O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-20

Enchente em São Leopoldo (RS) não foi causada por rompimento de barragem

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Enganoso
É enganoso vídeo em que podcaster diz que inundação em São Leopoldo (RS) foi causada pelo rompimento de uma barragem. A inundação foi provocada por precipitações intensas, que levaram ao desligamento de casas de bombas e resultaram na erosão parcial de um dique de drenagem de água.

Conteúdo investigado: Vídeo de entrevista do podcaster Diego Santana Correa Oliveira em que ele afirma que a enchente em São Leopoldo (RS) foi provocada pelo rompimento de uma barragem que estaria há 13 anos sem manutenção. Ele também acusa o estado e o município de processar pessoas que teriam alertado sobre a enchente, e alega ainda que não viu a presença do governo em abrigos.

Onde foi publicado: Tiktok, Instagram e YouTube.

Conclusão do Comprova: O desastre das chuvas em São Leopoldo (RS) não foi causado pelo rompimento de uma barragem, diferentemente do que afirma um post viral. O município foi um dos mais afetados pelas enchentes no estado e emitiu o primeiro alerta para chuvas fortes em 27 de abril. Na data, a prefeitura informou que houve acúmulo de 63 mm de chuva em uma hora.

São Leopoldo fica na região do Rio dos Sinos e já havia sofrido com enchentes em 2023 e em outros anos. Por estar em uma região ameaçada por alagamentos, o município tem um sistema de drenagem composto por diques e casas de bombas espalhadas pelo território.

No mapa interativo do Sistema de Segurança de Barragem (SNISB), da Agência Nacional de Águas (ANA), é possível ver que não há barragens que retêm o fluxo de rios em São Leopoldo. O painel interativo da SNISB lista quatro barragens na cidade, duas de aquicultura, uma industrial e outra para recreação. Nenhuma delas está classificada com dano potencial alto (quanto estrago a barragem poderia provocar se se rompesse).

O que existe na cidade são diques, que chegam a 20,4 km de extensão. Ao Comprova, a Prefeitura de São Leopoldo disse que essas estruturas não se romperam e que “foram vitais para evitar uma catástrofe maior”. Afirmou ainda que os alagamentos foram provocados pelo grande volume de chuvas na região: 966 mm entre 24 de abril a 27 de maio. Apenas entre 30 de abril e 2 de maio foram 304 mm na cabeceira do Rio dos Sinos, na cidade de Caraá, e no Rio Paranhana, em São Francisco de Paula, e seus afluentes. Somente em São Leopoldo foram registrados 700,4 mm de chuva entre 27 de abril a 28 de maio.

Em Novo Hamburgo, a chuva intensa fez o Rio dos Sinos passar por cima do dique, pela primeira vez na história. A estrutura protegia a cidade até o nível de 9,50 metros do rio, mas o nível chegou a quase 10 metros. Foi decidido então que a casa de bombas do bairro Santo Afonso, que joga a água do Arroio Gauchinho para o Rio dos Sinos, seria desligada, pois, na avaliação da gestão municipal de Novo Hamburgo, não faria sentido jogar a água para o rio que estava transbordando.

A alegação do podcaster de que os governos não estão presentes em abrigos e que as vítimas das enchentes são amparadas apenas por voluntários também não procede. Em São Leopoldo, onde vivem mais de 217 mil habitantes, 100 mil pessoas ficaram desalojadas e cerca de 20 mil receberam auxílio em 132 abrigos da prefeitura e entidades parceiras, conforme informado pelo município.

Um balanço divulgado pelo Estadão em 15 de maio, um mês antes de o vídeo enganoso viralizar nas redes sociais, mostrou que o Rio Grande do Sul contava com 830 abrigos em atividade em 103 municípios, criados tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, em escolas, centros desportivos, universidades, clubes e outros espaços.

É possível constatar a presença governamental nos abrigos, por exemplo, na força-tarefa montada pela prefeitura de São Leopoldo para prestar atendimento de saúde nos albergues montados na cidade, nos serviços de Justiça disponibilizados em um mutirão e no reforço na segurança feito por policiais militares da reserva nos locais de acolhimento.

Também não há evidências de que a Prefeitura de São Leopoldo tenha processado pessoas que teriam alertado sobre os alagamentos. Em buscas na plataforma JusBrasil, o Comprova não encontrou ações judiciais movidas pelo município (1, 2, 3 e 4). A administração municipal negou que tenha movido ações judiciais sobre o tema. “Os alertas foram emitidos pela Defesa Civil do município para prevenir e dar segurança às pessoas em bairros limítrofes ao Rio dos Sinos”, disse.

A reportagem tentou contato com o autor da peça de desinformação, Diego Santana Correa Oliveira, e com a assessoria do Alfa 11 Cast, podcast apresentado por ele, mas não houve retorno.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 18 de junho, o vídeo contabilizava mais de 4,6 milhões de visualizações no TikTok, 237 mil no Instagram e mais de 13 mil vezes no YouTube.

Fontes que consultamos: Uma busca reversa de imagem nos permitiu identificar o homem no vídeo. A partir das redes sociais de Diego Santana Correa Oliveira, encontramos o vídeo original da fala, feita durante entrevista dele ao No Limite Podcast, em 4 de junho.

Também consultamos o mapa do Sistema de Segurança de Barragem (SNISB) e o Google Maps para encontrar barragens na região de São Leopoldo e entramos em contato com a prefeitura local, que informou sobre a situação dos diques. O governo municipal levantou ainda a possibilidade de a barragem mencionada ser a da Usina 14 de Julho, erroneamente atribuída a São Leopoldo. Com base nisso, buscamos manifestação e relatórios de vistoria da empresa que administra o reservatório.

Barragem comprometida fica em Cotiporã

Houve, de fato, o comprometimento da estrutura de uma barragem no estado. No entanto, isso aconteceu na região entre Cotiporã e Bento Gonçalves, a cerca de 150 km de São Leopoldo. E o rompimento parcial da barragem da Usina 14 de Julho não foi a causa da situação de calamidade nos municípios.

O reservatório teve a estrutura comprometida em 2 de maio por conta das fortes chuvas que atingiram o estado e do aumento da vazão do Rio das Antas. No dia 1º de maio, a Defesa Civil e a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) iniciaram um Plano de Ação de Emergência para retirar a população dos locais de risco.

Ao Comprova, a Ceran afirmou que realiza manutenções periódicas e que mantém contato com os agentes públicos, Defesas Civis e com a população, principalmente em épocas de grandes vazões. A companhia também diz que não moveu qualquer processo contra pessoas que supostamente alertaram sobre os riscos.

A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul criou um Grupo de Trabalho em 2019 para monitorar a segurança das barragens. Os relatórios das vistorias podem ser conferidos no site da pasta. Os documentos não citam a Usina 14 de Julho.

Procurada pelo Comprova, a CSC energia, responsável pela barragem da Usina 14 de Julho, afirmou que as manutenções na estrutura são feitas de forma periódica, com equipe de operação e manutenção somente para o local.

Grande volume de chuva levou a colapso em casas de bombas

Em 27 de abril, dia da primeira chuva severa na região de São Leopoldo, o diretor-geral do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), Maurício Miorim, esteve em uma das casas de bombas e disse que o equipamento de macrodrenagem funcionava perfeitamente ali e em outros pontos da cidade.

A prefeitura afirmou que a inundação na cidade não foi provocada pelo rompimento do dique, e sim pelo grande volume de chuva que afetou a casa de bombas do bairro Santo Afonso, no limite com a cidade vizinha de Novo Hamburgo, em 3 de maio. Isso ocasionou o desligamento das bombas e o consequente transbordo do dique do Arroio Gauchinho, erodindo parte da estrutura e inundando o bairro Santos Dumont/Vila Brás, em São Leopoldo.

Segundo a prefeitura, o mesmo ocorreu no dique do bairro Vicentina, junto à casa de bombas do Arroio da João Corrêa. Após o transbordo da água, o dique erodiu e os equipamentos precisaram ser desligados devido à grande quantidade de água, atingindo os bairros Vicentina, São Miguel e Vila Paim.

No Arroio Cerquinha, no bairro Campina, houve o transbordo do dique, que acabou ocasionando os alagamentos no bairro Campina e Scharlau. Por medida de segurança, foi necessário o desligamento da casa de bombas do Arroio Cerquinha, devido ao alto nível da água que atingiria a parte elétrica.

O grande volume de água na região fez com que o Rio dos Sinos começasse a refutar o fluxo de seus afluentes, outro fator que contribuiu para os alagamentos.

Sistema Contra as Cheias do Rio dos Sinos está inacabado

O Sistema de Proteção contra Cheias de São Leopoldo foi construído utilizando parâmetros da histórica cheia de 1941 e, segundo a prefeitura, foi importante para que a situação de calamidade não fosse ainda mais severa devido às fortes chuvas. Nas regiões não ocupadas da cidade, no entanto, os diques foram projetados com capacidade menor, como na Avenida João Correa.

Embora a construção dos sistemas de drenagem tenha sido iniciada na década de 1960, as obras nunca foram totalmente concluídas.

Em 2015, a Defesa Civil de São Leopoldo alertou para o que seria uma “tragédia anunciada”. Na época, o coordenador do órgão afirmou que mudanças nos Planos Diretores para urbanização de áreas de preservação na região da bacia do Rio dos Sinos dificultaria o escoamento da água, deixando a área suscetível a alagamentos.

O Ministério Público Federal (MPF), em 2019, se manifestou a favor de uma ação movida pelo município contra a União para o pagamento da última parcela para finalização do Sistema Contra as Cheias do Rio dos Sinos. O processo tramita no TRF4 desde 2017.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou diversos conteúdos sobre a atuação das autoridades na calamidade que atinge o Rio Grande do Sul e já mostrou ser enganoso que casa de bombas de Porto Alegre tenha sido sabotada e que estrada foi bloqueada em Canoas para passagem de carretas vazias. Também mostrou que post usa vídeos antigos para minimizar a atuação do Exército nas enchentes.

Política

Investigado por: 2024-06-20

Lula não foi excluído de foto do G7 que mostra apenas os líderes dos países-membros

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Enganoso
Lula não foi preterido em foto na reunião do G7, na Itália, em junho. Ele não aparece no registro porque, na tradicional “foto de família” do grupo, só estão os presidentes dos sete países do bloco – o Brasil não é um deles – e os presidentes do Conselho Europeu e da União Europeia. O presidente brasileiro aparece em outra foto, que mostra todos os membros do grupo e convidados do encontro.

Conteúdo investigado: Postagens com a foto de lideranças internacionais sem a presença de Lula e com a legenda: “Cadê o Lula? Ele não seria a grande estrela da reunião do G7, segundo a velha e porca mídia?”.

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: O fato de o presidente brasileiro Lula (PT) não aparecer em foto tirada em encontro do G7 não significa que ele foi preterido pelas lideranças que aparecem na imagem. A foto usada em post enganoso — a mesma publicada pelo Financial Times — traz apenas os presidentes dos países que formam o grupo: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Tradicionalmente, também compõem a imagem os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia.

Neste ano, a reunião ocorreu na Itália, entre os dias 13 e 15 de junho. O Brasil foi um dos países convidados. A foto em que Lula aparece é outra, em que figuram, ao lado dos presidentes dos países-membros do G7 e do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, as autoridades convidadas (chefes de países e representantes de organizações). Este registro também é feito todos os anos. Nesta edição de 2024, pela primeira vez, o papa participou do encontro.

Para efeito de comparação, em 2023, na reunião do G7, no Japão, constam igualmente os registros da foto oficial — também conhecida como “foto de família” — e da imagem com todos os participantes. O mesmo aconteceu em 2022, na Alemanha: a foto dos membros do grupo e o registro com os demais convidados. O então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não aparece na foto, pois o Brasil não foi chamado para o evento.

Na edição de 2024, Lula foi convidado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Nesta transmissão, é possível ver o momento da recepção. Lula chegou à Itália na noite do dia 13. No dia seguinte, sua agenda oficial registra encontros com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente da Turquia, Recep Erdoğan, o Papa Francisco, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

No dia 15, Lula teve agenda com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e Giorgia Meloni, antes de retornar a Brasília.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 20 de junho, a postagem havia alcançado 74,4 mil visualizações no X, com 2 mil compartilhamentos e 6 mil curtidas. Em um perfil no TikTok que fez um vídeo a partir do post verificado aqui, a publicação registrou 99,5 mil visualizações, 7 mil curtidas e 1,8 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Reportagens na imprensa brasileira e internacional, site do governo federal e agenda oficial do presidente Lula.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Reuters, Aos Fatos e Estadão Verifica também checaram posts sobre a participação de Lula no encontro do G7. O presidente e seu governo são alvos frequentes de conteúdos de desinformação. O Comprova mostrou que a viagem dele e de Janja à Europa foi para cumprir agenda diplomática, sem relação com o Dia dos Namorados, e que é enganosa a postagem que sugere que um secretário do governo confirmou a cobrança de novo imposto sobre o Pix.

Saúde

Investigado por: 2024-06-17

Post engana ao associar sintomas da covid longa às vacinas

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Enganoso
Post engana ao afirmar que existe exame clínico capaz de dizer se uma pessoa “está bem” após ser vacinada contra covid-19. A publicação usa uma fala em que um médico relaciona sintomas como fadiga e perda de memória ao imunizante. Órgãos internacionais de saúde, pesquisas e especialistas apontam que estas condições estão ligadas a consequências da doença e não do imunizante.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que apenas um exame é capaz de comprovar que uma pessoa está bem de saúde após receber a vacina contra covid-19 e que este exame não é realizado no Brasil. O post é acompanhado pelo recorte de um vídeo no qual um médico afirma que imunizantes provocam uma “síndrome de inflamação crônica”, que levaria a sintomas como fadiga e problemas de memória. O vídeo é sobreposto pela frase “Quais são as sequelas severas das vacinas?”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Sintomas como perda de memória e fadiga são conhecidos no meio científico como consequências da covid-19, ou sintomas da chamada covid longa, covid crônica ou condições pós-covid. Até o momento, não há um exame clínico que possa diagnosticar essa condição. É enganoso, portanto, afirmar que estas reações estariam entre as características de uma doença supostamente provocada por vacinas contra o coronavírus, como faz o post investigado aqui.

O conteúdo se apoia em uma afirmação do médico infectologista Francisco Cardoso, conhecido por defender o “tratamento precoce” e a cloroquina no tratamento da covid-19, como mostra depoimento na CPI da Pandemia, em 2021. Em outras oportunidades (aqui e aqui), o Comprova se debruçou sobre declarações feitas por ele.

Cardoso abordou o assunto em entrevista ao podcast 3 Irmãos, no dia 22 de maio. Na oportunidade, o médico alegou que os imunizantes provocam “síndrome de inflamação crônica”. Ele também relacionou esta condição com a proteína spike, base de parte das vacinas contra a covid-19. Outros sintomas citados foram dificuldade de raciocínio, queda de cabelo e dificuldade para dormir.

Embora ainda esteja em investigação o fator que leva um paciente a ter covid longa, já é de amplo conhecimento científico que esta condição clínica afeta pessoas com histórico de infecção provável ou confirmada pelo vírus SARS CoV-2, que causa a covid-19. Esta condição foi classificada clinicamente pela primeira vez em 2021 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Diferentes órgãos internacionais de saúde reconhecem que os sintomas citados no vídeo pelo médico são associados à covid-19 – isso inclui fadiga crônica, névoa mental, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, perda de olfato ou paladar entre outros – e apontam que a vacinação, em vez de provocar, ajuda a evitar as condições pós-covid. Entre os órgãos que apontam, com base em evidências científicas, que a covid longa é associada à covid-19, e não à vacina, estão a OMS, o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), os Centers for Disease Control and Prevention (CDC, dos Estados Unidos), o National Institutes of Health, também dos Estados Unidos, e o Ministério da Saúde do Brasil.

Além disso, especialistas consultados pelo Comprova reforçam que os sintomas mencionados no vídeo estão relacionados à condição pós-covid, demonstrando que a alegação feita na postagem é enganosa. Eles reiteram que a proteína spike, citada no vídeo como uma espécie de responsável pela inflamação, é uma partícula do vírus que estudos científicos indicaram como a melhor opção para ser usada na produção das vacinas. Ela é capaz de induzir o organismo de uma pessoa a produzir anticorpos contra a doença, mas é naturalmente eliminada poucos dias após a vacinação, como já mostrou o Comprova. Já o vírus, propriamente dito, tem muito mais proteína spike do que o imunizante.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de junho, a publicação alcançou 251,7 mil visualizações.

Fontes que consultamos: A equipe consultou o vídeo completo da entrevista do médico no YouTube e fez pesquisa por publicações relacionadas ao pós-covid. Foram consultados estudos e protocolos internacionais para a covid longa da OMS, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, do National Institutes of Health (NIH), também dos Estados Unidos, do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) e do Ministério da Saúde.

Também foram entrevistados o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, o infectologista Marcelo Daher, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Celso Granato, especialista em Infectologia pela SBI e em Patologia Clínica pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e o farmacêutico-bioquímico Jorge Luiz Joaquim Terrão, diretor da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC).

Covid crônica é o mesmo que covid longa, e não existe “síndrome pós-spike” provocada pela vacina

No vídeo, Francisco Cardoso aponta alguns sintomas, como fadiga crônica, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas e névoa mental como uma “síndrome de inflação crônica” que, segundo ele, seria o principal efeito dos imunizantes.

Ele afirma que o nome correto a se dar a essa doença seria “síndrome do pós-spike”, como se fosse uma consequência direta dos imunizantes, e não da covid-19. Não há evidência que possa sustentar essa afirmação. No mês de abril, o episódio 88 do podcast Fake News Não Pod, do Jornal da USP, abordou a alegação de que existiria uma “síndrome pós-spike” causada pelas vacinas. A cientista biomédica Beatriz Calasense disse que não existe a tal síndrome.

A proteína spike, mencionada em diversas alegações mentirosas sobre a vacina, está presente no Sars-COV-2, o vírus da covid-19, e é ela que permite a entrada do vírus no organismo, levando ao desenvolvimento da doença. Algumas vacinas usam material genético para produzir a spike dentro do organismo, mas ela serve apenas para ensinar o sistema imunológico a se defender do vírus. “Ela atua somente como mensageira para as nossas células imunológicas e logo depois é degradada”, afirma Beatriz Calasense.

Para especialistas ouvidos pelo Comprova, apenas apontar a proteína spike presente na vacina como causa da inflamação é controverso. O infectologista Marcelo Daher aponta, inclusive, que a covid-19 produz mais proteínas spike do que contém na vacina, já que se trata de uma parte do vírus. “E o vírus, quando entra no organismo, produz vírus completo e partículas virais, que a gente chama de vírus incompletos. E esses vírus incompletos têm proteína spike”, explicou o consultor da SBI. Renato Kfouri, da SBIm, aponta a mesma conclusão: “O vírus tem muito mais proteína spike do que qualquer vacina”, declarou.

Diferentemente do que aparece em alegações contrárias às vacinas, é de amplo conhecimento no meio científico que os sintomas citados por Francisco Cardoso são da covid longa, covid crônica ou condições pós-covid, associada à própria covid-19, e não às vacinas.

A OMS fez a primeira classificação clínica desse conjunto de sintomas ainda em 2021, quando descreveu que “a condição pós-covid-19 ocorre em indivíduos com histórico de infecção provável ou confirmada pelo SARS CoV-2, geralmente três meses após o início da covid-19 com sintomas que duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo”. O assunto foi novamente discutido pela OMS em 6 de junho de 2024 em sessão do G20 em Salvador (BA).

Essa classificação foi feita após a realização de estudo, ainda em 2021, utilizando a metodologia Delphi, que consiste na discussão de um assunto complexo a partir de grupos de especialistas selecionados de forma anônima e estratégica, que devem ser selecionados em países diferentes, para se ter um panorama representativo.

Os especialistas levaram em conta definições de covid longa feitas por publicações e órgãos renomados, como as revistas Lancet, Nature e Scientific American, a Haute Autorité de Santé (França), e os Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos. Nenhum deles menciona que as condições aparecem após a vacina, e sim após a infecção pelo Sars CoV-2, o vírus que causa a covid-19.

O National Institutes of Health, dos Estados Unidos, define a covid longa como “problemas de saúde que algumas pessoas enfrentam alguns meses após um diagnóstico de covid-19” e aponta que alguns podem ser iguais ou diferentes daqueles da covid, mas elenca a síndrome da fadiga crônica como um deles.

O Portal Europeu de Informações Sobre Vacinação, mantido pela União Europeia, e o European Centre for Disease Prevention and Control classificam a covid longa como “efeitos a longo prazo da infecção de Sars CoV-2” e cita entre os sintomas a perda de olfato ou paladar, cansaço, fraqueza geral, falta de ar e déficit cognitivo. Segundo a Anvisa, o termo “inflamação” é genérico e as próprias bulas das vacinas citam eventos adversos que podem ser considerados inflamação, desde os mais comuns, como dor no local, até os raros, como a miocardite. “É importante destacar ainda que a própria covid é uma doença que pode desencadear cenários de inflamação generalizada ou mesmo crônica”, diz o órgão brasileiro.

Segundo o NIH, que reúne pesquisas sobre a covid longa, ainda estão em curso os estudos para apontar com clareza o que causa as condições pós-covid, mas já existem algumas pistas: a reativação de partículas do vírus SARS CoV-2, que podem fazer com que os sintomas reapareçam; a liberação de altos níveis de substâncias inflamatórias por parte de células imunológicas hiperativas; e a produção de autoanticorpos que atacam os próprios órgãos e tecidos, desencadeada pela infecção.

O NIH aponta que a melhor maneira de se prevenir contra a covid longa é evitar pegar a covid-19, mantendo-se vacinado. Para aqueles que já estão com a covid, o órgão faz recomendações para tentar reduzir as chances de contrair a covid longa:

“Se você não estiver vacinado, a vacinação após a recuperação da covid-19 pode ajudar a prevenir a covid longa. A vacinação contra a covid-19 também pode reduzir a probabilidade de contrair a síndrome inflamatória multissistêmica (MIS-C) [uma complicação tardia grave da infecção por SARS CoV-2] em jovens de 12 a 18 anos”, diz uma página específica do órgão sobre o assunto.

Em nota, o Ministério da Saúde também apontou que estudos clínicos e de farmacovigilância, conduzidos por instituições e organizações de saúde respeitadas mundialmente, refutam a alegação de que a suposta “síndrome da inflamação crônica” esteja associada à vacinação. A pasta citou entidades como OMS, CDC, e a Anvisa entre os responsáveis por estas pesquisas.

Condições citadas no vídeo são associadas à covid, não às vacinas, dizem especialistas

Especialistas ouvidos pelo Comprova reforçam o que os órgãos internacionais e as pesquisas científicas já dizem: os sintomas citados no vídeo são associados à covid, não aos imunizantes. “Hoje, o termo mais aceito internacionalmente e adotado pelo próprio Ministério da Saúde chama-se ‘condições pós-covid’, porque a doença dá tudo isso. A doença dá uma fraqueza, dá fadiga crônica, dá essa névoa cerebral, perda de cabelo, queda das unhas. São mais de 200 sintomas relatados nessas condições pós-covid e que realmente têm assolado um número expressivo de pessoas, não só aqui no Brasil, mas em todo o mundo”, explica Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm.

Ele diz que a fala feita durante o podcast tenta atribuir aos imunizantes uma série de sintomas que, na verdade, são causados pela covid-19. “Não há nenhuma evidência de que as vacinas possam trazer essas condições. Os eventos adversos relacionados às vacinas são muito bem conhecidos, já estão muito bem descritos. Há vários estudos demonstrando que as vacinas previnem as condições pós-covid, não causam condições pós-covid. Então é muito mais frequente condições pós-covid em não-vacinados do que em vacinados”, completa Kfouri.

O infectologista Marcelo Daher também nega que a covid crônica, longa, ou as condições pós-covid sejam causadas pela proteína spike presente na vacina, e concorda com Kfouri ao apontar que os sintomas citados no vídeo são provocados pela covid-19: “O que é bem caracterizado e bem documentado é a doença causando isso. Não tem trabalho mostrando a vacina causando isso”, afirma.

Inflamação celular é complexa e ainda não há teste específico para diagnosticar covid longa

No vídeo, Cardoso menciona a existência de “um exame americano que mede a proteína spike dentro do macrófago humano”, que seria capaz de mostrar a inflamação que ele alega ser causada por vacinas contra a covid-19. Este exame seria de análise de citoquina – ou citocina, termo mais usado no Brasil.

Diferentemente do que diz o médico, as análises de citocinas são feitas em laboratórios brasileiros, segundo o farmacêutico-bioquímico Jorge Terrão, diretor da SBAC, mas é preciso saber a quais delas Cardoso se referia, o que não fica claro no vídeo.

Além disso, o médico Celso Granato, especialista em infectologia e em patologia clínica e associado à SBPC/ML – entidade ligada à área de diagnóstico laboratorial – observa que citocinas e proteína spike são coisas diferentes, e que a fala do médico acaba confundindo as pessoas.

“Ele fala que tem um exame americano que chegou a fazer aqui [no Brasil] e que dosa a citocina, e que lá se encontra a spike. Isso é esquisito, porque para usar um produto de laboratório, tem que ter aprovação da Anvisa. Eu nunca soube de aprovação da Anvisa nesse sentido. Realmente desconheço esse exame”, disse Granato.

Procurada, a Anvisa disse que “não regulamenta protocolos ou procedimentos para exame e diagnóstico de pacientes”, o que cabe às sociedades médicas e científicas. A Anvisa atua na regulamentação dos produtos e dispositivos utilizados nos procedimentos. No entanto, a agência disse que precisaria de mais informações sobre os insumos e dispositivos para responder se eles existem ou não no Brasil.

Quanto à declaração de Cardoso sobre existir um exame nos Estados Unidos, o CDC, órgão oficial do país para controle de doenças, publicou no último dia 10 de junho que “atualmente, nenhum teste laboratorial pode ser usado para diagnosticar definitivamente a covid longa ou para distinguir a covid longa de condições com etiologias diferentes”.

Em setembro do ano passado, um estudo publicado na renomada revista científica Nature disse ter encontrado diferenças entre exames de sangue de pessoas com covid longa e outras sem as condições pós-covid, mas isso não significa que já existe um exame para diagnosticar essas condições, e sim que os resultados representam um passo importante para encontrar uma forma de diagnóstico. Outros estudos avaliam a possibilidade, mas ainda estão em fase de pré-print, ou seja, não foram revisados pelos pares.

SUS faz atendimento de pacientes com pós-covid

Durante a entrevista, Francisco Cardoso diz que não existe tratamento no SUS para o que ele chama de covid crônica. Em nota, o Ministério da Saúde informou que recomenda que a avaliação de pacientes com condições pós-covid sejam realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS). De acordo com a pasta, em alguns casos, é recomendado o encaminhamento para os serviços multidisciplinares, de reabilitação e/ou atenção especializada, visando otimizar os recursos disponíveis na Rede de Atenção à Saúde (RAS) e potencializar a resolução de problemas mais complexos.

No texto, o ministério mencionou que, segundo dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab), entre março de 2022 e abril de 2024, foram realizados mais de 228 mil atendimentos a pessoas com condições pós-covid no âmbito do SUS. A pasta destacou que a organização dos cuidados em saúde no País é coordenada por estados e municípios, levando em consideração os protocolos e diretrizes do SUS e a rede de atenção disponível.

Para Renato Kfouri, da SBIm, ainda não há, de fato, algo a ser feito especificamente contra as condições pós-covid. “Não há nada a ser feito por enquanto, a não ser reabilitar essas condições crônicas e tratar os sintomas e as doenças que vierem a aparecer”, diz. Segundo ele, esse tratamento precisa ser multidisciplinar. Na nota, o Ministério da Saúde também citou a existência de equipes multiprofissionais nas APSs.

Kfouri explica que esta é uma das razões pelas quais a fala de Cardoso é perigosa: faz as pessoas atribuírem um conceito errado às suas condições de saúde e ainda acreditarem que há um tratamento diferente daquele que é feito para as condições pós-covid.

No vídeo, Cardoso ainda é questionado sobre a possibilidade de “tirar o efeito do imunizante do corpo” e o médico afirma que não existe detox de vacina (tratando das doses de forma geral e não de uma marca específica). Daher também argumenta que não existe medida como esta. Outras verificações publicadas pelo Comprova já abordaram o assunto, mostrando, por exemplo, que não há evidência que a proteína spike cause ferimentos nas pessoas imunizadas, nem que medicamentos poderiam eliminá-la do organismo.

Procurado pelo Comprova, Francisco Cardoso argumentou que sua fala foi editada e disse que não conhece o autor da publicação. A postagem traz recorte de 6 minutos e 45 segundos da participação do médico no podcast, que teve duração de mais de uma hora e meia. Apesar do recorte, a fala do médico não foi editada e ele realmente associou os sintomas da covid longa à vacina. O médico alegou ainda que fez declarações sobre sintomas de pós-covid, que ocorrem, segundo ele, após a infecção pelo vírus ou exposição à proteína spike. Cardoso disse que existe “farta evidência científica” sobre a síndrome, mas não indicou suas fontes.

O perfil responsável por compartilhar trecho da entrevista no X não permite o envio de mensagens diretas e, por isso, não foi possível entrar em contato.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde 2020, quando os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados no Brasil, o assunto é alvo de desinformação no País. No último mês, o Comprova mostrou, por exemplo, que é enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas e que postagens exageram peso de declaração da Astrazeneca, já que o efeito adverso de vacina já era conhecido.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-13

Casas de bombas de Porto Alegre não foram sabotadas para causar as enchentes de maio

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Enganoso
Ao contrário do que alega vídeo que circula nas redes sociais, a interrupção de funcionamento da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais 5 de Porto Alegre (Ebap 5), no dia 29 de maio, não ocorreu de forma proposital para provocar as enchentes do início do mês. O Departamento Municipal de Água e Esgotos esclareceu que o equipamento deixou de operar devido a um problema momentâneo no abastecimento de óleo diesel do gerador. A situação foi resolvida no mesmo dia. As enchentes foram causadas pelo volume recorde de chuvas aliado a falhas em estruturas do sistema de proteção contra inundações da cidade.

Conteúdo investigado: Vídeo de um homem visitando uma casa de bombas com problemas em Porto Alegre. Ele caminha pelo local mostrando equipamentos sem funcionar. Sobre o vídeo originalmente postado por ele, foi inserida a frase “Será que foi mesmo a chuva essa inundação, ou vingança, genocídio?”. Esta versão viralizou nas redes sociais.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: Uma falha em um gerador causou a interrupção momentânea de parte da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap 5), que atende o bairro de Humaitá, em Porto Alegre. O problema foi constatado em 29 de maio e resolvido no mesmo dia, segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos da capital gaúcha.

Na ocasião, um técnico do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) explicou, neste vídeo, que foi identificada uma falha nas bombas que abastecem de óleo diesel os geradores do local. Em outro post, o próprio departamento explicou que o desligamento não foi proposital. “Tivemos um problema no gerador e as equipes já estão no local resolvendo. Em seguida a flutuante e a CB 5 retomam a operação.”

Mais cedo, naquele mesmo dia, um empresário gravou um vídeo andando pela Ebap 5 e mostrando os equipamentos sem funcionar, sugerindo que teriam sido desligados de forma deliberada. Afirma, ainda, que um dos motores está sem operar desde o início das enchentes na cidade.

Ao Comprova, o DMAE explicou que a Ebap 5 perdeu a vazão naquele dia também por causa do acúmulo de lixo na região. Por isso, apenas um grupo motobomba funcionava naquele momento, como mostra o vídeo aqui verificado.

Além disso, a bomba flutuante que aparece do lado externo da Ebap 5, também afetada, foi emprestada pela Sabesp, sem custo à prefeitura de Porto Alegre, ao contrário do que alega o autor do vídeo. “Tanto a casa de bombas quanto a flutuante estavam ligadas através de gerador. No momento deste vídeo, foi uma falha no gerador que ocasionou a parada momentânea do bombeamento”, explicou o departamento.

Atualmente, a estação já opera na rede elétrica e está com três grupos de motobomba em funcionamento, cada um com capacidade para bombear dois mil litros de água por segundo, segundo a prefeitura. Todas as 23 Estações de Bombeamento de Águas Pluviais da cidade estavam em funcionamento antes da inundação, de acordo com o DMAE.

Procurado, o homem que gravou o vídeo não retornou o pedido de esclarecimento do Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Não há relação entre bombas de escoamento e causas da inundação

Devido ao alto volume de chuvas no Rio Grande do Sul no início de maio, o Rio Guaíba, que fica na região metropolitana de Porto Alegre, atingiu o nível histórico de 5,35 metros no dia 5. Segundo levantamento divulgado pelo g1, as chuvas de maio foram mais intensas e concentradas do que a cheia histórica de 1941.

Sendo assim, não faz sentido sugerir que a não operação das bombas de escoamento de águas pluviais foram a causa das enchentes. Segundo o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aliado ao volume recorde das chuvas, o que contribuiu para as enchentes em Porto Alegre foram falhas no sistema de proteção contra enchentes da cidade.

“As casas de bombas servem para tirar a água de dentro da cidade para fora, especialmente a água da chuva. Mas elas não são uma barreira motorizada para tirar a água para fora durante a ocorrência do evento”, explica o professor Fernando Fan. “O que deveria ter segurado as águas são os diques, as comportas, os muros. Mas as águas acabaram entrando por falhas nessas estruturas, que formam a linha de frente do sistema de proteção. A causa da inundação foi que a barreira de defesa foi vencida”.

Segundo ele, alguns dos problemas estruturais foram a passagem das águas por vãos nas comportas e por cima dos diques de contenção, além de casos em que as águas retornaram por bombas de escoamento. “As causas disso têm a ver, claramente, em alguns locais, com falta de manutenção. Outros locais precisam ser investigados um pouco mais a fundo para entender exatamente o que aconteceu. Essas falhas são resultado de décadas de negligência com o sistema de proteção contra enchentes, não necessariamente algo que vem de agora”, acrescenta o professor.

A Ebap 5 não foi a única a apresentar problemas em meio à enchente, considerada a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. No auge da crise, apenas 17% das casas de bomba de Porto Alegre estavam funcionando e 19 tiveram de ser desligadas por causa de inundações ou falta de energia elétrica. Ao Comprova, o DMAE confirmou que das 23 casas de bombeamento da capital gaúcha, apenas a da Vila Minuano estava com os motores em manutenção até a data da publicação desta checagem, em 13 de junho.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo soma 210 mil visualizações e mais de 15 mil interações. No instagram, a gravação foi vista mais de 168 mil vezes e tem mais de 16 mil interações.

Fontes que consultamos: Entramos em contato com a prefeitura de Porto Alegre e o Departamento Municipal de Água e Esgotos e com o homem que gravou o vídeo. Também consultamos o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador da UFRGS.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Publicações com desinformação sobre a tragédia no Rio Grande do Sul têm sido frequentes desde o início das inundações. O Comprova já explicou, por exemplo, que uma estrada foi bloqueada em Canoas para a passagem de carretas com material de construção, que o fluxo do abastecimento de aeronaves civis com doações no estado foi alterado por segurança e que um vídeo engana ao dizer que Anvisa impediu o transporte de medicamentos aos gaúchos.

Saúde

Investigado por: 2024-06-12

Post engana ao dizer que Fauci teria afirmado ser um dos criadores da covid-19 e deletado e-mails sobre origem do vírus

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Enganoso
Post engana ao afirmar que o médico Anthony Fauci, principal conselheiro da Casa Branca durante a pandemia, teria ocultado que o vírus da covid-19 foi desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos usando um laboratório na China. Acusações tiram de contexto mensagens de Fauci divulgadas em 2021.

Conteúdo investigado: Post afirma que Anthony Fauci “foi novamente exposto” no Senado norte-americano. “A covid-19 foi oficialmente desmascarada como um projeto do governo dos Estados Unidos. Um vírus desenvolvido por cientistas norte-americanos usando um laboratório biológico na China”, escreve o autor do conteúdo, que acompanha vídeo do congressista Ronny Jackson fazendo críticas a Fauci. No início do vídeo, a legenda sobre a imagem de Fauci sugere que ele teria dito: “Nós criamos a covid e deletamos todos os documentos de sua origem”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post segundo o qual o infectologista Anthony Fauci, conselheiro principal de saúde na Casa Branca durante a pandemia, teria confessado participação na criação do vírus da covid-19 e deletado documentos sobre a origem do novo coronavírus. A publicação usa as declarações do deputado norte-americano Ronny Jackson durante audiência com o médico promovida pelo Subcomitê sobre a Pandemia do Coronavírus em 3 de junho. O grupo avalia a atuação do governo frente à pandemia e tem feito audiências para investigar a origem do vírus.

Após acusar Fauci de “falhar miseravelmente” em sua atuação frente à pandemia, Jackson, do Partido Republicano, diz que o ex-diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), ligado ao Instituto Nacional de Saúde norte-americano (NIH), teria muito a perder “se o povo americano descobrisse que a covid-19 provavelmente vazou de um laboratório em Wuhan, na China”. Como o Comprova mostrou, ainda não há evidência científica de que o vírus tenha sido criado no local e sua origem ainda está sendo pesquisada.

O deputado também acusou Fauci de ter financiado, por meio do NIH, pesquisas de “ganho de função” conduzidas de forma imprudente no laboratório. Pesquisas de ganho de função envolvem modificações genéticas em um vírus para avaliar se estas tornam o patógeno mais mortal ou contagioso. Fauci declarou, em 2021, que o NIH nunca financiou pesquisas de ganho de função no Instituto de Virologia de Wuhan.

Uma das acusações feitas contra Fauci se baseia em troca de mensagens entre o imunologista e Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, ONG com sede nos Estados Unidos que desenvolve programas de pesquisa relacionados à saúde. O post enganoso distorce o conteúdo dos emails ao afirmar que Daszak teria agradecido Fauci por “esconder que o vírus veio de laboratório“. O email de Daszak elogiava uma declaração pública dada pelo então diretor da Niaid em que ele rejeitou a teoria do vazamento, sem qualquer menção sobre esconder a verdade. O Comprova já fez uma verificação sobre o assunto.

Os emails de Fauci foram divulgados em 2021, após um pedido via Lei de Liberdade de Informação (FOIA, na sigla em inglês) feito por veículos de imprensa. Mas o post investigado aqui desinforma ao dizer que ele teria deletado emails sobre a origem do coronavírus. Um funcionário do NIH incentivou colegas a usar seus emails pessoais como uma maneira de proteger Fauci, mas não há evidências de que a sugestão tenha vindo do médico ou de que ele tenha deletado emails.

Contatado pelo Comprova, o autor do post, BielConn, que se descreve no X como “especialista em desmascarar fraudes que até ‘ontem’ eram teorias da conspiração”, afirmou ter traduzido o que Ronny Jackson disse. Sua página no X saiu do ar após o contato da reportagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post foi visualizado ao menos 432 mil vezes até o perfil ser retirado do ar.

Fontes que consultamos: Buscamos primeiramente entender de que se tratava a audiência por meio de notícias e canais oficiais da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Também pesquisamos por notícias da época, onde pudemos encontrar, na íntegra, os emails de Fauci divulgados em 2021.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou conteúdos que acusam Anthony Fauci de afirmar que o novo coronavírus aparenta ser fruto de engenharia genética e que máscaras são inúteis e que alegam que emails do imunologista revelam que o Sars-CoV-2 foi criado em laboratório. Também mostrou ser enganoso que Fauci e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estariam dizendo que “as vacinas não protegem”.

Contextualizando

Investigado por: 2024-06-11

Lula e Janja irão à Europa em junho para cumprir agenda diplomática

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Contextualizando
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, viajarão para a Suíça e para a Itália esta semana, entre os dias 13 e 15 de junho. Como a viagem acontece na mesma semana do Dia dos Namorados, publicações viralizaram nas redes alegando que Lula vai à Europa festejar a data. Mas, na realidade, o presidente viajará para participar de dois compromissos diplomáticos: a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, e a reunião do G7, em Borgo Egnazia, na Itália. O presidente será o orador principal de um dos painéis em Genebra e participará como convidado da cúpula do G7.

Conteúdo analisado: Publicações que insinuam que Lula e Janja irão para a Europa aproveitar o Dia dos Namorados na Suíça e na Itália.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, viajarão esta semana para a Suíça e para a Itália. Na Europa, Lula cumprirá agenda em dois eventos oficiais: a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, e a reunião do G7, em Borgo Egnazia. Nas redes sociais, contudo, publicações viralizaram ao insinuar que o objetivo da viagem seria a comemoração do Dia dos Namorados, celebrado no Brasil no próximo dia 12 de junho.

Lula e Janja desembarcarão na Suíça no dia 13 para o primeiro compromisso do presidente na Europa, o Fórum Inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social. O painel acontecerá durante a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra. A coalizão foi idealizada em 2022 pelo diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo, e formalizada pelo órgão no ano passado. Lula foi convidado para ser copresidente e, por isso, segundo o Itamaraty, será o orador inicial.

Depois de Genebra, ainda no dia 13, o casal partirá para Borgo Egnazia, onde acontecerá a reunião da cúpula do G7. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), Lula foi convidado pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. Será sua oitava participação como presidente convidado em uma reunião do G7, grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

Além de se reunir com os líderes do G7 e outros presidentes, Lula terá ao menos cinco reuniões bilaterais. O Itamaraty já confirmou que haverá encontros com o papa Francisco, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen.

Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) lamentou as tentativas de “desvirtuar o caráter dessas importantes agendas do presidente da República”. Já a assessoria de comunicação da primeira-dama confirmou que ela “acompanhará o presidente Lula na viagem para a reunião do G7, assim como fez no ano de 2023, e da OIT”.

Copresidência da coalizão da OIT

Alguns dos posts verificados sugerem que o presidente e a primeira-dama estão indo curtir o Dia dos Namorados na Europa enquanto o Rio Grande do Sul ainda sofre com as inundações. Justamente por conta das chuvas, a ida de Lula tanto a Genebra quanto à Itália não estava confirmada até o início do mês, segundo publicou o colunista Jamil Chade, do UOL. No último dia 4 de junho, o Ministério das Relações Exteriores confirmou a viagem ao abrir credenciamento para a imprensa referente aos dois compromissos. Na programação oficial do evento, ainda é o nome do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que aparece como representante do Brasil.

Na manhã de 10 de junho, o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do MRE, embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, explicou que a coalizão se estrutura em torno de seis temas e, uma vez por ano, os integrantes se reúnem a fim de apresentar propostas relacionadas a eles.

“Uma das das questões que nós estamos estudando, por exemplo, é aquela iniciativa Lula-Biden sobre trabalho decente. Estamos discutindo aí com os americanos se ela não poderia ser incluída nesse contexto da Coalizão Global pela Justiça Social”, disse Cozendey, acrescentando que Lula fará a fala de abertura do fórum.

Viagem à Itália como convidado do G7

A segunda parte da viagem desta semana será para a Itália, que recebe a Cúpula do G7 e os líderes convidados em Borgo Egnazia. Os temas discutidos serão inteligência artificial, energia, África e Mediterrâneo. Este é o segundo ano consecutivo que o presidente Lula participa do encontro das maiores economias do mundo como convidado, mas ele já esteve em reuniões do G7 outras seis vezes, segundo o Itamaraty: em 2003, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009.

O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do MRE, embaixador Maurício Carvalho Lyrio, informou que Lula e os demais presidentes convidados chegarão a Borgo Egnazia às 13h do dia 13 de junho e terão um breve encontro inicial.

Em seguida, participarão da reunião entre os líderes do G7 e os convidados. Esta reunião terá o papa Francisco como orador inicial e cada participante falará por cinco minutos, incluindo o próprio Lula. De acordo com Lyrio, o tema central da fala do presidente brasileiro deverá ser a presidência brasileira do G20. “Eu diria que um eixo norteador provável da fala do presidente é um pouco como esses temas [do G7] se relacionam também com a presidência do G20 e com outras prioridades da agenda brasileira do G20, como o lançamento da Aliança Global contra a Fome”, declarou.

Além das reuniões entre todos os líderes, vão acontecer encontros bilaterais. Uma das reuniões já confirmadas ocorrerá entre o presidente Lula e o papa Francisco, na manhã do dia 14. O encontro foi solicitado por Lula. Outros líderes solicitaram reuniões com o brasileiro e tiveram os pedidos aceitos: são os representantes da Índia, da África do Sul, da França e da Comissão Europeia. Segundo o MRE, há ainda quatro convites sendo analisados.

Fontes consultadas: O Comprova procurou o Ministério das Relações Exteriores, a Secom e a equipe de comunicação direta da primeira-dama. Também foram consultadas notas oficiais, comunicados à imprensa e matérias sobre a viagem presidencial.

A reportagem entrou em contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), responsável por uma das publicações que insinuam que a viagem à Europa tinha como objetivo festejar o Dia dos Namorados, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Outras publicações relacionadas a Lula e Janja já foram verificadas pelo Comprova, como a afirmação falsa de que o presidente forjou viagem para a COP 27, no Egito, e discursou em porão cenográfico, e um post enganoso que alega que a primeira-dama encenou entrega de cão a um militar da Força Aérea Brasileira para gravar a cena e divulgar nas redes sociais.

Saúde

Investigado por: 2024-06-10

É enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas contra a covid

  • Enganoso
Enganoso
Estudo preprint, não revisado por pares, não permite afirmar, de forma ampla, que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas contra a covid, como afirma um post. Há literatura científica publicada que sugere o contrário. De acordo com esses estudos, revisados por pares, a probabilidade de miocardite como consequência da infecção pelo coronavírus chega a ser sete vezes maior do que em pessoas imunizadas. Autores do estudo preprint afirmam que suas conclusões foram distorcidas pela postagem aqui investigada.

Conteúdo investigado: Postagem com link de artigo publicado pelo site Médicos Pela Vida com o título “Miocardite e pericardite ocorrem apenas em vacinados, revela estudo”. O texto afirma que casos de miocardite e pericardite foram registrados somente em grupos de crianças e adolescentes vacinados contra covid-19 e que o Ministério da Saúde desinforma ao dizer que quem recebeu os imunizantes contra o coronavírus tem menos chances de desenvolver miocardite do que pessoas não vacinadas.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O grupo Médicos Pela Vida, associação criada na pandemia que defende “tratamento precoce” e medicamentos como a hidroxicloroquina contra a covid-19, se baseia em um estudo não revisado por pares para afirmar que “miocardite e pericardite ocorrem apenas em vacinados”. Um post no X publicado no perfil deles sugere uma conclusão abrangente que não condiz com a literatura científica publicada até o momento sobre o tema.

A afirmação enganosa destaca uma frase do estudo, que diz que “entre adolescentes e crianças, miocardite e pericardite foram documentadas apenas nos grupos vacinados”. O estudo em questão, que analisou dados de mais de um milhão de crianças e adolescentes, observou que essas ocorrências foram muito raras.

Ao Comprova, Edward Parker e William J. Hulme, dois pesquisadores envolvidos no estudo, afirmaram que suas conclusões foram distorcidas pelo Médicos Pela Vida. Parker acrescentou que não foi estabelecida relação de causalidade entre as enfermidades e as vacinas.

Além disso, o estudo é um preprint, ou seja, não foi revisado por pares, processo exigido para validação e posterior publicação em revista científica de referência.

O texto também engana ao afirmar que o Ministério da Saúde espalha desinformação ao dizer que “quem se vacinou contra covid-19 tem menos chance de desenvolver miocardite”. A declaração do órgão tem respaldo em, pelo menos, dois estudos revisados por pares. Um deles foi publicado pela editora Frontiers e mostra que o risco de miocardite é mais de sete vezes maior em pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 do que naquelas que receberam a vacina. Foram analisados dados de 58 milhões de pessoas.

Outro estudo publicado pela revista Circulation, da Associação Americana do Coração, mostrou que o risco de miocardite é maior após infecção por SARS-CoV-2 em indivíduos não vacinados do que após a vacinação. Neste, foram observados 43 milhões de casos.

Ao Comprova, o autor do post investigado reforçou os argumentos defendidos no artigo publicado no site Médicos Pela Vida e a crítica ao Ministério da Saúde.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de junho, o post tinha 87,7 mil visualizações, 4 mil curtidas, 2 mil compartilhamentos e 117 comentários.

Fontes que consultamos: Estudos científicos revisados por pares, os autores do preprint, o virologista Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estudo mencionado pelo Médicos Pela Vida e checagens anteriores do Comprova sobre o tema. Fonseca indicou os estudos apresentados nesta verificação.

Casos são raros, como o próprio preprint destaca

Casos de miocardite e pericardite como efeito adverso pós-vacinação com imunizantes de mRNA são conhecidos e raros. A informação consta na bula da vacina Pfizer-BioNTech (BNT162b2), também chamada Comirnaty, que foi aplicada no grupo de mais de um milhão de pessoas observadas no estudo a que o Médicos Pela Vida se refere. Segundo a bula, casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação. A proporção em pessoas acima de 5 anos de idade é de menos de 1 caso a cada 10 mil doses aplicadas.

“Geralmente os casos são leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso”, diz a bula do medicamento.

O próprio estudo destaca que, no universo analisado, os casos de miocardite e pericardite foram raros, sem registro de mortes. “Embora raros, todos os eventos de miocardite e pericardite durante o período do estudo ocorreram em indivíduos vacinados: não houve mortes após miocardite ou pericardite”, diz trecho do estudo, na seção “Discussão”. Mais acima, é relatada a proporção de 27 e 10 casos por milhão de miocardite e pericardite, respectivamente.

O estudo é um preprint, ou seja, não foi revisado por pares e, portanto, como consta na publicação, não deve ser usado para orientar a prática clínica. Além disso, ele não tem o objetivo de analisar ocorrência de miocardite em infectados por covid-19 versus vacinados, mas sim a efetividade da vacinação em crianças e adolescentes. “A observação de miocardites é apenas um achado exploratório”, diz o virologista Flávio Fonseca.

Autores do estudo dizem que conclusões foram distorcidas

Ao Comprova, dois pesquisadores envolvidos no preprint citado como referência no texto do Médicos Pela Vida afirmam que as alegações apresentadas são interpretações errôneas do que o estudo avaliou.

“O número pequeno de casos de miocardite/pericardite ocorreu em indivíduos vacinados. No entanto, avaliar a causalidade é muito desafiador, pois existem outras explicações possíveis para o registro desses casos. Por exemplo, as vacinações em nosso estudo ocorreram após a miocardite e a pericardite terem sido discutidas na mídia, então essa maior conscientização pode ter causado diferentes padrões de comportamento de busca por saúde e diagnóstico após a vacinação”, afirma Edward Parker, professor assistente na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM).

Ele reforça que a pericardite e miocardite foram muito raras tanto em crianças quanto em adolescentes no estudo. “Também vale mencionar que entre os adolescentes em nosso estudo, a vacinação foi associada a uma redução nas internações e hospitalizações por covid, apoiando os efeitos protetores da vacinação como um todo”, destaca.

Já William J. Hulme, da Divisão de Ciências Médicas da Universidade de Oxford, explica que não é possível dizer, a partir do estudo, que o risco de miocardite pós-vacinação é maior em comparação com o risco de miocardite após a infecção pelo coronavírus.

“A nossa é uma análise observacional, e sempre há a possibilidade de confundimento não mensurado e outros vieses. No entanto, nós nos propusemos a responder à pergunta ‘a vacinação em crianças reduz a ocorrência de eventos relacionados à covid, e ela aumenta a ocorrência de certos eventos adversos?’”.

“Embora não tenhamos identificado nenhum caso de miocardite ou pericardite no grupo não vacinado, isso não significa que nenhum ocorreu em todas as crianças não vacinadas, pois incluímos apenas crianças não vacinadas que foram pareadas com crianças vacinadas em nossa análise”, avalia.

Miocardite: incidência em infectados por covid-19 é sete vezes maior do que em vacinados

Ao contrário do que afirma o Médicos Pela Vida, estudos revisados por pares e publicados em revistas científicas mostram que a probabilidade de uma pessoa sofrer miocardite como resultado de infecção por covid-19 é muito maior do que como evento adverso pós-vacinação – como afirma o tuíte do Ministério da Saúde enganosamente chamado de “desinformação” pelo Médicos Pela Vida.

O estudo Myocarditis in SARS-CoV-2 infection vs. COVID-19 vaccination: A systematic review and meta-analysis, publicado pela editora científica Frontiers, mostra que o risco de miocardite é mais de sete vezes maior em pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 do que naquelas que receberam a vacina. “Estes achados apoiam a continuidade do uso das vacinas de mRNA contra a COVID-19 entre todas as pessoas elegíveis conforme as recomendações do CDC e da OMS”, conclui o estudo.

Os autores conduziram uma revisão sistemática de 22 estudos publicados em diferentes países, com um total de 58 milhões de participantes. O estudo foi repercutido no site da Universidade da Pensilvânia.

Publicado no jornal Circulation, da Associação Americana do Coração (American Heart Association), o estudo Risk of Myocarditis After Sequential Doses of COVID-19 Vaccine and SARS-CoV-2 Infection by Age and Sex analisou dados de 43 milhões de pessoas na Inglaterra e mostrou que “o risco de miocardite é substancialmente maior após infecção por SARS-CoV-2 em indivíduos não vacinados do que o risco observado após uma primeira dose da vacina ChAdOx1nCoV-19, e uma primeira, segunda ou dose de reforço da vacina BNT162b2”. O estudo é citado no tuíte do Ministério da Saúde.

Em outro estudo (One-Year Risk of Myocarditis After COVID-19 Infection: A Systematic Review and Meta-analysis), que analisou casos de mais de 20 milhões de pessoas, constam os seguintes dados: miocardite ocorreu em cerca de 0,2 a cada 1000 pacientes que tiveram e sobreviveram à infecção por covid-19. Ou seja, 200 casos por milhão. Já a miocardite como complicação rara das vacinações de mRNA tem uma incidência estimada de cerca de 12,6 casos por milhão de aplicações da segunda dose da vacina de mRNA.

Portanto, a incidência da miocardite em vacinados é mais de 10 vezes menor do que em pessoas infectadas por covid-19.

Miocardite como consequências da covid

Já o estudo Understanding COVID-19-related myocarditis mostra como a infecção por covid-19 pode provocar miocardite, uma inflamação do miocárdio, músculo cardíaco que reveste o coração. Segundo a publicação, a causa mais comum de miocardite são as infecções por vírus, sendo o SARS-CoV-2 um deles. “Assim como outros tipos de vírus, o SARS-CoV-2 pode causar miocardite após infectar o tecido miocárdico, o que é atribuído ao dano direto do vírus e às reações inflamatórias descontroladas”, explica o estudo.

Para o virologista Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o argumento analisado nesta checagem não se sustenta diante das evidências científicas já publicadas:

“O argumento forte é o do Ministério da Saúde, que se baseia numa série de estudos publicados em revistas importantes como a Frontiers, que indicam que o risco de miocardite em pessoas que se infectam com o vírus é maior do que o risco em pessoas vacinadas, independente dessas pessoas vacinadas terem ou não covid-19 no futuro”, diz Fonseca. “O Ministério está correto em sua afirmação, enquanto o grupo de médicos (Médicos Pela Vida) pinçou uma frase solta dentro de um artigo não revisado por pares para embasar seu argumento. O argumento forte continua sendo o do Ministério, enquanto que o do grupo de médicos é fraco e facilmente derrubável, digamos assim”.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 são alvo frequente de peças de desinformação. O Comprova já mostrou que a proteção oferecida por elas supera o risco de miocardite em crianças, que não é necessário detox de proteína dos imunizantes e que é enganosa a montagem em que uma deputada associa miocardite de jogador à vacinação. Também mostrou que é falsa a alegação de que a OMS teria admitido que bebês de mães vacinadas estariam nascendo com problemas no coração.

Política

Investigado por: 2024-06-07

Postagem engana ao sugerir que secretário do governo confirmou cobrança de novo imposto sobre Pix

  • Enganoso
Enganoso
Post desinforma ao dizer que o governo federal teria confirmado que o Pix e o Drex, o real digital, foram programados para aumentar a arrecadação. O vídeo viral tira de contexto declaração do diretor da Secretaria da Reforma Tributária, Daniel Loria, sobre o split payment, que não é um novo imposto, mas um mecanismo que prevê que o imposto sobre uma compra seja recolhido no momento da compra.

Conteúdo investigado: Vídeo começa com pergunta sobre a possibilidade de um imposto ser criado sobre transações via Pix e avança afirmando que um secretário do governo federal deu uma declaração dando a entender que tanto o Pix como o Drex, o real digital, “estão sendo programados pensando na proposta de arrecadar impostos diretamente de transações digitais”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Post viral no TikTok engana ao sugerir que o governo federal estaria programando criar um imposto para transações via Pix, sistema de pagamentos e transferências de dinheiro instantâneos, e Drex, o real digital. “O governo vai colocar imposto no Pix? O que está por trás disso é assustador”, diz o autor do vídeo.

Em seguida, ele afirma que o “diretor da Secretaria de Reforma Tributária disse que tanto o Pix quanto o Drex estão sendo programados pensando na proposta de arrecadar impostos diretamente de transações digitais”. Daniel Loria afirmou isso, em 3 de maio, em um evento em São Paulo. Mas o secretário falava sobre o split payment, mecanismo da reforma tributária que prevê que o imposto sobre uma compra seja recolhido no momento da compra – ele não falava sobre a criação de um novo imposto.

“A nossa intenção é que o split seja obrigatório em todas as transações de pagamento por meio eletrônico. Estive ontem [2 de maio] no Banco Central conversando com o pessoal. O Pix e o Drex já estão sendo programados pensando nisso”, disse o diretor, referindo-se à intenção de fazer a alteração para que o imposto seja recolhido no momento da compra. Hoje, o recolhimento dos tributos é feito mensalmente.

Depois de sugerir que haveria a criação de um imposto, o autor do vídeo diz não se tratar de uma nova tributação, “mas é mais uma maneira de o governo tirar dinheiro daqueles que não declararam”. De fato, com o split payment, “o fornecedor vai ver reduzido o espaço para sonegação, fraudes e inadimplência”, como informou o Ministério da Fazenda ao Comprova. O órgão ainda afirmou que “é importante destacar que [o slit payment] não se trata de um tributo sobre o Pix e Drex”.

O Drex, como afirmado acima, é o real digital. Ele é a representação virtual da moeda brasileira e deve entrar em vigor no Brasil entre este ano e 2025. De acordo com o Banco Central, a sigla evoca as palavras “digital”, “real”, “eletrônico” e “transação”.

No final do post investigado aqui, o autor convida seguidores a aprender com ele, em outro vídeo, a não pagar imposto. Contatado pela reportagem, Rafael Cezar, o autor, negou que tenha sugerido a criação de um novo imposto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 5 de junho, o vídeo tinha sido visualizado 396 mil vezes e recebido 45,7 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Pesquisamos reportagens sobre o split payment e o site do Ministério da Fazenda, que foi contatado por email.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos sobre economia são frequentemente verificados pelo Comprova. O projeto publicou na seção Comprova Explica detalhes sobre medida do governo de zerar a taxa de importação do arroz e suas consequências e conclui ser falso post com dados sobre PIB e inflação inventando que Fernando Haddad havia dito ser impossível pagar o funcionalismo.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-05

Estrada foi bloqueada em Canoas (RS) para passagem de carretas com material de construção, diferentemente do que afirma post

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao afirmar que um bloqueio foi feito na BR-448, na altura do acesso ao bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), para a chegada de 70 carretas vazias com a intenção de esconder algo da população. O bloqueio aconteceu no dia 31 de maio, dia da publicação do conteúdo, mas os caminhões não estavam vazios. Eles levavam material para reconstrução de dique.

Conteúdo investigado: Publicação no X em tom conspiratório afirma que 70 carretas que chegaram ao bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), estavam vazias e sairiam de lá escondendo algo. Nos comentários, há insinuações de que os caminhões eram frigoríficos e sairiam do bairro com corpos de vítimas da enchente.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Postagem engana ao insinuar que 70 carretas entrariam no bairro Mathias Velho, em Canoas (RS), vazias. Os veículos realmente estiveram na região no dia 31 de maio, passando pela BR-448, mas para levar material de construção para obra do Dique Mathias Velho, conforme informou a Prefeitura de Canoas. Responsável pela obra, a Eurovia disse que toda movimentação de equipamentos e veículos da empresa no local é relacionada a este serviço contratado pela administração municipal.

O número de mortes divulgado pelo governo do Rio Grande do Sul reforça que as alegações feitas na postagem e nos comentários (de que as carretas transportavam corpos) são enganosas. Até 5 de junho, 31 óbitos haviam sido confirmados no município, um dos mais atingidos pelas chuvas no estado. A quantidade de mortes não justifica operação com dezenas de carretas para transporte de mortos.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 5 de junho de 2024, o post somava 417 mil visualizações, 3 mil curtidas, mil compartilhamentos e 318 comentários.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, foram consultadas a Prefeitura de Canoas e a Eurovia, além da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP) e do Governo do Rio Grande do Sul. A autora do post não permite o envio de mensagens no X e, por isso, não foi possível contatá-la.

Empresa foi contratada emergencialmente para reconstruir dique

A empresa responsável pelas 70 carretas que passaram pela BR-448, próximo ao acesso a Mathias Velho, no dia 31 de maio, é a Eurovia, contratada emergencialmente para reconstruir o dique do bairro. As obras de reconstrução deste dique e de outro próximo, o do Rio Branco, eram essenciais para retirar a água acumulada no lado oeste de Canoas, segundo informou, no dia 30, o jornal O Sul.

A primeira obra a ser finalizada foi a do dique Rio Branco, em 29 de maio, que também fica às margens da BR-448. A empresa responsável pelo reparo foi a Sultepa, que assinou um contrato de R$ 1.868.593,91 no dia 20 de maio, como mostra este documento disponível no Portal da Transparência da Prefeitura de Canoas.

Com a Eurovia, o município assinou outro contrato emergencial, no mesmo dia, no valor de R$ 7.761.903,03, especificamente para a reconstrução do Dique Mathias Velho. Segundo a prefeitura, as 70 carretas que passaram pela BR-448 no dia 31 levavam material para esta obra, já que a do Dique Rio Branco já estava concluída naquele momento.

Em nota, a Eurovia confirmou a informação. “O objeto de nosso contrato se refere exclusivamente à prestação de serviços para a reconstituição provisória do Dique do Pôlder Mathias Velho. Logo, toda a movimentação de caminhões e equipamentos de nossa empresa, na localidade de Canoas, é decorrente dos aludidos serviços”, diz.

A PRF foi procurada, mas disse não ter informações sobre o bloqueio no acesso ao bairro Mathias Velho para a chegada dos caminhões. Segundo a Prefeitura de Canoas, a operação foi acompanhada pela Guarda Municipal.

Corpos não são transportados em caminhões, diz Instituto de Perícias

A insinuação de que os 70 caminhões estariam vazios porque transportariam corpos de vítimas da enchente também não se sustenta. No dia 31 de maio, quando os caminhões chegaram ao bairro Mathias Velho, o número de óbitos pela chuva no Rio Grande do Sul era de 169, mesmo número do início da semana, no dia 27. Ou seja, não houve variação no número de óbitos que justificasse uma grande operação para remoção de corpos.

O número e o nome dos mortos são divulgados diariamente pelo governo, separando os casos por cidade, como uma forma de transparência. Os dados podem ser acessados por qualquer pessoa.

Das 169 vítimas no Estado em 31 de maio, 24 eram de Canoas, e a cidade ainda tinha oito desaparecidos – o que também não justificaria 70 veículos, mesmo que fossem apropriados para o serviço, para remover as vítimas.

Além disso, corpos não são transportados em caminhões ou carretas, segundo informou ao Comprova o Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, ligado à Secretaria da Segurança Pública do Estado. O órgão explicou que os caminhões na BR-448 não pertenciam ao IGP e que “em nenhum momento houve transporte de vítimas em caminhões pelo instituto”.

Em nota, o governo do Rio Grande do Sul informou que contabilizou o maior número de pessoas desabrigadas no dia 13 de maio, totalizando 21.294 em Canoas. O dado de desalojados, que são as pessoas que tiveram que sair de casa, mas não foram para abrigos, não entra nesta contagem. O Observatório Social da Secretaria de Desenvolvimento Social é responsável pelo levantamento diário da situação dos abrigos no Estado. Ainda segundo o governo, até as 9h do dia 5 de junho a confirmação era de 31 mortes no município.

O portal do governo do Rio Grande do Sul também já publicou matéria negando que exista 2 mil corpos congelados e armazenados em frigoríficos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu outros conteúdos sobre as chuvas no Rio Grande do Sul. Mostrou que governos atuam no resgate de vítimas desde o dia 30 de abril, diferentemente do que diz vídeo; que um deputado omitiu que o número de mortes citado pelo ministro Paulo Pimenta foi corrigido; e que um homem minimizou o volume de chuvas para alegar falsamente que abertura de comportas de barragens foram responsáveis por alagamentos.

Política

Investigado por: 2024-06-04

Reportagem não disse que Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro

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Sátira
É satírico o post que fez uma montagem e uma alteração em texto de captura de tela de reportagem apurada pelo portal Metrópoles e republicada pelo Diario de Pernambuco para afirmar que Fabrício Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As reportagens abordam áudios em que o ex-assessor do então deputado estadual pelo Rio de Janeiro faz ameaças à família Bolsonaro, sem mencionar paternidade. O perfil do autor da publicação é de paródia e faz sátiras e críticas à direita.

Conteúdo investigado: Post com o texto “Bomba! Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro. Agora está explicado o empenho nas rachadinhas” e uma captura de tela com o título “Fabrício Queiroz ameaça família Bolsonaro em áudios; ouça – Operador das rachadinhas da família admite paternidade e diz que recebia pagamentos para ficar em silêncio”. A imagem acompanha foto de Queiroz e de Jair Bolsonaro.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É uma sátira o post viral segundo o qual Fabrício Queiroz seria pai de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O conteúdo apresenta uma montagem com uma captura de tela de uma reportagem com o título “Fabrício Queiroz ameaça família Bolsonaro em áudios; ouça” e uma chamada inferior, inventada, dizendo “Operador das rachadinhas da família admite paternidade e diz que recebia pagamentos para ficar em silêncio”. O layout da página capturada se assemelha a uma publicação feita pelo jornal Diario de Pernambuco, mas teve o texto alterado.

Na verdade, no jornal pernambucano o subtítulo era “Operador das rachadinhas admite que recebia pagamentos para ficar em silêncio e diz guardar segredos comprometedores”. A reportagem sobre os áudios de Queiroz foi originalmente publicada pelo portal Metrópoles, em 23 de novembro de 2023. O Diario de Pernambuco replicou o conteúdo. Outro elemento diferente na montagem é que, na indicação de autoria, aparece “Por Rodrigo Rangel – Metrópoles asadas”, o que não consta na reportagem verdadeira.

Na legenda da postagem satírica, o publicador escreveu “BOMBA!. Queiroz é pai de Flávio Bolsonaro. Agora está explicado o empenho nas rachadinhas”. A conta se descreve como um “perfil-paródia”. Os comentários da publicação também indicam tom de piada. “Quem precisa de fonte? Congresso liberou geral”, diz um dos comentários do post, que faz menção à manutenção feita pelo Congresso Nacional a veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a projeto que criminaliza disseminação de notícias falsas durante o período eleitoral.

Outro comentário sugere ao autor do post que o nome do veículo e do jornalista sejam retirados, ao que o perfil responde: “Achei assim, vou deixar”.

Ao Comprova, Rodrigo Rangel afirmou que sua reportagem não faz qualquer menção à paternidade. Publicada no Metrópoles, a matéria é originalmente intitulada “Em áudios, Queiroz pede dinheiro e empareda o clã Bolsonaro”.

Procurado, o Diario de Pernambuco declarou que a imagem não é de uma reportagem do portal. É possível notar que a fonte do texto da postagem é diferente da tipografia utilizada pelo jornal.

Sátira, para o Comprova, são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 4 de junho, o post somava mais de 29,8 mil visualizações, 2 mil curtidas, 617 compartilhamentos e 96 comentários.

Fontes que consultamos: Analisamos a reportagem original do Metrópoles e contatamos o jornalista citado para saber se a matéria fazia alguma menção à suposta paternidade de Queiroz. Uma busca reversa pela imagem de destaque da reportagem mostrou que o conteúdo havia sido veiculado também no Diario de Pernambuco. Com isso, entramos em contato com o jornal para saber se o subtítulo da captura de tela foi utilizado em algum momento pelo portal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou se tratar de conteúdo satírico post que afirma que Elon Musk teria comprado “mais de 99%” das ações do Grupo Globo e vídeo em que um ator diz importar alimentos na Europa com dinheiro da Lei Rouanet.