O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Investigado por: 28/07/2025

Pix é alvo de investigação comercial dos EUA, mas não pode ser taxado por Trump

Contextualizando
Relatório de apuração norte-americana aberta após anúncio do tarifaço contra o Brasil cita serviço de pagamento instantâneo desenvolvido pelo governo, mas não propõe tributação da ferramenta

Conteúdo analisado: Postagens de políticos do governo e da oposição especulam sobre as motivações e o alcance de uma investigação dos Estados Unidos sobre práticas comerciais do Brasil.

Onde foi publicado: No X.

Contextualizando: Políticos do governo e da oposição publicaram diferentes versões nas redes sociais sobre uma investigação dos Estados Unidos a respeito de práticas comerciais brasileiras. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria querendo “taxar o Pix”. Já o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) disse que Trump não quer prejudicar o método de pagamentos brasileiro, mas sim permitir que empresas americanas também ofereçam o serviço. O engajamento em torno do tema aumenta com a iminência da entrada em vigor de tarifas sobre produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos, previstas para 1º de agosto.

A declaração de Haddad divulgada em um trecho publicado em posts nas redes sociais foi feita durante entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele afirmou que o governo federal “esclarece” os pontos levantados pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) na investigação comercial, mas questionou alguns pontos. “Agora, é estranho. Um presidente de um país querer taxar o Pix de outro país. Além de taxar as exportações, vai taxar o Pix? Ele vai encarecer os custos de transações financeiras no país”, disse.

A investigação comercial foi anunciada em 15 de julho, seis dias após Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, enviar uma carta ao presidente Lula (PT) comunicando que as exportações brasileiras sofrerão uma taxação adicional de 50% a partir de 1º de agosto. A proximidade dos dois eventos e a circulação acelerada de informações nas redes sociais gerou interpretações confusas sobre o tema.

O Pix é uma forma de pagamentos regulada pelo Banco Central (leia mais abaixo). O advogado Guilherme Costa Val, mestre em Tributação Internacional e sócio do escritório Ayres Westin Advogados, afirma que os Estados Unidos não poderiam taxar diretamente o Pix, por se tratar de um mecanismo de pagamento interno do Brasil. “O que eles poderiam fazer seria criar um mecanismo de pressão indireta. Por exemplo: bancos que utilizarem Pix para realizar pagamentos no Brasil serão penalizados de alguma forma pelos Estados Unidos através de uma multa qualquer. Isso seria possível. Acho improvável, mas seria possível”, afirma.

O especialista também diz que, pelo mesmo motivo, os Estados Unidos também não poderiam impedir o uso do Pix no Brasil — outra suspeita infundada difundida nas redes nos últimos dias. Segundo o advogado, a preocupação dos Estados Unidos com o Pix parece estar associada a uma suposta ameaça a empresas americanas que atuam no setor de pagamentos, uma vez que o Pix é gratuito.

Ao Comprova, o Ministério da Fazenda informou via assessoria de imprensa que a fala de Haddad ocorreu dentro do contexto da entrevista e se referia à possível ameaça representada pelo Pix e por novidades como o Pix parcelado, também gratuito e que entra em vigor em setembro, a mecanismos pagos de pagamento e parcelamento de empresas norte-americanas. Segundo a assessoria, o ministro não se referia a um risco de taxação do Pix, algo que a pasta reconhece não ser possível, por se tratar de um serviço brasileiro.

Trump vs Pix

Não há declarações oficiais de Trump contra o Pix ou anunciando a taxação do serviço de pagamento brasileiro por parte do governo norte-americano. Porém, no release em que a investigação do USTR é divulgada, é descrito que ela foi aberta para atender uma “direção específica” de Trump. A intenção é investigar, entre outras coisas, “os atos, políticas e práticas do Brasil relacionados ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico”.

Nos documentos oficiais, o governo norte-americano não cita o Pix diretamente, mas assinala que o Brasil possui “práticas injustas em relação aos serviços de pagamentos eletrônicos”, enfatizando que aqueles desenvolvidos pelo governo brasileiro obtêm vantagem. Essa prática (Pix) estaria minando a competitividade comercial de empresas dos EUA, segundo o relatório norte-americano.

Uma hipótese para o interesse dos Estados Unidos sobre o uso do Pix seria o fato de que o surgimento do Pix em 2020 poderia ter reduzido a dependência de bandeiras de cartão de crédito e de big techs, interessadas em soluções de pagamento como o WhatsApp Pay — ferramenta que teve a função de transferência por meio de cartão de débito descontinuada no Brasil no fim de 2024 em favor de outras opções mais populares de pagamento, como o próprio Pix.

O escrutínio das autoridades estadunidenses sobre o Pix não é novidade, de acordo com o que foi noticiado pela Agência Brasil. Há três anos o USTR já deixava claro, em um documento oficial, que o país estava preocupado com os impactos da massificação do Pix.

A edição de 2022 do relatório foi a única até o momento a mencionar nominalmente o meio de pagamento brasileiro.

O Comprova procurou o Banco Central para questionar o caso, mas não obteve retorno até a publicação deste conteúdo.

O que é o Pix

Idealizado pelo Banco Central do Brasil (BC) desde 2016 e em operação desde novembro de 2020, o Pix é um meio de pagamento instantâneo que possibilita que transferências bancárias sejam realizadas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia da semana.

O Pix é rápido e fácil porque, em vez de informar todos os dados bancários da pessoa que vai receber, o usuário só precisa da chave Pix, que pode ser o CPF, celular, e-mail, CNPJ ou uma chave aleatória. Com essa chave, o sistema já encontra a conta correta para enviar o dinheiro. Também é possível pagar usando um QR Code gerado pelo recebedor.

O Banco Central é o responsável pela regulação do Pix. A instituição possui independência do governo federal. O governo Lula não pode determinar mudanças no método de pagamentos.

Fontes consultadas: O Comprova buscou nos veículos de imprensa profissionais notícias de declarações de Donald Trump sobre o Pix. A reportagem procurou o site da USTR para acessar os documentos a respeito da investigação aberta. Para traduzir os documentos, foi usada a ferramenta NotebookLM do Google. Portais do governo e da imprensa oficial brasileira também foram acessados. Também foram feitos contatos com a assessoria do Banco Central do Brasil, do Ministério da Fazenda e entrevista com o advogado Guilherme Costa Val.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Estadão Verifica investigou postagens que afirmaram que Trump quer acabar com o Pix. O Comprova já explicou sobre a sanção imposta pelos Estados Unidos ao Brasil e que a tarifação em Pix para empresas é facultativa e existe desde 2020.

Política

Investigado por: 28/07/2025

Postagem tira de contexto falas de ministros do STF para forjar embate entre eles

Política
Vídeo combina trechos desconectados dos discursos de Fux e Moraes para gerar narrativa falsa

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux não criticou publicamente seu colega de corte Alexandre de Moraes em discurso, ao contrário do que sugere vídeo viral publicado inicialmente no Instagram e replicado no X. A publicação une dois vídeos de ocasiões diferentes, um de cada ministro, e tira as falas de contexto para dar a ideia de que Fux estava respondendo Moraes.

O discurso de Fux foi em junho de 2024, durante o julgamento que descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal. Na ocasião, ele disse que os ministros do STF não são “juízes eleitos” e que “o Brasil não tem governo de juízes”, referindo-se aos políticos brasileiros, que “empurraram” a decisão para o Judiciário, o que teria causado uma exposição do STF.

“Essa prática tem exposto o Poder Judiciário, em especial o STF, a um protagonismo deletério, corroendo a credibilidade dos tribunais quando decidem questões permeadas por desacordos morais que deveriam ser decididas na área política”, afirmou Fux na ocasião.

Para o ministro, o Poder Judiciário acaba arcando com um alto custo social por ser acionado com frequência para resolver questões que outras instâncias não solucionam. Ele destaca que, por não serem eleitos e não prestarem contas diretamente ao eleitorado, os juízes acabam se tornando o destino final de demandas que deveriam ser resolvidas em outras esferas. O ministro já tinha feito essa observação quando tomou posse da presidência do STF, em 10 de setembro de 2020.

A fala de Moraes, por sua vez, é de 14 de setembro de 2023. Ele criticava o advogado Hery Kattwinkel, que defendia o réu Thiago de Assis Mathar, posteriormente condenado pelos atos de 8 de janeiro com pena de 14 anos.

Na ocasião, o ministro chamou Kattwinkel de “patético e medíocre”, afirmando que ele subiu à tribuna do STF com um “discurso de ódio para postar nas redes sociais”. Portanto, a fala de Moraes não teve nenhuma ligação com o ministro Luiz Fux.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação foi feita por um perfil na rede social X que soma 165,8 mil seguidores. Em sua descrição, a responsável pela página se identifica como “cristã, direita até pra estacionar, pra trás só pra pegar impulso, bolsonarista até debaixo d’água”.

O conteúdo do perfil está alinhado à própria apresentação da usuária: são frequentes as postagens em apoio a figuras da direita brasileira, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em contrapartida, a página também costuma veicular críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

O vídeo analisado é uma reação a uma postagem do perfil “No Centro da Política”, que publica conteúdos com uma roupagem noticiosa voltados para temas políticos. Entretanto, o perfil também costuma satirizar figuras públicas associadas à esquerda e destacar positivamente personagens da direita. Entre as manchetes publicadas, estão: “DETONOU: Jornalista faz pergunta maliciosa e é detonado por Flávio Bolsonaro” e “PIADA [emoji de palhaço]: Lula implora contato com Donald Trump”.

O vídeo alcançou 115,6 mil visualizações e, até o momento desta verificação, registrava 9 mil curtidas, 2 mil republicações e 123 comentários. O Comprova tentou entrar em contato com o perfil responsável pela publicação, mas não conseguiu, pois a conta está configurada para não receber mensagens privadas.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação se vale de um vídeo que conecta falas de dois ministros do STF fora de seus contextos originais, criando uma narrativa enganosa. O vídeo dá a falsa impressão de que Fux estaria rebatendo Moraes em tom crítico. Essa edição proposital leva o público a interpretar que há um embate direto entre os ministros.

Outro fator que torna o vídeo convincente é o uso de uma comentarista que reage às falas com entusiasmo e ironia, reforçando o julgamento emocional do espectador. Quando Moraes fala, ela o chama de “patético”; quando Fux fala, ela aplaude. Com isso, a mulher atua como mediadora da interpretação, guiando a audiência a adotar o mesmo ponto de vista. Esse tipo de reação encenada ajuda a manipular a percepção do público, reforçando a credibilidade de uma narrativa falsa.

O vídeo também apresenta uma frase que diz “HISTÓRICO: ‘pior do que não saber direito é um juiz que não tem coerência’. Fux detona Moraes e vídeo viraliza”. Termos como “Histórico” e “Fux detona Moraes” são hiperbólicos e apelam para o senso de urgência e conflito, o que aumenta a sensação de que algo grave está acontecendo.

Fontes que consultamos: Reportagens publicadas por veículos jornalísticos e vídeos dos discursos dos ministros do STF Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O UOL Confere verificou que Fux não criticou ministros do STF e sua fala é anterior à posse de Trump, assim como o Aos Fatos mostrou que vídeo em que Fux afirma que “Brasil não tem governo de juízes” é anterior à eleição de Trump. A AFP concluiu que Fux não anulou seis processos de Jair Bolsonaro até maio de 2025.

Notas da comunidade: O post não apresenta nota da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.

Contextualizando

Investigado por: 25/07/2025

Não há indícios de que Trump tenha tarifado o Brasil por compra de diesel russo

Contextualizando
Presidente americano anunciou taxação de importações brasileiras em retaliação a julgamento do ex-presidente Bolsonaro; EUA também importam do país de Putin

Um post no Instagram viralizou ao afirmar que o Brasil está financiando a Rússia na guerra contra a Ucrânia ao comprar diesel russo e que “essa é uma das principais razões pelas quais estamos sendo sancionados tão severamente pelos Estados Unidos”. O vídeo analisado pelo Comprova afirma ainda que “as sanções não virão somente dos Estados Unidos, mas agora virão de todos os países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”.

Mas não é bem assim. O post acerta ao falar sobre os valores que o Brasil gastou ao comprar diesel russo: US$ 95 milhões em 2022, US$ 4,5 bilhões em 2023 e US$ 5,4 bilhões em 2024. O autor fala do grande salto entre o último ano do governo de Jair Bolsonaro (PL) e os anos de Lula (PT). O Comprova contatou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e confirmou os números.

I Legenda: Tabela do site do Ministério do Desenvolvimento mostra valores pagos pelo Brasil pelo diesel russo de 2022 a 2024 I

 

No entanto, José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destaca que “o fato de o Brasil comprar mais diesel não significa nada em relação à guerra. “O Brasil pode importar do país A, B ou C, o que são levadas em conta são decisões técnicas, anteriores a esse conflito”, explica.

Maurício F. Bento, professor de economia internacional na Hayek Global College, reforça: “O Brasil importa diesel não porque apoia a Rússia, mas porque que precisa de diesel e o país mantém preços bastante competitivos e favoráveis. Esse relacionamento existe porque é algo positivo para o próprio Brasil”.

De acordo com ele, como muitos países romperam com a Rússia por conta da guerra, o país continuou tendo que vender seus produtos e, assim, acabou baixando os preços, o que fez com que o Brasil fizesse importação recorde mencionada no post.

Se o que o autor do post diz fosse verdade, então seria correto afirmar que os Estados Unidos também financiam a Rússia, uma vez que, em 2024, eles importaram US$ 3,3 bilhões do país de Vladimir Putin. Ou que o Brasil financia a Ucrânia, tendo em vista que, em 2024, importou US$ 55,6 milhões daquele país.

O governo norte-americano anunciou que pode aplicar tarifas sobre países que fazem comércio com o mercado russo, como o Brasil. A medida foi anunciada após fracassarem as tratativas de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, em julho.

Mas há outra sanção anunciada pelo presidente Donald Trump contra o Brasil que nada tem a ver com a Rússia: tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros por conta, segundo Trump, de uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL) e um suposto déficit dos Estados Unidos nas relações comerciais com o Brasil, como mostrou o Comprova. Trump não fez nenhuma conexão entre a aplicação das tarifas e a compra de diesel russo pelo país.

O autor do post fala em possíveis sanções da OTAN contra o Brasil, referindo-se a uma declaração do secretário-geral da instituição, Mark Rutte. Em 15 de julho, ele afirmou que Brasil, China e Índia podem ser punidos por importar produtos da Rússia. Mas ele se referia às sanções mencionadas por Trump, não a uma medida da OTAN. “Se a Rússia não levar a sério as negociações de paz, em 50 dias ele (Trump) aplicará sanções secundárias a países como Índia, China e Brasil. Meu incentivo para esses três países em particular é que você pode querer dar uma olhada nisso, porque pode te atingir muito forte”, declarou Rutte.

A declaração foi divulgada um dia depois do anúncio de Trump sobre novas sanções. O republicano, no entanto, não detalha o que seriam essas tarifas secundárias e quem seria afetado.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, rebateu as declarações de Rutte. “Não faz sentido discutir questões comerciais com um funcionário de uma aliança militar da qual sequer participamos”, declarou. Segundo o chanceler, o debate sobre relações com a Rússia é pauta para debates bilaterais e na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Maurício F. Bento, entrevistado pelo Comprova, disse que, “se o Brasil simplesmente rompesse com a Rússia (para agradar a OTAN), seria o Brasil adotando os interesses de outro país”.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O vídeo foi postado por um perfil com mais de 2,6 milhões de seguidores. Na descrição, o autor se diz “cientista da mente inconsciente, formador de líderes do novo tempo e cristão com missão de forjar Inquebráveis”.

A página apresenta vídeos sobre temas de repercussão, com ênfase em política e religião. Nas postagens, o autor costuma fazer críticas ao governo Lula e ao ministro Alexandre de Moraes, além de demonstrar apoio a Trump. Ele aparece com boné com a inscrição da campanha do republicano, “Make America great again”.

O post verificado aqui foi visualizado mais de 1,1 milhão de vezes até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O post é em formato de vídeo, mas, logo na legenda, o autor escreve: “Eu tenho pra onde ir quando tudo “explodir” mas e o povo que não tem?”. Mensagens alarmantes costumam ser usadas por desinformadores para prender a atenção dos internautas. Ao sugerir que o Brasil estaria acabando como nação, o autor gera sentimentos como nervosismo e ansiedade no espectador, fazendo com que ele não pare para refletir no assunto abordado.

O vídeo inicia com a frase “se for inteligente, assista até o final” escrita sobre a imagem, o que atiça o internauta, levando-o a acreditar no conteúdo, uma vez que supostamente foi publicado por uma pessoa inteligente.

Fontes que consultamos: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, reportagens sobre o tema e entrevistas com José Augusto de Castro, da AEB, Maurício F. Bento, da Hayek Global College.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já explicou a sanção imposta pelos Estados Unidos ao Brasil e a sobretaxa estudada pelo país norte-americano para países que compram produtos da Rússia.

Saúde

Investigado por: 25/07/2025

Post enganoso usa estudo não revisado para atacar vacina contra gripe

Saúde
Plataforma na qual estudo está hospedado alerta que ele não deve servir de base para decisões clínicas

A vacina contra a gripe não “aumenta o risco de adoecer”, diferentemente do que sugere um post que viralizou na rede social X. A publicação se baseia em um artigo intitulado “Eficácia da vacina contra a influenza durante a temporada de vírus respiratórios de 2024-2025”, de autoria dos pesquisadores Nabin K. Shrestha, Patrick C. Burke, Amy S. Nowacki e Steven M. Gordon.

De acordo com o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, “a vacina contra a gripe previne milhões de doenças e consultas médicas relacionadas à gripe todos os anos”. O órgão aponta que foi demonstrado em vários estudos que a vacinação contra a gripe reduz a gravidade da doença em pessoas que são vacinadas, mesmo que elas fiquem doentes.

O estudo divulgado pelo post investigado está disponível no medRxiv, um repositório para arquivamento e distribuição de manuscritos que ainda foram não publicados (pré-prints), na área de saúde. Pré-prints são relatos preliminares de estudos que ainda não foram referenciados por outros pesquisadores, procedimento fundamental para avaliar os resultados.

Por este motivo, afirma o site, os estudos presentes ali “não devem ser utilizados como base para práticas clínicas ou comportamentos relacionados à saúde, nem devem ser divulgados pela mídia como informações definitivas”.

A pedido do Comprova, Mayra Moura, doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), fez vários apontamentos que colocam em perspectiva os resultados do estudo. Além disso, segundo ela, a vacina contra a gripe é considerada segura e eficaz, tanto pelas autoridades médicas brasileiras quanto pelas internacionais.

No Brasil, o Ministério da Saúde mantém a campanha de vacinação pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) e afirma que “a vacina é a melhor forma de se proteger das formas graves da doença, especialmente para quem mais precisa”.

De acordo com Mayra, ao contrário do que afirma o estudo, não é possível que a vacina aumente o risco de adoecer. “Não há como o imunizante aumentar o risco de contrair a gripe. Ou o organismo gera uma resposta imunológica, ou, por algum motivo, essa resposta não acontece. Não existe nenhum dado ou evidência que comprove isso”, explica.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O conteúdo investigado foi publicado por um perfil que possui 105,7 mil seguidores. A página compartilha regularmente postagens sobre saúde, com foco em temas como vacinação, dietas, medicamentos e doenças.

Em relação às vacinas, o perfil adota uma postura crítica, frequentemente publicando conteúdos com viés negativo sobre o tema. Até a data de publicação desta verificação, o post registrava mil curtidas, 459 republicações e 26,1 mil visualizações.

O Comprova entrou em contato com o responsável pelo perfil para questionar suas motivações, mas não obteve retorno até o momento.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza diferentes táticas de persuasão visíveis diretamente na imagem. A principal é o uso de uma manchete alarmista, que afirma categoricamente: “Vacina da Gripe Aumenta o Risco de Adoecer, Revela Estudo”.

Essa frase, apresentada em tom definitivo, busca gerar medo e desconfiança sem apresentar evidências ou contextualização, o que reforça o apelo emocional.

Outro elemento é o uso do termo “estudo explosivo” no link destacado da matéria, uma expressão sensacionalista que intensifica a suposta gravidade da informação e busca atrair cliques por meio do impacto.

Além disso, a imagem mostra uma pessoa recebendo uma injeção no braço, o que pode provocar desconforto em quem tem receio do ato vacinal em si. Todos esses elementos atuam de forma integrada para influenciar emocionalmente o leitor e gerar engajamento.

O que compromete a credibilidade do estudo

A publicação e o estudo afirmam que “a vacina contra a gripe aumenta o risco de adoecer”. No entanto, essa conclusão se baseia em uma série de fragilidades metodológicas que comprometem a credibilidade dos resultados apresentados.

Um dos elementos comprometedores é o fato de ele ter sido conduzido exclusivamente com funcionários da Cleveland Clinic, em Ohio. Embora envolva 53.402 participantes, trata-se de uma população altamente específica, o que limita a representatividade dos resultados.

De acordo com Mayra, diretora da SBIm, “uma amostra é sempre mais representativa quando há diversidade populacional. Por isso, mesmo que um estudo tenha um tamanho amostral elevado, ele não pode ser automaticamente considerado como representativo a nível global”.

Na conclusão, o estudo afirma que os resultados sugerem “que a vacina não foi eficaz na prevenção da gripe nesta temporada”. No entanto, a diretora da SBIm destaca um segundo ponto importante: o principal objetivo da vacina não é impedir completamente a infecção, mas sim reduzir a gravidade dos casos, prevenindo hospitalizações e mortes.

“Afirmar que a vacina não é efetiva apenas porque pessoas vacinadas contraíram a doença não é adequado. O principal objetivo da vacina contra a influenza é reduzir a gravidade dos casos e, não necessariamente, impedir totalmente a infecção”, argumenta.

Outro ponto levantado por Mayra diz respeito ao intervalo em que os participantes do estudo foram vacinados. Embora o artigo delimite o período entre outubro de 2024 e março de 2025, o estudo não esclarece exatamente quando cada paciente recebeu a dose.

Segundo ela, essa falta de precisão compromete a análise, especialmente porque a vacina contra a influenza tende a oferecer sua melhor proteção nos primeiros seis meses após a aplicação. “O acompanhamento de outubro a março pode pegar um momento em que a pessoa já está com a proteção diminuída, tornando-se mais vulnerável”, explica.

Fontes que consultamos: Entrevista com Mayra Moura, doutora em Saúde Coletiva e diretora da SBIm, matérias do Ministério da Saúde e FAQ do site medRxiv.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outro estudo, realizado nos Estados Unidos, que também alegava que o imunizante aumentaria o risco da doença e já mostrou como a desinformação sobre vacinas distorce dados e compromete a confiança pública.

Notas da comunidade: A publicação não recebeu notas da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.

Política

Investigado por: 24/07/2025

Vídeo distorce fala de Lula para atribuir a ele ataque à democracia

Política
Conteúdo viral editado tenta transformar discurso de defesa da democracia em ataque às eleições

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não defendeu menos eleições nem deu “sinais de que não irá deixar a presidência”, como afirma um vídeo viral publicado no TikTok e no X. A alegação distorce um trecho do discurso lido por Lula durante declaração à imprensa após a reunião de alto nível “Democracia Sempre”, realizada em Santiago, no Chile, em 21 de julho de 2025.

Na fala, Lula afirma que “cumprir o ritual eleitoral a cada quatro ou cinco anos não é mais suficiente”, o que foi posto de forma enganosa a fim de acusar o presidente de atacar as eleições. No discurso, o presidente defende que a democracia precisa ser fortalecida com participação contínua da sociedade e governança digital mais transparente, sem colocar em dúvida a importância das eleições ou a alternância de poder.

A publicação nas redes recorta o discurso, omite o contexto completo e induz o espectador ao erro ao apresentar uma interpretação alarmista e desconectada do conteúdo original. Não há, no pronunciamento, qualquer sugestão de ruptura democrática ou tentativa de permanecer no cargo além dos limites constitucionais.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O post foi feito por um perfil no TikTok com mais de 44 mil seguidores. Até a publicação desta verificação, o vídeo analisado acumula cerca de 212 mil visualizações, 4 mil curtidas, 850 comentários, 555 salvamentos e mais de 2 mil compartilhamentos. No X, onde foi reproduzido, o vídeo teve 115 mil visualizações.

O perfil no TikTok costuma publicar conteúdos relacionados a política nacional e internacional. Muitos vídeos são críticos a Lula e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, frequentemente com acusações direcionadas a ambos.

O Comprova entrou em contato com o responsável pela publicação do vídeo, mas ainda não obteve resposta.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação investigada recorre a táticas clássicas de manipulação para induzir o público ao erro. O principal recurso utilizado é o recorte de contexto, no qual apenas um trecho do discurso é isolado e apresentado de forma distorcida, sem considerar o conteúdo completo da fala.

Outra estratégia é o uso de afirmações categóricas sem evidência, que transformam interpretações em verdades aparentes. Ao afirmar que Lula “defende menos eleições”, a publicação parte de distorção e a apresenta como um fato, mesmo que o presidente nunca tenha dito isso explicitamente.

A frase do discurso “cumprir o ritual eleitoral a cada quatro ou cinco anos já não é suficiente” foi usada como base para essa alegação, mas seu sentido real era o de destacar que a democracia vai além das eleições periódicas. Isso fica claro ao analisar o contexto completo do discurso de Lula.

Por fim, a publicação explora uma narrativa simplificada, em que o presidente aparece como uma ameaça direta à democracia, sem espaço para nuances. Esse tipo de enquadramento, “ou está com a democracia, ou contra ela”, reforça divisões, favorecendo a disseminação da desinformação.

Declaração de Lula à imprensa

O Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, foi bombardeado em 11 de setembro de 1973 durante o golpe militar que depôs o presidente Salvador Allende e deu início à ditadura de Augusto Pinochet. Ali, Lula deu início ao discurso destacando a carga simbólica do local. Ele lembrou que “a democracia chilena sofreu um dos atentados mais sangrentos da história da América Latina”.

Na sequência, ele afirma que o “sistema político e os partidos caíram no descrédito”, o que exigiria um fortalecimento das instituições democráticas. Para isso, Lula enfatizou a necessidade de “participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado” na defesa da democracia, afirmando que essa defesa “não cabe somente aos governos”.

O presidente falou sobre a urgência da “regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação”, argumentando que “a chave para um debate público livre plural é a transparência de dados e uma governança digital global”.

Em seguida, o discurso do presidente abordou a luta contra todas as formas de desigualdade, seja social, racial ou de gênero, e a importância da “justiça tributária” para que os “super ricos” arquem com sua parte do esforço. Em sua fala, a crise ambiental e a necessidade de um “novo modelo de desenvolvimento” também foram mencionadas como essenciais para resgatar a legitimidade das democracias.

Por fim, Lula destacou o papel da América Latina e Caribe como “força positiva na promoção da paz no diálogo e no reforço ao multilateralismo”, e a importância de atuar em conjunto com a Espanha e a Europa diante do extremismo.

Fontes que consultamos: Discurso do presidente Lula no site do Governo Federal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão verificou que postagens distorcem fala de Lula no Chile para alegar ameaça às eleições de 2026. Recentemente, o Comprova mostrou que publicações tentam usar IA do X para espalhar boato antigo sobre morte de Lula e que vídeo usa IA para manipular imagens de Lula no G7 e simular embriaguez.

Política

Investigado por: 22/07/2025

Governo Lula tenta resolver impasse na justiça para concluir ponte entre Tocantins e Pará

Política
Gestão federal recebeu obra em grande parte concluída e ficou responsável pela realização dos acessos; problema com desapropriações impede entrega

Ao contrário do que alega uma postagem no Instagram, a obra da ponte sobre o Rio Araguaia, que liga os municípios de São Geraldo do Araguaia (PA) e Xambioá (TO), não está parada há três anos, período que marca a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo vídeo narrado supostamente por um morador da região, o governo de Jair Bolsonaro (PL) teria construído a ponte e deixado apenas as “cabeceiras” para conclusão no governo atual, o que também não é verdade.

Notícia do governo federal em 8 de agosto de 2022, ainda no mandato de Bolsonaro, portanto, afirma que as obras da ponte estavam 70% concluídas. Na imagem publicada à época pelo próprio Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), é possível ver que a parte central da ponte apresenta apenas os pilares de sustentação, sem a pista.

Outra publicação do governo federal, de dezembro de 2022, cita que foram concluídos 100% da infraestrutura em lâmina d´água — estrutura que fica abaixo do nível da água — , 93,93% dos pilares e travessas e 84,73% do trecho convencional executado, mas também não aponta quanto do empreendimento foi executado no total.

Em 2024, o DNIT anunciou que a ponte estava 99,16% construída. Embora pessoas e veículos possam subir na estrutura a partir de Xambioá — alguns vídeos, inclusive, mostram habitantes do município tocantinense utilizando a ponte para caminhadas —, não é possível ir de uma cidade para a outra, pois ainda faltam os acessos à ponte no município paraense. Segundo texto publicado pela Secretaria de Comunicação (Secom), também em 2024, o empreendimento, que contempla a estrutura e os acessos, estava 87,2% concluído.

O Comprova buscou imagens de 2022 e 2025 no Google Street View e registros de satélite no navegador Copernicus, plataforma da União Europeia que monitora o planeta por meio de imagens de satélite e sensores, para mostrar as mudanças na obra.

 

Um dos entraves para a construção dos acessos que faltam é o processo de desapropriação e indenização dos indivíduos que moram próximos ao local. Ao Comprova, o DNIT informou que contratou os serviços de encabeçamento da ponte em 2023 e que, desde então, “estão em curso os processos de desapropriação necessários, conduzidos por meio de conciliações judiciais”.

Na parte do Tocantins, o processo de conciliação foi concluído no primeiro semestre deste ano. Em relação ao lado paraense, o órgão afirma que as primeiras audiências estão marcadas para 6 e 7 de agosto. “O DNIT reforça que está empenhado na conclusão das obras e trabalha para garantir a funcionalidade da ponte ainda em 2025”, informa o órgão.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil pertence ao radialista Jiripoca da Positiva, que tem 89,4 mil seguidores. Na descrição, ele se diz “radialista e ex-chefe executor da unidade avançada do Incra de São Geraldo do Araguaia, Pará”. Jiripoca já fez várias postagens falando da ponte, quase sempre com elogios a Bolsonaro e com críticas a Lula.

Em uma das postagens, o perfil escreve: “[es]tamos juntos sempre capitão bolsonarro” (sic), manifestando apoio ao ex-presidente no mesmo dia em que ele foi alvo de operações da Polícia Federal. Até o momento desta publicação, o vídeo investigado soma 29,9 mil visualizações.

Contatado pelo Comprova, o autor afirmou que a empresa contratada por Bolsonaro concluiu os serviços para os quais foi contratada. Segundo ele, a gestão passada entregou a ponte 82% concluída, faltando o vão central e outros dois vãos de 37 metros. Por fim, ele continuou afirmando que o governo Lula parou os trabalhos no empreendimento.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação recorre a estratégias emotivas e apelativas para engajar o público. Há uso de linguagem informal, que aproxima o locutor do espectador (“meus amigos e minhas amigas”, “meu filho”), além de expressões dramáticas como “aqui dói no coração” e “é uma tristeza” para gerar indignação.

A oposição entre “nosso presidente Bolsonaro” (tratado de forma positiva) e o “desgoverno” atual (adjetivado como incompetente) sugere um viés político claro. Além disso, o vídeo convoca diretamente o público a compartilhar o conteúdo, incentivando sua disseminação com frases como “compartilhe para o Brasil e o mundo”, o que amplia seu alcance e reforça seu apelo emocional.

Demanda antiga

A ponte sobre o Rio Araguaia é uma demanda antiga por parte dos dois estados, sobretudo para o escoamento da produção agrícola no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região chamada de Matopiba. Sem a rodovia, a travessia dos veículos e cargas é feita por meio de balsas, o que gera filas demoradas e aumenta o tempo de viagem.

A construção foi autorizada em 2017, ainda durante o governo de Michel Temer (MDB), com custo estimado de R$ 132 milhões.

A obra, no entanto, só começou em abril de 2020, após ter ficado travada durante um período por disputas judiciais. Na época, o valor da obra foi ajustado para R$ 157 milhões, com previsão de entrega para setembro de 2022, prazo que não foi cumprido.

Em publicação de 2022, o valor aparece estimado em R$ 193,1 milhões. Matéria do Governo Federal de março daquele ano mostra visita técnica de Bolsonaro ao local. Na foto, é possível ver a ponte inacabada, com algumas partes apenas com os pilares, como foi mostrado nas imagens de satélite.

Fontes que consultamos: DNIT, Google Street View, Copernicus, Secom e publicações do Governo Federal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Lupa fez verificação sobre o tema em 2024 e mostrou que vídeo engana ao afirmar que obra da ponte de Xambioá está parada há dois anos. Em 2023, o Comprova investigou dois casos sobre a ponte do Rio Araguaia e concluiu que é falso tanto que a obra foi embargada pelo governo Lula quanto que está paralisada.

Política

Investigado por: 21/07/2025

Custo dos MEIs com IOF aumentou comparado à situação anterior, mas regra ainda é provisória

Política
A alíquota em operações diárias de até R$ 30 mil dobrou de 0,00137% para 0,00274% para empresas enquadradas no Simples Nacional. STF validou, de forma provisória, decreto do governo Lula sobre alíquota do IOF

Não é verdade que o “MEI vai pagar o dobro de impostos com o novo IOF de Lula”. Uma postagem viral no X distorce uma notícia segundo a qual a alíquota diária do IOF em operações de crédito de até R$ 30 mil dobrou de 0,00137% para 0,00274% para empresas enquadradas no Simples Nacional (o que inclui os MEIs). Essa reportagem não informa sobre outras mudanças de impostos para os MEIs. Além disso, essa é uma regra provisória, que ainda será analisada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF).

A postagem analisada aqui começou a circular um dia após a maior parte do decreto do governo Lula que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ter sido validado pelo Supremo. Na prática, a medida dobrou as alíquotas de tomada de crédito para os MEIs. Isso inclui operações de empréstimo e financiamentos, por exemplo.

De acordo com a CBN, microempreendedores e empresas do Simples serão especialmente atingidos por essa mudança, pois dependem constantemente de crédito para manter o seu negócio funcionando.

O IOF é um tributo federal pago por pessoas físicas e jurídicas que incide sobre diversas operações financeiras no país, como operações de crédito, câmbio, seguro ou de títulos e valores mobiliários. No último dia 16, decisão liminar assinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes decidiu pelo aumento da alíquota anunciado pelo presidente Lula no dia 22 de maio deste ano.

No dia 25 de junho, o Congresso Nacional aprovou um decreto legislativo que interrompeu os efeitos do decreto inicial de Lula (PT). O presidente da República, por sua vez, recorreu ao Supremo e pediu que o tribunal validasse a norma que aumentou as alíquotas – o que foi aprovado, em sua maior parte, no dia 16 de julho.

O post no X traz o texto “Urgente – MEI vai pagar o dobro de impostos com o novo IOF de Lula!” e uma foto de Lula “fazendo o L”.

A mesma imagem que foi postada no X e um título semelhante foram encontrados em um texto do dia 17 de julho deste ano, no site O Contribuinte. Nele é explicado que, embora a liminar do ministro tenha restabelecido imediatamente o decreto de Lula sobre o IOF, o plenário da Corte ainda deverá analisar o mérito da questão. Até lá, o aumento do IOF segue válido em todo o país. Segundo o site do STF, a determinação de Moraes será analisada pelo Plenário do Supremo, em data a ser definida.

O que é um MEI?

MEI significa Microempreendedor Individual. Na explicação da Secretaria de Comunicação do governo federal (Secom), a modalidade MEI foi criada para incentivar a formalização de pequenos empreendedores e trabalhadores autônomos, oferecendo um regime tributário simplificado e benefícios como cobertura previdenciária.

O programa permite que indivíduos com faturamento anual de até R$ 81.000,00 (valor sujeito a atualizações, segundo a Secom) se formalizem como empresários individuais, com um processo de registro simples e isenção de diversas taxas. O MEI é um programa gerido pelo Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN), com apoio da Receita Federal do Brasil. O Simples Nacional, por sua vez, é um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte. As empresas enquadradas no Simples têm um faturamento máximo anual de R$ 4,8 milhões.

O que muda com o novo IOF para os MEIs?

Conforme informado anteriormente, no caso dos MEIs e demais empresas enquadradas no Simples Nacional, a alíquota diária em operações até R$ 30 mil dobrou de 0,00137% para 0,00274%. A alíquota máxima subiu de 0,88% para 1,38% ao ano.

Além da alíquota diária, sobre as operações de crédito para as empresas do Simples incide também uma alíquota fixa, de 0,38%. Esse valor não teve alteração com o decreto do governo federal.

Por exemplo, em um empréstimo de R$ 10 mil por 90 dias, o IOF a pagar anteriormente seria de R$ 50,33. Agora, com a alíquota diária dobrada, o IOF a pagar seria de R$ 62,66. Isso representa um aumento de 24,5%.

O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Valter Lobato afirma que o aumento da alíquota diária é mais um obstáculo a ser enfrentado pelos MEIs.

“Considerando que essas empresas frequentemente enfrentam dificuldades de fluxo de caixa e dependem significativamente de crédito no mercado, esse aumento na carga do IOF torna o dinheiro mais caro e é mais um obstáculo a ser enfrentado, entre tantos outros que estes empreendedores já enfrentam”, disse.

Em nota ao Comprova, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que “o principal entrave ao financiamento atualmente está nas elevadas taxas de juros praticadas no país, decorrentes do atual patamar da taxa Selic”.

“O IOF incidente sobre empréstimos tomados por pessoas físicas permanece em até 3,38% ao ano — sem qualquer alteração promovida por este governo. Em contrapartida, as taxas de juros, especialmente no crédito rotativo, frequentemente superam 100% ao ano, o que evidencia que o impacto do IOF é bastante reduzido em comparação”, comunicou.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem soma mais de 16 mil curtidas no X e foi criada por um perfil que possui mais de 300 mil seguidores. A página afirma que posta conteúdos diariamente. O texto em seu cabeçalho diz “Perfil de notícias. Se elas não te agradam, não mate o mensageiro, lute para mudar os fatos!”.

Diferente de veículos de notícias tradicionais, o perfil não encaminha os leitores para um link da matéria completa. Um site com o mesmo nome e imagem do perfil semelhante foi encontrado, mas o último texto foi atualizado em 2024. O perfil respondeu o Comprova pelo Instagram somente com este link. É uma análise da CNN postada dia 16 de julho. O título é “IOF não vai fazer justiça tributária; MEI vai pagar o dobro”. A matéria consultou a analista de Economia da CNN Thais Herédia, que afirmou que na prática, quando os MEIs realizarem operações financeiras como pessoa jurídica, incluindo a tomada de empréstimos, terão que arcar com uma tributação duas vezes maior que a atual.

Por que as pessoas podem ter acreditado

Como foi detalhado anteriormente, a possibilidade de aumento do IOF passou por diferentes fases, que derrubaram e depois validaram o decreto de Lula. A postagem analisada aqui usa um texto breve e claro, o que facilita a transmissão da mensagem para quem procura atualizações rápidas sobre o tributo.

O conteúdo é introduzido pela palavra “Urgente”. Isso faz parecer que se trata de um “furo”, ou uma notícia muito atual. Mas isso não é verdade, dado que a postagem no X foi realizada um dia após a decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes. Veículos tradicionais de imprensa publicaram textos completos e embasados exatamente na data da decisão.

Não menos importante, a postagem cita diretamente os MEIs. Isso representa uma quantidade significativa de pessoas que possam se interessar por uma notícia “urgente” sobre o IOF este ano. Afinal, de acordo com levantamento do Sebrae divulgado em março deste ano, os pequenos negócios representam 97% do total de empresas do Brasil. Além disso, houve um aumento de 27,7% de abertura de MEIs em 2025, em relação ao ano passado.

Fontes que consultamos: Comunicados oficiais no site do Supremo Tribunal Federal e matérias do Estadão. Também contribuíram na checagem os professores Valter Lobato, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Robson Gonçalves, da FGV.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Mais notícias do Comprova relacionadas a tributos podem ser acessadas em matérias como: Reforma tributária mantém a livre negociação de preços de imóveis e Entenda a proposta de tributação de dividendos feita pelo governo federal.

Notas da comunidade: A publicação não recebeu notas da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.

Correção: A versão anterior deste texto apresentava um cálculo errado sobre o IOF devido em um empréstimo de R$ 10 mil. O valor foi corrigido. O texto foi atualizado com uma nota da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom).

Comprova Explica

Investigado por: 18/07/2025

Idade não é empecilho para prisão de Bolsonaro caso seja condenado

Comprova Explica
A lei não impede que pessoas com mais de 70 anos sejam condenadas ou cumpram pena em regime fechado. Dúvida aparece em postagens nas redes sociais.

Conteúdo analisado: Duas publicações no ‘X’ viralizaram ao questionar se Jair Bolsonaro (PL), aos 70 anos, está velho demais para ser preso. Os tuítes comparam o caso ao do presidente Lula (PT), que foi preso aos 72 anos. Os posts levantam suspeitas de que a Justiça possa proteger figuras de alto escalão do bolsonarismo enquanto pune apenas os executores do 8 de janeiro.

Comprova Explica: A publicação de tuítes que sugerem que Jair Bolsonaro estaria “velho demais para ser preso” levantou dúvidas sobre a existência de uma idade máxima permitida para cumprir pena no Brasil. Diante da circulação desses conteúdos, o Comprova investigou se a idade de um réu pode impedir uma eventual prisão.

A legislação brasileira impede que pessoas idosas sejam presas?

Não existe idade máxima para que alguém seja preso no Brasil. O Código Penal só define uma idade mínima para responsabilização criminal: menores de 18 anos são inimputáveis, considerados incapazes de discernir seus atos, e respondem segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Isso significa que, mesmo pessoas com mais de 70 anos, podem ser presas normalmente, tanto em prisão preventiva quanto após condenação.

Dados do Sistema Nacional de Informações Penais (SISDEPEN), de dezembro de 2024, mostram que 2.806 pessoas com mais de 70 anos estavam presas no Brasil naquele momento, a maioria homens.

Há alguma exceção que favoreça pessoas mais velhas?

Sim, mas ela é restrita e depende da idade no momento da sentença. O artigo 115 do Código Penal prevê que, caso o réu tenha mais de 70 anos na data da condenação, a pena pode ser reduzida (exceto em crimes de violência contra a mulher).

Já o artigo 318 do Código de Processo Penal permite que pessoas com mais de 80 anos cumpram prisão preventiva em regime domiciliar. Bolsonaro, com 70 anos, não se enquadra nesses benefícios automáticos, pois a idade não impede o cumprimento da pena em regime fechado. Contudo, a advogada Beatriz Alaia Colin, especialista em direito penal, consultada pelo Comprova, explica que a defesa do ex-presidente poderia solicitar prisão domiciliar por razões humanitárias, com base em seu histórico de saúde.

“Ela é concedida quando o acusado tem a saúde debilitada e o sistema penitenciário não consegue garantir as condições específicas e adequadas àquele indivíduo. A concessão da prisão domiciliar, neste caso, deve ser se dar por meio de decisão fundamentada, que encontre respaldo em laudos e documentos médicos eventualmente apresentados por sua defesa”, detalha a especialista.

Essa modalidade de prisão só pode ser concedida por decisão judicial fundamentada, e costuma vir acompanhada de restrições, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acesso a redes sociais.

A dúvida levantada pelos tuítes também envolve nomes como Augusto Heleno, Braga Netto e Mauro Cid. Nenhum deles está livre de punição caso haja provas suficientes de participação na tentativa de golpe. Além disso, não há na legislação um dispositivo que proteja réus que sejam generais.

Lula foi preso aos 72. O que isso prova?

Lula foi preso em abril de 2018 aos 72 anos, após condenação em segunda instância no caso do tríplex. Sua idade não foi levada em consideração como impedimento para a execução da pena em regime fechado. Na época, não houve debate público relevante sobre a suposta fragilidade de um idoso para cumprir pena.

Fontes consultadas: O Comprova consultou o Código Penal e o Código de Processo Penal, além de buscar, com a ajuda do Google, dados sobre a idade da população carcerária no Brasil. A reportagem também entrevistou uma especialista em direito penal.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta, nesse monitoramento, um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Estadão Verifica investigou postagens em redes sociais que questionavam se Bolsonaro não poderia ser mais preso, concluindo que o STF rejeitou a decisão da Câmara de suspender a ação. O Comprova também checou que montagem distorce declaração de Lula sobre maioridade penal.

Comprova Explica

Investigado por: 17/07/2025

Entenda sobretaxa estudada pelos EUA para países que compram produtos da Rússia

Comprova Explica
Governo norte-americano prometeu tarifa secundária de 100% caso não haja acordo por fim de conflito na Rússia em até 50 dias, mas projeto em discussão no Congresso propõe cobrança de até 500%.

Conteúdo analisado: Vídeo de entrevista do senador republicano Lindsey Graham à CBS alega que os Estados Unidos podem sobretaxar Brasil, China e Índia em 500% por comprarem produtos derivados do petróleo e outros bens da Rússia. Reproduzido em postagens ou mencionado sem a fonte nas redes sociais, o vídeo tem provocado dúvidas nos usuários. Conteúdo foi ao ar um dia antes do pronunciamento do presidente Donald Trump, que, na segunda-feira (14/7), deu ultimato para a Rússia para acabar com a guerra contra a Ucrânia e ameaçou aplicar tarifas secundárias contra o país.

Comprova Explica: Uma sobretaxa de 500% do governo dos Estados Unidos contra países que compram produtos da Rússia é uma das sanções previstas em um projeto de lei em discussão no Congresso norte-americano. O texto foi apresentado em abril, mas ainda não foi aprovado em nenhuma comissão. O tema foi retratado pelo senador republicano Lindsey Graham em entrevista ao programa Face The Nation da CBS, rede de televisão americana, e compartilhada por perfis no X.

Graham é advogado, militar aposentado e atualmente é senador do Partido Republicano pelo estado da Carolina do Sul. Considerado um aliado direto de Donald Trump e atuante em assuntos ligados ao conflito entre Rússia e Ucrânia, ele afirmou no Face the Nation que a sobretaxa faz parte de um pacote do Congresso que está em análise para ajudar o governo Trump, mas admite que a tarifa pode ser menor do que os 500%. “Ele [Trump] pode aumentar ou diminuir. Pode ir de zero a 500. Ele tem flexibilidade máxima, mas vamos atrás daqueles que mantêm Putin nos negócios e impor sanções adicionais à própria Rússia”, disse.

Em outro trecho da entrevista, o senador menciona China, Índia e Brasil. Segundo ele, esses países compram combustíveis da Rússia e seria esse “o dinheiro que Putin usa para prosseguir com a guerra”. A entrevista foi dada ao programa Face the Nation, da emissora norte-americana CBS, no dia 13 de julho, um dia antes de declaração do presidente Donald Trump sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. A previsão de pronunciamento de Trump para anunciar sanções foi citada nas publicações do X que divulgaram a entrevista do senador.

O vídeo da entrevista completa também foi divulgado no site da emissora e na página do programa no YouTube.

Medidas de Trump

O governo Trump anunciou, na segunda-feira (14/7), uma possível “tarifa secundária” caso não haja um acordo com a Rússia em até 50 dias para uma trégua na guerra do país com a Ucrânia. A tarifa anunciada, no entanto, seria de 100%, e não 500%, como sugerido no projeto de lei e em publicação do X.

Trump não detalhou como seriam as tarifas secundárias, disse apenas que seriam “muito severas” e que “vocês sabem o que isso significa”.

Segundo reportagem da Folha sobre a medida, a resposta viria em forma de sobretaxas contra países que fazem negócio com a Rússia, o que poderia incluir até o Brasil. Conforme matéria de O Globo, a situação fez até a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fazer um alerta a Brasil, China e Índia para que tentem interceder junto a Putin por um acordo de paz na Ucrânia no prazo solicitado por Trump.

Comércio entre Brasil e Rússia

Brasil e Rússia atualmente mantêm relações comerciais. Dados da Balança Comercial brasileira mostram que o Brasil negociou 12,4 bilhões de dólares com a Rússia em 2024, com saldo consideravelmente maior de importações de produtos russos.

O país comprou 10,9 bilhões de dólares da Rússia no ano passado, sendo 57% disso composto por óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos. Fertilizantes são os produtos que aparecem na sequência entre os itens mais importados. Já as exportações somaram 1,4 bilhão de dólares. A soja (35%) lidera os produtos vendidos ao país de Putin, seguido por café (19%) e carne bovina (19%).

A Rússia também se tornou a principal vendedora de óleo diesel para o Brasil desde abril de 2023. Levantamento do Poder360 mostra que o governo de Putin superou os Estados Unidos na venda do combustível para o mercado brasileiro.

Fontes que consultamos: Portal do Congresso dos Estados Unidos, canais oficiais de Lindsey Graham e Donald Trump, site da CBS e matérias veiculadas na imprensa brasileira.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já explicou a sanção imposta pelos Estados Unidos ao Brasil e para que é usada a Lei Magnitsky, citada por secretário de Estado do governo norte-americano como possível ferramenta de sanção a Alexandre de Moraes.

Política

Investigado por: 17/07/2025

Publicações tentam usar IA do X para espalhar boato antigo sobre morte de Lula

Política
Estratégia reaproveita post antigo e sem provas para sugerir que presidente foi substituído.

Posts virais voltam a usar uma publicação mentirosa de 2022 para sugerir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) morreu. Como estratégia para desinformar, os autores das publicações falsas dão informações ao Grok, ferramenta de inteligência artificial do X, e perguntam se aquilo é verdade.

Uma das publicações cita uma suposta notícia que viralizou em 2022 sobre Lula ter morrido e pergunta qual é o posicionamento da IA do X. O post questiona ainda “quem realmente comanda o Brasil hoje?” e menciona o perfil oficial de Elon Musk, chamado de “chefe” do Grok, para “assegurar que [o chatbot] fale a verdade”.

Os conteúdos de desinformação se baseiam em um tuíte de 5 de novembro de 2022 de uma página no então Twitter intitulada LarretaNews. Como verificado pelo Comprova, o perfil não é um veículo jornalístico, diferentemente do que foi difundido na época em que o post foi publicado. O perfil publica conteúdos de desinformação com frequência – além da “morte” de Lula, escreveu que Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, também teria morrido, e compartilhou um vídeo falso de um candidato a presidente na última eleição argentina.

Em sua descrição, o perfil informa que é “o canal de notícias de Horacio Larreta”, referindo-se ao empresário argentino e ex-prefeito de Buenos Aires que foi candidato à presidência do país em 2023.

O Comprova não conseguiu confirmar se o perfil tem ligação com o empresário, mas, além de publicar conteúdos mentirosos, a página usa um logotipo semelhante ao do jornal La Nacion, numa possível tentativa de confundir as pessoas.

De acordo com Alex Mahadevan, diretor do MediaWise, projeto de alfabetização midiática do Poynter Institute, perguntar ao Grok sugerindo algo mentiroso é uma estratégia dos desinformadores. “Isso pode ser como neste exemplo, em que dizem que, se o Grok não responder, a afirmação ridícula deve ser verdadeira. Mas as pessoas também fazem perguntas tendenciosas que levam o Grok a responder com desinformação”, diz ele. “E, se o Grok retorna fatos, elas ficam chateadas e afirmam que o Grok é ‘consciente’”.

Recentemente, o Comprova verificou uma publicação do deputado federal Osmar Terra que sugeria que o Grok teria “se desculpado” com ele, mas a mensagem não confirmava as informações divulgadas pelo deputado. Ferramentas de IA não são capazes de avaliar a confiabilidade dos dados que lhe são fornecidos, como já mostrou o Comprova.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi criada por um perfil da rede social X que possui 70 mil seguidores. Na descrição, o perfil diz: “Estamos prestes a presenciar a justiça de Deus sobre o Brasil, veremos coisas jamais vistas e ouviremos coisas que farão nossos ouvidos tinir”, seguida por emojis de mãos em oração. A foto de capa apresenta as frases “Exército Brasileiro” e “Braço Forte – Mão Amiga”.

A publicação investigada tinha 139 mil visualizações, 2 mil curtidas e 600 compartilhamentos até 17 de julho. O perfil costuma fazer publicações sobre política internacional, por vezes “noticiando” sem citar fontes. As publicações reúnem críticas e falsas “notícias”, como as citadas, da morte de Lula e de Alexandre de Moraes, por exemplo.

O Comprova não conseguiu contatar o autor do post pois o perfil não permite o envio de mensagens privadas.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O perfil recorre a uma autoridade questionável ao mencionar o suposto jornal argentino “LarretaNews”. Isso confere uma aparência de legitimidade a uma informação sem qualquer comprovação, o que caracteriza um apelo à autoridade falsa.

A publicação também apela ao senso comum ao afirmar que “muitos brasileiros acreditam” na teoria de impostores na presidência. Essa generalização vaga tenta criar a impressão de que há um consenso popular a respeito do que é dito.

Outro ponto relevante é a referência a fontes ambíguas ou inexistentes. Ao afirmar que a notícia da morte de Lula “não foi desmentida pelo ‘X'”, a publicação sugere que o silêncio implica verdade, o que é uma inversão do ônus da prova. Em ambientes informacionais sérios, uma alegação extraordinária exige comprovação, e não a ausência de negação como prova.

Essas táticas, combinadas, constroem um discurso persuasivo que busca convencer o leitor por meio da dúvida, do medo e da manipulação emocional, sem oferecer qualquer base factual concreta. É um exemplo de como a desinformação se estrutura para parecer crível e urgente, mesmo quando carece de qualquer fundamento real.

Fontes que consultamos: Verificações sobre o post que foi reutilizado na publicação atual e entrevista com Alex Mahadevan, do Poynter Institute.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou algumas vezes posts sugerindo, erroneamente, que o petista estaria morto. Ao contrário do que alega teoria conspiratória, Lula está vivo e não foi substituído por sósia e teorias da conspiração sobre sósia de Lula voltam a circular nas redes sociais são alguns dos exemplos.

Notas da comunidade: A publicação não recebeu notas da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.