O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2024-05-02

É enganoso que Brasil tenha comprado vacina contra a covid banida em outros países

  • Enganoso
Enganoso
Não é verdade que o Brasil comprou vacinas que foram banidas em diversos países, diferentemente do que afirma post. As primeiras doses vendidas pelo laboratório Moderna foram realocadas para diferentes públicos ao longo das campanhas, mas nunca excluídas das ações. A versão atual do imunizante é aprovada pela Anvisa e recomendada pela OMS.

Conteúdo investigado: Mensagens no X e no Telegram sobre a compra pelo governo brasileiro de mais de 12 milhões de doses da vacina contra a covid-19 da Moderna. Post afirma que “inúmeros países” já baniram o imunizante “devido a graves problemas”.

Onde foi publicado: X e Telegram.

Conclusão do Comprova: Post engana ao afirmar que o Brasil acaba de comprar uma vacina contra a covid-19 banida em inúmeros países. O governo federal anunciou a aquisição de 12,5 milhões de doses da farmacêutica Moderna em 19 de abril. Segundo o Ministério da Saúde, o lote faz parte dos imunizantes mais atualizados contra a doença, aprovado pela Anvisa e recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O imunizante que o responsável pelo post se refere é a versão original (bivalente), que teve o público-alvo alterado em alguns países por causa de efeitos adversos. No entanto, a vacina Moderna não foi banida.

Como o próprio post mostra, na Suécia, por exemplo, o governo suspendeu a vacina para menores de 30 anos em outubro de 2021. Mas, o que o post não informa é que órgãos de saúde do país voltaram a oferecer o imunizante em outubro de 2022, com novas diretrizes para crianças acima de seis anos.

Outro exemplo de país que teria banido a vacina, segundo o post, foi o Japão, mas isso não ocorreu. Em agosto de 2021, o governo suspendeu o uso de 1,63 milhão de doses após “relatos de contaminantes em alguns frascos”. Diferentemente do que o post sugere, não foi identificado nenhum problema de segurança ou eficácia e a suspensão foi apenas uma precaução, segundo autoridades japonesas e a Moderna.

Como reações adversas graves, a bula da versão atual da vacina cita casos de miocardite e pericardite, condições que afetam o coração. Ainda assim, o risco de desenvolvimento dessas doenças, segundo a farmacêutica, é muito raro e ocorre em menos de 0,01% dos pacientes que utilizam o medicamento. A maioria se recuperou, mas há casos fatais, segundo o laboratório. As reações mais comuns são inchaço, dor de cabeça, dores musculares, náuseas e diarreia.

A publicação também traz um vídeo traduzido do inglês em que o médico Robert Malone fala sobre riscos da vacina da Moderna a congressistas norte-americanos. A sessão foi gravada em Washington em 2023 e divulgada pela republicana Marjorie Taylor Green, publicamente anti-vacina e que já teve o perfil do X derrubado por compartilhar desinformação sobre a covid-19. Malone também é conhecido por difundir informações falsas sobre vacina e já foi desmentido diversas vezes.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a publicação teve, até 30 de abril, mais de 118,8 mil visualizações e, no Telegram, 4 mil.

Fontes que consultamos: Links dos sites New York Post, BMJ e The Straits Times, citados pelo autor, do Ministério da Saúde e da OMS.

Moderna diz que vacina está atualizada

Um dos argumentos do post que tenta descredibilizar a vacina é o de que a dose atual produzida pela Moderna não protege os humanos da variante do coronavírus em circulação, o que não é verdade. A publicação compartilha outro post de um médico infectologista alegando que o imunizante não combate a linhagem JN.1, descendente da XBB e que vem aumentando de forma exponencial entre os infectados.

Em dezembro de 2023, a OMS publicou uma diretriz sobre qual deveria ser a composição dos imunizantes para acompanhar a evolução do vírus. Na nota, a organização manteve a recomendação de usar como antígeno vacinal uma linhagem descendente da variante XBB.1, como a XBB.1.5. A orientação já vinha sendo aplicada pelos laboratórios desde maio do ano passado. Segundo a OMS, pesquisas indicam que vacinas com essa composição tiveram resultados positivos na neutralização da JN.1. A entidade pondera que os dados ainda são limitados.

Ao divulgar informações sobre o acordo fechado com o governo brasileiro, a Moderna esclareceu, em nota oficial, que a farmacêutica “gerou dados pré-clínicos e clínicos de sua vacina candidata monovalente XBB.1.5 mostrando uma resposta imunológica contra sub-linhagens XBB e cepas atualmente circulantes do vírus SARS-CoV-2, incluindo JN.1”. Ou seja, o imunizante apresentou benefícios no combate à variante em circulação.

Em um texto publicado no site do Ministério da Saúde, o médico infectologista e doutor em Epidemiologia Sérgio de Andrade Nishioka explicou que todas as vacinas usadas atualmente protegem contra formas graves da covid-19, independentemente da linhagem. “Novas variantes como JN.1, porém, são mais transmissíveis que as variantes anteriormente mais prevalentes, e podem infectar e causar doença em pessoas previamente imunizadas pela vacina e/ou infecção anterior.” Todas as vacinas aprovadas pela Anvisa apresentaram resultados eficazes e de segurança; essa é a principal estratégia de prevenção.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Diversas publicações com informações falsas sobre vacinas foram checadas pelo Comprova, incluindo a de que um estudo de Cambridge comprovou que pessoas vacinadas contra a covid-19 adquiriram Aids e que o imunizante cause danos irreversíveis ao DNA.

Eleições

Investigado por: 2024-05-02

Barroso reproduzia relato de senador quando disse que “eleição em Roraima não se ganha, se toma”

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao afirmar que o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, disse que “eleição não se ganha, se toma”. A frase foi retirada do contexto original, quando Barroso repetiu as palavras ditas por um senador enquanto se referia ao cenário eleitoral de Roraima antes do voto eletrônico. A gravação com a fala foi editada e o momento em que o nome do estado é citado foi cortado.

Conteúdo investigado: Vídeo antigo voltou a circular e argumenta que o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, teria dito que “eleição não se vence, se toma”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação engana ao dizer que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, teria dito que “Eleição não se ganha, se toma”. O post utiliza uma gravação feita na Câmara dos Deputados, em que o magistrado fala sobre o contexto das eleições de Roraima antes do voto eletrônico. O vídeo manipula o conteúdo original ao suprimir, na legenda, o nome do estado, dando a entender que as eleições como ocorrem hoje no país todo são fraudulentas.

No dia 8 de junho de 2021, Barroso atendeu no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um grupo de parlamentares, entre eles o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e seu filho, o deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR). Na ocasião, segundo nota publicada pelo TSE, o senador narrou ao ministro que, por duas vezes, havia ganhado eleições em seu estado, mas que “as eleições lhe foram tomadas”. Daí a origem da frase “eleição em Roraima não se ganha, se toma”. Mecias esclareceu que isso se passava no tempo do voto em cédula. E acrescentou que, com a implantação do voto eletrônico, não puderam fraudar a eleição. Assim, ele finalmente obteve a vaga.

Ao comparecer à Câmara dos Deputados, no dia seguinte, em conversa com parlamentares, Barroso narrou a história que ouviu do senador Mecias de Jesus e repetiu a passagem que a resumia: “Eleição em Roraima não se ganha, se toma”, como mostra o vídeo original da fala publicada pela TV Câmara no YouTube.

É possível ouvir que Barroso cita “Roraima” nesse registro original, diferentemente da publicação enganosa que suprime o nome do estado e tira a fala do contexto. O ministro se referia à situação da votação em Roraima ao tempo do voto de papel, antes da implantação das urnas eletrônicas. “Eu brinquei com ele que eleição em Roraima não se ganha, se toma”.

Logo após a primeira repercussão do vídeo, o deputado Jhonatan de Jesus telefonou ao ministro Barroso, relembrou o episódio e ressaltou que a fala do ministro foi editada e retirada de contexto.

Em 12 de abril de 2023, o ministro relembrou o ocorrido e reforçou a edição de vídeo atribuída a ele disseminada nas redes sociais. “Eu nunca disse que ‘eleição não se ganha, que eleição se toma’. Nunca disse isso. Mas, se entrarem na internet, eles fazem uma edição macabra de textos separados e colocam. Portanto, a mentira passou a ser uma estratégia política. E aí é preciso ter uma coisa clara: esse não é um problema ideológico. Pode ser conservador, pode ser progressista, pode ser liberal. A mentira é um problema ético, não é um problema político.”

Meses depois, em 14 de setembro de 2023, Barroso voltou a citar a edição no vídeo ao rebater a defesa de Thiago Mathar, segundo réu julgado no STF pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O advogado do investigado citou o ministro como autor da frase antidemocrática.

O autor da publicação enganosa foi procurado pelo Comprova, mas não se manifestou.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de abril, a publicação tinha 818,4 mil visualizações no X e 38 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Fizemos uma busca pela frase que teria sido dita pelo Barroso e encontramos uma nota do TSE, um vídeo da Justiça Eleitoral desmentindo o vídeo manipulado e reportagens em que o ministro explica em qual contexto o comentário foi feito. Também localizamos um vídeo publicado pela TV Câmara com a íntegra da fala do ministro.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Ministros do STF são alvo frequente de desinformação. Nesse caso, a Justiça Eleitoral publicou um vídeo explicando que a frase foi tirada de contexto. Além disso, em 2021, o UOL Confere publicou uma verificação sobre o tema, mostrando que a frase dita por Barroso havia sido distorcida por bolsonaristas. O Comprova também já mostrou ser enganoso que o ministro queria socializar investimentos de brasileiros e que o STF quer barrar cristãos na política.

Política

Investigado por: 2024-04-30

Elon Musk não comprou o Grupo Globo

  • Sátira
Sátira
Trata-se de uma sátira o post que afirma que o bilionário Elon Musk teria comprado “mais de 99%” das ações do Grupo Globo. O vídeo altera trecho do Jornal Nacional e manipula a voz da apresentadora Renata Vasconcellos para fazer parecer que o conteúdo seria verdadeiro.

Conteúdo investigado: Vídeo com os dizeres “Negócio fechado! Elon compra a Gr0bo” exibe trecho do Jornal Nacional com fala da apresentadora Renata Vasconcellos sobre a compra de ações pelo empresário Elon Musk e diz que o bilionário teria se tornado o maior acionista do Grupo Globo ao comprar mais de 99% das ações do conglomerado de mídia.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É satírico o vídeo que manipula a voz da apresentadora Renata Vasconcellos, do Jornal Nacional, para afirmar que Elon Musk teria comprado mais de 99% das ações do Grupo Globo.

O conteúdo investigado insere um áudio com a voz da apresentadora, que não corresponde com a leitura labial do que ela afirma originalmente. “Ele comprou mais de 99% das ações da empresa Roberto Marinho, que controla o cidadão antes de votar”, diz o áudio manipulado.

No vídeo original disponível no Globoplay, publicado no dia 4 de abril de 2022, a apresentadora fala sobre a negociação do empresário com o Twitter.

Naquele dia, Musk se tornou o maior acionista individual da rede social ao comprar mais de 9% das ações da companhia (a compra seria concretizada em outubro do mesmo ano). Tanto na chamada quanto na reportagem exibida em seguida, não é citada nenhuma negociação envolvendo o Grupo Globo. Procurada pelo Comprova, a emissora reforçou que o conteúdo não é real e trata-se de um deepfake.

Na publicação, alguns entenderam que o vídeo tratava-se de uma sátira, uma vez que apresenta a descrição “vídeo fictício produzido e redublado para fins humorísticos”, mas é possível encontrar comentários de pessoas que consideraram o conteúdo como verdadeiro. “Sucesso Elon Musk suas palavras verdadeiras serão nossas esperanças”, disse um internauta. “Parabéns Elon Musk”, comentou outro usuário do TikTok.

A compra das ações feita por Musk em abril de 2022 ocorreu no início das negociações do empresário para adquirir a rede social. No mesmo mês, o bilionário fez a primeira oferta para comprar a companhia. As transações só foram finalizadas em outubro de 2022, após um longo trâmite envolvendo desistências e processos judiciais.

Sátira, para o Comprova, são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de abril de 2024, o vídeo satírico publicado no TikTok tinha 1,1 milhão de visualizações, 36,4 mil curtidas, 17,1 mil compartilhamentos e mais de 4 mil comentários.

Fontes que consultamos: Procuramos por notícias relacionadas a Elon Musk e a compra da TV Globo, entramos em contato com o canal e consultamos o que diz a Constituição sobre a regulação de veículos de mídia no Brasil.

Musk poderia comprar a Globo?

Mesmo que Musk tivesse interesse em comprar o Grupo Globo, o empresário seria barrado pela Constituição brasileira, que proíbe a participação total de estrangeiros em veículos de mídia do Brasil, como detalha o Art. 222 da legislação.

“A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no país.”

Além disso, uma emenda constitucional determinou, em maio de 2002, que pelo menos 70% do capital total e do capital votante dessas empresas deve pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. O mesmo se estende à gestão das atividades e o conteúdo da programação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Publicações com desinformações envolvendo o bilionário sul-africano são frequentes. O Comprova já mostrou ser enganoso post que associa a queda em ações da Tesla com embates entre o empresário e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e concluiu ser falsa a foto em que Bolsonaro aparece em uma lancha com Musk.

Política

Investigado por: 2024-04-30

OMS não publicou guia que recomenda masturbação para crianças

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que a OMS tenha publicado um guia de orientação sexual para crianças, incentivando masturbação e início precoce da vida sexual. A organização tem manuais sobre o tema, mas eles são voltados para professores e profissionais da saúde, e dizem apenas que dúvidas relacionadas ao assunto podem surgir em diversas faixas etárias.

Conteúdo investigado: Em vídeo, o youtuber português Sérgio Tavares diz que a OMS criou um guia de orientação sexual para crianças, recomendando que iniciem a vida sexual o mais breve possível. Ele também atribui à organização um vídeo em que adultos falam com crianças sobre masturbação. A publicação foi compartilhada pelo vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL).

Onde foi publicado: X e Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha criado um guia de orientação sexual para crianças. De fato, há documentos sobre o tema associados à organização publicados em 2010 e 2018, mas eles são voltados para profissionais da saúde e da educação, e não contêm os trechos apontados no vídeo verificado.

Em 2016, a fundação alemã BZgA, que organizou um desses documentos, disse em nota que era alvo constante de desinformação, e que não incentivou masturbação para crianças de 1 a 4 anos. O texto apenas diz a pais e professores que dúvidas relacionadas ao assunto podem surgir nessa faixa etária. “Consideramos crucial que a educação sexual seja apropriada para a idade”, escreveram.

A fundação, que colabora com a OMS, diz ainda que a educação sexual “não se restringe ao ato sexual”. “Se a educação sexual começar desde cedo, pode ser proativa e ajudar a proteger [a criança] de desinformação no futuro. A educação sexual gradualmente equipa e empodera crianças e jovens com informações, habilidades e valores positivos para que entendam e aproveitem sua sexualidade, tenham relacionamentos seguros e satisfatórios quando estiverem prontos, e se responsabilizem pela saúde e bem-estar sexual próprio e alheio”, afirma trecho da nota.

O conteúdo verificado também alega que a OMS teria publicado um vídeo incentivando a masturbação infantil, o que não é verdade. A publicação é, na verdade, da ONG holandesa Rutgers, e mostra pais e filhos conversando sobre o corpo humano e a masturbação de maneira educativa, em gravação de março de 2023.

A ONG apagou o vídeo após a repercussão negativa. “Verificamos que o vídeo está sendo retirado do contexto e usado para espalhar desinformação. Para proteger as crianças no vídeo, apagamos a publicação”, escreveram na rede social X. O vídeo fazia parte de uma campanha nacional de educação sexual que acontece há 18 anos na Holanda. Funcionários da Rutgers chegaram a ser xingados e ameaçados, segundo o jornal KRO-NCRV.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 30 de abril, o vídeo tinha 413 mil visualizações no Instagram, e 124 mil no X.

Fontes que consultamos: Colocamos imagens do vídeo atribuído à OMS na busca reversa, o que nos levou a um vídeo no YouTube de um partido de direita da Holanda, que citava qual era a organização que publicou o conteúdo originalmente. Também buscamos no Google os trechos de documentos que o youtuber cita, usando aspas para restringir os resultados somente a correspondências exatas da frase. Por fim, entramos em contato com o vereador do Rio Carlos Bolsonaro pelo e-mail que aparece em sua página na Câmara Municipal, questionando sobre a publicação, mas não obtivemos resposta até o momento.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O vídeo também foi checado pelo Estadão Verifica. Em 2020, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou a mesma desinformação sobre o documento da OMS. À época, G1, Aos Fatos, UOL e O Globo mostraram que as afirmações eram falsas. O mesmo influenciador também foi desmentido pelo Comprova quando afirmou que urnas eletrônicas brasileiras teriam sido hackeadas nos EUA.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-04-30

É falso que alimentos com ‘selo da rã’ sejam sintéticos e produzidos por Bill Gates

  • Falso
Falso
Post mente ao dizer que alimentos que possuem o “selo da rã” foram fabricados por empresa de Bill Gates, são sintéticos e contaminados por insetos. O símbolo do anfíbio representa o certificado Rainforest Alliance, organização internacional sem fins lucrativos que promove ações sociais e de preservação ambiental, e não tem nenhuma ligação direta com o empresário.

Conteúdo investigado: Post com vídeo mostrando vários produtos alimentícios industrializados com um selo na embalagem cujo logo tem uma rã. A gravação é acompanhada da seguinte legenda, em letras maiúsculas: “Urgente! Não consumam os produtos com a marca da rã. São alimentos da indústria do (criminoso) o senhor Bill Gates. Lembrando que são alimentos contaminados, cujo objetivo é redução populacional e destruir o agro no mundo, esses da rã são sintéticos. Boicotem!”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É falso que alimentos cujas embalagens apresentam o selo da Rainforest Alliance, representado por uma rã dentro de um círculo, estejam contaminados a fim de reduzir a população mundial ou destruir o agronegócio. Também é mentira que as indústrias fabricantes dos alimentos que possuem o selo ou a própria organização sejam de Bill Gates.

A Rainforest Alliance é uma organização internacional sem fins lucrativos presente em mais de 70 países, incluindo o Brasil, cujo objetivo, segundo a entidade, é “proteger as florestas e a biodiversidade, combater as mudanças climáticas e promover os direitos e a melhoria das condições de vida das comunidades rurais”. Para alcançar tal objetivo, a instituição desenvolve um programa de certificação para empresas que promovem a preservação de florestas, os direitos humanos e a subsistência.

A presença do selo em embalagens garante que sua produção cumpriu os critérios social, econômico e ambiental exigidos. Isso significa que os produtos têm pouco impacto ambiental (o menor possível) e não foram feitos com base em exploração de mão de obra análoga à escravidão ou infantil, entre outros aspectos. Para conseguir a certificação e estampar o selo em seus produtos, cada empresa precisa passar pela avaliação de auditores independentes, uma forma de garantir a integridade do programa.

Embora seja responsável por avaliar o cumprimento dos critérios, a organização não participa ou tem qualquer relação com a produção dos alimentos. Cabe à própria empresa buscar a certificação de um produto específico, que pode ser válida em todos os países participantes ou em Estados específicos.

A escolha do mascote da Rainforest Alliance se dá pelo fato de a rã de olhos vermelhos ser um bioindicador — se há uma população saudável desse animal, isso significa que o local também é sustentável.

O Comprova tentou contato com o responsável pela publicação falsa, mas o perfil não permite envio de mensagens diretas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também foi procurada e respondeu que “não há ações fiscais publicadas para estes produtos com estes nomes nos últimos 4 anos”.

Falso, para Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Organização não é de Bill Gates

A Rainforest Alliance tem diferentes fontes de receitas, sendo as principais royalties de participação provenientes de certificação, subvenções de governos e fundações e doações individuais. A organização disponibiliza anualmente um relatório onde é possível consultar os valores recebidos, gastos e projetos financiados.

Bill Gates, apontado como o dono da Rainforest Alliance, na realidade é apenas um colaborador, e não possui ligação direta com a organização. O empresário, por meio de sua fundação Bill & Melinda Gates Foundation, fez uma doação para a aliança no valor de US$ 5,3 milhões (R$ 27,1 milhões, na cotação atual) em novembro de 2007 para apoiar o desenvolvimento agrícola na África. A fundação do bilionário não aparece entre os doadores nos últimos relatórios da organização.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de abril, a publicação no X tinha 218,8 mil visualizações, 5 mil curtidas e 321 comentários.

Fontes que consultamos: Primeiramente, pesquisamos no Google as palavras-chave “marca rã alimentos” e encontramos checagens sobre o assunto. Em seguida, consultamos também o site da Rainforest Alliance, que aparece facilmente nas pesquisas e explica o “certificado da rã”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Em fevereiro, UOL Confere e Estadão Verifica já haviam desmentido o conteúdo investigado nesta verificação. Comprova também já desmentiu alegações sobre Bill Gates, como uma que relacionava um programa parcialmente financiado pelo bilionário a surto de dengue.

Política

Investigado por: 2024-04-29

Alexandre de Moraes não cometeu crime ao determinar prisão de cidadã americana

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que Alexandre de Moraes, ministro do STF, tenha invadido a fronteira dos Estados Unidos ao determinar a prisão de uma moradora daquele país que tem dupla cidadania — brasileira e norte-americana. O mandado só é válido em território brasileiro. Uma solicitação de busca pela pessoa pode ser feita à Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, porém não é considerada um mandado de prisão internacional e os países membros aplicam as suas próprias leis ao decidir se devem ou não prender alguém.

Conteúdo investigado: Post em inglês afirma que Alexandre de Moraes cometeu crime ao “invadir as fronteiras americanas para emitir um mandado de prisão contra um cidadão americano”, porque o alvo da decisão judicial tem dupla cidadania, brasileira e norte-americana, e vive nos Estados Unidos. O texto é acompanhado de print do mandado de prisão, com os dados de identificação do alvo ocultos.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), cometeu crime ou invadiu as fronteiras dos Estados Unidos ao emitir um mandado de prisão contra uma cidadã com dupla cidadania — brasileira e norte-americana.

Ao realizar uma busca no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões por 8 de fevereiro, data que consta no mandado de prisão anexado à postagem no X, a reportagem identificou duas decisões expedidas pelo ministro naquele dia. A prisão citada na postagem foi determinada contra Flávia Cordeiro Magalhães, também identificada no documento como Flávia Magalhães Soares.

O Comprova não conseguiu localizar Flávia, mas, em um vídeo postado nas redes sociais em 2023, ela relata que tem dupla cidadania, brasileira e norte-americana, e que mora nos Estados Unidos há 22 anos.

Na decisão, Moraes alegou que a mulher insiste no descumprimento de decisões anteriormente proferidas ao “continuar divulgando notícias fraudulentas nas redes sociais”. A conta de Flávia no X está atualmente retida.

Como explica a advogada criminalista Railane Roma, do Escritório Jorge Advogados, não há ilegalidade em uma autoridade do Brasil expedir mandado de prisão para cidadãos de qualquer nacionalidade. “O cidadão que entrar no território nacional brasileiro está sujeito ao cumprimento das leis brasileiras e, em caso de cometimento de algum crime que tenha a prisão como pena, ele poderá ser recolhido, seja por prisão em flagrante delito ou por prisão preventiva”.

Segundo a especialista, desta forma, ainda que não seja confirmada a cidadania do alvo, não haveria impacto na legalidade da expedição do mandado de prisão pelo ministro ou por qualquer outra autoridade competente.

Também não há “invasão de fronteiras” porque o mandado de prisão não será cumprido em solo americano. Um exemplo de caso dessa natureza é do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, contra quem há mandado de prisão expedido e cuja extradição foi solicitada aos Estados Unidos, mas negada pelo governo americano. No caso de Flávia, ela só será presa se entrar em território brasileiro ou se for extraditada para o país.

Há uma instrução normativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que busca facilitar a localização de pessoas com mandados de prisão e que estejam em outros países por meio do sistema da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, da qual o Brasil é membro.

Desta forma, cidadãos brasileiros procurados pela Justiça podem ser incluídos na “lista vermelha”. Caso isso ocorra, é feito um pedido para que autoridades em todo o mundo localizem e prendam provisoriamente uma pessoa. Porém, essa ação não equivale a um “mandado de prisão internacional”, pois os países membros aplicam as suas próprias leis ao decidir se devem ou não prender uma pessoa.

A maioria dos nomes na lista está restrita ao uso policial, ou seja, não são públicos, porém alguns são publicados a pedido do país que os procura quando o foragido ameaça a segurança pública, ou a ajuda popular é considerada necessária para localizar uma pessoa. O nome de Flávia não está entre os de sete mulheres brasileiras listadas publicamente.

A assessoria de imprensa do STF foi procurada para comentar o caso, mas não se manifestou.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 29 de abril, a publicação tinha 1,3 milhão de visualizações, 8 mil curtidas e 2 mil retweets.

Fontes que consultamos: Consultamos o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões, notícias sobre casos semelhantes ao citado no post, um especialista em Direito Penal, a Interpol e entramos em contato com o STF.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A alegação aqui checada também foi desmentida por Aos Fatos. O Comprova já checou outras alegações semelhantes, como a que mostrou ser falso que o FBI pediu a extradição e prisão de Alexandre de Moraes e que Lula não deu indulto a Cesare Battisti, ao contrário do que afirma tuíte.

Política

Investigado por: 2024-04-25

Influenciador português engana ao afirmar que Globo noticiou sobre urnas eletrônicas brasileiras hackeadas nos EUA

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao usar fala de influenciador português para afirmar que a TV Globo divulgou que as urnas eletrônicas brasileiras são “hackeáveis”, após terem o sistema invadido em uma convenção de hackers nos Estados Unidos. De fato, participantes do evento em Las Vegas conseguiram hackear equipamentos, mas modelos que passaram pelos testes não eram os usados no Brasil.

Conteúdo investigado: Post com fala do influenciador português Sérgio Tavares, durante audiência pública no Senado, em que ele afirma que a TV Globo informou, em 2019, que uma convenção de hackers em Las Vegas comprovou que as urnas eletrônicas brasileiras são hackeáveis. Tavares diz ainda que o voto eletrônico é usado apenas por países de Terceiro Mundo.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Uma declaração do influenciador Sérgio Tavares engana ao afirmar que as urnas eletrônicas brasileiras podem ser hackeadas. Segundo o português, que se apresenta como jornalista, a TV Globo noticiou em 2019 que o modelo usado no país foi invadido em poucos minutos, durante uma convenção de hackers em Las Vegas. A fala é enganosa: o congresso ao qual ele se refere, o DefCon, aconteceu em 2017 e avaliou a segurança das urnas eletrônicas dos Estados Unidos, e não as utilizadas no Brasil.

A afirmação ocorreu em 23 de abril, quando Tavares relatava a senadores, durante depoimento à Comissão de Segurança Pública (CSP), ter sido questionado sobre as urnas eletrônicas não serem confiáveis ao ser detido pela Polícia Federal (PF), em 25 de fevereiro, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. “Eles deveriam ser os primeiros a saber que as urnas eletrônicas são hackeáveis, comprovadamente hackeáveis, como a Globo noticiou em 2019, numa convenção de hackers em Las Vegas, onde, em poucos minutos, os hackers entraram nas urnas no mesmo modelo brasileiro”, respondeu.

O depoimento do português provavelmente faz referência a uma participação do advogado Ronaldo Lemos na GloboNews em 2017. Em um trecho do programa Estúdio I, da GloboNews, em 7 de agosto de 2017, o cientista-chefe do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio) explicou que todos os equipamentos testados na convenção em Las Vegas foram invadidos, mas a análise não tinha relação com o Brasil. “A gente tem que lidar com calma com essa situação, porque também, depois, as pessoas ficam achando que isso tem a ver com o Brasil”, apontou.

Em um artigo publicado pela Folha de S.Paulo, Lemos pediu que parassem de usar sua fala para espalhar desinformação. Em 2021, a informação foi desmentida pela Justiça Eleitoral. “Em nenhum momento os equipamentos brasileiros foram submetidos aos testes realizados durante a conferência”, afirmou o órgão. No mesmo ano, o Comprova e outras iniciativas de checagem também mostraram que o comentário de Ronaldo Lemos havia sido tirado de contexto. Procurado pela reportagem, o responsável pela publicação ironizou o pedido de contato e não respondeu aos questionamentos.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 25 de abril, o post tinha 413 mil visualizações, 31 mil curtidas, 8 mil compartilhamentos e 679 comentários. A publicação em outro perfil no X alcançou 10,1 mil visualizações, 923 curtidas e 374 compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Inicialmente, procuramos quando e em qual contexto ocorreu a fala do influenciador português e encontramos as informações no site do Senado. Em seguida, procuramos pela reportagem da TV Globo citada por Sérgio Tavares e encontramos o comentário na íntegra no site da GloboNews no G1, bem como outras verificações sobre o tema. Além disso, consultamos o site e a assessoria de imprensa da Justiça Eleitoral para esclarecimentos sobre a informação investigada. Por fim, fizemos buscas pelo perfil do comunicador e contato com o responsável pela publicação.

Urnas eletrônicas são usadas em 46 países

No mesmo depoimento, Sérgio Tavares afirmou que “em Portugal, na Europa, não há nenhum país que usa urnas eletrônicas” e que o sistema seria usado apenas pelo “terceiro mundo”. Contudo, uma publicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta que o voto eletrônico é adotado por pelo menos 46 nações, segundo levantamento do Instituto para Democracia e Assistência Eleitoral Internacional (Idea) – organização intergovernamental que apoia democracias sustentáveis em todo o mundo -, das quais 29 em eleições nacionais.

Integram a lista países como Suíça, Canadá, Austrália, Estados Unidos e Coreia do Sul. Contudo, alguns usam as urnas eletrônicas apenas em estados e pleitos. Além disso, somente o Brasil e outras 15 nações utilizam os modelos com gravação direta, com ou sem impressão de comprovante verificável pelo eleitor.

No Brasil, a urna eletrônica foi adotada em 1996 e, desde então, nenhuma fraude foi comprovada. A Justiça Eleitoral esclarece que os equipamentos não são conectados à internet, nem possuem placa que dê acesso a outro tipo de conexão em rede (wi-fi ou bluetooth). “O dispositivo funciona de maneira isolada e sequer realiza a transmissão dos resultados da votação, que já são conhecidos pela população logo após o término da eleição, com a impressão do Boletim de Urna (BU)”, informa o TSE.

Comissão investiga abordagem da PF a influenciador português

O diretor de Polícia Administrativa da Polícia Federal (PF), delegado Rodrigo de Melo Teixeira, e Sérgio Tavares foram ouvidos em audiências públicas da CSP em 19 de março e 23 de abril, respectivamente. Os depoimentos foram convocados pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), com o objetivo de esclarecer a retenção do português no Aeroporto de Guarulhos, em 25 de fevereiro. Segundo o parlamentar, a corporação constrangeu e intimidou o influenciador.

Sérgio Tavares foi retido pela Polícia Federal quando desembarcou em Guarulhos para cobrir as manifestações de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista (SP), e ficou no aeroporto por quatro horas. Na ocasião, a PF alegou que ele não apresentou visto de trabalho e que os policiais seguiram o “procedimento padrão” para apurar se ele estava no Brasil a turismo ou para trabalhar.

Uma norma de 2017 do Conselho Nacional de Imigração (CNI) exigia visto de trabalho temporário a estrangeiros que pretendiam vir ao Brasil exercer atividade jornalística. Em 7 de dezembro de 2022, contudo, houve uma mudança e uma normativa do Ministério das Relações Exteriores isentou do visto cidadãos europeus que viajem ao Brasil para exercer atividade jornalística por 90 dias, desde que a atividade não seja remunerada por fonte brasileira.

Durante o depoimento, Sérgio disse que foi tratado como “criminoso”, que a ação constitui um incidente diplomático e imprime uma ideia de “terrorismo psicológico” praticado contra a direita política no Brasil. Ele afirmou que as perguntas feitas pelo delegado abordaram o 8 de janeiro, e não questões relacionadas à imigração, como a exigência de visto de trabalho. O comunicador relatou ainda que foi o único cidadão português do voo a ser retido na chegada de Guarulhos.

À comissão, o delegado disse que o nome de Tavares estava incluído em uma lista de alertas mantido pela PF, uma vez que o português publicou manifestações de ataque à honra de ministros da Suprema Corte, críticas à urna eletrônica e apoio aos atos antidemocráticos. “As opiniões dele flertam e estão muito próximas de uma situação de criminalidade”, afirmou na ocasião. As oitivas do diretor e do influenciador podem ser assistidas na íntegra no canal da TV Senado no YouTube.

Ativista de direita, Sérgio Tavares participou de atos pró-Bolsonaro

Titular de um canal no YouTube desde julho de 2022, com mais de 364 mil inscritos e 6,8 milhões de visualizações, Sérgio Tavares se apresenta como ativista, professor e ex-jornalista correspondente da Rádio Renascença em Timor-Leste. Em seus vídeos, aborda temas defendidos pela direita, liberdade de expressão e perseguição política.

Em 3 de fevereiro deste ano, poucos dias antes de ser retido, ele entrevistou Jair Bolsonaro em seu canal no YouTube, ocasião em que o ex-presidente fez ataques ao presidente Lula (PT), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao TSE. Após ser liberado pela Polícia Federal, o influenciador participou do ato na Avenida Paulista.

No dia 21 de abril, o português também esteve no ato pró-Bolsonaro realizado em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde foi recebido pelo ex-presidente, que afirmou que Tavares “deu voz” a ele e seus apoiadores na Europa. Em 2022, o comunicador já tinha participado em Brasília e em São Paulo das manifestações de 7 de setembro.

Apesar de se apresentar como jornalista, Sérgio Tavares não tem registro na Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), em Portugal. No dia seguinte à ação da PF em Guarulhos, a CCPJ publicou um comunicado dizendo que ele “não é jornalista” e que nunca emitiu nenhum título profissional ao comunicador. Algumas entidades portuguesas podem exigir o registro para a atuação profissional no setor público ou privado, mas quem não o tem é livre para atuar em jornais digitais ou canais no YouTube, como no caso do influenciador.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Em 2021, o Comprova, Estadão Verifica e Aos Fatos já haviam desmentido a informação investigada nesta verificação. Além disso, em 2020, Fato ou Fake do G1 e Aos Fatos também mostraram ser falso que apenas Brasil, Cuba e Venezuela usavam voto eletrônico. As urnas eletrônicas são alvo constante de informações enganosas. O Comprova já mostrou ser falsa a publicação que mostra haver dispositivo capaz de alterar a votação e enganoso o vídeo que cita falhas já corrigidas em urnas.

Política

Investigado por: 2024-04-24

Projeto Mundoteca não é do governo federal, ao contrário do que diz prefeita que jogou livros no lixo

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso um post viral em que a prefeita de Canoinhas (SC), Juliana Maciel (PL), culpa o “governo do PT” e a Lei Rouanet pela Mundoteca e pela escolha de livros para crianças e adolescentes que não teriam “os valores que a gente acredita”. A Mundoteca é um programa da empresa FGM Produções, que atua na criação de projetos sociais e culturais, e não do governo federal, como informou ao Comprova a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. De fato, o projeto foi aprovado pela Lei Rouanet em 2018, ano em que o presidente era Michel Temer (MDB), e executado de 2019 a 2023 — ou seja, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o primeiro ano do presidente Lula (PT).

Conteúdo investigado: Vídeo publicado no Instagram mostra a prefeita de Canoinhas (SC), Juliana Maciel (PL), jogando no lixo livros do projeto Mundoteca. Ela diz que “a Mundoteca é um programa do governo federal e da Lei Rouanet. Mais uma vez o governo do PT faz esse tipo de coisa: bota o adolescente, bota a criança, induz a coisa que não é dos valores do que a gente acredita”.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: A Mundoteca, projeto de bibliotecas comunitárias, não é uma iniciativa do governo federal, diferentemente do que afirma a prefeita de Canoinhas. Em post viral, ela joga livros no lixo, dizendo que os títulos não são adequados para crianças e adolescentes, e acusa o governo do PT de induzir “a coisa que não é dos valores que a gente acredita”. Ela também critica a Lei Rouanet, que apoiaria o projeto.

Após a publicação repercutir, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República afirmou, em nota, que o projeto “não é uma ação do governo federal” e que o post é uma “peça de desinformação”. A Mundoteca teve, de fato, apoio da Lei Rouanet, mas não tem mais. A Secom explicou que o programa foi aprovado para captar recursos por meio da lei em 2018, e que o projeto foi executado entre 2019 e 2023. Ou seja, se fosse do governo federal — o que, como explicado, não é —, o programa teria sido aprovado na gestão de Michel Temer (MDB) e implementado na de Jair Bolsonaro (PL), e não na de Lula (PT), a quem a autora do post critica.

A Mundoteca foi idealizada pela FGM Produções, que atua na criação de projetos sociais e culturais, segundo página da empresa no YouTube. Em nota divulgada no Instagram após o post da prefeita, a empresa informou que o objetivo da Mundoteca é “proporcionar às comunidades o acesso gratuito e cotidiano aos livros” e que o programa é voltado para todas as idades — não apenas crianças e jovens.

No documento, a empresa afirma que, para que a Mundoteca funcione, deve haver um contrato com as prefeituras das cidades onde ela será implementada e que, após um período (não determinado na nota), a biblioteca passa a ser gerida pelos órgãos municipais. Ao Comprova, a Prefeitura de Canoinhas afirmou que, “assim como outras cidades do Brasil, recebeu acervo da Mundoteca como doação” e que “tem autonomia para retirar títulos do espaço”.

Os livros que aparecem sendo jogados no lixo pela prefeita são “Aparelho Sexual e Cia”, de Zep e Hélène Bruller, e “As melhores do Analista de Bagé”, de Luis Fernando Verissimo. De acordo com a nota da FGM, essas obras nunca foram indicadas ou emprestadas para crianças. “O livro ‘Aparelho Sexual e Cia’ tem indicação para público juvenil e foi emprestado para somente uma pessoa adulta na biblioteca em questão. E o livro ‘As melhores do Analista de Bagé’ é recomendado para o público adulto e nunca foi emprestado”, afirma o texto.

O Comprova procurou a Prefeitura de Canoinhas que, em nota, declarou que “as duas obras trazem desenhos e textos de cunho sexual. Não tratam sobre práticas educacionais, muito pelo contrário. E por não condizerem com o que a Secretaria Municipal de Educação preza e ensina às crianças e adolescentes, foram retirados do acervo. Os livros serão encaminhados aos responsáveis pela criação do projeto da Mundoteca.” O G1 noticiou que o MPSC instaurou, em 19 de abril, uma notícia de fato para apurar o descarte de livros.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 24 de abril, o vídeo tinha 179 mil visualizações no Instagram.

Fontes que consultamos: Por e-mail, contatamos a Secom, que nos enviou a nota. Consultamos a nota da FGM no Instagram e reportagens sobre o assunto. Também tentamos contato com a Prefeitura de Canoinhas, que enviou o contato de uma assessora de imprensa, e com o MPSC, mas não houve retorno.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outro livro foi alvo de desinformação nas redes sociais recentemente. No mês passado, o Comprova trouxe informações sobre polêmica envolvendo o livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, criticado por uma diretora de Santa Cruz do Sul (RS). Já a Lei Rouanet é assunto frequente de posts com desinformação. O Comprova já mostrou que um produtor cultural não foi a Portugal com dinheiro recebido do mecanismo e publicou também que tuíte engana ao dizer que Ludmilla receberá R$ 5 milhões por projeto que leva seu nome.

Política

Investigado por: 2024-04-24

Vídeo descontextualiza e inventa frases para alegar que há pressão internacional contra o governo brasileiro

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo engana ao apresentar comentários antigos e retirados de contexto do jornalista William Waack, da cantora da banda ABBA Agnetha Fältskog e da "mentora jurídica" Rita Rocha, sugerindo críticas à situação do Brasil sob Lula e a favor de Jair Bolsonaro (PL). Esses trechos foram manipulados para sugerir que existe uma pressão internacional sobre o Brasil por causa da última manifestação pró-Bolsonaro, ocorrida em 21 de abril de 2024.

Conteúdo investigado: Vídeo apresenta trechos de falas do jornalista William Waack, de uma mulher identificada como “juíza sueca Anna Ase” e de uma mulher portuguesa não identificada, supostamente criticando o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A postagem é acompanhada da legenda “Esse barulho vai reverberar no mundo todo. Isso vai acabar. As manifestações colocam os comunistas em polvorosa”, dando a entender que existe uma pressão internacional sobre o Brasil por causa da última manifestação pró-Bolsonaro, em 21 de abril de 2024.

Onde foi publicado: X e Facebook.

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que apresenta falas de três pessoas supostamente criticando a atual situação do país, sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e levando quem assiste a acreditar que, após uma manifestação pró-Bolsonaro na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 2024, há uma mobilização internacional sobre o Brasil e a favor do ex-presidente. No decorrer do vídeo, há também uma tentativa de descredibilizar o processo eleitoral brasileiro.

O primeiro trecho mostra uma fala de William Waack durante programa da CNN Brasil no qual o jornalista descreve o país como “uma republiqueta que elege seus dirigentes políticos com urnas fraudulentas”. Entretanto, a afirmação foi retirada de contexto e feita originalmente em 18 de julho de 2022 como uma crítica do jornalista ao então presidente Bolsonaro, quando este se reuniu com embaixadores no Palácio da Alvorada para descredibilizar as urnas eletrônicas.

O segundo mostra uma mulher identificada na imagem como Anna Âse, uma suposta renomada juíza sueca. Segundo a legenda, ela afirma que “é realmente duvidoso um presidente tão popular ser o primeiro a não se reeleger, principalmente com indícios tão claros de fraude no sistema eleitoral brasileiro”. Porém, a mulher no vídeo é Agnetha Fältskog, vocalista da banda sueca ABBA, e ela não falava sobre as eleições brasileiras, e sim sobre carreira, em uma entrevista de 2014.

O terceiro mostra um vídeo publicado em 5 de novembro de 2022 pela portuguesa Rita Rocha, que se apresenta no Instagram como “mentora jurídica”. Na época, ela espalhou desinformação ao dizer que a eleição não estava decidida, que o governo dos Estados Unidos, sob Joe Biden, influenciou o resultado e que havia milhões de relatos de irregularidades nas urnas, o que daria ao povo legitimidade para pedir uma intervenção federal.

Todos esses trechos antigos foram publicados em uma montagem em 22 de abril, um dia após a manifestação pró-Bolsonaro em Copacabana. No evento, o ex-presidente voltou a pedir anistia a presos do 8 de janeiro. O autor do post foi procurado, mas não respondeu até o fechamento do texto.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 24 de abril de 2024, a publicação tinha mais de 122 mil visualizações.

Fontes que consultamos: O Comprova acessou os vídeos originais utilizados na montagem para investigar o contexto das falas, outras checagens sobre os mesmos conteúdos e sobre assuntos mencionados nas falas, além de procurar o autor do post. Para identificar a advogada portuguesa Rita Rocha, foi utilizada a ferramenta Pimeyes, associada à busca reversa de imagens.

Falas descontextualizadas ou desinformativas

Todas as falas usadas no vídeo investigado foram descontextualizadas ou continham informações inverídicas sobre o processo eleitoral brasileiro. A primeira delas, do jornalista William Waack, foi tirada de contexto. Na verdade, ele não defendia Bolsonaro, e sim o criticava durante a abertura do programa WW, da CNN Brasil, de 18 de julho de 2022, após o então presidente convocar uma reunião com embaixadores no Palácio do Planalto.

Durante a reunião, Bolsonaro afirmou, sem apresentar qualquer evidência, que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e questionou ainda a lisura das eleições brasileiras. Posteriormente, o ex-presidente foi acusado de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, e julgado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em junho de 2023.

O vídeo usa apenas o primeiro trecho da fala, em que Waack diz, em tom irônico, que “o mundo está sabendo a partir de hoje que o Brasil é uma republiqueta que elege seus dirigentes com urnas fraudulentas”, mas omite o que ele afirma em seguida: “Nada do que Bolsonaro disse é novo, mas ele conseguiu um feito único. Ele se transformou no primeiro caso em tempos modernos nos quais um mandatário, chefe de governo, chefe de Estado, convoca o resto do mundo para emporcalhar a imagem do seu próprio país”. Este vídeo já foi usado para disseminar desinformação anteriormente e desmentido pela Justiça Eleitoral e pelo Estadão Verifica.

Depois da aparição de William Waack, o vídeo passa a mostrar o que seria uma renomada juíza sueca chamada Anna Âse. Porém, a mulher no vídeo é Agnetha Fältskog, vocalista da banda sueca ABBA, durante participação no programa Skavlan em setembro de 2014. No trecho utilizado, na realidade, Agnetha fala sobre as dificuldades de conciliar a carreira com a criação dos dois filhos pequenos na época em que a banda fazia grandes turnês. Esse recorte também já foi utilizado para espalhar informações falsas anteriormente.

A terceira pessoa a aparecer na montagem é a portuguesa Rita Rocha, que tem 126 mil seguidores no Instagram, rede na qual ela publicou o vídeo originalmente em 5 de novembro de 2022. Apesar de, àquela altura, Lula já ter sido eleito presidente da República, ela desinformou ao afirmar que nada estava decidido nas eleições brasileiras.

Ela também alegava que o então presidente, Jair Bolsonaro, iria cumprir a Constituição brasileira, que garantiria ao povo o direito de pressionar por uma “intervenção federal” no caso de não haver separação de poderes entre o Executivo e o Judiciário, o que, para ela, estava acontecendo porque o Supremo brasileiro estava dominado por Alexandre de Moraes. Essa tese já foi desmentida pelo Projeto Comprova em novembro de 2022, quando bolsonaristas passaram a alegar que os artigos 34 e 142 da Constituição previam intervenção federal e militar, respectivamente.

Rita Rocha afirma ainda que os Estados Unidos, através do governo de Joe Biden, pressionaram Bolsonaro e, assim, interferiram nas eleições brasileiras de 2022, o que também não é verdade. Ainda em novembro de 2022, o Comprova mostrou ser falso que um jornalista havia provado a intervenção de Biden na eleição brasileira. Depois, em 2023, mostrou que um tuíte distorceu uma reportagem para afirmar que houve intervenção americana a favor de Lula. A reportagem do Financial Times, traduzida e publicada na Folha de S. Paulo, falava em uma pressão do governo Biden para preservar o sistema eleitoral brasileiro, não para favorecer um dos candidatos.

Por fim, a mentora jurídica portuguesa alega haver milhões de denúncias de irregularidades nas urnas eletrônicas. O Comprova e seus parceiros já publicaram inúmeros conteúdos desmentindo peças de desinformação sobre a segurança e integridade das urnas eletrônicas (1, 2, 3, 4, 5). Elas são usadas no Brasil desde 1996 e não há registro de fraude desde a implantação, diferentemente do sistema de voto impresso.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O vídeo do jornalista William Waack já foi usado para disseminar desinformação anteriormente e foi desmentido pela Justiça Eleitoral, Estadão Verifica e Lupa. O vídeo da cantora Agnetha Fältskog também já foi usado para espalhar desinformação anteriormente e checado pela Justiça Eleitoral e Aos Fatos. O Comprova também já fez checagens sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, sobre as prisões do 8 de janeiro e sobre os ataques à democracia.

Saúde

Investigado por: 2024-04-23

Não é necessário detox de proteína da vacina contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Não há evidência que a proteína spike, produzida no corpo humano a partir de vacinas contra covid-19, cause ferimentos nas pessoas imunizadas, nem que medicamentos poderiam eliminá-la do organismo, como alega um post no X. Especialistas consultados pelo Comprova explicaram que a proteína é naturalmente eliminada poucos dias após a vacinação, e alertaram que a automedicação com as substâncias indicadas pode trazer prejuízos. Há uma ação disciplinar do Conselho Americano de Medicina Interna (Abim, na sigla em inglês) contra o médico que recomenda a conduta.

Conteúdo investigado: Publicação traduzida do inglês traz lista de substâncias indicadas pelo médico Peter McCullough para “desintoxicação” da proteína S presente na vacina contra a covid-19. O mesmo conteúdo contém o vídeo original com falas do médico sobre o assunto.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não há comprovação científica de que as substâncias indicadas pelo cardiologista norte-americano Peter McCullough para um suposto detox contra os efeitos da vacina da covid-19 possam eliminar a proteína S do organismo após a imunização, diferentemente do que afirma post.

A proteína spike está presente no Sars-CoV-2 como estrutura que conecta o vírus à célula humana. Os imunizantes de tecnologia RNA mensageiro, como o da Pfizer, ensinam o corpo a produzir a mesma proteína para que o sistema imunológico crie anticorpos contra ela.

Conforme explica Eduardo Silveira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), não faz sentido afirmar que há uma intoxicação da proteína S após a vacinação porque ela é eliminada do corpo em poucos dias. “No organismo, quando se vacina uma pessoa, tudo é processado rapidamente e em menos de uma semana você não tem mais absolutamente nenhuma proteína circulando porque ela é rapidamente reconhecida por anticorpos e eliminada. Algumas enzimas das células vão degradar aquele material.”

O suposto detox elaborado por McCullough inclui nattoquinase, bromelaína e curcumina para ajudar a “degradar a proteína spike” após a vacinação. O médico também recomenda tratamentos adicionais com hidroxicloroquina, ivermectina, colchicina, adesivo de nicotina ou aciclovir oral e naltrexona.

Ao Comprova, o Ministério da Saúde esclareceu que nenhuma dessas substâncias têm relação comprovada de eficácia contra qualquer eventual efeito das vacinas da covid-19. “A automedicação pode apresentar diversos riscos para a saúde, incluindo o agravamento de sintomas ou condições médicas, reações alérgicas e resistência antimicrobiana”, alerta o comunicado.

Além disso, assim como explicou Silveira, não há evidências que comprovem danos causados pela proteína spike às pessoas vacinadas, segundo a pasta. “A afirmação de que as pessoas são ‘feridas’ pela proteína spike das vacinas não possui embasamento científico confiável”, diz a nota.

O infectologista Igor Queiroz, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, destaca que a eficácia das substâncias citadas no post não foi comprovada em humanos nem mesmo contra a doença. “Esses compostos podem ser até que funcionem no laboratório, num tubo de ensaio, mas quando vai colocar no organismo humano, o que a gente fez com várias medicações, como a hidroxicloroquina e a ivermectina, é como um placebo. Não tem ação contra o vírus nos seres humanos”.

McCullough é conhecido por disseminar desinformações no contexto da pandemia. O médico já foi alvo de outras verificações do Comprova, como a que demonstrou que a revisão de um estudo publicado no site do Ministério da Saúde não garante eficácia da hidroxicloroquina no tratamento preventivo contra a covid-19 e que estudos fraudados não deslegitimam artigos que comprovam ineficácia da substância.

O médico também foi citado em checagens na imprensa internacional, como a que demonstrou que um evento em que ele criticou a Organização Mundial de Saúde (OMS) não foi oficialmente organizado pelo Parlamento Europeu, ao contrário do que se divulgou nas redes sociais. Contra McCullough há uma ação disciplinar do Conselho Americano de Medicina Interna (ABIM, na sigla em inglês) por alegações infundadas relacionadas às vacinas.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até a publicação deste texto, o post contabilizava mais de 70 mil visualizações. O conteúdo original, no entanto, ultrapassa a marca de 1,3 milhão de visualizações e mais de 30 mil interações.

Fontes que consultamos: Consultamos o Ministério da Saúde, o infectologista Igor Queiroz, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, e Eduardo Silveira, professor da USP. Também resgatamos verificações anteriores do Comprova sobre o médico Peter McCullough e a proteína spike.

Automedicação pode trazer riscos à saúde

O Ministério da Saúde alerta que é difícil garantir a segurança e a eficácia de qualquer tratamento sem o diagnóstico e a supervisão de um profissional de saúde qualificado. A pasta também deu mais detalhes sobre as substâncias sugeridas pelo médico do conteúdo aqui verificado e esclareceu que não há qualquer evidência científica ou relação entre o uso delas com o tratamento da covid-19.

  • Nattoquinase, bromelaína e curcumina: são substâncias naturais que podem ter propriedades anti-inflamatórias e anticoagulantes.
  • Hidroxicloroquina, ivermectina e colchicina: são drogas que têm sido objeto de debate em relação ao seu uso no tratamento ou prevenção da covid-19. No entanto, estudos científicos publicados até o momento não forneceram evidências conclusivas de que elas sejam eficazes contra a doença. Além disso, essas drogas podem causar efeitos colaterais graves e até mesmo fatais quando usadas de forma inadequada.
  • Adesivo de nicotina ou aciclovir oral: O uso de nicotina pode ser prejudicial à saúde. O aciclovir é um medicamento antiviral usado principalmente para tratar infecções por herpes.
  • Naltrexona: é um medicamento usado no tratamento de dependência de substâncias e para reduzir os desejos de álcool ou opioides. Seu uso indevido pode ter consequências sérias.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras alegações infundadas do médico Peter McCullough já foram verificadas por agências de checagem, incluindo a do boato antigo que engana sobre efeitos colaterais da vacina da covid-19, as afirmações enganosas sobre a suposta relação de óbitos com o imunizante a partir de um estudo que não foi revisado e a informação falsa de casos de miocardite após a vacinação.