O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2022-02-22

Post engana ao relacionar morte de criança com CoronaVac; investigação segue em aberto

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um post no Twitter que relaciona a morte de um menino de 10 anos no Rio de Janeiro à vacinação com a CoronaVac. Procurada pelo Comprova, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informou que a investigação sobre o caso ainda está em aberto, de modo que não é possível afirmar, com as informações ora disponíveis, que a morte foi causada pela vacina. Os exames laboratoriais realizados até o momento afastam essa possibilidade.
  • Conteúdo verificado: Um post no Twitter traz imagens do relato de uma mãe que afirma que seu filho morreu dias após receber a primeira dose da CoronaVac. A autora do tuíte comenta: “CORONAVAC 10 anos! ASSASSINOS!”, insinuando que a vacina contra a covid-19 teria sido responsável pela morte do menino de 10 anos.

É enganoso um post no Twitter que relaciona a morte de um menino de 10 anos no Rio de Janeiro à vacinação com a CoronaVac, imunizante contra a covid-19 produzido no Brasil pelo Instituto Butantan. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informaram ao Comprova que a investigação sobre o caso segue em aberto, de modo que não é possível afirmar, com as informações ora disponíveis, que a morte foi causada pela vacina.

O tuíte traz imagens de um relato da mãe da criança, Shirlene Souza Trindade, no Facebook. Ela afirma que seu filho recebeu a primeira dose da CoronaVac em 27 de janeiro. Depois, teria começado a apresentar sintomas como febre e dor na coluna. A mãe diz que o braço direito do menino, no qual recebeu a vacina, ficou inchado, “umas cinco vezes maior”. Após fazer consultas no Hospital Municipal Rocha Faria e em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ele teria sido internado no Hospital Municipal Pedro II, onde morreu de parada cardíaca em 6 de fevereiro. Segundo Shirlene, os médicos do Pedro II trataram o caso do paciente “o tempo todo como suspeita da vacina”.

Procurada pelo Comprova, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que uma investigação foi aberta sobre o caso, mas garantiu que “em nenhum momento, durante o atendimento no HMP II, os médicos tenham relatado tratar-se de caso de efeito adverso à vacina”. O órgão informa que o diagnóstico do menino foi de choque séptico de foco cutâneo devido a artrite séptica ou uma celulite no braço esquerdo — não no braço direito, no qual foi aplicada a vacina em no menino.

Ainda de acordo com a secretaria, um exame de antibiograma feito na véspera da morte, em 5 de fevereiro, registrou a presença no sangue do menino do microrganismo Staphylococcus aureus (MRSA+). “Trata-se de uma bactéria resistente a vários antibióticos e que, infelizmente, causou o quadro de sepse”, diz a nota do órgão. Embora a investigação ainda esteja em andamento, “todos os exames laboratoriais até o momento afastam a possibilidade de reação vacinal”, afirma a secretaria.

A Anvisa também informou, em nota ao Comprova, que “a investigação segue em andamento, não sendo possível confirmar a causalidade com a vacinação”.

O Comprova entrou em contato com Shirlene, a mãe do menino, por meio do Facebook e do Instagram, mas não obteve resposta. Depois disso, ela excluiu o post com o relato sobre a morte do filho do Facebook.

O Comprova também tentou contatar a autora do post aqui verificado, feito no Twitter, que se identifica como ChrisF. A conta, porém, até o dia 21 de fevereiro de 2022, não permitia o envio de mensagens privadas. Sem o sobrenome da autora, não foi possível encontrá-la em outras redes sociais.

O conteúdo foi classificado como enganoso porque usa informações imprecisas sobre um caso real para chegar a uma conclusão que, por ora, não tem sustentação.

Como verificamos?

Começamos a verificação fazendo contato com a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro e com a Anvisa. Questionamos se as autoridades de saúde tinham conhecimento sobre o caso, se as informações divulgadas pela mãe eram verdadeiras, se existia alguma investigação sobre a morte do menino, se a apuração já havia sido finalizada e qual sua conclusão. Por fim, se houve relação da morte com a vacina contra a covid-19.

O Comprova também procurou o Instituto Butantan, responsável pela produção da CoronaVac no país.

Em seguida, tentamos contato diretamente com os hospitais em que o menino foi atendido, mas, por serem municipais, as instituições se manifestam somente via Secretaria Municipal de Saúde. Enviamos mensagem a um dos médicos que atendeu a criança, mas o profissional informou que, por orientação do hospital e de seu advogado, não iria se manifestar sobre o caso.

Conversamos com o pediatra e infectologista Daniel Jarovsky, da Santa Casa de São Paulo, para entender o que é o microrganismo Staphylococcus aureus (MRSA+), como se manifesta, que tipo de sintomas provoca e se pode levar à morte.

A mãe do paciente, Shirlene Souza Trindade, foi contatada pelo Comprova pelo Facebook e também em seu perfil no Instagram, mas não deu retorno.

Não conseguimos contato com a autora do post aqui verificado, que compartilha no Twitter imagens do relato de Shirlene, uma vez que o envio de mensagens privadas não está habilitado em sua conta. A autora também não inclui seu sobrenome, intitulando-se apenas como “Chris F”. Analisamos as postagens mais recentes feitas pela conta em questão no Twitter. Os conteúdos, em sua maioria, são contrários à vacinação contra a covid-19.

Foi feita ainda uma busca no Google, no dia 20 de fevereiro de 2022, por palavras-chave como “morte”, “menino”, “rj”, “vacina”, “covid” e pelo nome do menino. Entre os 10 primeiros links encontrados, dois eram sobre o caso verificado nesta checagem. O primeiro, uma peça de desinformação publicada em um site de “conteúdo conservador”, que apenas reproduz o relato da mãe, sem citar outras fontes; o segundo, um vídeo no YouTube, também reproduzindo o relato da mãe, publicado no canal Patriota Brasil, que costuma veicular conteúdos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Não foram encontradas reportagens jornalísticas sobre o caso.

Os demais links encontrados durante a pesquisa foram reportagens com o serviço de vacinação de crianças contra a covid-19, uma matéria sobre o caso de outro menino, investigado em Minas Gerais, cuja conclusão das autoridades de saúde descartou a relação entre óbito e vacina, e outro caso desmentido pela Agência Lupa associado ao mesmo tema.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de fevereiro de 2022.

Verificação

Hospitalização e morte da criança

O menino foi vacinado no dia 27 de janeiro de 2022, com a primeira dose da CoronaVac. Uma foto da caderneta de vacinação, compartilhada pela mãe, informa que a segunda aplicação estava prevista para o dia 24 deste mês. No relato, ela afirma que a imunização aconteceu em uma unidade da Clínica da Família, local similar a um posto de saúde. O endereço exato não foi divulgado.

Ainda de acordo com a mãe, dias depois da vacinação, o menino foi levado duas vezes ao Hospital Municipal Rocha Faria. Ela publicou uma foto com o receituário prescrito na primeira consulta, que ocorreu no dia 31 de janeiro. Quem assina o documento é um médico ortopedista e traumatologista. Procurado, ele preferiu não se manifestar sobre o caso.

Foi receitado ao menino Nimesulida (anti-inflamatório), Dipirona (analgésico e antipirético) e uso de gelo na região em que a criança estava com dor. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ele procurou atendimento com dores na lombar.

A mãe relata que, no segundo atendimento no Hospital Rocha Faria, a recomendação médica foi de seguir com a administração dos remédios. A data em que esse atendimento aconteceu não foi informada.

O terceiro atendimento, segundo o relato da mãe, ocorreu em uma Unidade de Pronto Atendimento. De acordo com ela, o estado de saúde da criança foi considerado muito grave pela equipe da unidade. Foi solicitada transferência, e o menino foi levado ao Hospital Municipal Pedro II. Isso teria ocorrido no dia 3 de fevereiro.

Conforme a mãe, a criança ficou internada por dias na unidade e teve febre, dor e bolhas de água pelo corpo, falta de ar e hemorragia no pulmão. Apenas a febre foi confirmada pela Secretaria de Saúde, que se limitou a informar que o menino teve piora no quadro e aparecimento de mais sintomas, sem especificá-los.

A mãe diz que os médicos do Hospital Pedro II trataram o caso como suspeita de reação à vacina, o que é negado pela Secretaria de Saúde e pela Prefeitura do Rio de Janeiro. As falas da pasta e da administração também contestam a versão da mãe do menino sobre as dores no braço direito, local onde a vacina foi aplicada. No texto, ela diz que esse membro inchou, ficando cinco vezes maior que o tamanho normal. Em nota, a prefeitura informou que, durante a internação, o menino foi diagnosticado com uma celulite no braço esquerdo, que seria uma infecção das partes mais profundas da pele.

O paciente teve uma sequência de paradas cardíacas no dia 6 e acabou morrendo. Um dia antes, foi feita uma coleta de sangue e, após exame, foi identificada a bactéria causadora da sepse. A informação é da prefeitura. Por não se tratar de morte violenta, o corpo não foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).

No relato, a mãe diz que procurou a Clínica da Família para avisar sobre a morte e as reações que acreditava terem sido causadas pela vacina. De acordo com a secretaria, a investigação sobre a suposta relação começou nesta data.

Ao Comprova, a Anvisa informou que investiga o caso e que, neste momento, não é possível confirmar a vacinação como causa da morte. O Instituto Butantan também respondeu aos questionamentos da equipe dizendo que, até então, não há indícios de que o óbito tenha relação com a CoronaVac.

Infecção por bactéria

A bactéria Staphylococcus aureus, identificada no menino a partir de exame de sangue, é considerada comum, afirmou ao Comprova o pediatra e infectologista Paulo Daniel Jarovsky, da Santa Casa de São Paulo. De acordo com o médico, ela é geralmente encontrada na pele ou em regiões como nariz e garganta.

“A bactéria convive com o ser-humano nesses lugares, pele, garganta, nariz. E, basicamente, ela não causa infecção, a não ser que ocorra alguma ruptura da pele ou algum desbalanço do equilíbrio das bactérias”, explica.

Conforme Jarovsky, a contaminação ocorre quando a bactéria presente na superfície da pele entra no organismo, o que pode acontecer por meio de uma queimadura ou de infecções respiratórias, como resfriado e covid-19. Se a área não for esterilizada, até mesmo a perfuração de uma agulha ou outro objeto poderia ser um caminho para a bactéria entrar no organismo – não há provas de que esse tenha sido o caso do menino.

Os sintomas dependem de onde ela se aloja. No pulmão, por exemplo, pode causar pneumonia. Já no cérebro, meningite. Qualquer um desses casos, explica Jarovsky, pode levar a sepse. “Sepse é o quadro mais dramático, severo, mais grave de uma infecção, em que você tem um desarranjo de vários órgãos do corpo, em decorrência dessa infecção, que leva a uma inflamação generalizada e, se a sepse não for tratada adequadamente, ela pode evoluir para um choque séptico, falência de múltiplos órgãos e morte”, detalha o médico.

No caso do menino, a Secretaria Municipal da Saúde usou a sigla MRSA+ para descrever a bactéria encontrada. Jarovsky afirma que isso significa “resistente a meticilina”, antibiótico tipicamente usado no tratamento dessa infecção. O tratamento neste caso exigiria o uso de antibióticos mais “amplos e/ou potentes” para dar conta de vencer a bactéria.

A celulite infecciosa, também citada no laudo do menino, é uma infecção das partes mais profundas da pele. Já a artrite séptica, esclarece o especialista, caracteriza-se pelo alojamento da bactéria no líquido das articulações, principalmente de joelho e quadril.

“A bactéria [Staphylococcus aureus] é compatível tanto com uma celulite, quanto com uma artrite séptica, tem uma plausibilidade, sim, e poderia levar à morte se não tratado adequadamente. Não só adequadamente, mas prontamente”, conclui o pediatra.

Mortes por vacinas contra a covid-19

Não há registros de mortes de crianças devido à aplicação de vacinas contra a covid-19 no Brasil. A informação, constatada em checagem recente do Comprova, foi reafirmada na última semana pelo diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.

O Instituto Butantan, responsável pela produção da CoronaVac, também afirmou ao Comprova, em nota enviada por e-mail, que não foram confirmados óbitos de crianças por reação do imunizante nas mais de 300 milhões de doses aplicadas ao redor do mundo.

A vacina já está em uso em crianças de 5 a 11 anos em 30 países. Somente nos Estados Unidos e no Canadá, aproximadamente 10 milhões de doses foram aplicadas.

Conforme Barra Torres, nos EUA, apenas dez crianças tiveram efeitos adversos mais graves após a vacina, mas todas elas já receberam alta médica.

Autoria do post

A conta no Twitter responsável pela publicação do conteúdo checado, identificada como “ChrisF”, foi criada em 2019 e possui mais de 37 mil tweets. No topo do perfil, a usuária, que, pela foto, parece ser uma mulher, fixou uma imagem com uma frase em inglês que põe em dúvida a existência da pandemia. Em tradução livre: “Uma pandemia real não precisaria de uma campanha de marketing.”

A conta costuma publicar e compartilhar conteúdos contrários à vacinação e à exigência de passaporte vacinal. As publicações também questionam a existência de mudanças climáticas e colocam em cheque outras informações já comprovadas cientificamente. Alguns conteúdos apoiam o presidente Jair Bolsonaro e criticam políticos de esquerda.

Até a manhã do dia 22 de fevereiro de 2022, a conta era seguida por mais de 4,8 mil pessoas.

Por que investigamos?

O Comprova atua na verificação de conteúdos suspeitos sobre a pandemia do coronavírus, políticas públicas e eleições que tenham viralizado nas redes sociais. No caso da covid-19, informações falsas ou enganosas prejudicam o combate à doença porque podem levar a população a deixar de adotar medidas preventivas e de proteção — como a vacinação e uso de máscaras.

O post aqui verificado teve mais de 8 mil interações no Twitter. A mensagem enganosa também foi reproduzida por outras páginas conhecidas por compartilhar conteúdos antivacina.

Verificações recentes do Comprova constataram que as vacinas são seguras e não criam novas cepas da covid-19, e que máscaras impedem a proliferação do coronavírus e não atrapalham a respiração.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-22

TV australiana admite erro em imagem de ivermectina usada em reportagem sobre a Rainha Elizabeth II

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos os posts que afirmam que a Rainha Elizabeth II, do Reino Unido, esteja tomando ivermectina como tratamento para a covid-19. A afirmação se baseia em um trecho de uma reportagem de TV sobre a rainha que exibiu uma imagem de uma caixa de um medicamento que contém ivermectina enquanto um médico falava sobre possíveis tratamentos para Elizabeth II. A própria emissora de televisão admitiu o erro causado pela inclusão indevida da imagem do medicamento e já retirou o conteúdo do ar.
  • Conteúdo verificado: Vídeos postados no Twitter compartilham trecho de uma reportagem do programa de TV australiano A Current Affair sobre o estado de saúde da rainha Elizabeth II, que está com covid-19. Enquanto um médico é entrevistado e fala sobre formas de tratar a doença, é exibido uma imagem rápida de uma caixa do medicamento Stromectol, que contém ivermectina.

São enganosas as postagens que circulam no Twitter que afirmam que a Rainha Elizabeth II estaria sendo tratada da covid-19 com ivermectina. As postagens usam um trecho de uma reportagem do programa australiano A Current Affair sobre a infecção da rainha em que aparece a embalagem do remédio Stromectol, que tem em sua composição a ivermectina.

O programa emitiu nota assumindo que a imagem foi inserida na reportagem por erro e o vídeo foi deletado. Além disso, em nenhum momento durante a exibição do programa é dito que a rainha estaria tomando ivermectina ou qualquer outro remédio para tratamento da covid-19. O médico entrevistado na matéria também negou que tenha insinuado que a rainha estivesse recebendo o remédio.

Dois perfis que publicaram o conteúdo foram procurados. A coordenadora do Movimento Advogados do Brasil e da Associação Mães do Brasil, Flávia Ferronato, respondeu que o post foi uma piada. “Não posso me responsabilizar pela falta de humor e de compreensão de algumas pessoas. Muitos entenderam a piada”, explicou. O outro perfil não retornou até o fechamento desta checagem.

Para o Comprova, é considerado enganoso o conteúdo que retira informações de seu contexto original e omite informações, de forma deliberada ou não, para provocar uma interpretação que difere da realidade dos fatos.

Como verificamos?

No vídeo que está sendo compartilhado no Twitter, é possível ler na parte inferior os dizeres A Current Affair. Uma pesquisa com a expressão no Google nos indicou que trata-se de um programa da emissora de televisão australiana Nine Network.

Ao consultar a página oficial do A Current Affair no Facebook, foi possível assistir à reportagem original completa, que foi postada na manhã da última segunda-feira (21). Horas depois, o conteúdo foi retirado do ar pela própria página do programa de TV, e, em seguida, a mesma reportagem foi postada novamente, porém sem a imagem da caixa do medicamento com ivermectina.

Pelo vídeo, foi possível também identificar que o médico que fala sobre possíveis tratamentos para a rainha Elizabeth chama-se Mukesh Hawikerwa e trabalha na Austrália. Uma pesquisa nos buscadores de internet com este nome nos levou ao perfil do Twitter do médico. Na bio da rede social, o médico mantém um link de uma clínica australiana, a Cirqit Health.

O Comprova tentou contato com a emissora de televisão Nine Network, pedindo esclarecimentos sobre a reportagem, mas não houve retorno até o fechamento da checagem. A clínica em que trabalha o médico australiano também foi procurada e não houve retorno.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de fevereiro de 2022.

Verificação

Rainha usou ivermectina?

A Rainha Elizabeth II, monarca do Reino Unido e da Austrália, testou positivo para a covid-19 no domingo (20/2). O rumor de que a rainha estaria tomando ivermectina começou depois que o programa australiano A Current Affair, do canal Nine Network, fez uma reportagem sobre o diagnóstico da monarca.

O programa foi exibido na manhã de segunda-feira (21/2), no horário de Brasília. Durante a reportagem, é entrevistado o médico australiano Mukesh Hawikerwal que fala sobre remédios já aprovados contra a covid-19 e que poderiam ser usados no tratamento da rainha. Em nenhum momento, ele afirma que a monarca estaria tomando algum desses medicamentos e nem cita a ivermectina, que não tem aprovação para ser usada contra a covid-19.

Porém, na versão original da reportagem, enquanto ele fala sobre os medicamentos que poderiam ajudar no tratamento da rainha, é exibida a imagem da embalagem do Stromectol, antiparasitário que tem ivermectina em sua composição.

Após a repercussão do trecho da reportagem, o programa emitiu uma nota em que diz que a inserção da imagem na reportagem foi causada por um erro humano e que, em nenhum momento, houve a intenção de sugerir que a rainha estivesse fazendo uso do medicamento. A nota ainda acrescenta que o programa já fez diversas reportagens ressaltando que não há comprovação de eficácia da ivermectina contra a covid-19. “Ontem à noite, a nossa reportagem sobre a rainha continha uma foto que não deveria ter sido incluída. A foto foi incluída por um erro humano. Estávamos destacando um medicamento de infusão aprovado chamado Sotrovimab e o relatório acidentalmente cortou para uma foto de Stromectol – um produto que contém ivermectina. Como programa, fizemos inúmeras histórias destacando as preocupações em relação ao uso de ivermectina como tratamento para o covid-19. Não pretendíamos sugerir que o Dr. Mukesh Hawikerwal endossou o Stromectol. Pedimos desculpas a ele esta manhã e ele aceitou esse pedido de desculpas. Não sugerimos que a rainha esteja usando ivermectina”, diz a nota. O vídeo original da reportagem foi excluído das redes sociais do canal.

Em seguida, a mesma reportagem foi novamente postada na página do Facebook do A Current Affair, porém, agora sem a imagem do medicamento com ivermectina. O trecho foi substituído por imagens da embalagem do Sotrovimab.

O Sotrovimab está entre os medicamentos recentemente aprovados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento da covid-19. O remédio tem sido indicado para evitar que casos moderados da doença evoluam para quadros mais graves, e vem sendo utilizado em países como o Reino Unido. Reportagem publicada pela BBC Brasil sobre o medicamento afirma que especialistas definem o Sotrovimab como “anticorpo monoclonal que é administrado como transfusão para receptores de transplantes, pacientes com câncer e outros grupos de alto risco”. Ainda segundo reportagem da BBC, o medicamento deve ser administrado em pacientes que apresentem comorbidades como diabetes ou problemas respiratórios, e que podem ser mais gravemente afetados pelo coronavírus.

O médico Mukesh Hawikerwal também negou que tivesse falado que a rainha estaria usando ivermectina contra a covid-19. Pelo Twitter, ele compartilhou a lista de medicamentos aprovados na Austrália contra a covid-19, que não inclui a ivermectina, e ressaltou a importância da vacinação. “Aviso que a imagem no @Channel9 @ACurrentAffair9 está sendo atualizada. Agradeço pela diligência e vigilância de boas pessoas que alertaram para isso quando acordamos. A #CovidVaccine [vacina contra a covid] reduz drasticamente a gravidade da doença. Infusões em pessoas elegíveis melhoram os resultados”, destacou.

Em matéria desta terça-feira (22) do jornal The Guardian sobre o erro da emissora australiana, Hawikerwal também afirmou que a “ivermectina não foi mencionada na entrevista” e que ele jamais recomendaria ivermectina para tratamento da covid-19.

Em nota, o Palácio de Buckingham informou que a rainha estava com sintomas leves de resfriado e que ela está sendo acompanhada por uma equipe médica. O comunicado não informa se a monarca está fazendo uso de algum medicamento. “A rainha testou hoje positivo para covid. Sua Majestade está com sintomas leves de resfriado, mas espera continuar com tarefas leves em Windsor na próxima semana. Ela continuará recebendo atendimento médico e seguirá todas as orientações apropriadas”, diz a nota divulgada à imprensa no domingo.

Ivermectina não funciona contra a covid-19

Desde o início da pandemia, várias pesquisas já foram feitas com a ivermectina para saber se o antiparasitário funciona contra a covid-19. Porém, até o momento não há evidências da eficácia do remédio contra a doença.

Um estudo publicado em junho do ano passado na revista científica EClinical Medicine, publicação que faz parte da The Lancet, mostrou que não houve diferença na redução da carga viral entre os grupos que utilizaram a ivermectina e os que não.

A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o remédio só seja usado em estudos clínicos. A Agência de Medicamentos Europeia (EMA), a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomendam o uso do medicamento para tratamento da doença. As agências ressaltam que não há estudos que comprovem a eficácia do medicamento e que altas dosagens podem fazer mal à saúde.

Desde o ano passado, a Administração de Produtos Terapêuticos (TGA, na sigla em inglês), equivalente à Anvisa na Austrália, passou a orientar que médicos só podem prescrever a ivermectina para os casos especificados na bula. “A ivermectina não está aprovada para uso contra a covid-19 na Austrália ou em outros países desenvolvidos, e seu uso pelo público em geral para covid-19 é atualmente fortemente desencorajado pela National COVID Clinical Evidence Taskforce, a Organização Mundial da Saúde e pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos”, diz o comunicado.

O laboratório Merck, fabricante do remédio nos Estados Unidos, disse em fevereiro de 2021 que analisou os estudos disponíveis sobre o remédio e que, até o momento, não há base científica que aponte um efeito terapêutico do uso da ivermectina contra a covid-19.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas com grande circulação nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais de 2022. O conteúdo que foi objeto desta verificação foi compartilhado em diversos perfis do Twitter e, somados, os posts acumulavam mais de 80 mil interações até o dia 22 de fevereiro de 2022.

Não há estudos que comprovem a eficácia de tratamentos como o uso da ivermectina para combater a covid-19. A própria farmacêutica que produz o medicamento nos Estados Unidos também admitiu que não há comprovação da eficácia do medicamento para combater o novo coronavírus.

O mesmo conteúdo aqui checado também foi marcado como falso pelo Fato ou Fake do G1 e pelo UOL Confere.

Em 2021 o Comprova já realizou checagens que mostraram que, além de não fazer efeito no tratamento para a covid-19 a ivermectina pode trazer riscos quando administrada em altas doses; que não há relação entre regiões que conseguiram conter o avanço do novo coronavírus e a distribuição do medicamento e que antivirais desenvolvidos para o tratamento da doença não possuem ivermectina em sua fórmula.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2022-02-21

É enganoso que TSE descumpriu prazos para responder às Forças Armadas sobre urnas eletrônicas

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Enganoso
É enganoso o vídeo que viralizou no TikTok em que um homem que se identifica como Coronel Koury afirma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) descumpriu prazos para responder às Forças Armadas sobre questionamentos relacionados à segurança das urnas eletrônicas. Segundo o TSE, o único órgão envolvido que se pronunciou oficialmente sobre o assunto nesta verificação, não havia prazo específico para as respostas.
  • Conteúdo verificado: Em um vídeo publicado na plataforma TikTok, um homem identificado como “coronel Koury, da FAB”, afirma que as Forças Armadas fizeram questionamentos ao TSE sobre a segurança das urnas, mas o órgão não teria respondido a esses pedidos.

É enganoso um vídeo que viralizou no TikTok em que um homem que se identifica como Coronel Koury, da Força Aérea e coordenador-geral do Grupo B-38, afirma que o TSE descumpriu prazos para responder questionamentos das Forças Armadas sobre a segurança das urnas eletrônicas.

Os questionamentos foram, de fato, feitos pelas Forças Armadas ao TSE, em um total de 80 perguntas sobre o processo eleitoral eletrônico. Elas foram encaminhadas como parte dos trabalhos da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), instituída pelo TSE em portaria publicada em 9 de setembro de 2021. As Forças Armadas fazem parte da comissão.

Porém, segundo o TSE, não havia prazo específico para as respostas que, segundo a assessoria de imprensa do tribunal, ficaram prontas no dia 10 de fevereiro e foram protocoladas no Ministério da Defesa, ao qual as Forças Armadas são vinculadas, no dia 14, um dia depois de o vídeo ter sido postado.

Para o Comprova, é considerado enganoso o conteúdo que retira informações de seu contexto original e omite informações, de forma deliberada ou não, para provocar uma interpretação que difere da realidade dos fatos.

Como verificamos?

Diante das afirmações prestadas no vídeo, o Comprova buscou, inicialmente, contato com os órgãos diretamente envolvidos na apuração: o TSE e o Exército Brasileiro. Em seguida, as demais Forças Armadas e o Ministério da Defesa. Somente o TSE se posicionou oficialmente sobre o assunto.

Já em relação ao homem que aparece no vídeo e se identifica como “Coronel Koury – Força Aérea – Coord. Geral Grupo B-38”, o Comprova buscou a Força Aérea Brasileira (FAB) para confirmar essa ligação. Não houve resposta até o fechamento desta verificação.

O Comprova ainda enviou mensagem para o perfil do Coronel Koury no Telegram, mas também não houve resposta. Em pesquisas na internet, foi possível identificar o Grupo B-38 e suas pautas.

Verificação

Não havia prazo para respostas

Uma das afirmações feitas no vídeo é que o TSE havia descumprido prazos das Forças Armadas para o envio das respostas sobre a segurança das urnas. Em um trecho, o homem que aparece na gravação diz “(…) Um novo prazo foi dado, de mais 30 dias, e eles também não responderam”, sugerindo um suposto prazo de um mês, que teria sido prorrogado por mais 30 dias.

Segundo o TSE, foram 80 perguntas entregues pelas Forças Armadas ao tribunal em quatro ofícios: Ofício nº 001 (enviado em 07/12), Ofício nº 002 (07/12), Ofício nº 003 (15/12), Ofício nº 004 (16/12).

Questionada se havia prazo para a entrega das respostas, a assessoria de imprensa do TSE informou que não houve prazo com data definida. E destacou, em texto corrido, no corpo do e-mail trocado com o Comprova, trecho do Ofício nº 004 em que “o representante autor do documento solicita que ‘as respostas sejam enviadas à medida que estiverem disponíveis’”.

O Comprova também questionou o Exército Brasileiro se fora estipulado prazo para que o TSE enviasse as respostas. O Centro de Comunicação do Exército informou que “os questionamentos relativos ao processo eleitoral devem ser encaminhados ao Ministério da Defesa”, ao qual as Forças Armadas são vinculadas.

Procurado, o Ministério da Defesa respondeu que qualquer posicionamento sobre a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) deve ser emitido pelo TSE.

Respostas foram entregues um dia após postagem do vídeo

As respostas do TSE aos questionamentos das Forças Armadas sobre o processo eletrônico ficaram prontas no dia 10 de fevereiro. A data aparece na primeira página do documento com as informações prestadas.

No entanto, o documento com as respostas foi protocolado no Ministério da Defesa no dia 14 de fevereiro. Segundo a assessoria de imprensa do TSE, entre a produção das respostas e a entrega do material, foi preciso que todos os órgãos do tribunal e o ministro Luís Roberto Barroso, então presidente da corte, revisassem o material.

O documento com as respostas ficou pronto no dia 10. No mesmo dia, em live na internet, o presidente Jair Bolsonaro, sem apresentar provas, afirmou que as Forças Armadas haviam identificado falhas no sistema. O TSE rebateu e disse que os questionamentos estavam relacionados a dúvidas sobre o funcionamento do sistema eleitoral, e que não havia levantamento sobre possíveis vulnerabilidades.

Forças Armadas integram Comissão de Transparência Eleitoral (CTE)

As Forças Armadas integram a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), que foi instituída pelo TSE na Portaria TSE nº 578/2021, publicada no dia 9 de setembro de 2021.

Segundo o TSE, são objetivos da comissão: ampliar a transparência e a segurança de todas as etapas de preparação e realização das eleições, e aumentar a participação de especialistas, representantes da sociedade civil e instituições públicas na fiscalização e auditoria do processo eleitoral.

Além das Forças Armadas, também integram a CTE representantes do Congresso Nacional, do Tribunal de Contas da União, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral Eleitoral, da sociedade civil, e especialistas na área de tecnologia.

O representante das Forças Armadas na comissão é o General de Divisão Heber Garcia Portella, Comandante de Defesa Cibernética. As respostas do TSE, protocoladas no Ministério da Defesa, foram a ele endereçadas.

Vazamento das respostas

Em notícia divulgada no site do TSE, no dia 14 de fevereiro, consta a informação de que as respostas encaminhadas às Forças Armadas têm caráter sigiloso a pedido dos próprios autores do questionamento.

Dois dias depois, nova notícia foi publicada no site do TSE tornando a documentação pública “diante do vazamento da existência de perguntas que foram formuladas, bem como do próprio teor das perguntas”. Segundo o TSE, não foi gerada cópia virtual do documento, apenas a versão física que foi protocolada no Ministério da Defesa. De acordo com o órgão, o material foi tornado público após partes dele terem sido compartilhadas na internet.

A notícia traz, ao fim do texto, dois links para a íntegra das respostas: um documento com 69 páginas e três anexos, em um total de pouco mais de 700 páginas.

O autor do vídeo e seu grupo

A FAB não respondeu ao questionamento do Comprova se o coronel Koury é realmente oficial da reserva e se ele estaria autorizado a falar pela FAB sobre a situação envolvendo os questionamentos feitos pelo Exército.

Realizamos apurações na internet e, de acordo com publicações em diferentes sites de notícias, bem como redes sociais, o coronel Marcos Koury mora em Recife, Pernambuco, é da reserva da Aeronáutica e lidera o Grupo B38.

Em uma entrevista ao site Gazeta do Povo, em meados de 2021, ele falou que o grupo não defende a intervenção militar. Ele afirma que o movimento busca uma solução pacífica para os conflitos políticos do país.

A adoção do voto impresso é a principal bandeira do movimento, que vem realizando lives com membros do grupo. Eles debatem o assunto em diferentes datas programadas.

O grupo B-38 surgiu em 2018 como B-17 (B de Bolsonaro e 17 como referência ao número do candidato nas urnas em 2018) para fazer campanha ao então candidato do PSL, e continuou mobilizado em sua defesa depois que este foi eleito presidente. Como Bolsonaro mudou de partido e chegou a lançar a Aliança para o Brasil com o número 38, o movimento adotou a mesma numeração.

Quem fundou o B-38 foi um grupo de militares liderados por Marcos Koury. O grupo realiza diferentes ações pró-Bolsonaro, seja em redes sociais, seja em aplicativos de mensagem como Whatsapp e Telegram. Os associados promovem debates em que defendem as decisões e o pensamento do presidente Jair Bolsonaro. O grupo tem coordenadores em todos os estados do país.

Por que investigamos?

O Comprova tem o compromisso de investigar conteúdos suspeitos que tenham relação com a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem confundir a população.

O post desta reportagem teve 7,6 mil compartilhamentos, 2,6 mil comentários e 20,1 mil curtidas até o fechamento desta verificação. Ele coloca em dúvida a credibilidade do TSE e, consequentemente, a lisura do sistema eleitoral eletrônico.

O Comprova já esclareceu que uma empresa não foi multada por fraudar as urnas eletrônicas, confirmou que um boato usou pesquisa falsa para dizer que Bolsonaro lidera pesquisas de intenção de voto em todos os estados e que um vídeo engana ao dizer que Facebook restringiu compartilhamento de vídeo pró-Bolsonaro.

Recentemente, o Comprova também mostrou que, mesmo sem biometria, o eleitor poderá votar em 2022.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2022-02-21

Imagem de apoio a Bolsonaro em prédio de Belo Horizonte é montagem

  • Falso
Falso
É falso que o prédio da empresa Localiza, em Belo Horizonte (MG), tenha recebido a projeção de uma mensagem de apoio ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). A autora da publicação confirmou ao Comprova que o vídeo se trata de uma montagem.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo publicado na rede social TikTok exibe um prédio localizado na Avenida Bernardo Vasconcelos, em Belo Horizonte. Na fachada, projeta-se uma animação da bandeira do Brasil e de imagens do presidente Jair Bolsonaro, com a mensagem: “BH é Bolsonaro”.

É falso que um prédio localizado em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, tenha recebido a projeção de uma propaganda favorável ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Um vídeo publicado no TikTok mostra a Avenida Bernardo Vasconcelos, no bairro Cachoeirinha, com um prédio ao fundo. Sobreposta ao edifício está a frase “BH é Bolsonaro”, acompanhada por uma bandeira do Brasil. Duas fotos do presidente também aparecem no prédio ao longo do vídeo de 14 segundos. O edifício tem parte das janelas iluminadas, que juntas formam um coração.

A autora da publicação confirmou ao Comprova que o vídeo foi editado para incluir a mensagem favorável a Bolsonaro. Ela afirmou que usa o perfil no TikTok para divulgar sua marca de camisetas, e a primeira coleção teve o tema “Bolsonaro/Brasil”, e que, por isso, fez a montagem. A verificação do conteúdo foi sugerida por um leitor do Comprova.

Comentários feitos na postagem indicam que há usuários da plataforma que acreditam que a propaganda é verdadeira. “Que lindooo parabéns BH tenho orgulho de ver esse rosto sincerio (sic) do nosso presidente estampado em todos lugares que eu vou tamos juntos Capitão”, escreveu uma pessoa. Em outro caso: “agora sim me orgulhei de BH”, disse um internauta.

O prédio que aparece na publicação aqui verificada é da empresa de aluguel de carros Localiza, que, em nota, negou ter realizado qualquer homenagem a Bolsonaro no local ou que a fachada tenha sido usada para projeção envolvendo política.

O professor da área de audiovisual da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Maurício Gomes da Silva Fonteles analisou o vídeo e disse que diferenças de foco e qualidade de imagem demonstram que a propaganda favorável a Bolsonaro não estava presente no conteúdo original e foi inserida por meio de edição.

O Comprova classificou o conteúdo como falso porque cria uma situação que não existiu.

Como verificamos?

O leitor do Comprova, que enviou o vídeo para a equipe sugerindo a investigação, disse que o prédio que aparece na imagem pertence à empresa Localiza, que fica na Avenida Bernardo Vasconcelos, em Belo Horizonte. Nosso primeiro passo foi verificar essa informação, que foi confirmada em pesquisa no Google Street View (1 e 2). Posteriormente, a Localiza também atestou que o vídeo mostrava sua sede em Belo Horizonte.

| Captura de tela do Google Street View. Imagens correspondem aos elementos que aparecem no vídeo, como as luzes em formato de coração e a placa de sinalização.

O Comprova buscou o nome do perfil do TikTok em outras redes sociais e encontrou a conta de uma empresa de marketing digital localizada em Ipatinga (MG). No perfil, foi possível obter o número de WhatsApp pelo qual entramos em contato com a autora, que confirmou ter feito a montagem.

Em seguida, a equipe procurou por especialistas que pudessem analisar o tipo de edição realizada no vídeo. Entrevistamos o professor da UnB Maurício Fonteles.

Por fim, consultamos a legislação sobre eleições e perguntamos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se a publicação poderia ser considerada propaganda antecipada.

Verificação

Análise do vídeo

Professor da UnB, Maurício Fonteles avalia que a edição no vídeo é grosseira. De acordo com ele, observando a imagem é possível perceber que há desconexão entre o prédio e a propaganda com referência a Bolsonaro, pois há diferença de qualidade entre as duas imagens, com o edifício mais desfocado que a imagem sobreposta a ele. “Não tem como você ter o prédio desfocado e o que está projetado nele estar completamente focado”, explica o professor.

Segundo Fonteles, outro elemento relevante é a comparação entre a velocidade dos carros que passam na via e o movimento da bandeira que aparece na imagem sobreposta ao prédio. É possível constatar que o vídeo original foi acelerado. Os veículos passam rápido demais pelas ruas, todos em velocidade semelhante. Por outro lado, a bandeira projetada no edifício se move “em tempo real”.

É possível ver também no vídeo uma outra bandeira menor, que está localizada ao lado esquerdo do prédio em destaque. Neste caso, o objeto se move rapidamente, no mesmo ritmo que os carros, o que demonstra que ele faz parte da composição original. “Existem vários elementos que provam tranquilamente que aquilo ali (a propaganda a Bolsonaro) é uma sobreposição de imagem em um vídeo que já estava pronto”, afirma Fonteles.

| Captura de tela do vídeo publicado no TikTok. Em destaque estão a bandeira ao lado do prédio e carros em alta velocidade por causa do vídeo acelerado.

O professor afirma que alguns pontos simples podem ser analisados para verificar se um vídeo ou foto passou por edição. Entre eles estão qualidade, foco e proporções e distorções da imagem. Se for possível perceber diferentes elementos com qualidade mais alta ou mais baixa na mesma composição, pode ser indício de que houve edição em um produto.

Segundo Fonteles, o foco é outro ponto que chama atenção em imagens que passaram por mudanças. “As câmeras têm o foco em um lugar específico. Se tenho um foco na frente, com uma pessoa em primeiro plano, e lá atrás estou vendo outra coisa que está completamente focada, tem alguma coisa errada. Normalmente esse foco variaria, com o fundo desfocado. Se tenho um texto ao fundo, por exemplo, ele também deveria estar desfocado. Se existir uma sobreposição grosseira, ela fica bem latente”, explica.

O que diz a autora

O Comprova entrou em contato com a autora do post, que se identificou apenas como Jaqueline, por meio do WhatsApp. A mulher confirmou que o vídeo é uma montagem feita com o intuito de divulgar os serviços de animação da empresa, mas negou que haja motivação política. Questionamos o porquê das publicações serem focadas em Bolsonaro, uma vez que não há intenção partidária. Ela afirmou que começou a publicar as montagens usando imagens de grandes cidades após pedido dos seguidores. No perfil da loja, há vídeos editados de forma semelhante ao caso aqui verificado, com referências a outras cidades como Goiânia, São Paulo e Curitiba.

“Fiz um (vídeo) de Ipatinga e os seguidores pediram de outros estados. Vendo camisas e a primeira coleção era o tema ‘Bolsonaro/Brasil’. Abrimos o TikTok e deu essa repercussão. Mas não fazemos só desse tema, outras coleções serão divulgadas também. Só não deu tempo ainda”, explicou.

Jaqueline afirmou que não vai mais usar fotos ou nomes de candidatos em suas publicações, exceto na divulgação das camisas, que fazem parte do seu trabalho.

Iluminação do prédio

Em abril de 2020, a empresa de marketing ABC da Comunicação repercutiu que a Localiza iluminou a fachada de sua sede com o formato de coração, em ato relacionado aos desafios criados pela pandemia. Imagens divulgadas na época são semelhantes àquelas usadas na base do vídeo verificado.

Procurada pelo Comprova, a Localiza confirmou que o prédio mostrado no vídeo é a sede da empresa em Belo Horizonte. Porém, negou que tenha sido feita homenagem a Bolsonaro no local. “A Localiza esclarece que é uma empresa apartidária e que não houve qualquer projeção em sua sede em Belo Horizonte alusiva a questões envolvendo política ou políticos”, informou.

O vídeo pode ser considerado propaganda eleitoral antecipada?

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem regras claras que fazem a diferenciação da propaganda partidária para a propaganda eleitoral, bem como estipula eventuais penalidades para quem descumprir as normativas.

A resolução 23.610 do TSE de dezembro de 2019 trata das eventuais condutas ilícitas no que diz respeito à propaganda eleitoral, que só é permitida a partir de 16 de agosto do ano da eleição.

Considera-se propaganda antecipada passível de multa aquela divulgada extemporaneamente cuja mensagem contenha pedido explícito de voto ou que veicule conteúdo eleitoral em local vedado.

Não é permitida, por exemplo, a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens públicos ou particulares, exceto em alguns casos. São eles: bandeiras ao longo de vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos; além de adesivo plástico em veículos e janelas residenciais, desde que não exceda a 0,5m² (meio metro quadrado).

O material analisado não é considerado propaganda antecipada, uma vez que não envolve pedido explícito de voto, tampouco faz menção à pretensa candidatura.

Portanto, o material analisado pelo Comprova – ainda que seja uma montagem – não configura propaganda eleitoral antecipada.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas e eleições. O projeto observa os dados de viralização e o impacto desses conteúdos para decidir pela verificação. Nos últimos anos, tem se tornado comum a circulação de mensagens e informações falsas com o intuito de descredibilizar e tumultuar o processo eleitoral no país.

A publicação analisada nesta checagem do Comprova foi publicada na rede social TikTok e, até o dia 18 de fevereiro, tinha mais de 11,4 mil visualizações. A situação traz à tona a falsa impressão de que uma empresa, a Localiza, estaria fazendo uma homenagem e, por conseguinte, uma demonstração de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Conteúdos como esse podem passar a impressão entre usuários das redes sociais que um setor da economia, o empresariado, estaria apoiando um determinado candidato.,

O conteúdo investigado pelo Comprova foi alvo também de apuração do Boatos.org, Lupa e Aos Fatos, sendo classificado como falso nas três situações.

O Comprova investigou recentemente que um post engana ao confundir resultado fiscal com crescimento do PIB em 2021 e o caso de uma empresa que foi multada por pagar propinas, mas publicações enganosas nas redes sociais afirmavam que a instituição estava envolvida em fraude de urnas eletrônicas usadas em eleições brasileiras.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Política

Investigado por: 2022-02-18

Cinco governadores compraram vacinas contra a covid-19, ao contrário do que diz Magno Malta

  • Falso
Falso
É falso que todas as vacinas contra a covid-19 disponíveis no Brasil tenham sido adquiridas pelo governo federal e que nenhum estado tenha comprado doses. Ao menos cinco governadores fizeram um acordo de aquisição direta no total de 2,5 milhões de doses da CoronaVac, incluindo o Espírito Santo, estado do ex-senador Magno Malta (PL), autor da afirmação falsa feita em vídeo publicado no Facebook.
  • Conteúdo verificado: Vídeo no Facebook em que o ex-senador Magno Malta afirma que “nenhum governador comprou uma gota de vacina” e “todas as vacinas no Brasil foram compradas por Jair Messias Bolsonaro”.

É falso que nenhum governador tenha comprado vacinas contra a covid-19 e que todos os imunizantes disponíveis no Brasil tenham sido adquiridos pelo governo federal, como afirma o ex-senador Magno Malta em um vídeo que viralizou no Facebook. Em setembro de 2021, cinco estados firmaram acordo com o Instituto Butantan para fornecimento direto, sem passar pela União, de 2,5 milhões de doses da CoronaVac: Ceará, Mato Grosso, Pará, Piauí e Espírito Santo. Este último é o estado de Malta. O governo capixaba gastou R$ 26,5 milhões na aquisição imediata de 500 mil doses da vacina. Pará e Piauí confirmaram, em seus sites, terem recebido as vacinas. Mato Grosso desistiu da aquisição por já ter imunizantes enviados pelo Ministério da Saúde.

O próprio estado de São Paulo anunciou o recebimento de 4 milhões de doses da CoronaVac por meio da Secretaria Estadual de Saúde, após acordo realizado diretamente com a Sinovac, biofarmacêutica chinesa responsável pela produção do imunizante.

O Brasil também recebeu doação de vacinas dos Estados Unidos, o que não configura uma compra por parte do Governo Federal.

O Supremo Tribunal Federal (STF) já havia autorizado em fevereiro de 2021 que os governos locais pudessem comprar imunizantes caso o governo federal descumprisse o Plano Nacional de Imunizações (PNI) ou que as doses disponibilizadas pela União fossem insuficientes para atender a população. No mês seguinte, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que permitia a aquisição por estados e pelo setor privado, desde que todas as doses fossem doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto estivesse em andamento a imunização dos grupos prioritários. A vacinação de grupos não prioritários teve início em maio de 2021.

Ao todo, o governo federal já comprou 564,7 milhões de doses de vacina, das quais 407,4 milhões foram distribuídas até o dia 28 de janeiro deste ano. Ao menos 352 milhões já foram aplicadas, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. O Comprova tentou contato com Magno Malta pelo WhatsApp e pelo Twitter, mas não teve retorno do político. O vídeo foi considerado falso porque o conteúdo é inventado e foi divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova verificou as páginas oficiais dos estados em busca de notícias acerca da aquisição de vacinas, além de realizar a verificação, nos respectivos portais, de contratos e licitações que pudessem indicar a compra direta dos imunizantes.

Uma vez que o Instituto Butantan está vinculado ao Governo de São Paulo, tomamos o site desse estado como ponto de partida. Encontramos uma notícia tratando especificamente do acordo com outros estados para compra da CoronaVac, sendo mencionada a celebração de contrato com Ceará, Piauí, Pará e Espírito Santo. Verificamos a existência de notícias, documentos e contratos em cada um dos portais das unidades, a fim de confirmar a efetivação das compras.

O Comprova teve acesso, pelo Portal da Transparência, aos contratos efetivados pelo Ceará, pelo Espírito Santo e pelo Pará. Não encontramos documentos nos portais do Piauí, contudo, verificamos a existência de notícias referentes à compra.

Também entramos em contato com as empresas Pfizer, AstraZeneca e Johnson & Johnson, para solicitar informações sobre a compra de vacinas por estados e municípios. Só a AstraZeneca respondeu.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de fevereiro de 2021.

Verificação

Estados compraram vacinas

Segundo o Governo do Estado de São Paulo, em 22 de setembro de 2021, foi feito um acordo com outros estados para o fornecimento de vacinas. Após a conclusão do envio da CoronaVac para o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan fechou contrato diretamente com as unidades da federação para a entrega de 2,5 milhões de doses, em cerimônia que contou com a presença dos governadores Camilo Santana (do Ceará), Wellington Dias (do Piauí), Helder Barbalho (do Pará), e Renato Casagrande (do Espírito Santo). Os representantes foram recebidos pelo governador de São Paulo, João Doria, e pelo presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, na sede da instituição.

O atraso, por parte do governo de Jair Bolsonaro, em adquirir os imunizantes, motivou a ação de governadores para que pudessem garantir a distribuição de vacinas à população de seus respectivos estados.

A página do Instituto Butantan apontou, em fevereiro de 2021, que a demora por parte do Ministério da Saúde para comprar a vacina chegou a afetar os prazos para envio de matéria-prima pela farmacêutica chinesa. . O presidente do Instituto relatou esse problema também em sua oitiva na CPI da Pandemia. De acordo com Covas, em julho de 2020 o Butantan já havia ofertado a CoronaVac ao Ministério.

A demora nas tratativas para aquisição da vacina foi igualmente apontada pelo ex-Secretário de Comunicação da Presidência da República Fábio Wajngarten, que em depoimento à CPI, disse ter havido demora de dois meses até que o Palácio do Planalto respondesse à oferta pala Pfizer.

Os portais de diversos estados também noticiaram a intenção de compra, o contrato e o recebimento de vacinas adquiridas com o Butantan. Por exemplo, na página da Agência Pará, portal de comunicação oficial do estado, em 27 de setembro de 2021, uma notícia sobre o recebimento de um lote de doses dá ênfase à aquisição direta, sem envolvimento do Ministério da Saúde.

Em 8 de outubro do ano passado, o Portal Saúde do governo do Piauí noticiou a entrega de duzentas mil doses referentes à primeira remessa da CoronaVac comprada pelo estado diretamente do Instituto Butantan. Na ocasião, a Secretaria de Saúde emitiu um convite à imprensa para que estivesse presente no aeroporto, no horário de chegada dos imunizantes.

O Mato Grosso, embora tenha assinado no ano passado o protocolo de intenção para a compra da CoronaVac diretamente ao Butantan, confirmou em e-mail ao Comprova que não fez a aquisição devido à oferta de imunizantes em larga escala pelo Ministério da Saúde.

Por e-mail, a AstraZeneca, Janssen e Pfizer nos informaram que todas as vendas de vacinas são realizadas para o governo federal.

O autor do vídeo

O Comprova entrou em contato com Magno Malta, autor da declaração, por WhatsApp e Twitter, mas não obteve retorno. Magno Malta é político pelo estado do Espírito Santo e, atualmente, não ocupa cargos eletivos após a derrota nas urnas em 2018. Durante sua carreira, foi vereador, deputado estadual e federal e senador.

Simpatizante do presidente Jair Bolsonaro (PL), Malta desempenha grande influência no governo federal. O Comprova já verificou outras informações compartilhadas pelo político, como a alegação falsa que leite materno substitui a vacina contra a covid-19 em crianças e uma montagem que colocava o agressor de Bolsonaro ao lado do ex-presidente Lula.

Magno Malta também é conhecido por ter uma forte ligação religiosa, sendo formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. Em 2002, o político lançou o livro “Deus tem um trato comigo”, biografia que narra a sua trajetória até a CPI do Narcotráfico.

Por que investigamos?

O Comprova efetua a verificação de conteúdos suspeitos relacionados à pandemia de covid-19, às políticas públicas do governo federal e eleições que tenham viralizado nas redes sociais. O ex-senador Magno Malta é uma figura pública e o vídeo em que faz a afirmação falsa, de que nenhum estado adquiriu vacinas, alcançou 253 mil visualizações no Facebook e conta com 68 mil curtidas.

Outras checagens realizadas pelo Comprova já mostraram que vacinas não criaram novas cepas do coronavírus ou mais casos de covid em Israel, e que uma postagem citando aumento de doenças entre militares dos EUA após serem vacinados utilizou dados incorretos. O projeto também já demonstrou ser falsa a alegação de que a Universidade Johns Hopkins teria comprovado, por meio de estudo, que lockdowns tiveram pouca efetividade na contenção da covid-19.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Esta verificação foi feita por jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2022-02-18

Vídeo de Eduardo Paes em festa sem máscara é antigo e não foi gravado no Complexo da Maré

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um vídeo que mostra o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), sem máscara em uma festa de rua, supostamente feita no Complexo da Maré. A publicação, feita em 8 de fevereiro de 2022, sugere que as imagens são atuais, em meio às restrições impostas na cidade para conter a pandemia, mas o vídeo circula na internet ao menos desde julho de 2020, antes de Paes ser eleito. O prefeito diz que a festa ocorreu, na verdade, no bairro de Magalhães Bastos, em meados de 2019. O Comprova conseguiu confirmar o local do evento, mas não a data.
  • Conteúdo verificado: Vídeo que mostra Eduardo Paes dançando na rua, enquanto pessoas festejam, foi publicado no Twitter acompanhado de um texto afirmando que o prefeito estava sem máscara, no Complexo da Maré, na “farra” com “passe livre” dado pelo tráfico de drogas.

É enganoso um vídeo que viralizou no Twitter supostamente mostrando o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, festejando sem máscara no meio da rua no Complexo da Maré após ser autorizado pelo tráfico de drogas a estar na comemoração. A postagem sugere que o vídeo é atual e que o prefeito estaria descumprindo regras sanitárias impostas pelo próprio município. O Comprova descobriu, porém, que a gravação circula na internet desde julho de 2020, em um canal do YouTube que o associa a uma festa junina em uma “favela”, sem especificar o local exato. Paes só seria eleito prefeito em novembro daquele ano.

Após a viralização do conteúdo verificado aqui, o político disse no Twitter que as imagens mostram uma festa junina no bairro de Magalhães Bastos, que fica a mais de 24 quilômetros da Maré. Em contato com o Comprova, o prefeito disse que a gravação é de meados de 2019, antes da pandemia, e ocorreu na rua Arquimedes. A reportagem conseguiu confirmar que o local é o mesmo que aparece na gravação através de imagens do Google Street View de julho de 2019.

Um sinal de que o vídeo não é recente é que, no áudio, entre 14 e 17 segundos, é possível ouvir uma mulher pedindo a Eduardo Paes para “voltar para a prefeitura”, o que aponta que ele foi filmado entre 2017 e 2020, período entre os mandatos do prefeito, que já havia ocupado o mesmo cargo entre 2009 e 2016.

A reportagem procurou a conta que replicou o vídeo recentemente, mas não teve retorno até o fechamento desta verificação. O Comprova também entrou em contato com o administrador da conta do YouTube onde o vídeo foi postado em julho de 2020, mas ele disse que não sabia quando as imagens foram gravadas.

A postagem foi considerada enganosa porque o vídeo que associaria o prefeito a uma festa em plena pandemia foi retirado do seu contexto original e utilizado em outro de modo a alterar o seu significado.

Como verificamos?

Primeiro, assistimos ao vídeo em busca de informações que pudessem indicar onde e quando ele foi gravado. Fizemos uma busca reversa de imagem com frames da gravação. Procuramos no Twitter por palavras-chaves como “Eduardo Paes” e “Maré” e identificamos outras versões do mesmo vídeo publicadas em novembro de 2020. Também encontramos um tuíte de 8 de fevereiro, mesma data em que o conteúdo verificado foi publicado, em que o próprio prefeito diz que o vídeo é antigo e retrata uma festa junina no bairro de Magalhães Bastos.

A partir daí, incluímos nas buscas também os termos “festas juninas” e “São João”, e achamos a mesma gravação no Youtube, com data de postagem de julho de 2020, versão mais antiga que conseguimos identificar desse conteúdo na rede. Comentando no vídeo publicado mais recentemente, pedimos o e-mail do administrador do canal. Através da troca de e-mails, ele disse não saber quando e onde a gravação foi realizada.

Procuramos a assessoria de imprensa da Prefeitura do Rio por e-mail e por WhatsApp. No aplicativo, a gestão disse que não ia emitir nota por se tratar de “uma questão pessoal do prefeito que ele respondeu na conta pessoal dele”. Por causa disso, enviamos mensagem diretamente para o prefeito Eduardo Paes pelo WhatsApp, perguntando quando a festa teria ocorrido. Ele respondeu que as imagens são de “meados” de 2019 e que foram feitas na rua Arquimedes. Recorrendo a imagens de julho daquele ano no Google Street View, conseguimos confirmar que a via é a mesma que aparece na gravação.

Usamos o TweetDeck para tentar encontrar postagens desse evento no Twitter de Paes na época. Fizemos a busca ainda na página dele no Facebook. Não tivemos sucesso em nenhuma das pesquisas. Através do Google Maps, calculamos a distância entre o Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, e o bairro de Magalhães Bastos, na Zona Oeste. Por fim, buscamos reportagens sobre o contexto do tráfico em Magalhães Bastos e sobre as medidas tomadas pelo político na prefeitura do Rio para conter a disseminação do Sars-CoV-2.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de fevereiro de 2022.

Verificação

O vídeo em que Eduardo Paes aparece em uma festa na rua sem máscara é antigo, de antes do atual mandato dele na cidade. Fazendo uma busca por palavras-chave, o Comprova descobriu que o vídeo já circula há quase dois anos na Internet. Várias postagens com as imagens foram feitas no final de novembro de 2020, na semana do segundo turno das eleições cariocas. Todas associam a celebração ao Complexo da Maré e, assim como o conteúdo verificado agora, dizem que a festa teria sido autorizada pelo tráfico.

A gravação, porém, não é desta época, visto que ela já estava no YouTube desde julho de 2020, no canal “Cirão da Massa”, que dizia que Paes participava de uma festa de São João. Em e-mail enviado ao Comprova, o administrador da página diz que não sabe a data em que as imagens foram feitas porque ele as teria pego das redes sociais, mas afirmou que o vídeo é antigo.

No próprio conteúdo publicado, há uma indicação de que a gravação é antiga, já que entre 14 e 17 segundos é possível ouvir a voz de uma mulher afirmar: “Qual é Eduardo, volta pra prefeitura, por favor”. Outra voz, então, responde: “Não volta não”. A conversa indica que a festa ocorreu após o político deixar a Prefeitura do Rio pela primeira vez, em janeiro de 2017, e antes de ser eleito para retornar à gestão do município, em novembro de 2020. Naquele ano, Paes só lançou oficialmente sua candidatura à prefeitura em setembro, quando o vídeo já circulava na Internet.

Outro sinal de que o vídeo teria sido feito antes da pandemia é que, não apenas o político, mas nenhuma das pessoas que aparecem nas imagens utiliza máscaras.

Segundo afirmou o próprio prefeito no Twitter, as imagens foram gravadas durante uma festa junina no bairro de Magalhães Bastos, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e não no Complexo da Maré, na Zona Norte da mesma cidade. Em conversa com o Comprova por WhatsApp, o político disse que as imagens são de meados de 2019 e foram feitas na rua Arquimedes. Como a publicação mais antiga que a reportagem encontrou foi feita em julho de 2020 e o responsável pelo canal no YouTube não sabia onde a gravação foi realizada, não foi possível apontar com precisão a data da festa.

Com o nome da rua, nós fizemos uma busca no Google Street View por elementos que aparecem no vídeo, para tentar confirmar se a via era a mesma indicada pelo político. No ponto onde a gravação que viralizou começa, Paes está próximo a um poste com uma pintura, na frente de dois estabelecimentos com toldos de plástico. Os mesmos elementos podem ser vistos nas imagens do Google feitas na rua Arquimedes.

Por volta de seis segundos no vídeo, quando o político começa a andar pela rua, é possível ver uma lombada com uma pintura em forma de listra em frente ao poste; o que também conseguimos encontrar na rua Arquimedes.

No segundo 14 do vídeo, Paes está atravessando a rua e, ao fundo, há uma casa de primeiro andar com um ar condicionado e algumas marcas de pinturas na parede logo abaixo do equipamento. Encontramos o mesmo imóvel no Google Street View, em frente à lombada.

Por fim, a partir de 21 segundos no vídeo verificado, o político está diante de uma casa de esquina, com um portão azul, e o número indicado na parede tem um “7” e a letra “B”. Encontramos o mesmo local na rua Arquimedes.

Depois de julho de 2019, o Google Street View só tem imagens para a via a partir de agosto de 2021, portanto, não é possível usar a ferramenta para saber exatamente quando os imóveis perderam essas características da fachada, determinando a data da festa. Mas a comparação das imagens confirma que o evento ocorreu em Magalhães Bastos, bairro separado do Complexo da Maré por um trajeto de cerca de 24 quilômetros, segundo o Google Maps.

De acordo com o Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, há uma área do bairro de Magalhães Bastos, a favela de Curral das Éguas, que está sob o comando da facção Amigos dos Amigos. Mas a rua Arquimedes não fica dentro do perímetro apontado no mapa. O grupo tem perdido controle de áreas da cidade. O mapa é feito em parceria pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GEN) da Universidade Federal Fluminense (UFF); pelo datalab Fogo Cruzado; pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP); pela plataforma digital Pista News e pelo Disque-Denúncia.

Desde que voltou para a prefeitura, Eduardo Paes tem adotado medidas para contenção da covid-19 que o colocaram na mira de grupos negacionistas, como a adoção de medidas restritivas. Com o avanço da imunização contra a doença, a cidade também passou a exigir passaporte vacinal para que as pessoas tenham acesso a alguns serviços e estabelecimentos. O prefeito também tem criticado publicamente pais que não levam seus filhos para se vacinar contra o coronavírus. Decisões como estas já levaram um grupo a queimar uma foto de Paes junto com máscaras na cidade.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal, e a eleição deste ano que tenham viralizado nas redes sociais. Quando esse conteúdo trata da covid-19, sua checagem é ainda mais necessária, uma vez que informações incorretas podem levar as pessoas a deixarem de seguir as recomendações das autoridades sanitárias e se exporem a riscos. É exatamente o que o tuíte verificado faz ao sugerir que o prefeito do Rio estava festejando sem máscara no meio da rua.

O post em questão teve 6,9 mil visualizações no Twitter e mais de mil interações na mesma rede social. Desde que voltou para a prefeitura, o político tomou decisões que o colocaram na mira de negacionistas, como a adoção de medidas restritivas, a exigência de passaporte de vacinação e a defesa da imunização de crianças.

Recentemente, o Comprova mostrou que a cena de uma reportagem em que homem finge estar morto é de ato pelo meio ambiente, sem relação com a pandemia; que um artigo contrário à adoção de lockdowns não foi feito pela Universidade Johns Hopkins; e que os médicos reafirmam que máscaras impedem a proliferação da covid-19 e não atrapalham a respiração. Além disso, o Comprova também explicou porque eventos adversos graves pós-vacinação contra a covid-19 são raros e os benefícios da imunização superam os riscos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Esta verificação foi feita por jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Saúde

Investigado por: 2022-02-16

Vacinas não criaram novas cepas ou mais casos de covid em Israel, como sugere postagem no Telegram

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma postagem no Telegram que sugere interpretações sobre o efeito da aplicação da terceira e quarta doses da vacina contra a covid-19 em Israel. A postagem reproduz um gráfico sobre internações no país e, com a inserção de marcações e texto, sugere que as doses extras foram ineficazes contra as novas variantes do coronavírus, ou ainda que a vacinação teria contribuído para o surgimento e avanço das cepas. Dados do governo e da imprensa local mostram que as vacinas foram aprovadas para conter o aumento de contágio e internações diante das variantes delta e ômicron, que já estavam em circulação, e que a maioria dos casos graves verificados são de pessoas não vacinadas.
  • Conteúdo verificado: Uma postagem no canal do Telegram do grupo “Médicos pela Vida” insere marcações e texto em gráfico de internações semanais por covid-19 em Israel, para apontar que as datas de início da vacinação da terceira e da quarta dose no país precedem o crescimento de hospitalizações. O texto que acompanha o gráfico sugere que a vacina seria a causadora desse aumento ou ineficaz diante das variantes do coronavírus.

Uma montagem divulgada no canal do Telegram do grupo “Médicos Pela Vida” faz intervenções no gráfico de novas internações por covid-19 em Israel, abrindo margem às seguintes interpretações: que a terceira e quarta doses foram a causa ou teriam contribuído para o avanço de novas variantes do coronavírus, ou que elas teriam sido ineficazes diante do aumento de contágio provocado pelas cepas.

Conforme demonstram as informações oficiais do governo de Israel, ambas leituras são incorretas. A vacinação não causou o surgimento das variantes: as cepas delta e ômicron já estavam em circulação no país quando a aplicação das doses de reforço foi aprovada, justamente para conter o aumento de casos da doença.

Apesar do crescimento no número de hospitalizações, o reforço ofereceu uma proteção importante. Os dados demonstram que a maioria dos internados na segunda onda da ômicron não estavam vacinados. Além disso, comparando as datas de aprovação das doses com as curvas do gráfico original utilizado na postagem, é possível notar que o efeito seguinte é o de queda nas internações.

As explicações de virologistas e epidemiologistas, dadas ao Comprova, também contribuíram para descartar a veracidade das interpretações sugeridas pela postagem.

O Comprova classificou como enganosa a publicação por distorcer dados com o objetivo de induzir o leitor a um erro de interpretação com relação às vacinas e a sua eficácia.

O grupo de Telegram que publicou a mensagem não disponibiliza outros meios de contato além do próprio chat, assim como os administradores não são identificados. O Comprova tentou entrar em contato pelo Telegram e até o momento não teve nenhuma resposta.

Como verificamos?

Por meio de uma busca pelas palavras-chaves indicadas na montagem, foi possível constatar que o gráfico utilizado como base é o do Our World in Data, plataforma mantida por pesquisadores da Universidade de Oxford e que coleta dados globais da pandemia.

Uma pesquisa nas publicações no site do Ministério da Saúde de Israel e em reportagens locais e internacionais trouxe as datas de início da terceira e quarta doses no país, e o contexto em que foram aprovadas: quando as variantes delta e ômicron já estavam em circulação e as curvas de infecção e internações, ascendentes.

O Comprova encaminhou e-mails para diferentes endereços encontrados no site do governo de Israel, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A equipe também fez contato com o virologista Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e com o médico sanitarista Gonzalo Vecina, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que explicassem o comportamento do vírus e da vacina no organismo.

A reportagem também buscou os autores da postagem, sem sucesso. O Comprova contatou um grupo de nome semelhante, mas este esclareceu não ser o autor da postagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de fevereiro de 2021.

Verificação

O gráfico oficial e as inserções

O gráfico original do site Our World in Data mostra o número de internações semanais em leitos de UTI por covid-19 em Israel, por milhão de pessoas, com curvas ascendentes por volta de agosto de 2021 e fevereiro de 2022. A visualização dos dados não traz qualquer menção à vacinação. Somente no conteúdo replicado no Telegram são inseridas, na imagem, as setas com as inscrições “3ª dose” e “4ª dose”, pouco antes de as curvas crescerem.

Essas inscrições dão a entender que a aplicação das terceiras e quartas doses da vacina foram a causa ou teriam contribuído para o avanço de novas variantes do coronavírus, ou que elas seriam ineficazes diante do aparecimento das mutações do vírus. As interpretações são sugeridas pelo seguinte texto que acompanha o gráfico:

“Uma imagem vale mais que mil palavras! Talvez desenhando fique mais fácil de entender a relação de eficácia das diversas doses de vacinas x avanço das novas cepas… Dados de Israel, um dos países que mais vacinaram sua população em todo o mundo.”

No entanto, as interpretações não encontram respaldo nos dados oficiais disponíveis no site do governo de Israel, nas informações consultadas na imprensa local e internacional e nas avaliações dos pesquisadores ouvidos nesta verificação.

Vacinas para conter variantes

Segundo conteúdo disponível na página de notícias do Ministério da Saúde de Israel, a terceira e a quarta doses da vacina contra a covid-19 foram aprovadas para conter as ondas de contaminação, já em curso, provocadas pelas variantes delta e ômicron.

Nesta notícia, de 5 de agosto de 2021, o Ministério da Saúde de Israel recomenda a vacinação de adolescentes diante da prevalência e alta transmissibilidade da delta, que foi identificada no país em abril. A terceira dose foi aprovada em 30 de julho (pessoas acima de 60 anos), 13 de agosto (50 anos ou mais), 24 de agosto (acima de 30 anos) e 29 de agosto (acima de 12 anos). Ou seja, quando a variante delta já estava em circulação. Ao observar essas datas no gráfico, é possível perceber queda na curva de internações na sequência.

O mesmo se dá em relação à onda de contaminação da ômicron. Segundo o gráfico abaixo, extraído do site do Ministério da Saúde de Israel (boletim de 10 de janeiro, pág. 3), a predominância da variante tem início no país em meados de dezembro de 2021, com a indicação próxima do dia 18. As quartas doses em Israel foram aprovadas em 2 de janeiro (pessoas com 60 anos ou mais) e em 26 de janeiro (acima de 18 anos). Portanto, após a prevalência da ômicron.

Ainda no site do Ministério da Saúde de Israel, na página de informações sobre as vacinas, consta que a quarta dose foi aprovada diante da onda de contaminação provocada pela variante ômicron, como destacado abaixo:

| Tradução do texto marcado em azul: Diante da atual onda de infecção provocada pela variante Omicron, a quarta dose para públicos adicionais foi aprovada

Mais uma vez, ao se observar a segunda curva de aumento de internações do gráfico, é possível constatar a queda de internações após as datas de aprovação da quarta dose.

Outro dado que afasta as interpretações sugeridas pela postagem são os estudos de efetividade divulgados pelo Ministério da Saúde de Israel.

Sobre a terceira dose, pesquisadores da pasta e de universidades locais apontaram defesa imunológica 10 vezes maior contra infecção e forma grave da covid-19 após a terceira dose (de reforço) da Pfizer do que em pessoas que foram vacinadas com duas doses há cinco meses ou mais.

“Especialistas de todo o mundo estão tentando descobrir se o motivo da recorrência da doença se deve a alterações no vírus e, principalmente, à entrada da cepa Delta, erosão na eficácia das vacinas ou uma combinação dos dois”, diz trecho da notícia.

Nesta outra publicação, de 25 de janeiro, o Ministério da Saúde de Israel recomenda a quarta dose para pessoas entre 18 e 60 anos. A decisão foi tomada com base em estudo que aponta de três a cinco vezes mais proteção contra formas graves da doença após a quarta dose e duas vezes mais proteção para quem tomou a terceira dose.

Não vacinados são maioria dos internados

O gráfico acima, do governo de Israel, mostra aumento de internações em período que coincide com a segunda curva ascendente do gráfico do Our World in Data, reproduzido, com inserções, na postagem do Telegram ora verificada. A imagem do boletim do governo de Israel traz uma informação adicional: a grande maioria dos hospitalizados são de pessoas não vacinadas.

A informação foi repercutida pela mídia local. Em 8 de fevereiro, o site The Times of Israel publicou reportagem em que o ministro da Saúde de Israel culpa os não vacinados pela alta pressão no sistema hospitalar do país.

A reportagem informa que, de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde, as pessoas acima de 60 anos não vacinadas com dose de reforço têm 12 vezes mais chances de adquirir uma forma grave da covid-19 do que as imunizadas na mesma faixa etária.

Dois dias antes, o mesmo veículo de Israel publicou matéria reforçando a informação: em 6 de fevereiro, havia, entre pessoas com 60 anos ou mais, 415,6 casos graves por 100 mil habitantes entre não vacinados, contra 35,9 entre os vacinados.

Israel tem 9,217 milhões de habitantes. As vacinas aprovadas no país são Pfizer, Moderna e Astrazeneca. Foram vacinadas 4.457.409 pessoas com a terceira dose e 704.017 com a quarta, até 16 de fevereiro. Os dados constam em painel do governo de Israel, reproduzido abaixo, com destaque para o quadro ‘Vacinados’ (tradução do hebraico), e o detalhamento por número de doses.

O que dizem os especialistas

Os especialistas procurados pelo Comprova são categóricos ao afirmar que as vacinas não causam ou favorecem o surgimento de novas variantes. Pelo contrário, as doses fortalecem a imunidade contra o coronavírus.

“A vacina dá uma proteção para as pessoas. Ela diminui a carga viral, faz com que a contaminação não seja tão grave e não leve as pessoas à morte. Essa é a coisa mais importante da vacina”, explica Gonzalo Vecina, médico sanitarista e ex-diretor presidente da Anvisa.

O virologista e professor da UFRJ, Amilcar Tanuri, pondera ainda que a eficiência da vacina é maior do que a proteção causada pela contaminação natural. “A vacina cria o que chamamos de célula de memória e elas são melhores no combate às mutações do que os anticorpos criados pela infecção natural”.

Com o início da aplicação da terceira dose da vacina contra o coronavírus para a população em geral a partir do dia 30 de agosto, Israel viu os novos casos de infecções caírem no dia 13 de setembro.

Os dois profissionais, especialistas em vírus e suas propriedades e em contaminações em grande escala, explicam que a natureza do organismo do vírus é se modificar para sobreviver, e as vacinas dificultam essas modificações e não as estimulam.

“As mutações ocorrem de forma natural. As moléculas do vírus estão sempre em mutação, independente de vacina ou mesmo de infecção. O vírus está sempre mudando”, diz o professor Tanuri.

Para Gonzalo Vecina, professor da Universidade de São Paulo (USP), os dados do gráfico mostram impacto positivo das vacinas no controle do coronavírus, justamente devido à queda das curvas após a aprovação das doses extras em Israel:

“A vacina então faz esse combate ao vírus de maneira mais inteligente. Ela protege o corpo inclusive de algumas mutações dependendo de como ela ocorre. Diminui a carga viral e faz os efeitos serem menos agressivos ou danosos”.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre políticas públicas do governo federal, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. A publicação checada teve mais de 54 mil interações depois de compartilhada em um canal do Telegram com 110 mil inscritos.

Outras checagens feitas pelo Comprova já mostraram que a vacina não gera câncer, HPV ou HIV, que a segurança que a vacina traz supera os riscos de miocardite e que estudos foram distorcidos na tentativa de sugerir a ineficiência dos imunizantes. A Agência Lupa também fez uma checagem mostrando que a mortalidade por covid não aumentou depois da vacinação em Israel.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-15

Cena de reportagem em que homem finge estar morto é de ato pelo meio ambiente

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa postagem no Facebook que usa o vídeo de uma reportagem sobre um protesto de ativistas pelo clima para dizer que a mídia está “corrompida”. No ato, os manifestantes simularam a morte de pessoas que são afetadas pela falta de medidas para reduzir as emissões de CO2,. Deitados ao chão, como cadáveres, um deles levanta e é impedido por outra pessoa. Não há relação com vítimas da covid-19 ou com qualquer iniciativa do próprio repórter ou jornal.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo publicado em um grupo do Facebook mostra o trecho de uma reportagem com imagens de pessoas deitadas no chão sob sacos plásticos, como cadáveres. Um dos “defuntos” começa a se levantar, mas é impedido por outra pessoa. Na legenda, o post afirma que a mídia está “corrompida”, sugerindo que o jornal teria montado a cena para noticiar mortes que não aconteceram.

É enganoso um post no Facebook que usa o trecho de uma reportagem para afirmar que a mídia está “corrompida”. O vídeo exibe imagens de um grupo de pessoas deitadas no chão sob sacos plásticos, como se fossem cadáveres. Um dos “defuntos” tenta se levantar, mas é impedido por outra pessoa. O post sugere que o jornal teria montado a cena para noticiar mortes que não ocorreram, passando a ideia de que se trata de algo que ocorreu durante a pandemia. Na verdade, trata-se da cobertura de um protesto de rua organizado por ativistas do clima — não houve mortes nem qualquer tentativa de enganar a respeito disso por parte da mídia.

A cobertura foi feita pelo repórter Marvin Bergauer, do jornal austríaco OE24 e foi exibida no dia 4 de fevereiro de 2022. O ato foi organizado pelo grupo Fridays For Future e ocorreu em frente ao escritório do chanceler austríaco, Karl Nehammer. A ideia era fazer alusão ao número de pessoas que diariamente morrem vítimas de emissão de CO2 e cobrar a aprovação de uma política de proteção climática no país.

Além das 49 pessoas deitadas, outras também estavam vestidas de “morte”, com foices na mão e cartazes. Em um dos cartazes exibidos, havia a frase: “Klimaschutzgesetz rettet leben” (“Lei de proteção climática salva vidas”, em tradução livre).

A postagem feita no Facebook distorce as informações e dá a entender que os jornalistas teriam fabricado a cena. “Falhou! Um defunto ressuscitou antes de terminar a reportagem. A mídia está corrompida no mundo todo”, diz a publicação. O repórter Marvin Bergauer, autor da matéria compartilhada na publicação, rebateu as acusações, em nota publicada no seu perfil do Facebook, e explicou que estava de fato cobrindo um protesto.

A autora do post original deletou a publicação após ser questionada pela equipe do Projeto Comprova.

O conteúdo foi classificado como enganoso, pois foi retirado do contexto original e teve seu significado original alterado, o que induziu a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos?

Começamos a nossa verificação buscando no Google a origem do vídeo. Ao observar a imagem, conseguimos identificar o nome do repórter Marvin Bergauer e chegamos ao site austríaco Österreich. Em uma pesquisa mais detalhada pelo portal, encontramos a reportagem com o título: “Schock-Protest: 49 Aktivisten im Leichensack” (“Protesto de choque: 49 ativistas em sacos para corpos”).

Utilizamos o Google Tradutor para entender o conteúdo da reportagem. Trata-se de um protesto pela falta de uma política para redução de emissões de CO2 na atmosfera na Áustria.

Realizamos uma busca no Facebook para tentar contato com o repórter Marvin Bergauer. Depois disso, conseguimos localizar o autor original do vídeo no TikTok, através de postagem feita pelo repórter, que se pronunciou sobre o caso. O vídeo reúne mais de 1,7 milhão de visualizações na rede até 14 de fevereiro. Ele não relaciona o conteúdo a mortes pela covid-19 e apenas ironiza a falha da organização.

Também procuramos mais imagens desse mesmo dia e encontramos publicações na página do Facebook da Fridays for Future de Vienna.

Verificação

O grupo em que a publicação foi feita é usado para fazer propagandas de ações do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro. Nele, há postagens contra a vacina da covid-19, que é uma medida comprovadamente eficaz para reduzir mortes e casos graves da doença.

Após as tentativas de contato com a autora original, a publicação no grupo foi deletada e não houve retorno de respostas.

A manifestação que de fato ocorreu e foi organizada pela Fridays For Future menciona um estudo publicado na Revista Nature. De acordo com a pesquisa, para cada 4.434 toneladas de emissões de dióxido de carbono, uma pessoa morrerá como resultado da crise climática neste século na Áustria.

Eles cobram que uma política climática seja estabelecida no país, porque a última venceu no final de 2020. Um dos representantes, Michael Spiekermann, também fez publicação em seu perfil no Instagram, explicando as motivações do ato. “Cada melhoria na lei de proteção climática reduz nossas emissões e salva milhares de vidas”, disse.

O repórter

O repórter Marvin Bergauer se pronunciou através das redes sociais e explicou que havia sido procurado por pessoas do Brasil, Canadá, Polônia, Rússia e Espanha, entre outros países, após a sua reportagem ter sido tirada do contexto. Ele criticou o uso do conteúdo para desacreditar a imprensa e acusá-la de manipular as informações sobre mortes causadas pela covid-19. Segundo ele, os termos mais usados foram “manipulador” e “mentiroso”.

Por fim, ele escreveu: “Por favor, não acreditem em tudo que lêem nas redes sociais […] Repostar tudo cegamente sem sequer questionar o que poderia realmente ser, só leva a mais teorias da conspiração, insultos desnecessários e uma distorção da realidade”.

Marvin foi procurado pela equipe do Projeto Comprova, mas não retornou as mensagens.

Sobre Fridays for Future

A Fridays for Future é uma organização não governamental formada por jovens e estudantes da Áustria que realizam manifestações para cobrar que políticos cumpram o acordo climático de Paris, compromisso firmado entre 200 países para conter a elevação das temperaturas globais a 1,5°C em relação à média pré-industrial.

Para isso, a ONG se divide em diversas regiões do país e realiza atos de forma individualizada, mas também em conjunto. A organização não tem filiação com partidos políticos e aceita o ingresso de qualquer pessoa que se interessar.

O grupo foi inspirado pela adolescente e ativista Greta Thunberg, que ficou conhecida por fazer protestos todas as sextas-feiras em frente ao parlamento sueco. Além dos atos de rua, eles também fazem oficinas e workshops em escolas, empresas e organizações. Um dos princípios para os protestos é que sejam pacíficos, sem ações que envolvam qualquer violência.

Por que investigamos?

O Comprova verifica informações suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagens sobre políticas públicas do governo federal, eleições presidenciais e a pandemia da covid-19. O conteúdo verificado teve mais de 2.500 interações no Facebook e mais de 1,6 milhão de visualizações no Tik Tok.

O grande número de mortes por covid-19 já foi evidenciado por órgãos sanitários, governos e jornais diversas vezes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, já foram registrados 637.152 óbitos desde o início da pandemia.

O Projeto Comprova já mostrou em outros momentos que a pandemia de fato causou muitas mortes no país. Em agosto de 2020 um post distorceu dados para negar o número de óbitos. Depois, o Projeto Comprova também mostrou que a média de mortes em 2020 foi maior do que em 2019, em decorrência da pandemia.

Além disso, essa verificação também foi feita pelo Fato ou Fake, que conversou com o repórter autor da matéria distorcida.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Saúde

Investigado por: 2022-02-15

Artigo que condena lockdowns não é da Universidade Johns Hopkins

  • Enganoso
Enganoso
São enganosos posts no Facebook que afirmam que a Universidade Johns Hopkins realizou um estudo que demonstra a efetividade baixa do lockdown como medida de prevenção contra a disseminação da covid-19. Um dos três autores da pesquisa é professor da universidade, mas a instituição não deu aval para nenhum estudo. O trabalho citado na postagem não passou por etapas técnicas recomendadas, nem foi submetido a avaliações de outros pesquisadores.
  • Conteúdo verificado: Postagens no Facebook afirmam que a Universidade Johns Hopkins realizou um estudo que concluiu que lockdowns tiveram pouca efetividade na contenção da covid-19.

Postagens nas páginas do Facebook do site Brasil Sem Medo e do deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) afirmam erroneamente que um estudo da Universidade Johns Hopkins teria comprovado que o lockdown teve baixa efetividade como medida de contenção da covid-19. Embora um dos três autores da pesquisa seja professor da universidade, a instituição não contribuiu para o estudo.

O artigo citado não passou pelos protocolos básicos para ser definido como um estudo acadêmico científico, como a submissão aos comentários e observações de colegas da área.

Procurado pelo Comprova, o deputado federal disse que ele e sua equipe apenas publicaram uma matéria de uma revista. Já a página Brasil Sem Medo não respondeu aos nossos questionamentos por e-mail até a publicação desta verificação.

O Comprova classificou a postagem como enganosa por atribuir de forma incorreta dados sem comprovação a uma instituição renomada, com a intenção de distorcer a realidade e levar o leitor a uma conclusão equivocada.

Como verificamos?

O primeiro passo da checagem feita pelo Comprova foi atestar se o estudo citado realmente existia, por meio de uma busca por palavras-chaves na internet. Depois de encontrado, verificamos quais eram as relações dos autores com a universidade citada e qual era o conteúdo do artigo. Também foram pesquisadas as qualificações acadêmicas e profissionais dos autores, assim como as suas publicações em redes sociais e entrevistas anteriores ao trabalho divulgado.

O Comprova buscou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), especialistas em pesquisas científicas, para analisar a maneira como o estudo foi produzido e também dados oficiais sobre os resultados de medidas sanitárias divulgados.

Verificação

Universidade não fez estudo sobre lockdown

O primeiro ponto que chama a atenção é o fato de a postagem atribuir o estudo à Universidade Johns Hopkins, que faz uma contagem dos casos e mortes por covid-19 no mundo todo. O próprio estudo e a universidade, contatada por e-mail, afirmam que o material divulgado não tem relação com a instituição.

“As opiniões expressas neste documento são dos autores e não necessariamente das instituições às quais os autores são filiados”, diz a abertura do artigo. Dos três autores, apenas um, Steve Hanke, tem relação com a universidade como professor de economia. Os outros dois, Jonas Herby e Lars Jonung, também economistas, são membros de instituições na Suécia e Dinamarca sem relação com a universidade Johns Hopkins.

O fato de um autor trabalhar para uma instituição de ensino não garante que esta apoie todo e qualquer material que ele venha a produzir, como explica o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Renato Janine Ribeiro. “Para você dizer que é um estudo de uma determinada universidade você tem que ter o aval dessa universidade. Não basta apenas ter alguma relação com essa universidade.”, afirma o professor.

Material publicado tem falhas técnicas e distorções

Além de pouca ou nenhuma experiência na área de saúde, os três professores de economia autores do documento em que se baseia a postagem checada não cumpriram os passos técnicos para que o trabalho fosse considerado como um estudo científico, podendo ser descrito como um artigo apenas.

“Você faz um estudo, ele é proposto a alguma revista ou algum periódico, depois ele é avaliado, eventualmente surgem críticas, pedem para o autor refazer ou analisar e responder as críticas e somente depois, no final disso, o estudo é publicado. E somente nessa altura você pode dizer que o estudo está terminado e que é efetivamente um estudo terminado e publicado”, como explica o professor Renato Janine.

Mesmo descrevendo o artigo como um “trabalho em andamento”, os autores foram criticados por pesquisadores cujos estudos serviram como base para a pesquisa. Proposto como uma meta-análise, ou revisão de literatura, onde o autor se propõe a condensar uma grande quantidade de dados e informações coletados por outros autores a fim de obter um dado definitivo, ou pelo menos fazer uma análise dos dados coletados em comparação aos demais estudos, o trabalho citado na postagem tem pouca amplitude e diversidade. Dos 34 estudos usados como base, 12 têm o mesmo status de “trabalho não finalizado”, 14 foram feitos também por economistas sobre um tema de saúde pública e sete usam a mesma base de dados. O principal artigo usado na pesquisa, na verdade, aponta benefícios para o lockdown.

Nas redes sociais, a autora desse estudo base principal disse que os três “já tinham a tese pronta” e que apenas colocaram dados e pesquisas para confirmar essa tese sem realmente ir a fundo nos trabalhos.

Outro problema apontado nas redes sociais por especialistas em análises de dados é a forma como os autores da pesquisa usaram tabelas e dados. Economista da Universidade de Munique, Andreas Backhaus escreveu que “deram peso desproporcional aos trabalhos com o resultado que eles queriam” distorcendo o número final, informação que o próprio autor reconhece nesse documento com respostas sobre questionamentos que ele publicou em suas redes.

A exclusão de dados sem um critério técnico claro também chamou a atenção do epidemiologista da Universidade de Wollogong, na Austrália, Gideon Meyerowitz. Ele trabalha com doenças crônicas em Sydney e ponderou que os autores “excluíram todos os trabalhos robustos conhecidos sobre lockdown, deixando apenas trabalhos obscuros”, o que também mostra uma disposição dos autores em usar números que chegassem a um resultado determinado antes da análise.

Medidas sanitárias foram efetivas contra a covid

Diferentemente do que sugere o artigo checado, diversas pesquisas apontam como bem sucedidas, se bem aplicadas, medidas de contenção ao coronavírus. Além do lockdown, o distanciamento social, o uso de máscaras e a higiene das mãos foram apontadas como medidas positivas no combate à disseminação da doença.

Um estudo de 2020 do Imperial College, de Londres, já apontava que cerca de 120 mil vidas haviam sido salvas com as medidas de restrição na Europa. No mesmo ano, a Organização Mundial da saúde também divulgou um estudo com os benefícios do lockdown em todo o mundo.

Já a revista Nature publicou um extenso material em que aponta que os lockdowns reduziram em média 80% das transmissões do vírus. Dois professores de matemática da Universidade de Barcelona estimaram uma queda no número de casos e de hospitalização como efeito das medidas restritivas, incluindo o lockdown. Produzido por especialistas de diversas áreas, este estudo calculou o impacto do lockdown dependendo da intensidade e da duração. Todas as publicações foram submetidas aos pares e somente depois de revisadas foram publicadas.

Em uma carta conjunta, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) abordaram a efetividade das medidas restritivas impostas em outros países e a necessidade de se repetir no Brasil. Já o International Journal of Infectious Diseases, publicou um estudo mostrando a redução no números de casos graças ao uso de máscaras, ao distanciamento social e o lockdown.

Por que investigamos?

O Comprova faz a checagem de conteúdos suspeitos relacionados às políticas públicas do governo federal, pandemia e eleições que tenham viralizado nas redes sociais. O conteúdo verificado, que postava dados incorretos sobre a pandemia para tentar desacreditar as medidas sanitárias, tinha quase 15 mil interações nas duas publicações no Facebook em apenas três dias.

Em outras oportunidades, o Comprova mostrou como as medidas sanitárias foram efetivas no combate a proliferação do coronavírus, como ao mostrar que video usava informações falsas sobre lockdown, ou quando verificou vídeo divulgado que atribuiu falsamente suicídio ao lockdown. Também checamos informações sobre o distanciamento social e a efetividade das máscaras aqui, e também nesta e nesta checagem do Comprova sobre o uso e eficiência das máscaras.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Eleições

Investigado por: 2022-02-15

Empresa foi multada por pagar propinas, não por fraudar urnas eletrônicas

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São enganosas publicações nas redes sociais que sugerem que a empresa norte-americana Diebold foi multada por fraudar urnas eletrônicas usadas no processo eleitoral brasileiro. Ela foi realmente multada em 2013 nos Estados Unidos, mas as penalidades aplicadas originam-se de acordos para resolver acusações de suborno e falsificação de contratos na China, Indonésia e Rússia. Nenhuma delas tem relação com a fabricação das urnas eletrônicas usadas nas eleições do Brasil, mas com outros equipamentos fornecidos pela empresa, como caixas eletrônicos.
  • Conteúdo verificado: Publicações no Facebook e WhatsApp com link para um texto de 2014 que afirma que a empresa Diebold Nixdorf, que fabricava urnas eletrônicas para o Brasil, foi multada nos Estados Unidos por fraude.

São enganosas as publicações que afirmam que a empresa Diebold Nixdorf foi multada nos Estados Unidos por fraudar a programação de urnas eletrônicas. As postagens tomam por base um texto publicado em 2014 e que voltou a circular entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Facebook e em aplicativos de mensagens e tem sido usado para questionar a segurança das urnas. Entre 1999 e 2016 a empresa foi responsável por fabricar os modelos utilizados nas eleições brasileiras.

O Comprova encontrou publicações em sites oficiais do governo americano (Departamento de Justiça e FBI) e um artigo da Reuters que tratam das acusações de fraude envolvendo a empresa. Nenhuma cita irregularidades relacionadas às urnas eletrônicas, mas com outros equipamentos fornecidos pela empresa, como caixas eletrônicos. As duas multas aplicadas — no valor de US$ 25,2 milhões e US$ 22,97 milhões — originam-se de acordos com a Justiça para resolver acusações de suborno e falsificação de contratos na China, Indonésia e Rússia.

A equipe entrou em contato com a Diebold Nixdorf e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar sobre as multas, a relação da empresa com o processo eleitoral brasileiro e a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas. A Diebold não respondeu às perguntas, mas declarou que “toda e qualquer informação relacionada às eleições deverá ser tratada junto ao TSE”.

O TSE afirmou que, à época dos fatos, pediu esclarecimentos à empresa e recebeu a informação de que estariam contribuindo com a justiça americana e entrariam em um acordo financeiro. Questionado, informou que não acompanhou o decorrer do processo, pois a empresa estava aderente à legislação brasileira e aos termos firmados no contrato. O TSE também ressaltou que o caso não representou uma preocupação do ponto de vista técnico, porque a arquitetura da urna e dos sistemas eleitorais é de total responsabilidade da Justiça Eleitoral. Dessa forma, não seria possível a Diebold ou qualquer outra empresa fraudar o processo. O órgão detalhou para o Comprova como é feito o processo de auditoria.

O Comprova também entrou em contato com o autor de uma das publicações de maior alcance, que aponta a multa da empresa por suposta fraude nas urnas eletrônicas. Ele disse ser contra a divulgação de notícias falsas e afirmou ter verificado o conteúdo antes de compartilhar.

Por fim, entramos em contato com a Rádio Planalto, uma emissora de Passo Fundo no Rio Grande do Sul. O link que circula junto das postagens levava a uma notícia publicada no site da rádio em 2014. A publicação realmente afirmava que a Diebold havia sido multada “por subornar funcionários na Rússia, na Indonésia e na China e fraudar a programação das urnas eletrônicas e de caixas eletrônicos”. Depois do contato, a emissora emitiu uma nota sobre o caso e deletou o conteúdo. No comunicado, a Rádio Planalto informou que o responsável pela publicação não faz mais parte da equipe e que, ao longo dos anos, o veículo tem feito publicações salientando a segurança das urnas eletrônicas.

O Comprova considera que o conteúdo é enganoso porque usa dados imprecisos e por ser um conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano eleitoral.

Como verificamos?

Em conteúdos compartilhados no Facebook e recebidos pelo WhatsApp do Comprova, os autores alegam que a afirmação de que a Diebold foi multada é verdadeira, pois “está no site do FBI, saiu na Reuters e na Nasdaq”. O primeiro passo, então, foi buscar pelas publicações citadas. A partir do mecanismo de busca avançada do Google, encontramos as matérias da Reuters e do FBI que tratavam sobre o acordo entre a Diebold e a Justiça Americana. Também foi encontrado um comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre o mesmo assunto.

Nenhuma das publicações cita qualquer relação entre as multas e fraude na programação das urnas eletrônicas, como alega o texto que viralizou.

Além disso, entramos em contato com a empresa Diebold, via e-mail, para questioná-la acerca das investigações de fraude. A princípio, se mostrou acessível para esclarecer qualquer dúvida, mas posteriormente preferiu não se manifestar sobre o assunto. O Comprova também entrou em contato com o TSE, que negou qualquer possibilidade de fraude na fabricação das urnas eletrônicas e explicou como é feito o processo de auditagem. Por fim, procuramos a Rádio Planalto, cujo link para uma publicação de 2014 acompanha parte das publicações investigadas.

Verificação

As multas

Segundo o site do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Diebold concordou em pagar 25,2 milhões de dólares para resolver acusações de suborno. A empresa era investigada por oferecer vantagens para funcionários de bancos privados e estatais em troca de favorecimento nos negócios.

Além disso, também teria falsificado contratos com um distribuidor na Rússia que, por sua vez, teria pagado propina a clientes da Diebold para obter contratos relacionados a caixas eletrônicos.

Ainda segundo o Departamento, anteriormente, a Diebold havia firmado um acordo semelhante no valor de 22,97 milhões de dólares com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. As multas, portanto, não têm relação com fraude em urnas eletrônicas.

O Comprova entrou em contato com a Diebold e questionou sobre a investigação, contudo, a empresa não quis se manifestar sobre o assunto e alegou que “toda e qualquer informação relacionada às eleições deverá ser tratada junto ao TSE”.

Por sua vez, o TSE afirmou que questionou a empresa na época dos fatos e foi informado que a Diebold estava colaborando com as investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que fecharia um acordo financeiro. O Comprova questionou se o Tribunal acompanhou o desenrolar do processo. Em resposta, o órgão informou que a empresa estava aderente à legislação brasileira e aos termos firmados no contrato, por isso não acompanhou o decorrer da ação.

O TSE também esclareceu que toda a engenharia e o projeto de arquitetura da urna, assim como o processo de votação são de total responsabilidade da Justiça Eleitoral. Portanto, não haveria a possibilidade da empresa agir de má fé para causar dano ou fraudar o processo eleitoral. O caso, então, não representava uma preocupação do ponto de vista técnico, segundo o órgão.

Diebold e a relação com as eleições

A empresa Diebold, citada na publicação, é uma multinacional norte-americana especializada na fabricação, venda e instalação de serviços de autoatendimento. Ela foi contratada pela Justiça eleitoral para fabricar nove projetos de urnas eletrônicas, entre os anos de 1999 a 2016. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os modelos são 2000, 2004, 2006, 2008, 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015. Atualmente, presta serviços apenas na manutenção de cerca de 473 mil urnas.

Para prestar serviços ao TSE, as empresas precisam passar por um processo licitatório minucioso de ampla concorrência. Além disso, as vencedoras das licitações não fabricam os projetos das urnas a esmo, mas sim, precisam desenvolvê-las usando o projeto de arquitetura de segurança do TSE, por sua vez coordenado e auditado por uma equipe técnica do órgão.

O Tribunal esclareceu que a Diebold era responsável somente pela confecção da urna, “como ocorre com qualquer outro equipamento eletrônico, em que os componentes são reunidos em uma fábrica e a partir disso é montada a urna para que esteja pronta e apta para o uso do eleitorado brasileiro.”

Toda a engenharia e o projeto de arquitetura é totalmente concebido, coordenado, supervisionado e auditado pela Justiça Eleitoral. Dessa forma, segundo o TSE, a segurança do equipamento é preservada, independentemente de quem a fabrique. “Importante deixar claro que os processos exigidos pelo Tribunal no edital de licitação impedem que a fabricante engane a segurança da urna”, pontuou, em nota.

Além disso, o sistema eletrônico de votação não utiliza rede de internet, mas sim, possui os próprios meios criptografados de comunicação e transmissão de dados. Isso dificulta a atuação de invasores ou roubo de informações.

“Em mais de 20 anos de trajetória, o sistema foi reiteradamente testado e comprovadamente isento de quaisquer formas de manipulação, de fraude na totalização de votos ou de quebra do sigilo do voto”, reforçou o órgão público.

Sendo assim, a Diebold não seria capaz de fraudar o processo eleitoral brasileiro.

Auditoria das urnas

Como explica o TSE, são 30 camadas ao todo que protegem as urnas eletrônicas de qualquer tipo de invasão. Para hackear o sistema, seria necessário ultrapassar todas essas barreiras no momento da votação. Mesmo que fossem violadas, a inteligência do sistema bloqueia o acesso às informações quando identifica um invasor e a urna trava.

O processo de auditagem começa um mês antes das eleições. Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) de cada estado nomeiam uma Comissão de Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas em uma sessão pública.

A Comissão precisa ser composta por um juiz de direito e seis servidores da Justiça Eleitoral, no mínimo. Depois, o procurador regional indica ainda para compor a equipe um representante do Ministério Público; dos partidos políticos; coligações; Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); Congresso Nacional; Supremo Tribunal Federal (STF); Controladoria-Geral da União (CGU); Departamento de Polícia Federal; Sociedade Brasileira de Computação (SBC); Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Por fim, representantes de departamentos de Tecnologia da Informação de universidades também podem ser indicados para acompanhar o grupo.

A 20 dias para o pleito, os TREs informam, tanto à população quanto aos partidos, o local onde será feita a auditoria das urnas na véspera das eleições. Aos partidos, também é encaminhado ofício com horário e o local da auditoria no dia da eleição, informando sobre como seus representantes podem participar.

Um dia antes das votações, a Justiça Eleitoral sorteia de três a cinco seções eleitorais em cada estado, durante audiência pública. Então, as urnas sorteadas são substituídas, e depois instaladas nos TREs em salas monitoradas por câmeras.

A Comissão distribui cédulas para simular uma “votação paralela” no domingo, que são preenchidas por representantes dos partidos políticos e coligações, e devem ser completadas com os números dos candidatos, votos nulos, votos de legenda, além de cédulas com votos em branco. A quantidade de cédulas corresponde entre 75% e 82% do número de eleitores registrados em cada seção eleitoral sorteada.

Já no dia da eleição, a votação de auditagem começa no mesmo horário da votação oficial. Todos os votos preenchidos pelos representantes dos partidos no dia anterior são digitados nas urnas e em um sistema paralelo, enquanto as câmeras filmam todo o processo.

Quando a votação acaba, a urna imprime um Boletim de Urna (BU), e o sistema auxiliar também emite um boletim. Ambos os dados são conferidos pela Comissão, assim é possível verificar se a urna apresentou falhas e se computou exatamente todos os votos registrados nas cédulas.

Esse processo é acompanhado pela equipe nomeada em audiência pública, mas também pode ser acessado por qualquer pessoa interessada em checar a veracidade do processo eleitoral. Em alguns estados, inclusive, a auditagem é transmitida pelos canais oficiais dos TREs no YouTube.

As publicações

Inicialmente, o Comprova identificou três postagens que compartilhavam um texto publicado em 2014 no site da Rádio Planalto, intitulado “EUA multa empresa das urnas eletrônicas usadas no Brasil por fraude”. No início de fevereiro, a publicação voltou a circular entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Facebook.

A publicação, que citava como fonte o site Folha Centro Sul, afirmava que a Diebold havia sido multada “por subornar funcionários na Rússia, na Indonésia e na China e fraudar a programação das urnas eletrônicas e de caixas eletrônicos”. Depois do contato do Comprova, a emissora emitiu uma nota de esclarecimento. Na nota, o departamento de jornalismo da rádio informa que o conteúdo “foi retirado do ar e que o colaborador, na época, responsável pela publicação em nossas plataformas não integra atualmente a equipe das nossas emissoras”. A nota diz também que ao longo dos últimos anos várias publicações foram feitas nas mídias sociais da emissora salientando a segurança das urnas eletrônicas.

Uma das publicações investigadas é de Ranieri Marchioro, cirurgião dentista e militar da reserva do Exército. Nas eleições de 2020, ele foi candidato à prefeitura de Foz do Iguaçu pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). Outra postagem foi compartilhada em uma página de apoiadores de Bolsonaro no Facebook. O Comprova também recebeu pedidos de leitores, por meio do WhatsApp, para verificação do conteúdo.

Todas as publicações levam a mesma legenda em tom de cobrança ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.

O Comprova entrou em contato com Raniere Marchiori, autor de uma publicação realizada em 11 de janeiro deste ano, que aponta a multa da empresa por suposta fraude nas urnas eletrônicas. A postagem, com 410 compartilhamentos e quase mil interações em um todo, afirma que a notícia não é falsa.

“E agora Ministro BARROSO, justifique-se! ‘Em 2014 o Governo Americano multou a empresa DIEBOLD fornecedora das urnas eletrônicas usadas no Brasil por fraude.’ Não adianta falar que é Fake, está no site do FBI, saiu na Reuters e na Nasdaq”.

Questionado sobre sua publicação, Marchiori disse ser contra a divulgação de notícias falsas e afirmou ter verificado o conteúdo antes de compartilhar.

“Sou totalmente contra a divulgação de notícias falsas tanto quanto tentar ocultar as notícias verdadeiras do público”, informou

Por que investigamos?

O Comprova tem o compromisso de investigar conteúdos suspeitos que tenham relação com a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. A equipe tem como foco as publicações virais, que tiveram grande alcance nas redes sociais e podem causar desinformação.

O post desta reportagem teve quase mil interações no Facebook e trouxe à tona uma informação antiga, de 2014, como se fosse atual. Em ano eleitoral, é comum surgirem ataques à veracidade das urnas eletrônicas, informações falsas que comprometem a integridade do processo eleitoral brasileiro.

O conteúdo investigado pelo Comprova foi alvo também de uma verificação do MonitorR7, publicada em 15 de janeiro, e que apresenta a mesma conclusão.

O Comprova já desmentiu anteriormente que urnas eletrônicas seriam fáceis de serem fraudadas por meio do código-fonte, ou ainda que as eleições de 2020 no Brasil usaram o mesmo software utilizado no pleito presidencial norte-americano, conforme afirma uma jornalista em um vídeo publicado no YouTube.

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