O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 2022-10-14

Paralisação em trecho da BR-285 no RS foi causada por acidente, e não por ato do MST

  • Falso
Falso
É falso que o tráfego de veículos em um trecho da rodovia BR-285, no interior do Rio Grande do Sul, tenha sido paralisado por conta de um ato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no domingo, 9 de outubro, diferentemente do que afirma um vídeo que circula no TikTok. O trânsito, na verdade, ficou paralisado por conta de um acidente que ocorreu no trecho entre os municípios gaúchos de Panambi e Santa Bárbara do Sul.

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no TikTok em que um homem afirma estar parado em um congestionamento na BR-285 próximo ao município de Carazinho, no Rio Grande do Sul. Na gravação, ele diz que a interrupção do trânsito está sendo causada por uma invasão do MST em comemoração à vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: A paralisação de um trecho da rodovia BR-285, no interior do Rio Grande do Sul, no último domingo (9 de outubro) foi causada por um acidente e não tem qualquer relação com atos do MST, diferentemente do que alega um vídeo que circula no TikTok.

O vídeo foi gravado na manhã do dia 9 de outubro na rodovia BR-285, no município de Panambi, a cerca de 70 quilômetros de Carazinho, por um homem que diz ser caminhoneiro e que estava passando pela região. Ao filmar a fila de veículos parados em um lado da pista, ele afirma que o bloqueio na rodovia teria sido causado por uma invasão do MST em comemoração à vitória de Lula no primeiro turno das eleições presidenciais, no domingo anterior, dia 2 de outubro. O bloqueio da pista naquele trecho, no entanto, foi causado por um acidente envolvendo uma carreta e um automóvel na BR-285 em um trecho entre Panambi e Santa Bárbara do Sul, a cerca de dois quilômetros de onde o vídeo foi gravado.

Em contato com o Comprova, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) negou que tenha havido qualquer ocorrência do tipo na pista na data em questão e informou que a paralisação aconteceu devido ao acidente. Já o MST disse que não realizou no estado qualquer mobilização de ocupação de terras nos últimos meses, ou manifestações políticas em rodovias.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga as publicações suspeitas sobre as eleições presidenciais que obtêm maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo teve 50,4 mil visualizações, 3.103 curtidas, 279 comentários e 2.793 compartilhamentos até o dia 14 de outubro.

O que diz o autor da publicação: O conteúdo verificado foi publicado no TikTok pela conta “negoduro001”, mas, por configurações de privacidade, não é possível contactá-lo por essa rede social. Ao visualizar outros vídeos dessa conta, em que, no caso, o usuário mostra o seu rosto, e comentários em suas postagens, é possível associá-la a um perfil no Facebook atribuído a um homem chamado Paulinho Mota. Enviamos mensagem direta a ele, mas não obtivemos resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Procuramos no Google por páginas que contivessem os termos “BR-285”, “MST” e “movimento sem terra”. A pesquisa não retornou nenhuma notícia deste 9 de outubro, apenas matérias de 2016, 2011 e 2009. Por meio das ferramentas de busca do Google, reduzimos o intervalo de pesquisa para 2022. Não houve resultados que indicassem manifestações do MST na via neste ano.

Depois, procurando apenas por “BR-285” entre páginas com data após o dia do primeiro turno das eleições deste ano, em 2 de outubro, encontramos matéria do site de notícias GZH sobre um acidente ocorrido na manhã do dia 9, mesma data e faixa de horário em que o autor do vídeo aqui verificado diz estar gravando o material. A data também é a mesma da publicação no TikTok. A partir da análise de fotos do acidente divulgadas pela imprensa, o Comprova fez buscas no Google Street View para identificar o local exato da gravação e do acidente.

Por fim, a equipe entrou em contato com o MST, com a Polícia Rodoviária Federal no Rio Grande do Sul e, para tentar contactar o autor da publicação, fez buscas pelo perfil do TikTok verificado.

Local da gravação e do acidente são próximos

Na peça de desinformação, o autor do vídeo informa que está na BR-285, próximo à cidade de Carazinho, no Rio Grande do Sul, no domingo, às 10h44 da manhã. A publicação foi feita no TikTok no domingo, dia 9 de outubro.

O Comprova não localizou qualquer informação sobre manifestações ou atos do MST na região, apenas notícias sobre um acidente que interrompeu o trânsito na via na mesma data da publicação, 9 de outubro. Conforme veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, como GZH e o Portal Assinck, um homem morreu no acidente envolvendo um carro e uma carreta no começo da manhã daqueledomingo. Segundo as publicações, o acidente aconteceu na BR-285, entre os municípios de Santa Bárbara do Sul e Panambi. A PRF informou ao GZH que o trânsito ficou totalmente bloqueado em parte da rodovia, na altura do km 403, durante a manhã.

Com base nas imagens do acidente divulgadas pela imprensa, o Comprova encontrou o local exato da ocorrência no Google Street View. É possível notar semelhanças como placas de ultrapassagem proibida, a placa que sinaliza os limites entre os municípios de Panambi e Santa Bárbara do Sul, além de uma torre na margem esquerda da rodovia.

| Imagem do acidente divulgada pelo Portal Assinck. É possível ver, além da placa de limite do município em primeiro plano, uma placa de ultrapassagem proibida ao fundo, na margem direita da rodovia, bem próxima à carreta tombada, e uma torre no lado esquerdo da rodovia.

| Print do Google Street View com os mesmos elementos da foto do acidente.

A partir da localização do acidente, o Comprova também identificou, por meio do Google Street View, o local exato da gravação, que foi feita a cerca de dois quilômetros de onde o caminhão e o carro colidiram. É possível identificar que as imagens do Google Street View são do mesmo local da filmagem do vídeo também por meio da comparação de elementos comuns às duas fontes, como a disposição de postes ao lado da pista e a presença de uma placa de ultrapassagem proibida, na margem direita da estrada.

| Print do vídeo (à esquerda) e captura do Google Street View do local da gravação do vídeo (à direita). Elementos em comum são a placa de ultrapassagem proibida, postes, além de uma cerca e a arborização da via.

No vídeo aqui analisado também é possível notar que há uma marcação em uma das margens do asfalto com a inscrição “+200”, que também é observada nas imagens do Google Street View encontradas pelo Comprova. Na margem oposta da inscrição “+200” também há uma palmeira que pode ser vista no vídeo do TikTok e na imagem do Google Street View.

| Print do vídeo (à esquerda) e captura do Google Street View à direita. Elementos em comum são pintura “+200” na margem da pista, desníveis e emendas do asfalto, palmeira no lado direito da pista, além da inclinação do terreno no lado direito das imagens.

Também é possível identificar uma mesma torre, ao lado de algumas árvores, tanto nas imagens do vídeo aqui analisado quanto nas fotos do Google Street View.

| Print do vídeo à esquerda e do Google Street View à direita. Na margem esquerda da rodovia, há uma torre que fica bem próxima ao topo de algumas árvores

MST e PRF negam ocorrência

Em contato com o Comprova, tanto o MST quanto a Polícia Rodoviária Federal negaram que tenha havido qualquer ocorrência como a mencionada no vídeo na rodovia BR-285 no Rio Grande do Sul no último domingo.

A assessoria de imprensa do MST do Rio Grande do Sul afirmou que o movimento “não fez nenhum tipo de mobilização nos últimos meses, em nenhum local do estado”. No contato com o Comprova, o MST ainda esclareceu que possui dois assentamentos próximos da região, mas cujas áreas não foram ocupadas recentemente: um localizado no município de Santa Bárbara do Sul e outro no município de Palmeira das Missões.

Já a PRF disse em nota ao Comprova que não recebeu qualquer informação a respeito de supostos problemas causados em rodovias devido a ações do MST no Rio Grande do Sul. Segundo a polícia, no último domingo, a única ocorrência que levou à paralisação de trechos da rodovia BR-285 na região foi o acidente envolvendo o carro e a carreta no trecho da BR-285 entre Panambi e Santa Bárbara do Sul.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado atribui enganosamente a paralisação de uma rodovia a um ato de um movimento social associado ao PT e ao seu candidato à Presidência da República, Lula. A desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O MST é alvo frequente de peças de desinformação por causa de sua associação ao PT e de seus posicionamentos e modos de operação na debate da reforma agrária, que é um tema controverso. Nesse contexto, o Comprova já provou que não há registro público de declaração de Lula nem do MST sobre eliminar o agronegócio da Terra e que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), nunca foi advogado do movimento. O Comprova também mostrou que um vídeo engana ao atribuir ao PT a proibição de plantio de soja no Mato Grosso.

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Investigado por: 2022-10-14

Sigla CPX em boné usado por Lula significa complexo e não tem relação com facção

  • Falso
Falso
É falso que a sigla em boné usado pelo ex-presidente e candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha relação com o crime organizado do Rio de Janeiro. No acessório está escrito “CPX”, que significa “complexo”, nome dado aos conjuntos de favelas agrupadas em um território. A abreviação não significa “cupincha”, como insinua post, e é comumente encontrada em músicas, além de aparecer em postagens oficiais do Estado. Lula recebeu o boné de presente de líderes comunitários locais durante um ato de campanha no feriado de 12 de outubro, no Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade.

Conteúdo investigado: Montagens de fotos associando o ex-presidente Lula ao crime organizado por estar usando um boné com as iniciais “CPX”.

Onde foi publicado: Twitter, Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso que boné usado por Lula com as letras “CPX”, durante visita ao Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, na última quarta-feira, dia 12 de outubro, faça alusão a facções criminosas. A sigla é popularmente usada no Rio de Janeiro e significa “complexo”, e não “cupinxa”, como disseminado em redes sociais bolsonaristas – a grafia correta da palavra é com “ch”: “cupincha”. A abreviação para se referir a “complexo” é usada, inclusive, por autoridades, como a Polícia Militar do RJ. Em 2017, a PMERJ usou “CPX” ao falar do Complexo da Penha – comunidade da Zona Norte do Rio, sem relação com os traficantes de drogas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos que obtiveram maior alcance nas redes sociais. No Twitter, o post alcançou 11,9 mil compartilhamentos, 45,7 mil curtidas e 1.598 mil comentários até o dia 14 de outubro. No Instagram, a publicação com o conteúdo falso tinha 26 mil interações até dia 13 de outubro, quando foi apagada. No Facebook, o post da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), com o mesmo teor, até dia 14 de outubro, tinha 28 mil curtidas, 3,9 mil comentários e 25 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova fez contato com André Porciúncula por meio de mensagem direta pelo Twitter, mas não obteve resposta. Já Carla Zambelli foi procurada pelo Comprova pelo e-mail disponibilizado no site da Câmara dos Deputados, mas também não houve resposta.

Como verificamos: O Comprova iniciou a verificação buscando no Google imagens do candidato Lula durante uma caminhada no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Foi checada a veracidade do uso do boné a partir da análise de dezenas de fotos e vídeos publicados tanto nas redes sociais oficiais de Lula, quanto de apoiadores e moradores da região. Data, hora e local também foram analisados pelas imagens que foram publicadas em agências de notícias e telejornais nacionais.

Na sequência, utilizando o buscador, chegamos a publicações que mostram o uso da sigla por autoridades em redes sociais e documentos oficiais, além do uso em músicas com ampla divulgação nacional. Também foi checado o uso da sigla por moradores cariocas na internet. O Comprova verificou ainda a etimologia da palavra cupincha, além da gramática, no dicionário Michaelis.

Sobre o uso de “CPX” em armas, buscamos entender a relação com o especialista em segurança pública, coronel da reserva, antropólogo e pesquisador do laboratório de análise da violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Robson Rodrigues, além da própria Polícia Militar do Rio de Janeiro. Pedimos também um posicionamento oficial de Lula e dos autores de publicações que alegam o envolvimento do ex-presidente com facções criminosas.

“CPX” não quer dizer ‘cupincha’ e já foi usada por autoridades

A sigla “CPX” é uma abreviação de complexo, palavra que se refere aos conjuntos de favelas agrupadas em um território. Usada muitas vezes como gíria, a sigla aparece desde publicações do Twitter oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro, como em letras de músicas que retratam o cotidiano nas comunidades cariocas.

Já a palavra cupincha, que se escreve com ‘ch’, de acordo com o dicionário Michaelis, é um “indivíduo com quem se mantém estreita relação de amizade; camarada”, podendo pejorativamente significar comparsa. O sentido de “CPX” não tem nenhuma relação com a palavra referida.

No Rio de Janeiro, não há somente o Complexo do Alemão, mas também os complexos da Penha, Maré, Chapadão e Salgueiro. A abreviatura também é utilizada para se referir a esses outros locais. A sigla aparece ainda no resumo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do governo estadual para 2023, em referência ao “programa de reforço escolar no CPX da Maré”.

A lógica de abreviação é a mesma adotada para CDD (Cidade de Deus), BXD (Baixada Fluminense) e PPG (Pavão-Pavãozinho Cantagalo), regiões ou localidades da cidade e do estado do Rio de Janeiro.

Nascido e criado no Complexo do Alemão, o fundador do jornal Voz das Comunidades, com sede no mesmo complexo, Rene Silva, publicou no Twitter a explicação que “desde sempre CPX é abreviação de Complexo. Assim como usam BXD para Baixada e RJ para Rio de Janeiro”.

Questionada por e-mail pelo Comprova, a Polícia Militar do Rio de Janeiro confirmou que fazia uso do termo. “A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar afirma que o termo ‘CPX’ era utilizado no Twitter da corporação como forma de abreviação da palavra ‘Complexo’ até o ano de 2017, quando só eram permitidas publicações com até 140 caracteres.”

Boné foi presente de ativista e não tem relação com o Comando Vermelho

O evento de que Lula participou no Complexo do Alemão, realizado no último dia 12 de outubro, foi organizado por líderes comunitários e instituições locais, contou com a participação de artistas e durou três horas. Antes da caminhada, o petista recebeu o Plano Popular do Complexo do Alemão, documento que aponta propostas de solução para os principais problemas da região e que foi redigido após diversos encontros com 18 líderes comunitários.

Segundo o Voz das Comunidades, o boné foi dado de presente a Lula na Casa Voz, sede do jornal. Lula recebeu o acessório de Camila Moradia, liderança do movimento Moradia do Complexo do Alemão, e do também ativista Hector Santos.

Antes da caminhada, de acordo com o portal G1, Lula só esteve na sede do Voz das Comunidades, que não tem relação com o Comando Vermelho – diferentemente do que as postagens com desinformação sugerem.

O fundador do Voz das Comunidades, Rene Silva, foi escolhido pela Revista Forbes Brasil como “exemplo de um time que está reinventando um país” e em 2018 ganhou o prêmio em Nova York da organização Mipad (Most Influential People Of African Descent ou Pessoas de Descendência Africana Mais Influentes).

O Complexo do Alemão, de fato, é considerado um conjunto de comunidades onde está um dos “QGs do Comando Vermelho”, mas não é o único. Em outras áreas do Rio, também há presença da facção. Não há qualquer registro de encontro de Lula com criminosos durante a visita ao Complexo do Alemão.

O modelo, jogador de futebol americano e ator Diego da Silva Santos, que utiliza o nome artístico de Diego Raymond, também não é um traficante, como insinua o post. Diego, de fato, já teve o apelido de “Mister M” foi acusado de tráfico de drogas em 2011, mas foi absolvido e, desde então, não tem condenações na Justiça.

“CPX” não é sigla de facção

Em entrevista ao Comprova, o coronel da reserva Robson Rodrigues esclareceu que facções não costumam utilizar siglas territoriais para identificação. O uso do termo “CPX” é frequentemente utilizado pelos moradores, inclusive para evidenciar ações positivas na comunidade.

“Criminosos podem usar, mas isso não é normal. A origem do termo, evidentemente, não é essa. Algum criminoso que passe, esteja lá ou porventura more no local pode utilizar, mas, em princípio, o termo é utilizado muito pela linguagem dos moradores do complexo, como forma reduzida de se referir ao território. Apesar de as facções estarem nos territórios, elas se definem muito mais pela sigla da facção, não pelo território, porque, às vezes, pode haver mudanças no território. Você tem mudanças, que eles definem como ‘golpe de estado’ dentro das facções, e aí não necessariamente o território é permanentemente ‘propriedade de uma facção’. Então, o criminoso se identifica pela facção que é muito mais ampla do que o território”, explica.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, conteúdos falsos que envolvem candidatos à Presidência da República, como as publicações aqui checadas, podem influenciar a decisão do eleitor, que deve se basear em informações verdadeiras e confiáveis para definir o seu voto.

Outras checagens sobre o tema: A agência Aos Fatos já comprovou que a sigla CPX no boné de Lula não tem relação com facções criminosas, assim como o Estadão Verifica e o site Lupa. Recentemente, o Comprova já demonstrou que era falsa a afirmação em vídeo de que Boletins de Urnas exibidos em local de votação em Minas Gerais revelavam alguma fraude. Também são falsas montagens com reproduções do G1 e do Twitter que atribuem a Lula falas sobre o desarmamento.

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Investigado por: 2022-10-14

Distribuição de material de campanha por Correios é regular, ao contrário do que diz homem em vídeo

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo em que carteiro é acusado de distribuir material de campanha de forma ilegal. Nas imagens, um funcionário dos Correios é abordado dentro de uma loja por um homem que pergunta se ele pode entregar panfletos do PT com uniforme da empresa, sugerindo que o ato é irregular. A prática, no entanto, é legal quando contratada dentro das regras eleitorais. O empregado da estatal tinha em mãos, entre outras correspondências, material de candidato a deputado estadual por Minas Gerais que contratou serviço dos Correios para distribuição de 40 mil panfletos na modalidade “mala direta não endereçada”.

Conteúdo investigado: Vídeo no Kwai mostra um carteiro sendo interpelado por um cidadão, que o acusa de cometer irregularidades ao distribuir material de campanha do PT. O servidor é chamado de “funcionário lixo” na publicação.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que sugere que, pela lei, o carteiro dos Correios não pode entregar material de campanha eleitoral. Um funcionário dos Correios foi filmado e constrangido por um homem enquanto entregava material encomendado pelo candidato a deputado estadual do PT Chico Simões em Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG). A publicação, que classifica o servidor como “funcionário lixo”, obteve 600 mil visualizações até esta sexta-feira (14).

Os Correios lamentaram, em nota, a abordagem feita ao funcionário e afirmaram que tomaram medidas contra a peça de desinformação compartilhada em redes sociais. De acordo com a estatal, o carteiro hostilizado na publicação fazia a entrega do objeto postal regular conhecido como mala direta. O serviço é disponibilizado a todos os clientes que sejam candidatos a cargos eletivos, bem como a partidos políticos, comitês eleitorais e agências de publicidade, para o envio de propaganda eleitoral e de material relacionado à campanha.

Simões confirmou ao Comprova ter contratado o serviço “mala direta” dos Correios, na modalidade “não endereçada”. Isso quer dizer que o panfleto de propaganda não é enviado a endereços pré-definidos, mas distribuído a residências localizadas em determinada área escolhida pelo contratante. No caso, toda a cidade de Coronel Fabriciano.

Os Correios deveriam entregar 40 mil panfletos contratados pelo candidato a deputado estadual durante o período de campanha. No dia 6 de setembro deste ano, Francisco de Assis Simões pagou a quantia de R$ 9.587,20 à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), agência de Coronel Fabriciano, conforme consta no comprovante de pagamento cuja cópia foi enviada ao Comprova pelo político. A prestação de contas também está disponível no site de divulgação de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para o Comprova, é enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de outubro de 2022, o vídeo acumulava 600 mil visualizações no Kwai, 13,6 mil curtidas, 4,2 mil comentários e 1,4 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O autor foi acionado pelas redes sociais, mas não retornou as mensagens até a publicação desta verificação.

Como verificamos: A checagem começou com uma análise dos elementos que aparecem na gravação. A partir das imagens, identificamos o candidato cujo panfleto era distribuído pelo carteiro. Fizemos uma busca no Google pelos termos “Chico Simões” e “13654”. A partir daí, descobrimos o estado e a cidade do político, onde possivelmente teria havido a distribuição do material de campanha.

Entramos em contato por telefone com o político, que confirmou ter contratado o serviço de mala direta dos Correios, na modalidade “não endereçada”, encaminhou cópia do comprovante de pagamento e informou o local da distribuição.

Contatamos, então, a assessoria de imprensa dos Correios e o TSE para apurar se o homem era mesmo funcionário da estatal e para tirar dúvidas sobre a legalidade da prática.

Verificamos ainda a prestação de contas do candidato Chico Simões no site Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do TSE. Também entrevistamos o advogado especialista em Direito Eleitoral e ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) Luciano Hanna.

Por fim, enviamos mensagens pelo Instagram e pelo Facebook ao responsável pela postagem do vídeo no Kwai.

Gravação foi feita em Coronel Fabriciano

A abordagem ao carteiro foi feita em uma loja de departamento em Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG). No vídeo, o homem questiona se o servidor pode entregar panfletos do PT com uniforme dos Correios. O funcionário responde que sim e que está cumprindo seu trabalho.

O homem rebate: “Pode não, pela lei você é funcionário público, você não pode, não”. No entanto, a atividade é regular e disponível aos candidatos e partidos.

Serviço foi contratado por candidato

O político Chico Simões (PT), da cidade de Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG), foi candidato a deputado estadual pela Federação Brasil da Esperança (PT/PC DO B/PV) no pleito de 2022. Simões não conseguiu se eleger, mas será suplente na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Ao Comprova, ele confirmou ter contratado o serviço “mala direta” dos Correios, na modalidade “não endereçada”. Isso quer dizer que o panfleto de propaganda não é enviado a endereços pré-definidos, mas distribuído a residências localizadas em determinada área escolhida pelo contratante. No caso, toda a cidade de Coronel Fabriciano.

Os Correios deveriam entregar 40 mil panfletos durante o período de campanha. No dia 6 de setembro deste ano, Simões pagou a quantia de R$ 9.587,20 à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), agência de Coronel Fabriciano, conforme consta no comprovante de pagamento cuja cópia foi enviada ao Comprova pelo político:

A informação é a mesma declarada no processo de prestação de contas, disponível no portal do TSE:

Correios afirmam que prática é comum e regular

De acordo com os Correios, o carteiro hostilizado na publicação realizava a entrega do objeto postal regular conhecido como mala direta. O serviço é disponibilizado a todos os clientes que sejam candidatos a cargos eletivos, bem como a partidos políticos, comitês eleitorais e agências de publicidade, para o envio de propaganda eleitoral e de material relacionado à campanha.

A agência esclarece que a modalidade de correspondência é bastante utilizada no envio de mensagem publicitária para a venda de produtos e serviços, na divulgação, promoção de eventos e lançamentos, prospecção e fidelização de clientes. “Trata-se de serviço previsto na Lei nº 6.538/78, acessível a pessoas físicas e jurídicas. A entrega do material – Mala Direta não Endereçada e devidamente chancelada – mostrada no vídeo ocorreu conforme contrato, em total respeito à legislação”, afirma em nota.

O candidato do PT confirma que seu material continha a chancela devida, mas as imagens do vídeo não permitem verificá-la.

Objetos de campanha são identificados na postagem

Os objetos referentes às campanhas eleitorais são obrigatoriamente identificados no ato da postagem nos Correios. Conforme regras estabelecidas pelo TSE, são aceitos os objetos com a respectiva forma de franqueamento (chancela, selo, estampa digital ou etiqueta de registro para carta registrada à vista) e identificadas obrigatoriamente pelo candidato com chancela específica, contendo o seu respectivo CNPJ, com a expressão “Eleições” e, no rodapé da chancela, a expressão “Distribuição Lei nº 6.538/78 Art. 40”.

Além de atender os públicos já listados, os Correios ressaltam que também estão à disposição dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para prestação dos serviços de transporte de urnas, mídias eletrônicas, material de apoio, convocação e pagamento de mesários.

A mala direta compõe o portfólio de produtos e serviços que são oferecidos aos agentes políticos que buscam facilitar a comunicação com o eleitorado de forma imparcial. Os preços de cada uma das opções estão disponíveis no site dos Correios.

Legislação

O advogado e ex-juiz do TRE-GO Luciano Hanna assistiu, a pedido do Comprova, ao vídeo aqui verificado e disse que as imagens não mostram qualquer irregularidade na atuação do carteiro. De acordo com o especialista, se o encarte da mala direta apresentar os dados obrigatórios e o político responsável declarar a despesa na prestação de contas, o uso deste serviço dos Correios é regular.

A norma está prevista no artigo 21 da Resolução nº 23.610 do TSE, que regulamenta a propaganda eleitoral. O dispositivo trata sobre a campanha por meio de material impresso. Segundo Hanna, a contratação dos Correios para entrega de mala direta é amplamente usada por políticos nas campanhas. “O carteiro não vai verificar qual carta vai entregar. Ele recebeu e é obrigado a entregar”, diz o advogado.

Dados divulgados pelo TSE no portal Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais mostram que a estatal foi a 65ª companhia entre os maiores fornecedores de candidatos na eleição de 2022, recebendo o valor de R$ 3,3 milhões. As informações foram extraídas pela reportagem no dia 14 de outubro. A prestação de contas ainda pode ser atualizada pelos candidatos, ou seja, o valor pode aumentar.

Autor da publicação é do Paraná

Em sua conta no Instagram, Eros Antonio Vargas afirma que é de Piraquara, Paraná. No perfil do Kwai, em que o vídeo foi postado, o autor da publicação se apresenta como porteiro. Tentamos contato com Eros pelas redes sociais, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta verificação. Não é possível confirmar se ele é a mesma pessoa que faz a filmagem.

Por meio de nota, os Correios lamentaram a abordagem feita ao funcionário e afirmam que tomaram medidas contra a peça de desinformação compartilhada em redes sociais. “Demostra total desrespeito com o profissional e o desconhecimento do trabalho realizado pela empresa, que vem sendo amplamente divulgado em seus canais oficiais de comunicação”, diz a agência.

A estatal informa que, assim que tomou conhecimento da exposição indevida da imagem da própria empresa e do carteiro, prestou suporte ao colaborador e tomou providências junto aos canais e perfis que repercutiram o vídeo sem a devida apuração dos fatos.

CUT alerta para ameaças a carteiros

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) publicou, em 28 de setembro deste ano, uma nota em seu site alertando para ameaças sofridas por funcionários dos Correios na entrega de materiais de campanhas políticas.

“É o caso de funcionários e funcionárias dos Correios que vêm sendo ameaçados ao desempenharem suas funções de carteiros ao entregar correspondências relacionadas a campanhas políticas”, diz o texto.

A instituição afirma que “cidadãos desavisados e desinformados vêm distorcendo o propósito do serviço e acusando os funcionários de fazerem propaganda política no exercício da profissão e até mesmo de estarem sendo pagos por fora”.

Na nota, a CUT comentou o caso verificado em Coronel Fabriciano. “O funcionário apenas cumpria com uma das suas atribuições profissionais”, criticou.

Tema já foi alvo de debate nas eleições de 2014

A entrega de material de campanha por carteiros não é uma prática nova e vem sendo alvo de debate ao menos desde 2014. Nas eleições daquele ano, um vídeo de um carteiro que distribuía ‘santinhos’ da campanha da ex-presidente Dilma Rousseff foi usado para atacar o PT e sugerir que a prática era ilegal. À época, os Correios confirmaram que o homem nas imagens era mesmo funcionário da estatal e informaram que o serviço de mala direta havia sido contratado e pago pelo partido, não havendo qualquer irregularidade.

Na ocasião, o Correio Braziliense teve acesso a uma cópia da nota fiscal, que indicava que o valor pago pelas postagens havia sido de R$ 726.151,50. Ao portal de notícias, os Correios informaram que haviam prestado o mesmo serviço para candidatos do PSDB, PMDB, PR, PROS, PTN, PP, PV, DEM, PT do B, PDT, PTN.

Apesar de legal, a panfletagem de material de campanha está condicionada a determinadas exigências, como a obrigatoriedade da estampa, medida que foi descumprida neste caso. No ano seguinte, um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) constatou que os Correios haviam cometido uma irregularidade ao distribuir os panfletos sem chancela ou comprovante de postagem. A estampa serve para atestar que a quantidade de material enviado corresponde ao que foi contratado e pago pelos partidos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. A publicação aqui verificada apresenta conteúdo enganoso envolvendo a campanha eleitoral. O Comprova busca colaborar para que o eleitor tenha acesso a informações confiáveis e que contribuam para um processo democrático de escolha de candidatos.

Outras checagens sobre o tema: Dentro do tema eleições presidenciais, o Comprova mostrou recentemente o caso de um vídeo que engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa e que outro vídeo foi editado para mostrar Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec sobre segundo turno. O projeto também mostrou que são montagens as reproduções do Twitter e do G1 que atribuem a Lula declarações sobre desarmamento.

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Investigado por: 2022-10-14

Vídeo de Boletins de Urnas que mostram Bolsonaro com mais votos do que Lula não prova fraude

  • Falso
Falso
É falso que o vídeo em que uma pessoa grava Boletins de Urna (BUs) aleatórios com mais votos registrados para Jair Bolsonaro (PL) do que para Lula (PT) seja indício de fraude na apuração do primeiro turno das eleições de 2022. Os BUs são verdadeiros e mostram que o atual presidente recebeu mais votos do que o petista, mas apenas nas urnas que imprimiram aqueles boletins. A gravação não demonstra que esse deveria ter sido o resultado geral da apuração em todo o Brasil. Além disso, ao contrário do que diz o vídeo, os BUs não são de seções eleitorais de Minas Gerais, e sim do Rio de Janeiro.

Conteúdo investigado: Em vídeo, uma pessoa mostra Boletins de Urnas pendurados na parede e sugere fraude porque os documentos mostrados nas imagens apresentam o presidente Jair Bolsonaro (PL) com mais votos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: Não há prova de fraude no primeiro turno das eleições de 2022 em um vídeo que circula no Kwai mostrando diversos Boletins de Urna (BUs) que apontam mais votos para o candidato à reeleição Jair Bolsonaro do que para Luiz Inácio Lula da Silva. No resultado final do primeiro turno, o candidato petista recebeu 48,43% dos votos válidos, ficando à frente de Bolsonaro, que registrou 43,2%.

Conforme relataram ao Comprova os Tribunais Regionais Eleitorais de Minas Gerais (TRE-MG) e do Rio de Janeiro (TRE-RJ), além de um especialista em direito eleitoral, apesar de os documentos mostrados nas imagens serem verdadeiros, o fato de Bolsonaro ter recebido mais votos do que Lula em determinada urna ou seção eleitoral não pode ser interpretado como indício de fraude nas eleições.

Não foi possível identificar qual o local exato da gravação. O vídeo circula com a indicação de que foi gravado em Minas Gerais, porém, em pelo menos dois dos Boletins de Urnas mostrados, além da votação dos candidatos à presidência, é possível ver os nomes dos candidatos a governador e senador do Rio de Janeiro. Logo no início do vídeo, o autor das imagens fala “olha, as fitas estão aqui ainda nos TREs”.

| Print do momento em que é possível ver os nomes dos candidatos a Governador do Rio de Janeiro no vídeo

Em contato com o Comprova, o TRE-MG afirmou que as imagens não foram feitas no estado. Já o TRE-RJ confirmou que os Boletins de Urna mostrados no vídeo são verdadeiros e correspondem aos BUs emitidos no estado, mas que não é possível identificar o local exato da gravação.

Tanto o TRE de Minas Gerais quanto o do Rio de Janeiro também explicaram que a legislação eleitoral prevê a disponibilização das cópias impressas dos BUs em locais visíveis nas seções eleitorais. Os Boletins de Urna não são utilizados para a contagem oficial do TSE — que acontece por meio de arquivos de mídia acoplados às urnas — mas são disponibilizados aos partidos e à população em geral que, a partir deles, podem conferir os resultados oficiais divulgados pelo Tribunal. Nessas eleições, os BUs foram impressos com um QR code, que poderia ser escaneado pelos eleitores por meio do aplicativo Boletim na Mão, do TSE.

Falso para o Comprova é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos sobre as eleições presidenciais com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de outubro a postagem no Kwai tinha 120 mil visualizações, 9.561 curtidas e 1.204 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil que postou o vídeo no Kwai, mas não houve resposta até a publicação desta checagem. A equipe também procurou por perfis da mesma pessoa em outras redes sociais, mas não encontrou resultados.

Como verificamos: Pesquisamos no Google reportagens sobre algum caso de fraude eleitoral em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Também verificamos nos sites da Justiça Eleitoral e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se havia publicações sobre desinformação referente ao conteúdo em análise.

Em seguida, o Comprova analisou todos os boletins que foram gravados no vídeo e procurou as assessorias de imprensa dos TREs de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. O especialista em direito eleitoral Luciano Hanna também foi procurado pela equipe.

Por fim, o Comprova tentou contato com o perfil do Kwai que publicou o vídeo e procurou perfis da mesma pessoa em outras redes sociais, sem retorno.

O que mostram os Boletins de Urna do vídeo

O vídeo analisado mostra uma pessoa circulando por um corredor, onde estão afixados nas paredes diversas cópias de Boletins de Urna (BUs) com resultados apurados no primeiro turno das eleições de 2022 no estado do Rio de Janeiro. Ao caminhar pelo corredor, o autor do vídeo diz que vai “sortear” os Boletins de Urna para mostrar na gravação. Ele registra seis BUs em que é possível ver a votação recebida por cada candidato à presidência. Em todos eles, Bolsonaro recebeu mais votos do que Lula.

O primeiro BU aparece aos 46 segundos do vídeo. Nele, é possível ver que Ciro Gomes (PDT) teve sete votos; Lula, 80 votos; Padre Kelmon (PTB), um voto; Simone Tebet (MDB), 13 votos; Vera Lucia (PSTU), um voto; Jair Bolsonaro, 158 votos; Felipe D’Ávila (Novo), um voto; e Soraya Thronicke (União Brasil), dois votos. Conforme o TSE, candidatos que não receberam votos na urna não aparecem nos Boletins.

No segundo boletim, com 1 minuto e 5 segundos de vídeo, a votação foi: Ciro Gomes, cinco votos; Lula, 73 votos; Padre Kelmon, um voto; Simone Tebet, 11 votos; Sofia Manzano (PCB), um voto; Jair Bolsonaro, 139 votos; Felipe D’Ávila, dois votos; Soraya Thronicke, um voto; e Léo Péricles (UP), um voto.

No terceiro boletim que aparece no vídeo, o autor primeiro enquadra o trecho do documento que mostra a contabilização de votos para governador do Rio de Janeiro. Em seguida, grava a totalização de votos para senador e só depois, a partir de 1 minuto e 27 segundos, é que a contabilização de votos para presidente é mostrada: Ciro Gomes aparece com seis votos; Lula, 74 votos; Simone Tebet, 12 votos; Jair Bolsonaro, 179 votos; e Soraya Thronicke, um voto.

No quarto boletim gravado no vídeo (0:01:40), os resultados foram: Ciro Gomes, dez votos; Lula, 88 votos; Simone Tebet, 14 votos; Jair Bolsonaro, 134 votos e Felipe D’Ávila, um voto. No quinto BU (0:01:57), o registro foi de nove votos para Ciro Gomes; 97 votos para Lula; dois votos para Padre Kelmon; seis votos para Simone Tebet; e 184 votos para Jair Bolsonaro. Por fim, o sexto boletim gravado no vídeo analisado (0:02:14) mostra: Ciro Gomes, com sete votos; Lula, 86 votos; Simone Tebet, 11 votos; Jair Bolsonaro, 189 votos; Soraya Thronicke, quatro votos e Léo Péricles, um voto.

O TRE de Minas Gerais, contatado inicialmente pelo Comprova, informou que o fato de haver divergência entre o resultado de alguns boletins e a totalização não é indício de fraude. “O resultado geral da eleição é definido a partir da totalização de todos os votos registrados em todas as seções eleitorais do país e de zonas eleitorais estabelecidas no exterior”, afirmou o Tribunal em nota ao Comprova.

Em contato com o Comprova, o advogado e especialista em direito eleitoral Luciano Hanna, que já foi juiz membro do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), reforça que o sistema de QR Code dos Boletins de Urna serve para comprovar a procedência do documento.

No vídeo, no entanto, não é possível escanear o QR Code dos boletins mostrados, devido ao enquadramento e à baixa qualidade das imagens. O especialista afirma que, de qualquer forma, mostrar boletins em um local de votação com um resultado que diverge da totalização dos votos em todo o país não prova irregularidade. “As criptografias e o sistema de segurança não permitem, em nenhum momento, fraude”, diz Hanna.

O que são os Boletins de Urna

Após o encerramento da votação, as urnas eletrônicas imprimem até cinco cópias de Boletins de Urna, onde estão indicados todos os votos registrados naquele equipamento no dia da eleição. Conforme o TSE, todos os Boletins de Urna devem mostrar a data da eleição, identificar o município, a zona e a seção eleitoral em que foram emitidos e mostrar a data e o horário do encerramento da votação, o código de identificação da urna eletrônica que o imprimiu, a quantidade de eleitoras e eleitores aptos, a quantidade de eleitoras e eleitores que compareceram para votar e quantos não puderam ser identificados pela biometria.

Todas as cópias dos BUs impressos possuem um QR Code, que pode ser escaneado com a câmera do celular por qualquer eleitor por meio do aplicativo oficial do TSE Boletim na Mão. Ao ler esse código, é possível confirmar a autenticidade do boletim.

A contagem oficial de votos do TSE, contudo, não se dá a partir dos Boletins de Urna, e sim por meio da leitura dos arquivos de mídia que contabilizam os resultados diretamente das urnas eletrônicas. A mídia de resultado é uma espécie de pen-drive acoplado a toda urna e que possui uma série de travas eletrônicas de segurança para garantir que apenas os programas desenvolvidos pela própria Justiça Eleitoral possam identificar e ler os arquivos com os resultados da votação. Assim, os Boletins de Urna funcionam como uma forma de conferir e comparar os resultados que são fornecidos ao TSE por meio dos arquivos de mídia das urnas.

Em checagem recente sobre o tema, o Comprova demonstrou que, das cinco cópias dos BUs que são impressas, duas são enviadas ao Cartório Eleitoral responsável pela seção, uma cópia é afixada na sala da seção onde ocorreu a votação e as outras duas cópias podem ser entregues aos fiscais dos partidos que acompanham a apuração, à imprensa ou ao Ministério Público. Os mais de 472 mil Boletins de Urna impressos após o primeiro turno das eleições deste ano podem ser consultados no site do TSE ou pelo aplicativo oficial dos resultados eleitorais do Tribunal.

Conforme informaram ao Comprova os TREs de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a disposição dos BUs impressos na seção eleitoral está de acordo com a legislação eleitoral, conforme prevê o Artigo 107 da Resolução 23.669 do TSE. O texto diz que “ao final dos trabalhos, o(a) presidente da mesa receptora de votos e da mesa receptora de justificativas irá afixar uma cópia do Boletim de Urna (BU) em local visível da seção”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Logo após o primeiro turno das últimas eleições presidenciais, diversas postagens têm feito insinuações falsas sobre fraudes nas apurações dos votos, posicionamento que também já foi propagado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em outras oportunidades. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre a contagem de votos podem criar suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral, prejudicando as eleições, as instituições e a democracia brasileira.

Outras checagens sobre o tema: A agência de checagem Aos Fatos também investigou Boletins de Urna mostrados em vídeo não são de MG e nem comprovam fraude. Recentemente, o Comprova demonstrou que era falso o vídeo que afirmava que um Boletim de Urna de uma seção eleitoral de Curitiba não teria sido contabilizado na apuração do TSE e que a totalização de votos a cada 12% das urnas apuradas no primeiro turno também não é um indício de fraude.

Eleições

Investigado por: 2022-10-13

Vídeo engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) tenha colocado fim à multa de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que é paga por empresas a trabalhadores demitidos sem justa causa. O tema chegou a ser debatido pela atual gestão, mas esta mudança na legislação trabalhista nunca foi sancionada. A regra que determina o pagamento do direito continua vigente, como redigida em 1997.

Conteúdo investigado: Homem afirma, em vídeo postado no dia 8 de outubro de 2022, que o presidente Jair Bolsonaro colocou fim ao pagamento de multa para trabalhadores demitidos sem justa causa. Aos risos e em tom sarcástico, o autor questiona se ainda vale a pena ter a carteira de trabalho assinada e insinua que o voto em Bolsonaro pode contribuir para que o Brasil volte ao tempo da ditadura e da escravidão.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: Ao contrário do que afirma publicação no Kwai, a regra que determina que empregadores paguem multa de 40% do FGTS para trabalhadores demitidos sem justa causa continua vigente, como redigida em 1997. Um vídeo divulgado na rede social engana ao afirmar que Jair Bolsonaro colocou fim ao direito no dia em que a publicação foi feita, 8 de outubro de 2022.

A possibilidade de extinguir o pagamento do recurso e de diminuir o percentual já chegou a ser estudada pelo governo federal em maio e no final de 2021, como mostram reportagens da Folha e do UOL, respectivamente. No entanto, a gestão Bolsonaro não chegou a dar andamento a nenhuma proposta.

O dever do empregador em pagar multa de 40% do FGTS, em caso de demissão sem justa causa, está prevista no artigo 18 da Lei Federal Nº 8.036, que trata sobre o fundo.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 13 de outubro de 2022, o vídeo registrava mais de 223 mil visualizações, com 11,6 mil curtidas e outros 12,7 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação por meio do recurso de troca de mensagens no Kwai. O perfil, identificado como “Noronha Jornalista Sem Faculdade”, não respondeu até a publicação desta checagem.

Como verificamos: A checagem do conteúdo começou com uma busca no Google com o uso de palavras-chave como “Bolsonaro”, “multa”, “demissão”, “justa causa” e “reforma trabalhista”, que retornou com conteúdos relacionados a debates que já ocorreram em âmbito federal sobre a multa e críticas que Bolsonaro já fez ao benefício. Entre os veículos que já abordaram o tema estão UOL, Agência Brasil, G1 e TV Record.

Para saber o posicionamento do governo federal sobre o assunto, o Comprova entrou em contato com os ministérios da Economia e do Trabalho e Previdência. O primeiro não respondeu. A reportagem ainda consultou a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) sobre eventual suspensão do benefício.

Por fim, também analisamos o plano de governo de Bolsonaro para eventual segundo mandato, como apresentado à Justiça Eleitoral para a formalização de sua candidatura nas eleições deste ano.

Estudo para o fim da multa

Em dezembro de 2021, um estudo encomendado pelo governo Bolsonaro foi apresentado para o Ministério do Trabalho e Previdência e, entre as propostas, estava o fim do pagamento da multa de 40% do FGTS para os trabalhadores demitidos sem justa causa e a criação de um fundo unificado composto por recursos de seguro-desemprego e FGTS. O documento completo tem 262 páginas e está disponível no site do ministério. A proposta relacionada ao fim da multa de FGTS para trabalhadores consta na página 31.

Essa e outras mudanças foram sugeridas pelo Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet), formado por economistas, juristas e acadêmicos em 2019. A iniciativa para que o grupo fosse criado foi do ministro da Economia, Paulo Guedes. A equipe discutia propostas para embasar novas alterações na legislação trabalhista.

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) criticou a proposta, em nota técnica publicada em 10 de janeiro de 2022. O Dieese apontou, entre outros problemas, o fato de não ter havido debate sobre o assunto para que o documento refletisse a visão dos trabalhadores.

O plano não chegou a ser implantado e o pagamento da multa continua em vigor. Em nota ao Comprova, o Ministério do Trabalho e Previdência informou que o relatório do Gaet diz que “os documentos não contam, necessariamente, com a concordância, integral ou parcial, deste Ministério do Trabalho e Previdência ou mesmo do governo federal. Ou seja, os relatórios dos Grupos de Estudos Temáticos são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores.”

A pasta também ressaltou que, segundo o documento, “a atuação do governo federal será calçada e construída por meio de diálogo com a sociedade, sua representação no parlamento e nas necessidades econômicas e sociais do país.”

Em maio deste ano, a Folha de S.Paulo mostrou que a gestão de Bolsonaro estudava flexibilizar as regras do FGTS com a justificativa de diminuir o custo dos empresários na contratação de novos funcionários. De acordo com o jornal, o Ministério da Economia preparou minutas de medidas provisórias que, entre outras mudanças, tinham a sugestão de reduzir a multa paga em caso de demissão sem justa causa de 40% para 20%.

Na época, a pasta disse à Folha que a proposta sobre alteração no FGTS tinha sido debatida havia mais de um ano e não recebeu aval para prosseguimento. O Comprova entrou em contato com o Ministério da Economia, mas não houve retorno.

Câmara tem projeto para redução da multa

Além dos estudos apresentados pela equipe do governo, há outras discussões relacionadas ao pagamento do benefício. Na Câmara dos Deputados tramita, desde 30 de junho de 2021, o projeto de lei 2383/21, de autoria do deputado Nereu Crispim (PSD-RS), que visa à redução da multa a ser depositada pelo empregador na conta vinculada do empregado no FGTS em caso de demissão sem justa causa e por culpa recíproca ou força maior.

O texto traz uma alteração na Lei do FGTS para baixar a multa da rescisão contratual de 40% para 25%. E, em caso de culpa recíproca (quando ambas as partes, empregado e empregador, dão causa à demissão) ou força maior (acontecimento inevitável à vontade do empregador), reduz dos atuais 20% para 10%. Atualmente, o projeto está na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados. Após cinco sessões para apresentação de emendas ao projeto, entre 16 de dezembro a 12 de maio de 2022, não foram apresentadas emendas.

O texto aguarda parecer do relator, deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), para prosseguir nas demais comissões parlamentares. Somente depois disso, se passar pela avaliação das comissões pertinentes, o projeto poderá ser avaliado pelo plenário da Câmara e, mesmo se aprovado, precisará passar pelo Senado para ir à sanção do presidente da República.

Plano de governo de Bolsonaro não trata do tema

O plano de governo de Jair Bolsonaro não lista mudanças específicas nas regras de pagamento de multas rescisórias. O documento, também, não traz alterações nos artigos da atual legislação trabalhista.

“A nova legislação trabalhista aprovada [ainda no governo do então presidente Michel Temer (MDB), em 2017] será mantida com segurança jurídica, ajudando a combater abusos empresariais e de sindicatos que também não podem ter a capacidade de agir como monopólios”, aponta o documento. Além disso, o plano indica que, numa eventual reeleição, o governo federal continuará “defendendo que os trabalhadores devem ser livres para realizar trocas entre si, livres de coerção”.

A proposta do governo Bolsonaro é que o mercado de trabalho seja livre, seguro e flexível, “para que o emprego no país alcance níveis internacionalmente competitivos, gerando renda e prosperidade aos brasileiros”.

Pagamento é devido para demissão sem justa causa

Questionada sobre eventual suspensão da multa, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho reforçou que o benefício está vigente e explicou que o pagamento é devido ao empregado quando ele é dispensado pelo empregador sem justa causa — categoria de desligamento em que o trabalhador é demitido sem motivo legal e, por essa razão, a empresa deve recompensá-lo com os benefícios previstos em lei.

Nessas condições, acrescentou a entidade em nota, o trabalhador tem direito a receber uma indenização no percentual de 40% sobre o valor de seus depósitos do FGTS, também chamada de multa de 40% do FGTS, conforme previsto no artigo 10, inciso I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A publicação aqui verificada traz conteúdo enganoso sobre o governo de Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição. É fundamental para a democracia que o eleitor tome a decisão sobre o voto com base em informações verdadeiras sobre os candidatos.

Outras checagens sobre o tema: O tema eleições é predominante nos conteúdos de desinformação. Nesta semana, o Comprova já demonstrou que são montagens as reproduções de páginas do Twitter e do G1 atribuindo a Lula declarações sobre desarmamento e que também é montagem o post que afirma que Bolsonaro vai acabar com o feriado de 12 de outubro.

Neste período também têm sido recorrentes as postagens que tentam tirar a credibilidade do processo eleitoral. Somente no segundo turno, o Comprova mostrou que é falso que totalização de votos a cada 12% indique fraude no 1º turno, que post inventou dados sobre cidades para insinuar fraude a favor de Lula e que é enganoso o vídeo que insinua fraude em votação em Maceió ao reproduzir um infográfico com erro.

Sobre benefícios como o pagamento de multa, o Comprova mostrou ser enganoso que valores do PIS/Pasep vão custear benefícios a caminhoneiros e motoristas.

Eleições

Investigado por: 2022-10-13

Vídeo foi editado para mostrar Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec sobre segundo turno

  • Falso
Falso
É falso que o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), apareça à frente, com 51% das intenções de voto, na pesquisa eleitoral realizada pelo Instituto em Pesquisa e Consultoria (Ipec) e divulgada no Jornal Nacional em 5 de outubro. O vídeo que circula no Kwai foi editado e inverteu os resultados do levantamento. Na realidade, Bolsonaro teve 43% da intenção de voto dos eleitores, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 51%.

Conteúdo investigado: Vídeo divulgado no Kwai com imagens do Jornal Nacional, da TV Globo, mostra os apresentadores Renata Vasconcellos e William Bonner narrando o resultado da primeira pesquisa eleitoral divulgada pelo Ipec, no dia 5 de outubro, após o primeiro turno das eleições. No vídeo veiculado, o candidato à presidência Jair Bolsonaro aparece na liderança com 51% das intenções de voto, enquanto Lula tem 43%.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso o vídeo que mostra Bolsonaro à frente das intenções de votos para o 2º turno das Eleições 2022. O conteúdo é uma montagem feita a partir da informação veiculada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 5 de outubro. A peça de desinformação faz referência à pesquisa eleitoral realizada pelo Ipec entre os dias 3 e 5 de outubro. O vídeo foi editado e inverteu os resultados do levantamento. Na realidade, Bolsonaro tem 43% da intenção de voto dos eleitores, enquanto o ex-presidente Lula tem 51%.

O material manipula o áudio e o vídeo no momento em que é divulgado o resultado da pesquisa. Na montagem, é atribuído a Bolsonaro o percentual de 51% e para Lula, 43%, o que não é verdade. A imagem que retrata os gráficos é semelhante à que foi apresentada no jornal, mas também foi editada para colocar Bolsonaro à frente de Lula.

É possível perceber o momento em que a voz de Renata é alterada. O mesmo ocorre com a fala de William Bonner, ao informar os dados da pesquisa considerando apenas os votos válidos. No original, o apresentador informa que Bolsonaro tem 45% das intenções de voto, com margem de 43% a 47%. No conteúdo falso, esses números são atribuídos a Lula. Os dados reais mostram o petista com 55% dos votos válidos, com margem de 53% a 57%.

Em nota, a Rede Globo confirmou que a mídia é falsa e que foi manipulada: “Sim, o vídeo é falso e tem manipulação de dados, de imagens e de áudio dos apresentadores”.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de outubro, a publicação no Kwai tinha 75,4 mil visualizações, 3,4 mil curtidas, 875 comentários e 4,5 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do post por meio de mensagens no Kwai e no Instagram. Não houve retorno até a publicação desta verificação.

Como verificamos: Uma busca no Google pelas palavras-chave “pesquisa Ipec Jornal Nacional” direcionou para a versão original do Jornal Nacional, disponível no Globoplay, do dia 5 de outubro de 2022. Nossa equipe recorreu também ao site do instituto de pesquisa e ao site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para checar os resultados do levantamento.

O Comprova encontrou também verificações do Estadão Verifica, do Yahoo, do Fato ou Fake, da Reuters e da Agência Lupa que desmentem os números do conteúdo checado.

Procurada, a Rede Globo confirmou que o vídeo é falso e tem manipulação de dados, de imagens e de áudio dos apresentadores.

Pesquisa mostra Lula com 51% dos votos

Ao contrário do que alega o vídeo verificado, a pesquisa Ipec (íntegra) sobre o segundo turno da eleição presidencial mostra Lula à frente com 51% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 43% das menções.

Os eleitores que pretendem votar em branco ou anular seu voto totalizam 4% e os indecisos somam 2%.

O levantamento foi realizado presencialmente entre os dias 3 e 5 de outubro. Foram entrevistados 2 mil eleitores em 129 municípios do Brasil. A margem de erro estimada da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pela Globo Comunicação e Participações S/A. e está registrada no TSE sob o número BR-02736/2022.

| Registro da pesquisa Ipec de 5 de outubro no site do TSE.

Além da pergunta “Se o segundo turno da eleição para presidente da República fosse hoje e os candidatos fossem estes [Bolsonaro e Lula], em quem o(a) sr(a) votaria?”, o levantamento também abordou a intenção de voto espontânea (sem a apresentação dos nomes dos candidatos), expectativa de vitória (independentemente da intenção de voto), potencial de voto e rejeição para presidente e avaliação da administração atual.

Jornal Nacional mostrou dados corretos da pesquisa

O trecho do vídeo investigado foi retirado da edição do dia 5 de outubro do Jornal Nacional, que está disponível no Globoplay (entre 00:00 e 01:13).

O conteúdo investigado, além de inverter os dados das intenções de voto, omite um trecho da fala da apresentadora Renata Vasconcellos, que diz: “Lula lidera por uma vantagem inicial de 8 pontos percentuais considerando os votos totais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.”

| Captura de tela da intenção de voto para segundo turno da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

| Captura de tela da intenção de voto considerando os votos válidos para segundo turno da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

| Captura de tela da avaliação da gestão Bolsonaro da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

| Captura de tela da aprovação da administração Bolsonaro da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Durante a campanha para o segundo turno das eleições, são frequentes os conteúdos de desinformação a respeito das pesquisas eleitorais. Publicações como esta verificada pelo Comprova, que induzem a uma conclusão falsa a partir da manipulação dos números apontados em uma pesquisa de intenção de voto, podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Fato ou Fake, do G1, publicou uma verificação apontando o conteúdo como falso. O material divulgado já foi desmentido também pelo Estadão Verifica, pela Reuters e pela Agência Lupa.

O Comprova também verificou outros conteúdos falsos que mostravam Bolsonaro à frente em pesquisas Ipec dos dias 12 de setembro e 15 de agosto deste ano.

Eleições

Investigado por: 2022-10-11

São montagens as reproduções do Twitter e do G1 que atribuem a Lula declarações sobre desarmamento

  • Falso
Falso
São montagens as supostas capturas de tela atribuindo ao ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarações sobre desarmamento. Elas são falsas e reproduzem a aparência da conta oficial de Lula no Twitter e do portal de notícias G1. As publicações nunca foram feitas, como afirmam as equipes do petista e do site vinculado à Globo e como se pode constatar em consultas sobre o teor das falsas declarações na internet.

Conteúdo investigado: Imagens de supostos tuítes e reportagem do G1 com declarações atribuídas a Lula sobre desarmamento no país. As montagens, com a mesma aparência da conta de Lula no Twitter, destacam as seguintes frases: “o povo entregará suas armas voluntariamente” e “a polícia não precisará de fuzil de assalto ou de arma curta fora de serviço”. Já a suposta matéria do G1 apresenta o título “Daremos um prazo razoável para que todos possam entregar suas armas de forma espontânea sem punição” e o subtítulo “Depois desse período vamos buscar via mandado de busca e apreensão estabelecidos pelo decreto lei em vigor”.

Onde foi publicado: Facebook, Instagram e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: São falsas as imagens de tela com supostas declarações de Lula relacionadas a armamento. Os conteúdos imitam a aparência da conta oficial de Lula no Twitter e da página do site G1. A manipulação do material foi confirmada pela equipe de Lula e do G1.

Buscas pelas frases repercutidas nos falsos prints não retornam nenhum resultado que ateste a veracidade do conteúdo. Mas sim verificações de agências de checagem que o desmentem, como UOL Confere e Boatos.org, além do texto publicado no site de Lula, já mencionado.

O plano de governo da chapa de Lula e de seu candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), está disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não inclui nenhuma das propostas que aparecem nas mensagens falsas. Também não foram encontrados na conta oficial de Lula no Twitter os posts reproduzidos nas peças de desinformação.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Instagram, a publicação com o conteúdo falso tinha 2.046 curtidas e 223 comentários até o dia 11 de outubro de 2022. Ela foi marcada como informação falsa pela plataforma. No Facebook, outra postagem, com o mesmo teor, tinha 198 curtidas, 13 comentários e 65 compartilhamentos no mesmo período. Já no aplicativo de mensagens WhatsApp, aparece a mensagem: “Encaminhada com frequência”.

O que diz o autor da publicação: O autor da publicação com a matéria falsa do G1 foi procurado através de mensagens no Instagram. O responsável pelo perfil afirmou que o objetivo foi “alertar os mais desinformados quanto às reais intenções” de Lula. Ele cita que existem vídeos em que o político diz que irá desarmar a população. Quando questionado sobre as supostas gravações, o usuário não respondeu.

Posteriormente, a conta fez uma nova publicação na qual reconheceu que a matéria do G1 era falsa, mas expressou que as “intenções [de Lula] são reais”.

Um dos perfis no Instagram que compartilhou os tuítes falsos de Lula utiliza a categoria “organização governamental” e se associa à Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). A conta é citada no esclarecimento feito pela assessoria de imprensa do ex-presidente. Ao Comprova, a PMESP explicou que o perfil analisado não é uma página oficial da corporação e, portanto, não expressa as opiniões institucionais.

“Vale dizer que a referida conta foi denunciada ao Instagram por violar os termos de utilização, em especial por denominar-se ‘organização governamental’, estando em análise a denúncia”, informou a Polícia Militar. A reportagem tentou entrar em contato com o perfil, mas não recebeu retorno.

Também entramos em contato com outro usuário que postou o conteúdo falso em suas redes sociais. O homem foi candidato a deputado estadual em São Paulo nas eleições deste ano pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), mas não foi eleito. Ele respondeu que também foi enganado e fez um novo post reconhecendo que o conteúdo é falso.

Como verificamos: O Comprova consultou a conta oficial de Lula no Twitter e fez buscas na internet pelas frases atribuídas ao ex-presidente e atual candidato à Presidência da República. Também fez contato com a assessoria de imprensa do PT e do portal G1, e consultou a proposta de governo da candidatura no site do TSE.

Prints são falsos; tuítes não foram postados por Lula

As imagens falsas trazem data e horário dos supostos tuítes: às 8h4 e às 8h7 do dia 10 de outubro de 2022. Eles não constam na página oficial de Lula no Twitter. Já nos horários específicos que aparecem nos prints falsos, as mensagens publicadas pelo ex-presidente são outras: 8h4 (1, 2) e 8h7 (1).

No início da noite desta segunda-feira, 10, o site oficial de Lula publicou texto afirmando que o ex-presidente jamais disse ou escreveu as afirmações falsamente atribuídas a ele.

O Comprova ainda realizou buscas no Google com o teor dessas afirmações e não encontrou qualquer resultado; confira: “o povo entregará suas armas voluntariamente” e “vamos reduzir o armamento das polícias e dos militares e substituir por inteligência”. As páginas foram gravadas com auxílio do site Web Archive, para preservar os resultados que apareceram no momento em que a consulta foi feita, no dia 10.

O plano de governo da candidatura Lula/Alckmin 2023-2026 não contém nenhuma menção ao alegado nas postagens verificadas. As diretrizes podem ser acessadas na página da candidatura no site do TSE.

G1 informa que nunca publicou o conteúdo

Por meio da busca pelo título da suposta reportagem no Google, não foi encontrado nenhum resultado correspondente. Na página do G1, também não consta tal publicação nem nada similar. A partir da constatação, o Comprova entrou em contato com a assessoria do portal, via e-mail, questionando-a sobre a existência do conteúdo e se o portal pretendia tomar alguma medida diante da escalada de casos em que a imagem do veículo vem sendo utilizada em peças de desinformação.

Em resposta, o portal informou que “esse conteúdo nunca foi publicado pelo G1” e reforçou que não há “nenhum Paulo Canuto na equipe do portal”, em referência à assinatura de um suposto repórter que aparece no print alvo desta checagem.

Vale ressaltar ainda que o G1 disponibiliza uma relação com os nomes dos profissionais que fazem parte da equipe em todo o Brasil. O veículo não respondeu se pretende tomar medidas legais para identificar os responsáveis pela falsificação.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A poucas semanas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, conteúdos falsos que envolvem candidatos à Presidência da República, como a postagem checada, podem influenciar a decisão do eleitor, que deve se basear em informações verdadeiras e confiáveis para definir o seu voto.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos que simulavam páginas de veículos jornalísticos. No início deste mês, o Comprova mostrou que o G1 não publicou matéria na qual Lula afirma que “nem Deus tira essa eleição da gente”. O Comprova também mostrou que era falsa uma suposta postagem do portal GE (Globo Esporte), que afirmava que a marca Puma teria aumentado o patrocínio do jogador Neymar Jr após ele declarar apoio a Bolsonaro. Em setembro, mostramos ser falsa uma montagem de suposta publicação do G1 na qual Lula teria dito que a Venezuela “não precisa de críticas”, mas de “financiamento e empréstimos”.

Eleições

Investigado por: 2022-10-11

É montagem post dizendo que Bolsonaro acabará com feriado de 12 de outubro

  • Falso
Falso
É falso que o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), tenha feito uma publicação no Facebook com a proposta de acabar com o feriado de 12 de outubro, em que é celebrado o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Nas redes do presidente, não há qualquer menção ao assunto.

Conteúdo investigado: Tuíte exibe captura de tela do que seria uma postagem feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no Facebook. Nela, o presidente diz reconhecer e respeitar a fé católica, mas pondera que o Brasil tem se tornado um país cada vez mais evangélico e cita um suposto clamor desses fiéis para retirar a alcunha de “Nossa Senhora Aparecida Rainha do Brasil”, passando a denominá-la “Santa Aparecida, Rainha dos Católicos”. A publicação assinala em vermelho um trecho em que Bolsonaro teria apontado a formação de um grupo de trabalho para elaboração de um projeto de lei acabando com o feriado de 12 de outubro, a partir de 2023.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que Jair Bolsonaro tenha feito um post no Facebook dizendo que vai acabar com o feriado de 12 de outubro, em que é celebrado o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Não há qualquer publicação a respeito do assunto nas redes sociais oficiais de Bolsonaro, assim como não há indícios de que a postagem tenha sido feita em algum momento e apagada posteriormente. Também não há registros na imprensa de que o presidente, que afirma ser católico, tenha mencionado a possibilidade de vetar a celebração à Nossa Senhora Aparecida ou que ele tiraria o título de “padroeira do Brasil” da santa.

A última publicação no Facebook do presidente com menção à data ocorreu em 12 de outubro do ano passado, justamente para celebrar o dia.

No Twitter, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, classificou o conteúdo como desinformação.

Também não existe um projeto de lei relacionado à data cuja finalidade seja extinguir o feriado religioso. Nas buscas, foi constatado uma proposta arquivada em agosto de 2008, que tiraria de Nossa Senhora o título de padroeira do Brasil, entretanto, caso o Projeto de Lei 2623/07 fosse aprovado, o feriado seria mantido.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 11 de outubro, a publicação aqui analisada passava de 16,9 mil curtidas e já havia sido repostada mais de 4,2 mil vezes.

O que diz o autor da publicação: A conta responsável pela publicação no Twitter não permite envio de mensagem direta. O Comprova buscou perfil semelhante em outras redes e localizou uma conta no Instagram. Foi encaminhado questionamento por mensagem, mas não houve resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Iniciamos as buscas no Google com as palavras “Bolsonaro” e “feriado 12 de outubro”, que retornou a checagens já realizadas por Boatos.org e pelo portal UOL. Foi possível localizar, ainda, uma matéria do Estadão que trata de conteúdos de desinformação relacionados aos dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição presidencial.

A própria checagem do UOL Confere traz a informação de que, a partir de uma busca avançada na plataforma CrowdTangle, é possível verificar que as menções mais recentes a “Aparecida” no Twitter e no Facebook de Bolsonaro foram em outubro de 2021, quando ele celebrou o feriado.

O Comprova também fez buscas nas redes sociais de filhos do presidente e localizou um tuíte de Flávio Bolsonaro apontando que a postagem alvo desta checagem é falsa.

O Comprova também pesquisou por projetos de lei relacionados ao dia 12 de outubro e foi encontrado apenas um projeto, já arquivado, que tentava retirar de Nossa Senhora o título de padroeira do Brasil, tornando-a padroeira apenas dos católicos.

Também buscamos o autor da publicação, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Bolsonaro não fez post propondo fim do feriado

Ao contrário do que aponta a publicação, não há nas redes sociais oficiais do presidente qualquer publicação sobre alterar a alcunha de Nossa Senhora Aparecida e acabar com o feriado dedicado à santa. No Twitter, a menção mais recente com a palavra “Aparecida” foi feita em outubro do ano passado, quando o presidente celebrou o feriado. Na ocasião, ele inclusive participou das festividades da padroeira do Brasil no Santuário de Aparecida, em São Paulo. Agora, em 2022, o presidente já confirmou nova visita ao Santuário. Bolsonaro deve participar de uma das sete missas previstas para a data.

Após o conteúdo viralizar nas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro fez uma publicação no Twitter classificando como desinformação a ideia de que o pai iria acabar com o feriado religioso. “Bolsonaro nunca acabaria com um feriado religioso. Nós somos os verdadeiros cristãos”, declarou o filho do presidente.

Um projeto de lei com teor semelhante ao da postagem analisada chegou a ser proposto pelo então deputado federal Victório Galli, à época filiado ao PMDB, no ano de 2008. À época, o parlamentar tentava retirar de Nossa Senhora o título de padroeira do Brasil, tornando-a apenas “padroeira dos brasileiros católicos apostólicos romanos”. Entretanto, mesmo com uma eventual aprovação da proposta, o feriado religioso seria mantido. O texto acabou arquivado pela Câmara dos Deputados em 22 de agosto daquele ano.

O feriado foi instituído em 1980

Nossa Senhora Aparecida foi definida no catolicismo como padroeira do Brasil em 1930, pelo Papa Pio XI. Em 1953, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu o dia 12 de outubro como data festiva.

A data passou a ser feriado nacional após visita do Papa João Paulo II ao Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, em 30 de junho de 1980.

À época, o Brasil vivia sob a ditadura militar. Coube ao então presidente, general João Batista Figueiredo, a sanção da lei que declarava a data como feriado nacional.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como a peça aqui verificada, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: A publicação alvo desta checagem também já foi apurada e classificada como falsa pelo Boatos.Org , pelo Correio Braziliense, Gazeta do Povo e UOL Confere. Em verificações anteriores que citam Jair Bolsonaro, o Comprova mostrou que posts enganam ao associar Bolsonaro e maçonaria ao satanismo; que é enganoso vídeo que mostra Bolsonaro oferecendo capim a eleitores de Lula e também mostrou que não há comprovação de que urna impediu voto em Bolsonaro no Pará.

Eleições

Investigado por: 2022-10-11

Edição de vídeo distorce declaração de Bolsonaro sobre ministério para Collor e confisco de aposentadoria

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que, em entrevista ao podcast Pilhado, no domingo (9), o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha afirmado que o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB) seria seu ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo iria “confiscar a aposentadoria dos aposentados”. Bolsonaro estava, na verdade, sendo sarcástico e listando acusações infundadas feitas contra ele. O presidente negou qualquer convite a Collor, e não foi encontrada nenhuma evidência concreta e pública que o desminta.

Conteúdo investigado: Tuíte que compartilha trecho de uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL), no qual ele diz que o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB) será ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo vai “confiscar a aposentadoria dos aposentados”. A postagem é complementada por um segundo tuíte, no qual o autor pede aos seus seguidores que “chequem antes de baixar e repassar”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso que, em entrevista ao podcast Pilhado, no domingo (9), o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado que o ex-presidente Fernando Collor de Mello seria seu ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo iria “confiscar a aposentadoria dos aposentados”.

A peça de desinformação foi publicada no Twitter pelo deputado André Janones (Avante-MG), que integra a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele pegou um trecho descontextualizado de uma entrevista concedida por Bolsonaro ao podcast Pilhado e transmitida ao vivo no domingo (9).

Bolsonaro estava, na verdade, sendo sarcástico e listando acusações infundadas feitas contra ele, dentre as quais uma segundo a qual ele seria canibal. O presidente negou qualquer convite a Collor ao final da entrevista. O Comprova não encontrou nenhuma evidência concreta e pública que o desminta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O tuíte original recebeu mais de 41,5 mil interações, entre retuítes, curtidas e tuítes com comentários até a tarde de segunda-feira (10), quando ele foi excluído pelo próprio Janones, após o Comprova tentar contactá-lo. O tuíte complementar, em que o autor insiste em não se responsabilizar pela precisão do conteúdo, recebeu apenas 11,9 mil interações no mesmo período.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do tuíte verificado, o deputado André Janones, por meio de sua assessoria pelo Whatsapp, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Ao pesquisar, no Twitter, pelas palavras-chave “Bolsonaro”, “Collor” e “ministro”, encontramos uma versão ampliada do vídeo compartilhado pelo tuíte verificado. Ela foi publicada pelo ex-secretário de Cultura e deputado eleito por São Paulo Mário Frias (PL). Também identificamos a versão completa do vídeo em questão no Youtube.

Ainda buscamos indícios do eventual convite que Bolsonaro teria feito a Collor ao pesquisar, no Google, pelas palavras-chave, “Bolsonaro”, “Collor” e “ministro”. Para refinar a pesquisa, procuramos apenas conteúdos que precedessem a entrevista, ou seja, publicados até 8 de outubro.

Também buscamos contato com o autor da publicação, o deputado André Janones, por meio de sua assessoria de imprensa pelo Whatsapp.

Trecho descontextualiza sarcasmo de Bolsonaro

A publicação de Janones, aqui verificada, distorceu um comentário sarcástico de Bolsonaro, no início da entrevista ao podcast Pilhado. Como mostra o contexto da fala, na versão original da entrevista, entre 3:26 e 4:15, o presidente estava, na verdade, listando acusações infundadas feitas contra ele.

“A esquerda faz muito bem esse trabalho. Agora estão falando duas coisas aí. Primeiro, que eu sou canibal. Pô, é f…, né? Aguentar um trem desse aí. E a outra é que o Collor vai ser ministro e nós vamos confiscar as aposentadorias dos aposentados. E jogam. É o tempo todo assim”, disse Bolsonaro.

Ao final da entrevista, um dos apresentadores, o influenciador Paulo Figueiredo, neto do último ditador do regime militar brasileiro, João Figueiredo, expôs o tuíte de Janones – o parlamentar publicou a peça de desinformação enquanto a entrevista ainda estava ocorrendo. Ao denunciar o deputado, Figueiredo pediu a Bolsonaro para desmentir a alegação.

“Não existe convite ao senhor Collor de Mello para ser ministro. Não existe convite, não existe. Iria convidá-lo para ser ministro, segundo o Janones, para confiscar o salário dos caras, para deixar os velhinhos sem aposentadoria, a senhorinha sem pensão. Que loucura é essa? Meu Deus do céu. Que loucura é essa?”, disse Bolsonaro.

Essa parte final da entrevista se passa entre 3:51:00 e 3:53:05 da versão original do vídeo, como publicada no canal do Pilhado no Youtube.

Ainda nesta segunda-feira (10), após o Comprova tentar contactá-lo via assessoria de imprensa, Janones deletou o tuíte verificado.

Não foi encontrada nenhuma evidência do suposto convite

Bolsonaro é aliado de Collor e a própria legenda do presidente, o PL, compôs a chapa do petebista ao governo de Alagoas, que acabou derrotada no primeiro turno, no dia 2 de outubro. Mesmo assim, Bolsonaro nunca deu nenhuma declaração, em registro público, afirmando que o convidou para compor seu governo em um eventual segundo mandato.

Plano de governo de Bolsonaro não prevê confisco

O plano de governo apresentado à Justiça Eleitoral pela campanha de reeleição de Bolsonaro não lista nenhuma mudança ou reforma na estrutura da previdência brasileira. O documento apenas afirma que, em eventual segundo mandato, o governo Bolsonaro “continuará e fortalecerá o aprimoramento do sistema previdenciário, com o objetivo de garantir a sustentabilidade financeira e a justiça social”.

Janones associa Bolsonaro a Collor e o confisco desde, pelo menos, 7 de outubro

Esta não é a primeira vez que Janones associa o presidente a Collor e ao confisco de pensões. Apenas no perfil dele no Twitter, o deputado publicou, pelo menos, sete tuítes com a peça de desinformação. O conteúdo mais antigo encontrado data de sexta-feira (7). Por meio da ferramenta de registro de conteúdos na internet Wayback Machine, o Comprova arquivou os tuítes para preservar a evidência caso Janones os delete de sua conta.

Em um desses tuítes, publicado no sábado (8), Janones compartilhou o print de uma suposta matéria jornalística com o título “Bolsonaro confirma que ex-presidente Collor será seu ministro em caso de vitória”. Neste caso, Janones usa do mesmo estratagema de sua postagem que distorce a entrevista de Bolsonaro ao Pilhado. Ele afirma estar repassando conteúdo cuja veracidade não seria conhecida: “Alguém sabe se isso aqui é verdade?”.

O print mostra uma página diagramada aos moldes do site de notícias G1, da Globo. A agência de checagem de fatos Lupa desmentiu que o G1 tivesse publicado tal matéria.

O Comprova também encontrou um vídeo publicado no canal oficial de Janones, ainda no sábado (8), com o título “URGENTE AO VIVO: AUXÍLIO BRASIL, APOSENTADORIAS E PENSÕES PODEM SER CONFISCADAS!! ENTENDA:”. Nele, o deputado afirma: “O ex-presidente Fernando Collor de Mello, o Collor, tá voltando, como ministro da Previdência, muito provavelmente. E os benefícios que o povo brasileiro conquistou com tanta luta, como o Auxílio Brasil e talvez até mesmo as aposentadorias, as pensões, começam a correr risco, já que o Collor tem essa longa história de confiscar o dinheiro do povo brasileiro.”

O Comprova arquivou, por meio do Wayback Machine, esse vídeo também.

Quem é André Janones

Janones, de 38 anos, é deputado federal por Minas Gerais desde 2019, após se eleger ao Congresso, pela primeira vez, no ano anterior. Ele foi o terceiro candidato mais votado no estado, obtendo 178.660, ou 1,77%, dos votos válidos. Janones é conhecido por sua influência nas redes sociais – ele tem 7,9 milhões no Facebook. Assim, em sua reeleição neste ano, conseguiu 238.967, ou 2,13% dos votos válidos, sendo o segundo candidato à Câmara mais votado em Minas Gerais. Ele obteve 30.000 votos a mais que o terceiro colocado e só ficou atrás de Nikolas Ferreira (PL), que teve a maior votação da história do estado.

Antes de concorrer à reeleição, porém, Janones foi o candidato do seu partido, o Avante, à Presidência da República. A própria legenda oficializou a candidatura em 23 de julho. Na pesquisa Datafolha do final daquele mês, Janones tinha 1% das intenções de voto. O deputado desistiu da candidatura menos de duas semanas depois, em troca de apoiar Lula (PT) e integrar a campanha do ex-presidente nas redes sociais. Como descreveu a revista piauí, “ele atua com autonomia, mas também executa demandas da campanha petista”.

Sua atuação nas redes pela eleição de Lula já foi descrita por veículos de imprensa como “serviço sujo” (O Estado de S. Paulo) e “agressiva e ‘zoeira’” (G1). Ele também é comparado ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho 02 de Jair Bolsonaro e infame por disseminar desinformação e atacar rivais nas redes sociais. Nos bastidores do debate presidencial de 28 de agosto, nos estúdios da Band, em São Paulo, Janones provocou aliados de Bolsonaro e protagonizou uma briga com o ex-ministro bolsonarista e agora deputado eleito por São Paulo Ricardo Salles (PL).

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado atribui enganosamente o confisco de aposentadorias em caso da reeleição de Jair Bolsonaro. A desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O site de notícias O Antagonista também desmentiu a publicação de Janones aqui verificada, enquanto que a agência de checagem de fatos Lupa denunciou outra peça de desinformação, citada aqui e compartilhada pelo deputado, que atribui ao G1 uma matéria associando Bolsonaro a Collor e ao confisco de pensões.

O Comprova já verificou conteúdos de desinformação que imputaram ao PT e ao candidato derrotado Ciro Gomes (PDT) o confisco de bens. Um vídeo falso afirmava que o confisco estaria previsto “no estatuto do PT”. Outra verificação apurou que são falsas as mensagens que circulam no WhatsApp dizendo que o PT tem um projeto de confisco da poupança e que ele será automaticamente aprovado caso o candidato do partido, Fernando Haddad (PT), ou mesmo Ciro, vencesse a eleição.

Eleições

Investigado por: 2022-10-11

É falso que totalização de votos a cada 12% indique fraude no 1º turno das eleições

  • Falso
Falso
São falsos os conteúdos que circulam na internet com afirmações de que um algoritmo teria fraudado as urnas em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na totalização dos votos do primeiro turno das eleições. Um tuíte afirma que a cada 12% das urnas eletrônicas totalizadas, Lula subiu 1% e o presidente Jair Bolsonaro (PL) desceu 0,5%, enquanto um conteúdo em vídeo faz a mesma demonstração falsa a partir de um gráfico produzido no Excel. Porém, os números usados nos conteúdos não correspondem aos da apuração dos votos em tempo real do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Especialistas ouvidos pelo Comprova, além de reportagens já publicadas sobre o tema, demonstram que a contagem de votos independe de regras de estatística e está condicionada à ordem de chegada dos votos e divulgação de cada seção eleitoral apurada.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula nas mídias sociais diz que um gráfico elaborado no Excel prova a existência de um algoritmo que fraudou as urnas, favorecendo Lula em detrimento de Bolsonaro no 1º turno das eleições.

Onde foi publicado: O conteúdo circulou no Whatsapp e informações extraídas dele foram compartilhadas por usuários do Twitter, Instagram e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que os percentuais de votos dos candidatos Jair Messias Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) variaram de forma programada à medida em que os resultados das urnas foram sendo totalizados no primeiro turno.

Em nota enviada para a equipe do Comprova, a área técnica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável pelo sistema de totalização, explicou que todos os Boletins de Urna (BUs) – documento que traz o resultado impresso da votação de cada seção eleitoral – foram processados à medida em que os dados chegaram à sede do tribunal, em Brasília. Os BUs foram colocados em fila e sua computação ocorreu conforme a ordem de chegada.

“Não há, portanto, nenhum algoritmo programado para ditar a percentagem atingida por cada candidatura ao longo do processo de soma dos votos”, destaca a nota. Especialistas ouvidos pelo Comprova também refutaram a possibilidade de fraude.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Uma das plataformas em que o vídeo circulou foi o Whatsapp, que não permite dimensionar o alcance do conteúdo. Já um dos tuítes que compartilhou informações falsas contidas no vídeo checado foi publicado no dia 3 de outubro e, até o dia 11, obteve 1.137 curtidas, 27 comentários e 378 retuítes. De acordo com o portal UOL, um post publicado no perfil da ex-secretária de Cultura Regina Duarte com os mesmo argumentos do vídeo checado teve 923 mil visualizações em menos de 24 horas.

O que diz o autor da publicação: A pessoa que apresenta o vídeo se autodenomina Flávio Peres. Ela não foi encontrada pela equipe do Comprova para prestar informações sobre o conteúdo.

Como verificamos: Uma busca na internet pelo termo “Flavio Peres” retornou o perfil do vice-prefeito do município de Garça (SP), que ainda não respondeu o contato do Comprova, e de um coach, que alegou não ser o autor do vídeo: “Não tenho nada a ver com esse vídeo. Por infeliz coincidência essa pessoa tem o mesmo nome que eu”.

Uma usuária do Twitter, que compartilhou o vídeo, escreveu que Flávio Peres seria um major, membro da área técnica do setor de inteligência do Exército. A equipe do Comprova tentou falar com ela, mas o perfil não permite o envio de mensagens privadas. Mandamos e-mail para o Exército para checar se o autor do vídeo faz parte do quadro da instituição, mas, até o momento, não tivemos resposta.

Outro perfil do Twitter que compartilhou a publicação disse não ter o contato de Flávio Peres e explicou que recebeu o vídeo por um grupo do Whatsapp.

Cabe destacar que o conteúdo do vídeo circulou em outros formatos. Capturas de tela de uma conversa em um aplicativo de mensagens, sobre a suposta fraude na apuração das eleições, apresentam os mesmo argumentos do autor do vídeo, mas a análise dos dados é atribuída a uma outra pessoa chamada Hebérbio.

A equipe do Comprova procurou matérias jornalísticas de cobertura das eleições e vídeos que transmitiram o resultado do pleito em tempo real para comparar com os números apresentados no vídeo alvo da checagem.

Nessa busca, usamos como fonte uma matéria publicada no G1, no dia 2 de outubro de 2022, às 20h49, e uma transmissão ao vivo do resultado das eleições feita pelo canal do Youtube Prof Silvester Geografia. Ambos utilizaram dados disponibilizados, em tempo real, pelo TSE no dia da eleição.

Entramos em contato com o TSE, órgão responsável pelas eleições no país, para solicitar dados e questionar sobre a suposta existência de um algoritmo que teria programado a totalização dos votos.

O Comprova ainda conversou com o professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcos Prates, com o estatístico da escola ASN Rocks Carlos Miranda e com o professor doutor no Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) Bruno de Carvalho Albertini.

Falta de rigor no tratamento dos números

A partir de conversas com especialistas e consulta à bibliografia sobre visualização de dados, o Comprova constatou que alguns requisitos de rigor e de método científico necessários para o trabalho com dados numéricos não tiveram a devida atenção do autor da publicação. Ausência da fonte de dados, arredondamentos de valores decimais para inteiros e recorte da série temporal são aspectos que colocam em xeque o teor do vídeo.

De acordo com o autor da publicação alvo dessa checagem, “o período de apuração sofreu alteração a cada 12% de votos apurados”. Vale destacar aqui que ele confunde os conceitos de apuração e totalização. Lucas Lago, pesquisador no CEST-USP, explicou a diferença em checagem sobre o mesmo conteúdo feita pela AFP. Apuração é a etapa que ocorre dentro das urnas no encerramento da votação da seção eleitoral e gera como resultado o Boletim de Urna. Totalização é a soma dos Boletins de Urna divulgada pelo TSE.

Para provar seu ponto de vista, o autor cria uma tabela que mostra a evolução percentual dos candidatos Bolsonaro e Lula quando 12%, 24%, 36%, 48%, 60%, 72%, 84% e 96% das urnas haviam sido totalizadas.

Ao comparar a performance dos presidenciáveis em cada um desses momentos, o autor alega ter notado um movimento “programado” para cada candidato. Bolsonaro diminui linearmente 0,5% a cada período, enquanto Lula cresceu 1%. Para o autor do vídeo, essa seria a prova de que haveria um algoritmo que beneficiou Lula.

No entanto, o autor não aponta as fontes dos dados utilizados na análise e eles não condizem com informações de fontes oficiais. Apesar de o TSE ainda não ter disponibilizado a planilha da totalização minuto a minuto do 1º turno, foi possível contestar os dados do vídeo com o da apuração feita pelo G1 e por transmissão ao vivo do YouTube. Ambos utilizaram dados disponibilizados, em tempo real, pelo TSE no dia da eleição.

 

O que chama a atenção ao comparar a primeira tabela com a segunda e com a terceira é o fato da primeira apresentar dados arredondados. “Mudar números que variam na escala de decimais para inteiros gera uma distorção enorme”, explica o professor do Departamento de Estatística da UFMG Marcos Prates.

Em momento algum, Lula obteve 49% dos votos, como sugere o vídeo desinformativo. O percentual máximo atingido pelo candidato petista foi 48,43%. “Eu imagino que no meio do caminho ele [autor do vídeo] fez isso [arredondou os valores] várias vezes de acordo com a conveniência”, avalia Prates.

Mesmo que os números do vídeo alvo da checagem estivessem corretos, o professor não vê indício de fraude em uma oscilação linear. “O fato de observar um crescimento linear ou um decaimento linear num sistema de apuração, a meu ver, não determina que existe um algoritmo por trás”.

No livro How Charts Lie (Como gráficos mentem, em tradução livre), o jornalista e professor da Universidade de Miami (EUA) Alberto Cairo descreve diferentes maneiras de enganar, propositalmente ou não, com números. Uma delas é mostrar apenas uma parte do todo e assumir a parte como a realidade dos fatos.

O autor do vídeo checado faz um recorte dos dados. Ele toma como ponto de partida para sua análise o momento em que 12% das urnas haviam sido apuradas e não o início da apuração em si. Isso faz com que não se percebam nuances no comportamento dos números.

Ao olhar para a apuração dos votos a partir de uma perspectiva mais ampla, tendo como ponto de partida 0,09% das urnas apuradas, percebe-se que os dados oscilaram de diferentes maneiras e não só de forma linear como o autor do vídeo argumenta.

O portal G1 fez um gráfico, com dados do TSE, que permite visualizar a oscilação dos candidatos Bolsonaro e Lula ao longo do tempo.

| Fonte: Captura de tela de matéria publicada pelo G1

Logo no início, quando apenas 0,09% do total de urnas tinham sido apuradas, Lula estava à frente na disputa presidencial. O petista tinha 51,18% e Bolsonaro 36.73%. Imediatamente, antes mesmo de se atingir o percentual de 1% da apuração, Lula foi ultrapassado por Bolsonaro, que se manteve na primeira posição até o percentual de 70% da totalização.

Estatística

De acordo com o estatístico Carlos Miranda, que atua em empresa privada de tecnologia, o vídeo ou teoria não produzem embasamento estatístico algum.

Ele diz que o fato de o TSE realizar a apuração de forma não sequencial em relação às urnas acaba levando a esse tipo de pensamento para determinados grupos do Brasil.

Muitas vezes a contagem das urnas já começa em 3%, 5%. Depois, a apuração aparece em 12% ou 14%. Tudo isso é bem comum, segundo Miranda.

Para ele, trata-se apenas de uma contagem simples de votos em urnas de diferentes localidades e que ditam o ritmo de contagem de votação recebida por cada candidato. Sendo que, no final, a apuração é concluída com o número de votos determinado pelos eleitores para cada candidato.

“Devemos sempre atentar sobre qual urna está sendo contada primeiro. No final, não importa quem estava na frente ou atrás. O resultado acontece a partir do total de votos já registrados antes pelo eleitor. Não há movimento de votos a partir de regras estatísticas”.

Outro exemplo citado por ele é no caso de a totalização envolver, hipoteticamente, apenas duas cidades: “Se a contagem inicia com os votos da primeira cidade e nela todos os eleitores votam em apenas um candidato, só aí já vai estar 100 a 0”, exemplifica.

Tecnologia e apuração

Para o professor Bruno de Carvalho Albertini, da EPUSP, o vídeo em questão é falacioso.

Ele chama atenção para a ordem de totalização do Registro Digital do Voto (RDV), que pode contar com celeridade ou não de envio, bem como congestionamento das redes que o TSE usa.

“Assim que o RDV chega no servidor é processado e mostrado na totalização. Sendo assim, não faz sentido alegar fraude baseando-se na ordem ou evolução da totalização. De fato, qualquer pessoa pode fotografar os Boletins de Urnas físicos impressos pela urna e totalizar por meios próprios, ou pegar os BUs online do TSE e fazer o mesmo”, explica Albertini.

Apuração e geografia

Uma apuração do Comprova em julho cita uma reportagem do TSE em que o tribunal também aborda o andamento da totalização dos votos de acordo com a posição geográfica das cidades. Em 2021, o órgão desmentiu o boato de que as urnas eletrônicas teriam sido fraudadas nas eleições de 2014. A situação daquela época pode servir de exemplo no cenário atual, uma vez que, na apuração de votos do 1º turno deste ano, o candidato Bolsonaro ficou à frente de Lula até 70% do total de urnas apuradas. Há oito anos, Dilma ultrapassou Aécio quando a totalização chegou a 88,9%.

Conforme divulgou o TSE na reportagem, naquele ano, técnicos do PSDB e do tribunal analisaram a curva de desempenho dos candidatos Aécio e Dilma ao longo da apuração e constataram que ela demonstrava a concorrência acirrada na eleição de 2014, em que durante muito tempo os votos eram disputados um a um.

Enquanto os votos apurados vinham predominantemente dos estados das regiões Sul e Sudeste, onde Aécio Neves venceu, a apuração indicava a vitória parcial do candidato tucano. Mas, à medida em que começaram a ser computados os votos dos estados do Norte e do Nordeste, onde Dilma Rousseff obteve ampla vitória, esse placar foi mudando até que se consolidou numa vitória apertada da petista, com uma diferença de apenas 3,28 pontos percentuais.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos que também envolvem o sistema de votação e de totalização podem influenciar na compreensão da realidade e segurança do sistema.

O Comprova busca colaborar para que o eleitor tenha acesso a conceitos fiéis à verdade e que contribuem para um correto entendimento a respeito do processo de escolha de candidatos e a apuração de votos.

Outras checagens sobre o tema: A AFP, o UOL e o site boatos.org verificaram que é falso o conteúdo atribuindo favorecimento a Lula na totalização dos votos nas eleições do 1º turno no Brasil. A Justiça Eleitoral também desmentiu o boato.

Em verificações anteriores que citam o candidato Lula, o Comprova mostrou ser falso conteúdo que afirmava que eleitores de Lula teriam dia diferente para votação; que não há registro de Lula ter dito que ‘enfermeiros só servem para servir sopa’. Também apurou e concluiu como enganoso vídeo dizendo que Lula pode perder candidatura por conta da Lava Jato.