O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Política

Investigado por: 18/08/2025

Fotos comparativas da Estátua da Liberdade não provam inexistência do aquecimento global

Política
Publicação viral ignora que maré, ângulo da foto e outros fatores alteram a percepção visual, enquanto dados científicos confirmam o avanço do mar.

Diferentemente do que sugere uma publicação feita no X, uma comparação entre duas fotos da Estátua da Liberdade, uma que seria de 1898 e a outra de 2025, aparentemente com o nível da água inalterado, não serve como prova de que não houve aumento no nível do mar neste período. A montagem, que circula nas redes sociais, é enganosa, pois os dados científicos e as medições reais demonstram um aumento progressivo do nível do mar ao longo do tempo.

Além das fotos, a publicação investigada traz um texto, no qual afirma, de forma irônica, que as imagens, com a água aparentemente no mesmo nível, mostram “127 anos de ‘aumento do nível do mar’ devido ao ‘aquecimento global’”.

A imagem de 1898, em preto e branco, é de fato uma fotografia antiga. Já a foto de 2025 é uma imagem colorida e moderna do mesmo monumento.

Ao colocá-las lado a lado, o post sugere que, visualmente, não há diferença no nível da água entre os dois períodos, ignorando medições científicas precisas e o contexto. A comparação visual é falha porque a posição da câmera, a maré no momento da foto e outros fatores podem alterar a percepção da altura da água.

O Comprova também avaliou as imagens com a ajuda de inteligência artificial. Embora as conclusões das IAs devam ser tratadas com reservas, tanto o ChatGPT quanto o Gemini alertam que as fotos de 1898 e 2025 não servem como prova de que não houve aumento do nível do mar no período. As IAs indicam diferenças de perspectiva, incertezas sobre as marés e alterações físicas na ilha como obstáculos para uma conclusão sobre o nível do mar a partir de uma simples comparação das imagens.

| Imagem publicada nas redes sociais comparando o nível da água em diferentes datas (reprodução de postagem no X).

De acordo com Kauane Bordin, bióloga e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em medições feitas pelas Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA na sigla em inglês) dos Estados Unidos, a cidade de Nova York vem apresentando um rápido aumento no nível do mar na sua costa oceânica. “Avaliações recentes mostram que este aumento tem atingido a marca de 2,94 mm por ano”, diz.

Ainda segundo Kauane, existem diferentes formas de estimar o aumento do nível dos oceanos, que variam em precisão de acordo com a área amostrada. Áreas extensas, por exemplo, são monitoradas por meio de imagens de satélite, enquanto avaliações regionais contam com o monitoramento em estações de nível da água com dados históricos e de longo prazo. Este segundo método tem maior refinamento e precisão. No caso de Nova York, as medidas são in loco e acontecem desde 1856.

O derretimento das calotas polares e das geleiras está provocando um aumento no nível do mar de cerca de 3 milímetros por ano em Nova York, afirma a especialista. “À primeira vista, o número pode parecer pequeno — afinal, 3 mm é quase imperceptível numa régua. Porém, quando se fala em oceano, essa escala muda completamente”, diz. “Para entender, basta pensar na diferença entre encher um copo e encher uma bacia: a mesma medida de água ocupa volumes muito diferentes. Assim, 3 mm adicionais na superfície de todos os oceanos do planeta representam bilhões de litros de água a mais”, afirma.

Outra evidência de que o aquecimento global é real é que, como já publicado pelo Comprova, estudos da Nasa mostram que a temperatura média na Terra aumentou pelo menos 1,1° Celsius desde 1880, a uma taxa de aproximadamente 0,15 a 0,20°C por década.

​​Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A imagem foi publicada em um perfil favorável ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que acumula 63 mil seguidores. Na publicação analisada, o alcance chegou a 340 mil visualizações. A página posta outros conteúdos de desinformação com vídeos e fotos sobre o político, que, como seu filho Carlos, segue o perfil.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A principal estratégia é o uso de uma falsa equivalência visual. Ao colocar lado a lado duas imagens, a publicação cria a ilusão de uma comparação científica, sugerindo que o nível do mar permanece o mesmo. Essa abordagem é poderosa porque as pessoas tendem a acreditar mais no que veem se não têm entendimento sobre o assunto. A imagem é mais rápida de ser consumida e interpretada do que um texto longo com dados, e a suposta “evidência visual” parece incontestável, mesmo que seja enganosa.

A tática de manipulação também se apoia em uma simplificação enganosa de um tema complexo. O aumento do nível do mar não é um processo uniforme ou facilmente perceptível a olho nu em um local específico. As variações de maré, a posição da câmera, a época do ano e outros fatores podem influenciar na ideia de que o nível da água mudou. O uso de um monumento icônico e familiar, como a Estátua da Liberdade, torna a publicação ainda mais apelativa. As pessoas se identificam com o local e reconhecem a imagem, e o conteúdo se torna mais fácil de ser compartilhado. Assim, a narrativa se baseia mais na emoção e na intuição, do que em análises e dados científicos capazes de comprovar a realidade.

A combinação de um texto provocativo com uma imagem aparentemente convincente faz com que a publicação seja um exemplo clássico de desinformação, misturando táticas visuais e textuais para manipular a percepção do público.

Fontes que consultamos: Entrevista com a bióloga Kauane Bordin, reportagem da Time Magazine, Gemini e ChatGPT.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que a emissão de gases de efeito estufa pelo ser humano é responsável pelo aumento da temperatura global, ao contrário do que diz vídeo e que é enganoso afirmar que CO2 não tem relação com o aquecimento. Em 2021, a Agência Lupa também verificou uma postagem que usava as mesmas imagens da Estátua da Liberdade e discurso narrativo.

Notas da comunidade: Até a publicação desta reportagem, não foram adicionadas notas da comunidade no X.

Eleições

Investigado por: 13/08/2025

Deepfakes no TikTok usam celebridades para simular apoio a Lula nas eleições de 2026

Política
Cristiano Ronaldo, Messi e Bruna Marquezine tiveram conteúdos manipulados por IA.

Os jogadores de futebol Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, assim como a atriz Bruna Marquezine, não declararam apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições presidenciais de 2026, ao contrário do que publicaram páginas do TikTok.

As postagens em questão apresentam vídeos manipulados por inteligência artificial, a partir da técnica de deepfake – recurso que utiliza algoritmos para criar imagens e áudios falsos, mas com aparência realista, simulando pessoas fazendo algo que nunca ocorreu –, com o objetivo aparente de estimular o apoio político ao petista.

Outro indício de que os vídeos foram gerados artificialmente é que as falas atribuídas aos dois jogadores, publicadas pelo mesmo perfil, são idênticas na maior parte dos dois conteúdos. Isso sugere que o criador utilizou comandos muito parecidos para produzir ambos.

O Comprova realizou três buscas reversas, procedimento que consiste em usar um quadro de vídeo para localizar na internet onde aquele conteúdo foi publicado inicialmente, e encontrou os vídeos originais.

O vídeo de Cristiano Ronaldo foi gravado em 2021, quando o português ainda defendia o Manchester United. Na gravação, o jogador agradece pela conquista do prêmio de “Maior Artilheiro de Todos os Tempos”, do Globe Soccer Awards, e lamenta não estar presente na cerimônia de entrega da premiação.

O vídeo original de Bruna Marquezine foi publicado em junho de 2020 no TikTok oficial da atriz. Nele, Marquezine aparece dublando um meme dela mesma. Também não há nenhuma menção às eleições de 2026.

Durante o período eleitoral de 2022, no podcast “Quem Pode, Pod”, Marquezine chegou a declarar voto no petista ao dizer que não se importava em perder seguidores ou contratos por se posicionar politicamente, gesto que acompanhou fazendo o “L” com uma das mãos. Entretanto, não há nenhum registro da atriz falando das eleições de 2026.

No caso de Messi, o vídeo mais recente encontrado foi publicado em um shorts do YouTube. Na gravação, o argentino apenas se apresenta falando “olá, sou Lionel Messi”, em espanhol.

A reportagem buscou por matérias jornalísticas e consultou os perfis oficiais nas redes sociais das três celebridades, mas não achou nada que correspondesse ao que foi apresentado nos vídeos em questão.

Os três vídeos estão identificados como “marcado pelo criador como gerado por IA”. Eles estão no ar apesar de violarem as regras da plataforma, segundo as quais são “totalmente proibidos” vídeos que utilizam IA para mostrar “uma figura pública quando usada para apoio político ou comercial”.

A plataforma define como figura pública “adultos (com 18 anos ou mais) com um papel público significativo, como um funcionário do governo, um político, um líder empresarial ou uma celebridade”.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Os três vídeos verificados foram publicados por páginas declaradamente alinhadas ao presidente Lula, que utilizam fotos do presidente nos perfis e descrições com frases como “Apoio ao eterno presidente”, “lula 2026”, “siga para ajudar o lula” e “13 sempre”.

O objetivo aparente é reforçar o apoio político ao petista, usando figuras públicas para atrair engajamento e potencialmente influenciar eleitores. Juntas, as publicações somam 285 mil visualizações, 40,6 mil curtidas, 4,3 mil comentários, 7,2 mil salvamentos e 3 mil compartilhamentos. O vídeo com maior alcance foi o do jogador Cristiano Ronaldo, que sozinho registrou 161 mil visualizações, mais da metade do total, e 22 mil curtidas.

Os vídeos de Lionel Messi e Bruna Marquezine também tiveram números expressivos, ultrapassando 49 mil e 75 mil visualizações, respectivamente, ajudando a ampliar a circulação do conteúdo pró-Lula nas redes. O Comprova entrou em contato com os perfis responsáveis pelas postagens, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A tática mais evidente é o uso de deepfakes com celebridades. Ao colocar declarações falsas na boca de figuras famosas, a publicação se apropria da fama que essas pessoas construíram ao longo de suas carreiras. O público, que admira e acompanha essas celebridades, tende a transferir essa confiança para a mensagem que elas supostamente estão publicando.

Os roteiros das publicações foram elaborados para criar um vínculo emocional com o público. Frases como “tenho um carinho enorme pelo país” e “o Brasil merece justiça, humanidade e esperança” exploram sentimentos de patriotismo e empatia. Ao usar essa linguagem, a publicação cria uma identificação com o público, fazendo com que a mensagem pareça mais sincera e menos partidária.

A publicação não se limita a apresentar uma mensagem; ela ativamente busca engajamento. A inclusão de chamadas explícitas para curtir e compartilhar é uma tática para impulsionar o alcance da publicação de forma orgânica. Ao incentivar a interação, o conteúdo se espalha rapidamente pelas redes sociais, atingindo um público muito maior do que se fosse apenas visualizado.

Além disso, os gatilhos políticos diretos, como “Lula 2026” e “força da esquerda”, direcionam a mensagem para um público que é receptivo a essas ideias. Isso não só reforça a mensagem para quem já concorda, mas também a coloca em um contexto de ação política, incentivando o público a se sentir parte de um movimento.

Fontes que consultamos: Busca reversa através do Google Lens, NotebookLM para transcrição dos vídeos, vídeos publicados em redes sociais, reportagem de veículos jornalísticos e site oficial do TikTok.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que vídeos com IA simulam Janja gastando dinheiro público, manipulam áudio para inventar apoio de Luciano Hang a Lula em 2026 e criam falsas paralisações de caminhoneiros.

Política

Investigado por: 12/08/2025

Trump não ameaçou enviar tropas contra Alexandre de Moraes

Política
Publicação no TikTok distorceu uso da Lei Magnitsky pelo presidente dos EUA, que não fez qualquer declaração sobre ação militar no Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não ameaçou enviar tropas para prender Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), diferentemente do que afirma post viral no TikTok.

O autor da publicação cita a Lei Magnitsky e diz que o envio de militares seria porque o magistrado brasileiro estaria “violando gravemente a democracia e os direitos humanos”. De fato, Trump usou a norma contra Moraes, mas em nenhum momento sugeriu publicamente que enviaria militares para o Brasil.

Como o Comprova já mostrou, a Lei Magnitsky está prevista na legislação norte-americana e é aplicada contra estrangeiros acusados de corrupção ou violação dos direitos humanos.

Trump já relacionou a aplicação da Lei Magnitsky à condução de Moraes de processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. No relatório anual do Departamento de Estado, os Estados Unidos disseram que a situação geral dos direitos humanos enfraqueceu sob o governo Lula e acusaram o Judiciário de suprimir o discurso de apoiadores de Bolsonaro.

Da mesma forma, não é verídico que Lula colocou as Forças Armadas brasileiras de prontidão, como afirma o conteúdo investigado. O presidente brasileiro disse que não deve ligar no momento para Trump porque “ele não fala em negociação”. “Um presidente não pode ficar se humilhando para outro. Quando minha intuição disser que Trump quer negociar, não terei dúvida de ligar”, disse Lula.

A reportagem pesquisou o tema no Google e não obteve nenhum resultado que confirme as alegações, nem na imprensa nacional nem na internacional. Também buscou por “Moraes” no site da Casa Branca, e não há nenhum registro de Trump falando sobre enviar militares para o Brasil. O resultado da pesquisa traz dois links, de 30 de julho deste ano, abordando o mesmo assunto: um é a medida assinada pelo presidente americano impondo tarifas mais altas para o Brasil e o outro é um informativo sobre a medida.

Entre os comentários da publicação, há usuários que demonstram acreditar no conteúdo investigado, incluindo mensagens de apoio a Donald Trump, e declarações de que brasileiros “de bem” estariam ao seu lado.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil, que tinha 139,9 mil seguidores até 12 de julho, se diz uma página de notícias, mas publica diversos conteúdos falsos. Alguns exemplos, além do post verificado nesta checagem, incluem a afirmação de que o impeachment de Alexandre de Moraes havia sido aprovado e a alegação de que Trump acusou a CIA de se envolver nas eleições brasileiras. Não há, porém, qualquer registro oficial que confirme as duas alegações.

O vídeo acumulava, até o momento desta publicação, 109 mil curtidas, 14 mil comentários, quase 9 mil salvamentos e 19 mil compartilhamentos, além de 2,5 milhões de visualizações. O Comprova tentou contatar o dono do perfil, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O vídeo do post, criado com inteligência artificial misturando imagens de Trump e Moraes, começa usando um dos recursos mais frequentes no mundo da desinformação: a palavra “bomba”. Ao utilizar linguagem alarmista, os desinformadores sabem que têm mais chance de que seus conteúdos sejam disseminados. Isso porque o tom de urgência aumenta as chances de o espectador não refletir sobre o assunto, pensar se aquilo faz sentido e, assim, aumenta a possibilidade de as pessoas acreditarem no conteúdo.

Outra tática é o uso de autoridades. Quando o autor diz que Trump fez tais ameaças ao vivo, ele tenta dar credibilidade ao conteúdo. É mais forte dizer que o presidente dos Estados Unidos fez tal declaração do que afirmar “segundo fontes” – embora esta expressão também seja usada por desinformadores.

Fontes que consultamos: Site da Casa Branca e Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já publicou texto sobre a Lei Magnitsky. Especificamente sobre posts dizendo que Trump ameaçou enviar tropas para o Brasil, o UOL Confere e o Fato ou Fake, do G1, também desmentiram os conteúdos.

Saúde

Investigado por: 12/08/2025

USAID financiou projetos sociais no Brasil e não a imprensa

Saúde
Agência norte-americana destinou recursos a projetos de saúde, educação e assistência social

Não há registro de nenhuma transferência de dinheiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, a USAID, para veículos de imprensa brasileiros. Uma postagem no X engana ao afirmar que a USAID “pagou para a imprensa aumentar os números de mortes” de covid-19 no Brasil. A acusação é uma referência ao consórcio de veículos de imprensa criado em 2020 para divulgar os dados da pandemia no país, mas ela não se sustenta. A coleta de dados era feita diretamente com as secretarias de saúde estaduais e os números batem com o que foi divulgado pelo governo federal.

A publicação desinforma ao dizer que a USAID buscava “estigmatizar [o então presidente Jair] Bolsonaro como responsável [pelas mortes por covid-19] só para influenciar nas eleições”, fazendo referência ao processo eleitoral brasileiro de 2022. A criação do consórcio foi uma resposta a ações do governo de Jair Bolsonaro, hoje no PL. Em 6 de junho de 2020, o Ministério da Saúde passou a divulgar apenas os dados de covid-19 referentes a novos casos e óbitos nas últimas 24 horas, retirando os totais acumulados e outros índices importantes.

Diante disso, dois dias depois, nasceu o Consórcio de Veículos de Imprensa, com a iniciativa de levantar e totalizar diariamente os números de casos e mortes coletados das secretarias estaduais de saúde, contornando a ausência de consolidação por parte do Ministério da Saúde. O consórcio foi extinto em janeiro de 2023, após os dados federais terem se mostrado confiáveis.

No ano fiscal de 2022, que vai de 1º de outubro de 2021 a 30 de setembro de 2022, a USAID destinou ao Brasil mais de US$ 29,2 milhões em investimentos a projetos como o Fundo Amazônia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Já no exercício seguinte, encerrado em setembro de 2023, foram destinados US$ 19,9 milhões a organizações que atuam no país.

O Comprova fez uma busca nos projetos da USAID e não encontrou nenhum registro que tenha relação com as denúncias feitas pelo perfil investigado. Os recursos foram direcionados a projetos nas áreas de saúde, educação e assistência social. Esses fundos podem ser acessados no site ForeignAssistance.gov. Não há nenhum registro de pagamentos feitos à rede Globo nos últimos 20 anos.

O boato ganhou força pela primeira vez em 4 de fevereiro de 2025, após Mike Benz, ex-funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos durante o primeiro mandato de Donald Trump, afirmar que “se a USAID não existisse, Bolsonaro ainda seria o presidente do Brasil”, em entrevista ao podcast War Room do estrategista político e ex-assessor de Donald Trump Steve Bannon.

Em 6 de agosto de 2025, Benz afirmou, em uma audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Credn) da Câmara dos Deputados, que recursos teriam sido usados para atacar políticos de direita e favorecer a “censura nas redes sociais”. O ex-funcionário, no entanto, não apresentou provas.

Não é a primeira vez que boatos da USAID circulam pela Internet. Em fevereiro, o Comprova mostrou que é falso que Agência Lupa foi financiada pela USAID para interferir nas eleições de 2022.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação investigada foi feita por um perfil no X com 27,8 mil seguidores, que se apresenta como “Pai de família, empreendedor, músico…”.

O conteúdo mantém o padrão de postagens anteriores do usuário, que costuma atacar figuras da esquerda, como a ministra Gleisi Hoffmann, a quem acusa de defender um “projeto explícito de censura”. O perfil também é recorrente nas críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

Por outro lado, a página costuma compartilhar materiais de influenciadores alinhados à direita, como Rodrigo Constantino e a página Advogados de Direita Brasil. Até o momento desta verificação, a publicação acumulava 79,5 mil visualizações, 8 mil curtidas, 2 mil republicações e 114 comentários.

Parte dessas interações indica que alguns usuários demonstram acreditar nas alegações feitas no post. “Eu não estou nada surpreso. Pessoas informavam que tudo era covid, iam ao hospital com gripe e tinham diagnóstico de covid”, disse um usuário. O Comprova tentou contato com o perfil, mas ele não permite o recebimento de mensagens privadas pela plataforma.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O autor da postagem apela para o sentimento de desconfiança de quem já suspeita das instituições ou da imprensa, ao sugerir que há uma conspiração secreta por parte de entidades poderosas e que informações importantes estão sendo ocultadas do público.

A publicação espalha a mensagem com ironia, criando uma dúvida em quem lê e oferecendo uma falsa impressão de que algo suspeito aconteceu.

Apesar de não apresentar evidências, as postagens possuem milhares de visualizações, curtidas e comentários, o que pode gerar a falsa percepção de credibilidade.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre o tema, audiência pública da Câmara dos Deputados sobre a interferência da USAID no Brasil e dados sobre os investimentos públicos da USAID no Brasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Sobre a USAID, o Comprova já mostrou que é falso que Agência Lupa foi financiada pela agência para interferir nas eleições de 2022 e que imagem de Alexandre de Moraes com boné do órgão foi gerada por IA.

Notas da comunidade: Até o fechamento deste texto não havia “notas da comunidade” nas postagens no X.

Política

Investigado por: 08/08/2025

Tarifas de Trump seguem em vigor; vídeo no X espalha informação desatualizada

Política
Trecho de reportagem publicada em maio circula na rede social como se fosse notícia atual.

As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não estão bloqueadas pela justiça norte-americana, ao contrário do que afirma vídeo viral na plataforma X. A publicação noticia um fato desatualizado ao utilizar um trecho do programa jornalístico Bom Dia Brasil, da Rede Globo, exibido em 29 de maio de 2025.

Na época, o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos bloqueou o tarifaço de Trump, alegando que o presidente extrapolou sua autoridade ao invocar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) para impor tarifas no comércio com quase todos os países do mundo.

No documento, o tribunal concluiu que as ordens tarifárias globais e de retaliação excedem qualquer autoridade concedida ao presidente pela IEEPA para regular a importação por meio de tarifas.

Entretanto, no dia seguinte, a Justiça americana atendeu a um pedido do governo dos Estados Unidos e determinou que as tarifas continuassem valendo enquanto o recurso da Casa Branca contra a suspensão era analisado.

Em 31 de julho, foram ouvidos pela Justiça americana empresários e autoridades estaduais que contestaram o tarifaço. A decisão pode durar semanas e chegar até a Suprema Corte. Enquanto isso, as tarifas seguem aplicadas.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A publicação foi feita por um perfil verificado na plataforma X, que possui 24,3 mil seguidores. Na biografia, o perfil se define como “feminista, eclética, ateia, humanista, antifascista, socialista” e traz a frase: “quem não luta por aquilo que acredita é porque não acredita em nada”.

A foto de capa exibe a sigla BRICS, com cada letra acompanhada pela bandeira de um dos países do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Em uma das postagens, o perfil relata já ter enfrentado restrições na própria plataforma, ao compartilhar a captura de tela de um aviso do X: “para evitar bloqueios futuros ou suspensão da conta, confira as regras do X”. Na legenda, escreveu “de novo gente, tá difícil”, sugerindo que esse não teria sido o primeiro episódio de bloqueio.

O perfil tem histórico de publicações alinhadas à esquerda, frequentemente em tom noticioso, com críticas a líderes da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump. O Comprova não conseguiu entrar em contato com o perfil, pois ele não está configurado para receber mensagens.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação faz uso de autoridade ao inserir um trecho real do Bom Dia Brasil, com imagens e vozes reconhecíveis das jornalistas Ana Luíza Guimarães e Raquel Krähenbühl. Isso dá uma aparência de legitimidade à informação, mesmo que ela esteja desatualizada.

Em seguida, há o apelo visual e textual com a imagem de Donald Trump acompanhada de uma legenda impactante (“Justiça americana cancela tarifa que o presidente Trump tinha colocado no mundo todo”), apresentada de forma simplificada, o que favorece o entendimento superficial e rápido.

A tática de atualização enganosa também é evidente: a informação foi verdadeira em maio, mas é reapresentada sem contexto temporal, o que pode levar o público a acreditar que o fato é recente. Essas estratégias tornam o conteúdo convincente para quem não verifica a data da reportagem nem checa fontes oficiais.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre as tarifas e documentos oficiais da Justiça dos Estados Unidos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou conteúdos semelhantes envolvendo tarifas e sanções impostas pelos Estados Unidos. Recentemente, publicou na seção Comprova Explica detalhes das sanções e da Lei Magnitsky e mostrou que o Pix não pode ser taxado pelo governo norte-americano.

Notas da comunidade: O post não conta com notas da comunidade até o momento da publicação desta verificação.

Política

Investigado por: 07/08/2025

Vídeo de mulher na Geórgia circula como se fosse empresária a caminho de hospedagem em Belém

Política
Publicação na rede social X diz que pessoa estaria mostrando o percurso que teria de fazer até sua acomodação para a COP 30, com preço de R$ 300 mil. Na realidade, o vídeo foi feito na Europa

Diferentemente do que sugere uma publicação no X, o vídeo que mostra uma mulher vestida com blazer preto e sapato de salto alto caminhando por uma área de moradias simples, ruas de terra e vegetação rasteira a caminho de uma hospedagem de R$ 300 mil por semana não foi gravado em Belém, no Pará, cidade que sediará a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em 2025 (COP30).

O Comprova verificou que, na verdade, a gravação foi feita em Tbilisi, capital da Geórgia, na Europa. O conteúdo circula de forma enganosa, ao ser vinculado a críticas sobre os altos preços de hospedagem durante o evento internacional.

Com base em uma das notas da comunidade vinculadas à postagem no X, o Comprova identificou que o vídeo parece ter sido gravado nas proximidades da Fortaleza Narikala, em Tbilisi. No final da peça audiovisual, a construção é avistada ao fundo. Uma pesquisa reversa no Google Lens e buscas no Google Maps resultaram em fotos da construção, indicando que o vídeo seria da cidade europeia, e não de Belém. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Belém também respondeu ao Comprova que, pela área montanhosa e pela geografia da região exibida, o vídeo não é da capital paraense.

Veja, abaixo, a comparação entre as imagens do vídeo investigado (à direita), e imagens da fortaleza em Tbilisi.

O vídeo original foi postado por uma influenciadora no TikTok e já teve mais de 8 milhões de visualizações. A conta dela possui mais de 6 mil seguidores e ultrapassa 1 milhão de curtidas. As imagens foram republicadas também em outras páginas de entretenimento. A legenda da publicação não menciona a localização, mas a Geórgia é citada como possível local do vídeo por usuários do TikTok em comentários. Em um deles, a própria autora do vídeo confirma que as imagens foram feitas na Geórgia.

No X, tuíte que acompanha o vídeo sugere que a mulher seria uma empresária que percorre um caminho em uma região de aparente pobreza para chegar à sua hospedagem de valor exorbitante. O autor da postagem não cita fonte da informação e o conteúdo publicado não possui recursos textuais que identifiquem o local.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

No X, a publicação foi repostada por um perfil com 282 mil seguidores, que se apresenta como uma página de entretenimento. O canal costuma veicular conteúdos de tom humorístico, como sátiras e memes sobre temas variados, incluindo política nacional e internacional.

Nos últimos dias, o perfil tem publicado postagens críticas à realização da COP30 em Belém, especialmente aquelas que questionam a infraestrutura da cidade para sediar o evento. Embora a página publique materiais de humor, não há nenhum indicativo na publicação de que o vídeo da suposta empresária que viria a Belém para a COP 30 seria algum tipo de sátira. O Comprova tentou contato, mas não obteve retorno, já que o perfil bloqueia o recebimento de mensagens.

A peça investigada já acumula 2,5 milhões de visualizações no X, além de 3 mil republicações e 20 mil curtidas. O vídeo, no entanto, foi originalmente publicado no TikTok, na conta pessoal de uma influenciadora.

Uma análise do perfil no TikTok confirma que a mulher exibida é a mesma que aparece no vídeo verificado pelo Comprova. Tanto na descrição da conta quanto na publicação original ela não informa o local da gravação. O Comprova tentou contato com a influenciadora para questionar o contexto em que o vídeo original foi gravado, mas não obteve retorno.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação exagera e utiliza contraste visual como estratégias principais para persuadir o internauta. Ao mostrar uma mulher caminhando por uma área simples, com ruas de terra e moradias precárias, ela associa essa imagem a um suposto valor de R$ 300 mil por semana para hospedagem durante a COP30. Dessa forma, a postagem causa espanto e revolta ao dar a sensação de disparidade imobiliária ao demonstrar uma contradição entre a precariedade da infraestrutura e os preços praticados no mercado.

A postagem também explora polêmica atual, ao se ancorar nas discussões recentes sobre preços abusivos de hospedagens em Belém, reforçando um cenário negativo já sensível à opinião pública. Essas táticas ampliam o engajamento da publicação, espalhando uma informação que não é verdadeira.

Fontes que consultamos: A partir das informações divulgadas nas notas da comunidade, o Comprova buscou a publicação original no TikTok e comparou as imagens da Fortaleza Narikala que constam no vídeo com as que aparecem no Google Maps por meio de busca reversa. Também houve tentativa de contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Belém.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que os filhos do ministro Luís Roberto Barroso não foram deportados dos Estados Unidos nem estão foragidos em consulado e que o Pix é alvo de investigação comercial do governo norte-americano, mas não pode ser taxado por Donald Trump

Notas da comunidade: Usuários do X adicionaram contexto à publicação, afirmando que o vídeo foi filmado em Tbilisi e que a torre no final da gravação seria a Fortaleza Narikala.

Política

Investigado por: 07/08/2025

Vídeo tem áudio manipulado com IA para inventar apoio de Luciano Hang a Lula em 2026

Política
Empresário desejou boa sorte ao presidente em vídeo de 2023, mas nunca declarou publicamente que votaria no petista em 2026.

O empresário Luciano Hang, cofundador e proprietário da Havan, não declarou voto em Lula (PT) nas eleições de 2026, ao contrário do que sugere post publicado no TikTok. Ele teve seu rosto e voz manipulados por inteligência artificial.

Embora a legenda do post traga o aviso “marcado pelo criador como gerado por IA”, o conteúdo foi enviado à verificação por um leitor, o que indica que há pessoas que podem ter acreditado na autenticidade do vídeo.

Na verdade, como verificado pelo Comprova, a imagem usada no post é verdadeira; o que foi manipulado foi o áudio. Fazendo uma busca no perfil oficial de Hang no TikTok, a reportagem encontrou o vídeo usado na publicação verificada aqui.

Nele, Hang não menciona Lula ou as eleições de 2026 em nenhum momento. Em um vídeo sobre a Havan chegando aos 40 anos, o empresário fala sobre qual seria o “segredo do sucesso” do seu negócio.

Por meio da comparação entre o vídeo original, publicado por Luciano Hang, e o material manipulado, é possível notar que os movimentos corporais do empresário são idênticos nos dois registros. Isso indica o uso de deepfake, tecnologia que permite criar vídeos realistas em que pessoas parecem dizer ou fazer algo que nunca aconteceu. Como afirmado acima, a manipulação foi apenas no áudio.

Ao comparar o vídeo verificado e o publicado por Hang, é possível ver que são os mesmos; o desinformador usou imagens do conteúdo original e alterou a voz com uso de IA. Nas imagens, os olhos, a expressão do rosto e a posição das mãos e da cabeça mantêm-se a mesma, mas a boca parece diferente em função do uso de IA para manipular a fala. Confira alguns detalhes:

1 – Mãos abertas

2 – Mãos juntas

3 – Mãos entrelaçadas

4 – Uma mão sobre a outra

5 – Mão direita fechada no canto da imagem

Ao buscar declarações do empresário sobre Lula no Google, os resultados mostram que, em janeiro de 2023, logo após Lula assumir como presidente, Hang publicou um vídeo torcendo pela nova gestão. “Agora temos um presidente novo, temos um governo novo. Vamos torcer para o piloto, como eu sempre falo, fazer uma ótima viagem. Eu estou dentro do mesmo avião”, disse o empresário.

Antes disso, durante o período eleitoral, em 2022, Hang havia feito campanha para Jair Bolsonaro (PL), participando de eventos promovidos pelo ex-presidente. O Comprova tentou contato com o empresário, mas não obteve resposta até o momento desta publicação.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi criada por um perfil que possui 10,9 mil seguidores no TikTok. A conta utiliza como foto de perfil a expressão “Breaking News” em caixa alta, acompanhada de uma sirene vermelha, o que sugere uma estética voltada à divulgação de conteúdos noticiosos.

A biografia da conta, no entanto, permanece sem descrição, e o vídeo investigado é o único conteúdo publicado até o momento desta verificação. O vídeo atingiu 778,2 mil visualizações, o que indica alto alcance e potencial de viralização, mesmo sem histórico anterior de postagens.

Tentamos contato com o responsável pelo perfil para entender se é o autor original do conteúdo ou apenas um reprodutor, bem como para questionar suas fontes e intenções com a publicação, mas o perfil está bloqueado para receber mensagens.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza táticas de persuasão como o uso de figura de autoridade, ao colocar Luciano Hang, empresário conhecido por seu posicionamento político, como suposto autor da fala, conferindo credibilidade ao conteúdo.

Há também apelo à emoção, especialmente à surpresa, ao apresentar uma suposta mudança radical de posicionamento político. A frase “vou contar coisas que ninguém nunca teve coragem” sugere teoria da conspiração e instiga a curiosidade do público, incentivando o engajamento.

Além disso, o vídeo utiliza elementos visuais apelativos, como a imagem do presidente sorrindo com a frase “Lula 2026”, para reforçar a narrativa de apoio e gerar maior impacto visual.

Fontes que consultamos: Matérias jornalísticas envolvendo Luciano Hang, NotebookLM para transcrição do áudio.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova mostrou que vídeo distorce fala de Lula para atribuir a ele ataque à democracia e que vídeo usa IA para manipular imagens do presidente no G7 e simular embriaguez. Em maio de 2024, o Comprova mostrou que é falso que Luciano Hang tenha mais aeronaves atuando no Rio Grande do Sul do que a Força Aérea Brasileira.

Eleições

Investigado por: 04/08/2025

Adélio atacou Bolsonaro sem auxílio externo, concluíram investigadores e a Justiça

Política
Posts em redes sociais que associam deputado petista ao crime contra o então candidato Jair Bolsonaro voltaram a circular.

Não há evidências de participação do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) como mandante da facada contra Jair Bolsonaro (PL) em 2018, cometida por Adélio Bispo de Oliveira. Postagens divulgadas nas redes sociais alegam que o carro em que Adélio foi até o local estava no nome do parlamentar, mas não apresentam qualquer prova ou fonte da informação.

A investigação também não menciona qualquer carro supostamente usado por Adélio no dia do crime. Um dos inquéritos cita apenas que ele estava em meio à população que se manifestava, seguindo apoiadores no trajeto da passeata e “sempre próximo à célula de segurança” formada por policiais federais. Reportagem da TV Globo um dia após o crime citou que Adélio teria se deslocado a pé.

O autor do crime, cometido em Juiz de Fora (MG), está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) e foi investigado em dois inquéritos na Polícia Federal, em 2019 e 2020. Ambos concluíram que Adélio agiu sozinho. O mais recente, aberto para apurar se Adélio contou com apoio de algum cúmplice ou teria recebido dinheiro para executar o crime, foi arquivado após o juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, aceitar os argumentos do Ministério Público Federal (MPF) e dos inquéritos da PF de que não há indícios dessas possibilidades.

A decisão aponta ainda que Adélio seria inimputável por sofrer de Transtorno Delirante Persistente (Paranoia). Por conta disso, ele deveria permanecer internado por tempo indeterminado em instituição de saúde mental. Por falta de vagas deste tipo na rede de saúde pública mineira e pelo possível risco à segurança de Adélio, a Justiça determinou que ele continue internado na penitenciária de Campo Grande. O assunto é alvo de um conflito de competências entre a Justiça Federal de Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul. A sentença contra Adélio indica ainda que o crime foi cometido de forma “extremamente rudimentar” com uma faca que era utilizada como utensílio de cozinha, o que derrubou teses de apoio material ou financeiro.

“Não foram comprovados (sic), por exemplo, a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou mesmo paramilitares em qualquer das fases do ato criminoso (cogitação, preparação e execução)”, diz o documento assinado pelo delegado da PF Rodrigo Morais Fernandes.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O Comprova analisou publicações de dois perfis no X. O primeiro conta com mais de 91,5 mil seguidores. O perfil tem publicações críticas ao governo Lula (PT) e à esquerda política. Entramos em contato com o autor, que alegou ter feito a postagem para comentar boatos que viu na internet. Ele cita vídeo de suposto militar que teria feito a acusação a Lindbergh Farias. O perfil mencionado pelo autor foi desativado e não conseguimos localizar o titular.

A segunda postagem analisada foi feita por um perfil com 10,6 mil seguidores. A conta publica constantemente conteúdos de perfis de viés bolsonarista, que defendem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e fazem críticas a Lula e a Alexandre de Moraes. A autora também publica afirmações sem comprovação e sem citação de fontes.

Por que as pessoas podem ter acreditado

As postagens evitam trazer afirmações e lançam dúvidas sobre o leitor. Frases como “se foi ou não, talvez um dia seja investigado e confirmado” e “faz sentido” incitam a curiosidade e podem gerar suspeitas em quem lê a postagem.

Outra característica é a ausência de fontes, o que dificulta a verificação, bem como o aviso de que mais informações devem ser reveladas em breve.

Fontes que consultamos: Postagens na imprensa sobre o caso, relatório oficial da PF, assessoria do deputado e da Justiça Federal de Minas Gerais.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou ser falso que Adélio Bispo tenha incriminado PT ou prestado novo depoimento sobre facada em Bolsonaro e publicou um Explica sobre o que é comprovado e o que é falso sobre a facada.

Notas da comunidade: Não havia notas da comunidade na postagem do conteúdo no X até a publicação desta verificação.

Política

Investigado por: 01/08/2025

Preta Gil não escreveu carta a Bolsonaro; vídeo foi gerado por inteligência artificial

Política
Conteúdo falso usa trecho inventado e manipula contexto de diálogo antigo da cantora com o ex-deputado.

Não é verdade que a cantora Preta Gil, que morreu em 20 de julho, tenha deixado uma carta pedindo perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), diferentemente do que afirmam vídeos virais no YouTube.

Os conteúdos foram gerados por inteligência artificial. Um deles começa com o que seria um trecho da falsa carta – “Se um dia eu partir e não puder mais pedir perdão em vida, que essa carta fale por mim” – e tira alguns fatos de contexto. O vídeo, por exemplo, cita um episódio do extinto programa ”CQC” em que Preta fez uma pergunta a Bolsonaro, o que de fato ocorreu, em 2011. Mas mente ao afirmar que a artista teria tentado constranger o político. Na ocasião, ela perguntou como ele reagiria se um filho se apaixonasse por uma negra, e Bolsonaro respondeu: “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”.

O uso de IA pôde ser detectado a olho nu. A imagem de um homem que seria o apresentador do conteúdo é típica da ferramenta, o que se conclui ao observar a forma como a figura mexe a boca, os olhos e as mãos.

O Comprova também fez uma consulta no Hive Moderation, plataforma que reconhece o uso de IA que pode ser usada por qualquer pessoa que desconfie de uma imagem. Segundo a tecnologia, há 99% de chance de o vídeo verificado aqui ter sido gerado por IA. 

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil, com 286 mil inscritos, posta apenas vídeos criados por IA, muitos deles disseminando boatos sobre política sem informar a fonte oficial.

Conteúdos dizendo que Preta teria se arrependido do que falou sobre Bolsonaro começaram a ser publicados dois dias após sua morte. O primeiro deles, sobre mentiras que Preta teria dito sobre o ex-presidente, foi visualizado 130 mil vezes até a publicação deste texto. Ele foi um dos vídeos mais vistos do canal – de 85 publicados, 53 tinham menos de 15 mil visualizações até a publicação deste texto

O vídeo verificado pelo Comprova foi o terceiro sobre Preta (o segundo era sobre pontos que ela falou que supostamente acabaram acontecendo com ela) e o mais visto até a publicação deste texto, com 1,4 milhão de visualizações. Depois, o canal ainda inventou que a artista teria enviado um áudio para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e que o ex-presidente teria surpreendido “no adeus a Preta Gil”.

O Comprova tentou contatar o responsável pelo canal que publicou os vídeos, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O vídeo traz elementos típicos dos conteúdos de desinformação, como o uso de linguagem alarmista. “A verdade que ninguém quer contar”, “o Brasil todo quer saber” e “se um dia sumirem com esse canal, você ainda vai poder me encontrar” são algumas das expressões utilizadas.

Outra técnica é o uso de caixa alta. O título do vídeo é “PRETA GIL ELA ESCREVEU PRA BOLSONARO ANTES DE MORRER? O CONTEÚDO VAZOU!”. Ao usar letras garrafais, os desinformadores tentam criar o sentimento de urgência, pois sabem que, dessa forma, têm mais chance de que as pessoas não reflitam se o conteúdo faz ou não sentido e acreditem nele.

Dizer que a carta de uma artista conhecida nacionalmente teria “vazado” aguça a curiosidade dos internautas e, ao afirmar que “começou a circular em diversos perfis independentes de jornais e páginas de fofoca”, o vídeo tenta passar uma sensação de credibilidade – que não existe.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre Preta e Bolsonaro e o detector Hive Moderation.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: UOL Confere, Fato ou Fake, do G1, também publicaram verificação sobre a falsa carta. Sobre IA e Bolsonaro, o Comprova já investigou alguns conteúdos, como um vídeo que inventava que um artista teria feito uma escultura em homenagem ao político e outro que fazia uma sátira de Lula (PT) pedindo votos para o ex-presidente em 2026.

Política

Investigado por: 31/07/2025

Filhos de Barroso não foram deportados dos EUA nem estão foragidos em consulado

Política
Posts com desinformação começaram a circular após Estados Unidos anunciarem cancelamento de vistos de ministros do STF.

Poucos dias após a viralização de posts mentirosos dizendo que a filha de Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), seria deportada dos Estados Unidos, perfis disseminaram no X outro boato infundado. Agora, espalharam a desinformação de que os dois filhos do magistrado teriam sido deportados ou que eles teriam se refugiado no Consulado do Brasil em Nova York.

Barroso tem dois filhos, Luna e Bernardo van Brussel Barroso, e, segundo a assessoria de imprensa do STF, os dois não estão nos Estados Unidos. “Não é verdade que os filhos tenham sido deportados ou estejam refugiados”, afirmou o órgão ao Comprova.

O Itamaraty não respondeu ao email do Comprova sobre voos com brasileiros deportados, mas a reportagem não encontrou registro de casos recentes de aviões vindos dos Estados Unidos.

Luna, a filha mais velha de Barroso, trabalha no escritório Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça Advogados (BFBM), o mesmo no qual seu pai atuou antes de ingressar no Supremo Tribunal Federal, e realiza doutorado em Direito Constitucional na Universidade de São Paulo (USP). No site do escritório, consta que ela trabalha no Rio de Janeiro.

De acordo com as redes sociais de Bernardo, ele ocupa o cargo de diretor associado no banco BTG Pactual, em Miami, nos Estados Unidos. Seu perfil indica que ele trabalha de forma presencial no cargo.

O Comprova tentou contato via email com Luna e com o escritório em que ela trabalha, e também com Bernardo, via e-mail e Linkedin, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

As mentiras envolvendo os filhos de Barroso começaram logo após o governo de Donald Trump anunciar a proibição da entrada de Barroso e outros ministros do STF no país. “Ordenei a revogação dos vistos de (Alexandre de) Moraes e seus aliados no tribunal, bem como de seus familiares próximos, com efeito imediato”, escreveu Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, no X em 18 de julho.

Embora os posts com desinformação afirmem que os vistos dos filhos de Barroso teriam sido anulados, o STF disse ao Comprova que “não há informações oficiais sobre cancelamentos de vistos” de Luna e Bernardo.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Um dos posts virais foi publicado por um perfil com 60,3 mil seguidores. Na descrição da conta, o responsável pela página afirma: “Amo meu país. Lamento vê-lo tão assaltado, saqueado, com uma justiça tão decrépita e uma quadrilha no poder. Sofro pelo meu país e pelo meu povo”.

O titular do perfil não exibe sua imagem e nem seu próprio nome. Ele usa uma foto do ator Alain Delon no filme “Os Aventureiros” e o nome “Tom Riplay” no perfil. Tom Ripley, com “e”, é o personagem interpretado por Delon em outro filme, “O Sol por Testemunha”, uma adaptação do romance “O Talentoso Ripley” de Patricia Highsmith.

O conteúdo do perfil é predominantemente político, com publicações recorrentes de ataques ao presidente Lula (PT) e outras figuras da esquerda brasileira. O chefe do Executivo é frequentemente citado com termos pejorativos, como “anãozinho diplomático”.

Em outra postagem, o autor afirma que pesquisas indicam Lula como o pior presidente da história do Brasil, mas não apresenta qualquer fonte que comprove a informação. O Comprova entrou em contato com o perfil, que afirmou ter sido advertido por um amigo de que a informação era falsa e excluiu a postagem.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza diversas táticas típicas da desinformação para reforçar uma falsa narrativa. Entre elas, destaca-se o uso de linguagem sensacionalista, como a expressão “BREAKING NEWS” e a frase “PERDEU, MANÉ!”, que buscam criar um senso de urgência e atrair atenção imediata.

Além disso, há o uso de insinuações sem provas, como a alegação de que “filhos do ministro Barroso estão entre os deportados”, apresentada sem qualquer evidência ou fonte confiável.

A publicação também recorre a uma tentativa de deslegitimar uma autoridade institucional, no caso o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, explorando o imaginário de “humilhação” de uma figura pública associada ao Judiciário.

Por fim, o uso de imagens impactantes, como a de um avião militar dos Estados Unidos (com a inscrição “USAF”), reforça a ideia de veracidade e dramatiza a narrativa, mesmo que não haja conexão comprovada entre a imagem e os fatos alegados.

Fontes que consultamos: Assessoria de imprensa do STF e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Investigações de UOL Confere, Estadão e O Globo concluíram que a filha de Barroso mora no Brasil e não será deportada dos Estados Unidos. Posts também mentiram ao dizer que ela teria publicado vídeo chorando ao saber que seria deportada, o que foi verificado por Aos Fatos. O ministro é alvo de vários conteúdos de desinformação checados pelo Comprova, como o vídeo usado de forma editada para dizer que ele era contra o PT ou o post mentiroso dizendo que ele teria prometido atuar contra a eleição de Jair Bolsonaro (PL).

Notas da comunidade: A publicação no X não recebeu nenhuma nota de comunidade até o momento desta publicação.