O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Política

Investigado por: 2019-11-12

É falso que governo Bolsonaro tenha implantado scanners de veículos na PRF

  • Falso
Falso
Vídeo compartilhado em redes sociais é trecho de reportagem da TV Globo exibida em 2013, quando equipamento que faz raio-x de veículos começava a ser implantado nas fronteiras do país. Em 2019, não houve nenhuma nova aquisição de scanners.

É falso que scanners veiculares para uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tenham sido implantados no governo Bolsonaro. Postagens que circulam nas redes sociais pelo menos desde o dia 2 de novembro utilizam um vídeo que é parte de uma reportagem do telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, veiculada no dia 4 de março de 2013. Os vídeos viralizados trazem títulos como o seguinte: “Olha o brinquedinho novo que o governo Bolsonaro implantou na PRF!!!”

A matéria do Bom Dia Brasil recuperava parte de uma reportagem especial exibida no dia anterior pelo Fantástico apresentando a novidade e como funciona essa tecnologia. O equipamento é capaz de fazer um raio-x em veículos parados e em movimento e identificar drogas, armas e mercadorias fora do padrão.

Além do vídeo ser antigo, a Polícia Rodoviária Federal informou ao Comprova que não foram comprados novos scanners em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PSL). O órgão não confirmou se eles ainda são utilizados. Segundo a PRF, por motivos de segurança.

O Comprova identificou várias publicações com o mesmo trecho do vídeo e legendas idênticas que foram compartilhadas no Facebook, YouTube e Twitter. Até a tarde desta terça-feira (12), quatro dessas postagens no Facebook somavam quase 12 mil visualizações.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Ao assistir o vídeo, o Comprova identificou que se tratava do trecho de uma reportagem da TV Globo a partir de três elementos facilmente encontrados: a marca d’água da emissora no canto direito da tela, o microfone com os símbolos da Globo e da RPC TV, sua afiliada no Paraná, e pela grafia do telejornal Bom Dia Brasil que aparece junto dos créditos do inspetor da PRF Wilson Martines, que foi entrevistado na reportagem.

Buscamos palavras-chave do vídeo no Google, como “scanner”, “raio-x” e “PRF” e as reportagens do Bom Dia Brasil e do Fantástico, ambas de março de 2013, apareceram nos primeiros resultados da busca.

Ao assistir ambas as reportagens, confirmamos que o vídeo se tratava do trecho de uma reportagem do Bom Dia Brasil veiculada no dia 4 de março de 2013. O vídeo original, que tem 1min52seg, foi recortado e teve utilizado nas publicações que viralizaram apenas o trecho entre 0min13seg e 1min09seg.

Comprovado que se tratava de um vídeo antigo, o Comprova procurou a Superintendência da PRF no Paraná, estado onde foram implantados os primeiros scanners – que aparecem na reportagem de 2013 -, e a Polícia Rodoviária Federal, através da sede do órgão em Brasília (DF).

Em resposta ao Comprova, por e-mail, a PRF informou que não foram feitas novas aquisições de scanners neste ano. O Comprova também fez uma busca na lista de licitações de 2019 feitas pelo DPRF, entre 1º de janeiro e 6 de setembro – data da última atualização. Não foi localizada qualquer licitação para compra de scanners.

Foi procurado ainda o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que informou que o tema deveria ser tratado com a PRF. Por telefone, foi procurada ainda a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), responsável pela compra de 38 equipamentos em 2013, que também direcionou a equipe à PRF, em Brasília.

Bolsonaro implantou scanners na PRF?

A tecnologia de scanners veiculares capaz de fazer um raio-x quando os veículos estão em movimento não foi adquirida no governo Bolsonaro. Na verdade, esse tipo de equipamento já havia sido testado em 2012, ainda no mandato da então presidente Dilma Rousseff (PT).

De acordo com uma publicação no site oficial do Ministério de Justiça e Segurança Pública, no ano de 2013, o governo investiu US$ 66,5 milhões, sendo US$ 1,75 milhão por scanner. Essa quantia equivale a compra de mais 38 scanners que foram distribuídos, na época, para polícias de todas as unidades da federação, 22 entre os 11 estados de fronteira e 16 para os demais estados e o Distrito Federal.

O ministério reforçou em nota publicada em seu site que cinco desses equipamentos já eram utilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) desde 2012.

O uso de raio-x móvel fazia parte da Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron), para coibir a entrada de drogas.

A assessoria de comunicação da PRF informou que não houve compra de novos equipamentos de scanner este ano. Portanto, o governo Bolsonaro não chegou a investir, pelo menos por enquanto, nessa tecnologia, como diz o boato verificado pelo Comprova.

Sob alegação de questões de segurança e eficácia, o órgão não informou se os equipamentos comprados anteriormente continuam em uso pela PRF e em quais locais.

Como esses equipamentos funcionam?

Os scanners veiculares ou automotivos são aparelhos que fazem uma ‘radiografia’ do interior de veículos parados ou em movimento. O equipamento, que se assemelha a um computador, captura imagens de objetos através da carroceria dos carros. Eles geralmente ficam dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e funcionam como se fossem um radar.

Os scanners começaram a ser utilizados pela PRF principalmente para apreensão de cargas contrabandeadas e de drogas vindas do Paraguai pela fronteira com o Brasil, cobrindo uma área de 16 mil quilômetros de extensão. Além disso, o scanner também é útil para inibir a circulação de quadrilhas organizadas que explodem caixas eletrônicos e fazem assaltos a agências bancárias.

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o aparelho tem capacidade de operação de 8 horas seguidas, o que possibilita o flagrante imediato. As imagens obtidas são gravadas e armazenadas num banco de dados que serve como base para investigações das Secretarias da Segurança Pública dos Estados.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O vídeo verificado foi compartilhado por pelo menos 80 perfis no Facebook a partir do dia 2 de novembro de 2019. Quatro postagens somavam, até a tarde desta terça-feira (12), quase 12 mil visualizações. Também foram encontrados compartilhamentos por perfis no Twitter e no Instagram a partir de 2 de novembro e no Youtube, a partir de 9 de novembro.

A postagem mais antiga encontrada pelo Comprova foi feita no Twitter pelo perfil @joanklis, mantido desde o dia 11 de outubro por um usuário que faz postagens a favor do governo Bolsonaro. O mesmo conteúdo foi compartilhado por um perfil com o mesmo nome no Facebook. O Comprova entrou em contato com o usuário através do Facebook, mas não obteve retorno. Não foi possível fazer contato no Twitter, uma vez que o envio de mensagens estava bloqueado.

Política

Investigado por: 2019-11-08

É enganoso que fábricas estejam fechando filiais na Argentina para vir ao Brasil

  • Enganoso
Enganoso
Site republica texto de maio para dar a entender que empresas estão fechando fábricas na Argentina para se instalar no Brasil

Não é verdade que fábricas estejam encerrando suas atividades na Argentina e se instalando no Brasil, como sugere publicação no Facebook que viralizou na internet desde quarta-feira (6).

A publicação em questão foi feita pelo perfil do Jornal da Cidade Online. O conteúdo compartilhado é um texto do próprio site com o título “Confiança é tudo: Scania, Hyundai, GM, Carrefour e Honda anunciam investimentos no Brasil” junto à afirmação de que “inúmeras empresas estão anunciando o fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no Brasil”.

O texto cita valores de investimentos das empresas no Brasil. Eles são verdadeiros, mas foram anunciados no primeiro semestre de 2019. No entanto, nenhuma dessas empresas anunciou fechamento de suas fábricas na Argentina. A Hyundai informou inclusive que sequer tem fábrica no país vizinho.

Tampouco as empresas mencionadas estão se instalando no Brasil, visto que todas já têm unidades no país há anos.

Além disso, para aqueles que chegam a abrir o link do texto, consta junto ao título como data de publicação 6 de novembro às 8h20 da manhã. Só os leitores que chegam ao fim do artigo visualizam a informação de que, na verdade, o conteúdo foi publicado originalmente em 31 de maio e atualizado em 6 de novembro.

De acordo com o editor do site Jornal da Cidade Online, José Tolentino, a informação de que as empresas estariam fechando suas unidades na Argentina se baseava em um tuíte do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Segundo ele, a informação também havia sido adicionada ao site e retirada ainda no dia 6, mas a equipe se esqueceu de atualizar as postagens nas redes sociais. Após contato do Comprova, o texto no Facebook passou a ser apenas “Confiança é tudo”.

No dia 6, o presidente tuitou a informação falsa, porém citando outras empresas. A postagem foi apagada pouco mais de uma hora depois, e a informação foi desmentida pelas empresas.

A postagem sobre a transferência das empresas foi feita depois de críticas de Bolsonaro ao recém-eleito presidente do país, Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner.

Crítico ao kirchnerismo, Bolsonaro apoiou a reeleição de Mauricio Macri e, na quarta-feira (6), anunciou que enviará o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para representá-lo na posse de Fernández. Essa será a primeira vez em 17 anos que um presidente brasileiro não participará da cerimônia no país vizinho.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

Por meio da ferramenta Wayback Machine (que salva registros de uma mesma página ao longo do tempo), o Comprova analisou as diferenças entre a publicação no site Jornal da Cidade Online em 4 de junho e em 6 de novembro.

Também foram contatadas as assessorias de imprensa de cada uma das empresas mencionadas pela publicação.

Você pode refazer o caminho da verificação usando os links para consultar as fontes originais.

Boato é do mesmo dia de tuíte de Bolsonaro

Apesar de não apontar as mesmas empresas (há apenas uma em comum), a atualização no texto do Jornal da Cidade Online foi no mesmo dia de tuíte do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre fechamento de fábricas na Argentina e que foi apagado.

No tuíte, o presidente brasileiro afirmava: “MWM, fábrica de motores americanos; Honda, gigante dos automóveis; e L’Oréal anunciaram fechamento de suas fábricas na Argentina e sua instalação no Brasil”, insinuando que a razão seria a eleição do candidato à presidência kirchnerista Alberto Fernández.

A informação foi manchete dos principais jornais argentinos na manhã da quarta-feira (6) como se fosse verdadeira.

No Clarín, o título principal, às 8h era: “Bolsonaro anunciou que três empresas fecham fábricas na Argentina para irem ao Brasil”. Mais tarde, o site publicou texto informando que o presidente apagou o tuíte.

A única empresa do tuíte que também aparece no texto do Jornal da Cidade Online é a Honda. Segundo reportagem da Folha, todas as três negaram a afirmação de que estariam encerrando as atividades na Argentina.

A fábrica de motores MWM Argentina, sim, fechou sua fábrica em Córdoba no mês passado, mas a empresa comunicou que isso não tinha relação com a vitória do kirchnerismo nas eleições presidenciais do mês passado.

A L’Oreál disse não prever o fechamento de nenhuma fábrica na Argentina.

No site “Tweets do Bolso”, do Aos Fatos, é possível consultar os tuítes publicados pela conta oficial do presidente, inclusive os apagados.

O que dizem as empresas

A seguir, as informações fornecidas pelas empresas mencionadas na postagem, em resposta ao Comprova.

Scania

Iniciou suas operações no Brasil em 1957, e desde 1962 tem uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP).

O investimento de R$ 1,4 bilhão em São Bernardo do Campo, citado pelo texto checado, foi anunciado pela empresa em maio e deverá ocorrer de 2021 a 2024. De acordo com a empresa, os últimos investimentos no país foram: um aporte de R$ 2,6 bilhões distribuído de 2016 a 2020 e um segundo, no valor de R$ 75 milhões em 2018.

Na Argentina, a empresa está presente desde 1976, atualmente voltada principalmente à produção de componentes para exportação.

A empresa disse que não pretende fechar sua unidade na Argentina e, pelo contrário, anunciou um novo ciclo de investimento de US$ 35 milhões no país (cerca de R$ 145 milhões).

Hyundai

Está presente no Brasil desde 2012, quando instalou uma fábrica em Piracicaba, no interior de São Paulo. Em março, deste ano a empresa anunciou investimento de US$ 35 milhões (cerca de R$ 145 milhões) no país.

Antes dele, o último investimento da empresa foi em 2017, no valor de US$ 130 milhões (cerca de R$ 538 milhões) para a produção do SUV compacto Hyundai Creta.

A empresa afirmou que não possui fábrica ou operação própria na Argentina.

General Motors

Está presente no Brasil desde 1925 e atualmente possui fábricas em cinco cidades brasileiras.

Em março de 2019, a empresa anunciou que investiria R$ 10 bilhões de 2020 e 2024 no país. O anúncio foi realizado durante evento na presença do governador do estado de São Paulo João Doria.

Na Argentina, a GM possui uma fábrica, em Rosario, que opera desde 1997. A empresa informou que não fez qualquer anúncio de que pretende fechá-la. A unidade está recebendo atualmente investimento no valor de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2 bilhões).

Honda

A empresa possui três fábricas no Brasil: uma em Manaus e duas no interior de São Paulo. A mais recente foi inaugurada em abril de 2019 e envolveu o investimento de cerca de R$ 1 bilhão, segundo a empresa.

Foi anunciado este ano o aporte de R$ 500 milhões na unidade em Manaus, que deve ser realizado até 2021.

Em agosto de 2019, a empresa anunciou que deixará de produzir automóveis na Argentina e continuará apenas com a produção de motocicletas. A Honda está presente na Argentina desde 1978, inicialmente com importação de produtos e, desde 2006, com produção local.

Carrefour

O grupo Carrefour está no Brasil desde 1975 e, conforme a empresa informou, foi anunciado investimento de R$ 2 bilhões em 2019. Além disso, afirma que pretende manter o mesmo valor de investimentos para os próximos cinco anos.

Na Argentina, a empresa opera há 37 anos, possui mais de 593 unidades e negou qualquer boato de fechamento de suas lojas no país.

O que o Jornal da Cidade Online atualizou

As únicas alterações no texto foram referentes a marcas temporais. Na publicação original em 31 de maio, o texto dizia: “Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira (30) investimentos nas últimas semanas das seguintes empresas”. Na versão atualizada em 6 de novembro, a data do anúncio é substituída pela palavra ‘recentemente’.

Outra alteração foi no parágrafo que citava as manifestações do dia 26 de maio, em apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). No novo texto, a referência dá lugar às manifestações da última terça-feira (5). O restante do texto é idêntico.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

A postagem do Jornal da Cidade Online no Facebook no dia 6 de novembro acumulava mais de 24 mil interações até a tarde desta sexta (8).

Desde o dia 6, segundo a ferramenta Crowdtangle, mais de 100 páginas e grupos compartilharam o texto, originalmente publicado em maio, como se fosse recente — que resultaram em quase 54 mil interações. Porém nessas outras postagens não há menção à Argentina.

A Agência Lupa também verificou o boato.

Política

Investigado por: 2019-11-07

Para desqualificar presidente da UNE, boato diz que ele estuda Ciências Sociais há 15 anos

  • Falso
Falso
Em 2004, Iago Montalvão tinha 11 anos de idade. Ele passou por outros cursos, mas atualmente é estudante de Economia da USP.

São falsos os posts de redes sociais que dizem que o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão Oliveira Campos, teria 33 anos e seria estudante de Ciências Sociais desde 2004 (ano em que ele completou 11 anos).

Na verdade, ele tem 26 anos e, desde 2018, é estudante de Ciências Econômicas na Universidade de São Paulo (USP), no qual foi aprovado por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU). Antes disso, foi estudante de História em três diferentes instituições de ensino superior.

A primeira matrícula foi em 2011 na Universidade Federal de Goiás (UFG). Mais tarde, pediu transferência para a Universidade de Brasília (UnB) e em 2017 ingressou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Além da idade e das informações sobre o ingresso na universidade, a publicação erra o nome de Iago ao chamá-lo de “Tiago” e “Thiago”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova buscou informações sobre a formação acadêmica de Iago Montalvão na página oficial da UNE e também buscou seu nome completo no Google, onde encontrou diversos links de universidades com sua aprovação no vestibular.

Para confirmar que ele de fato estudou nas instituições mencionadas, entramos em contato com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a CESMAC (AL).

Localizamos, ainda, o Currículo Lattes, usado por acadêmicos, com o nome completo de Iago, atualizado pela última vez em março de 2013.

Foram encontradas ainda reportagens na imprensa sobre a eleição de Iago Montalvão para a presidência da UNE e posicionamentos dele a respeito dos bloqueios nas verbas das universidades federais e o programa Future-se. Encontramos também registros das manifestações do dia 13 de agosto, em São Paulo, retratados na imagem usada na postagem.

Também foi verificado, junto às páginas oficiais das instituições de ensino, o tempo máximo de permanência em cada um dos cursos iniciados por Iago.

A equipe do Comprova entrou em contato com os autores dos posts originais no Facebook por meio de mensagens, mas não obtivemos resposta até a publicação deste texto.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Quem é Iago Montalvão?

A UNE publicou, em 14 de julho de 2019, um perfil do presidente Iago Montalvão após sua eleição durante o 57º Congresso da UNE, em Brasília. O texto afirma que Iago é goiano, “conterrâneo e sucessor de Honestino Guimarães e Aldo Arantes”. Iago foi eleito com 4.053 votos (70% do total) pela chapa Tsunami da Educação.

No texto, consta que Iago foi membro do Grêmio do Colégio Aplicação, em Goiânia, onde fez toda a formação escolar e onde “sempre esteve na militância”. Ele foi cotista de escola pública na Universidade Federal de Goiás (UFG), onde cursou três anos de História.

No texto da UNE, Iago afirma que, embora queira terminar um dia o curso de História, viu na USP a oportunidade de expandir o conhecimento na área de Economia, pois considera que “falta no país uma opinião elaborada de economistas no campo da esquerda, progressista”.

Iago Montalvão é filho do professor universitário Romualdo Pessoa, que foi presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg). No site da Associação, há uma publicação noticiando a eleição de Iago e declarações do pai, que, segundo o texto, também fez parte do movimento estudantil desde os tempos de secundarista.

Ele tem 33 anos?

Não. Iago nasceu em Goiânia (GO) em 14 de maio de 1993 e tem, portanto, 26 anos. O líder estudantil enviou ao Comprova uma imagem de sua carteira nacional de habilitação, que confirmou que as informações de filiação e data de nascimento são as mesmas de outras fontes, como a nota no site da Adufg sobre seu pai e os textos sobre Iago no site da UNE.

Ele estuda Ciências Sociais desde 2004?

Não. Iago Montalvão é aluno do curso de Ciências Econômicas da Universidade de São Paulo (USP), no qual foi aprovado por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2018. Em seu perfil oficial no Twitter, Iago diz que é estudante de Economia da USP “graças ao SISU!”.

Ao Comprova, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP) confirmou que ele é aluno do curso.

Há 15 anos, em 2004, data que a postagem afirma que Iago se matriculou no curso de Ciências Sociais – sem especificar uma instituição –, Iago tinha apenas 11 anos de idade.

Que cursos universitários ele já fez?

Antes de estudar Economia, Iago também foi aluno de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade de Brasília (UnB) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A UFG confirmou ao Comprova que Iago ingressou no curso de História em 2011 e informou que ele pediu transferência para outra instituição em 2016. A UnB confirmou que Iago Montalvão foi estudante da instituição “entre o 1º semestre de 2016 e o 1º semestre de 2018, no curso de História, mas não concluiu a graduação”.

Um currículo Lattes acessado pelo Comprova na segunda-feira (4), com o nome e a foto de Iago, dizia que ele cursou Engenharia Elétrica na CESMAC, em Maceió, a partir de 2010; e Física na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) a partir de 2008. No entanto, ao Comprova, Iago negou ter feito os dois cursos e não soube dizer como a informação foi parar no currículo. Segundo Iago, a última alteração que havia feito em seu Lattes foi para cadastrar um projeto de iniciação científica que fez ainda na UFG, entre 2013 e 2014. Após o contato do Comprova, Iago alterou o Lattes, ainda na segunda-feira (4), e as duas instituições já não aparecem mais no currículo.

O nome de Iago não consta das listas de aprovados na Ufal para 2008 e no CESMAC para o segundo semestre de 2010. Em 2008, Iago tinha 15 anos.

O que disse sobre políticas públicas de educação do governo?

Iago Montalvão tem feito críticas às políticas do governo federal voltadas para a área de Educação. Em 17 de julho deste ano, três dias após a sua eleição como presidente da UNE, interrompeu uma fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante a apresentação do programa Future-se para criticar a proposta.

“Ministro, cadê o dinheiro da educação? Queremos solução para os estudantes que estão sem bolsa. Queremos uma resposta para isso, uma resposta imediata. Como vamos pensar um projeto para o futuro se no presente não funciona?”, questionou, segundo publicação do site da Revista Fórum.

Em entrevista ao Comprova, Iago afirmou que a circulação do conteúdo verificado pelo Comprova começou após um ato em frente ao MEC, que terminou em pancadaria e depois de ele interpelar o ministro Weintraub durante o evento do Future-se no Inep.

Em 13 de agosto, o site Vermelho, que é gerido pela Associação Vermelho em convênio com o partido PC do B, também publicou uma matéria sobre o ato “Tsunami da Educação” e apontou que, segundo Iago, o presidente Bolsonaro escolheu a educação como “inimiga”.

Dias antes, numa entrevista ao site Rede Brasil Atual, de uma união de sindicatos, Iago Montalvão falou sobre o bloqueio de verbas para as universidades e disse que “atacar as universidades federais é atacar o desenvolvimento do país, é atacar a retomada do crescimento e a perspectiva de futuro que a gente tem”.

No site da UNE, há uma série de publicações em que a instituição presidida por Iago se posiciona contra os cortes em orçamento das universidades e o Future-se, além de convocar greve geral de professores, estudantes e técnicos.

A foto é verdadeira?

Sim. A imagem usada na postagem foi feita em 13 de agosto deste ano em São Paulo, durante a manifestação “Tsunami da Educação”. A mesma imagem é usada como foto de capa da página de Iago Montalvão no Facebook. Outras imagens parecidas foram compartilhadas por ele em seu perfil no Twitter. O Comprova encontrou a fotografia por meio da busca reversa no Google.

A mesma imagem foi postada no site Vermelho, com crédito para a fotógrafa Karla Boughoff, que também é autora de outras fotos do mesmo dia, postadas na conta oficial da UNE no Flickr, site de compartilhamento e armazenamento de imagens.

Contexto

Esta não é a primeira vez que este conteúdo falso viraliza nas redes sociais. No dia 17 de agosto deste ano, quatro dias após a manifestação “Tsunami da Educação”, Iago Montalvão publicou em sua conta no Twitter uma postagem em que desmentia um conteúdo parecido.

Usando outra foto de Iago Montalvão, as postagens afirmavam que “Thiego Lula da Silva”, de 33 anos, era estudante e diretor da UNE, estava há 15 anos matriculado no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pato Branco, junto com uma declaração atribuída a ele: “Devolvam nosso futuro”. A Universidade Federal Tecnológica do Paraná, que foi criada em 2005 – há 14 anos -, não possui um curso de Ciências Sociais no campus de Pato Branco.

Na foto compartilhada em agosto, Iago usava um boné e uma camisa branca com a logo da UNE. Já na postagem compartilhada a partir do dia 1º de novembro, a imagem usada é de uma manifestação em agosto, em que o presidente da UNE usa uma camisa com uma imagem de Fernando Santa Cruz, que foi um estudante e militante do movimento estudantil brasileiro, um dos símbolos da resistência à ditadura militar do Brasil. Ele desapareceu em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro, aos 26 anos. Registros oficiais vinculados à Comissão Nacional da Verdade indicam que seu desaparecimento ocorreu “em razão de morte não-natural, violenta, causada pelo Estado Brasileiro”.

Em julho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que “Santa Cruz foi morto por correligionários que combatiam a ditadura a fim de evitar o vazamento de informações confidenciais”. Seu filho, Felipe Santa Cruz – atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), decidiu interpelar o presidente para esclarecimentos por causa das afirmações sobre o paradeiro de seu pai. A família de Santa Cruz foi à Procuradoria Geral da República (PGR) cobrar explicações de Bolsonaro sobre as declarações.

As ofensas de Bolsonaro começaram no dia 29 de julho, ao reclamar sobre a atuação da OAB no caso Adélio Bispo, autor do atentado a facadas ao então candidato durante uma passeata na cidade de Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. O presidente disse que “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto pra ele”. Fernando Santa Cruz é um dos símbolos do movimento estudantil – alguns diretórios estudantis em universidades foram batizados com seu nome: aqui e aqui.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O texto verificado foi publicado pela página Jovens de Direita, no Facebook, e teve 2,3 mil curtidas e 779 compartilhamentos até o final da manhã da segunda-feira (4). No início da tarde, o post, que havia sido compartilhado de um perfil pessoal no Facebook, foi excluído. O Comprova tentou contato com o dono do perfil e com a página Jovens de Direita, mas não obteve resposta.

Conteúdo similar também foi publicado nos perfis @anewellss e @mansi_jose, no Twitter, somando mais de 100 interações, e na página Intervencionistas do Brasil, no Facebook, com 185 curtidas e 187 compartilhamentos até a noite de segunda-feira.

Atualização

No dia 23 de novembro, a página Jovens de Direita respondeu à equipe do Comprova através do Facebook. Um dos responsáveis pela página disse que há “uma equipe relativamente grande atuando todos os dias” e que, neste caso, não era possível dizer especificamente quem postou ou apagou a postagem. “O conteúdo não era de nossa autoria mas sim compartilhado de outro local. O motivo para ter sido apagado por algum dos editores certamente foi por ser apurado como fake news. Tentamos ser rigorosos com isto, mas nem todos editores tem o mesmo nível de rigor. Sempre que postada informação falsa, o editor é advertido ou punido”, disse.

Política

Investigado por: 2019-11-06

É falso que a China tenha doado 60 helicópteros militares ao Brasil após viagem de Bolsonaro

  • Falso
Falso
Nem o Ministério da Defesa nem as Forças Armadas têm qualquer tipo de negociação com o governo chinês para receber helicópteros

É falsa a informação que circula nas redes sociais de que o governo da China teria doado 60 helicópteros de uso militar ao Brasil. Em nota enviada ao Projeto Comprova, o Ministério da Defesa informa que nem a pasta nem as Forças Armadas possuem “qualquer negociação para recebimentos de helicópteros” do país asiático.

Publicações com o boato circulam nas redes sociais desde o final de outubro, período que coincide com viagem feita por Jair Bolsonaro à China – entre 24 e 26 de outubro.

Nota oficial publicada pelo Ministério das Relações Exteriores tampouco cita ganho na área militar em decorrência da reunião entre o presidente brasileiro e o líder chinês.

No documento oficial, são apontados acordos em política, economia e comércio, agricultura, ciência e tecnologia, energia e educação. Dentre as conquistas com a visita, o governo brasileiro afirma que haverá maior mobilidade entre cientistas e cooperação na cultura, educação e esportes.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostra que o presidente brasileiro e o dirigente chinês, Xi Jinping, assinaram 11 atos de cooperação. Dois dos documentos resultarão em aumento imediato de exportações, envolvendo protocolos sanitários para o embarque de farelo de algodão e carne processada.

Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova entrou em contato com o governo da China, a Embaixada da China em Brasília, a Força Aérea Brasileira (FAB), o Itamaraty e o Ministério da Defesa. Também consultamos reportagens da imprensa sobre a viagem de Jair Bolsonaro à China e os impactos para o Brasil.

O único órgão que respondeu a verificação foi o Ministério da Defesa, em nota. Já o Itamaraty apenas encaminhou o comunicado oficial da pasta sobre a viagem do presidente. Procurada uma vez por e-mail e três vezes por ligações telefônicas, a Embaixada da China em Brasília não retornou o contato do Comprova.

Você pode refazer o caminho da verificação usando os links para consultar as fontes originais.

Boato semelhante

Não é a primeira vez que um boato envolvendo “doação de helicópteros” aparece poucos dias após uma viagem internacional de Jair Bolsonaro. Em abril, menos de um mês após o presidente visitar Israel, circularam nas redes sociais diversas informações falsas apontando doação de 15 helicópteros israelenses para o Brasil.

Naquela ocasião, o boato envolvendo Israel foi desmentido pelos sites de checagem Estadão Verifica, Agência Lupa, Aos Fatos e Boatos.Org.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O texto verificado foi publicado por um perfil no Facebook e obteve mais cerca de 15,9 mil interações até o dia 5 de novembro. No Instagram, publicação semelhante foi curtida por mais de 1,8 mil perfis.

A Agência Lupa também verificou o boato.

Política

Investigado por: 2019-11-06

Página usa texto do início de janeiro para louvar “feitos” do governo Bolsonaro

  • Contexto Errado
Contexto Errado
Post usa trechos de uma coluna do dia 8 de janeiro como se fosse atual para dizer que, ao contrário dos meios de comunicação brasileiros, a imprensa estrangeira vem dando destaque aos feitos importantes do novo governo.

Uma publicação que viralizou no Facebook nesta semana tira de contexto uma coluna de opinião da revista Forbes para afirmar que “o Presidente Jair Bolsonaro vem devolvendo a credibilidade e a perspectiva para o nosso país”.

Publicado no sábado (2), o post da página do Movimento Avança Brasil usa trechos de um texto do jornalista Kenneth Rapoza para elogiar o governo. No entanto, a coluna é do dia 8 de janeiro – quase dez meses atrás e com cenário econômico bem diferente do atual.

A própria expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2019 destacada no texto, à época em 2,4%, foi revista em outubro para no máximo 1%. De lá para cá, o colunista da Forbes alternou entre críticas e elogios ao governo Bolsonaro.

O Comprova usa a etiqueta de “contexto errado” para classificar conteúdos retirados do contexto original e usados em outro com o propósito de mudar o seu significado original.

Como verificamos

O post do Avança Brasil traz um print que mostra o título do texto da Forbes (“Brazil Is The Best Stock Market In The World Right Now”, ou “O Brasil é o melhor mercado de ações do mundo neste momento”). Por meio de uma busca no Google, foi possível encontrar o texto original e verificar se seu conteúdo condiz com a publicação no Facebook.

O que diz o artigo destacado?

No texto citado na publicação, Rapoza começa dizendo que “com apenas uma semana em 2019, o Brasil já é o melhor mercado de ações do mundo. Parabéns, Jair Bolsonaro”, afirma.

Para fazer tal afirmação, o jornalista cita o fundo iShares MSCI Brazil, negociado na bolsa de valores americana e que tem como referência ações negociadas no Ibovespa (principal indicador de desempenho da bolsa brasileira). Naquele momento, segundo Rapoza, o iShares MSCI Brasil tinha desempenho melhor que outros fundos similares.

No geral, a coluna é positiva em relação a Bolsonaro, mas o tom elogioso aparece no campo das expectativas com o recém-empossado governo, sobretudo pela agenda defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Diz, por exemplo, que o Brasil “está no caminho para ser o mercado de melhor performance no primeiro trimestre, se não for na primeira metade de 2019.”

O colunista também menciona relatório da consultoria Fitch Solutions cujos autores falam em “sentimento positivo para negócios, estimulado pelo governo de Bolsonaro”, e que a recuperação econômica ganharia ritmo nos dois trimestres seguintes. Os índices otimistas, que falavam em até 2,4% de crescimento do PIB no ano, acabaram revistos meses depois.

O colunista volta a falar do tema em vários outros artigos, quase sempre destacando a necessidade de aprovação da reforma da Previdência para a continuidade do crescimento.

Ao longo do ano, no entanto, o mesmo colunista oscila entre elogiar e criticar o governo. Em maio, ele chegou a escrever um artigo chamando Bolsonaro de “uma decepção”, “ao menos que você goste de ouvir seu presidente desferir golpes contra causas progressistas”. Já em julho, Rapoza afirmou que os avanços econômicos ainda são lentos e não “totalmente impressionantes“.

A imprensa e a política econômica do governo Bolsonaro

A publicação do Avança Brasil também faz uma crítica à imprensa brasileira, dizendo que “diferentemente da mídia nacional, a imprensa estrangeira vem dando destaque aos feitos importantes do novo governo.” A página do movimento possui diversas publicações dando a entender que há um complô de veículos de imprensa para derrubar o presidente.

Recentes resultados positivos da economia, no entanto, têm sido objeto recorrente de cobertura de grandes veículos de imprensa no Brasil, contestando a tese de “boicote” levantada pela página.

Maior rede de televisão do Brasil, a Rede Globo, por exemplo, destacou recentemente em reportagem crescimento recorde na Bolsa de São Paulo. Na mesma semana da publicação do Avança Brasil, a Folha de S. Paulo publicou editorial com título “Na direção certa”, destacando agenda econômica do governo e reformas propostas por Paulo Guedes.

Além disso, a publicação usa o texto de um único colunista para sugerir que a imprensa internacional teria “se rendido” a Jair Bolsonaro. A tese possui difícil verificação: avaliando grandes veículos de comunicação estrangeiros, é possível encontrar tanto avaliações positivas quanto negativas do governo.

Em agosto, por exemplo, o Financial Times registrou redução do risco de recessão diante de crescimentos acima das expectativas no país. Já em outubro, a revista inglesa GlobalMarkets elegeu Paulo Guedes como “o melhor ministro da Economia da América Latina” do ano.

Por outro lado, a The Economist, referência internacional em análise de mercados, possui extensa cobertura negativa do governo, chegando a chamar Bolsonaro de “presidente aprendiz” e de “a mais recente ameaça da América Latina”. Um colunista da própria Forbes, destacada na publicação, cita o Brasil em lista recente de “países à beira de uma recessão”.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O texto verificado foi publicado na página Movimento Avança Brasil no Facebook e obteve cerca de 19,8 mil interações até o dia 6 de novembro.

Política

Investigado por: 2019-11-01

Boato erra ao acusar Greenpeace; navio da ONG só chegou ao Nordeste após vazamentos

  • Falso
Falso
O vazamento teria ocorrido em julho, em navio grego que partiu da Venezuela, segundo Polícia Federal

Publicação que circula nas redes sociais pede que o ministro Sergio Moro (Justiça) exija que a Polícia Federal (PF) investigue o Greenpeace. O post sugere, de forma equivocada, que a ONG é responsável pelo vazamento de óleo nas praias do Nordeste. Não há, no entanto, nenhuma prova disso. Até o momento ainda não se sabe quem são os responsáveis pelo vazamento.

O boato mente ao afirmar que o navio Esperanza, da ONG, estava no litoral brasileiro na mesma época em que o óleo começou a aparecer em praias do Nordeste. Na verdade, a embarcação passou pela costa brasileira mais de um mês depois do início do desastre ambiental, em 30 de agosto.

Além disso, a PF afirmou nesta sexta-feira (1º), ao deflagrar a Operação Mácula, que o principal suspeito pelo vazamento é o navio grego Bouboulina. A embarcação teria parado em Puerto José, na Venezuela, para carregar-se de barris de petróleo e, em 29 de julho, passado a 733 km da Paraíba. A PF diz que “não há indicação de outro navio (…) que poderia ter vazado ou despejado óleo, proveniente da Venezuela”. Segundo a Marinha, o navio já tinha sido detido nos Estados Unidos, por quatro dias, em abril, por risco de vazamento.

A única verdade na publicação checada pelo Comprova é sugerir que, caso queira, Moro pode mandar a PF investigar o Greenpeace. De fato, a Polícia Federal é um órgão submisso ao Ministério da Justiça. O ex-juiz, inclusive, já pediu, em outras ocasiões, que a PF abrisse investigações.

No desastre ambiental do Nordeste, a Polícia Federal faz a investigação criminal e a Marinha investiga a origem das manchas.

O boato checado pelo Comprova foi publicado pelo site Notícias Brasil Online. O G1 já revelou que o site é uma das maiores fábricas de desinformação na internet do Brasil.

Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal e o Ministério do Meio Ambiente. Também consultamos reportagens publicadas pela imprensa sobre o assunto.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

O navio do Greenpeace passou pelo Brasil na época dos vazamentos?

Não. O vazamento teria ocorrido em 29 de julho, a 733 quilômetros da costa de Sergipe, segundo a Polícia Federal. As manchas de óleo começaram a aparecer em praias brasileiras em 30 de agosto, segundo o Instituto Nacional de Meio Ambiente (Ibama), que mostra os dias em que o óleo começou a aparecer e aponta quais praias foram atingidas

Nessa época, o navio estava nas ilhas Bermudas, região próxima aos Estados Unidos. A embarcação se dirigia à Guiana Francesa para realizar uma pesquisa em corais durante agosto e setembro.

O Esperanza trafegou pelo Nordeste cerca de um mês depois do desastre ambiental, conforme cruzamento da rota marítima do navio com as datas de registro de cada localidade atingida pelo óleo.

Segundo o registro do site Marine Traffic, que acompanha via GPS a localização em tempo real de embarcações pelo mundo, o navio do Greenpeace deixou o porto de Dégrad des Cannes, na Guiana Francesa, em 5 de outubro. O navio transitou pela região costeira no Norte e Nordeste do Brasil entre os dias 6 a 16 de outubro.

Além disso, a foto do navio divulgada no post para acusar o Greenpeace é velha. A imagem foi feita em 30 de abril de 2016 e divulgada no site oficial da ONG.

É possível verificar que a foto é de três anos atrás ao fazer o download da foto, clicar com o botão direito nela na pasta em que foi salva no computador, escolher a opção “Propriedades”, “Detalhes” e ver a data: 30/04/2016.

Em sua página, o Greenpeace explica que o Esperanza é um navio que, desde abril, está viajando pelo mundo para defender a preservação dos oceanos e conscientizar as pessoas sobre o impacto das mudanças climáticas na Terra.

MAPA: Veja as praias do Nordeste atingidas pelo óleo

Há alguma relação entre o navio e o vazamento?

Não há evidências de relação entre a embarcação do Greenpeace e o vazamento. A insinuação de que o Greenpeace esteve relacionado ao vazamento de óleo no Nordeste foi levantada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. No Twitter, ele sugeriu que o navio estava na costa brasileira antes do desastre ambiental. Salles também compartilhou texto que cita que voluntários precisam “limpar a sujeira do chilique ambiental” do Greenpeace.

Ao Comprova, a pasta informou que “não houve nenhuma acusação por parte do ministro, salvo a crítica pela entidade não colaborar consistentemente com a limpeza das praias”.

Após a acusação de Ricardo Salles, o Greenpeace emitiu nota repudiando-o por “jogar a culpa nas ONGS que fazem o trabalho que o governo não faz”. A ONG destacou que seus voluntários estão inclusive ajudando na limpeza das praias.

“O Greenpeace atua há décadas contra a exploração de petróleo em áreas sensíveis e destaca os riscos que a atividade coloca ao meio ambiente. Há anos vemos paisagens sendo afetadas, a perda de biodiversidade e os impactos sociais causados pelo petróleo, que também é um dos principais causadores das mudanças climáticas no mundo”, diz a ONG.

O ministro da Justiça tem competência para determinar a abertura de uma investigação?

Em casos de “crime contra a honra do presidente”, se o ministro da Justiça exigir, a Polícia Federal deve instaurar inquérito policial, informou a Polícia Federal ao Comprova. A PF também pode começar uma investigação, a pedido do Ministério da Justiça, em casos de “repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme”.

Em outros casos, a Polícia Federal tem “autonomia investigativa” – isto é, poder decidir o que será e o que não será investigado. O regimento interno da Polícia Federal diz que a instituição é fundada “na hierarquia e disciplina, com autonomia orçamentária, administrativa e financeira, integrante da estrutura básica do Ministério da Justiça e Segurança Pública”.

No entanto, é preciso ressaltar que a PF responde ao Ministério da Justiça: é o presidente da República que nomeia o diretor-geral, e o orçamento da instituição é definido pelo Planalto. Há, portanto, uma relação de hierarquia entre ministro da Justiça e PF. No dia a dia, delegados podem ser retirados de investigações ou serem transferidos para outras cidades.

O presidente Jair Bolsonaro foi criticado ao nomear o superintendente da PF no Rio. Após críticas, Bolsonaro disse: “Quem manda sou eu”.

Na época, o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, disse ao site Congresso em Foco que a PF iria buscar autonomia total para evitar a interferência de Bolsonaro e confessou que a instituição sofre pressão no dia a dia: “Há dez anos dizemos que há possibilidade de interferência política na PF. Nesse caso, agora, foi público. Mas há formas de se fazer isso nos bastidores, com corte de verba, transferências e promoções estratégicas. Ninguém fica sabendo disso”.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, já determinou, por exemplo, que a PF investigue as queimadas na Amazônia produzidas por fazendeiros, a ameaça de um youtuber ao presidente Jair Bolsonaro, o caso “Hélio Negão” e até autores de um curta sobre a filha de Moro. Mais recentemente, Jair Bolsonaro pediu que Moro faça a PF investigar a citação do presidente no caso Marielle Franco.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O texto verificado foi publicado no site Notícia Brasil Online e obteve mais cerca de 3,6 mil interações até o dia 1º de novembro, segundo a ferramenta Crowdtangle. O Estadão Verifica, a Agência Lupa e a AFP Checamos também verificaram o boato.

Política

Investigado por: 2019-11-01

Post confunde ao destacar posição do Brasil em ranking de crescimento econômico

  • Enganoso
Enganoso
Uma imagem viralizada nas redes sociais mistura informações verdadeiras e falsas para exaltar a situação da economia brasileira

Uma publicação compartilhada no Facebook mistura dados falsos e verdadeiros sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para exaltar o governo de Jair Bolsonaro.

Por um lado, é verdade que, em um ranking elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating, o crescimento da economia do país no segundo trimestre deste ano foi o terceiro maior entre um grupo de 40 nações — atrás apenas de Indonésia e Estados Unidos. É falso, por outro lado, que o aumento do PIB seja o maior desde 2013.

Além disso, o post não cita a Austin Rating como fonte. O ranking da consultoria depende do índice de comparação. Enquanto o Brasil é terceiro colocado quando o PIB é medido em relação ao trimestre anterior, na comparação em relação ao segundo trimestre do ano passado o país cai para as últimas posições.

Esta investigação do Comprova checou a publicação de uma usuária no Facebook que compartilha uma imagem com o logotipo do “Movimento Avança Brasil”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

Buscamos as palavras “PIB”, “crescimento”, “Indonésia” e “Estados Unidos” no Google e encontramos uma reportagem do jornal O Globo que menciona o ranking da Austin Rating. A partir daí, entramos em contato com o economista-chefe da empresa, Alex Agostini.

Também consultamos dados do Sistema Nacional de Contas Trimestrais (SNCT), do IBGE e do World Economic Outlook, do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Comprova entrou em contato com a autora do post no Facebook e com a página “Movimento Avança Brasil”, mas não obteve resposta. A busca no site Avança Brasil não traz nenhum conteúdo com as palavras mencionadas, mas a mesma publicação foi publicado na página de Facebook do grupo em 24 de outubro. O site do Avança Brasil identifica entre seus integrantes Olavo de Carvalho, ideólogo do círculo presidencial, e o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança, eleito pelo PSL-SP.

O que diz o ranking da Austin Rating?

O ranking da Austin Rating classifica os PIBs de todos os países que divulgaram resultados e exclui apenas alguns muito pequenos, especialmente africanos, onde os dados são inconsistentes. Na realidade, a consultoria criou dois rankings diferentes, um com o índice trimestre a trimestre e outro com índice anual. O primeiro tinha 40 países e o segundo, 42.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2019 em relação aos três meses anteriores. É este o dado utilizado no post que viralizou. Nesta base de comparação, o Brasil de fato fica em terceiro, atrás da Indonésia e dos EUA.

Ocorre que o ranking da Austin Rating aparece de forma descontextualizada na publicação verificada. A publicação não cita a consultoria responsável pelo ranking, impossibilitando que o leitor identifique a fonte, e não menciona que o crescimento trimestre a trimestre foi alto em um contexto de desaceleração da economia global.

Além disso, destaca Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a posição do Brasil no ranking depende da base de comparação, trimestral ou anual. Enquanto o Brasil é terceiro colocado na base trimestral, o país cai para as últimas posições na base anual.

Enquanto na comparação em relação ao três meses anteriores, a economia brasileira cresceu 0,4%, em relação ao mesmo período do ano passado, a alta foi de 1%. Quando se considera este crescimento anual de 1%, o Brasil cai para a 36ª posição entre 42 países.

O crescimento é o maior em seis anos?

Ao contrário do que afirma o post, as taxas de crescimento do segundo trimestre de 2019 não são as maiores taxas dos últimos seis anos, seja considerando as altas sobre o trimestre imediatamente anterior, sobre o mesmo trimestre do ano anterior ou crescimento acumulado anual. Uma consulta ao Sistema Nacional de Contas Trimestrais (SNCT) do IBGE mostra isso.

No primeiro caso, trimestre a trimestre, houve várias altas maiores no período. A maior foi no primeiro trimestre de 2017, de 1,6% com ajuste sazonal.

No segundo caso, sobre mesmo período do ano anterior, a maior taxa dos últimos seis anos foi no primeiro trimestre de 2014: 3,5%, além de ter sido maior em outros cinco trimestres em 2017 e 2018.

No terceiro caso, de crescimento acumulado em quatro trimestres, foram verificadas taxas maiores nos três primeiros trimestres de 2014 e em todos os trimestres de 2018.

A única forma de, como faz a publicação, dizer que se trata do maior crescimento em seis anos, seria considerando apenas o segundo trimestre de cada ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior, ou em relação aos três meses anteriores. No entanto, este não é o critério utilizado pela Austin Rating para colocar o Brasil em terceiro lugar globalmente.

Qual a projeção de crescimento do Brasil?

O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que o crescimento do Brasil este ano seja de 0,9%, o que colocaria o país no 58º lugar globalmente, junto com Bahamas, Japão e Suécia. A entidade prevê que a economia global cresça 3% em 2019; as economias desenvolvidas devem expandir 1,7% e as emergentes, 3,9%.

No ano passado, o FMI registrou alta de 1,1% no PIB brasileiro. A economia global cresceu 3,6% e os países emergentes tiveram variação média de 4,5% no Produto Interno Bruto.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

A publicação no Facebook teve mais de 26 mil compartilhamentos entre os dias 25 de outubro e 1º de novembro. Na página do “Movimento Avança Brasil”, a mesma imagem teve 1,7 mil compartilhamentos desde 24 de outubro.

Saiba mais

Entenda o que é o PIB e como ele é calculado (Estadão)

Política

Investigado por: 2019-10-31

Bolsonaro não “bateu recorde” de despesas com cartão, mas gasto é o maior desde 2014

  • Enganoso
Enganoso
Os dados do Portal da Transparência e do Suprim mostram que Bolsonaro não é, até este ponto de seu mandato, o recordista de gastos com cartão corporativo nos primeiros nove meses de governo, mas teve a maior despesa deste tipo desde 2014.

Não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “bateu recorde” de despesas com cartão corporativo, ou que consumiu R$ “8,2 milhões” do dinheiro público no cartão, como dizem postagens que viralizaram no Twitter desde domingo (26).

Segundo dados do Portal da Transparência, a Secretaria de Administração da Presidência da República gastou cerca de R$ 4,6 milhões de fevereiro a setembro deste ano. O montante não é um “recorde”, visto que em 2014, sob gestão de Dilma Rousseff (PT), o órgão gastou R$ 7,9 milhões. Os valores foram corrigidos pela inflação.

No entanto, o valor total gasto pela Secretaria de Administração neste ano é o maior registrado desde 2014. A Secretaria é o órgão do governo federal por meio do qual são feitas, entre outras, as despesas do gabinete pessoal do presidente.

O Comprova verificou postagens feitas no Twitter pelos perfis do youtuber Felipe Neto, de @EricoDietrich e @charlesnisz.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

A verificação começou com uma busca dos gastos da Secretaria de Administração da Presidência da República no Portal da Transparência, que permite a qualquer pessoa uma consulta aos gastos do governo federal.

No entanto, o portal só mostra os gastos com cartões corporativos a partir de 2013. Para conseguir informações sobre anos anteriores, solicitamos estes dados à Secretaria-Geral da Presidência da República.

Todos os valores foram corrigidos pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial que mede a inflação do período.

Quanto Bolsonaro gastou com o cartão?

Os gastos do cartão corporativo do Governo Federal são realizados por servidores dos diferentes órgãos e ministérios. Como gastos do presidente Bolsonaro, foram consideradas as despesas da Secretaria de Administração da Presidência da República, o que não significa que o próprio presidente tenha realizado a despesa.

O Comprova obteve informações sobre gastos com cartão corporativo de duas bases de dados do governo federal: o Portal da Transparência, que tem dados sobre cartões a partir de 2013, e o Sistema de Suprimento de Fundos (Suprim), que possui dados desde 2003. Estas fontes usam critérios diferentes para registrar as despesas.

As despesas com cartão corporativo que aparecem no Portal da Transparência foram feitas no mês anterior em que foram registradas. Ou seja: um gasto que aparece no portal como sendo de setembro foi feito, na verdade, em agosto. É semelhante ao que acontece em faturas de cartão de crédito comum, por exemplo.

Assim, para sabermos quanto foi gasto no atual governo, não foram incluídas as despesas com cartão corporativo que aparecem no Portal da Transparência como sendo de janeiro de 2019 — já que correspondem a gastos de dezembro de 2018, quando Bolsonaro ainda não tinha tomado posse.

Com isso, levantamos as despesas da Secretaria de Administração da Presidência entre fevereiro e setembro (último mês disponível para consulta). Neste período, com a correção pelo IPCA, o órgão gastou R$ 4.649.787,28 com o Cartão de Pagamento do Governo Federal (CPGF), conhecido popularmente como cartão corporativo.

Os dados do Suprim mostram que a Secretaria de Administração da Presidência teve, de janeiro a agosto deste ano, gastos com cartão corporativo um pouco maiores: R$ 5.041.609,76. Isso ocorre porque o sistema também contabiliza as devoluções de saque e eventuais restituições de crédito.

E, diferentemente do Portal da Transparência, o Suprim registra os gastos no mês em que eles ocorreram.

Além disso, os dados do Suprim enviados ao Comprova se referem apenas aos gastos sigilosos, enquanto as informações do Portal da Transparência consideram todos os gastos efetuados.

Os valores totais da gestão pública são abertos, mas há sigilo sobre despesas consideradas de segurança nacional, como a alimentação e o transporte do presidente e do vice-presidente.

Como comparação, dos valores do Portal da Transparência de 2019, dos R$ 4,6 milhões gastos pela Secretaria de Administração da Presidência, R$ 4,5 milhões foram sigilosos.

Além dos gastos do gabinete pessoal do presidente, a Secretaria de Administração é responsável por executar parte das despesas de outros órgãos, como a Secretaria-Geral da Presidência, Casa Civil e Secretaria de Governo.

Quanto outros presidentes gastaram?

Os dados do Portal da Transparência e do Suprim mostram que Bolsonaro não é, até este ponto de seu mandato, o recordista de gastos com cartão corporativo nos primeiros nove meses de governo, mas teve a maior despesa deste tipo desde 2014.

Segundo o Portal da Transparência, entre fevereiro e setembro de 2014, no governo Dilma, a Secretaria de Administração da Presidência gastou, em valores corrigidos pelo IPCA, R$ 7,9 milhões com cartão corporativo.

Veja no gráfico abaixo as despesas desde 2013, todas corrigidas pelo IPCA.

Já de acordo com o Suprim, de janeiro a agosto de 2014, a Secretaria de Administração da Presidência teve R$ 8,3 milhões de gastos sigilosos com cartão corporativo.

Como mostra o gráfico abaixo, elaborado com base nas informações do Suprim, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gastou mais em 2009.

Antes de 2008, os gastos com cartão corporativo alcançaram valores mais altos que os atuais. Os maiores gastos foram em 2003, R$ 8,3 milhões; em 2004, R$ 10,1 milhões; e em 2006, R$ 8,4 milhões.

No entanto, o decreto 6.370 de 2008 impôs restrições ao uso dos cartões para despesas relativas a viagens (compra de passagens por meio de agências, diárias, hospedagem e transporte) e saques, o que pode ter contribuído para a redução dos gastos nos anos seguintes.

Outra mudança, segundo a CGU (Controladoria-Geral da União), foi um decreto de 2009, que definiu os valores das diárias para ministros de estado em viagem dentro do país e fez com que, nessa circunstância, o cartão não mais pudesse ser utilizado para pagamentos de hospedagem e alimentação.

E, em 2018, foram alterados os limites de gastos com cartão de pagamento, em decorrência do decreto que aumentou os limites dos valores de cada modalidade de licitação.

Para despesas de pagamento imediato relativas a compras e serviços, o valor máximo passou de R$ 800 para R$ 1.760. Já para despesas com obras e serviços, o valor passou de R$ 1.500 para R$ 3.300.

Quando o valor, ainda que pago com cartão de pagamento, passa pelo processo de empenho, os valores máximos são maiores: chegando a R$ 17.600 para compras e serviços e R$ 33.000 para obras e serviços de engenharia.

Os gastos incluem o vice-presidente?

Nos gastos com cartão corporativo da Secretaria de Administração da Presidência, segundo informação da Secretaria Geral da Presidência, estão incluídos gastos realizados pelo vice-presidente apenas quando este está no exercício do cargo de presidente da República.

Fora dos períodos em que o vice-presidente exerce a função de presidente, os gastos são contabilizados pelo Gabinete da Vice-Presidência da República, que de fevereiro a setembro de 2019 teve gastos no total de R$ 469,5 mil.

Em 20 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro questionou um texto do Antagonista, segundo o qual a Presidência aumentou 24% os gastos com cartões. Em tuíte, o presidente afirmou que “os gastos com cartões incluem as despesas do Presidente e do Vice”.

No Orçamento, os gastos do Gabinete da Vice-Presidência fazem parte do órgão superior chamado “Presidência”.

No entanto, os valores divulgados pela reportagem do Globo não se referem aos gastos do órgão superior da Presidência, mas sim da Secretaria Especial de Administração da Presidência.

Para que serve o cartão corporativo?

O cartão corporativo foi criado em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por meio de uma portaria.

No início do primeiro mandato do governo Lula, portanto, era o segundo ano de vigência do uso dos cartões.

A função do cartão é facilitar o pagamento de despesas pontuais e ou de gastos que devam ser pagos no ato da compra, como os realizados durante viagens.

Antes da existência dos cartões, esses gastos já existiam. Com os cartões, a principal mudança foi a forma como esse pagamento ocorre, não no gasto em si.

De acordo com Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, “se não tivesse o cartão corporativo, teria que continuar fazendo o gasto”. Ele dá como exemplo uma operação da Polícia Federal em que surja uma viagem urgente para outro estado. “Tem que comprar passagem de avião, como seria feito? Não teria como fazer nota de empenho e depois pagamento”, afirma ele.

No processo normal de compras por órgãos públicos, antes de realizar um gasto, é preciso fazer um empenho. O empenho funciona como uma reserva do valor, dentro do orçamento, para garantir que não serão feitos gastos que posteriormente o governo não possa pagar.

Além disso, para a maior parte das compras e contratações feitas pelo setor público, a lei determina realizar uma licitação, que pode levar meses até ser concluída. Nesse processo, diferentes empresas podem fazer ofertas e uma delas é escolhida.

No entanto, para gastos pontuais ou de caráter urgente, nem sempre é possível fazer o empenho antes da compra, ou vantajoso realizar uma licitação. Ainda assim, em qualquer caso, é preciso que seja observado o interesse público do gasto.

Cartão corporativo x Bolsa Família

Além das postagens sobre os supostos recordes de gastos de Bolsonaro, um outro tuíte que viralizou buscava ligar as despesas com cartão corporativo ao Bolsa Família. Segundo a postagem, o valor gasto pelo presidente com o cartão corporativo “poderia pagar o benefício para 2.430 famílias ou 7.293 pessoas por mês”. Essa conta não é explicada pelo tuíte.

O cálculo parte da premissa de que Bolsonaro gastou, em média, R$ 460 mil com cartão corporativo por mês. Esse número então é dividido pelo valor médio do benefício do Bolsa Família em setembro, que foi de R$ 189,21. Essa divisão dá 2.431, número próximo ao citado na postagem, de 2.430 famílias.

Para chegar ao número de “7.293 pessoas”, o autor levou em conta que cada família do programa social tem três pessoas — mas o autor do post não explica como chegou a essa conclusão.

Após escândalos, normas ficaram mais rígidas

Desde que passaram a ser usados em 2002, os cartões corporativos foram motivo de diversos escândalos envolvendo integrantes do governo.

Em fevereiro de 2008, após ameaça da então oposição ao governo Lula de instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar gastos irregulares com o cartão, o governo publicou um novo decreto com o objetivo de limitar o uso do cartão e evitar abusos.

Ainda assim, a CPI foi instalada e durou três meses. Como resultado de uma de suas recomendações, em outubro de 2008, a CGU (Controladoria-Geral da União) lançou um manual com orientações para os funcionários e detentores de cargos públicos sobre o uso adequado dos cartões corporativos.

Um dos pontos mais questionados em relação aos gastos, no entanto, continua sem alteração: os detalhes da maior parte dos gastos realizados pelos gabinetes da Presidência e Vice-Presidência são mantidos sigilosos durante o mandato, sob a alegação de “questões de segurança”.

À época, uma regra baixada em dezembro de 2003 pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência impediu o acesso aos detalhes dos gastos.

Em 8 de agosto deste ano, após criticar a cobertura da imprensa, o presidente Jair Bolsonaro prometeu divulgar seus gastos pessoais com o cartão corporativo, o que ainda não aconteceu.

“Eu vou abrir o sigilo do meu cartão para vocês tomarem conhecimento quanto gastei de janeiro até o final de julho. Ok, imprensa? Vamos fazer uma matéria legal?”, afirmou ele na ocasião.

Segundo ele, o objetivo é desmentir acusações de que teria gasto cerca de R$ 1 milhão por mês. Na transição de governo, a equipe do presidente chegou a cogitar a extinção do cartão, mas desistiu.

Repercussão nas redes

O tuíte dizendo que Bolsonaro bateu “recorde de gasto em cartão corporativo” foi publicado pelo youtuber Felipe Neto no domingo (27). Até quarta (30), a postagem tinha mais de 62 mil interações.

A mesma afirmação aparece no título de um texto do site Esquerda Diário publicado no sábado (26). Segundo a ferramenta Crowdtangle, que acompanha o comportamento de um link nas redes sociais, o texto teve mais de 31,3 mil interações no Facebook até quarta-feira (30).

Já a publicação dizendo que Bolsonaro gastou “8,2 milhões” — enquanto Lula e Dilma teriam gasto, respectivamente, 300 mil e 350 mil — no cartão corporativo em nove meses de mandato foi feita pela conta @EricoDietrich no sábado (26). O post tinha mais de 24 mil interações até terça-feira.

Conteúdo semelhante foi compartilhado pela conta @charlesnisz, no dia 28, e alcançou mais de 22,5 mil interações até o dia 30. Em resposta ao Comprova, o usuário informou que usou o perfil de Erico Dietrich como fonte.

O tuíte que relacionava o gasto com cartão corporativo ao Bolsa Família foi publicado no dia 21 pela conta @antifa1982. Até terça, teve cerca de 4,6 mil interações.

O Comprova enviou mensagens aos autores dos tuítes ao longo dos últimos dias, mas só teve resposta de @charlesnisz até a publicação deste texto.

Política

Investigado por: 2019-10-30

Hospedagem de Bolsonaro em hotel de luxo de Abu Dhabi não foi paga com dinheiro público brasileiro

  • Falso
Falso
O presidente ficou em um dos hotéis mais luxuosos do mundo, mas a hospedagem foi paga pelo governo dos Emirados Árabes Unidos

É falsa a alegação feita no título de uma publicação do site Desmascarando, segundo a qual o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “foi ao hotel mais luxuoso do mundo com dinheiro público”. O próprio texto, copiado do site jornalístico Metrópoles, informa que a estadia de Bolsonaro não foi paga com impostos.

Ao Comprova, o Palácio do Planalto informou que, como é a praxe diplomática em toda viagem internacional, “a hospedagem do chefe de Estado foi custeada pelo país anfitrião”.

A Presidência da República não respondeu, no entanto, se a comitiva se hospedou no mesmo hotel de Bolsonaro nem quantas pessoas ficaram com ele.

No Facebook, a miniatura gerada pelo link do texto engana o leitor, uma vez que mostra apenas o título do post, que é falso. Quando o Facebook incorpora algum link para que os usuários compartilhem o conteúdo, a íntegra do texto não aparece. Assim, o leitor teria de clicar na publicação para ter acesso à informação de que não é o contribuinte que está pagando pela hospedagem de Bolsonaro.

Para o Comprova, é falso um conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira, que tenha dolo.

Como verificamos

Para fazer esta verificação, o Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto para questionar quem fez o pagamento da hospedagem de Bolsonaro. Além disso, consultou os preços das suítes no site do hotel Emirates Palace, onde Bolsonaro ficou hospedado, e o itinerário da viagem presidencial em matérias de veículos de imprensa.

O Comprova entrou em contato por mensagem no Facebook com a página Desmascarando, mas não obteve resposta.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Bolsonaro se hospedou em hotel de luxo

É verdade que Bolsonaro ficou hospedado no hotel retratado no texto. O Emirates Palace fica em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.

Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o hotel foi escolhido em 2019 como “o mais luxuoso do Oriente Médio” pelo World Travel Awards e já levou duas vezes a categoria de “mais luxuoso” resort do mundo.

O Comprova simulou no site oficial do hotel o preço de uma diária nesta 3ª feira (29.out.2019): de R$ 2.324,86 a R$ 6.524,53. A conversão foi feita no site do Banco Central. Há ainda a suíte Palace, com três quartos, que chega a R$ 35 mil.

O Palácio do Planalto não informou em que tipos de quartos a comitiva de Bolsonaro se hospedou.

O Emirates Palace foi construído em 2005, pelo governo dos Emirados Árabes Unidos, com um investimento de US$ 3 bilhões. Atualmente, o hotel é administrado pelo grupo privado Kempinski.

Outros custos da viagem de Bolsonaro

Apesar de a hospedagem de Bolsonaro no hotel de luxo ter sido custeada pelo governo dos Emirados Árabes, viagens internacionais do presidente envolvem outros gastos para a administração pública, como o pagamento de diárias e de transporte para comitiva e assessores.

De acordo com o Sistema de Concessão de Diárias e Passagens (SCDP), o valor das diárias varia por cargo e destino da viagem. Para os Emirados Árabes, por exemplo, o decreto 71.733/1973 prevê diárias de US$ 300 a US$ 350.

O Comprova consultou o Painel de Viagem, plataforma do governo federal que mostra os valores de despesas com viagens de funcionários da União. O gasto total em outubro para os países de destino da viagem presidencial, nas datas em que Bolsonaro estava na Ásia e no Oriente Médio, foi inicialmente de R$ 1,37 milhão, mas não é possível determinar se todos os custos estão ligados à comitiva. O maior gasto foi de R$ 82 mil para a viagem de um militar do Departamento de Segurança Presidencial ir do Brasil para a Arábia Saudita no dia 20 de outubro.

Viagem de Bolsonaro

Bolsonaro está na Ásia e no Oriente Médio desde 19 de outubro e encerra a viagem nesta quarta-feira, 30. Passou pelo Japão, China e foi a países árabes (Qatar, Arábia Saudita e Emirados).

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

A publicação foi feita no site Desmascarando e compartilhada na página no Facebook no dia 28 de outubro. No dia 29, a postagem foi apagada da rede social e mantida apenas no site, ainda com o título falso. Antes de ser deletada, teve mais de 2 mil interações na página. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o total de interações foi de 5,8 mil.PAGE_BREAK: PageBreak

Política

Investigado por: 2019-10-25

Embalagens de empresa francesa em praia de Pernambuco são de fabricante de luvas e não indicam responsabilidade por vazamento

  • Falso
Falso
Os pacotes encontrados continham luvas que foram distribuídas aos voluntários e foram reaproveitados para armazenar parte do óleo recolhido

Publicações que circulam em redes sociais sugerem que o vazamento de óleo em praias nordestinas tenha envolvimento de uma empresa francesa. As imagens são verdadeiras, mas foram usadas fora de contexto e levam a uma interpretação errada. As embalagens que aparecem nas fotos são da empresa Mapa, uma multinacional francesa que produz luvas de látex, e não óleo.

O texto verificado pelo Comprova inicia com a pergunta “E agora Lacron…????”, em uma referência ao presidente da França, Emmanuel Macron, crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). Na sequência, o boato afirma que “a possibilidade de ecoterrorismo vem se confirmando” no Nordeste brasileiro. As imagens mostram duas embalagens plásticas que continham óleo, encontradas nas areias do Cabo de Santo Agostinho, cidade do Grande Recife, em Pernambuco.

A Marinha, que investiga os responsáveis pelo desastre ambiental, esclareceu na segunda-feira (21) que a Mapa não faz parte das investigações porque os sacos plásticos na verdade foram reutilizados pelos voluntários para guardar o óleo encontrado nas praias. “O material citado era uma embalagem de luvas de proteção que foi reutilizado para colocar os resíduos”, disse a Marinha, em nota.

Em outra manifestação, o comandante de Operações Navais da Marinha, almirante Leonardo Puntel, afirmou que os voluntários receberam luvas para se protegerem na limpeza das praias e que uma pessoa usou a embalagem vazia para colocar óleo dentro.

Contatada pelo Comprova, a assessoria de imprensa da Marinha destacou que o óleo ao redor das embalagens pode grudá-las, o que dá a impressão de que os sacos estavam lacrados.

A Mapa diz que os sacos são de “luvas de proteção química, indicadas para trabalhos em contato com produtos químicos”. A assessoria da empresa informou que o modelo do produto deixou de ser vendido no Brasil, mas que “algum de nossos distribuidores poderia ter em estoque”.

O produto foi fornecido pela Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho para voluntários que atuavam na limpeza da praia. A informação foi confirmada ao Comprova pela gestão municipal.

O Comprova também entrou em contato com Danilo Andrade, um morador do Cabo de Santo Agostinho que trabalhou voluntariamente no mutirão de limpeza. Ele confirmou ter visto a retirada dos sacos da praia pela Marinha e disse que a embalagem é a mesma de outros equipamentos entregues pela prefeitura no mesmo dia, também entre as praias do Paiva e Itapuama.

Esta verificação do Comprova analisou publicação do perfil @DomdasThreads no Twitter e vídeo da página República de Curitiba no Facebook.

O Comprova entrou em contato com @DomdadThreads, que informou que a fonte do tuíte era uma reportagem do SBT. De fato, o apresentador Cardinot, da TV Jornal, afiliada do SBT em Pernambuco, compartilhou em seu programa, na segunda-feira (21), um vídeo com imagens das embalagens da Mapa e mencionou a possibilidade de terrorismo ecológico.

No dia seguinte, Cardinot veiculou coletiva de imprensa com o almirante da Marinha, Leonardo Puntel, esclarecendo que as embalagens não têm relação com o vazamento. Um trecho do comentário de Cardinot na segunda-feira está sendo veiculado para endossar a narrativa de culpa da empresa francesa. O perfil @DomdasThreads foi informado pelo Comprova do comunicado da Marinha que desmente o boato.

Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova entrou em contato com a Marinha, a empresa Mapa, a prefeitura de Cabo de Santo Agostinho e um voluntário que atua no mutirão de limpeza. Também consultamos reportagens publicadas pela imprensa sobre o desastre ambiental.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Havia óleo nos sacos da empresa francesa?

Sim, ele foi colocado nos sacos pelos próprios voluntários. Em, nota, a Marinha explicou que os sacos plásticos foram reutilizados por voluntários para guardar o óleo encontrado nas praias.

Ou seja: voluntários usaram luvas da Mapa para proteger as mãos enquanto limpavam as águas e aproveitaram para guardar o óleo recolhido nos sacos onde antes estavam as luvas.

Como os sacos chegaram em Pernambuco?

A Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho informou ao Comprova que distribuiu, desde domingo (20), mais de 8 mil kits de equipamentos de proteção individual, de várias marcas diferentes, a serem usados pelos voluntários. É aqui que entra a francesa Mapa, uma empresa de luvas de látex embaladas em sacolas plásticas e que estava dentre as marcas distribuídas pela prefeitura.

Nas fotografias e vídeos compartilhados, é possível ver que o produto foi produzido na Malásia. Sacolas com o logo da empresa foram encontradas próximo à praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, na segunda-feira (21).

Após terem sido encontradas por voluntárias que faziam a limpeza do óleo, as embalagens foram recolhidas por militares que estavam na praia. O material foi levado para a Capitania dos Portos, no Recife, para análise, como noticiou o G1.

Em coletiva de imprensa no dia seguinte, o Comandante de Operações Navais da Marinha, almirante Leonardo Puntel, informou que as luvas foram distribuídas aos voluntários e uma pessoa utilizou um saco plástico vazio para colocar o óleo recolhido no mar.

“Uma embalagem de cerca de 30 centímetros era de EPIs (equipamentos de proteção individual) que foram distribuídos para os voluntários. Esses sacos continham luvas dentro”, afirmou. “Essas luvas foram retiradas do saco, distribuídas para os voluntários, que estavam usando essas luvas, e alguém pegou o óleo que estava no local e encheu esse saco que estava vazio”.

O Comprova contatou um dos voluntários que faz parte do mutirão de limpeza. De acordo com Danilo Andrade, a embalagem é a mesma de equipamentos distribuídos pela prefeitura no dia 21. “Quando fui pegar EPIs, notei que a embalagem era a mesma que estava [em meio ao] petróleo”, disse ao Comprova. O voluntário enviou ao Comprova fotos que corroboram seu relato.

A voluntária que encontrou as embalagens (uma vazia e uma com óleo) preferiu não comentar o assunto. Em entrevistas no dia em que os sacos plásticos foram encontrados, ela afirmou que, quando foi retirar o petróleo da praia, viu as embalagens sujas e usou óleo vegetal para limpá-las. Assim, viu as etiquetas que identificavam a marca francesa. Ela tirou fotos e entregou o material a representantes da Marinha que estavam na praia.

O que é a Mapa? O que ela diz sobre o assunto?

Criada em 1957, a Mapa é uma multinacional francesa que produz luvas de látex – não é, portanto, uma empresa que produza ou transporte petróleo. Em nota enviada ao Comprova, a empresa afirma que as luvas retratadas nas imagens são vendidas para proteção contra produtos químicos. A assessoria de imprensa acrescentou que o modelo que aparece na embalagem – Technic 401 – era vendido no Brasil e saiu da linha, mas algumas lojas e distribuidoras poderiam ainda tê-lo em estoque. As luvas podem ser encontradas no Mercado Livre.

A Mapa acrescenta que doará luvas de proteção para serem usadas na remoção de óleo nas praias do Grande Recife. A Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho informou nesta quinta-feira (24) já ter recebido donativos da multinacional francesa.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O texto verificado foi publicado no perfil @DomdasThreads no Twitter e em vídeo na página República de Curitiba no Facebook. O tuíte foi feito no dia 22 de outubro e, no dia 24, tinha 2,7 mil retuítes e 6,8 mil curtidas. O vídeo no Facebook tinha 2,2 mil compartilhamentos e 39 mil visualizações, mas aparentemente foi apagado da plataforma.

Fato ou Fake e Aos Fatos também checaram esse boato.