O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Investigado por: 2022-10-07

Lula não tem relação com luciferianismo nem com satanismo; entenda o contexto das postagens sobre o tema

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Comprova Explica
Influenciador digital que se autodenomina “mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon” Vicky Vanilla diz em vídeo que “está decretada” a vitória do ex-presidente e atual candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, realizado no dia 02 de outubro – o que não ocorreu. Nas imagens, é possível vê-lo em frente a uma bandeira do petista, falando sobre a união de diferentes religiões e entidades ligadas ao satanismo e ao ocultismo para garantir a vitória do ex-presidente. O vídeo viralizou e foi usado para associar Lula ao satanismo. Vanilla, no entanto, diz que o petista não faz parte da sua igreja e também que não é bolsonarista.

Comprova Explica: Autointitulado líder da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon, o influenciador Vicky Vanilla fez uma live na semana passada no TikTok usando uma camiseta vermelha e exibindo uma toalha com o rosto do ex-presidente e candidato Lula (PT) ao fundo. Em um trecho da live, que viralizou em outras redes, Vanilla afirma que diferentes religiões e entidades ligadas ao satanismo e ao luciferianismo tinham se unido para garantir a vitória do petista já no primeiro turno.

O vídeo foi disseminado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que usaram o material para associar o petista ao satanismo. A campanha de Lula negou qualquer ligação com as doutrinas ou com a entidade liderada por Vicky Vanilla. Enquanto isso, apoiadores de Lula passaram a espalhar um vídeo com um trecho de uma entrevista do líder luciferiano em que ele criticava Lula. A intenção dessas postagens era desvincular Vanilla da imagem do ex-presidente e dizer que, na verdade, ele seria um bolsonarista disposto a prejudicar a imagem do petista.

A repercussão fez com que Vicky Vanilla publicasse outros dois vídeos – um desmentindo a ligação de Lula com a igreja dele, com o luciferianismo e com o satanismo, e outro em que negava ser bolsonarista ou cabo eleitoral de Bolsonaro. Os vídeos foram retirados do ar por uma ordem judicial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os luciferianistas não são contrários ao cristianismo, nem deixam de acreditar em Deus – para eles, contudo, Lúcifer não é um anjo caído, e sim um portador de luz”. Especialistas apontam que nem mesmo entre os cultos a Lúcifer e Satã há unidade e que não há sequer relações estruturais entre os cultos citados por Vicky Vanilla no vídeo da live.

Com a viralização de conteúdos sobre o caso, o Comprova resolveu explicar qual o contexto das postagens, quem é Vicky Vanilla e o que são religiões luciferianas e satanistas, uma vez que o conteúdo envolve um candidato à Presidência de um país cuja maioria da população se identifica como cristã.

Como verificamos: O Comprova assistiu ao vídeo verificado aqui e as demais gravações relacionadas ao conteúdo. Também foi visto o vídeo da entrevista de Vanilla ao podcast Supersônico Cast em que ele critica Lula e Bolsonaro.

Foram entrevistados dois pesquisadores sobre o tema do luciferianismo e suas relações com o cristianismo: o historiador Elias Pereira, que é pós-graduado em História das Religiões, e o professor Johnni Langer, PhD em História e professor do curso de Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

O Comprova também acessou o posicionamento oficial da campanha do candidato Lula sobre o assunto e a decisão do TSE sobre uma representação feita pelos advogados do petista a respeito dos vídeos. O Comprova procurou, por fim, o ator do vídeo que viralizou, Vicky Vanilla.

O contexto das publicações

Na segunda-feira após o primeiro turno das eleições (3 de outubro), perfis de apoiadores de Bolsonaro começaram a compartilhar trechos de um vídeo em que um homem vestido de camiseta vermelha e com uma bandeira de Lula ao fundo afirma, entre outras coisas, que diversas seitas e religiões de matriz africana, ocultistas, de doutrina luciferiana e/ou satanista haviam se unido para garantir a vitória do petista contra o atual presidente.

O vídeo era o trecho de uma live no TikTok publicada por um perfil chamado Vicky Vanilla, que se identifica como “mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon”. De acordo com reportagem do jornal O Globo, a live foi feita em 30 de setembro. O material não está mais disponível nas redes sociais e não foi possível assistir ao conteúdo na íntegra. No trecho que foi compartilhado por apoiadores do atual presidente, Vanilla diz que os bolsonaristas iriam “comer o pão que o diabo amassou” e que “amanhã não tem para ninguém, já está decretado”.

“Nós nos unimos, esse tempo todo que eu tive que disfarçar, ficar quieto, disfarçar, falar de outras coisas nas redes sociais. Nós nos unimos esse tempo todo: os terreiros de Quimbanda, os terreiros de Axé, as irmandades luciferianas do país, os segmentos satanistas, os satanistas ateístas, os satanistas gnósticos, os luciferianos ateístas, luciferianos gnósticos, nós nos unimos esse tempo todo”. Em seguida, ele profere ofensas aos apoiadores de Bolsonaro e diz que “eles não vão conseguir vencer o poder e o tamanho de uma egrégora que é a nossa. Amanhã já está decretado, vocês estão arruinados (…). Porque vocês nesses últimos quatro anos apoiaram um ditador, um facínora, um vagabundo safado”.

A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) foi uma das apoiadoras do presidente que compartilhou o vídeo, com a legenda “A guerra é espiritual”. Já um perfil no Twitter que apoia Bolsonaro escreveu: “Satanistas declaram apoio a Lula. Pronunciamento de um adepto do satanismo e bruxaria sobre as eleições. É esse candidato que você quer para o Brasil?”.

Após a repercussão do material, Vanilla publicou um vídeo em suas redes sociais em, 4 de outubro, dizendo que as publicações dos apoiadores do presidente eram “fake news” e que suas falas durante a live haviam sido retiradas de contexto. “Esse corte faz parte de todo um pronunciamento que eu fiz na última live e está sendo colocado totalmente fora de contexto por pessoas que querem que você não saiba a verdade. O vídeo está sendo espalhado como uma fake news, tanto a meu respeito, quanto a respeito do candidato Lula, que não tem qualquer ligação com a nossa casa espiritual. Ele está sendo divulgado como uma artimanha dos pseudocristãos, dos fariseus instalados na política que não querem que você se aproxime da verdade de Cristo”, afirmou.

Como o vídeo da live não está mais disponível, o Comprova procurou Vicky Vanilla para explicar qual era o intuito e o contexto das falas em que ele se refere à “união” entre as seitas citadas no trecho do vídeo e a eleição de Lula, mas não houve resposta até o fechamento deste Comprova Explica.

Enquanto trechos do vídeo seguiam viralizando nas redes sociais, alguns apoiadores do ex-presidente Lula começaram a publicar que Vanilla, na verdade, era apoiador do presidente Bolsonaro e havia feito a live para prejudicar a imagem do PT. Essas postagens compartilhavam um trecho em vídeo da participação de Vanilla no podcast Supersônico Cast, que foi publicado em 14 de maio de 2022.

No trecho compartilhado, Vanilla fazia críticas ao PT e a Lula. A fala em tom crítico aconteceu momentos após os convidados do podcast conversarem sobre assuntos como criminalidade e pena de morte. Vanilla afirma: “Agora, o Lula também me soltar que o cara roubou, um ‘é só um celularzinho para ir tomar uma cervejinha’. Você viu isso aí? É, é uma política de bosta, o cara vem falar ‘é só um celularzinho, companheiros, só pra tomar uma cervejinha’. Ah, vem roubar o meu, pra ver o berro na sua cara”.

Em seguida, os outros participantes do podcast mencionam uma suposta proposta do ex-presidente Lula que buscaria “regular a mídia”, o que, na interpretação de um dos convidados, significaria “regular a internet,” e que a medida poderia “acabar com isso aqui [o podcast]”. Vanilla então, comenta: “Nazismo, o nazismo começou assim também”.

O trecho compartilhado, contudo, não mostrava a fala completa de Vicky Vanilla quando criticou Lula. Antes, ele havia criticado Jair Bolsonaro e dito que detestava o atual presidente (a partir de 1:46:03): “Todo mundo sabe que eu não tenho nenhum tipo de apreço pelo Bolsonaro, cara, eu detesto, mas o Lula me soltar… eu detesto Bolsonaro, para mim é escrotidão pura, até um vira-lata amarelo, se você votar no vira-lata caramelo vai ser melhor para você, vai fazer melhor para o país”, disse. Em seguida, ele fala sobre o petista: “Agora, o Lula também me soltar que o cara roubou, um ‘é só um celularzinho para ir tomar uma cervejinha’. Você viu isso aí?. É, é uma política de bosta, o cara vem falar ‘é só um celularzinho, companheiros, só pra tomar uma cervejinha’. Ah, vem roubar o meu, pra ver o berro na sua cara”.

Apesar de a fala de Vicky Vanilla ter sido descontextualizada, ele também engana ao citar a suposta declaração de Lula sobre “roubar celular para comprar uma cervejinha”. Não há qualquer registro que comprove que o ex-presidente tenha dito isso, conforme demonstraram Reuters, AFP Checamos, e Migalhas.

Após a repercussão dessas novas postagens, Vanilla novamente usou suas redes para declarar que sua entrevista ao podcast havia sido distorcida e que ele não possui nenhum alinhamento com Bolsonaro. Em um vídeo publicado em seu perfil no TikTok, ele disse: “Mais uma vez a minha fala e o meu posicionamento estão sendo colocados de uma forma totalmente desviada das minhas intenções originais (…). Falar que eu sou eleitor, cabo eleitoral do Bolsonaro, isso foi demais. Em todas as minhas lives e meus posicionamentos públicos eu jamais manifestei qualquer tipo de apoio à ideologia fascista do Bolsonaro, que não reflete em absoluto qualquer um dos ideais luciferianos de evolução, fraternidade e consciência política. Isso é um nítido caso de intolerância religiosa, a mesma intolerância religiosa que a esquerda diz combater assiduamente e que no momento está fazendo o contrário me colocando como cabo eleitoral do Bolsonaro, por causa de algumas entrevistas que eu dei no passado”.

Quem é Vicky Vanilla

Ele se apresenta no TikTok como “sacerdote, mago e palestrante”. Em seu site, diz ser “mestre e líder da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon”. Ele afirma que foi iniciado e desenvolveu sua mediunidade em religiões de matrizes africanas (umbanda e quimbanda), praticou o xamanismo ancestral brasileiro, estudou psicanálise e simbologia e já “lecionou as artes oraculares em famosas escolas esotéricas de São Paulo”.

Ainda segundo o site, a “síntese de tudo que Vanilla já aprendeu” é o luciferianismo gnóstico e a Alta Magia da Mão Esquerda. Além do perfil do TikTok com mais de 1 milhão de seguidores, Vanilla mantém uma conta ativa no Instagram e um canal no YouTube. Nas redes sociais ele publica conteúdos sobre seu cotidiano, explica conceitos do satanismo e do luciferianismo e também grava vídeos opinativos ou interagindo com seguidores.

O que é o luciferianismo e o que é satanismo?

Luciferianismo e satanismo são correntes diferentes. O primeiro é uma corrente filosófica, muito inspirada no Iluminismo, que enxerga Lúcifer não como um anjo caído, mas como um “portador de luz”. Ao contrário do que pensa o senso comum, os seguidores do luciferianismo não se opõem ao cristianismo, não pregam contra a Bíblia e nem deixam de acreditar em Deus.

“O luciferianismo tem um pensamento filosófico de Lúcifer pelo sentido da palavra, mesmo, o portador de luz. A ideia do luciferianismo é o culto ao próprio ser humano, aquela ideia de que você é a própria divindade. Ele é muito baseado na questão cristã europeia, de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Logo, o ser humano também é divino”, explica o historiador Elias Pereira, que é pós-graduado em História das Religiões.

Pereira aponta que os luciferianistas não seguem a Bíblia, mas não pregam contra ela. “Eles não são nem um pouco contra Deus. Acreditam em Deus, só que, para eles, Deus está dentro do ser humano”, diz.

Na entrevista ao podcast Supersônico Cast, o próprio Vanilla afirmou que “tudo é Deus” e que “Deus é o aqui e o agora”. “Se Ele [Deus] é o todo, eu não sou parte dele, porque parte significaria fragmento, fragmento indicaria separação. Então, eu sou Deus, vestindo uma experiência humana e temporária para que possa viver os seus sonhos. A vida é um sonho de Deus”, afirmou.

Há duas correntes principais do luciferismo: o clássico e o neoluciferianismo, muito mais presente hoje na sociedade. A principal diferença entre eles é que, no luciferianismo clássico, os seguidores enxergam Lúcifer como um ser físico, mas ainda assim como um mestre, e não como um demônio. Já o neoluciferianismo é uma corrente mais filosófica que acredita que, através de alguns ritos como meditações e orações, é possível despertar o divino dentro das pessoas.

Enquanto isso, o satanismo é diferente das duas correntes do luciferianismo. “O satanismo crê, por exemplo, que o diabo também está dentro do ser humano e isso é visto nas atitudes negativas, como os impulsos mais animalescos, a questão do instinto de sobrevivência, e isso faz com que o diabo dentro de cada um desperte”, aponta o especialista.

Professor do curso de Ciências das Religiões da UFPB, Johnni Langer, que é doutor em História e coordenador do NEVE (Nucleus of Vikings and Scandinavian Studies), comenta que os satanistas são mais filiados a correntes norte-americanas, enquanto os luciferianos seguem uma linha mais europeia. Ele destaca que não há unidade nesses grupos e há, inclusive, muitas mesclas e influências.

“Nem mesmo cultos em torno do diabo possuem qualquer tipo de união, congregação ou filiação de interesses, seja na esfera puramente religiosa ou política, em nosso país”, diz. Ele aponta, ainda, que os diversos cultos citados no primeiro vídeo de Vicky Vanilla não têm relações estruturais entre si.

“Historicamente e socialmente, são grupos que não possuem relação estrutural entre si, como as religiões afro-brasileiras, a Wicca e as vertentes do satanismo/luciferianismo. O que elas todas têm em comum é que, do ponto de vista imaginário, representam o mal absoluto para os grupos evangélicos, que formam uma das bases eleitorais do Bolsonaro”, explica Johnni Langer.

É verdade que algumas correntes do luciferianismo sofreram influência de outros grupos religiosos e filosóficos, mas isso não significa que atuem juntas. “Os luciferianistas acreditam em várias concepções que mesclam elementos do cristianismo com ocultismo”, diz Langer. Elias Pereira aponta que entre as referências está a quimbanda, de matriz africana, mas que está muito mais ligada à corrente clássica do que ao neoluciferianismo.

Atualmente, não é possível dizer, numericamente, quantos adeptos do luciferianismo existem no Brasil – essa doutrina não é citada nominalmente no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Johnni Langer, a maioria das vertentes do luciferianismo não sobreviveu ao século XX, enquanto muitas outras surgiram no mesmo período. “Existem igrejas luciferianas no Brasil, mas são difíceis de serem contadas e quase sempre têm um caráter marginal e semi-secreto”, aponta.

Lula não é luciferianista, nem satanista, e sim católico

Além de Vanilla ter dito mais de uma vez que Lula não tem qualquer ligação com o grupo espiritual que ele lidera, a igreja de Lúcifer do Novo Aeon, o petista também desmentiu qualquer relação com luciferianismo ou satanismo. “A verdade, como já repetimos antes, é que Lula é cristão, católico, crismado, casado e frequentador da Igreja Católica. Não existe relação entre Lula e o satanismo”, diz nota divulgada pelo PT.

Lula se casou pela terceira vez no dia 18 de maio deste ano com a socióloga Rosângela Silva, a Janja. O casamento foi celebrado por um sacerdote católico, o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino.

Vanilla já apoiou Lula, mas avalia se manter neutro no 2º turno

Havia pelo menos dois vídeos no perfil de Vicky Vanilla no TikTok de apoio ao ex-presidente Lula, mas eles foram apagados. Em um vídeo gravado em 6 de outubro, Vanilla disse que o material foi retirado do ar por ordem do TSE. Ele criticou a decisão, apontou que foi vítima de intolerância religiosa e que está avaliando se manterá o apoio a Lula no segundo turno ou se ficará neutro. De qualquer forma, antes da derrubada do material, Vanilla tinha afirmado que o apoio dele a Lula não era institucional nem religioso, e sim pessoal, como cidadão.

“Eu me posicionei democraticamente a favor do Lula, não religiosamente. O Lula não tem qualquer vínculo com o luciferianismo ou com o satanismo. Eu, na minha qualidade de cidadão, é que manifestei a minha intenção política”, disse, em um vídeo postado na rede no dia 5 de outubro de 2022. No mesmo vídeo, o influenciador negou que seja eleitor de Bolsonaro. Há, no perfil de Vanilla, mais de um vídeo com críticas a Bolsonaro pelo menos desde maio deste ano.

A suspensão do conteúdo de apoio a Lula foi, realmente, determinada pelo TSE. A Coligação Brasil da Esperança, do petista, entrou com uma representação no dia 4 de outubro de 2022 contra o responsável pelo perfil de Vicky Vanilla no TikTok e contra bolsonaristas que espalharam o vídeo que viralizou nas redes.

No pedido, a coligação, os advogados disseram que “o que se observa é um indivíduo, que conta com quase um milhão de seguidores apenas na mencionada rede social, afirmando ser seguidor do satanás, entidade bíblica que sabidamente representa o mal na Terra, fazendo vídeos de apoio à candidatura de Lula. Com isso, tal tema se difunde nas redes sociais e aplicativos de mensagens eletrônicas de tal sorte que, em pouco tempo, emite-se a nociva mensagem que os adoradores do demônio apoiam Lula”. A defesa do candidato petista disse ainda que “os apoiadores do candidato Jair Bolsonaro não perderam a oportunidade de propagar, com base nas publicações do usuário @vicky_vanilla_official, a mentirosa associação do candidato Lula a Lúcifer, espalhando desinformação na Internet“.

Na decisão, tomada em 5 de outubro, o ministro do TSE Paulo de Tarso Vieira Sanseverino mandou que TikTok, Twitter, YouTube, Instagram, Facebook e Gettr removessem as publicações no prazo de 24 horas, sob pena de incidência da multa diária no valor de R$ 50 mil, em caso de descumprimento. Ao acatar o pedido da defesa de Lula, o ministro destacou que a livre manifestação do pensamento do eleitor na internet só é passível de limitação quando ofende a imagem de candidatos, partidos, federações ou coligações, ou quando são divulgados fatos sabidamente inverídicos.

“Contata-se que o perfil @vicky_vanilla_official contém aproximadamente um milhão de seguidores, na rede social TikTok, e o seu responsável e administrador se apresenta como sacerdote, mago e palestrante. O referido perfil divulga conteúdos relacionados a ideologias ou crenças relacionadas ao satanismo, de modo a promover admiração a personagens religiosos como Satanás e outras figuras similares como Belzebu e Lúcifer. Ocorre que o responsável pelo perfil – sob o argumento do exercício legítimo do direito à liberdade de opinião ou expressão – divulga conteúdos manifestando suposto apoio político a Luiz Inácio Lula da Silva, o que acaba por associar indevidamente a imagem do candidato a ideologias e crenças satânicas. O resultado é que as publicações produzidas e divulgadas pelo perfil @vicky_vanilla_official estão sendo disseminadas nas redes sociais por diversos outros usuários, gerando desinformação com o nome e a imagem do candidato da coligação representante. É forçoso reconhecer que a propagação desses conteúdos, sem nenhum consentimento do candidato ofendido, tem o potencial de interferir negativamente na vontade do eleitor”, diz o texto da decisão, que tem caráter liminar.

Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que circulam nas redes sociais. A seção Comprova Explica é utilizada para a divulgação de informações a partir de conteúdos que viralizam e estão causando confusão, como o vídeo postado pelo mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon, Vicky Vanilla, em favor da vitória do candidato à presidência Lula da Silva no 1º turno, que acabou não se concretizando.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez diversas checagens envolvendo falsas associações entre o candidato à presidência Lula e a religião, como a de um vídeo que foi editado para sugerir falsamente que o petista defende o fechamento de igrejas. Antes do primeiro turno das eleições, a seção Comprova Explica também demonstrou quem era o Padre Kelmon, candidato à presidência pelo PTB que ganhou destaque, principalmente, a partir de sua participação em debates na televisão e seus ataques ao ex-presidente Lula e ao PT.

Eleições

Investigado por: 2022-10-07

Posts enganam ao associar Bolsonaro e a Maçonaria ao satanismo

  • Enganoso
Enganoso
Postagens no Twitter enganam ao associar o presidente e candidato à Presidência da República Jair Messias Bolsonaro (PL) ao satanismo. Uma foto de Bolsonaro em um evento da Maçonaria foi editada para inserir três quadros com símbolos supostamente demoníacos. Outras postagens utilizam vídeo do presidente discursando em loja maçônica para sugerir que ele teria prometido "entregar o Brasil a satanás", mas o candidato não faz tais afirmações em nenhum momento da gravação.

Conteúdo investigado: Publicações com imagens e vídeos do presidente Jair Bolsonaro (PL) em loja maçônica e legendas associando-o, assim como a maçonaria, ao satanismo.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: São enganosas as postagens no Twitter que relacionam Bolsonaro ao satanismo e à maçonaria, e alegam que o presidente teria prometido “entregar o Brasil a satanás” caso seja reeleito.

Uma das imagens que está circulando no Twitter mostra Jair Bolsonaro em frente a três quadros com símbolos supostamente demoníacos. Na verdade, o conteúdo foi manipulado e as imagens inseridas digitalmente. A foto original foi feita em 31 de março de 2014, quando o presidente esteve em uma loja maçônica em Brasília. No site do empreendimento há outros registros do evento que mostram Bolsonaro usando as mesmas roupas da imagem verificada.

Outros tuítes, que alegam que o presidente teria prometido “entregar o Brasil a satanás”, tiveram origem em um vídeo de Bolsonaro discursando em um local com símbolos maçons. O conteúdo circula pelo menos desde 2017, um ano antes de Bolsonaro ser eleito presidente. Em outra versão de sete minutos do vídeo, ele menciona ter 63 anos, o que indica que a filmagem foi feita após o dia 21 de março de 2017, quando o político completou a idade declarada. Em nenhum momento, Bolsonaro promete entregar o Brasil a “satanás” ou a qualquer entidade associada ao satanismo.

No dia 5 de outubro, em uma transmissão ao vivo, Bolsonaro confirmou que esteve na loja maçônica.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de outubro, as duas publicações no Twitter relacionando Bolsonaro com a maçonaria e o satanismo tiveram 23,4 mil curtidas e 4 mil compartilhamentos. O vídeo do presidente no templo alcançou 12,4 milhões de visualizações, 19,8 mil curtidas e quase 5 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: Nenhum dos perfis que compartilharam as publicações no Twitter permite o envio de mensagens. Por isso, o Comprova buscou pelo nome dos usuários em outras redes sociais, mas não encontrou correspondência.

Como verificamos: Utilizamos mecanismo de busca reversa por imagens do Google, Google Lens, e a ferramenta RevEye Reverse Image Search para rastrear as versões originais da foto e do vídeo verificados, que retratam, respectivamente, Jair Bolsonaro e Augusto Heleno, que atualmente é ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, em uma loja maçônica e Bolsonaro discursando em evento maçônico.

Encontramos a publicação original da foto, datada de 31 de março de 2014, em site associado à loja maçônica em Brasília, de onde a imagem foi removida. Quanto ao vídeo, que mostra um outro episódio, descobrimos postagens datadas de, pelo menos, agosto de 2017 com uma versão de sete minutos do conteúdo investigado.

Também conversamos com o professor do curso de Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e PhD em História, Johnni Langer, para entender as origens e os símbolos da maçonaria.

Por fim, entramos em contato com as assessorias do governo federal e do Grande Oriente do Brasil (GOB), uma das principais representantes da maçonaria no país, assim como com os autores das publicações, mas não houve retorno de nenhuma parte.

Enquanto avançávamos na apuração, na quarta-feira (5), o próprio presidente Jair Bolsonaro comentou o episódio do discurso em evento maçônico, captado no vídeo investigado, e confirmou a veracidade, em transmissão ao vivo em suas redes sociais.

Foto de Bolsonaro na maçonaria foi manipulada para inserção de símbolos

Jair Bolsonaro (PL) não posou em frente a um quadro representando um demônio e outros símbolos supostamente satânicos quando esteve em uma loja maçônica acompanhado de Augusto Heleno e do hoje senador Izalci Lucas (PSDB-DF). A foto original foi cortada e teve a qualidade diminuída, possivelmente para dificultar o rastreamento de sua origem. Além disso, três símbolos, dentre eles a imagem de um bode, figura associada ao satanismo, foram inseridos digitalmente na parede ao fundo:

| Foto original

| Montagem que circula nas redes sociais

 

A foto original foi registrada quando Bolsonaro esteve na Loja Brasília N. 1882, em 31 de março de 2014, à época deputado federal pelo Rio de Janeiro. Ele estava em seu sexto mandato na Câmara e integrava o PP. Na ocasião, o então-general Augusto Heleno proferiu uma palestra sobre o golpe civil-militar de 1964, que instituiu uma ditadura de 21 anos no país. Na página da loja na internet, há outras fotos do evento nas quais Bolsonaro e o então-deputado Izalci Lucas aparecem, portando as mesmas roupas da imagem no conteúdo verificado:

 

| Fotos disponíveis neste link

No site da loja maçônica, não consta o arquivo original da foto viralizada, mas essa aparece em diversas postagens de sites e blogs desde 2016, a maioria relacionada às teorias da conspiração sobre a nova ordem mundial.

A palestra chegou a ser divulgada pelo jornal O Globo, na época, mas sem citar Bolsonaro nem Izalci.

Vídeo é verdadeiro, mas Bolsonaro não prometeu entregar o Brasil a satanás

Um dos conteúdos que circulam nas redes sociais afirma que Bolsonaro prometeu, em uma loja maçônica, “entregar o Brasil a satanás caso seja eleito”. A imagem traz, ainda, prints ou trechos de um vídeo do presidente discursando em uma loja maçônica, que tem circulado desde o início da semana.

A versão que viralizou nesta semana, aqui investigada, dura apenas cerca de um a dois minutos. Ela mostra Bolsonaro criticando a “questão ideológica”, possivelmente referindo-se à esquerda, afirmando tratar-se de um risco “tão ou mais grave que a corrupção”.

Ele ainda declara que “não [está] como candidato a nada”, mas que, dois anos e meio antes, decidiu andar pelo país para descobrir “como resolver [os problemas da nação] sem dinheiro”. Por fim, diz ter ouvido de pessoas do campo e empresários ser necessário “um presidente que não os atrapalhe”.

A gravação não é recente e circula em redes sociais pelo menos desde agosto de 2017 – antes das eleições que o levaram à Presidência da República. Encontramos uma versão de sete minutos do vídeo, que compreende até o final do discurso de Bolsonaro.

Durante o vídeo, Bolsonaro menciona que tem 63 anos. Portanto, isso indica que a filmagem foi feita após o dia 21 de março de 2017, quando o político completou a idade declarada. Cabe destacar que ele encerra a sua apresentação recitando o lema de sua campanha presidencial de 2018: “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos”.

Em nenhum momento, ele promete entregar o Brasil ao “satanás” ou a qualquer entidade associada ao satanismo. Pelo contrário, em menos de 30 segundos de vídeo, ele faz referência ao Deus cristão.

Em uma transmissão ao vivo na noite de quarta-feira (5), Bolsonaro confirmou o episódio. “Está aí na mídia agora. Pessoal me criticando, porque fui em loja maçom em 2017. Fui sim, fui em loja maçom”, disse. “Eu era candidato a presidente, pouca gente sabia, e um colega falou: ‘Vamos lá’. E eu fui. Acho que foi aqui em Brasília. Fui muito bem recebido. Me trataram bem”, acrescentou. Não conseguimos confirmar, até a publicação desta checagem, se a loja maçônica no vídeo realmente fica em Brasília.

Uma das três principais entidades representantes da maçonaria no Brasil, como noticiou a Folha de S. Paulo, a Confederação Maçônica do Brasil (Comab) repudiou as publicações associando Bolsonaro e o movimento ao satanismo. Em nota datada de quarta-feira (5), a Comab descreveu a peça de desinformação como “produção covarde, imbecil e oportunista de informações falsas, inverídicas e revestidas de maldades para enganar nosso querido povo brasileiro”.

Maçonaria

Conforme o Grande Oriente do Brasil (GOB), outra das três mais influentes instituições maçônicas no país, a maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista. Apesar de não ser uma religião, a maçonaria “reconhece a existência de um único princípio criador, regulador, absoluto, supremo e infinito ao qual se dá o nome de Grande Arquiteto do Universo”.

Ao Comprova, o professor do curso de Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Johnni Langer explicou que a maçonaria foi originada no final da Idade Média a partir de grupos de mestres pedreiros (“mason”, em inglês, significa pedreiro) que utilizavam símbolos em suas construções e eram influenciados pelo esoterismo (conjunto de tradições e interpretações ligado à filosofia e às religiões que busca o conhecimento do sobrenatural) e pela tradição judaica.

Segundo Langer, o bafomé (ou baphomet), figura semelhante a um bode, que aparece na imagem manipulada de Bolsonaro, é um símbolo demoníaco relacionado de forma pejorativa aos templários e aos maçons. “Ele é, na verdade, um símbolo criado durante o século XIX como uma forma de sintetizar conhecimentos secretos na forma de Lúcifer, o portador da luz. Entre os esoteristas da época, [o bafomé] não tem relação direta com o satã cristão, apesar de sua semelhança. Mas é comum as pessoas interpretarem o baphomet como sendo satã.”

De acordo com reportagem da Folha, entre maçons ilustres estão presidentes americanos (ao menos 15 deles, como George Washington), pensadores (Voltaire), músicos (Beethoven), imperadores (dom Pedro 1º) e militares (Duque de Caxias). O ex-presidente Michel Temer, o ex-governador paulista Márcio França e o ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas, morto em 2021, também são. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, é maçom há mais de duas décadas.

Além deles, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também faria parte da maçonaria, segundo o UOL. Kassio Nunes Marques, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) apontado por Bolsonaro em 2020, declarou ser mestre da maçonaria em 2010, um grau considerado elevado na organização.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como a peça aqui verificada, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, as agências AFP, Aos Fatos e Reuters, e o site Boatos.org, mostraram que o quadro de Baphomet em foto do presidente é montagem. A Lupa também desmentiu suposto tuíte em que Bolsonaro teria dito que a maçonaria é “maior que cristianismo”.

Em verificações anteriores envolvendo candidatos à presidência e assuntos religiosos, o Comprova mostrou duas vezes, em setembro e outubro deste ano, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não disse que vai fechar igrejas caso seja eleito. 

Em outro conteúdo, foi esclarecido quem é Padre Kelmon, candidato à presidência pelo PTB que ganhou destaque, principalmente, a partir de sua participação em debates na televisão.

Eleições

Investigado por: 2022-10-07

Post inventa dados sobre cidades para insinuar fraude eleitoral a favor de Lula

  • Falso
Falso
Mensagem que circula no WhatsApp e no Twitter inventa dados sobre habitantes e votos registrados em cidades brasileiras para o ex-presidente e candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao apresentar quantidade de votos no petista superior ao número de habitantes de municípios, as postagens insinuam que houve fraude no primeiro turno da eleição de 2022. No entanto, os dados reais destas cidades apontam que a quantidade de votos registrados está dentro do número geral de eleitores aptos em cada localidade. Há também casos de nomes de cidades que não existem e de municípios localizados em estados diferentes dos apontados nas publicações.

Conteúdo investigado: Uma corrente no Whatsapp e um post no Twitter listam cidades do Nordeste afirmando que até pessoas mortas votaram em Lula. A publicação na rede social aponta que o número de votos para o presidenciável supera o número de habitantes de cidades de Sergipe, Pernambuco e Bahia.

Onde foi publicado: Whatsapp e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso conteúdo publicado no Twitter e no Whatsapp que traz uma lista de cidades localizadas supostamente nos estados de Pernambuco, Sergipe e Bahia, com o argumento de que a quantidade de votos em Lula nestes municípios é superior ao número de habitantes, situação que apontaria fraude eleitoral.

São apresentados dados falsos acerca da população e quantidade de votos registrados para Lula no primeiro turno da eleição, no dia 2 de outubro de 2022. Não houve mais votos registrados para o petista do que o número de eleitores nas cidades. Além disso, há casos de cidades com o nome escrito de forma errada, municípios que não existem e outros que existem, mas estão localizados em outras regiões do Brasil.

Para o Comprova, é falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Pelo fato do tuíte ter sido considerado enganoso pela própria plataforma, o post não pode mais ser respondido, comentado nem compartilhado pelos usuários e também não é possível ver o engajamento e as métricas. Contudo, ao clicar em ver tuítes com comentário, é possível verificar que quatro pessoas retuitaram o post no dia de sua publicação, em 4 de outubro. Não é possível mensurar o alcance das mensagens enviadas pelo WhatsApp.

O que diz o autor da publicação: O autor da publicação no Twitter não permite envio de mensagem direta pela plataforma. A reportagem não encontrou usuários em outras redes sociais com as mesmas características. O responsável pela postagem no WhatsApp não foi identificado.

Como verificamos:

Primeiramente, pesquisamos a população estimada de cada município no site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e, ao fazer as pesquisas, foi constatado que algumas cidades indicadas no tuíte e na corrente do Whatsapp não existiam ou pertenciam a outros estados do Brasil.

Em seguida, apuramos o eleitorado dos municípios bem como o resultado das eleições nos portais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na sequência, tentamos contato com o autor da postagem. Também foram realizadas buscas, sem sucesso, para tentar encontrar o dono do perfil em outras redes sociais.

Mensagem no WhatsApp usa dados errados sobre cidades

O Comprova listou todos os nomes de cidades citadas na publicação que circula no WhatsApp com as respectivas informações verdadeiras sobre quantidade de habitantes, eleitores aptos e votos em Lula.

Nossa Senhora da Glória (SE)

Conforme informações do IBGE, o município possui 37.715 habitantes, sendo 28.114 eleitores, de acordo com dados do TSE. A cidade teve 17.024 votos para Lula, o que representa 75,07% de todos os votos válidos. Os números reais são diferentes dos apresentados na publicação aqui verificada, que aponta a cidade com 3.053 habitantes e 4.615 votos em Lula.

Porto da Pedra (PE)

Não existe uma cidade chamada Porto da Pedra, mas sim uma escola de samba brasileira do município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Nas buscas feitas pelo Comprova, verificamos que existe a cidade de Pedra em Pernambuco e a de Porto de Pedras, em Alagoas. Entretanto, os dados trazidos no tweet, que indicam 6.122 habitantes e 8.090 votos em Lula, não são verdadeiros, já que não se confirmam em nenhuma das duas cidades.

Segundo o IBGE, Porto de Pedras (AL), possui 7.618 habitantes e 7.062 eleitores, os quais 2.832 votaram no ex-presidente Lula.

Em Pedra (PE), cujo município tem 22.716 habitantes, 19.556 são eleitores de acordo com o TSE e 11.230 votaram no candidato petista.

Poço das Antas (PE)

A cidade está localizada, na verdade, no Rio Grande do Sul e lá a vitória foi de Jair Bolsonaro (PL). Ao contrário do que o post indica, não existe um município de mesmo nome em nenhum estado do Nordeste.

A afirmação de que a população na cidade é de 4.342 habitantes e de que 5.873 eleitores teriam votado em Lula é falsa. Poço das Antas (RS) tem 2.105 habitantes e o eleitorado é composto por 2.001 pessoas. No município gaúcho, Bolsonaro recebeu 989 votos (60,38%) e Lula, 445 (27,17%).

Xique Xique (BA)

O município possui população estimada de 46.562 habitantes. A postagem apresenta o número incorreto de 43.548 pessoas. No primeiro turno, 19.828 eleitores votaram em Lula. O conteúdo aqui verificado mente ao dizer que 64.805 pessoas teriam votado no petista. O município tem 36.866 eleitores aptos.

Novaçores (BA)

A publicação apresenta uma cidade baiana chamada Novaçores, com supostos 9.622 habitantes e 12.351 votos em Lula. Não existe nenhuma cidade exatamente com este nome no Brasil. Na Bahia, existe o município de Nova Soure, que possui uma população estimada de 27.047 habitantes, 21.686 eleitores aptos e 12.760 votos em Lula no primeiro turno.

Guanambim (BA)

O nome correto da cidade localizada no estado da Bahia é Guanambi e tem 85.353 habitantes, de acordo com o IBGE, e não 19.674 como apontado na corrente divulgada no WhatsApp. No pleito do último domingo (2), Lula, teve 33.200 votos (o equivalente a 64,43% dos votos para a Presidência), número maior que o mencionado na mesma corrente, que dizia ser 22.538, enquanto Jair Bolsonaro foi a escolha de 15.837 eleitores, o que corresponde a 30,73%. O município tem 64.990 eleitores aptos.

Joaçaba (BA)

Na verdade, Joaçaba fica em Santa Catarina e não na Bahia. No município catarinense, que tem uma população estimada de 30.684 pessoas e 22.613 eleitores, Bolsonaro teve 11.593 votos (64,99%) e Lula obteve 4.691 (26,30%). O texto alega que a cidade possui 6.142 habitantes e 6.984 pessoas votaram em Lula.

Antas (BA)

De fato, Antas fica na Bahia, entretanto possui 19.659 habitantes e não 11.434 conforme mencionado na corrente do WhatsApp. Lula teve 70,14% dos votos (alcançando total de 5.699 votos e não 18.001) e Jair Bolsonaro pontuou 1.960 votos, representando a escolha de 24,12% dos eleitores. A cidade tem 11.018 eleitores.

A lista de cidades ainda contém os nomes Barragem e Nova Liberdade, que supostamente estariam localizadas na Bahia. No entanto, o Brasil não tem nenhum município com esses nomes, conforme mostra lista do IBGE.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas e a pandemia. Durante o período eleitoral, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo das eleições e influenciar a escolha do eleitor. O conteúdo aqui verificado apresenta uma falsa alegação envolvendo o presidenciável Lula. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verídicas e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O conteúdo aqui verificado foi analisado pelo UOL Confere, Estadão Verifica e Fato ou Fake, checagens que também mostraram que os dados foram inventados.

O Comprova mostrou nesta semana que o exército não interferiu na apuração dos votos para presidente no dia da eleição, ao contrário do que diz vídeo, que vídeo em que Bolsonaro oferece capim a eleitores de Lula é de 2018 e não há menção a nordestinos e que não há comprovação de que urna impediu voto em Bolsonaro no Pará.

 

Eleições

Investigado por: 2022-10-07

Lula não disse que vai fechar igrejas caso seja eleito, como sugere mensagem

  • Falso
Falso
É falsa a imagem que circula no WhatsApp sugerindo que o ex-presidente e candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez postagens no Twitter afirmando que vai fechar igrejas que não realizarem casamentos homoafetivos. Além de os tuítes não existirem, não há registros de Lula declarando que vai fechar igrejas, boato já desmentido anteriormente pelo Comprova.

Conteúdo investigado: Imagem com o seguinte texto em destaque: “Atenção! Lula acaba de declarar que irá fechar igrejas em 2023, isso é muito sério igreja.” O alerta é acompanhado de dois supostos tuítes do presidenciável sobre o tema. Em um deles, Lula estaria afirmando que “padres e pastores que se recusarem a casar casais LGBTs serão presos e terão suas igrejas fechadas por crime de homofobia”.

Onde foi publicado: WhatsApp

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo que circula pelo WhatsApp alegando que Lula vai prender padres e pastores e fechar igrejas. A imagem contém dois supostos “prints” de declarações sobre o tema que teriam sido feitas pelo candidato no Twitter no último dia 4 de outubro, o que não procede. Na verdade, trata-se de uma imagem falsa tentando reproduzir a conta oficial de Lula na rede social. O ex-presidente jamais afirmou isso em suas redes sociais ou em qualquer declaração pública.

O falso post busca criar uma relação entre os casamentos homoafetivos e o fechamento de igrejas, afirmando que as instituições religiosas que não aceitarem promover a união de pessoas do mesmo sexo estariam condenadas ao fechamento por crime de homofobia, o que também é mentira.

Os dispositivos legais que caracterizam o crime de discriminação de pessoas da comunidade LGBTQIA+ não estabelecem obrigatoriedade de casamento nas igrejas. A união civil homoafetiva também não trata de celebrações em ambientes religiosos.

Desde o início da campanha presidencial, vários conteúdos de desinformação foram criados para associar falsamente Lula ao fechamento de igrejas, como um vídeo editado mostrado em verificação do Comprova. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já determinou também que bolsonaristas apaguem posts sobre o tema.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Mensagem marcada como “encaminhada com frequência” no WhatsApp, o que indica viralização.

O que diz o autor da publicação: O autor da publicação não foi identificado.

Como verificamos: Fizemos uma busca avançada no perfil oficial de Lula no Twitter pelas palavras-chave “evangélicas”, “igrejas” e “homofobia”. Usamos cada um dos termos associado ao @lulaoficial e, na consulta, foi possível localizar todas as postagens do ex-presidente em que essas palavras aparecem.

Depois, observamos todas as publicações feitas na página do ex-presidente no dia 4 de outubro – data na qual o presidenciável teria feito os supostos posts, conforme consta no conteúdo verificado. Também comparamos os supostos prints do Twitter do ex-presidente com tuítes da página oficial.

Na sequência, entramos em contato com a assessoria de imprensa do petista e consultamos o programa de governo do candidato, disponível no site do TSE.

Fizemos ainda buscas no Google pelos termos “Lula” + “fechar igrejas” e “Lula” + “prender padres e pastores”, que retornaram conteúdos de checagem (UOL Confere e Boatos.org) e do próprio partido, desmentindo a alegação. A pesquisa também nos levou a matérias jornalísticas sobre o tema.

Busca avançada no Twitter mostrou outras declarações

Usando o recurso de busca avançada no Twitter para localizar as postagens na página oficial de Lula, com termos como “evangélicas”, “evangélicos” e “igreja”, as declarações do ex-presidente são diferentes do que o conteúdo aqui investigado tenta insinuar.

Em janeiro de 2020, Lula falava sobre respeito e não fazer distinção de nenhuma crença. Mais recentemente, em agosto deste ano, o petista sinalizou que o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição e cujo grupo faz ilações sobre a religiosidade do adversário, age para manipular a fé das pessoas.

A postagem mais recente de Lula com o termo “evangélicos” é do dia 9 de setembro, quando ele fala de um encontro com um grupo religioso em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em 4 de outubro, data em que supostamente o presidenciável teria escrito o conteúdo falsamente atribuído a ele, o petista fez menção à palavra “igreja” num post sobre Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo que morreu neste ano, e em outro que reforçava seu interesse pelo segundo turno, comparando-o com a escolha de padrinhos na igreja católica.

Lula tuitou sobre temas diversos

No dia 4 de outubro, data em que supostamente Lula teria publicado as mensagens sobre prisão de padres e pastores e fechamento de igrejas, o presidenciável tuitou 20 vezes. Nenhuma das publicações menciona o conteúdo inventado. Os posts de Lula na data em questão referem-se ao Dia de São Francisco, a um encontro do petista com Frei Davi e frades franciscanos, ao combate à fome e ao endividamento, à importância do acesso à educação, a apoios conquistados para o segundo turno e a viagens do candidato pelo país.

Lula não disse que vai fechar igrejas

Esta não é a primeira publicação que alega que Lula pretende fechar igrejas, caso seja eleito. Antes do primeiro turno, conteúdos com esse enfoque já circulavam, como demonstrou o Comprova nesta verificação. Nesta semana, o TSE determinou que grupos bolsonaristas apaguem posts falsos alegando que o presidenciável persegue igrejas.

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula informou que os tuítes não são reais e que o petista “nunca disse ou postou isso”. Acrescentou que a imagem se trata de “uma campanha baixa bolsonarista para enganar a população com fake news, como fizeram durante a pandemia”.

Em 18 de agosto, o site do presidenciável publicou um texto, no qual esclarece que Lula nunca fechou, nem pretende fechar igrejas. Na época, outras peças de desinformação envolvendo a mesma mentira já se espalhavam pelas redes sociais. “Lula é cristão, já foi presidente, não fechou e não vai fechar igrejas. Em 8 anos de governo ele não promoveu nenhuma ação que se aproximasse de tal absurdo”, diz a nota. A manifestação afirma ainda que Lula governou para todos e, inclusive, assinou a lei da Liberdade Religiosa.

Programa de governo se compromete com o combate à intolerância religiosa

Disponível no site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do TSE, o documento intitulado “Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil” apresentado pelo candidato Lula e pelo candidato a vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), sequer menciona o termo “igrejas”.

Sobre o tema religião, o plano afirma defender “os direitos civis, garantias e liberdades individuais, entre os quais o respeito à liberdade religiosa e de culto” e se compromete com o combate à intolerância religiosa.

Em relação à comunidade LGBTQIA+, o documento, atribuído à Coligação Brasil da Esperança, da qual fazem parte o PT e outros oito partidos, condena agressões morais e físicas a essa população e propõe “políticas que garantam os direitos, o combate à discriminação e o respeito à cidadania LGBTQIA+ em suas diferentes formas de manifestação e expressão”. O programa não trata especificamente sobre casamentos homoafetivos.

A comunidade LGBTQIA+ também é citada no trecho em que o documento trata de segurança pública: “As políticas de segurança pública contemplarão ações de atenção às vítimas e priorizarão a prevenção, a investigação e o processamento de crimes e violências contra mulheres, juventude negra e população LGBTQIA+. É fundamental uma política coordenada e integrada nacionalmente para a redução de homicídios envolvendo investimento, tecnologia, enfrentamento do crime organizado e das milícias, além de políticas públicas específicas para as populações vulnerabilizadas pela criminalidade.”

Igrejas x homofobia

O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou, em junho de 2019, a criminalização da homofobia e da transfobia, agressões que, a partir de então, foram tipificadas da mesma forma que o racismo — ou seja, um crime hediondo, inafiançável e com pena de dois a cinco anos de prisão para o agressor. O tema já estava há 18 anos no Congresso Nacional e os ministros tomaram a decisão por entenderem que os parlamentares estavam sendo omissos nesta pauta.

Tema sensível nas comunidades religiosas, a relação homoafetiva foi abordada também na decisão dos ministros do STF, que afirmaram que não seria criminalizado dizer em templos ser contra as relações homossexuais, mas, sim, seria criminalizado incitar ou induzir nesses espaços a discriminação ou o preconceito. Mas não se trata de obrigatoriedade do casamento homoafetivo dentro da igreja, nem que a sua restrição seria crime.

A união civil homoafetiva, isto é, nos cartórios, é outro direito do público LGBTQIA+, embora ainda não seja lei. Em 2011, o STF reconheceu por unanimidade a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Assim, foi dada a essa parcela da população os mesmos direitos previstos na Lei de União Estável, que julga como entidade familiar “a convivência duradoura, pública e contínua”.

Em 2013, uma resolução publicada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) garantiu o casamento homoafetivo no país, determinando que tabeliães e juízes são proibidos de se recusar a registrar o casamento civil e a conversão de união estável em civil entre homossexuais.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas e a pandemia. Durante o período eleitoral, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo e influenciar a escolha do eleitor. O conteúdo verificado desta vez apresenta uma alegação falsa envolvendo o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: A mesma imagem foi checada pelo UOL Confere e pelo Boatos.org, que também concluíram que o conteúdo é falso. Outra peça de desinformação que buscava espalhar a mesma mentira já foi alvo de verificação do Comprova.

Nesta semana, o Comprova também demonstrou que Exército não interferiu na apuração dos votos para presidente, que vídeo em que Bolsonaro oferece capim para eleitores de Lula é de 2018 e não se refere a nordestinos e que não há comprovação que urna impediu votos a Bolsonaro no Pará.

Eleições

Investigado por: 2022-10-07

É falso o áudio atribuído a Ciro Gomes sobre tomada de poder pelas Forças Armadas caso Lula seja eleito

  • Falso
Falso
É falso o áudio atribuído a Ciro Gomes (PDT) sobre um esquema armado para eleger Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente da República e uma consequente tomada de poder pelas Forças Armadas caso isso aconteça. Peritos consultados pelo Comprova e a assessoria de imprensa do político negaram a veracidade do material. Segundo os técnicos, a gravação fraudulenta foi gerada a partir de técnicas de deepfake.

Conteúdo investigado: Suposto áudio com voz atribuída a Ciro Gomes afirma que existe um conluio para eleger Lula presidente da República, e que as Forças Armadas estão cientes e prontas para tomar o poder após a vitória do ex-presidente. Responsável pela postagem da gravação no Facebook diz na publicação: “Então é só esperar que está chegando a hora. Presidente Bolsonaro tá com a caneta na mão pra decretar a intervenção militar no Brasil”.

Onde foi publicado: WhatsApp e Facebook.

Conclusão do Comprova: É falso que seja Ciro Gomes falando em um áudio atribuído a ele com mensagem sobre a tomada de poder pelas Forças Armadas caso Lula seja eleito presidente da República. O áudio faz parte de um vídeo postado no Facebook, no último dia 3, que atingiu, até o dia 6, mais de um milhão de visualizações. Na gravação, é dito que as Forças Armadas estão cientes que existe um esquema armado para eleger Lula, e que, por isso, estão preparadas para tomar o poder caso o candidato do PT seja eleito.

Ao Comprova, os peritos Mario Gazziro, da Universidade Federal do ABC (UFABC), Paulo Matias, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Kalinka Castelo Branco, da Universidade de São Paulo (USP), analisaram o material e concluíram que o áudio é falso. Como base de comparação, os pesquisadores utilizaram áudio do discurso de Ciro Gomes na convenção nacional do PDT, que ocorreu no dia 20 de julho deste ano. A similaridade encontrada nos áudios foi de 47% – o que indica que é falso. Gravações do mesmo autor devem apresentar similaridade acima de 80%, de acordo com Gazziro.

Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa de Ciro Gomes respondeu que os áudios não são do ex-governador do Ceará. “Infelizmente as eleições de 2022 foram e estão sendo violentadas com diversas mentiras distribuídas por gabinetes de ódio montados pelas principais candidaturas”, afirmou.

Outra evidência de manipulação, é o fato de o áudio não guardar relação com o posicionamento de Ciro Gomes, que divulgou, nesta terça-feira (4), vídeo em que afirma seguir a decisão do seu partido, o PDT, em apoio à candidatura de Lula no segundo turno.

“Frente às circunstâncias, é a última saída”, declara Ciro Gomes, que ainda afirma, no vídeo, não acreditar que a democracia esteja em risco nesta disputa eleitoral.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de outubro, a publicação no Facebook que deu origem à verificação tinha 1,3 milhão de visualizações, 64 mil curtidas, 66 mil compartilhamentos e 14 mil comentários. A postagem foi sinalizada como falsa no Facebook. Em relação à circulação no WhatsApp, não é possível dimensionar o alcance de conteúdos que viralizam no aplicativo de mensagem.

O que diz o autor da publicação: A equipe do Comprova entrou em contato com o responsável pela postagem no Facebook. Questionado sobre como obteve o áudio e por qual motivo decidiu compartilhá-lo sem confirmação de veracidade, ele respondeu que a voz é idêntica a de Ciro Gomes. E questionou: “Aonde está a declaração do partido dizendo que o áudio não é do Ciro?”.

Como verificamos: Para descobrir a veracidade do áudio, o Comprova entrou em contato com profissionais de perícia para uma análise da gravação e buscou um posicionamento da assessoria de imprensa de Ciro Gomes. A equipe também pesquisou declarações recentes de Ciro sobre o atual cenário político nacional e sobre a legislação brasileira.

Laudo elaborado por peritos conclui que áudio é falso e configura deepfake

De acordo com o perito Mario Gazziro, quando a semelhança dos áudios é abaixo de 10%, é possível identificar que não se trata de um conteúdo verídico apenas pelo ouvido. Em casos de produção pela técnica deepfake, é necessário realizar uma análise cepstral – criada inicialmente para identificar problemas no aparelho do trato vocal humano.

O resultado da análise realizada pelos peritos apontou que a similaridade do áudio verificado é de 47%. Quando abaixo de 10%, é provável que a fraude tenha sido realizada por um imitador. Já entre 10% e 80%, o conteúdo é gerado por meio de deepfake – quando uma base grande de dados da voz é copiada e utilizada para gerar o text-to-speech (texto lido por uma voz aprendida artificialmente sintetizada via computador).

Ainda que a análise cepstral tenha sido criada para fins médicos, a combinação com técnicas modernas possibilita levantar a identidade vocal de um indivíduo analisado, conforme explicação do pesquisador da UFABC. “Do ponto de vista matemático, trata-se de uma análise em frequência que ‘desembaralha’ o espectro vocal e o atribui a uma escala de cores logarítmica, adequada à sensibilidade do ouvido humano para as frequências audíveis”.

No laudo elaborado, a análise cepstral foi realizada a partir do áudio do discurso de Ciro Gomes na convenção nacional do PDT, quando o partido confirmou sua candidatura no dia 20 de julho de 2022. Segundo Gazziro, é importante que, na análise cepstral, as vozes comparadas sejam da mesma época em que a amostra foi supostamente gerada. “Uma vez que a análise cepstral identifica componentes do trato vocal, isso pode sofrer mudanças com o avanço da idade”, explica.

Por fim, a análise gera um mapa relativo ao trato vocal. Gazziro explica que os mapas gerados se assemelham a impressões digitais dos dedos. Quando a gravação é feita pelo mesmo autor, a variação é baixa entre diferentes tipos de fala. Como exemplo, ele diz que se uma mesma pessoa cantar rápido em inglês e narrar calmamente em português em áudios diferentes, a similaridade ainda será acima de 80%, já que são gravações de mesma autoria.

| Mapa relativo ao trato vocal do áudio analisado

| Mapa relativo ao trato vocal da voz original de Ciro Gomes

Também procurado pelo Comprova, o perito forense computacional João Benedito dos Santos Junior, membro da Associação Nacional dos Peritos em Computação Forense (Apecof), fez uma análise preliminar, com base no critério de audibilidade, em que se utiliza apenas o ouvido treinado do perito como instrumento para a comparação de locutores. Ao analisar o áudio questionado em confronto com trechos de 10 áudios comprovadamente de Ciro Gomes, o perito concluiu que “há forte possibilidade de rejeitar a hipótese de que a voz (presente no áudio verificado) seja do senhor Ciro Gomes”.

Assessoria de Ciro Gomes nega veracidade do áudio

Ao Comprova, a assessoria de imprensa de Ciro Gomes negou que o áudio seja verdadeiro. E encaminhou nota à equipe, com o seguinte teor:

“Infelizmente as eleições de 2022 foram e estão sendo violentadas com diversas mentiras distribuídas por gabinetes de ódio montados pelas principais candidaturas. São estruturas especializadas em criar fakenews e espalhar pelas redes, chegando, inclusive, a encontrar eco em alguns setores da mídia. Estes áudios claramente não são de Ciro Gomes”, diz a nota, que também foi publicada nas checagens da Agência Lupa e do site Aos Fatos.

Artigo 142 não prevê intervenção militar no Poder Executivo federal

No áudio atribuído falsamente a Ciro, é dito que as Forças Armadas irão colocar em prática o Artigo 142 da Constituição Federal para restabelecer a ordem. No entanto, não há no artigo, nem no conjunto de normas da legislação brasileira, nenhum dispositivo legal que autorize a intervenção das Forças Armadas no governo.

Em 22 de abril de 2020, durante reunião ministerial cujo registro teve divulgação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro citou o Artigo 142 como um dispositivo a ser empregado em um contexto de intervenção militar no país. Desde então, apoiadores passaram a repetir o discurso.

Em junho daquele ano, ainda durante a repercussão do conteúdo da reunião, a Câmara dos Deputados emitiu um parecer esclarecendo que o Artigo 142 não autoriza a intervenção militar a pretexto de “restaurar a ordem”, como havia sugerido Bolsonaro.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. Áudios manipulados de uma personalidade política conhecida, como é o caso de Ciro Gomes, com falsa acusação de haver um esquema armado para eleger Lula, são prejudiciais às eleições, às instituições e ao Estado Democrático de Direito. E podem contribuir para contestações infundadas ao resultado das eleições presidenciais.

Outras checagens sobre o tema: O áudio atribuído a Ciro Gomes e verificado nesta checagem também foi apontado como falso pela Agência Lupa, Aos Fatos e Boatos.org. Também envolvendo as eleições presidenciais, o Comprova mostrou, recentemente, que Ciro Gomes não declarou apoio a Bolsonaro, ao contrário do que afirmava post; que não há comprovação de que urna tenha impedido voto em Bolsonaro no Pará; e que vídeo engana ao dizer que Lula pode ter candidatura anulada por conta da Lava Jato.

Eleições

Investigado por: 2022-10-06

Exército não interferiu na apuração dos votos para presidente no dia da eleição, ao contrário do que diz vídeo

  • Falso
Falso
É falso que integrantes do Exército, alertados por hackers russos, teriam entrado na sala de totalização dos votos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a apuração do resultado do primeiro turno das eleições, no domingo (2), e impedido uma suposta fraude para eleger o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O conteúdo foi fabricado sem nenhuma evidência comprovada e já desmentido pelo tribunal, pelo Ministério da Defesa e pela Embaixada da Rússia no Brasil.

Conteúdo investigado: Vídeo de três minutos alegando que integrantes do Exército brasileiro, alertados por hackers russos, teriam entrado na sala de totalização dos votos no TSE, durante a apuração do primeiro turno das eleições, no domingo (2), e impedido uma suposta fraude. O esquema envolveria descontar gradativamente um ponto percentual dos votos conferidos ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e acrescentar meio ponto para o ex-presidente Lula (PT), a partir do momento em que 12% das urnas já tivessem sido apuradas.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso que integrantes do Exército, alertados por hackers russos, teriam entrado na sala de totalização dos votos no TSE, durante a apuração do primeiro turno das eleições e impedido uma suposta fraude. O conteúdo foi fabricado, ou seja, não se baseia em nenhuma evidência.

A assessoria de imprensa do tribunal desmentiu a peça de desinformação ao garantir que o Exército não esteve na sede do tribunal no dia do primeiro turno. O Ministério da Defesa, órgão ao qual estão vinculadas as Forças Armadas, e a Embaixada da Rússia no Brasil também negaram a história aqui verificada. A plataforma TikTok retirou o vídeo do ar por conter “desinformação danosa”.

A chamada “sala secreta”, onde ocorre a totalização dos votos, na verdade, não é a mesma onde servidores do TSE monitoram a contagem, tendo, inclusive, a participação de entidades fiscalizadoras. O processo de totalização ocorre automaticamente, sem interferência de nenhum dos presentes, por um supercomputador.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até o final desta terça-feira (4), a publicação no TikTok contava com 227,1 mil curtidas, 10,3 mil comentários e 144 mil compartilhamentos. O vídeo passou a ficar indisponível entre a noite de terça e o início da tarde desta quarta-feira (5).

O que diz o autor da publicação: Conseguimos contactar o autor da publicação, Sérgio Tavares, pelo Whatsapp. Ele confirmou a autoria da publicação e disse que sua fonte é “fidedigna”, e nos informou que lhe pediria permissão para revelá-la; depois, optou por “não prestar mais detalhes”.

Como verificamos: Buscamos no Google por artigos que contivessem, ao mesmo tempo, as expressões-chave “fraude”, “primeiro turno”, “hackers russos” e “forças armadas”, ou “exército” ou “militares”. Também fizemos uma pesquisa à parte por “sala secreta” e “TSE” para apurar especificamente sobre o local onde os votos são totalizados, na sede do tribunal. Obtivemos, como resposta, um artigo da agência de checagem de fatos Boatos.org desmentindo a peça de desinformação, assim como matérias de veículos de imprensa, como CNN Brasil e UOL, usados nesta verificação.

Ainda consultamos, na internet, sobre a apuração realizada no dia da eleição para averiguar a dinâmica da contagem de votos. A pesquisa retornou reportagens do G1 e do Valor que, entre outras informações, indicavam o motivo para a mudança de posição dos candidatos durante a apuração, conforme o avanço da contagem em diferentes regiões do país.

Entramos em contato com o TSE, o Ministério da Defesa, o Exército e a Embaixada da Rússia no Brasil, as partes citadas pelo conteúdo, e com o TikTok, rede social onde o conteúdo verificado foi publicado.

TSE, Ministério da Defesa e Embaixada da Rússia no Brasil desmentem história

Os órgãos citados no vídeo negam a história alegada. Em nota enviada ao Comprova, a assessoria de imprensa do TSE desmentiu a peça de desinformação e assegurou que o Exército não esteve na sede do tribunal em 2 de outubro, dia do primeiro turno.

O Exército informou que o pedido deveria ser direcionado ao Ministério da Defesa. Em contato com o Comprova, por telefone, a assessoria do Ministério da Defesa afirmou que o conteúdo é falso. A Embaixada da Rússia no Brasil disse, apenas, que “não comenta informações fictícias e falsificações (fakes)”.

Apuração dos votos

A apuração dos votos no domingo, 2 de outubro, foi transmitida em tempo real por diversos veículos, na televisão e internet, e os primeiros dados divulgados apontavam para uma vantagem de Lula, logo superada por Bolsonaro. O presidente ficou à frente da apuração por mais de duas horas, enquanto a contagem dos votos avançava nas regiões Sul e Centro-Oeste, onde Bolsonaro tem a preferência do eleitorado.

À medida que a contagem avançava em outros pontos do país, a diferença de Lula para Bolsonaro foi diminuindo até que, por volta de 20 horas, com 70% das urnas apuradas, o ex-presidente virou e não deixou mais a liderança até a conclusão da apuração. O mapa de votação demonstra, portanto, que as variações nos índices dos candidatos têm relação com as regiões em que se concentraram a apuração dos votos, e não com a suposta fraude falsamente alegada no vídeo aqui investigado.

Sala secreta é conhecida e não é o mesmo local onde fica a equipe de totalização

O conteúdo também alega que existe uma “sala secreta”, onde ocorreria a totalização dos votos, dentro da sede do TSE, em Brasília. A expressão, que sugere falta de transparência no processo eleitoral, é comumente usada entre aqueles que atacam a credibilidade da Justiça Eleitoral, dentre eles o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Entretanto, é incorreto afirmar que a existência ou a localidade dessa sala não seja oficialmente revelada.

O que existe são duas “salas-cofres” no TSE. Em uma, há um supercomputador que totaliza os votos das eleições automaticamente – ou seja, sem interferência de nenhuma pessoa presente – e a partir dos dados coletados nas próprias urnas eletrônicas e impressos nos boletins de urna. Na outra, fica o código-fonte das urnas, que é a linguagem de programação do software delas, após ser lacrado.

Ambas as salas têm acesso restrito, sendo monitoradas 24 horas e protegidas por cinco portas codificadas, como reportou a CNN Brasil. A existência e a localidade delas são de conhecimento público: elas ficam nas dependências da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE, na sede do tribunal, em Brasília.

A equipe de servidores do TSE que acompanha a totalização dos votos, composta por técnicos da própria Justiça Eleitoral, não fica em nenhuma dessas salas. Eles trabalham em um espaço que é aberto, até mesmo no dia da eleição, a agentes fiscalizadores, como o Ministério Público e representantes dos partidos políticos.

Em visita no dia 28 de setembro guiada pelo presidente do tribunal, ministro Alexandre de Moraes, e acompanhada pela imprensa, o próprio Valdemar Costa Neto, que preside o PL, sigla de Bolsonaro, disse que a sala “é aberta”.

Vídeo ficou indisponível no TikTok

O TikTok tornou o vídeo indisponível entre terça e quarta-feira (5). O Comprova não conseguiu determinar o momento exato da suspensão. Procurada, a assessoria de imprensa do TikTok no Brasil informou que a plataforma de vídeos “trabalha com uma combinação de tecnologia e de pessoas para identificar e remover conteúdos que violam nossas Diretrizes da Comunidade”. Sobre o conteúdo verificado, o TikTok disse que o vídeo “foi removido por desinformação danosa”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo aqui investigado cita os dois presidenciáveis que estão na disputa do segundo turno, tentando induzir as pessoas a acreditar em uma suposta fraude para favorecer um candidato em detrimento de outro. A desinformação, como a deste vídeo, tenta tirar a credibilidade do processo eleitoral, o que é uma afronta à democracia porque retira o direito das pessoas de fazerem as suas escolhas baseadas em conteúdos verdadeiros.

Outras checagens sobre o tema: O Fato ou Fake, do G1, e a agência de checagem Boatos.org também desmentiram o conteúdo aqui verificado. O período de campanha para o segundo turno das eleições já começou com desinformação. O Comprova mostrou, por exemplo, que é mentira que Barreiras, na Bahia, registrou número de votos em Lula superior à população da cidade e que é falso que boletim de urna encontrado em Curitiba não tenha sido computado no resultado da eleição.

No fim de semana da votação, também circularam muitas peças de desinformação. O Comprova revelou ser falso que Ciro Gomes declarou apoio a Bolsonaro, que site noticiou aumento do patrocínio de Neymar após o jogador manifestar apoio ao presidente e, ainda, que eleitores de Lula teriam dia diferente para votação.

Eleições

Investigado por: 2022-10-06

Vídeo em que Bolsonaro oferece capim a eleitores de Lula é de 2018 e não há menção a nordestinos

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo publicado no Kwai que tenta relacionar declarações do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), feitas em 2018, ao segundo turno da disputa presidencial de 2022. No conteúdo, Bolsonaro oferece “capim” aos eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O vídeo é antigo e não há qualquer menção a eleitores do Nordeste do país, como faz crer o autor do post ao usar a legenda “falta de respeito ao povo nordestino”. A população do Nordeste brasileiro passou a ser alvo de ataques xenofóbicos após a região registrar o maior número de votos para Lula no primeiro turno da disputa presidencial.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula no Kwai mostra o presidente Bolsonaro segurando um punhado de capim nas mãos e oferecendo a eleitores do ex-presidente Lula. O conteúdo é sobreposto com as frases: “Falta de respeito com o povo nordestino. Iremos te ‘da’ essa resposta agora no segundo turno”. O autor do post ainda utiliza as hashtags “#Eleições2022”, “querosaber”, “meajudaTSE” e “comLula”.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao tentar relacionar declarações do presidente Jair Bolsonaro, feitas em 2018, com o processo eleitoral de 2022. Naquela ocasião, o político segurava um punhado de capim nas mãos e dizia que iria oferecer aos eleitores do ex-presidente Lula. O vídeo foi gravado quando Bolsonaro assistia a uma meia-maratona no Rio de Janeiro. Ao repostar o conteúdo, o autor cita um suposto desrespeito de Bolsonaro com a população do Nordeste do país e diz que os eleitores darão a resposta ao presidente neste segundo turno da disputa eleitoral.

No último domingo (2), os brasileiros foram às urnas para escolher o futuro presidente do país e representantes de outros quatro cargos em disputa. A eleição para aà Presidência, no entanto, será decidida no segundo turno, no dia 30, tendo como oponentes Bolsonaro e Lula.

Durante a apuração, Bolsonaro chegou a ficar por um tempo à frente do petista. Mas, com o avançar da totalização de votos dos eleitores do Nordeste, Lula acabou virando e terminou com 48,43% dos votos válidos, diante de 43,20% do atual presidente. Desde então, a população do nordeste brasileiro passou a ser alvo de ataques xenofóbicos, sobretudo, nas redes sociais. A região foi a que registrou o maior número de votos para Lula: uma vantagem de 12,9 milhões de votos em relação a Bolsonaro.

O conteúdo aqui investigado, acompanhado da legenda feita pelo autor da publicação, pode passar a falsa impressão de que Bolsonaro estaria se referindo ao povo nordestino ao “oferecer capim” aos eleitores de Lula. A declaração de Bolsonaro de fato ocorreu, mas em 2018, e fazia referência aos eleitores de Lula de uma forma geral, como mostra esta versão mais longa do registro, postada em 9 de abril de 2018.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 6 de outubro, a publicação acumulava mais de 56,7 mil curtidas, passava de 19,6 mil comentários e já havia sido compartilhada mais de 84 mil vezes.

O que diz o autor da publicação: Procurado, o autor da publicação se limitou a responder que “o vídeo está no youtube pra todo mundo ver” e, na sequência, bloqueou nosso contato.

Como verificamos: O Comprova fez buscas no Google e em redes sociais com a frase “Bolsonaro oferece capim a eleitores de Lula”. Foram encontradas diversas postagens do mesmo conteúdo e textos em sites que repercutiram a gravação, datados de 2018. Uma das versões, mais longa e com melhor qualidade de imagem, foi submetida à ferramenta InVid para busca reversa. Novas postagens foram localizadas na internet com o mesmo conteúdo, feitas também naquele ano.

Bolsonaro gravou vídeo em 2018

O vídeo em que Bolsonaro oferece capim a eleitores de Lula é antigo. O registro foi feito em abril de 2018, enquanto o atual presidente e candidato à reeleição pelo PL acompanhava uma corrida esportiva na Barra da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro onde tem casa. Na época, Bolsonaro era candidato à Presidência da República.

Na gravação, que foi compartilhada diversas vezes nas redes sociais naquele mês, é possível perceber que Bolsonaro se refere a eleitores de Lula de uma forma geral, e não aos da região Nordeste, como tenta fazer crer a versão do vídeo que voltou a circular na internet.

Em uma versão mais longa do vídeo, é possível ver que uma pessoa que cumprimenta Bolsonaro nas imagens faz referência às eleições de 2018, que ocorreram seis meses após o registro. O homem diz: “nosso futuro presidente, tá escutando?”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos que envolvem ou mencionam candidatos à Presidência, como a postagem checada neste caso, podem influenciar a decisão do eleitor brasileiro, que deve se basear em informações verdadeiras e confiáveis para definir o voto.

Outras checagens sobre o tema: Neste segundo turno da disputa presidencial, o Comprova já mostrou que é falso que boletim de urna encontrado em Curitiba não foi computado no resultado da eleição, assim como é falso que cidade de Barreiras, na Bahia, registrou número de votos em Lula superior à população do Município. Também mostramos ser falsa a informação de que o jogador de futebol Vinicius Jr criticou Bolsonaro em uma postagem no Twitter.

Eleições

Investigado por: 2022-10-06

Não há comprovação de que urna tenha impedido voto em Bolsonaro no Pará

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso o vídeo em que uma mulher relata não ter conseguido votar em Jair Bolsonaro (PL), no último domingo (2), em uma seção eleitoral em Tucuruí, no Pará. Ela também afirma não ter conseguido assinar o livro de votação. A mesma queixa foi feita por outra mulher que aparece nas imagens. Em resposta ao caso, o promotor da Justiça Eleitoral responsável pela zona eleitoral, disse que compareceu à escola, que a urna estava em ordem e que nenhum dos eleitores no local relatou problemas. Sobre as queixas relacionadas ao livro de presença, o tribunal ressaltou que os eleitores com a biometria coletada não são obrigados a assinar o caderno de votação.

Conteúdo investigado: Em vídeo, um eleitor que diz estar na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) D. Julia Passarinho, em Tucuruí (PA), filma uma mulher que afirma não ter conseguido votar em Bolsonaro e que não a deixaram assinar o livro de votação. Outra mulher também reclama não ter assinado o registro. Elas não dão detalhes sobre o que teria ocorrido. O vídeo, divulgado no dia do 1º turno de votação, é acompanhado pela legenda: “Começou a palhaçada, relatos de que urnas não estão deixando votar no bolsonaro” (sic).

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: Na mesma tarde em que o vídeo começou a circular, o Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) informou ao Comprova que o promotor e o juiz eleitoral responsáveis pela seção compareceram ao local e não verificaram problemas. Na ocasião, a assessoria de imprensa do tribunal encaminhou vídeo em que eles afirmam que a urna estava em ordem e que todos os eleitores que estavam no local foram questionados e não relataram problemas. O tribunal também disse que as imagens foram gravadas do lado de fora da seção eleitoral.

Ainda na mesma tarde, o TRE-PA informou que a mulher havia sido notificada e estava prestando depoimento na sede do cartório eleitoral da região. Já na terça-feira, o tribunal disse que “encaminhou o depoimento juntamente com o vídeo para a Corregedoria e para a Presidência do Tribunal para que possam ser avaliados e remetidos, se for o caso, para o Ministério Público Eleitoral para que sejam tomadas as medidas cabíveis”. O tribunal não informou o teor do depoimento.

O delegado de Polícia Civil Thiago Mendes, superintendente da região do Lago do Tucuruí, disse que não foi provado qualquer tipo de fraude, e que não houve constatação técnica de falha de urna.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até a tarde do dia 6 de outubro, a postagem havia registrado 1.074 curtidas e 512 retuítes. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), também compartilhou o conteúdo no Twitter: foram 9.157 compartilhamentos e 30,6 mil curtidas.

O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou contato com o autor da publicação, mas não obteve resposta.

Como verificamos: O Comprova contatou o TRE-PA, as polícias Civil e Militar do estado e o homem que gravou o vídeo. Ele não respondeu.

TRE-PA não encontra problemas nas urnas

Ao Comprova, o TRE-PA informou que esteve no local para verificar a situação tão logo tomou conhecimento do caso. Compareceram à seção de votação, o juiz eleitoral da 40ª Zona Eleitoral, Thiago Cendes Escórcio, e o promotor de Justiça Eleitoral Francisco Charles Pacheco Texeira. Em vídeo enviado ao Comprova por WhatsApp, eles esclareceram que a urna estava em ordem e que todos que estavam no local foram ouvidos e não relataram nenhum problema.

“Na verdade, a urna estava em ordem. Todos os eleitores que estavam lá dentro foram questionados, inclusive quem já tinha votado, e disseram que foi tudo ok nos candidatos A e B que escolheram. Estamos empreendendo diligências para notificar essas pessoas, tendo em vista que a cidade não é tão grande assim e as mesmas já foram identificadas”, disse Teixeira.

Na terça-feira, dia 4, procurado novamente pelo Comprova, o TRE-PA informou que o depoimento da mulher havia sido colhido e encaminhado, junto com o vídeo, para a corregedoria e presidência do tribunal.

“O TRE do Pará informa que a eleitora que aparece no vídeo já foi ouvida pelo juiz Eleitoral da 40ª Zona Eleitoral, Thiago Cendes Escórcio. O depoimento dela, colhido na sede do cartório do município, no mesmo dia 2, foi encaminhado juntamente com o vídeo para a Corregedoria e para a presidência do Tribunal para que possam ser avaliados e remetidos, se for o caso, para o Ministério Público Eleitoral para que seja tomadas as medidas cabíveis”, diz a nota.

O TRE-PA não informou o teor do depoimento, o que, segundo a assessoria de imprensa, só poderia ser feito após a conclusão do caso.

Polícia Civil atua no caso

Segundo o delegado Thiago Mendes, superintendente da região do Lago do Tucuruí, da Polícia Civil do Pará, não foi registrada queixa em delegacia sobre o caso. Apesar disso, ele disse, ainda no dia 2, que havia designado duas equipes para apurar o caso.

Procurado novamente na terça-feira, o delegado disse que a mulher havia prestado depoimento no cartório eleitoral e que não houve prova de qualquer tipo de fraude. Ele disse, ainda, que não houve constatação técnica de falha da urna.

A PM do Pará foi contatada no dia 2, e respondeu que não foi acionada para nenhuma ocorrência no local de votação citado no vídeo.

Assinatura e biometria

De acordo com o TSE, o eleitor está dispensado de assinar o caderno de votação se for reconhecido pela biometria. Se não houver biometria cadastrada ou em caso de não reconhecimento da biometria, ele deverá assinar o caderno de votação.

Publicação do TRE-SP explica que, quando não é possível confirmar a identidade do eleitor pela sua digital, o mesário deve verificar novamente os documentos do eleitor e comparar com dados presentes no caderno de votação.

“Se confirmada a identidade do eleitor por meio dos documentos apresentados, mesmo não havendo o reconhecimento biométrico, o mesário libera a votação com código próprio. Nesse caso, o fato é registrado na ata da seção e o eleitor deve assinar o caderno de votação, além de retornar posteriormente ao seu cartório eleitoral para uma nova coleta de digitais”, descreve o texto.

Na nota enviada à imprensa, o TRE-PA ressaltou que os eleitores com a biometria coletada não são obrigados a assinar o caderno de votação, pois ela já é uma comprovação de que o eleitor compareceu à urna para inserir o seu voto. Porém, quem mesmo assim quiser assinar o caderno pode fazer essa solicitação ao mesário. O tribunal relembra ainda que o eleitor não pode colocar o número de seu candidato ao lado da assinatura, como boatos nas redes sociais têm sugerido.

Segundo a Justiça Eleitoral, a ideia da biometria não é agilizar a votação, mas garantir mais segurança ao processo. Ela se soma aos outros dispositivos de identificação do eleitor, como o caderno de votação e a exigência de apresentação de documento oficial, para aumentar a confiabilidade do sistema de votação.

O Comprova também já esclareceu, em verificação publicada na quinta-feira (29), que o caderno de votação da seção eleitoral é uma das formas de conferir a identidade do eleitor, que deve assiná-lo antes de votar caso não tenha cadastrado a biometria. Outras dúvidas foram esclarecidas na mesma checagem.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, as políticas públicas do governo federal e a pandemia. A postagem verificada dissemina conteúdo enganoso, que tem potencial para descredibilizar as urnas eletrônicas e, consequentemente, o processo eleitoral e a democracia no país.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova mostrou que vídeo mostrando confusão entre petistas de Sergipe é de 2013 e não envolve ato de Lula; que não há evidências de que urnas tenham chegado a Cordeiro (RJ) com votos já registrados e que queixas sobre urnas devem ser registradas com o presidente da mesa, não em aplicativo do TSE.

Eleições

Investigado por: 2022-10-06

Com declarações antigas de Dallagnol, vídeo engana ao dizer que Lula pode perder candidatura por conta da Lava Jato

  • Enganoso
Enganoso
Não é verdade que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode perder a candidatura à Presidência em 2022 por causa de uma denúncia da Operação Lava Jato, como sugere um post no TikTok. A postagem, que usa um vídeo de 2016, engana ao afirmar que Lula é acusado de corrupção e pode ficar inelegível. Lula foi condenado e preso no âmbito da Lava Jato em 2018, mas foi solto no ano seguinte. Em 2021, teve as condenações anuladas e hoje não é mais alvo de processos da operação. Em 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a candidatura do petista, dizendo que não há causa legal que o impeça de concorrer.

Conteúdo investigado: Post no TikTok diz que Lula pode perder a candidatura à Presidência antes do segundo turno e mostra um vídeo do ex-procurador da República e hoje deputado federal eleito Deltan Dallagnol (Podemos), que coordenou a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba de 2014 a 2020. No vídeo, Dallagnol diz que Lula comandou o esquema de corrupção descoberto pela operação e mostra a apresentação de slides que ficou conhecida como “PowerPoint do Lula”. Os slides mostram um gráfico com o nome de Lula no centro e setas apontadas para ele, indicando sua suposta relação com evidências levantadas pela Lava Jato.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso vídeo que usa declarações do ex-procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol para afirmar que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “pode perder sua candidatura antes do segundo turno”.

A gravação de Dallagnol é de 2016, quando ele fez uma apresentação com um slide que ficou conhecido como “Powerpoint do Lula”. Ou seja, o conteúdo verificado tira as declarações do ex-procurador de contexto. Lula já foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá, em São Paulo. Ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019, tendo sido impedido de disputar a eleição presidencial de 2018. Mas, em 2022, ele está apto a concorrer, diferentemente do que afirma o conteúdo verificado.

Não há mais processos que o impeçam de se candidatar, uma vez que, em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou todas as condenações do petista no caso. O ministro Edson Fachin entendeu que Lula não teve seus direitos respeitados já que as decisões não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela Lava Jato, a de Curitiba, e que o caso deveria ser reiniciado no Distrito Federal. Mas a Justiça do local reconheceu a prescrição dos crimes, e Lula não responde mais por eles.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: A postagem verificada havia registrado 179 mil visualizações, 13,4 mil curtidas, mais de 5,5 mil compartilhamentos e mais de 800 comentários no TikTok até a tarde de 5 de outubro. No dia 6, foi retirada do ar.

O que diz o autor da publicação: O TikTok não permite envio de mensagens privadas entre usuários que não se seguem mutuamente. O Comprova buscou o nome do autor da postagem verificada em outras redes sociais e encontrou no Instagram um perfil com a mesma descrição da conta investigada no TikTok. Contatado, o autor não respondeu à mensagem do Comprova até o fechamento desta verificação.

Como verificamos: Para descobrir a data do vídeo publicado no TikTok, o Comprova fez buscas no Google usando as palavras-chave “Dallagnol”, “Lula” e “PowerPoint”. Notícias recentes sobre o episódio dizem que o vídeo é de 2016. Fazendo novas buscas, mas limitando os resultados a 2016, o Comprova encontrou notícias da época confirmando que Dallagnol fez naquele ano a denúncia mostrada no vídeo.

Sabendo que o vídeo é antigo, o Comprova buscou novas informações para entender qual foi o desfecho dos processos contra Lula na Lava Jato. O objetivo dessa etapa da verificação foi descobrir se há alguma ação pendente que possa impedir o petista de concorrer à presidência em 2022, mesmo depois de seis anos da denúncia citada no post verificado.

Outro passo da verificação foi buscar, também no Google, informações sobre o status da candidatura de Lula em 2022. Todas as candidaturas submetidas à Justiça Eleitoral passam pelo julgamento da corte e precisam ser aprovadas antes do 1º turno da eleição. Na busca, o Comprova localizou uma notícia do site do TSE informando que, em setembro, o tribunal aprovou o registro da candidatura de Lula ao Planalto.

Vídeo é de 2016

Dallagnol apresentou a denúncia citada na postagem verificada no dia 14 de setembro de 2016. Na época, coordenador da Lava Jato em Curitiba, ele anunciou em um evento aberto à imprensa que o Ministério Público Federal (MPF) acusava Lula de ser o “comandante máximo do esquema de corrupção” identificado pela operação na Petrobras. Segundo Dallagnol, o petista poderia ter interrompido o esquema, mas não o fez.

A denúncia protocolada pelo MPF naquele dia acusava Lula, na verdade, de ter recebido da construtora OAS R$ 3,7 milhões em propina como parte de um acordo de contratos na Petrobras. O valor correspondia a um apartamento tríplex no Guarujá, no litoral paulista. A defesa do ex-presidente disse na época que não havia provas da ligação de Lula com o tríplex.

Lula criticou a apresentação na época. Segundo a defesa do petista, o conteúdo da denúncia protocolada naquele dia havia se perdido “em meio ao deplorável espetáculo de verborragia” de Dallagnol.

Lava Jato e Lula

Alvo da Lava Jato por suspeitas envolvendo um tríplex em Guarujá e um sítio em Atibaia (ambos em São Paulo), o ex-presidente foi condenado em julho de 2017 pelo então juiz Sergio Moro (recém-eleito senador pelo partido União Brasil) a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex.

Em janeiro de 2018, os três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, votaram para manter a condenação e ampliar a pena para 12 anos e um mês de prisão. Lula sempre se declarou inocente.

Mas ele só foi preso em abril de 2018, após o STF decidir que réus condenados em segunda instância pudessem cumprir pena. Assim, não pôde disputar a eleição presidencial daquele ano, vencida por Jair Bolsonaro, hoje no PL.

Em novembro do ano seguinte, o órgão mudou a jurisprudência, decidindo que esses réus têm direito a aguardar o fim do processo em liberdade, e Lula foi solto, depois de 580 dias.

Em março de 2021, o STF anulou as condenações do petista na operação por entender que ele não teve seus direitos respeitados. Segundo o órgão, os processos não podiam ter tramitado na Justiça de Curitiba. Como mostrou a Folha, “segundo os magistrados, a competência de Moro era restrita a esquemas diretamente relacionados à Petrobras e as acusações contra Lula envolvem outros órgãos públicos que vão além da estatal petrolífera”. Em junho do mesmo ano, o tribunal decidiu também que Moro foi parcial em seu julgamento.

Sergio Moro teve diálogos particulares com Dallagnol divulgados pelo The Intercept. Neles, segundo a BBC, o juiz adotava condutas ilegais em parceria com o Ministério Público Federal.

Até então, Lula ainda poderia responder pelas acusações em novos processos, se tramitassem no Distrito Federal. Mas, como mostra a BBC, “esse retorno à estaca zero acabou provocando a prescrição da pretensão punitiva” e Lula, embora não tenha sido julgado inocente, “não pode mais ser julgado nos casos do triplex e do sítio de Atibaia”.

Justiça aprovou candidatura de Lula em 2022

O TSE aprovou no dia 8 de setembro o registro da candidatura de Lula à Presidência em 2022. O plenário também deferiu o registro de Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice do petista. O ministro Carlos Horbach disse na ocasião que os dois preenchem as condições de elegibilidade exigidas pela Constituição e pela lei eleitoral e que não há nenhuma causa legal que os impeça de concorrer à eleição.

Antes de examinar os pedidos de registro, Horbach, que foi relator dos processos, rejeitou impugnações (petições) que haviam sido propostas ao TSE contra a candidatura de Lula. Entre elas, estava a de um eleitor que dizia que os efeitos da condenação do ex-presidente no caso do sítio de Atibaia deveriam permanecer, apesar de o Supremo ter anulado o caso em 2021. O tribunal julgou o pedido improcedente.

Outras impugnações foram dos políticos Fernando Holiday e Lucas Pavanato, ambos do partido Novo. Os dois disseram que Lula cometeu abuso de poder ao ser beneficiado por manifestações favoráveis à sua candidatura em shows que haviam acontecido antes da campanha. Horbach rejeitou as petições, dizendo que o julgamento do registro de candidatura não era a via correta para julgar aquele tipo de acusação.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e às políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre os candidatos tentam manipular a decisão do voto e prejudicam eleitores que buscam ter acesso a informações verdadeiras antes de se dirigir à urna.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova verificou outros conteúdos suspeitos sobre os candidatos que disputam a Presidência em 2022. Entre eles, está o que mente ao afirmar que Lula propõe fechar igrejas; o que diz, também de forma mentirosa, que o petista quer abrigar famílias sem teto em casas já com dono; e o vídeo que distorce uma declaração antiga do presidente Jair Bolsonaro sobre direitos trabalhistas.

 

Eleições

Investigado por: 2022-10-06

G1 não publicou matéria na qual Lula afirma que “nem Deus tira essa eleição da gente”

  • Falso
Falso
São falsas as postagens no Twitter e Instagram que mostram capturas de tela de uma suposta notícia do portal G1, da Globo, sobre o ex-presidente e candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter declarado que "nem Deus tira essa eleição da gente". A frase atribuída ao presidenciável teria sido proferida durante um jantar com aliados, no qual religiosos teriam se sentido constrangidos com a afirmação, passando a cogitar não apoiá-lo. O portal de notícias informou, porém, que não publicou nenhum conteúdo com esse teor. Já a assessoria do PT afirmou que a frase não foi dita por Lula e que suposto o jantar não aconteceu. Além disso, nenhuma reportagem foi encontrada na internet com o título em questão.

Conteúdo investigado: Captura de tela com suposta notícia veiculada no portal de notícias G1, na qual título afirma que Lula disse em jantar com aliados que “nem Deus tira essa eleição dele”. Já o subtítulo da matéria diz que “religiosos presentes no local se sentiram constrangidos e cogitam não apoiá-lo após o deslize na fala do ex presidente”.

Onde foi publicado: Twitter e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso que o site G1 tenha publicado notícia afirmando que o ex-presidente Lula (PT) teria dito que “nem Deus tira essa eleição da gente” durante um jantar em que religiosos teriam se sentido constrangidos e cogitado não apoiá-lo no segundo turno das eleições. Ao procurar pelo título da suposta reportagem no site do portal G1, não foi possível encontrar o conteúdo supostamente noticiado.

Ao Comprova, a assessoria do veículo disse que a imagem é falsa e que o conteúdo “nunca foi publicado pelo G1”. Além disso, a postagem aqui checada mostra a assinatura de um suposto repórter chamado “José Mota”. O nome não consta na relação dos que fazem parte da equipe do G1.

Em 6 de outubro, o Instagram colocou a etiqueta “informação falsa” avisando o internauta que acessa o conteúdo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Até 5 de outubro, a postagem no Instagram que deu origem à verificação teve 1,7 mil curtidas. Já no Twitter, foram 173 compartilhamentos e 218 curtidas.

O que diz o autor da publicação: O perfil autor da publicação no Twitter não permite o envio de mensagem. Na foto de perfil da conta, a autora se identifica como “anti-Lula”. O Comprova enviou mensagem ao autor do post no Instagram, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem .

Como verificamos: Primeiramente, pesquisamos no site do portal de notícias G1 pelo título da suposta matéria. Em seguida, foram utilizadas as ferramentas Wolframalpha, Bing images, Tineye, Verexif, Google Lens para verificar se a imagem ou a suposta matéria estava presente em algum outro portal ou rede social.

Por fim, a equipe do Comprova entrou em contato com a assessoria do G1 e do PT para saber sobre a veracidade do conteúdo.

Também contatou o autor do post, mas não houve resposta até o fim dessa verificação.

Portal informa que nunca publicou tal notícia

Procurada pelo Comprova, a assessoria do G1 afirmou que o conteúdo com título “Lula diz em jantar com aliados que nem Deus tira essa eleição dele” nunca foi publicado pelo portal. A assessoria do PT, por sua vez, disse que “não houve nem esse jantar, nem essa declaração”. O partido considerou o conteúdo como “fake news” produzida por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) para “tumultuar a eleição”. Por meio da busca pelo título da suposta reportagem no Google, usando o filtro da data da publicação (3 de outubro), não foi encontrado nenhum resultado. A procura pela frase que consta na legenda da foto do ex-presidente Lula – “Lula discursa no seu comitê de campanha em MG onde funcionava templo religioso de João de Deus” – também não encontra resultados correspondentes.

Outra forma de verificar a existência da publicação, inclusive para checar a repercussão da imagem, foi o uso do aplicativo Google Lens. Por meio dessa plataforma, é possível fazer a busca de fotos ou vídeos na internet. A procura pela suposta captura de tela por meio dessa ferramenta não indicou nenhuma publicação. O mesmo ocorreu ao utilizar o Bing Images.

A informação da legenda da suposta reportagem sobre o local do comitê de campanha também é falsa. Diz ser em Minas Gerais, “onde funcionava um templo religioso de João de Deus”. As atividades de João Teixeira de Faria, conhecido como “João de Deus” e condenado a mais de 40 anos de prisão por estupro e estupro de vulnerável, concentravam-se em Abadiânia (GO). A foto do ex-presidente Lula associada à publicação tem origem em um vídeo de transmissão de uma entrevista coletiva à imprensa em São Paulo (SP), publicado no perfil do PT no YouTube. Além disso, observa-se na imagem um indicativo de que o conteúdo não corresponde a uma reportagem jornalística: erros de ortografia no subtítulo. Em “religiosos presentes no local se sentiram constrangidos e cogitam não apoiá-lo após o deslize na fala do ex-presidente”, uma das palavras aparece sem acento agudo, erroneamente, e outra, sem hífen.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A poucas semanas do segundo turno das eleições de 2022, conteúdos falsos que envolvem candidatos à Presidência da República, como a postagem checada, podem influenciar a decisão do eleitor brasileiro, que deve se basear em informações verdadeiras e confiáveis para definir seu voto.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos que simulavam páginas de veículos jornalísticos. Em setembro, o Comprova mostrou ser falsa uma montagem de suposta publicação do G1 na qual Lula teria dito, durante um ato de campanha em Santo André (SP), que a Venezuela “não precisa de críticas”, mas de “financiamento e empréstimos”. Já no início deste mês, o Comprova checou uma suposta postagem do portal GE (Globo Esporte), também vinculado a Globo. Afirmava que a marca Puma teria aumentado o patrocínio do jogador de futebol Neymar Jr. após ele postar vídeo apoiando a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). A postagem era falsa, e o GE negou ter publicado tal reportagem.