O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para a integridade do ambiente digital e para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação e a golpes e fraudes virtuais.
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Política

Investigado por: 30/08/2024

Vídeo que mostra suposto roubo em fazenda é de 2022, e não tem ligação com Lula

Enganoso
Imagens antigas atribuídas a um roubo de fazenda em Mato Grosso em 2022 circulam fora de contexto. Uma postagem associa o vídeo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não há provas de ligação com o político.

Conteúdo investigado: Posts exibem vídeo de um homem agredindo um trio que, supostamente, teria tentado roubar gado de uma fazenda em Mato Grosso. A legenda da publicação relaciona as imagens ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao afirmar: “Os meninos do luladrão se deram mal!”. O vídeo também mostra a foto da cabeça de um dos animais que teria sido roubado.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação de vídeo que viralizou nas redes sociais em agosto de 2024 engana ao associar ao presidente Lula imagens de agressões após um suposto roubo de gado ocorrido em 2022. 

Na verdade, o caso é antigo, quando Lula não era presidente, e foi noticiado pela imprensa local em dezembro de 2022. O crime teria ocorrido em 14 de dezembro, na cidade de Pontes e Lacerda (MT), e não apresenta nenhuma ligação com o chefe do Executivo brasileiro.

O Comprova entrou em contato com a Polícia Judiciária Civil (PJC) do Mato Grosso para saber mais informações sobre a suposta tentativa de roubo descrita no vídeo. No entanto, não há Boletim de Ocorrência registrado nem pelo agressor e nem pelos homens agredidos.

As únicas informações a respeito do caso foram noticiadas pelo programa “Cadeia Neles”, da TV Vila Real de Cuiabá, pertencente ao Grupo Gazeta de Comunicação. O site de notícias FolhaMax e o Diário de Cáceres republicaram em texto as informações obtidas pelo programa, que foi ao ar no dia 15 de dezembro de 2022.

Na íntegra da edição, disponível na página da TV Vila Real no Facebook, o repórter noticia a tentativa de roubo e mostra o vídeo da agressão, o mesmo que agora circula nas redes.

Ele diz que, “na região de Pontes e Lacerda, um animal ou dois animais acabaram sendo mortos na mesma área em que foram furtados”. “O boletim de ocorrência não foi confeccionado. Os detalhes chegam por outras vias, explicando que se trata de uma ação isolada, onde foi praticada a ‘disciplina’ (…) nós temos um vídeo”. Em destaque na tela, aparece escrito “Bando furta gado no Vale do Guaporé e cai no Tribunal do Crime”. O programa não dá informações adicionais sobre o caso, nem como conseguiu acesso ao vídeo.

A reportagem contatou o FolhaMax para confirmar as informações. Conforme o veículo, o furto de gado é comum no estado, e a matéria sobre o vídeo foi feita com base no programa Cadeia Neles.

O programa de TV e o autor do post no X, antigo Twitter, também foram procurados, mas o Comprova não obteve respostas até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de agosto, nos três perfis do X onde foi publicado, o vídeo somava mais de 3 milhões de visualizações.

Fontes que consultamos: A partir de busca reversa por imagens do vídeo, o Comprova encontrou publicações da FolhaMax e do Diário de Cáceres. Depois, procurou pela edição do programa “Cadeia Neles”, mencionado pela FolhaMax. Por fim, ouviu os veículos e a Polícia Judiciária Civil de MT para confirmar as informações.

Tribunal do Crime

Apesar de a edição do programa “Cadeia Neles” não explicar a ligação do suposto roubo de gado com o “tribunal do crime”, o grupo é mencionado por escrito na tela. De acordo com nota da Secretaria do Estado da Segurança Pública de Mato Grosso (SESP), “tribunal do crime” é o nome de uma organização criminosa que atua no estado.

A matéria do FolhaMax diz que os responsáveis pela agressão “também seriam criminosos que integram o chamado ‘tribunal do crime’”, mas que não há informações para sustentar a suspeita.

O Comprova também não encontrou informações sobre a identidade e a ocupação das pessoas que aparecem no vídeo, nem a ligação dos indivíduos com qualquer organização criminosa ou com Lula.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Esta não é a primeira vez que um vídeo antigo é usado fora de contexto para criar desinformação sobre Lula. Anteriormente, o Comprova mostrou que outra publicação engana ao utilizar vídeo de 2022 para sugerir que o petista é impopular. Outras checagens do Comprova verificaram ser falso que o petista tenha recebido votos nulos ou em branco nas eleições de 2022, assim com um vídeo mente ao afirmar que Elon Musk teria dito que Lula “foi nomeado, e não eleito”.

Contextualizando

Investigado por: 28/08/2024

Entenda discussão sobre reajuste do salário mínimo acima da inflação

Contextualizando
Publicação usa recorte de análise feita em programa da CNN Brasil para dizer que o salário mínimo deixará de ter aumento real acima da inflação. O governo federal afirma que não há nenhuma proposta em andamento para deixar o reajuste salarial abaixo do índice que mede o aumento de preços de bens e serviços. O Comprova contextualiza o assunto.

Conteúdo analisado: Publicação usa trecho em áudio do programa de William Waack, na CNN Brasil, no qual o jornalista faz uma análise sobre o que considera uma “armadilha fiscal” criada pelo governo Lula (PT) para um homem alegar que o governo brasileiro não tem dinheiro porque gasta demais. No post, ele aplica legendas com as frases: “Salário mínimo não vai acompanhar inflação”, “Vai ficar abaixo” e “Se eu ver petista no farol pedindo dinheiro, vou xingar… tá avisado”.

Onde foi publicado: TikTok.

Contextualizando: Uma publicação utiliza um trecho do programa de William Waack, na CNN Brasil, para afirmar que o salário mínimo não irá mais acompanhar a inflação no Brasil. No trecho recortado, o jornalista faz uma análise sobre o cenário econômico do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Conforme Waack, o governo federal criou uma “armadilha fiscal” ao driblar os mínimos constitucionais de gastos obrigatórios em saúde e em educação, enquanto mantém a política de valorização do salário mínimo, que impacta outros gastos obrigatórios, como Previdência Social e benefícios sociais.

Na avaliação do jornalista, existe uma “armadilha” porque, em menos de dois anos, os gastos obrigatórios devem “comer” todo o orçamento, sem que sobrem recursos para o governo alocar em outras áreas.

Segundo ele, as contas públicas chegaram a esse ponto por conta do Novo Arcabouço Fiscal (PLP 93/2023), que define que despesas com saúde e educação têm um mínimo constitucional que sobe mediante a receita e não com a inflação, como acontecia antes.

Desta forma, os gastos obrigatórios “comprimem” os discricionários (isto é, recursos que o governo pode usar como quiser). O entendimento de Waack é que a política de valorização do salário mínimo impacta esses gastos obrigatórios e, diante dessa compressão do orçamento, fica mais difícil reajustar o salário de servidores e o Bolsa Família, por exemplo. Waack avalia que o mínimo em saúde e educação pode ser mudado pelo governo federal, a fim de sair dessa “armadilha fiscal”, no entanto, essa medida seria considerada impopular.

Juliana Inhasz, professora de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), explica que essa valorização do salário mínimo continua gerando gastos ainda maiores para o governo, e as previsões de aumento de receita não são compatíveis com o aumento dessas despesas. Para ela, Lula seria obrigado a abrir mão da valorização do piso salarial ou dos gastos com políticas sociais, assim como analisou Waack.

“Se mantiver o salário mínimo com o reajuste atual, vai continuar aumentando os gastos públicos e vai ter que dar um jeito de reorganizar. Então, ele vai ter que, provavelmente, cortar muito gasto em outras pautas”, explica a professora.

No momento, porém, este cenário não está posto e ações do governo podem mudar a situação. Trata-se, assim, de algo que pode ocorrer e não de algo que já está definido, como indica o conteúdo investigado.

Em resposta ao Comprova, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal informou que não há nenhuma proposta de desvinculação do salário mínimo em relação à inflação. Além disso, a pasta destacou que a informação veiculada no vídeo checado é falsa. “O presidente Lula, inclusive, já rechaçou essa desinformação em diversas ocasiões, como na entrevista concedida à rádio Princesa (BA)”, diz trecho da resposta.

Em nota, o Ministério da Fazenda afirmou não ter previsão de qualquer mudança no Regime Fiscal Sustentável. Além disso, também não há qualquer previsão de modificação sobre a política de valorização do salário mínimo.

“A regra em vigor define o reajuste pela inflação em 12 meses acumulados em novembro do ano anterior e pela variação real do PIB de dois anos antes. Dessa forma, além da recomposição do poder de compra pelo INPC, também se busca uma melhora na distribuição funcional da renda em favor dos trabalhadores”, destaca o Ministério da Fazenda.

Arcabouço fiscal e teto de gastos para Educação e Saúde

O Novo Arcabouço Fiscal, ou Regime Fiscal Sustentável, surgiu para substituir a Emenda Constitucional nº 95 (EC 95) do Teto de Gastos. A proposta surgiu no governo de Michel Temer (MDB) com o objetivo de estabelecer um limite para os gastos do governo federal para os próximos 20 anos, a partir de 2017, tendo como base o orçamento do governo em 2016.

Na prática, o Teto de Gastos impedia o governo federal de criar um orçamento para a União maior do que o ano anterior, sendo possível apenas corrigir os valores de acordo com a inflação. Alguns gastos até poderiam crescer acima do índice, desde que ocorressem cortes em outras áreas. Dessa forma, o projeto limitou investimentos feitos em áreas como Saúde e Educação, por exemplo.

Em 31 de agosto de 2023, o novo arcabouço fiscal entrou em vigor no Brasil para substituir o teto de gastos. A nova lei complementar busca manter as despesas abaixo das receitas a cada ano, o que é feito através de metas anuais para o resultado primário (arrecadação menos despesas), para os orçamentos fiscal e da seguridade social. No entanto, essa regra não se aplica aos gastos com saúde e educação, que podem aumentar na mesma proporção do crescimento das receitas.

Porém, esse aumento na mesma proporção que as receitas pode comprometer as contas da União. Projeções do governo federal mostram que os pisos das duas áreas vão somar R$ 336,3 bilhões em 2025 e consumir 44% do orçamento disponível para todas as despesas não obrigatórias. O porcentual subirá para 51% em 2026, 63% em 2027 e 112% em 2028, quando faltariam R$ 12 bilhões para custeio e investimentos em outras áreas.

Política de reajuste salarial no governo Lula

A Constituição determina que o salário mínimo deve garantir a manutenção do poder de compra do trabalhador. Por outro lado, o aumento da renda pressiona as contas públicas, uma vez que baliza gastos federais, como o pagamento de aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Nacional (INSS), e benefícios como o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada, que atende idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.

O reajuste real foi implementado informalmente em 1994, por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), logo após a adoção do Plano Real. As gestões petistas oficializaram a medida, combinando o Índice de preços ao consumidor (INPC) e o PIB.

No governo de Dilma Rousseff (PT), a regra foi transformada em lei com vigência para os anos de 2015 a 2019 —Temer, que assumiu o governo na sequência, não mudou a legislação. Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, deixou de conceder reajuste acima da inflação para o salário mínimo.

O aumento para 2024 foi aprovado em agosto de 2023 pelo Congresso, após medida provisória do governo Lula, e retomou uma fórmula que vigorava em gestões anteriores do PT, formada pela combinação da inflação medida pelo INPC mais a variação do PIB de dois anos antes.

O piso atual previsto para o salário mínimo é de R$ 1.412, mas o Ministério da Fazenda prevê um valor de R$ 1.509 em 2025, acima da previsão inicial de R$ 1.502, que consta no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do próximo ano.

Como algumas perspectivas macroeconômicas mudaram, como a previsão de inflação, a estimativa é de um salário mínimo maior. Caso esse valor seja confirmado, o crescimento será de 6,87% em relação ao piso atual de R$ 1.412.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 28 de agosto, a publicação alcançou mais de 305 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Consultamos a professora Juliana Inhasz, do Insper, o Ministério da Fazenda e a Secom do governo federal, bem como a fala de William Waack na íntegra.

Por que o Comprova contextualizou esse assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: A Agência Câmara de Notícias publicou em dezembro de 2023 uma matéria na qual explica o impacto da inflação no salário mínimo. Além disso, a Agência Brasil detalhou, em 2023, as regras do novo arcabouço fiscal. O Comprova também já explicou o bloqueio de R$ 2,9 bilhões em despesas discricionárias anunciado pelo governo federal em 2024.

Saúde

Investigado por: 27/08/2024

É falso que a vacina AstraZeneca transmita varíola dos macacos

Falso
Publicação mente ao afirmar que a vacina contra a covid-19 fabricada pela AstraZeneca contenha varíola dos macacos (em inglês, monkeypox ou mpox). O post destaca um trecho da bula que cita o “adenovírus de chimpanzé” na composição do imunizante e o associa à doença. Na realidade, esse adenovírus não tem qualquer relação com a mpox.

Conteúdo investigado: Publicação destaca a bula da AstraZeneca e relaciona o item “adenovírus de chimpanzé”, que aparece na composição da vacina, com a varíola dos macacos.

Onde foi publicado: Telegram e X.

Conclusão do Comprova: É falso que a vacina AstraZeneca tenha varíola dos macacos. Na verdade, o imunizante contém um adenovírus recombinante de chimpanzé, um vírus sem relação com o que causa a mpox. Essa informação foi confirmada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e dois especialistas consultados pelo Comprova.

O adenovírus usado na vacina serve apenas para carregar o material genético do coronavírus. É assim que a injeção causa uma resposta imunológica na pessoa vacinada, de acordo com Anvisa e Fiocruz.

O vírus contido na vacina foi modificado para não se replicar no nosso corpo – ou seja, ele não é capaz de causar doenças. Mesmo se fosse, o vírus é da família Adenoviridae, diferente do que causa a mpox, que é da família Poxviridae.

A reportagem tentou contato com a conta do X e do Telegram que compartilharam o conteúdo, mas não havia espaço para envio de mensagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Telegram, a publicação teve mais de 5 mil visualizações até o dia 26 de agosto de 2024. Já no X, na mesma data, o conteúdo alcançava a marca de 19,2 mil visualizações, 808 curtidas e 326 compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Anvisa e Ministério da Saúde, instituições que trabalham com o imunizante, além de Fiocruz, AstraZeneca, o professor Aguinaldo Roberto Pinto, do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o médico infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP).

Adenovírus e mpox são vírus diferentes

Ouvido pelo Comprova, Aguinaldo Roberto Pinto, professor do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, destacou que o adenovírus e a mpox são dois vírus distintos, portanto, não há a possibilidade do imunizante causar a varíola dos macacos.

Ele explicou que a AstraZeneca é, de fato, feita a partir de um adenovírus que foi isolado de chimpanzés, mas que teve seu genoma modificado em laboratório de modo que não tenha capacidade de se multiplicar em seres humanos, conferindo assim segurança a este tipo de imunizante.

O professor acrescentou que as vacinas, de modo geral, são produzidas a partir de microrganismos mortos, microorganismos atenuados, RNA mensageiro e tipos de adenovírus que são incapazes de se replicar.

Relação de mpox com macacos é equivocada

Apesar de ser popularmente conhecida como “varíola dos macacos”, a transmissão da mpox não está relacionada a esses animais. De acordo com o Ministério da Saúde, o nome vem da descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório da Dinamarca, em 1958.

O Ministério da Saúde destaca que, embora o animal reservatório do vírus – no qual vive e se multiplica o agente causador da mpox – seja desconhecido, os principais associados são roedores, como os esquilos das florestas tropicais da África, principalmente da África Ocidental. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também aponta ratos como animais suscetíveis a este tipo de varíola. No entanto, as “transmissões do surto atual, que atingiram mais de 75 países, foram atribuídas à contaminação de pessoa para pessoa, com contato próximo”, cita o órgão.

O médico infectologista e consultor da ESP Keny Colares disse que até o termo monkeypox é inadequado. “Ficou como se fosse um vírus de macacos, mas, na verdade, é uma doença humana”, afirmou.

“Esse vírus foi descoberto pela primeira vez em pessoas que tinham contato com macacos e achava-se que a doença era desse animal. Na verdade, ele é muito mais um vírus que causa doença humana e que, eventualmente, deu em algum macaco e, na época que esse vírus foi descoberto, ganhou esse nome de monkeypox e agora é difícil de voltar atrás”, contextualizou.

Vacina não é mais usada no Brasil

Segundo a Anvisa, a vacina AstraZeneca, registrada junto ao órgão em março de 2021, teve seu registro válido por três anos, até março de 2024. Quando este registro chegou ao fim, não houve pedido de renovação por parte da empresa e, por isso, a autorização para o uso em território nacional foi cancelada. Ou seja, o imunizante não é mais aplicado no Brasil.

A agência explicou que foi uma decisão apenas comercial, a eficácia e a segurança da vacina não mudaram.

A Fiocruz informou que mais de 190 milhões de doses da vacina foram aplicadas no país no período de três anos, e que a vacina “foi considerada uma estratégia eficaz do Ministério da Saúde para salvar vidas em momento de alto risco de doença grave pela covid-19”.

O Ministério da Saúde, em nota publicada no dia 3 de maio de 2024, confirmou que desde dezembro de 2022, com a queda de hospitalizações e mortes em decorrência da covid-19, a Astrazeneca deixou de ser adquirida. A pasta passou a dar preferência para a aquisição de vacina de outras plataformas, “conforme a disponibilidade das produtoras e recomendações da Câmara Técnica Assessora de Imunizações (CTAI)”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Reuters e Aos Fatos confirmaram que é falso que a vacina AstraZeneca cause varíola dos macacos. O Comprova explicou o que é a mpox, doença que levou a OMS a declarar emergência global.

Saúde

Investigado por: 26/08/2024

Publicação tira de contexto fala da ministra da Saúde sobre vacinação contra mpox

Enganoso
Post engana ao comparar a não obrigatoriedade da vacina contra a mpox com a exigência de imunização contra a covid-19 durante a pandemia, alegando que Jair Bolsonaro (PL) teria sido perseguido quando presidente. A publicação reproduz uma imagem da tela da CNN Brasil no momento em que o canal exibia uma entrevista com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Ela explicava que não há indicação de imunização em larga escala porque o contágio da mpox se dá através de contato, diferentemente da covid-19, cuja transmissão é de ampla difusão.

Conteúdo investigado: Uma imagem publicada no TikTok mostra o momento em que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, concedia entrevista ao programa Live CNN. A chamada da reportagem é “Mpox – Ministra: “Não há recomendação de vacinação em massa”. Sobre a captura, o autor do post escreve “Agora não é mais obrigatória a vacina? Mas perseguiram tanto o Bolsonaro por ter falado isso. Narrativa esquerdopata que fala, né?”

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: A ministra da Saúde, Nísia Trindade, não comentou sobre a vacinação contra a covid-19 durante a entrevista que concedeu à CNN, no dia 21 de agosto. A pauta da conversa de pouco mais de seis minutos foi, na verdade, a mpox. Na ocasião, Nísia informou que no momento não há recomendação de vacinação em massa contra a doença.

Na imagem é possível ver o nome “mpox” no texto fixado na tela pela emissora. A palavra aparece escrita em branco sobre um fundo vermelho. Abaixo, está a afirmação da ministra: “Não há recomendação de vacinação em massa”. Ela se referiu à mpox, portanto, e não à covid-19. Trindade argumentou, durante a entrevista, que não há indicação de imunização em larga escala porque a transmissão da mpox é através de contato e não uma transmissão de ampla difusão.

A ministra explicou que até aquela data havia a confirmação de 700 pessoas infectadas pelo vírus mpox e que desenvolveram a doença. Ela afirmou, ainda, que não há nenhum registro, no Brasil, da cepa 1B, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a mais perigosa. Segundo Nísia, o Ministério da Saúde negocia a aquisição de 25 mil doses com a Organização Panamericana de Saúde (Opas).

Na sequência, ela adiantou que o Ministério da Saúde e o Ministério da Tecnologia e Inovação estão trabalhando juntos para o desenvolvimento de uma vacina contra a mpox, que ainda está em fase de estudos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Devido ao tempo de desenvolvimento da vacina, ela não pode ser disponibilizada para os casos atuais. A ministra reconheceu a importância do imunizante, assim como estratégias como a “biblioteca de vacinas”, que visa a antecipar respostas a futuras ameaças à saúde pública.

O autor da publicação enganosa foi contatado mas não respondeu.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 23 de agosto, o vídeo no TikTok acumulava 35,2 mil visualizações, 1.359 curtidas, 226 compartilhamentos e 78 comentários.

Fontes que consultamos: Utilizamos a busca reversa de imagens e encontramos uma publicação da CNN no X, com um corte da entrevista. Na sequência buscamos os termos “CNN, ministra da Saúde, mpox” no Google e localizamos o vídeo publicado no canal da emissora no YouTube. O site do Ministério da Saúde também foi consultado para levantar informações sobre a mpox e a covid-19.

Mpox

A doença entrou em discussão porque no dia 14 de agosto a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O Ministério da Saúde explicou que “o alerta é feito para criar uma resposta internacional coordenada e colaborativa para lidar com a doença e não significa que necessariamente ocorrerá uma nova pandemia”.

O site do Ministério da Saúde informa que a principal forma de contágio da doença ocorre por meio de “exposição próxima e prolongada (abraços, beijos, relação sexual), quando existem lesões na pele, tais como erupções cutâneas, crostas, feridas e bolhas, ou fluidos corporais (como secreções e sangue) em uma pessoa infectada”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu boatos sobre a vacinação contra covid-19 em uma postagem que desinformou ao dizer que pesquisadores descobriram relação entre vacina e covid longa. E também publicou um Comprova Explica sobre a mpox.

Eleições

Investigado por: 23/08/2024

É falso que Lula tenha recebido votos nulos ou em branco nas eleições de 2022

Falso
É falso que votos brancos e nulos da eleição de 2022 tenham sido computados para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A alegação foi feita por um pastor e tecnólogo em automação industrial em audiência pública no Senado, em 2023, mas ele não apresentou provas. Além disso, não há evidência de que a eleição de 2022 tenha sido fraudada. O TSE e observadores internacionais apontaram a lisura do processo eleitoral brasileiro.

Conteúdo investigado: Vídeos mostram Adriel Tavares de Andrade, pastor e tecnólogo em automação industrial, acusando fraude nas eleições de 2022. A legenda diz “tecnólogo desafia o sistema e revela com detalhes como as urnas foram fraudadas. Ele expõe com detalhes o caminho dos votos roubados de Bolsonaro”.

Onde foi publicado: X e YouTube.

Conclusão do Comprova: O fato de a eleição para presidente da República de 2022 ter registrado menor patamar de votos brancos e nulos no segundo turno, em comparação com pleitos anteriores, não é indício de fraude no processo. Também não há qualquer outra prova de irregularidades técnicas nas urnas.

Naquele ano, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se enfrentaram e o petista foi eleito. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula venceu com 50,9% dos votos, enquanto Bolsonaro terminou com 49,1%.

Em 12 de dezembro de 2023, durante audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado (CTT), com o tema “Implicações da Tecnologia no Processo Eleitoral Brasileiro”, o tecnólogo em automação industrial e pastor Adriel Tavares de Andrade usou dados das eleições para alegar que houve fraude no pleito. O evento foi organizado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), autor do requerimento para a realização da audiência.

Na íntegra do vídeo, Andrade argumenta que votos em branco e nulos foram ilegalmente computados a Lula e, por isso, o petista teria vencido a eleição. Ele ainda comenta sobre a conclusão das Forças Armadas a respeito da fiscalização das urnas. No entanto, Andrade não apresenta provas para a suposta fraude durante o seu discurso. Apesar de o vídeo original ser de 2023, a gravação voltou a viralizar nas últimas semanas, em um contexto de proximidade com a eleição municipal de 2024.

Em março de 2023, o TSE fez publicação contestando as afirmações feitas por Andrade no Senado e afirmando que as urnas são seguras. Além disso, ainda em 2022, observadores internacionais, indicados pela Organização dos Estados Americanos (OEA), apontaram segurança e eficiência do sistema eleitoral brasileiro.

O professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jéferson Campos Nobre afirmou que o sistema de votação brasileiro é seguro. A UFRGS é uma das instituições que já fez inspeção dos códigos-fonte das urnas. “O sistema eletrônico de votação, incluindo as urnas e o sistema de totalização, é seguro. E, especialmente, no caso do vídeo que está colocado, não há nada que seja relatado ali que gere qualquer preocupação em relação ao sistema eletrônico de votação”, disse Nobre.

A reportagem entrou em contato com Andrade, que preferiu não se manifestar. O Comprova também buscou posicionamento do autor do post no X, mas não houve resposta. Quanto à publicação no YouTube, não foi possível identificar uma forma de contato com o autor da postagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 22 de agosto, o vídeo no X contava com 295,7 mil visualizações, 15 mil curtidas e 6 mil republicações. No YouTube, havia 2,3 mil visualizações e 149 curtidas.

Fontes que consultamos: Buscamos na internet por publicações sobre audiências públicas e fraudes nas urnas eletrônicas nas eleições presidenciais de 2022. Encontramos postagens oficiais sobre a audiência da CCT de 12 de dezembro de 2023. Ambas incluíam a descrição de Adriel Tavares de Andrade como pastor e tecnólogo. Consultamos o site oficial do TSE para cruzar os dados das eleições com os apresentados no vídeo. Procuramos reportagens relacionadas à integridade da eleição de 2022.

Em seguida, entrevistamos o professor associado ao Departamento de Engenharia de Computação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Simplício, e o professor da UFRGS Jéferson Campos Nobre. Por fim, entramos em contato com Andrade e os autores das publicações.

Os números da eleição

Um dos argumentos usados na peça de desinformação é a queda na quantidade de votos brancos e nulos em 2022, na comparação com eleições anteriores. Em 2022, foram registrados 3,9 milhões de votos nulos (3,16%) e 1,7 milhões de brancos (1,42%) no segundo turno da disputa para presidente da República. Em 2018, nulos foram 8,6 milhões (7,43%) e brancos, 2,4 milhões (2,14%). Já em 2014, 5,2 milhões de eleitores (4,95%) votaram nulo e 1,9 milhão em branco (1,82%). Os números são do TSE, referentes ao segundo turno dos pleitos, e podem ser consultados no portal de dados abertos do tribunal.

Os números apresentados por Andrade dizem respeito à somatória de brancos e nulos da eleição para presidente. Apesar de serem próximos aos do TSE, não é possível concluir que, por esse motivo, as eleições foram fraudadas.

No vídeo, o tecnólogo também usa como argumento o fato de que, em 2022, mais eleitores paulistas registraram votos nulos e brancos na eleição para governador do que para presidente. Naquele ano, os candidatos Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) disputaram o segundo turno. O primeiro foi apoiado por Bolsonaro e o segundo, por Lula.

Na disputa estadual em São Paulo, no segundo turno, foram registrados 1,8 milhão de votos nulos (6,76%) e 1,1 milhão de brancos (4,03%). Os números demonstram que mais eleitores paulistas escolheram um candidato na eleição nacional, pois a quantidade de votos brancos e nulos caiu no recorte do pleito para presidência: foram 1,1 milhão de nulos (4,08%) e 526 mil brancos (1,92%).

No estado, Lula recebeu 11,5 milhões de votos e Bolsonaro, 14,2 milhões. Na disputa local, Tarcísio venceu com 13,4 milhões de votos. Haddad teve 10,9 milhões. No vídeo aqui verificado, Andrade questiona o fato de Haddad, a quem Lula apoiou, ter registrado menos votos no estado do que o então candidato petista à presidência, mas não apresenta provas da fraude.

Relatório das Forças Armadas

Outro argumento utilizado por Andrade é o relatório técnico de conclusão da fiscalização do sistema eletrônico de votação pelas Forças Armadas, de junho de 2022. Andrade afirma que um pedido feito pelas Forças Armadas para verificar os softwares das urnas eletrônicas foi negado. Mas não é bem assim. As Forças Armadas são uma das instituições autorizadas a inspecionar o código-fonte das urnas eletrônicas. Os militares têm acesso ao código-fonte desde 2021.

O pastor e tecnólogo também cita dados referentes à votação para presidência nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Roraima. Andrade cita em específico Uiramutã, cidade de 13,7 mil habitantes localizada em Roraima. No município, Lula recebeu 3,5 mil votos no segundo turno, número que representa 68,2%. Em nível estadual, Bolsonaro ficou na frente, com 76%. “Porque o Estado de Roraima inteirinho é bolsonarista, mas no Uiramutã, 70% votou em Lula”, apontou Andrade. Para o tecnólogo, os números da eleição são resultado de Uiramutã ter recebido urnas eletrônicas antigas, modelo de 2015, mas isso não faz sentido.

O Estadão Verifica mostrou que a cidade mencionada pelo pastor tem quase metade de seu território considerado parte da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O TSE informou que é comum que em comunidades indígenas haja convergência de votos. Outras aldeias também registraram maioria de votos em Lula em 2022.

TSE e especialista contestam alegações

Em publicação de março deste ano, o TSE classificou as dúvidas lançadas por Andrade como mentirosas. No texto, o TSE apresenta a inconformidade mencionada acima sobre os dados citados por Andrade e os registrados na Justiça Eleitoral, principalmente em relação ao estado da Bahia. Além disso, explica também que votos brancos e nulos não são transferidos, e servem apenas para fins estatísticos.

“O suposto desvio de votos nulos e em branco é outra afirmação enganosa que já foi desmentida pelo TSE. A verdade é que a única utilidade desses votos é registrar a insatisfação do eleitorado com as alternativas de candidatos que foram ofertadas pelos partidos. Na prática, eles servem apenas para fins estatísticos”, alegou o tribunal. A instituição ainda destacou que “votos em branco não são somados aos votos de quem está ganhando e votos nulos não podem cancelar uma eleição”.

Para sustentar sua tese durante a audiência pública, Andrade disse que urnas eletrônicas de modelos mais antigos foram “programadas para alterar a vontade e a decisão política do eleitor, com lógicas de programação não lineares”. A alegação também é contestada pelo TSE, que afirmou que não há diferença entre as urnas mais modernas e mais antigas em termos de programação. Em 2022, foram usados seis modelos de urna eletrônica: UE 2020, UE 2015, UE 2013, UE 2011, UE 2010 e UE 2009. Vale ressaltar que todos esses modelos foram auditados, como mostrou o Estadão Verifica.

Professor do Instituto de Informática da UFRGS, Jéferson Campos Nobre explica que, independentemente do ano da urna, os equipamentos têm o mesmo software e passam pelo mesmo teste público de segurança. “A Justiça Eleitoral tem um conjunto de mecanismos que permitem assegurar a segurança do sistema. E permitem que entes que estão registrados, como, por exemplo, as Forças Armadas, participem do processo, fazendo inspeções no código-fonte (das urnas)”, explica o especialista.

Nobre destaca que, além das Forças Armadas, outras instituições, como a Polícia Federal, universidades e partidos políticos também já participaram do teste público de segurança e de inspeções do código-fonte, “que está disponível no TSE para ser verificado”. A UFRGS está entre as universidades que realizaram a análise da urna eletrônica.

Professor do Departamento de Engenharia de Computação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Simplício explica que não existe um sistema 100% seguro, mas as urnas eletrônicas têm sistema “robusto, em contínua evolução”. Simplício é coordenador do convênio entre USP e TSE para análise de segurança das urnas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já publicou outras checagens que tratam sobre eleições, como o caso de vídeo falso que é usado para atribuir apoio do Comando Vermelho a Eduardo Paes (PSD) e de outro vídeo que mostra site falso para alegar que mortos teriam votado nas eleições de 2022.

Eleições

Investigado por: 22/08/2024

Vídeo mente ao afirmar que Musk teria dito que Lula “foi nomeado, e não eleito”

Falso
Publicação mente ao apontar que Elon Musk afirmou que Lula “foi nomeado e não eleito”. Vídeo contém trecho de entrevista em inglês, veiculado sem tradução e fora de contexto. Na realidade, o empresário falava sobre o uso de inteligência artificial na educação.

Conteúdo investigado: Vídeo traz áudio em que o bilionário Elon Musk fala em inglês. Uma legenda aponta que a tradução do que ele estaria dizendo seria: “Eu, Elon Musk falo para todos vocês no Brasil, vocês não elegeram ninguém” e “Seu presidente foi nomeado e não eleito”. São exibidas fotos dos ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além de uma imagem da urna eletrônica com a palavra fraude.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que Elon Musk tenha dito aos brasileiros que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “foi nomeado, e não eleito”, diferentemente do que afirma post viral.

A publicação utiliza trecho de um áudio verdadeiro do empresário, em inglês, em que ele fala sobre o uso de inteligência artificial na educação de crianças —ou seja, nada relacionado ao Brasil ou eleições.

A declaração do bilionário é um trecho de sua participação no evento Viva Technology, na França, em maio deste ano. Segundo a Forbes Brasil, o evento é um dos maiores da área de tecnologia e inovação da Europa.

A fala completa dele usada no post verificado é: “A inteligência artificial é um professor extremamente experiente, muito paciente. Estará quase sempre correto e pode adaptar as aulas especificamente para que a criança, então, seria como se cada criança tivesse, você sabe, Einstein como professor, então, seria certamente muito profundo”, diz Musk no áudio em inglês.

Além de o post mentir sobre o que Musk teria dito, é falso que Lula não tenha sido eleito. Conforme registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele ganhou a eleição em 2022 no segundo turno com 50,90% dos votos.

O autor da publicação do conteúdo falso foi procurado, mas não retornou até a publicação desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de agosto, a publicação registrava 85 mil visualizações e 14,5 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Vídeo original com a entrevista de Elon Musk na íntegra, disponível no YouTube. A reportagem encontrou o conteúdo fazendo uma busca no Google do que ele diz sobre educação e inteligência artificial. Também foram consultados reportagens e o site do TSE.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: São frequentes publicações com desinformação envolvendo Elon Musk com a eleição de Lula. O Comprova já mostrou que o bilionário não comprou o Grupo Globo e que é enganoso post que associa queda em ações da Tesla com embates entre Musk e Alexandre de Moraes. Sobre conteúdos questionando a eleição, o projeto já mostrou, por exemplo, ser falso que o petista não poderia ser diplomado.

 

Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Política

Investigado por: 22/08/2024

Bolsonaro não é classificado como genocida em livro didático da Noruega, diferentemente do que afirma post

Enganoso
É enganosa a publicação que afirma que livro do ensino médio da Noruega retrata Jair Bolsonaro (PL) como genocida responsável por 700 mil mortes pela covid-19 no Brasil. A editora responsável pela publicação disse que a obra não afirma que houve um genocídio, mas sugere que os alunos reflitam sobre os responsáveis pelo grande número de óbitos no país.

Conteúdo investigado: Postagem afirmando que livro didático do ensino médio da Noruega retrata o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como genocida responsável por 700 mil mortes de covid-19 no Brasil. A publicação traz a imagem de um livro que contém uma foto do ex-presidente, junto com um texto em norueguês.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Post engana ao afirmar que um livro didático norueguês retrata Jair Bolsonaro (PL) como genocida responsável pelas 700 mil mortes de covid-19 no Brasil. A publicação utiliza imagem com baixa resolução do livro “Fabel 10”, da editora Aschehoug, destinado ao aprendizado da língua norueguesa e vendido para escolas que ensinam a estudantes com idades entre 13 e 16 anos.

O trecho em questão cita a pandemia em um capítulo sobre teorias da conspiração, mídia e política. Além disso, diz que Bolsonaro chamou a pandemia de “gripezinha” e não recomendou os mesmos cuidados que o resto do mundo. O texto também ressalta que, apenas no primeiro ano, o Brasil registrou a perda de 260 mil vidas devido ao vírus.

“A negação da covid é um exemplo de desinformação difícil de impedir. Muitas vezes, aqueles que acreditam em teorias da conspiração encontrarão apoio para diversas teorias em sites e redes sociais, onde são apresentados a uma ‘nova verdade’”, diz trecho do texto traduzido pelo Comprova.

Na mesma página, abaixo do texto, o livro traz uma foto de Bolsonaro, e reproduz na legenda uma frase dita pelo ex-presidente em março de 2021 sobre a pandemia: “Chega de frescura, vão ficar chorando até quando?”.

Ainda segundo Aschehoug, os textos também afirmam que o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou a forma como Bolsonaro lidou com a pandemia e foi afastado do cargo por conta disso. Ainda no início de 2020, o apoio do presidente ao uso da cloroquina como tratamento para covid-19 causou um estranhamento público entre os dois. Além disso, Mandetta defendia que o governo deveria seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que gerou mais conflitos.

Os textos seguintes pedem aos alunos que considerem quem é o responsável em situações como a do Brasil. A editora destaca ainda que o texto não usa a palavra genocídio nem implica que houve um genocídio durante este período.

Em agosto de 2022, o G1 noticiou que o livro didático norueguês define Bolsonaro como “um dos maiores negacionistas do coronavírus do mundo”. O UOL também noticiou, em agosto de 2022, que Bolsonaro havia sido retratado como “negacionista da covid” pelo livro norueguês. A reportagem destaca a legenda utilizada pela editora na foto do ex-presidente e afirma que, no dia anterior à declaração do ex-presidente, “o Brasil tinha registrado 1.910 mortes por covid-19, recorde na época”. Até o dia 22 de agosto de 2024, a doença matou 712.889 pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

O Comprova contatou a autora do post, que publicou no X a solicitação de informações sobre fontes e motivações da publicação, afirmando que a checagem seria uma tentativa de compará-la a quem divulga “mamadeira de piroca”. A distribuição de “mamadeiras eróticas” em creches foi checada pelo Comprova em 2018 como informação falsa.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 22 de agosto, a publicação atingiu mais de 716 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Texto do livro didático presente na imagem da publicação, que foi traduzido e checado por falante de norueguês, e contato com a editora responsável pela obra.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Durante a pandemia de covid no Brasil, diversas peças de desinformação envolvendo Bolsonaro foram checadas pelo Comprova, como uma live em que o ex-presidente afirmou que as vacinas contra a doença causam aids e um vídeo do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, tirado de contexto para validar discurso do político.

 

Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova. 

Eleições

Investigado por: 21/08/2024

É enganoso post que usa foto de Ricardo Nunes e padre Lancellotti para alegar apoio à reeleição do prefeito

Enganoso
Publicação engana ao afirmar que foto mostra o prefeito Ricardo Nunes após pedir bênção ao padre Júlio Lancellotti para candidatura à reeleição em São Paulo. A imagem foi publicada antes do período eleitoral, em janeiro deste ano, quando Nunes e Lancellotti se encontraram para debater temas relacionados à população em situação de rua na cidade.

Conteúdo investigado: Postagem divulga imagem do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), ao lado do padre Júlio Lancellotti. A legenda alega que Nunes pediu bênção ao sacerdote para governar São Paulo.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Post tira de contexto foto de Ricardo Nunes e Júlio Lancellotti para afirmar que o padre apoia a reeleição do prefeito nas eleições municipais de São Paulo em 2024. A imagem, no entanto, foi originalmente publicada no Instagram de Lancellotti em 8 de janeiro deste ano. O padre esclareceu que o encontro com Nunes teve como objetivo discutir temas relacionados à população em situação de rua na cidade.

A reunião ocorreu no contexto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar Organizações Não Governamentais (ONGs) que atuam no centro de São Paulo. O vereador Rubinho Nunes (União), autor da proposta, declarou que Lancellotti seria um dos principais alvos da investigação.

Após o encontro, o padre concedeu uma entrevista à CNN Brasil e detalhou os temas discutidos com o prefeito, incluindo a CPI das ONGs. “O prefeito disse que pode prestar os esclarecimentos de que não sou de uma ONG, não recebo recursos, que isso é uma coisa de domínio público e que se a prefeitura for arguida nesse sentido, irá responder isso mesmo: ‘Nós não temos nenhum convênio com a Arquidiocese de São Paulo nem com a Pastoral de Rua nem com nenhuma entidade que o padre Júlio faça parte’”, afirmou.

A foto foi divulgada como se fosse recente, insinuando falsamente o apoio de Lancellotti à reeleição de Nunes. Em resposta ao Comprova, o sacerdote esclareceu que a imagem é antiga, tirada antes do início da campanha eleitoral, e reafirmou que padres não manifestam apoio público a candidatos.

“É uma foto de um dia que eu fui tratar com o prefeito questões ligadas à população em situação de rua. Não há apoio a nenhum candidato e os padres não podem manifestar apoio público a nenhum candidato, apenas levantar critérios”, disse.

A assessoria de Nunes foi procurada, mas não retornou até o encerramento desta checagem. A reportagem tentou contatar o perfil responsável pela publicação, mas a conta não permite o envio de mensagens diretas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de agosto, a postagem no X acumulava mais de 8.857 visualizações, 188 compartilhamentos, 359 curtidas e 267 comentários.

Fontes que consultamos: Utilizamos a busca reversa de imagens e contatamos as figuras públicas citadas na postagem, além da página responsável pela publicação. Pesquisamos também reportagens que noticiaram o encontro entre o padre Lancellotti e Ricardo Nunes em janeiro deste ano.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas de checagem já desmentiram boatos envolvendo o padre Júlio Lancellotti, como a agência Lupa e a AFP. Já no cenário eleitoral, o Comprova verificou recentemente que um vídeo usado para atribuir apoio do Comando Vermelho a Eduardo Paes é falso.

Política

Investigado por: 21/08/2024

Pedido para retirar Brasil da lista de aliados extra-Otan dos EUA é de 2021 e não teve efeito prático

Enganoso
Postagem engana ao sugerir que o Congresso dos EUA pediu recentemente a remoção do Brasil da lista de aliados. Na verdade, 63 deputados democratas enviaram, em 2021, uma carta ao presidente Joe Biden. Nela, pediam o cancelamento de convite para que o Brasil se tornasse parceiro global da Otan, bem como do status de aliado preferencial extra-Otan dos EUA.

Conteúdo investigado: Postagem traz notícia veiculada na CNN com a legenda “Congresso americano pede para retirar o Brasil da lista de aliados”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que sugere que o Congresso americano solicitou recentemente a remoção do Brasil da lista de aliados extra-Otan. A notícia é de 2021, e o pedido foi feito por apenas 63 deputados e não por todo o Congresso (os Estados Unidos têm 435 deputados e 100 senadores), como alega o post investigado.

O vídeo tirado de contexto é da CNN Brasil, exibido em 14 de outubro de 2021, quando esses congressistas democratas enviaram uma carta ao presidente Joe Biden pedindo que ele reconsiderasse a oferta para o Brasil se tornar um parceiro global da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e revogasse a condição de aliado extra-Otan, concedida durante o governo do republicano Donald Trump. O pedido foi baseado na preocupação de que o governo de Jair Bolsonaro (PL) representasse uma ameaça à democracia.

Hank Johnson, congressista democrata e autor da carta, declarou à BBC: “Precisamos rever isso para garantir que não estamos fortalecendo um exército que poderia ser usado em um golpe de Estado”. Segundo Johnson, “Bolsonaro já demonstrou que está criando as condições para um golpe militar. É uma situação alarmante para o Brasil, e nosso país não pode contribuir com isso”.

O pedido dos deputados, contudo, não avançou. Embora o Brasil não tenha ingressado na Otan, o país manteve o status de aliado prioritário extra-Otan. A informação foi confirmada ao Comprova pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Essa posição continua a oferecer vantagens, como a facilidade na aquisição de tecnologia militar e armamentos dos EUA, entre outros benefícios.

O autor da postagem foi procurado, mas não respondeu.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de agosto, a publicação atingiu 130,9 mil visualizações, 6 mil curtidas e mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Procuramos a matéria original no canal da CNN, conferindo a data de publicação. Também entramos em contato com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

Estados Unidos designam Brasil como aliado extra-Otan

Em julho de 2019, o então presidente dos EUA, Donald Trump, designou o Brasil como aliado militar preferencial fora da Otan, facilitando a compra de tecnologia e armamentos americanos e aprofundando a cooperação militar entre os dois países.

O Brasil foi o segundo país da América Latina, depois da Argentina, a obter esse status, que foi oficializado após o Congresso americano não se opor à designação. A medida permite ao Brasil participar de leilões do Pentágono e colaborar no desenvolvimento de soluções de defesa.

Trump também apoiou a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), embora o processo possa levar anos.

Atualmente, a Otan conta com 32 países membros. Em abril de 2019, o secretário-geral da entidade, Jens Stoltenberg, indicou que a aliança militar poderia considerar parcerias com mais países da América Latina, incluindo o Brasil. No entanto, o Tratado de 1949, que criou a Otan, limita a adesão formal a países europeus, conforme estipulado pelo artigo 10, o que impede que nações latino-americanas se tornem membros plenos da organização.

Mesmo após carta, Brasil continua como aliado extra-Otan

Em nota, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil confirmou que a posição do país de “aliado importante extra-Otan” não mudou desde 2019. “A cooperação em defesa entre os dois países continua se intensificando, abrangendo pesquisa, desenvolvimento, segurança tecnológica e a aquisição de produtos e serviços”, informou.

A embaixada destacou que, em 2022, o Congresso brasileiro ratificou um acordo que facilita parceria entre empresas de tecnologia de defesa dos dois países, decisão que, segundo o posicionamento, fortalece “ainda mais essa colaboração”. De acordo com a nota, a designação de aliado extra-Otan proporciona privilégios militares e econômicos, mas “não implica compromissos de segurança para os Estados Unidos”.

No texto, a embaixada afirma que os “Estados Unidos reafirmam sua confiança na democracia do Brasil e destacam que a relação bilateral é baseada em valores democráticos compartilhados”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O UOL Confere publicou, em 2023, uma checagem sobre post que também retirava essa notícia de contexto. O Comprova já verificou outros conteúdos enganosos e mostrou que Lula não admitiu gastar R$ 300 milhões para se eleger e que a trilha sonora de Rebeca Andrade em Paris não faz homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.

Comprova Explica

Investigado por: 20/08/2024

Entenda o que é a mpox, doença que levou OMS a declarar emergência global

Comprova Explica
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou novamente a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), após ter rebaixado seu status em maio de 2023 devido à queda no número de casos. A doença, também conhecida como varíola dos macacos, já havia alcançado o mais alto nível de alerta em julho de 2022.

Conteúdo analisado: Mpox volta a ser considerada emergência de saúde pública internacional e publicações nas redes sociais disseminam desinformação sobre o tema.

Comprova Explica: Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O status já havia sido dado em julho de 2022, mas fora rebaixado em maio de 2023, após queda no número de casos.

A mpox é uma doença zoonótica viral, ou seja, que pode ser transmitida entre animais e pessoas. No Brasil, apenas neste ano, já foram registrados 709 casos; e 16 pessoas morreram desde 2022. Como o assunto está no noticiário, posts de desinformação começaram a circular e, contra isso, a seção Comprova Explica traz detalhes sobre o que é a doença e como ela é transmitida, entre outros pontos.

Quais são os sintomas mais comuns da mpox?

De acordo com o Instituto Butatan, a mpox se inicia com uma fase que se assemelha a uma gripe, em que a pessoa apresenta febre, dor de cabeça e dor no corpo, calafrios, exaustão, que podem durar em média três dias. Na etapa seguinte, surgem lesões na pele que progridem por cinco estágios: mácula, pápula, vesícula, pústula e, finalmente, crosta, que é o estágio final, quando as lesões caem.

Como é transmitida a mpox?

Por ser uma doença viral, ela pode ser transmitida por meio do contato com pessoas, animais e objetos infectados ou contaminados.

Segundo o Ministério da Saúde, a transmissão é mais propensa entre pessoas e animais quando há contato direto com a pele e secreções (pus, sangue), ou exposição próxima e prolongada com gotículas e demais secreções respiratórias. Vale reforçar que, em caso de lesões na boca, a saliva também pode ser infectante.

Quanto aos objetos, eles se tornam um risco após o contato recente com pessoas contaminadas, exigindo atenção principalmente quanto a roupas, toalhas, roupas de cama, pratos e talheres, e itens de higiene pessoal.

A pessoa doente pode transmitir a doença desde o momento em que os sintomas começam até a erupção ter cicatrizado completamente e uma nova camada de pele se formar.

Risco de morte

Segundo o infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda, no continente africano o cenário é mais crítico porque lá a doença também acomete crianças, quadro que não é tão visto nos demais países.

“Em termos de mortalidade, [ocorrem] principalmente na África. A taxa de mortalidade é maior porque acomete também crianças, diferente do acometimento que ocorre no Brasil, na Europa e em outros países”, pontuou.

Segundo a Save the Children, cerca de dois terços das infecções por mpox na República Democrática do Congo (RDC), que atualmente registra cerca de 90% dos casos notificados, ocorrem em pessoas com menos de 15 anos.

Ainda de acordo com a organização, a taxa de mortalidade entre crianças é quase quatro vezes superior à de adultos. O surto, que já causou mais de 500 mortes no país, tem sobrecarregado o sistema de saúde e levado à perda de milhares de crianças.

Os especialistas do CDC África acreditam que o maior número de casos e mortes entre crianças provavelmente se deve à falta de proteção da vacina contra a varíola, que não é aplicada desde 1980 na região, e porque cerca de 40% das crianças estão desnutridas, o que atrapalha o combate ao vírus.

No Brasil, o infectologista aponta que a transmissão é mais comum através de relações sexuais, pois há maior troca de fluídos; e as mortes acontecem com mais frequência em pacientes imunossuprimidos, considerados o grupo de risco.

“A transmissão ocorre nesse grupo, mas o óbito acontece principalmente no paciente que vive com o HIV e está imunossuprimido”, disse Croda.

Esse quadro também é visto no resto do mundo. Já na África, segundo o especialista, a mortalidade é maior, justamente por causa ds variante que acomete também as crianças.

“No caso da África existe uma mortalidade maior, porque [a mpox] acomete também crianças, e tem uma transmissão domiciliar que não é vista no resto do mundo”, esclareceu o infectologista.

Há vacina para mpox?

A vacina pré-exposição existe e é priorizada para pessoas do grupo de risco, que são mais propensas a evoluir para quadros graves da doença. São elas:

  • Pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA); com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses. Linfócitos T CD4, também conhecidos como células T auxiliares, são um tipo de glóbulo branco essencial para o sistema imunológico, que ajuda a coordenar a resposta imune do corpo contra infecções ao ativar outras células imunológicas.
  • Profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade.

A vacina pós-exposição é aplicada em pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas com suspeitas ou confirmadas para mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS, mediante avaliação da vigilância local.

Como se prevenir

A melhor forma de prevenção é evitar o contato direto com pessoas contaminadas.

Outras medidas, como o uso de máscara cobrindo boca e nariz, evitar ambientes fechados e aglomerações, além de higienizar as mãos frequentemente, também são recomendadas.

O que significa a emergência sanitária declarada pela OMS? 

A declaração de uma ESPII da OMS indica que uma situação de saúde pode constituir um risco de saúde pública para outros países, devido à disseminação de uma doença, o que requer uma resposta internacional coordenada e imediata.

A Emergência de Saúde foi decretada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, devido ao aumento dos casos de mpox na República Democrática do Congo e em um número crescente de países na África.

Esta é a segunda vez que foi declarada ESPII nos últimos dois anos para a mpox.

Em resposta à medida da OMS, o governo brasileiro estabeleceu o Centro de Operações de Emergências (COE Mpox), que tem como objetivo fiscalizar, centralizar e coordenar as ações de monitoramento e resposta à situação epidemiológica em todo o território nacional.

Histórico da doença

A primeira declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) para mpox feita pela OMS ocorreu em julho de 2022.

Qual é a diferença entre a declaração atual e uma pandemia?

De acordo com a OMS, uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional é o mais alto nível de alerta da Organização.

A ESPII é considerada, nos termos do Regulamento Sanitário Internacional (RSI), “um evento extraordinário que pode constituir um risco de saúde pública para outros países devido à disseminação internacional de doenças; e potencialmente requer uma resposta internacional coordenada e imediata”.

Já uma pandemia, ainda segundo a OMS, é a disseminação mundial de uma nova doença e o termo passa a ser usado quando uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa.

O infectologista Julio Croda também esclarece:

“O decreto de emergência está muito associado a uma resposta mais robusta, principalmente no continente africano”, explicou o especialista.

Segundo Croda, existe um surto relacionado à nova variante da doença, chamada clado 1B, que parece ser mais grave se comparada com o clado 2, que circulou anteriormente.

Além disso, defende que existe uma dificuldade financeira de fazer o vacinamento de contato e contenção do surto, e também de disponibilizar vacinas suficientes para esse grupo populacional, principalmente na África, continente mais atingido pela doença atualmente.

O especialista ainda ajuda a diferenciar a pandemia de declaração de emergência: “A pandemia se configura por uma transmissão de uma doença em forma de surto em diversas regiões do globo. O que, por enquanto, não é o caso da mpox associada ao clado 1B”.

Quantos casos da doença há no Brasil? Onde estão localizados?

Dados do governo federal apontam que de 1º de janeiro a 14 de agosto de 2024 foram registrados 709 casos confirmados ou prováveis da doença no Brasil.

Os números deste ano são bem menores do que os registrados no ano passado, quando foram notificados mais de 10 mil casos confirmados ou prováveis da mpox.

Desde 2022, ano em que a doença teve pico no Brasil, 16 pessoas morreram, sendo o óbito mais recente registrado em abril de 2023.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que agora, com a criação do COE Mpox, serão realizadas reuniões semanais para debater o assunto, que resultarão também em boletins mais precisos e transparentes para informar a população sobre o cenário da doença no Brasil.

Fontes consultadas: Para esclarecer o assunto, o Comprova consultou o Ministério da Saúde e o infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Outras iniciativas como o g1, também explicaram sobre o que é mpox e sobre a emergência sanitária causada pela doença. Além disso, o UOL, Terra e Agência Brasil também produziram reportagens acerca do assunto e a Organização Pan-Americana da Saúde criou uma seção de perguntas e respostas sobre a mpox.