outras doenças, como herpes e HPV. Na realidade, as vacinas contra o coronavírus não são capazes de provocar tais doenças.

As vacinas desenvolvidas para combater a covid-19 são seguras e eficazes, como também são responsáveis por aumentar a produção de células-T, também conhecidas como “células de memória”, que produzem anticorpos, para defender o corpo do vírus. Ou seja, diferentemente do que afirma o médico, os imunizantes não baixam a imunidade nem facilitam o surgimento de novas doenças, mas, sim, protegem o corpo contra o coronavírus.

No Brasil – o vídeo verificado aqui viralizou em um grupo de brasileiros – não há nenhuma indicação de que as vacinas em uso possam afetar a capacidade do corpo de se proteger de outras doenças, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso vale tanto para os estudos científicos, testes clínicos ou no monitoramento que o órgão faz das reações aos imunizantes.

Ouvida pelo Comprova, a médica Monica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), também disse que as alegações do americano são um argumento antigo de grupos antivacinas já desmentidos pelos cientistas. Segundo ela, não só não há registro de que os imunizantes prejudiquem o sistema imune como há, inclusive, estudos que sugerem que eles podem fortalecer a defesa do corpo contra outras infecções além daquela para a qual o composto foi desenvolvido. Ela também lembra que não há registro na literatura médica de que as vacinas possam provocar câncer.

Procurado, o médico não respondeu até a publicação deste texto. O Comprova considerou o conteúdo enganoso porque Cole usa dados que induzem a uma interpretação errada – de que as vacinas são prejudiciais, como mostram alguns comentários da publicação. Uma pessoa escreve, por exemplo, ter esperança de que a campanha de imunização seja cancelada para menores de 30 anos no Brasil; outra, conta que não vai se vacinar.

Como verificamos?

O Comprova buscou informações sobre o médico Ryan Cole. Em uma pesquisa na internet, encontramos o site da clínica do médico e links de matérias feitas por outras agências de checagem e portais de notícias sobre as informações sem fundamento de Cole.

Para checarmos a fundamentação dos dados citados pelo médico durante o vídeo, entramos em contato via mensagem, pelo site do laboratório, mas não recebemos a confirmação no nosso e-mail. Então, escrevemos via perfil do Facebook do laboratório – não houve retorno até a publicação deste texto.

Também procuramos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para saber se há algum indício de que as vacinas em uso no Brasil tenham efeito negativo sobre o sistema imune.

Por fim, entrevistamos a médica Monica Levi. presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de setembro de 2021.

Verificação

Quem é Ryan Cole

Ryan Cole é um dermatologista norte-americano especializado em patologia. Atua como CEO do laboratório Cole Diagnostics, focado em serviços de laboratório clínico e patologias.

Cole integra a Associação de Médicos Independentes do estado de Idaho, grupo formado em 2013 por profissionais que possuem suas próprias práticas médicas, com “liberdade de diagnosticar e tratar sem sobrecarga de interesses potencialmente conflitantes”, segundo define o site da organização.

“Somos uma organização de médicos independentes em Idaho. Donos de nossas clínicas, portanto, livres para nos juntar a nossos pacientes na escolha de suas melhores opções de cuidados de saúde”, diz o site.

Cole já havia questionado a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. Suas declarações foram checadas e desmentidas pela FactCheck.Org.

Impacto das vacinas nas células-T

Para entender como as vacinas contra a covid-19 funcionam no corpo, é importante entender a função das células T, citadas por Cole e também conhecidas como linfócitos T ou glóbulos brancos.

São elas que entram em ação de forma rápida, caso o corpo encontre o mesmo vírus mais de uma vez. Por essa razão, também são chamadas “células de memória”, por efetivar as respostas antivirais com ataque às células que já foram infectadas.

Quando os vírus familiares são detectados pelas células T, fica a cargo dos linfócitos B — glóbulos brancos defensivos — produzirem anticorpos para atacá-los.

Os imunizantes são seguros e funcionam de maneiras distintas, a depender da tecnologia empregada para fabricação.

De maneira geral, eles agem para deixar o corpo com um suprimento extra de linfócitos T — para memorizar quais vírus devem ser combatidos — e linfócitos B — que saberão como executar esse combate.

A proteção das vacinas ocorre dentro de algumas semanas e, por isso, algumas pessoas podem ser infectadas com a covid-19 imediatamente após a aplicação da dose, ou antes da vacinação, pelo intervalo curto entre a aplicação da vacina e a produção de anticorpos.

Assim, a função das células T, presente nos imunizantes contra o coronavírus, é a de aumentar a imunidade contra a doença.

Por essa razão, é falsa a afirmação do patologista Ryan Cole sobre a queda do sistema imune do corpo após a aplicação da vacina. O médico antivacina afirma ainda que a aplicação das doses favorece o aparecimento de doenças autoimunes e o câncer, o que não é verdade.

Em outra ocasião, Cole havia indicado um artigo de 2018, publicado pela revista Nature Reviews Drug Discovery, para sustentar a tese de que as vacinas provocavam câncer. Ao FactCheck.Org, o autor principal do artigo, Norbert Pardi, afirmou que em nenhum momento a publicação demonstra que as vacinas de mRNA causam câncer ou doenças autoimunes.

Autoridades

Ao Comprova, a Anvisa afirmou que “não há indicações a partir dos estudos científicos e estudos clínicos ou ainda do monitoramento de notificações de que as vacinas contra covid-19 possam afetar a capacidade do organismo humano em responder contra outras doenças”. “Pelo contrário, as vacinas são consideradas seguras e com relação de benefício-risco positiva”, prossegue o órgão de segurança sanitária brasileira.

Segundo a médica Monica Levi, o discurso de que as vacinas sobrecarregam o sistema imune e baixam a imunidade é uma alegação antiga do movimento antivacina que já foi desmentida pela ciência. Ela explica que mesmo antes da pandemia já existiam dados que mostravam que a vacinação auxilia a resposta imune.

“Quando você pega um recém-nascido, ele em poucas horas está totalmente colonizado e tem que responder a um monte de estímulos antigênicos, em uma quantidade muito maior do que a carga antigênica de qualquer vacina”, diz Levi. “Além disso, cálculos matemáticos mostram que se 11 vacinas fossem aplicadas ao mesmo tempo numa criança, isso ativaria aproximadamente 0,1% do sistema imune”, afirma ainda.

De acordo com a especialista, também há indícios nas pesquisas científicas de que os imunizantes em geral possam ter exatamente o efeito contrário do que afirma o conteúdo verificado pelo Comprova. Isso porque entre as várias defesas ativadas pelos antígenos presentes nas vacinas, está uma barreira de resposta inespecífica, que pode atenuar outras infecções.

“Há estudo mostrando que crianças recém-vacinadas estão menos suscetíveis a vírus respiratórios, por exemplo”, ela cita. Embora os pesquisadores ainda trabalhem em estudos mais conclusivos sobre o efeito da resposta inespecífica, o tema já era bastante conhecido no ambiente científico mesmo antes da pandemia, diz Levi.

A médica também diz que jamais houve registro de aumento de câncer em pessoas vacinadas. “Muito pelo contrário. Em relação ao câncer, nós temos a vacina do HPV e da hepatite B. E a gente tem visto os resultados delas há muito tempo: a redução do câncer de colo de útero e a redução do câncer de fígado nas populações vacinadas”, lembra.

Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC na sigla em inglês), as vacinas trabalham estimulando o sistema imune a produzir anticorpos, exatamente como acontece quando você é exposto à doença. Depois de ser vacinado, você desenvolve imunidade àquela doença sem ser infectado por ela.

Em um vídeo publicado em fevereiro deste ano, o médico Paul Offit, do Children’s Hospital of Philadelphia, explica porque as vacinas de RNA contra a covid-19 não comprometem o sistema imune.

“O RNA mensageiro entra nas células e, em essência, é transformado numa proteína. Nesse caso, a proteína spike do Sars-CoV-2, que se conecta com a superfície da célula. Assim, a célula produz a proteína spike. Enquanto a célula está produzindo a proteína spike, ela também está fazendo uma variedade de outras proteínas usando o RNA mensageiro do corpo, nenhuma das quais afeta o sistema imune negativamente. Nenhuma dessas proteínas deve desregular o sistema imune ou causar uma perturbação nele”, ele argumenta.

“Na verdade, ocorre exatamente o oposto. A vacina contra o Sars-CoV-2 não enfraquece o sistema imune, mas o fortalece. Porque agora finalmente você tem anticorpos contra esse vírus que pode causar uma infecção severa e ocasionalmente fatal”, conclui.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal, eleições e pandemia que tenham viralizado nas redes sociais, como é o caso deste vídeo, visualizado 42,2 mil vezes até 22 de setembro.

A verificação foi sugerida pelos leitores, por meio do número 11 97045-4984, pelo qual os usuários podem enviar ao Comprova sugestões de conteúdos cuja veracidade esteja sendo questionada.

O vídeo é prejudicial, pois desinforma ao dizer, erroneamente, que a vacina pode causar doenças. Fazendo isso, o conteúdo coloca a população em risco, pois pessoas que acreditam nele podem deixar de se vacinar, e o imunizante é a principal ferramenta contra a covid-19 atualmente.

O Comprova vem mostrando conteúdos enganosos sobre as vacinas, como o post que afirmava que empresas não exigem vacinação e que CEO da Pfizer não se imunizou e o vídeo em que médico dizia que imunizantes não são eficazes contra a variante dela.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-09-22

Morte de adolescente não tem relação causal com vacina da Pfizer, ao contrário do que sugere tuíte

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte engana ao sugerir que a vacina da Pfizer teria sido a causa da morte de uma adolescente de 16 anos. No dia em que o post foi publicado, o caso era considerado suspeito e estava sendo investigado, ou seja, não tinha nenhuma confirmação. Um dia depois, o governo de São Paulo afirmou que não há como atribuir relação causal entre a Púrpura Trombótica Trombocitopênica (PTT) – doença preexistente detectada na garota – e a vacina. Além disso, foi concluído que a paciente não apresentou qualquer doença cardiológica, como dito na sequência do tuíte.
  • Conteúdo verificado: Tuíte fala sobre a morte de uma adolescente e traz imagens dela com o cartão de vacinação: “essas fotos são da última semana de sua vida feliz”. Além disso, a mesma pessoa fez outros dois tuítes, com imagens de comentários feitos por uma página no Instagram, que sugerem que a vacina foi a causa da morte, mas ao mesmo tempo falam em infarto, anemia e choque cardiogênico.

É enganoso um tuíte que sugere que a causa da morte de uma adolescente de 16 anos, de São Bernardo do Campo (SP), foi a vacina contra a covid-19 da farmacêutica Pfizer. Comentários no post, em sua maioria criticando os imunizantes, mostram que os usuários também interpretaram que a vacina foi a responsável pelo falecimento.

No dia da publicação, uma nota da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já dizia que os dados sobre a morte da garota ainda eram preliminares e necessitavam “de aprofundamento para confirmar ou descartar a relação causal com a vacina”. Dessa forma, o caso ainda estava sendo investigado.

No dia seguinte, o governo de São Paulo descartou a possibilidade e concluiu que não havia como atribuir relação causal entre a Púrpura Trombótica Trombocitopênica (PTT) – doença preexistente detectada na garota – e a vacina. Além disso, um grupo de especialistas do governo concluiu que a paciente não apresentou qualquer doença cardiológica, como dito no tuíte.

Segundo um infectologista consultado pelo Comprova, a PPT é uma condição que ocorre na infância e na adolescência em que o organismo apresenta uma queda de plaquetas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Procurada, a autora do post apenas disse, por mensagem, que “a família (da jovem) está tomando as providências necessárias para os fatos serem devidamente esclarecidos”.

Como verificamos?

O Comprova buscou informações nos sites oficiais dos órgãos do governo e em matérias publicadas em veículos jornalísticos.

Além disso, pediu posicionamentos da Anvisa, Ministério da Saúde, Pfizer, Hospital Vida’s Alta Complexidade – onde a jovem faleceu – e conversou com especialistas: o infectologista pediátrico do Grupo Prontobaby (rede de hospitais pediátricos com 4 unidades no Rio de Janeiro) e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) André Ricardo Araújo da Silva e com o virologista, coordenador do curso de biomedicina do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR) e membro da Rede do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde Raphael Rangel.

O Comprova chegou até a família da adolescente depois de entrar em contato com um repórter que entrevistou a mãe dela para um jornal do ABC Paulista.

Cristiane Borges, a mãe, nos enviou um áudio em que afirmou não ter condições de dar detalhes e passou o telefone de uma amiga, identificada como Juliana, que estaria acompanhando o caso.

Em seguida, pelo WhatsApp, Juliana disse que a adolescente não tinha doenças preexistentes, mas se recusou a encaminhar o atestado de óbito por, segundo ela, ser uma decisão dos advogados.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de setembro de 2021.

Verificação

A autora do post verificado sugere que a causa da morte da adolescente foi a vacina. Na publicação, é possível notar inúmeros comentários negativos sobre os imunizantes, como: “Meu filho tem 6 anos, vai pra igreja, supermercado e escola. Nunca perdeu um dia de aula e… Não será vacinado. Não matarei meu filho com uma picada”; “Estamos em um pais (sic) que somos obrigados a ser cobaia destes crapula (sic) da medicina…que Deus possa confortar a família”; “Que tristeza. A minha filha não vai tomar de jeito nenhum”.

No dia em que o post foi publicado, 16 de setembro, havia apenas a suspeita de que a morte poderia estar relacionada com a vacina da Pfizer, sem nenhuma comprovação. A Anvisa disse em nota, na mesma data, que “os dados recebidos ainda são preliminares e necessitam de aprofundamento para confirmar ou descartar a relação causal com a vacina”. Dessa forma, o conteúdo aqui verificado já era enganoso por levar à interpretação de que a morte teria sido pela vacina quando, na verdade, nada estava confirmado.

Um dia depois, 17 de setembro, um comunicado divulgado pelo governo de São Paulo trazia a conclusão de que a morte da adolescente não foi causada pela vacina. O diagnóstico apontou que a causa do óbito, sete dias após a jovem ser imunizada, foi uma doença autoimune, grave e rara, conhecida como Púrpura Trombótica Trombocitopênica. Segundo o infectologista pediátrico André Ricardo Araújo da Silva, a PTT é uma condição que ocorre normalmente na infância, podendo se manifestar na adolescência, em que o organismo apresenta uma queda de plaquetas, um dos componentes do sangue envolvido na coagulação. De acordo com o especialista, a doença é a forma mais comum de queda de plaquetas e, na grande maioria dos casos, é um fenômeno benigno, permitindo que a pessoa se recupere bem. Mas existem alguns casos que, mesmo com tratamento, não evoluem de forma satisfatória.

“Existe um pico, que vai mais ou menos de 2 a 5 anos (de idade), que é a incidência maior, mas pode ocorrer também em adolescentes. A causa da PTT ainda é desconhecida, parece ser um fenômeno imune que ocorre no organismo, mas há algumas relações de como a pessoa adquire. Algumas infecções, como HIV, mononucleose ou outras doenças autoimunes, como lúpus, podem desencadear esses sintomas”, afirmou.

Dentre os 70 profissionais que participaram do diagnóstico da adolescente, estavam especialistas em Hematologia, Cardiologia, Infectologia, médicos dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) do Estado e representantes dos municípios de São Bernardo do Campo, Santo André e São Paulo. O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) estadual também contribuiu para a análise.

Segundo o texto do comunicado, “não é possível atribuir diretamente a doença e óbito à vacinação” e “tal caso não pode ser usado como justificativa para alterar a estratégia de vacinação de adolescentes sem comorbidades”. A doença é rara e grave e não tem “uma causa conhecida capaz de desencadeá-la”, sendo assim “não há como atribuir relação causal” entre ela e as vacinas de RNA mensageiro, como é o caso da Pfizer.

No mesmo dia, a Anvisa informou que se reuniu com a Pfizer, mas no encontro não foram apresentadas novas informações sobre o caso. De acordo com a agência, “até o momento, os achados apontam para a manutenção da relação benefício versus risco para todas as vacinas autorizadas no Brasil, ou seja, os benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos”.

Na segunda-feira (20), a agência confirmou a inexistência de relação causal. Segundo nota, representantes da área de Farmacovigilância da Anvisa se reuniram com membros da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e técnicos do Centro de Vigilância Sanitária e Centro de Vigilância Epidemiológica e concluíram que os dados apresentados pelo governo paulista são “consistentes e bem documentados”.

Procurada pelo Comprova, a Anvisa afirmou que até 15 de setembro houve 32 notificações de eventos adversos de diferentes tipos após a vacinação de adolescentes com a Pfizer, mas nenhum óbito foi relacionado ao produto.

Em nota enviada ao Comprova, a farmacêutica informa estar ciente de relatos raros de miocardite e pericardite, além de outros possíveis eventos adversos, após a aplicação de vacina e leva o acompanhamento e monitoramento desses casos “muito a sério”. Sobre o caso específico do óbito da adolescente em São Bernardo do Campo, diz estar acompanhando e reafirmou que não foi estabelecida uma relação causal entre o ocorrido e o imunizante.

Suspensão

O caso da adolescente foi usado como uma das justificativas do Ministério da Saúde para recomendar a suspensão da imunização em adolescentes sem comorbidades em 16 de setembro. A própria Anvisa, entretanto, manteve a recomendação de vacinação neste grupo, com base em evidências científicas avaliadas e aprovadas pelo órgão.

O ministro Marcelo Queiroga atribuiu o recuo a dúvidas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes em adolescentes. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores pressionaram Queiroga a rever as regras.

Na noite do dia 16, Queiroga enviou um áudio ao programa “Os Pingos nos Is”, da rádio Jovem Pan, no qual afirmou que adolescentes “sem comorbidade, no momento, não serão considerados para a vacinação para a covid”. A gravação era uma resposta às críticas do programa sobre a vacinação dos jovens. Um dos motores da campanha para não vacinar ainda os adolescentes é Ana Paula Henkel, ex-atleta de vôlei e comentarista da rádio.

A medida foi alvo de críticas. Segundo a Folha, o presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, disse que a decisão de restringir a vacinação dos adolescentes é o maior golpe que o PNI (Programa Nacional de Imunizações) recebe em quase 48 anos de atividades.

“Sempre achei que a gente poderia perder esse patrimônio diante de tudo isso que aconteceu no combate à pandemia, mas não [por gesto] vindo de um ministro da Saúde”, afirmou o secretário.

A Anvisa e especialistas recomendam a vacinação de todos entre 12 e 17 anos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que a vacinação de adolescentes não é prioridade, mas tendo vacinas, reforça que todos devem se vacinar.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também divulgou nota de posicionamento em que reafirma a recomendação de vacinar esse público.

Em 20 de setembro, o Ministério da Saúde concluiu, após sete dias de investigação, que a morte ocorreu por Púrpura Trombocitopênica Trombótica, que diz respeito a um distúrbio autoimune.

As informações foram divulgadas pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a partir de uma entrevista com o ministro Marcelo Queiroga.

O ministro ainda afirmou que “mesmo que o caso estivesse vinculado ao imunizante, isso não invalidaria a vacinação [desta faixa etária]. Os benefícios são infinitamente maiores do que os riscos”.

Reportagem do Estadão mostra que, desde o início da pandemia, 7.063 adolescentes foram internados com covid-19 no Brasil. Destes, 60% eram saudáveis, sem nenhum fator de risco para a doença, e 657 morreram. Especialistas ressaltam que os sobreviventes ainda precisam se recuperar das sequelas.

A conclusão do caso, no entanto, não deve fazer o ministério voltar a indicar a vacinação de adolescentes de forma imediata. O ministro afirma que talvez seja necessário segurar o freio por uma questão de “priorização e logística”.

Quem é a adolescente?

Isabelli Borges era de São Bernardo do Campo (SP). Ela, que tinha 16 anos, tomou a vacina no dia 25 de agosto de 2021. O Comprova chegou até a família da adolescente por meio de um repórter que entrevistou a mãe dela para um jornal do ABC Paulista.

Cristiane Borges, a mãe de Isabelli, nos enviou um áudio em que afirmou não ter condições de dar detalhes. A foto do perfil do Whatsapp dela é uma imagem da filha ainda criança. Ela passou o contato de uma amiga, identificada como Juliana, que estaria acompanhando o caso.

Segundo Juliana, após receber a primeira dose do imunizante, Isabelli apresentou algumas reações. Os detalhes sobre o caso foram reportados ao site Vigimed, da Anvisa, e no site da Pfizer, segundo ela.

A jovem foi ao Hospital Coração de Jesus, no ABC paulista, e depois transferida para o Hospital Vida’s Alta Complexidade, na cidade de São Paulo. Após alguns exames, foi informado que a vacina teria “roubado” hemácias e hemoglobinas dela.

Raphael Rangel, do IBMR, afirma que é infundado o argumento de que a vacina “roubou” hemácias e hemoglobinas. Segundo o especialista, isso é impossível de acontecer no mecanismo do imunizante de RNA mensageiro, como a da Pfizer. “Lembrando que a vacina tem por finalidade estimular a produção de anticorpos, então, não tem nenhum tipo de ligação com a questão hematológica do paciente”, afirmou.

Por três vezes, o Comprova solicitou mais informações sobre Juliana, como sobrenome, ocupação e a relação que mantém com a família da adolescente (duas direcionadas a ela e uma terceira a Cristiane), mas não obteve resposta.

Atestado de óbito

Em 2 de setembro de 2021, Cristiane foi chamada ao hospital, onde foi informada sobre a morte da filha.

“Os médicos relataram para a mãe que a jovem sofreu dois infartos, tendo sido descrito na certidão de óbito: ‘Choque cardiogênico, infarto agudo do miocárdio e anemia severa’. É importante ressaltar que ela era uma jovem saudável, não tinha comorbidades, não estava com covid e não tinha anemia”, disse Juliana.

No entanto, a nota do governo de São Paulo ressalta que o grupo de especialistas concluiu que a paciente não apresentou qualquer doença cardiológica e que o quadro clínico e os exames complementares sugerem Púrpura Trombótica Trombocitopênica.

O Comprova pediu para ter acesso ao atestado de óbito da adolescente e foi informado pela amiga da família que, no momento, não era possível “compartilhar nenhum documento” e que o caso está nas mãos dos advogados. A equipe pediu o contato desses advogados, mas não obteve resposta.

“A família tomará as providências necessárias para esclarecer a verdade”, afirmou Juliana, ao ser questionada sobre o posicionamento da família diante da conclusão feita pelo Ministério da Saúde que afastou a possibilidade de a morte ter relação com a vacina da Pfizer.

Procurado pelo Comprova, o Hospital Vida´s Alta Complexidade enviou uma nota, na qual confirma que a jovem esteve internada no local e faleceu, pois “não resistiu aos procedimentos adotados”. Apesar de ter sido solicitado, pelos verificadores, o atestado de óbito, eles não quiseram passar e não deram mais informações sobre a causa da morte, pois “toda e qualquer informação referente ao caso deverá (se assim, concordarem) ser respondida pelos responsáveis da menor”, e que, “obviamente, não fomos autorizados a divulgar mais informações, tampouco o laudo mencionado no atestado de óbito”.

Autora do post

Apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, Valeria Rozen Scher é psicóloga e ficou conhecida nas redes sociais após publicar vídeos em que se recusava a usar máscara ao andar na praia de Búzios, no Rio de Janeiro.

“Continuando a saga das arbitrariedades da pandemia. Pode me prender, mas não vou colocar a p* da máscara!”, escreveu no Twitter em 8 de agosto de 2020. O perfil dela na plataforma conta com mais de 29 mil seguidores.

Em dezembro de 2020, Valeria desejou que 2021 fosse um ano “sem distanciamento e isolamento”. A psicóloga bolsonarista disse ainda que tem orgulho de estar entre as pessoas que não aceitam as medidas restritivas.

O uso de máscaras foi recomendado pela OMS para fornecer uma barreira contra as gotículas potencialmente infecciosas da covid-19. A organização deixou claro, no entanto, que apenas as máscaras não seriam suficientes para combater a pandemia, sendo necessário aliar o distanciamento social e a higiene das mãos. Mais tarde, quando as vacinas estavam disponíveis, o órgão passou a recomendá-las também.

O Ministério da Saúde do Brasil determina o uso obrigatório de máscaras para ambientes internos e externos, ficando a cargo dos estados e municípios determinar quais serão as punições aplicadas a quem descumprir a orientação.

Em postagens nas redes sociais, Valeria aparece ao lado de personalidades que apoiam o governo Bolsonaro em fotos e vídeos. Em um dos muitos registros ao lado da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), ambas aparecem para apoiar a candidatura de Alberto Szafran para vereador do Rio de Janeiro nas eleições de 2020.

A médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes para combater a covid-19, também aparece ao lado de Valeria. A foto foi compartilhada em 2 de junho deste ano. Na legenda, ela detalha que a imagem é do dia em que conheceu Yamaguchi e que, no mesmo momento, estavam “entre amigos. Pessoas do bem, pensando em um país melhor”.

Procurada pelo Comprova, ela apenas disse, por mensagem, que “a família está tomando as providências necessárias para os fatos serem devidamente esclarecidos”.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O tuíte verificado aqui teve mais de 8 mil interações.

Conteúdos que tentam desacreditar as vacinas ou minimizar os riscos da pandemia são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.

O Comprova já publicou diversos conteúdos sobre imunização, como o do médico que engana ao afirmar que as vacinas não funcionam contra a variante delta, o de post que desinforma afirmando que o CDC e Anthony Fauci não acreditam nos imunizantes e o de médica que engana ao afirmar que vacinas são experimentais.

Enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Política

Investigado por: 2021-09-17

Vídeo omite ações de governos anteriores para exaltar obras de Bolsonaro na Transamazônica

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo engana ao indicar que a Transamazônica passou por melhorias só no governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Apesar de o trecho onde o vídeo foi gravado – entre as cidades de Marabá e Pacajá, no Pará – realmente ter recebido reparos da atual gestão, há registros de obras executadas também em governos anteriores.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no TikTok mostra trecho de rodovia e é narrado por um homem que diz: “Olha aí, PTzada, aqui é a Transamazônica, uma via que ficou por mais de 60 anos o pessoal sofrendo com atoleiros e agora tá desse jeito, ó”, referindo-se à boa condição da via. Em seguida, acrescenta: “Por que o PT de vocês não fez durante tantos anos?”, dando a entender que a pavimentação é recente.

É enganoso um vídeo no TikTok que mostra um trecho da Rodovia Transamazônica (BR-230) no qual, segundo o autor, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez melhorias enquanto o governo petista nada fez durante anos.

De acordo com o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), foi feita a aplicação de microrrevestimento asfáltico pela gestão federal de Bolsonaro no segmento mostrado no vídeo, mas a pavimentação já existia. O Comprova verificou que governos anteriores, incluindo os petistas, também realizaram obras no trecho.

As imagens foram feitas entre a zona urbana da cidade de Novo Repartimento e o distrito de Maracajá, na zona rural do município, localizado no sudoeste do estado.

Pelo Google Street View, a reportagem conseguiu comparar a situação da via em 2019 com as imagens do vídeo. O trecho já tinha asfalto, porém, a pavimentação estava deteriorada e a ponte era de madeira.

Procurado pelo Comprova, o autor informou ter passado pelo local pela primeira vez e que conhecia o trecho entre Marabá e Pacajá por reportagens, que normalmente falavam sobre o estado crítico da Transamazônica.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confundem, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova analisou outros vídeos postados pelo autor antes e depois do conteúdo aqui verificado e identificou que ele havia passado por Marabá, no sudeste do Pará, em direção a Pacajá, na região sudoeste do estado. As duas cidades são ligadas pela Rodovia Transamazônica.

A partir do nome completo do autor do vídeo, que consta na descrição do perfil no TikTok, o Comprova localizou outras redes sociais dele e chegou a um número de telefone funcional. Em seguida, entrou em contato, e o homem confirmou que o trecho onde havia feito a gravação fica entre os municípios de Marabá e Pacajá, distantes 286 quilômetros um do outro.

Ele não soube informar, contudo, em que ponto da rodovia filmou, alegando ser a primeira vez que passava pelo local. Em contato com o escritório do DNIT em Marabá, a reportagem foi informada por um servidor que o trecho aparentava ser entre Novo Repartimento e Pacajá, distantes 106 quilômetros uma da outra.

A partir disso, a equipe começou a fazer buscas via Street View até localizar pontos em comum na captura do Google e no vídeo, confirmando onde ele foi feito.

Em seguida, o Comprova entrou em contato com a assessoria de comunicação do DNIT e do PT.

Verificação

Vídeo mostra trecho da Transamazônica em Novo Repartimento

O vídeo foi gravado próximo à vicinal do Toucinho, em um ponto da Transamazônica entre a zona urbana de Novo Repartimento e o distrito de Maracajá, na zona rural do município, no sudoeste do Pará.

| Ponto onde o vídeo foi gravado. Captura realizada pelo Comprova em 16 de setembro de 2021.

Pelo Google Street View, o Comprova identificou pontos em comum com o vídeo, conseguindo localizar onde ele foi gravado.

As imagens da plataforma foram realizadas em outubro de 2019, quando a ponte por onde o autor do vídeo passa, sobre o igarapé Butique, ainda estava em processo de construção:

| Captura do vídeo verificado feita pelo Comprova em 15 de setembro de 2021

Percebe-se que, àquela época, o trecho já era asfaltado, mas, em comparação com o vídeo, verifica-se que passou por revitalizações, além de ter ocorrido a conclusão da ponte de concreto que em 2019 já estava em construção. Antes, os veículos passavam por uma estrutura de madeira.

Outros pontos de identificação analisados pelo Comprova foram uma casa à esquerda da rodovia, logo após a ponte, e um barranco à direita:

| Captura do vídeo verificado feita pelo Comprova em 15 de setembro de 2021

| Captura do vídeo verificado feita pelo Comprova em 15 de setembro de 2021

| Captura do Street View [imagem de outubro de 2019]

Mais dois pontos em comum são duas manilhas para escoamento da água da chuva:

| Captura do vídeo verificado feita pelo Comprova em 15 de setembro de 2021

| Captura do Street View [imagem de outubro de 2019]

Por fim, ao final do vídeo, também é possível enxergar um morro ao lado esquerdo da rodovia:

| ​​Captura do vídeo verificado feita pelo Comprova em 15 de setembro de 2021

| Captura do Street View [imagem de outubro de 2019]

Ao Comprova, o autor afirmou ter gravado o vídeo entre Marabá e Pacajá, mas não soube dizer em que ponto exato. Quanto às críticas que fez à situação da rodovia, justificou afirmando que conhecia, por meio de reportagens, o estado que era a Transamazônica entre as duas cidades. “Há detalhes que não acrescentei no vídeo. As pontes, que ainda eram de madeira, mas estão todas semiprontas, agora de concreto e enormes”, acrescentou.

Trecho passou por manutenção no atual governo

O Comprova descobriu que o autor do vídeo fez o seguinte caminho: saiu de Marabá, Itupiranga, Novo Repartimento, passando pelo distrito de Maracajá, e seguiu até Pacajá. Pelo Street View a reportagem identificou que as imagens foram gravadas por ele no ponto entre Novo Repartimento e Maracajá.

Em 2019, data da captura das imagens pela plataforma acessadas pelo Comprova, o trecho já tinha asfalto, porém a pavimentação estava deteriorada e a ponte ainda era de madeira. Próximo a ela, há um acúmulo de terra. O mapa mostra o caminho:

De acordo com o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que respondeu o Comprova por e-mail, no segmento mostrado no vídeo foi feita a aplicação de microrrevestimento asfáltico. Dessa forma, não houve execução de obra propriamente dita, mas, sim, um serviço de melhoria. Esse microrrevestimento foi feito pela atual gestão do governo federal.

O caminho entre Marabá e Pacajá, de mais de 280 quilômetros, é composto por trechos que tinham asfalto antes do governo Bolsonaro, como o registrado pelo vídeo aqui verificado, e lugares que não.

Em junho deste ano, por exemplo, o governo federal concluiu a pavimentação do trecho entre as cidades de Itupiranga e Novo Repartimento. As obras no segmento de 102 quilômetros da rodovia estavam paradas desde 2013.

Governos anteriores também fizeram obras

Não são poucos os registros na imprensa sobre a precariedade do trecho entre Marabá e Pacajá até algum tempo atrás, sejam oriundos de manifestações populares por melhorias, sejam notícias de caminhões e ônibus atolados no lamaçal.

Há quatro anos, no governo de Michel Temer (MDB), uma reportagem feita pelo Brasil de Fato sobre a Transamazônica no Pará, mostra a má situação de trechos entre Marabá e Novo Repartimento, informando que ao menos metade dos 180 quilômetros que separam as duas cidades ainda era estrada de terra. Na ocasião, contudo, estavam sendo realizadas obras de pavimentação.

Em 2017, com Temer como presidente, o escritório do DNIT em Marabá informou que alguns trechos de obras entre Marabá e Pacajá estavam paralisados por falta de orçamento, mas outros continuavam sendo realizados.

Na ocasião, o trecho entre Pacajá e Novo Repartimento, onde o vídeo foi gravado, já havia sido concluído, e obras estavam sendo realizadas próximas a Marabá. Além disso, o órgão informava que em relação às pontes ainda havia necessidade de se fazer licitação para a construção.

Além do governo Temer, há registros de obras executadas em governos petistas. Em 2015, com Dilma, o Ministério da Infraestrutura apresentou ao Senado um relatório detalhando a situação das obras rodoviárias no Pará.

Conforme o documento, na ocasião estava concluído o trecho entre Marabá e Itupiranga. Já o seguinte, de Itupiranga a Novo Repartimento, possuía 85 quilômetros ainda sem pavimentação, e de Novo Repartimento a Pacajá faltavam mais 35 quilômetros de asfalto.

Em dezembro de 2010, o governo Lula publicou um balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nos anos entre 2007 e 2010 no estado do Pará. O relatório destaca que o trecho entre Marabá e Altamira, que inclui o trecho aqui verificado, estava em obras na época.

| Captura de tela realizada pelo Comprova em 16 de setembro de 2021

Procurada pelo Comprova e indagada sobre as obras dos governos petistas na Transamazônica, a assessoria de imprensa do PT pediu para a reportagem entrar em contato com a Fundação Perseu Abramo. Esta, por sua vez, não respondeu o questionamento, apenas enviou links de matérias sobre a BR-163, que não tem a ver com a Transamazônica. Além disso, mandou uma cartilha que aborda de forma ampla obras do governo no período e cita o CREMA (Contratos de Restauração e Manutenção Rodoviária), que teria garantido mais qualidade nas rodovias.

A Transamazônica foi idealizada pelo regime militar e começou a ser aberta na década de 1970. São cerca de 1.800 quilômetros que ligam a cidade de Estreito, na divisa entre o Maranhão e o Tocantins, e Palmares, na divisa entre o Pará e o Amazonas. A rodovia nunca foi totalmente finalizada.

Quem é o autor do vídeo

O vídeo foi postado pelo usuário @jomarsoareslopes2 do TikTok, que se descreve como empresário de Redenção, município do sul paraense. Procurado, ele informou ter gravado o vídeo entre Marabá e Pacajá, sem saber em que cidade exatamente, afirmando nunca ter trafegado pela rodovia antes.

Ele justifica o vídeo declarando que conhecia, via reportagens, o estado em que estava a Transamazônica entre Marabá e Pacajá. De fato, trechos por onde ele passou não haviam sido asfaltados até pouco tempo, mas o que aparece no vídeo já possuía pavimentação asfáltica antes do atual governo.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que tenham viralizado, como o caso do vídeo aqui verificado, que teve mais de 630 mil visualizações no TikTok e gerou entendimentos de que o PT nunca fez obras no trecho, como deixam claro comentários que dizem “PT (assalto) Bolsonaro (asfalto)” e “não dava tempo (para o PT) de fazer asfalto, primeiro tinha que desviar verbas”.

Neste caso, a publicação envolve o nome de Jair Bolsonaro, possível candidato à reeleição, e do Partido dos Trabalhadores, que também pode lançar um nome para concorrer ao cargo de presidente nas eleições do próximo ano. Postagens desta natureza podem comprometer a avaliação dos eleitores no momento de decidir por um candidato.

Em 2021, o Comprova já verificou diversos conteúdos relacionados a obras, como as postagens que atribuem a Bolsonaro execução de 2015 feita governo de São Paulo; um vídeo que mostra recapeamento feito pela União, não obra do governo baiano para atrapalhar o presidente; e outro que engana ao atribuir obra no Rio Grande do Norte apenas à gestão do atual governo.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2021-09-15

Maioria dos países europeus com taxa de vacinados igual ou inferior ao Brasil recomenda uso de máscara

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte engana ao afirmar que o uso da máscara foi abolido pelas autoridades em "muitos países europeus, menos vacinados (do que o Brasil)". De 27 nações europeias que imunizaram 66% de sua população (índice de brasileiros vacinados com a primeira dose) ou menos, 26 recomendam o uso de máscaras; alguns, inclusive, multam quem circular sem a proteção facial.
  • Conteúdo verificado: Tuíte que pergunta “até quando vai ser obrigatório o uso de máscaras?”, e diz que “muitos países europeus, menos vacinados, já aboliram o uso obrigatório”.

É enganoso o tuíte segundo o qual “muitos países europeus, menos vacinados (do que o Brasil)”, aboliram o uso obrigatório de máscaras como medida de segurança contra o novo coronavírus. O índice de brasileiros imunizados com pelo menos uma dose em 14 de setembro era de 66% segundo a plataforma Our World in Data, e, na mesma data, de 27 nações europeias com índice igual ou menor, 26 continuam recomendando o uso da proteção facial.

A Alemanha, por exemplo, recomenda fortemente que a máscara “seja usada em locais onde pode ser difícil manter a distância de segurança” – em Berlim, especificamente, é obrigatória a utilização do modelo PFF2 no transporte público. No Chipre, a regra é mais rígida: quem for visto sem máscara em locais públicos fechados ou abertos pode ser multado em 300 euros, o equivalente a cerca de R$ 1.857, com base na cotação de 15 de setembro. Os dois países estavam com 66% da população imunizada, mesma taxa que o Brasil, em 14 de setembro.

A postagem foi feita pelo perfil @monark no Twitter. A reportagem tentou entrar em contato com o autor do post, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O conteúdo foi considerado enganoso pelo Comprova por usar dados imprecisos com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

No Our World in Data, site ligado à Universidade de Oxford que coleta dados sobre a pandemia, conferimos os índices de vacinação de países europeus e, com esses dados, entramos nos sites do Ministério da Saúde de nações que apresentavam taxa igual ou inferior à do Brasil para checar as recomendações em relação às máscaras.

Buscamos ainda, no site do Ministério da Saúde brasileiro, as diretrizes sobre o uso de máscaras de proteção individual.

Além disso, buscamos atualizações das medidas de prevenção ao coronavírus nos portais de 27 países da Europa que vacinaram até o momento menos de 66% da população total.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de setembro de 2021.

Verificação

Ritmo da vacinação na Europa

Conforme a plataforma Our World in Data, 42,3% da população mundial recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid até o início desta semana, tendo sido administradas 5,76 bilhões de doses. Atualmente, são aplicadas, em média, 33 milhões de doses ao dia.

Na Europa, a vacinação segue com disparidade entre os países. Enquanto alguns possuem mais de 80% da população vacinada, como Portugal (87%), Malta (81%) e Espanha (80%), outros sequer chegaram aos 20%, como Bósnia e Herzegovina (19%), Bielorrússia (18%), Bulgária (16%), Moldávia (14%) e Ucrânia (14%), todos no leste europeu.

Onze países do continente estão na faixa entre 60% e 69% dos habitantes vacinados ao menos com a primeira dose, mesmo recorte em que se encontra o Brasil, atualmente com 66% da população tendo recebido a primeira dose do imunizante.

| Fonte: Our World in Data

Máscara em países europeus

Diferentemente do que afirma o post, a maioria dos países europeus com taxa de vacinados igual ou inferior à do Brasil (até 14 de setembro) continua recomendando, ou exigindo, o uso da proteção facial. A seguir, confira a política em relação ao uso de máscaras em cada uma dessas nações, segundo seus governos:

Chipre: uso obrigatório em espaços públicos fechados e abertos; cobrança de multa de 300 euros para quem desobedecer a regra.

Alemanha: proteção é fortemente recomendada em locais onde é difícil manter distanciamento social.

Lituânia: a máscara deve ser usada.

Áustria: população deve usar máscara PFF2 em espaços como transporte público, mercados, museus e lojas.

Turquia: a máscara é obrigatória em público.

Grécia: penalidades para quem não usar máscara incluem suspensão no trabalho, na escola (para estudantes) e proibição de viagens.

Liechtenstein: uso obrigatório no transporte público e em locais onde não é possível manter o distanciamento.

Suíça: Uso obrigatório de máscaras em transportes públicos e aviões, áreas de acesso público, em eventos e no trabalho.

República Tcheca: Uso obrigatório de máscara e a recomendação é para que sejam utilizadas máscaras com ao menos 94% de filtragem, como a PPF2 ou N95.

Polônia: desde 30 de agosto não é mais obrigatório o uso em locais ao ar livre, mas, em espaços fechados, o país mantém o uso obrigatório.

Eslovênia: uso obrigatório.

Letônia: deve-se usar no transporte público e áreas internas com mais de uma pessoa.

Eslováquia: segue em vigor o uso da proteção em ambientes internos em bairros com alto grau de perigo. Em outras regiões, pode-se usar, por exemplo, lenço ou xale para proteger boca e nariz.

Sérvia: último decreto foi publicado em 5 de setembro, reforçando a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados.

Croácia: medidas preventivas baseiam-se em recomendações como o uso de máscara.

Cazaquistão: a máscara deve ser usada em ambientes públicos internos e externos e no transporte público; o descumprimento pode resultar em penalidade administrativa.

Macedônia do Norte: não é preciso mais usar máscara em locais abertos, exceto quando houver um grupo de pessoas; proteção deve ser usada em locais fechados, como mercados e lojas, e há multa de 20 euros por descumprimento.

Montenegro: utilização obrigatória em locais fechados e ambientes abertos onde não é possível manter o distanciamento.

Rússia: a obrigatoriedade da máscara segue em vigor.

Albânia: o uso de proteção facial segue necessário em todos os espaços públicos internos.

Romênia: as máscaras seguem sendo obrigatórias em espaços públicos fechados e em áreas ao ar livre lotadas.

Bósnia e Herzegovina: a utilização de máscara é obrigatória em todos os espaços públicos.

Bielorrússia: segue sendo obrigatório o uso das máscaras de proteção em ambientes internos e externos.

Bulgária: o uso de máscaras segue sendo obrigatório em espaços fechados e ambientes ao ar livre com mais pessoas.

Moldávia: a proteção facial segue sendo necessária em espaços públicos, ambientes fechados e no transporte público.

Ucrânia: a máscara segue obrigatória em ambientes fechados e no transporte público.

Já a Hungria, que havia vacinado 61% de sua população com uma ou duas doses até 14 de setembro, anunciou o fim da obrigatoriedade em julho – o equipamento deve ser utilizado apenas em hospitais e instituições sociais.

Máscara no Brasil

A lei que tornou obrigatório o uso de máscaras de proteção individual em espaços públicos e privados durante a pandemia da covid-19 foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e publicada no Diário Oficial da União em 3 de julho de 2020. A legislação autorizava estados e municípios a regulamentarem regimes de multas mediante o descumprimento da lei.

A obrigatoriedade do uso da proteção facial foi estabelecida para vias públicas e transportes públicos coletivos, como ônibus e metrô, assim como em táxis e carros de aplicativos, ônibus, aeronaves ou embarcações de uso coletivo fretados. Segundo a lei, as máscaras podem ser artesanais ou industriais.

Na altura, ainda não havia dados suficientes indicando que máscaras PFF2 ou N95 eram a melhor recomendação para se proteger contra a covid-19. A popularização de modelos mais seguros de máscaras, baseada em uma melhor vedação e filtragem evidenciada em estudos científicos, começou a ocorrer a partir do primeiro trimestre de 2021.

Antes disso, os acessórios de maior proteção eram apenas destinados a profissionais da saúde ou da construção civil e passaram a ser item essencial para proteger toda a população e reduzir a propagação do vírus.

No mesmo dia em que a lei entrou em vigor, o Brasil registrou 1.631 mortes em 24 horas, totalizando 523.699 óbitos pela covid-19 desde o início da pandemia. O país completava uma semana com tendência de queda na média móvel de mortes.

Embora estivesse em queda há uma semana, o índice continuava alto e permanecia acima de 1.000 mortes há 164 dias. Os dados foram obtidos pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL, o Estadão, Folha de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra fazem parte.

Até o fechamento desta reportagem, o país registrava 587.847 mortes, desde o início da pandemia. Segundo dados do consórcio de imprensa de 14 de setembro, o país teve 520 óbitos como média móvel, após seis dias com o índice abaixo de 500.

A média móvel é o cálculo da média diária de mortes a partir dos dados dos últimos sete dias. O número é considerado como o mais confiável para avaliar se houve avanço ou regresso da pandemia.

Contra a proteção facial

O presidente Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já fizeram declarações contra o uso obrigatório de máscaras de proteção individual contra a covid-19, determinada por lei.

Alinhado ao presidente, Queiroga disse acreditar que o uso de máscaras tem que ser “um ato de conscientização”, em vez de uma determinação do Estado. As declarações foram feitas durante uma entrevista ao canal bolsonarista do YouTube Terça Livre em agosto de 2021.

Segundo o ministro, o uso obrigatório de máscaras gera uma “uma indústria de multas”. Queiroga sinalizou ainda que pretendia desobrigar o uso obrigatório do item até o final deste ano.

As declarações foram feitas mesmo com o avanço da variante delta no país, mais transmissível que a gama — antiga P.1 —, que circulava em Manaus, no Amazonas e havia gerado o colapso do sistema de saúde devido ao avanço acelerado de contaminações.

A delta foi registrada pela primeira vez na Índia e se tornou a mutação mais contagiosa da covid-19.

Em comparação com as anteriores, a delta é entre 40% e 60% mais contagiosa do que a variante alfa, detectada na Inglaterra, e quase duas vezes mais transmissível do que a cepa original identificada em Wuhan, China, segundo informações publicadas pelo governo britânico e divulgadas pela BBC. Quando comparada com a gama, segundo estudo feito por pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Imperial College, do Reino Unido, tem taxa de transmissão 34% maior.

O autor do post

O perfil @monark no Twitter pertence a Bruno Aiub, que se define no Linkedin como “um dos maiores influenciadores gamers da internet”. Ele apresenta o Flow Podcast, onde já entrevistou nomes que vão do humorista Dedé Santana e o DJ Alok ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Tem 1,1 milhão de seguidores no Twitter e mais de 3,3 milhões em seu canal pessoal no YouTube.

Já fez outra declaração menosprezando a importância de medidas contra a disseminação do coronavírus, como o lockdown. Em 4 de março, escreveu em seu perfil no Twitter: “Eu sinto que o lockdown é uma medida política, eu desconfio da sua eficiência em mitigar a pandemia nesse momento”. No dia seguinte, após críticas, publicou: “Lockdown que ignora a realidade da vida dos mais necessitados, eu sou contra. É fácil pedir sem ter que olhar na cara de uma mãe de família desesperada porque não sabe da onde vai vir o dinheiro do alimento”.

A reportagem entrou em contato com o autor do post, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal, eleições e pandemia, que viralizam nas redes, como é o caso da postagem aqui verificada, que teve mais de 6,6 mil retuítes e 10,1 mil curtidas até 15 de setembro.

A disseminação de informações falsas ou enganosas que desacreditam o uso de máscaras e outros cuidados contra a covid pode colocar a saúde das pessoas em risco. Até o momento, a proteção facial é uma das poucas formas comprovadas de se evitar a contaminação. Outras são o distanciamento social, a higienização constante das mãos e a vacinação.

Esse mesmo conteúdo foi analisado pelo UOL Confere.

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