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Saúde

Investigado por: 11/02/2025

Post alega sem apresentar provas que covid-19 foi criada em laboratório por ordem de Obama

Enganoso
É enganoso que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama tenha ordenado a criação do vírus da covid-19, no ano de 2015. Não há documentos ou evidências que comprovem essa acusação. O conteúdo investigado faz uso de teorias conspiratórias e descontextualiza publicações científicas.

Conteúdo investigado: Post afirmando que documentos oficiais provam que o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenou a criação do vírus da covid-19. 

Onde foi publicado: X e site Infowars.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo de um post no X que afirma que documentos federais provam que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama ordenou a criação da covid-19 em 2015, e que a doença tem sido usada como arma biológica desde então.

O post compartilha o link para uma publicação do site Infowars, criado em 1999 pelo conspiracionista de extrema-direita Alex Jones. Segundo o site, o documento comprobatório teria vindo à tona após o atual presidente Donald Trump assumir o controle da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), uma das maiores agências de ajuda humanitária do mundo.

No entanto, a publicação não compartilha qualquer documento e se resume a declarações vagas feitas em entrevista de Jones com o advogado Tom Renz no dia 6 de fevereiro deste ano. A única menção a Obama é feita por Jones no vídeo quando ele diz que cobriu um “grande escândalo” em 2015 quando cientistas denunciaram que Obama estava criando um vírus e que este foi “movido para Wuhan”, na China, para que, quando o vírus fosse implementado, fosse possível negar o envolvimento dos EUA.

Em 2014, os EUA suspenderam financiamentos para estudos de “ganho de função” envolvendo vírus Influenza, Sars e Mers para avaliar os “riscos potenciais associados”. Na época, o National Institutes of Health (NIH) financiava um estudo na Universidade da Carolina do Norte que, usando engenharia reversa no vírus Sars-CoV, apontou um “risco potencial de ressurgimento do SARS-CoV a partir de vírus que atualmente circulam em populações de morcegos”.

No entanto, não é possível afirmar que o vírus tenha vazado a partir deste estudo ou de algum outro financiado pelos EUA. Os autores da alegação também não apresentaram documentos que provem que Obama mandou fabricar a covid-19 para usar como arma biológica.

O Comprova procurou o autor da declaração, o radialista Alex Jones – que já teve conteúdos banidos de redes sociais por disseminar desinformação e discurso de ódio – mas não obteve resposta até a publicação desta verificação. Um dos e-mails retornou sem ser entregue ao destinatário

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação investigada aqui acumula mais de 9 mil interações apenas no X até 11 de fevereiro.

Fontes que consultamos: Primeiramente, o Comprova acessou o site compartilhado na publicação no X a fim de averiguar a confiabilidade da fonte. Em seguida, por meio de pesquisa no Google, investigamos quais informações públicas existiam sobre o responsável pelo site Infowars. Dessa forma, foi possível encontrar diversas matérias e reportagens sobre as teorias conspiratórias propagadas por Alex Jones.

Também consultamos pesquisas e estudos científicos publicados a partir de 2014 a respeito da origem da covid-19 e sua possível relação com o governo Barack Obama. Buscamos ainda o artigo da revista Nature citado durante o vídeo investigado, compartilhado no site Infowars. Além disso, ouvimos um pesquisador na área de Biociências e Zoologia, o professor Daniel Lahr, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

Documentos provam que Obama mandou criar o Sars-CoV-2?

Não. A alegação se mistura à teoria não confirmada de que o Sars-CoV-2 escapou de um laboratório de Wuhan, na China, após estudos feitos em parceria com pesquisadores norte-americanos. O que aconteceu foi que, em 2014, pesquisadores liderados pelo virologista Ralph Baric, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos Estados Unidos, conduziram um estudo que apontou que um aglomerado de coronavírus circulantes em morcegos, semelhantes aos SARS, mostrava potencial para uma emergência de saúde em humanos.

Para realizar o estudo, os cientistas usaram um sistema de genética reversa do vírus Sars-CoV – mapeado em 2003, ou seja, diferente do SARS-CoV-2, que causa a covid-19 – para gerar um vírus quimérico, isto é, híbrido. Esse vírus quimérico mostrava o pico do coronavírus de morcego em uma estrutura de Sars-CoV adaptada em camundongos. O resultado foi que o vírus se replicava com eficiência nas vias respiratórias dos camundongos, o que sugeria um “risco potencial de ressurgimento do Sars-CoV a partir de vírus que atualmente circulam em populações de morcegos”.

A pesquisa foi aprovada no Comitê de Biossegurança Institucional da Universidade da Carolina do Norte e recebia financiamento do governo dos Estados Unidos através do National Institutes of Health. No entanto, em outubro de 2014, quando o estudo ainda estava em andamento, o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, decidiu suspender o financiamento de pesquisas de “ganho de função” envolvendo os vírus influenza, SARS e MERS enquanto avaliava “os riscos potenciais associados“.

O ganho de função ocorre quando um organismo — ou um vírus — ganha outras habilidades. No caso dos vírus, pesquisas assim costumam ser feitas para que se descubra como combatê-los num momento em que, eventualmente, se tornem mais transmissíveis ou mais perigosos. Segundo os autores do estudo, houve um pedido de reavaliação do financiamento e o NIH liberou a continuidade. O virologista Ralph Boric disse ao Washington Post que a pesquisa foi avaliada como não sendo de ganho de função.

Um artigo derivado do estudo foi publicado em 2015 pela renomada revista científica Nature. Em março de 2020, os editores publicaram uma nota informando estar cientes de que o conteúdo estava “sendo usado como base para teorias não verificadas de que o novo coronavírus que causa a COVID-19 foi projetado”. A nota disse ainda: “Não há evidências de que isso seja verdade; os cientistas acreditam que um animal é a fonte mais provável do coronavírus”.

Em maio do ano passado, a revista Vanity Fair publicou uma reportagem com base no conteúdo de entrevistas de Ralph Boric ao Subcomitê Seleto de Supervisão e Responsabilidade sobre a Pandemia do Coronavírus e o Subcomitê de Supervisão e Investigações de Energia e Comércio, ambos da Câmara e ambos liderados por Republicanos.

Ele disse que, em Chapel Hill, a pesquisa era desenvolvida em laboratórios com instalações de nível de biossegurança 3 (BSL-3), mas que, mais tarde, no Instituto de Virologia de Wuhan, na China, a pesquisa estaria sendo feita em um laboratório com nível inferior, BSL-2. O pesquisador também afirmou que acredita ser muito mais provável que o SARS-CoV-2 tenha se espalhado naturalmente de animais para humanos, “dada a grande abundância de vírus na natureza”, mas declarou que não pode descartar um vazamento do laboratório.

O nome do presidente Obama vem sendo nos últimos anos associado à criação do SARS-CoV-2 como uma arma biológica, possivelmente, devido ao financiamento federal para o estudo, mas também por conta de uma declaração feita por ele em dezembro de 2014, na sede do NIH, em Maryland. Na época, ele visitou as instalações do instituto para falar sobre o combate ao vírus Ebola, que assolava países da África.

Em determinado momento do discurso, Obama ressaltou a importância de fazer pesquisas que pudessem se antecipar a cenários mais catastróficos. “Pode e provavelmente chegará um momento em que teremos uma doença transmitida pelo ar que é mortal. E para que possamos lidar com isso efetivamente, temos que colocar em prática uma infraestrutura — não apenas aqui em casa, mas globalmente — que nos permita vê-la rapidamente, isolá-la rapidamente, responder a ela rapidamente. E também exige que continuemos o mesmo caminho de pesquisa básica que está sendo feito aqui no NIH”, disse.

Na mesma época, esta imagem viralizou como se mostrasse Obama em um laboratório de Wuhan. Na verdade, a foto foi feita em Maryland, nas instalações do NIH, em dezembro de 2014.

O Comprova tentou contato com o virologista Ralph Boric, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

Evidências apontam transferência de morcego para humanos

A teoria de que o Sars-CoV-2 teria sido fabricado em laboratório não é recente. No ano de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia negado essa hipótese, afirmando que o mais provável era que a transmissão tivesse ocorrido de um animal para os humanos. Mais de cinco anos após a crise sanitária, o professor Daniel Lahr, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), afirma que essa ainda é a origem com mais evidências.

“A ciência depende da evidência disponível, e até onde temos evidência, o organismo mais próximo com o qual o Sars-CoV-2 compartilha um ancestral em comum é um vírus que infecta morcegos na China. Isso está bastante claro”, explica.

Segundo o pesquisador, estudos indicam que a transferência do vírus do morcego para o humano teria ocorrido nos últimos meses de 2019. Além disso, a descoberta do mercado de Wuhan, na China, como epicentro da pandemia, apenas trouxe mais evidências de que a origem da doença veio da transferência de animais.

“É essa a origem que a maior parte da evidência científica indica. A transferência de um hospedeiro animal para um hospedeiro humano. Devido às características desse epicentro, uma localidade extremamente densa, com muita gente e circulação enorme, tanto de animais quanto de pessoas, o vírus foi se propagando e conseguindo então velocidade para causar uma epidemia”, destaca Daniel Lahr.

Para ele, é pouco plausível a hipótese da criação do coronavírus como uma arma biológica. “É algo que nunca foi feito. Custa muito caro, exige uma estrutura muito grande. Se alguém estivesse ou está tentando construir um vírus causador de pandemia, deveria haver evidências e simplesmente não há”, finaliza.

Infowars e teorias da conspiração

O conteúdo aqui investigado foi originalmente publicado no site Infowars, um portal norte-americano de extrema-direita fundado em 1999 e conhecido por propagar teorias da conspiração e informações falsas. Foi criado por Alexander Emerick Jones, mais conhecido como Alex Jones, radialista e conspiracionista já processado e condenado pela Justiça pela disseminação de desinformação.

Em 2018, Facebook, Youtube, Spotify e Apple baniram de suas plataformas conteúdos de Jones que propagavam discurso de ódio. No mesmo ano, o conspiracionista foi banido do X por violar a política de comportamento da plataforma. Mas seu retorno para a rede social foi autorizado por Elon Musk em 2023.

Um ano depois, em 2024, Alex Jones foi condenado a pagar quase 1,5 bilhão de dólares aos familiares das vítimas do tiroteio ocorrido na escola primária de Sandy Hook, em Connecticut, nos Estados Unidos, em 14 de dezembro de 2012. Por anos, ele afirmou que o massacre que resultou na morte de 20 crianças e seis adultos foi fabricado pelo governo americano e pelos defensores do desarmamento.

O radialista chegou a dizer que os pais das vítimas seriam atores e que alguns nunca nem existiram. Com a denúncia por difamação e as condenações na Justiça, Jones declarou falência no Texas, seu estado natal. Um juiz autorizou a liquidação dos seus bens para o pagamento de indenização às famílias das vítimas do tiroteio.

Como parte da liquidação dos ativos, o Infowars foi à leilão e, inicialmente, comprado pelo portal de sátiras The Onion. Em novembro de 2024, o CEO da empresa anunciou em um editorial a aquisição do site. Porém, um mês depois, o juiz de um tribunal de falências no Texas impediu a venda por falhas no procedimento do leilão.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou ser falso que a criação do vírus da covid-19 esteja comprovada, que é enganoso que e-mail de Anthony Fauci mostrado no Fantástico prove origem do vírus em laboratório e que o Nobel de Medicina Tasuku Honjo não disse que o coronavírus é artificial.

Notas da comunidade: O X não liberou notas da comunidade para o post investigado até a publicação desta verificação.

Saúde

Investigado por: 11/02/2025

Post engana ao afirmar que a Pfizer divulgou uma lista com 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19

Enganoso
É enganoso que a Pfizer tenha divulgado uma lista com 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19. Dentre os problemas de saúde listados no post investigado, apenas três aparecem nas bulas dos imunizantes da farmacêutica que são utilizados no Brasil: miocardite, pericardite e paralisia facial aguda. Os dois primeiros efeitos adversos são considerados muito raros e o terceiro, raro. Além disso, nenhum deles foi informado recentemente. Todos constam nas versões atuais das bulas da Comirnaty bivalente, publicada em maio de 2024, e da vacina atualizada para proteger contra a variante JN.1, disponibilizada em 28 de novembro e que também está disponível para crianças a partir de seis meses.

Conteúdo investigado: Post afirmando que a Pfizer divulgou uma lista de 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19 que inclui lesão renal aguda, insuficiência cardíaca, pneumonia, diabetes tipo 1 e morte súbita.

Onde foi publicado: X, Facebook e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: O post é enganoso porque a maior parte dos eventos adversos citados em uma lista divulgada nas redes sociais não está relacionada à vacina contra a covid-19 da Pfizer.

Dos 46 problemas de saúde mencionados, apenas três aparecem nas bulas das vacinas da farmacêutica utilizadas no Brasil: miocardite (infecção das fibras do coração), pericardite (inflamação do revestimento externo do coração) e paralisia facial aguda.

Os dois primeiros são classificados como reações muito raras, que ocorrem em menos de 0,01% dos pacientes que utilizam este imunizante. O Comprova já explicou isso em outras publicações, informando, inclusive, que a incidência de miocardite em infectados pela covid-19 é sete vezes maior do que em vacinados. Já o terceiro é listado como uma reação rara, que ocorre entre 0,01% e 0,1% dos pacientes.

A versão atual da bula da vacina Comirnaty bivalente, a mais usada no Brasil, foi publicada em maio de 2024. Ela inclui em sua composição a cepa original e variantes que prevalecem em circulação no mundo. Já a bula da vacina atualizada para proteger contra a variante JN.1 foi aprovada em 28 de novembro do ano passado. Ambos os documentos também são disponibilizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A assessoria de imprensa da Pfizer confirmou à reportagem que a última atualização de bula ocorreu em novembro e que nela constam a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina e que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós-comercialização.

A farmacêutica reforçou que diferentes agências regulatórias pelo mundo, incluindo a Anvisa, no Brasil, autorizaram o uso da Comirnaty com base em avaliações robustas e independentes, a partir de dados científicos sobre qualidade, segurança e eficácia. “Dados de estudos de mundo real complementam as informações dos estudos clínicos e proporcionam evidência adicional de que a vacina fornece proteção eficaz contra formas graves da doença”, afirma a fabricante.

A Pfizer distribuiu mais de 4,8 bilhões de doses da vacina em mais de 183 países e informa não haver, até o momento, qualquer alerta de segurança, de modo que o benefício da vacinação permanece se sobrepondo a qualquer risco.

No Facebook, à alegação foi acrescentado um link sobre efeitos colaterais e segurança da Comirnaty divulgado pela farmacêutica, mas que também não cita a maior parte das doenças relacionadas no post. Na página, há um aviso de que o site destina-se apenas a residentes nos Estados Unidos porque os produtos podem ter rótulos distintos em diferentes países.

O Comprova tentou contato com o autor da postagem no X, mas o perfil não aceita o envio de mensagens diretas pela plataforma. O autor da postagem no Facebook foi contatado, mas não respondeu até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a postagem acumula mais de 725 mil visualizações, 5 mil compartilhamentos e 14 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O Comprova analisou as bulas disponíveis no site da Pfizer no Brasil, que são as mesmas disponibilizadas no site da Anvisa.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou, anteriormente, outras postagens enganosas sobre informações da Pfizer relacionadas às vacinas contra a covid-19, como um vídeo que distorce declaração de uma executiva da farmacêutica sobre eficácia do imunizante e uma publicação que tirou documentos da empresa de contexto para sugerir que imunidade natural é suficiente para combater a doença. Também já desmentiu que as vacinas causam infarto e morte súbita em crianças.

Notas da comunidade: Até o encerramento desta checagem, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem verificada.

Política

Investigado por: 07/02/2025

Imagem de Alexandre de Moraes com boné da USAID foi gerada por IA

Falso
É falsa a imagem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes usando um boné com o logo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo foi gerado por meio de inteligência artificial, o que é possível constatar pela presença da marca d’água do Grok, chatbot de IA do X. Além disso, a mídia contém erros característicos da tecnologia, como letras ilegíveis e distorções na imagem.

Conteúdo investigado: Postagem compartilha uma imagem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usando um boné com o logo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). “Agora tudo está claro”, afirma a legenda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É falsa a imagem que mostra Alexandre de Moraes vestindo um boné da USAID, organização de ajuda humanitária dos Estados Unidos. É possível identificar no conteúdo uma marca d’água do Grok, chatbot de inteligência artificial do X, o que indica que a mídia foi criada digitalmente.

Além da indicação da ferramenta, a imagem tem erros característicos de conteúdos criados por IA. No logo da USAID, por exemplo, as letras que deveriam formar “United States Agency International Development” estão ilegíveis. Há, ainda, distorções no rosto: o lábio inferior está torto e a ponta no nariz, borrada. A ferramenta Hive Moderation, que afirma detectar o uso de IA em mídias, concluiu que há 99,7% de chance de a imagem ter sido gerada pela tecnologia.

I Legenda: Hive Moderation concluiu que a mídia tem 99.7% de chance de ter sido criada por IA I

I Legenda: Além da marca d’água, elementos distorcidos, como o lábio inferior e a ponta do nariz, indicam que o conteúdo foi criado por meio de IA I

A figura foi criada em meio aos ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk à USAID, agência responsável por 40% dos programas de ajuda humanitária do mundo. A crise foi iniciada quando dois altos funcionários da USAID recusaram acesso a documentos confidenciais a representantes do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), chefiado por Musk. Eles foram colocados em licença forçada pelo governo após o episódio.

Neste domingo, 2, Musk chamou a organização de “criminosa” em uma postagem no X. No mesmo dia, em uma coletiva de imprensa, Trump disse que a agência é “administrada por lunáticos radicais de esquerda e vamos tirá-los de lá”.

A partir das 23h59 desta sexta-feira, 7, horário de Washington, todos os funcionários não essenciais da agência serão colocados em licença de forma indefinida. A informação foi publicada no site da USAID.

O autor da postagem falsa foi procurado por mensagem direta no X, mas não retornou até o encerramento desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a postagem acumula mais de 89,5 mil visualizações, mil compartilhamentos e 8 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O primeiro indício de que a imagem foi criada por IA é a marca d’água presente no conteúdo. Algumas ferramentas de geração de imagens, como é o caso do Grok, apresentam uma identificação para sinalizar que aquele conteúdo foi gerado por IA, o que auxilia a não cair em desinformação. Além disso, consultamos o Hive Moderation, que afirma detectar o uso de IA, e fizemos buscas no Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova checou outras peças que foram criadas por meio de inteligência artificial. Uma das verificações mostra, por exemplo, que um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo votos para Jair Bolsonaro (PL) em 2026 foi gerado por meio da tecnologia. Outra mídia, uma imagem de Trump ao lado de cadeira com nome de Bolsonaro, também foi desmentida após a detecção do uso de IA.

Notas da comunidade: Até o encerramento desta checagem, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem verificada.

Política

Investigado por: 06/02/2025

Mulher foi expulsa de avião por se negar a despachar bagagem, não por discussão política

Enganoso
É enganoso que uma “passageira petista” teria sido expulsa de avião pela Polícia Militar de Goiás após discutir e bater em comissária de bordo que se recusara a pedir para pararem de cantar “música de Jair Bolsonaro”. Como verificado a partir de uma busca reversa, o vídeo é de 2018 e mostra uma mulher sendo levada pela PM por se recusar a despachar bagagem de mão.

Conteúdo investigado: Post em vídeo mostra confusão dentro de aeronave e policiais militares retirando uma criança e uma mulher que estavam sentadas. A legenda diz que “passageira petista teria ficado indignada porque os passageiros estavam cantando música do Bolsonaro” e discutido e batido em aeromoça que teria se negado a pedir para as pessoas pararem de cantar. “O comandante, então, prudentemente, se recusa a decolar com a passageira petista a bordo e aciona a polícia Militar do Estado de Goiás, que brilhantemente entra na aeronave…e coloca esse verme para fora”, continua a legenda.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Um post viral engana ao dizer que uma passageira foi expulsa de avião pela Polícia Militar de Goiás por discutir e dar tapa em comissária de bordo que não pediu para que outros passageiros parassem de cantar música em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O vídeo usado no post é verdadeiro, como foi possível verificar em uma busca reversa, que permite encontrar outras imagens semelhantes, mas não mostra a situação descrita no post.

Como mostra reportagem do Bom Dia GO, da Globo, o caso aconteceu em 4 de outubro de 2018 e o motivo da expulsão do voo, que ia de Goiânia para São Paulo, foi porque a passageira “teria se recusado a despachar bagagem e insultado comissários e passageiros”. O vídeo começou a circular como conteúdo de desinformação naquela época mesmo, período de eleição para presidente.

O Comprova tentou contato com a autora do post enganoso, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado mais de 788,9 mil vezes no X até 6 de janeiro.

Fontes que consultamos: Reportagens e verificações sobre a expulsão da passageira.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Lupa, Estadão Verifica e AFP Checamos já verificaram posts que usaram o vídeo para dizer que a expulsão foi por questão eleitoral. Em 2021, a AFP voltou a checar o vídeo, mas em um outro contexto de desinformação, dessa vez em um post que alegava falsamente que a passageira estaria sendo presa por desvio de verbas públicas.

O Comprova já investigou outros vídeos tirados de contexto, como o post que acusa erroneamente o governo Lula (PT) de querer dar comida estragada para a população e o que descontextualiza imagens para mentir sobre desapropriações no Amazonas e no Pará.

Notas da comunidade: O X exibe notas da comunidade para o post investigado. Nelas, o X afirma: “Informação falsa. A mulher em questão foi retirada da aeronave por causar tumulto por não querer despachar a bagagem”, o que coincide com a verificação do Comprova. Nas notas, a rede social oferece dois links, um para o Terra e outro para o Estadão Verifica.

Saúde

Investigado por: 05/02/2025

Artigo que exige retirada de vacina contra covid-19 do mercado tem erros e não tem relevância no meio científico

Enganoso
Vídeo alega que um estudo comprovou excesso de mortalidade, eficácia negativa e contaminação de DNA provocada pela vacina contra a covid-19. O site em que o artigo foi publicado não é considerado uma revista científica e não tem relevância no meio. Os dados utilizados para sustentar seus argumentos são distorcidos ou enviesados, e também não têm valor científico comprovado, ao contrário das evidências publicadas em revistas e órgãos reguladores que desmentem suas alegações.

Conteúdo investigado: Vídeo com afirmações de que um estudo revisado por pares e publicado na revista Science, Public Health Policy and the Law pede o fim da aplicação de vacinas de mRNA contra a covid-19 devido aos seguintes achados: excesso de mortalidade associada ao imunizante, eficácia negativa, sem redução de hospitalizações e mortes, e material de DNA contaminado na vacina.

Onde foi publicado: Instagram e X.

Conclusão do Comprova: O artigo utiliza dados que não servem para comprovar suas afirmações. Pelo contrário, as evidências publicadas em revistas reconhecidas no meio científico e em órgãos de regulação apontam que as vacinas reduziram hospitalizações e mortes por covid-19, demonstrando eficácia e segurança. Também não há comprovação científica de contaminação por DNA.

Essas evidências em contrário não constam no artigo, o que demonstra viés em sua elaboração. Há, ainda, interpretação equivocada de dados do sistema de monitoramento de segurança das vacinas (Vaers), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), para basear a afirmação de “excesso de mortes” provocadas pela vacina. O sistema apenas registra notificações que podem ser feitas por qualquer pessoa, sem necessidade de comprovação entre causa e efeito.

O site que publicou o texto não é reconhecido como uma revista científica. O autor do artigo, assim como médicos do seu corpo editorial, são conhecidos por propagar desinformação sobre vacinas. Alguns deles tiveram o registro médico cassado por divulgar tratamentos sem comprovação científica.

O médico Roberto Zeballos, que publicou o post verificado aqui e já teve outros conteúdos checados pelo Comprova (leia mais no fim do texto), insistiu que se trata de um artigo de revisão, e que ele concorda com as conclusões, inclusive com base em sua experiência como médico. “A ciência da observação é muito importante”, diz.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até ser removido, o post no Instagram foi visto ao menos 93 mil vezes. Uma das publicações no X foi visualizada mais de 1,7 mil vezes até 6 de fevereiro.

Fontes que consultamos: O Comprova localizou o artigo e ouviu profissionais para verificar sua legitimidade. Foram consultados a infectologista e epidemiologista Luana Araujo, formada em Medicina e Infectologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg (BSPH), o médico geneticista Salmo Raskin, diretor científico da Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica (SBGM) e presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e a médica patologista Francine Hehn de Oliveira, coordenadora do Laboratório de Genética e Biologia Molecular do Hospital Moinhos de Vento.

O Comprova ainda fez pesquisas sobre os autores do estudo e os membros do corpo editorial da revista que o publicou.

Sem reconhecimento

O artigo é publicado na Science, Public Health Policy and the Law. Consultados pelo Comprova, a infectologista e epidemiologista Luana Araujo e o médico geneticista Salmo Raskin afirmam que a publicação não tem qualquer reconhecimento no meio científico.

“Ela não tem fator de impacto reconhecido por nenhuma das principais bases de dados científicas e é frequentemente focada em temas e posições anticiência, notadamente, antivacina. É, comumente, descrita como um blog e somente isso”, diz Luana Araujo.

O geneticista Salmo Raskin acrescenta que ela não é indexada internacionalmente por não atender requisitos mínimos, como revisores externos independentes. “Seu corpo editorial é composto por pessoas que são reconhecidamente contra vacinas. Não se trata de um periódico científico no qual opiniões diversas são aceitas”, afirma Raskin.

Dados distorcidos

Ao tratar de um suposto excesso de mortes causadas pelas vacinas, o texto cita dados do sistema de monitoramento de segurança das vacinas (Vaers), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), cujas informações não podem ser interpretadas como evidência de associação causal entre vacina e um evento adverso, como consta no próprio site do CDC. O Estadão Verifica já mostrou que a interpretação desses dados é comumente distorcida por movimentos antivacina.

O Vaers é um sistema de alerta para eventuais problemas com vacinas, que precisam ser investigados a fundo para saber se existe relação com o imunizante. “Qualquer pessoa pode reportar um evento adverso ali, não sendo obrigatória a investigação prévia”, explica Luana. “O Vaers identifica padrões de relatos, não investiga ou conclui qualquer coisa”.

Raskin acrescenta: “Historicamente, a enorme maioria dos casos relatados ao Vaers, após uma análise minuciosa, são descartados por não haver mínima evidência que o relato seja causal, mas simples associações”.

Informações sem valor científico

Em dado momento, ao se referir ao Vaers, o próprio artigo cita que os dados foram inseridos por pessoas que “acreditam que o produto (vacina) está relacionado à morte”. Em outro trecho, os autores escrevem: “É nossa opinião que mais americanos podem ter morrido em decorrência da vacinação contra a covid-19 do que por infecção do Sars-CoV-2”.

“Essa confusão entre ‘causa’ e ‘associação’ é proposital e perpassa todo o artigo, que não investiga nada”, aponta Raskin.

As fontes consultadas pelo Comprova afirmam que, ao citar uma suposta eficácia negativa da vacina – sem redução de hospitalizações e mortes –, o texto se baseia em artigos equivocados ou mal intencionados, e despreza os inúmeros estudos científicos publicados em revistas relevantes que atestam a eficácia e segurança da vacina (1, 2, 3, 4, 5)

Agências reguladoras como a Anvisa, a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmam haver eficácia e segurança das vacinas aprovadas contra a covid-19.

Não há comprovação de contaminação de DNA

Dados sem valor científico também são utilizados para basear a falsa alegação de que as vacinas provocam contaminação generalizada de DNA. Raskin chama atenção para o fato de que duas referências são postagens na rede social X. “São postagens que qualquer pessoa pode fazer, sem a mínima validade científica”, diz Raskin.

Ele acrescenta: “O uso de referências como postagens no X, por si só, demonstra a falta de qualidade da revisão realizada, e deveria fazer com que qualquer leitor desacreditasse a revisão em sua íntegra”.

Raskin explica que não há qualquer evidência científica de que fragmentos de DNA utilizados no desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro causem danos às pessoas. ”As vacinas de RNAm podem conter quantidades minúsculas de DNA residual dos processos de produção, mas estes fragmentos estão fortemente degradados e não representam qualquer risco para a saúde humana”.

Segundo o geneticista, o uso de moléculas de DNA é uma prática comum no desenvolvimento de vacinas, como as que são contra a gripe e a hepatite, que têm sido administradas há décadas. “Mas contra estas, os autores da revisão não se opõem, demonstrando mais uma vez seus vieses”, diz Raskin.

A médica patologista Francine Hehn de Oliveira também afirma não haver, até o momento, confirmação de que exista contaminação de DNA com a vacina de RNA mensageiro. Ela acredita que uma eventual confirmação só pode se dar com estudos a longo prazo.

“Acho que precisamos de mais estudos com acompanhamento de longo prazo para confirmarmos se há contaminação ou não”, diz Francine, que chama atenção para as mesmas fragilidades no estudo levantadas pelos colegas: publicação sem credibilidade científica, referências bibliográficas enviesadas e corpo editorial controverso.

Documento da FDA, de dezembro de 2023, afirma que, com mais de um bilhão de doses das vacinas de mRNA administradas, não foram identificadas preocupações de segurança relacionadas a DNA residual.

O texto da FDA observa ainda que “é bastante improvável que os pequenos fragmentos de DNA residual localizados no citosol possam encontrar seu caminho até o núcleo através da membrana nuclear presente em células intactas e, então, serem incorporados ao DNA cromossômico”.

Autor é conhecido por propagar desinformação

O suposto estudo é assinado por Peter McCullough, um cardiologista norte-americano reconhecido por propagar desinformação sobre as vacinas contra a covid-19. No Google, é possível conferir uma série de alegações dele desmentidas por agências de checagem. O Comprova, por exemplo, o desmentiu quando ele afirmou que a proteína spike, presente na vacina da covid, causa ferimentos nas pessoas e quando ele apresentou evidências enganosas ao sugerir conspiração da ciência contra a cloroquina.

Médicos que tiveram registro cassado fazem parte do corpo editorial

No corpo editorial do site Science, Public Health Policy and the Law, o nome do infectologista francês Didier Raoult também chama atenção. Conhecido como o “Dr. Cloroquina”, ele foi proibido de exercer a medicina por dois anos, a partir de 1º de fevereiro. Segundo o site Le Monde, Raoult é acusado de ter violado o código de saúde pública ao incentivar a prescrição de hidroxicloroquina contra a Covid-19 sem dados científicos confiáveis. A notícia repercutiu no Brasil (UOL e O Globo).

Pierre Kory e Paul Marik, que também integram o corpo editorial da publicação, tiveram suas certificações profissionais revogadas pelo American Board of Internal Medicine (ABIM), entidade equivalente ao Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM). Os dois integram a Front Line COVID-19 Critical Care Alliance (FLCCC), entidade que divulga protocolos para tratar covid com medicamentos sem comprovação científica, como a ivermectina.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A agência Aos Fatos e o Boatos.org também classificaram o conteúdo como desinformativo. Ainda sobre os imunizantes contra a covid, o Comprova já checou, por exemplo, não ser necessário detox de proteína do produto e ser falso que pessoas vacinadas tenham o dobro de chances de pegar a doença.

O autor do post checado pelo Comprova já teve seu nome citado em outras verificações do Comprova, tais como: áudio de médico é verdadeiro, mas opinião sobre origem do coronavírus não tem respaldo científico; vacinas são eficazes contra variante delta, ao contrário do que diz médico e ainda não há cura oficial para a covid-19; tratamento com corticoides não tem estudo publicado.

Notas da Comunidade: O vídeo foi também compartilhado no X. Não haviam sido inseridas “notas da comunidade” até a publicação desta verificação.

Política

Investigado por: 03/02/2025

Vídeo é tirado de contexto para acusar governo Lula de querer dar comida estragada à população

Enganoso
Vídeo recorta e retira de contexto a fala de uma analista política da CNN para dar a entender que o presidente Lula pretende dar comida estragada à população. Ao acessar a íntegra da análise, o Comprova verificou que ela, na verdade, fala sobre como o assunto em torno das medidas para redução do preço dos alimentos do governo federal está virando alvo de desinformação.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra trecho de um comentário da analista política Clarissa Oliveira, da CNN, em transmissão da emissora. O post aplica acima do vídeo o texto: “Governo Lula vai oferecer comida vencida para deixar os alimentos mais baratos”. Há a marca d’água “JMNotícias” sobreposto à imagem e na descrição do post está escrito “#patriotas”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que circula nas redes sociais com um recorte descontextualizado da fala da analista de política da CNN Clarissa Oliveira, que dá a entender que ela afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer dar alimentos estragados para a população. Na realidade, ao longo dos 3 minutos que compõem a análise completa, ela fala sobre como o assunto em torno das medidas para redução do preço dos alimentos do governo federal está virando alvo de desinformação.

No trecho que viralizou no TikTok, foi recortado apenas um minuto da fala da analista política. A versão original e completa está disponível no YouTube da CNN.

“O governo do presidente Lula está num momento muito delicado em termos de popularidade. Acabou de vir de uma crise de comunicação bastante intensa com o Pix. A disseminação de notícias falsas a respeito do Pix foi uma arma usada com muita eficiência pela oposição ao presidente Lula. […] Se começa a se formar uma nova onda: ‘Olha, o presidente Lula quer dar comida estragada para quem quer comprar alimento mais barato”, diz Clarissa Oliveira em um trecho da transmissão.

O assunto veio à tona no dia 22 de janeiro, após o ministro da Casa Civil, Rui Costa, conceder uma entrevista ao programa ‘Bom Dia Ministro’ e falar sobre “intervenção” no preço dos alimentos.

O ministro esclareceu que não haverá intervenção governamental para forçar de modo artificial a queda dos preços dos alimentos e que não cogita alterar a regra do prazo de validade dos alimentos, nem a venda de alimentos fora do prazo de validade como medida para reduzir os preços.

“O presidente Lula se reuniu com as entidades atacadistas de supermercado no final do ano passado e elas apresentaram um conjunto de sugestões, foram várias. A venda de produtos com validade vencida não é a cultura, nem a prática do Brasil. Para alimentos, para uso pessoal, eu acho que não faz parte da nossa cultura isso e não está no nosso cenário adotar essa medida”, esclareceu Costa em entrevista à CNN, no mesmo dia 22.

A sugestão feita pelas entidades atacadistas, conforme descrito em nota publicada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), publicada no mesmo dia 22, também não era de vender produtos estragados. A proposta feita ao governo foi a de reestruturar o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), por meio do PAT e-social, com apoio da Caixa Econômica Federal. O que, conforme descrito pela associação, poderia “gerar economia da ordem de R$ 10 bilhões anuais, a venda de remédios sem receita nos supermercados, que pode reduzir os preços em 35%, a modernização do sistema de prazos de validade, o chamado Best Before, e a redução do prazo de reembolso dos cartões de crédito.”

Best Before é um conceito utilizado por países como os Estados Unidos e Canadá, que vai além do sistema de prazo de validade utilizado no Brasil. No caso do Best Before, como explicado pela própria Abras, é indicado um prazo mínimo em que o produto deve manter todas suas características. Porém, após essa data, ele não necessariamente é visto como “estragado”, e precisa ser descartado. Neste método, é avaliado que o alimento se mantém próprio para o consumo enquanto continuar com suas características iniciais.

O Comprova entrou em contato com o perfil que compartilhou o vídeo. A responsável pela publicação respondeu que não tinha conhecimento de que era um recorte descontextualizado e, em seguida, deletou o vídeo da plataforma.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 57,6 mil curtidas, 6,3 mil comentários e 15 mil compartilhamentos até o dia 30 de janeiro.

Fontes que consultamos: Pesquisas no Google, no YouTube e em publicações da imprensa sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica e o Aos Fatos também fizeram verificações sobre o assunto, indicando que a informação é enganosa. O Comprova também já verificou outras peças de desinformação sobre economia no governo Lula, como sobre um vídeo de mulheres criticando o preço dos alimentos que, na verdade, é de de 2022, no governo Bolsonaro e um post falso que afirma que Lula vai reduzir o salário mínimo em 2025.

Contextualizando

Investigado por: 31/01/2025

Posse de Trump: só após 90 dias será possível saber se parlamentares usaram dinheiro público

Contextualizando
O Comprova não encontrou registro de uso de verbas públicas para a viagem aos Estados Unidos de 21 deputados e um senador para a posse de Donald Trump em 20 de janeiro. Os parlamentares têm prazo de 90 dias para solicitar reembolso. Entenda o caso.

Conteúdo investigado: Posts que afirmam que parlamentares bolsonaristas viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump utilizando dinheiro público para pedir sanções contra o Brasil.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: No dia 20 de janeiro de 2025, quando o republicano Donald Trump tomou posse para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, alguns parlamentares bolsonaristas brasileiros estiveram em Washington para acompanhar a posse. A comitiva contou com pelo menos 21 deputados federais e um senador. Nas redes sociais, publicações alegam que o grupo utilizou dinheiro público para realizar a viagem.

Embora muitos deles tenham usado as redes sociais para negar o uso de verba pública e para afirmar que viajaram utilizando recursos próprios, ainda não é possível dizer que nenhum dinheiro público será usado para custear pelo menos uma parte das viagens: por enquanto, não há registros de compra de passagens, hospedagem ou outros gastos no exterior com cota parlamentar ou viagem em missão oficial em nome de nenhum dos parlamentares que viajaram aos EUA na ocasião.

O Comprova perguntou à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal se foram utilizados recursos públicos nas viagens dos parlamentares aos Estados Unidos. Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Câmara disse que deputados podem usar recursos da cota parlamentar para cobrir despesas no exterior, desde que receba autorização prévia do terceiro secretário (para passagens) e do presidente da Casa para as demais despesas reembolsáveis, como hospedagem, alimentação, combustível etc.

Por enquanto, a Câmara não tem registros de despesas referentes à posse de Donald Trump, mas é possível pedir o reembolso em até 90 dias após o gasto – ou seja, até abril. Além disso, se tiverem viajado em missão oficial, têm direito a receber diária de viagem no valor de US$ 428 (leia mais abaixo).

O Senado foi questionado sobre a viagem do senador Jorge Seif (PL-SC), que aparece em imagens e postou nas redes sociais que viajou a Washington para a posse. Em nota, o Senado disse que não foram encontradas na base de dados registros de requerimento do senador para realização de viagem aos Estados Unidos este mês, “seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou pagas diárias internacionais para ele, e não há previsão de reembolso.

O Comprova não conseguiu contato com o autor da publicação.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de janeiro, a publicação alcançou 245 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Foram acessados os portais da Transparência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde buscamos por registros de pagamentos relacionados à cota parlamentar e a viagens oficiais desde a eleição de Donald Trump, em novembro do ano passado, até o dia da posse dele, em 20 de janeiro deste ano.

A Câmara e o Senado também foram procurados diretamente através das assessorias de comunicação – no caso da primeira, foi solicitado ainda o envio de respostas via Lei de Acesso à Informação (LAI). Também foram acessadas as redes sociais dos parlamentares que viajaram a Washington para a posse de Donald Trump, onde foram encontradas publicações que comprovam a ida ao local, e procurados os partidos aos quais eles são filiados.

Quais parlamentares viajaram para a posse de Trump?

Aos menos 21 deputados federais e um senador viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump como presidente: os deputados Adilson Barroso (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Capitão Alden (PL-BA), Carla Zambelli (PL-SP), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Coronel Fernanda (PL-MT), Coronel Ulysses (União Brasil-AC), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Giovani Cherini (PL-RS), Joaquim Passarinho (PL-PA), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS), Marcos Pollon (PL-MS), Mário Frias (PL-SP), Maurício do Vôlei (PL-MG), Mauricio Marcon (Podemos-RS), Messias Donato (Republicanos-ES), Nikolas Ferreira (PL-MG), Sargento Gonçalves (PL-RN) e Silvia Waiãpi (PL-AP), além do senador Jorge Seif (PL-SC).

O Comprova encontrou publicações nas redes sociais de todos eles feitas em Washington. Os vídeos e fotos do deputado Nikolas Ferreira foram acessados através das redes sociais da Rádio Itatiaia (1 e 2), de Minas Gerais, estado que ele representa. Uma lista inicial da comitiva contava também com os nomes dos deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Sóstenes Cavalcanti, mas não foram encontradas publicações que indiquem que eles estivessem no local.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) não aparece em fotos da posse de Donald Trump, mas esteve presente em outro evento em Washington, quatro dias depois: uma caminhada contra o aborto, no dia 24. O partido Novo informou, por meio da assessoria, que ele custeou a viagem com recursos próprios

As viagens foram pagas com dinheiro público?

Em postagens nas redes sociais, alguns dos parlamentares que viajaram para a posse de Donald Trump negaram o uso de dinheiro público e disseram ter custeado a viagem com recursos próprios, sem uso de verba da Câmara dos Deputados. O Comprova questionou a Câmara sobre o uso de recursos públicos, e pediu uma lista de todos os deputados que viajaram, além dos que receberam autorização para viajar em missão oficial.

A Câmara respondeu, via Lei de Acesso à Informação: “Após consulta aos nossos registros, verificamos que, até o momento, não foram identificadas despesas realizadas com a utilização da CEAP [Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar] relacionadas à referida viagem, em favor dos deputados desta Casa”, mas destacou que eles têm um prazo de 90 dias para pedir reembolso.

Apesar da resposta, não foram informados quais deputados viajaram, nem se eles pediram autorização para seguir em missão oficial. Ao Correio Braziliense, parceiro do Comprova, a Casa disse que 13 deputados receberam autorização para viajar em missão oficial, mas que não arcou com os custos.

Já o Senado foi questionado a respeito da viagem do senador Jorge Seif, e respondeu que “não há registro nas bases de dados do Senado Federal de requerimento de autoria do Senador Jorge Seif para a realização de viagem aos Estados Unidos neste mês de janeiro de 2025, seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou liberadas diárias internacionais para o senador este ano. Ainda segundo o Senado, “não há previsão normativa para solicitação de ressarcimento de passagens internacionais utilizando cota parlamentar”.

As viagens de deputados federais podem ser pagas com verba pública em duas situações: com o uso de recursos da cota parlamentar ou por meio de diárias pagas para viagens em missão oficial. O valor da cota parlamentar varia de estado para estado porque depende do preço médio das passagens aéreas para Brasília (DF). A maior cota é para os parlamentares do estado de Roraima (R$ 51.406,33). A menor, para os do Distrito Federal (R$ 36.582,46).

Já no caso das viagens oficiais, o deputado tem direito a receber diárias que variam conforme o destino. Segundo o site da Câmara, a diária para viagens nacionais é de R$ 842. Nas internacionais, o parlamentar recebe diária de US$ 391 quando viaja para países da América do Sul e de US$ 428 quando vai para outros países – R$ 2.496,05 na cotação desta sexta-feira, 31.

Os dados disponíveis no site da Câmara referentes a janeiro de 2025 não apontam nenhum gasto da cota parlamentar com passagens ou hospedagem no exterior para os deputados que foram à posse. Também não foram encontrados registros de compra de passagens ou reserva feita ainda nos meses de novembro e dezembro, após o anúncio da vitória do republicano nas eleições dos EUA. Não foi cadastrada nenhuma viagem em missão oficial para os parlamentares citados.

Mas, isso não significa que recursos públicos ainda não possam ser usados. Isso porque, no caso da cota parlamentar, os deputados têm três meses para apresentar recibos e pedir reembolso. “O deputado tem até 90 dias para apresentar a documentação comprobatória do gasto. Os valores das notas fiscais apresentadas dentro desse prazo são debitados da cota do mês a que a despesa se refere”, diz a Câmara. O valor é creditado na conta do deputado, em média, até três dias úteis após a solicitação.

Já no caso das missões oficiais, os deputados têm 15 dias para apresentar relatório sobre as atividades desenvolvidas na viagem. Segundo o site da Câmara, as viagens ao exterior ocorrem “para que deputadas e deputados possam desempenhar missões junto a governos estrangeiros e a entidades internacionais, como a Organização dos Estados Americanos e a Organização das Nações Unidas”.

O Comprova questionou aos partidos políticos aos quais os parlamentares são filiados se eles financiaram a ida dos deputados aos EUA e se houve uso de recursos públicos, como verba do fundo partidário, por exemplo. O Podemos disse que apenas o deputado Maurício Marcon viajou e que ele “foi com recursos próprios”. O mesmo disse o Novo: apenas o deputado Marcel van Hattem viajou e usou verba própria: “Não houve dinheiro público custeando”, disse o partido.

O União Brasil também foi questionado sobre o uso de verba pública, mas respondeu, em nota, que “o partido não disponibilizou essa informação”. O PL e o Republicanos foram procurados: o PL sugeriu que fossem acionadas as equipes de cada parlamentar, e o Republicanos não respondeu.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que uma imagem de Donald Trump ao lado de cadeira com o nome de Jair Bolsonaro foi criada com inteligência artificial, que um perfil de humor enganou ao comparar as posses de Lula e Trump com fotos de outros eventos e que um vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi feito com IA.

Notas da comunidade: O X não liberou notas da comunidade para o post investigado até a publicação desta verificação.

Mudanças climáticas

Investigado por: 30/01/2025

Vídeo engana ao afirmar que ministério teria entregue gestão de terras indígenas para empresa

Enganoso
Vídeo de ex-candidato à presidência em 2022 distorce as informações de um protocolo de intenções assinado entre a Ambipar, multinacional brasileira especializada em soluções ambientais, e o Ministério dos Povos Indígenas durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. O autor do conteúdo engana ao dizer que a pasta teria entregue 14% do território nacional, que seriam as terras indígenas demarcadas, para a empresa administrar. Na realidade, o acordo visa fortalecer a gestão territorial indígena por meio de ações focadas no desenvolvimento sustentável e na prevenção de emergências climáticas. A iniciativa irá abranger quase 1 milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, o que representa 14% do território nacional.

Conteúdo investigado: Vídeo gravado pelo monsenhor Kelmon, conhecido como Padre Kelmon, que foi candidato à Presidência da República em 2022 pelo PTB, atualmente filiado ao PL, no qual ele afirma que o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) teria entregado a gestão de 14% do território nacional, onde estão terras indígenas demarcadas, a uma empresa. A suposta concessão ao setor privado teria ocorrido durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Kelmon argumenta que a transferência da administração representaria uma ameaça à soberania nacional, pois mais de um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas passariam a ser controlados por uma empresa privada.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a pasta comandada pela ministra Sonia Guajajara tenha transferido a gestão de 14% do território nacional para uma empresa. Padre Kelmon, autor do vídeo verificado, distorce o objetivo de um protocolo de intenções assinado pelo secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, com a Ambipar, uma multinacional brasileira especializada em soluções ambientais. O acordo, firmado durante o Fórum Econômico Mundial — realizado nos dias 20 e 24 deste mês, prevê iniciativas para fortalecer a gestão territorial indígena com ações voltadas ao desenvolvimento sustentável e à prevenção a emergências climáticas.

Em nota publicada no domingo, 26, o ministério desmentiu alegações de que o protocolo assinado com a Ambipar seria uma transferência de gestão de terras indígenas para a iniciativa privada. Segundo a pasta, a parceria “estabelece um compromisso preliminar sem transferência de qualquer verba ou de responsabilidade do Poder Público”. A assinatura faz parte da ampliação de diálogos que o órgão se propõe a promover com diferentes setores da sociedade civil voltados para a proteção dos direitos dos povos indígenas para além do poder público.

De acordo com uma postagem da multinacional sobre a parceria, a iniciativa vai beneficiar quase 1 milhão de quilômetros quadrados de terras indígenas. Segundo a Funai, as terras indígenas no Brasil ocupam cerca de 14% do território nacional, o equivalente a 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Para qualificar e fortalecer esses territórios, segundo o MPI, estão previstas as seguintes ações:

  • Projetos de conservação e recuperação ambiental;
  • Promoção da economia circular;
  • Gestão, destinação e disposição de resíduos sólidos;
  • Suporte técnico para prevenção e respostas a eventos extremos, como incêndios e enchentes;
  • Reflorestamento de áreas desmatadas e desenvolvimento de projetos de bioeconomia e serviços ecossistêmicos.

Ao contrário do que é dito na peça aqui verificada, o acordo com a Ambipar não ameaça a soberania do país, uma vez que a Constituição Federal prevê, no parágrafo 4º do artigo 231, que “as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis”, ou seja, não podem ser vendidas e os direitos sobre elas não se perdem com o tempo.

O que é um protocolo de intenções?

Alvo de desinformação nas redes sociais, o protocolo de intenções consiste em um instrumento jurídico que estabelece vínculo cooperativo ou de parceria entre entes públicos com interesses recíprocos. Ao Comprova, o advogado mestre em Direito Administrativo Marcos Jorge explicou que o protocolo pode formalizar essa relação tanto entre entes públicos quanto entre entes públicos e particulares, a fim de realizar um propósito comum.

No caso da Ambipar, Jorge comentou que o protocolo serve para definir quais interesses o ministério e a empresa irão defender em conjunto. “Esses interesses não são interesses da empresa. Sempre que o poder público estiver presente, o que tem que ser atendido é o interesse público”, pontuou. Segundo o advogado, o instrumento resguarda o interesse dos povos indígenas e não tem relação com a concessão de terra pública ou indígena para o setor privado.

“Nesse caso concreto, a gente não tem a concessão, pois não se transfere a terra para a Ambipar administrar, como em uma concessão se transferiria. Apenas define que em um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, a Ambipar irá fomentar e apoiar a gestão territorial indígena”, disse Jorge.

O Comprova entrou em contato com o monsenhor Kelmon pelo Instagram, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de janeiro, o vídeo alcançou 584 mil visualizações e obteve mais de 17 mil compartilhamentos no Instagram. No Facebook, o conteúdo recebeu mais de 52 mil curtidas e foi compartilhado mais de nove mil vezes.

Fontes que consultamos: Matérias publicadas pela imprensa sobre a parceria, um advogado mestre em direito administrativo, Constituição Federal e o site do Ministério dos Povos Indígenas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Notícias sobre territórios indígenas costumam ser alvo de desinformação nas redes sociais. Em diversas situações, o Comprova desmentiu e contextualizou informações equivocadas envolvendo esses territórios, como no caso da Terra Indígena (TI) Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), onde uma ação de desintrusão retirou não indígenas que ocupavam a área irregularmente. Também foi esclarecido que a remoção de agricultores das regiões de Raposa Serra do Sol (RR) e Suiá Missú (MT) não foi uma decisão de Lula. Além disso, foi desmentida a suposta relação entre o aumento do preço do arroz e a demarcação de terra indígena em Roraima, assim como a alegação de que terras indígenas em Rondônia teriam sido vendidas a uma empresa irlandesa. O Aos Fatos concluiu que a alegação de que o governo federal teria transferido a gestão das terras indígenas a uma multinacional é falsa.

Contextualizando

Investigado por: 30/01/2025

Entenda o exercício militar da Venezuela na fronteira com o Brasil e suas implicações

Contextualizando
Vídeo que circula na internet aparentemente mostra a presença de militares venezuelanos armados em território brasileiro. No entanto, o episódio não significa o início de um conflito bélico entre os dois países como sugerem publicações nas redes sociais. No dia 22 de janeiro, o governo venezuelano fechou a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, em Roraima, para a realização de exercícios militares. A medida durou até a manhã seguinte.

Conteúdo analisado: Vídeo mostra a fronteira entre o Brasil e a Venezuela na cidade de Pacaraima. No lado brasileiro, é possível ver homens armados em caçambas de caminhonetes. O homem que grava o vídeo diz: “Neste momento, aí as tropas… forças especiais da Venezuela estão do lado do Brasil”. Há postagens que repercutem o vídeo com sugestões de que o episódio significa o início de uma guerra entre os dois países ou de uma invasão venezuelana. “Tropas do regime de Maduro cruzam a fronteira com o Brasil armados” e “Brasil sendo invadido pela tropa armada da Venezuela” são algumas das frases em postagens que compartilham o vídeo.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Reportagens publicadas na imprensa brasileira (CNN Brasil, O Globo) informam que, no dia 22 de janeiro, o governo da Venezuela fechou a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, em Roraima, para a realização de exercícios militares na chamada operação “Escudo Bolivariano 2025”. Dois dias antes, o site governo venezuelano publicou pronunciamento do ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, sobre a ação. Segundo ele, o exercício militar teve o objetivo de colocar em prática ações que “garantam a defesa militar e a ordem interna do país” e tornem as fronteiras do país “inexpugnáveis em todo o território nacional”.

A medida durou cerca de 12 horas, com a reabertura na manhã seguinte. Ainda no dia 22, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou nota afirmando que a decisão de fechar a fronteira se deu de forma unilateral pelo governo venezuelano. Ainda segundo o texto, o governo de Nicolás Maduro informou “que o fechamento deve-se a exercícios militares rotineiros e foi feito por medida de segurança”.

Não se trata, portanto, de uma incursão militar para início de um conflito bélico com o Brasil, como sugerem algumas das postagens.

Reportagem da CNN Brasil sobre a reabertura da fronteira, no dia 23, observa que circulam na internet “imagens de viaturas venezuelanas aparentemente cruzando a divisa, entrando em solo brasileiro e retornando logo em seguida”. A descrição coincide com o vídeo analisado neste Contextualizando.

O Comprova buscou contato com o Exército Brasileiro, o Ministério da Defesa, o MRE, a Polícia Militar de Roraima, o Governo do Estado de Roraima, a Prefeitura de Pacaraima e o Consulado da Venezuela no Brasil na tentativa de confirmar se militares venezuelanos ingressaram armados em território brasileiro. O governo de Roraima disse que não se pronunciaria sobre o assunto: “Não compete ao Estado vigiar fronteiras, nem comentar políticas diplomáticas, estratégias, ações de defesa nacional ou afins”, diz trecho da nota enviada ao Comprova. Os demais órgãos não responderam.

Apesar de o Comprova não ter obtido confirmação de nenhum órgão oficial sobre a presença de militares da Venezuela armados no lado brasileiro da fronteira, o site Roraima em Rede afirma que as tropas do país adentraram “alguns metros” no território do Brasil durante o exercício militar. A matéria reproduz o mesmo vídeo analisado neste Contextualizando.

A comparação entres as imagens do vídeo e da fronteira via Google Maps (abaixo), permite constatar que se trata do mesmo local. Já os veículos que aparecem no vídeo no lado brasileiro da fronteira se assemelham às caminhonetes utilizadas pela Unidade de Reação Rápida (URRA) do exército venezuelano. A unidade participou da manobra, como consta no pronunciamento do ministro da Defesa venezuelano.

| Imagem do vídeo investigado.

| Captura de tela do Google Maps mostra a fronteira entre Brasil e Venezuela em Pacaraima, em Roraima.

Crise diplomática

Na avaliação do advogado Belisário dos Santos Jr., membro da comissão Internacional de Juristas em Genebra, na Suíça, caso os militares venezuelanos tenham de fato ingressado armados em território brasileiro, há uma sinalização, por parte do governo venezuelano, de um interesse em causar um conflito diplomático com o Brasil. “A fronteira física entre dois países é algo ‘sagrado’”, diz Belisário. “Se os militares venezuelanos entraram armados no lado brasileiro, isso é grave, e demonstra um ato de provocação de Nicolás Maduro (presidente da Venezuela) capaz de gerar um conflito diplomático entre os dois países”.

Já sobre a decisão unilateral da Venezuela de fechar a fronteira, para Belisário, embora menos grave, configura uma “ofensa” ao governo brasileiro. O advogado acredita que o episódio não tem potencial para gerar um conflito armado entre os dois países. “Isso me parece mais uma provocação, bem típica do Maduro, mas sem potencial para gerar consequências que extrapolem um conflito diplomático”.

Para a coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista em Franca (Unesp-Franca), Marilia de Souza Pimenta, o treinamento militar venezuelano não fere a soberania nacional brasileira, mas demonstra, no campo político, o afastamento de relações entre os dois países e a imprevisibilidade do governo de Maduro.

“Na prática, o que estamos vendo é o desmantelamento das relações políticas de proximidade que havia entre os dois países no início dos anos 2000, para relações cada vez mais distantes e difíceis para o cálculo político brasileiro, considerando ao menos dois fatos recentes: a questão da Guiana e as eleições de Maduro, cujas atas e documentos não foram formalmente apresentados, culminando no não reconhecimento de seu resultado pelo Brasil e a não presença de Lula em sua posse”, destaca a professora.

Resposta do governo brasileiro

De acordo com matérias da CNN Brasil e do Globo, publicadas nos dias 23 e 24, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, telefonou para o chanceler da Venezuela, Yván Gil, pedindo explicações sobre o episódio. As informações são de bastidores e não foi possível confirmá-las com as fontes oficiais.

Marilia de Souza Pimenta explica que, quando as relações diplomáticas são boas e estão estáveis, não há treinamento militar em região de fronteira ou bloqueio de passagem sem que haja comunicação prévia entre os países. “Ao contrário, na maioria das vezes, os treinamentos inclusive são feitos em conjunto, e a comunicação é feita via Forças Armadas”, diz a professora de Relações Internacionais, acrescentando que o fechamento de fronteira por decisão unilateral de um país demonstra “que há rusgas no campo político”.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. As postagens acumularam mais de 3,5 milhões de visualizações e 17 mil compartilhamentos no X.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou notícias na imprensa e os seguintes órgãos: Exército Brasileiro, o Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Polícia Militar de Roraima, o governo do estado e a Prefeitura de Pacaraima. Foi feito contato também com o advogado Belisário dos Santos Jr., membro da comissão Internacional de Juristas em Genebra, na Suíça, e a professora Marília Souza Pimenta, coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Unesp-Franca.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Lupa e o Aos Fatos publicaram verificações sobre o exercício militar na fronteira. Em checagens anteriores, O Comprova já mostrou que o Brasil defende solução pacífica entre Venezuela e Guiana em disputa por região petrolífera e que post sobre “fuga de venezuelanos” ao Brasil mostra vídeo de pessoas migrando para o Panamá.

Comunicados

Investigado por: 30/01/2025

Comprova lança canal no WhatsApp e curso para detectar desinformação nas redes sociais

Lançamento
Canal no WhatsApp vai publicar verificações, conteúdos explicativos e um minicurso criado em convênio com o projeto Mediawise, do Instituto Poynter, destinado ao público brasileiro de qualquer idade.

O Comprova, iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e da qual fazem parte 42 organizações de notícias, está lançando nesta quinta-feira, 30, um canal no WhatsApp para publicação de checagens e outros conteúdos produzidos pelo projeto.

O Comprova monitora redes sociais e aplicativos de mensagem para detectar conteúdos virais falsos ou enganosos sobre saúde, políticas públicas, eleições e mudanças climáticas. As verificações são feitas de modo colaborativo por jornalistas de distintos veículos de comunicação e publicadas somente depois de uma revisão feita por ao menos três jornalistas de veículos que não participaram da investigação.

O acesso ao canal é gratuito e pode ser feito por este link ou pelo QR-Code ao lado.

O canal do Comprova no WhatsApp pretende reduzir a distância entre o projeto e o público e aumentar a velocidade de distribuição das verificações. E amplia ainda mais o alcance das checagens que hoje são republicadas pelos 42 veículos que participam do projeto.

“É essencial que as checagens estejam cada vez mais presentes no WhatsApp, perto das pessoas, buscando circular com a maior velocidade possível e nos mesmos espaços em que grassa a desinformação. Com essas iniciativas, o Comprova dá mais um passo importante para se aproximar mais do seu público alvo”, comenta Katia Brembatti, presidente da Abraji.

Os assinantes do canal do Comprova no WhatsApp terão acesso no lançamento ao minicurso Aprenda a identificar boatos nas redes. O curso é gratuito e terá duração de 10 dias. Nesse período, os assinantes do canal receberão lições diárias com dicas para detectar conteúdos enganosos que circulam pelas redes sociais ou por aplicativos de mensagem e assim aumentar a sua capacidade crítica e a resistência para a desinformação.

O curso foi desenvolvido pela MediaWise, iniciativa de letramento midiático do Poynter Institute, com apoio do WhatsApp, e adaptado para o público brasileiro pelo Comprova.

“Estamos entusiasmados com esta parceria com o Comprova para a adaptação brasileira deste curso da MediaWise que será transmitido por 10 dias pelo WhatsApp”, diz Brittani Kollar, vice-diretora da MediaWise. “Em uma era de superabundância de informações, desde postagens incorretas compartilhadas involuntariamente até publicações falsas compartilhadas intencionalmente, é essencial que cada pessoa esteja equipada e confiante para identificar informações falsas e encontrar conteúdos confiáveis ​​por conta própria.

“O canal no WhatsApp é uma ferramenta de transmissão simples e segura que auxiliará o Comprova a alcançar seu público em um aplicativo que já está na palma da mão de quase todos os brasileiros. Acreditamos que essa é uma maneira privada e eficiente para que os seguidores do projeto consigam acompanhar as informações que acharem mais úteis”, afirmou Daniela Scapin, head de políticas públicas para o WhatsApp no Brasil.

Cada lição diária do curso terá duração de 5 a 7 minutos. No final do programa, os participantes estarão aptos a identificar as principais características de conteúdos suspeitos, conseguirão fazer algumas verificações por conta própria e saberão lidar com muito mais discernimento com os conteúdos enganosos ou deliberadamente falsos com os quais se defrontam cotidianamente nas redes sociais.

Sobre o Comprova

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos criada em 2018 e liderada pela Abraji. O projeto reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. O Comprova é financiado pela Google News Initiative.

Sobre Mediawise

MediaWise é uma iniciativa de letramento midiático para redes sociais do Poynter Institute, uma organização sem fins lucrativos. O programa ensina pessoas de todas as idades e origens a se envolverem responsavelmente com conteúdos online na era de superabundância de informações. O MediaWise foi criado em 2018 para capacitar indivíduos a encontrar fontes confiáveis ​​e dar sentido à vasta quantidade de informações que têm ao alcance das mão.

Sobre WhatsApp

Mais de 2 bilhões de pessoas em mais de 180 países usam o WhatsApp para manter contato com amigos e familiares, a qualquer hora e em qualquer lugar. O WhatsApp é gratuito e oferece mensagens e chamadas simples, seguras e confiáveis, em todo o mundo.