O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2020-06-04

Fala de médicos sobre coronavírus perder força não tem apoio de órgãos de saúde

  • Enganoso
Enganoso
As falas de dois médicos italianos, um deles ligado a Silvio Berlusconi, são reais, mas não têm respaldo científico e foram desautorizadas por autoridades sanitárias da Itália.

São enganosos os vídeos e textos com comentários feitos por dois médicos da Itália a respeito da possibilidade de o novo coronavírus estar “perdendo força”. Este conteúdo tem circulado na internet e nas redes sociais acompanhado de afirmações segundo as quais o vírus “não existe mais” e os novos casos teriam se abrandado. As falas dos médicos são reais, mas não têm respaldo científico e foram desautorizadas por autoridades sanitárias da Itália.

Os médicos em questão são Alberto Zangrillo — ligado ao ex-primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi –, e Matteo Bassetti. Após as manifestações da dupla, diferentemente do que foi veiculado em postagens investigadas pelo Comprova, o presidente do Conselho Superior da Saúde rechaçou os comentários e se disse “consternado” com as entrevistas.

Os médicos também receberam críticas de pessoas ligadas ao Ministério da Saúde italiano por não apresentarem evidências científicas sobre suas argumentações.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos sobre o novo coronavírus, e a covid-19, doença provocada por ele, que tenham grande viralização. É caso do vídeo e texto em questão aqui.

Esses conteúdos são relevantes pois se inserem em uma lista de materiais que circulam com o intuito de minimizar a pandemia de covid-19. O potencial negativo desses conteúdos é significativo, pois eles podem ter como resultado uma desmobilização da sociedade diante da necessidade manter o isolamento social e medidas de higiene para combater o vírus, para o qual não há cura ou vacina.

No Brasil, após o presidente Jair Bolsonaro adotar como posição do governo a tese de que a pandemia não grave, páginas conhecidas por apoiá-los adotaram esse discurso. Nas últimas semanas, o Comprova verificou, por exemplo, conteúdos que levantavam dúvidas sobre o número de mortes por covid-19, os registros de óbitos em cartórios e que divulgavam boatos sobre enterros falsos. Um dos conteúdos nessa linha citava, como o alvo desta verificação, a Itália, onde teria sido descoberto que o novo coronavírus não seria responsável por milhares de mortes – o que não é verdade.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

A verificação foi dividida em duas etapas. Na primeira delas, o Comprova investigou quem são Alberto Zangrillo e Matteo Bassetti, os médicos citados no vídeo; se são mesmo profissionais da área da saúde; onde trabalham; se as falas são verdadeiras e se foram endossadas pelo Conselho Superior da Saúde. Ainda, verificamos o contexto em que foram ditas e se renderam algum tipo de repercussão — tanto na Itália quanto no exterior.

Na segunda etapa da investigação, o Comprova acessou a plataforma que divulgou o vídeo e tentou entrar em contato com os responsáveis pelo site, mas não encontrou nenhuma forma de contato e nem registro oficial do portal no ICANN, que fornece informações sobre domínios de sites em todo o mundo. O vídeo, publicado em 1º de junho, foi deletado no dia 3 de junho.

A notícia também foi publicada pelo site “Plantão ao Vivo”. Sem encontrar uma forma de contatar a equipe do site, o Comprova pesquisou o registro do domínio do portal por meio da ferramenta Whois, criada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e que verifica todos os registros que usam o “.br”, e confirmou no cadastro da Receita Federal para chegar ao e-mail do dono da empresa registrada e tentar descobrir de onde veio a informação.

Quem é Alberto Zangrillo

Um dos médicos citados nas postagens, o italiano Aberto Zangrillo é anestesista, trabalha no hospital San Raffaele e é professor da Universidade Vita-Salute San Raffaele, ambos em Milão.

Zangrillo é uma figura conhecida na Itália. É médico pessoal do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, de quem é próximo e com quem esteve, inclusive, em campanhas políticas. Crítico do atual primeiro-ministro, Giuseppe Conte, Zangrillo já foi acusado de fraudar o sistema de saúde italiano e também ocupou cargos públicos no país.

Em 15 de maio, o hospital San Raffaele anunciou que mais de 120 pacientes com covid-19 haviam passado pelas unidades de terapia intensiva e que o local apresentava baixa mortalidade nas alas em função da aplicação de terapias inovadoras. O texto menciona que parte se deve às pesquisas coordenadas por Zangrillo.

Em entrevista concedida à emissora italiana Rai, o médico, ao comentar as restrições da Grécia para a entrada de italianos no país, afirmou que “clinicamente o vírus não existe mais” na Itália. Segundo Zangrillo, “cerca de um mês atrás, os infectologistas temiam uma segunda onda de contágios. Entretanto, testes feitos nos últimos dez dias apontam uma carga viral infinitesimal em comparação com pacientes infectados há um ou dois meses”. Disse, ainda, que as evidências que confirmam o fato são clínicas, afirmando que há cerca de um mês as taxas de ocupação de leitos de terapia intensiva vem caindo progressivamente em toda Itália.

A declaração foi republicada pelo perfil do programa no Twitter. No Brasil, trechos da entrevista foram reproduzidos pelas agências AFP e ANSA.

Quem é Matteo Bassetti

O outro médico citado nas postagens é o infectologista italiano Matteo Bassetti, diretor clínico de doenças infecciosas do hospital San Martino e professor de infectologia na Universidade de Gênova. Bassetti de fato declarou, em sucessivas oportunidades, que o novo coronavírus está perdendo força quando em comparação com o início da pandemia na Itália, ocorrido entre os meses de março e abril.

A primeira manifestação do infectologista sobre a possível perda de força do vírus foi feita por meio de uma postagem em seu perfil no Facebook, no dia 26 de maio, na qual Bassetti afirma que “parece bastante evidente que há uma circulação menor do Sars-CoV-2 em comparação com semanas anteriores. Prova disso são os pacientes recuperados nos hospitais e o número de pessoas em observação com sintomas compatíveis com os da doença que foi drasticamente diminuído”. Sem apresentar evidências, o médico completa que “isso é o que temos observado [como quem atua na linha de frente no combate à doença] junto com outros profissionais de outras regiões italianas”.

Em entrevista à agência de notícias ANSA publicada no dia 31 de maio, Bassetti voltou a afirmar que o vírus perdera potência quando comparado ao início da pandemia. “Para além das demonstrações científicas, como médico que atua cotidianamente na linha de frente, [afirmo que] os pacientes atuais são diferentes daqueles de dois meses atrás: antes os pacientes apresentavam uma condição muito mais grave, agora menos. É evidente que hoje a covid-19 é outra, porque o quadro clínico e os sintomas são mais leves — se no início o vírus possuía um ‘arsenal bélico poderosíssimo’, para utilizar uma metáfora, agora as armas à sua disposição são menores”, disse o médico.

O Comprova ainda identificou mais duas manifestações de Bassetti que reforçam as falas anteriores. Em outra postagem no Facebook, do dia 01 de junho, e em entrevista concedida no dia seguinte à emissora italiana Canale 5, o médico utiliza outra metáfora para explicar a possível perda de força do vírus, “se no início nos deparávamos com um tigre, agora estamos diante de um gato doméstico”. Ambas as vezes, Bassetti diz que o enfraquecimento do vírus não tem relação com um maior preparo das equipes médicas para lidar com os pacientes, mas com um quadro clínico diferente e menos severo.

Em nenhuma das suas manifestações Bassetti apresentou evidências capazes de provar uma possível menor gravidade da doença nos pacientes atuais, limitando-se a dizer que isso é um fato percebido pelos médicos que atuam na linha de frente das regiões italianas mais afetadas pelo vírus — como a Lombardia, a Emília-Romana e a Ligúria. Quando questionado pelos jornalistas do Canale 5 sobre qual poderia ser a causa dessa menor gravidade, Bassetti disse que “os cientistas e laboratórios de pesquisa vão responder isso em momento oportuno. Mas, por ora, é um fato observado por vários médicos que atuam no combate à doença”.

O Comprova entrou em contato com o hospital San Martino, onde trabalha o infectologista, para verificar se os boletins médicos poderiam atestar uma menor gravidade dos pacientes. A assessoria de imprensa do hospital não respondeu nossa solicitação e recomendou que entrássemos em contato com Bassetti. Até o momento do fechamento deste texto o médico não havia retornado nosso contato.

O que diz o Conselho Superior de Saúde italiano

Tanto no vídeo quanto no texto checados pelo Comprova, há a informação que o Presidente do Conselho Superior de Saúde italiano, órgão ligado ao Ministério de Saúde do país, teria concordado com os médicos e dito que “até olhos leigos” perceberam que o vírus está com menos força agora do que no início da pandemia. A informação, entretanto, é falsa.

Em entrevista à agência ANSA publicada no dia 1º, Franco Locatelli, presidente do Conselho e membro do Comitê Técnico-Científico (CTS) criado pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte para o combate da pandemia, disse sentir um “absoluto desconcerto” pelas declarações dos médicos. Locatelli afirmou ainda que o número de novos casos diários é uma demonstração que a circulação do novo coronavírus persiste no país e que há de se ter cuidado com “declarações perigosas” que arriscam desestimular a mobilização social em relação às medidas de combate ao vírus.

No dia 3 de junho, data em que os italianos puderam voltar a circular pelas regiões do país e as fronteiras foram abertas para os países da União Europeia, o Ministério da Saúde italiano publicou um comunicado alertando que “a batalha ainda não foi vencida”. Segundo o ministro da Saúde, Roberto Speranza, que recomendou atenção e cautela aos italianos e destacou o sacrifício dos italianos no combate à doença, “o vírus ainda é muito perigoso”.

O Comprova tentou entrar em contato com o Conselho Superior de Saúde por e-mail, mas não obteve resposta.

No rastro do conteúdo

O vídeo divulgado na plataforma br.didiadidia em 1º de junho não fornece informações sobre quem faz o upload do material. A cada atualização da página, o nome do perfil de quem subiu o conteúdo muda, embora a foto permaneça a mesma. O Comprova chegou a ver três usuários diferentes como os responsáveis pelo envio: Guzz, Bárbara e Luuan. Em cada um deles, a quantidade de visualizações do vídeo é diferente. Ou seja: a cada atualização da página, os números são modificados, para mais ou até para menos, e tornam difícil descobrir se algum deles é verdadeiro.

Ao clicar no perfil, seja ele em qualquer um dos nomes, o usuário é direcionado para outra página, chamada Canal Quadrado TV 163 Artigo. A interface é similar à apresentada por canais do YouTube, embora não exista opção de clicar em nada e nem lista de uploads recentes.

Sem registro do domínio do portal no ICANN, o Comprova não encontrou o responsável pela plataforma. O vídeo foi deletado no dia 3 de junho.

O site “Plantão ao Vivo” publicou em 1º de junho um texto com as mesmas informações e uma das telas no vídeo — embora não tenha publicado o vídeo em si. Para contatar a equipe do portal, o Comprova pesquisou no Whois o domínio da página e confirmou o e-mail no cadastro da Receita Federal.

O Comprova questionou no e-mail enviado ao responsável pela página de onde a informação havia sido retirada. Em resposta, o proprietário disse que havia “repassado o portal” e que o site não era mais de sua responsabilidade. Ele também encaminhou o e-mail do novo responsável, a quem o Comprova procurou pelo correio eletrônico. Não houve retorno até a publicação da reportagem.

Nas redes sociais

As entrevistas de Zangrillo e Bassetti foram amplamente repercutidas pela mídia internacional, sem se restringir apenas aos veículos italianos. No entanto, o link para o vídeo que cita a suposta chancela do Conselho Superior de Saúde foi republicado em quatro páginas do Facebook, três delas com mais de um milhão de seguidores. Todas as postagens datam do dia 1º de junho.

As quatro páginas do Facebook mantém posts com mensagens de bom dia, piadas de cotidiano, orações e postagens de cunho religioso, além de links para notícias de portais desconhecidos. Não há questionamentos sobre a veracidade do conteúdo. Os comentários, em sua maioria, são de pessoas agradecendo as “boas notícias”.

Duas páginas deletaram o conteúdo em 3 de junho. As outras duas o mantiveram no ar. Apesar da grande quantidade de seguidores, as postagens renderam algumas centenas de compartilhamentos, conforme apresentado mais para frente na sessão “Alcance”, que finaliza este texto.

Contexto

As declarações de Zangrillo e Bassetti surgem no momento de retomada das atividades na Itália e em outros países da Europa. órgãos ligados ao Ministério da Saúde italiano demonstram preocupação com a possibilidade de uma segunda onda de contágios, que possa novamente comprometer o sistema de saúde do país e obrigar os italianos retrocederem ao isolamento social mais restritivo.

Alguns países da Europa, como a Áustria e Grécia, anunciaram restrições à entrada de turistas italianos em seu território devido ao fato de o país ter sido fortemente atingido pela pandemia. Em resposta às barreiras, Luigi di Maio, ministro das Relações Exteriores da Itália, declarou que o país não é composto “por leprosos” e cobrou da União Europeia a reabertura das fronteiras.

O país havia decretado uma quarentena ampla em março deste ano. No mesmo mês, a Itália ultrapassou a China em óbitos e tornou-se o país com maior quantidade de mortes pelo novo coronavírus em todo o mundo. A marca foi superada em abril pelos Estados Unidos.

Apesar de ser o terceiro no mundo com mais mortes pela covid-19 (até 4 de junho foram 33.689 óbitos, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins), só nesta semana ocorreram duas marchas em protestos às medidas adotadas para conter o avanço da doença no país. Um dos atos chegou a negar a existência da pandemia. Já o outro, realizado durante a Festa da República, teve manifestações do partido de extrema-direita La Lega, contrário ao premier Giuseppe Conte.

No protesto da La Lega, o ex-ministro do Interior e nome forte do partido, Matteo Salvini, chegou a citar as entrevistas de Zangrillo e Bassetti para justificar as aglomerações nas ruas e a falta de cuidados com medidas de proteção. “Eu tenho uma máscara mas especialistas dizem que o vírus está morrendo”, declarou ele.

Alcance

Somadas as postagens das quatro páginas do Facebook, o link chegou a 1.114 compartilhamentos até o dia 4 de junho — 687 foram publicações já apagadas. Não foi encontrada nenhuma menção ao vídeo no Twitter.

As alegações dos médicos, apesar de proferidas pelos profissionais, foram contextualizadas por veículos como El País e UOL.

Política

Investigado por: 2020-06-02

Ação da PF não reduziu número de mortes no Ceará

  • Falso
Falso
Dados do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do Ceará apontaram, de fato, para uma redução no número de mortes entre a data da operação da PF e a publicação. Mas nada próximo da queda de 90% apontada em post que viralizou no Facebook

É falsa a informação que tem circulado nas redes sociais sobre uma redução de 90% no número de mortes por covid-19 depois que a Polícia Federal deflagrou uma operação no Ceará. Uma imagem publicada em um perfil pessoal no Facebook no dia 27 de maio afirma que, em dois dias, o número de óbitos do estado pelo novo coronavírus teria caído 90%. A postagem diz ainda que a Polícia Federal seria o “remédio infalível” para a redução.

De fato, a PF deflagrou uma operação, chamada de “Dispnéia”, no Ceará, no dia 25 de maio, para apurar superfaturamento na compra de respiradores para o município de Fortaleza. A ação aconteceu em parceria com o Ministério Público Federal e a Controladoria-Geral da União.

Dados do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do Ceará apontaram, de fato, para uma redução no número de mortes entre a data da operação da PF e a publicação. Mas nada próximo da queda de 90% apontada no post, como mostram os números abaixo.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos publicados nas redes sociais sobre o novo coronavírus e a covid-19 que tenham grande viralização. A postagem original, cujo conteúdo está sendo checado, foi compartilhada 13 mil vezes no Facebook antes de ser apagada.

Muitos conteúdos duvidosos sobre a covid-19 fazem parte de narrativas usadas em disputas políticas e podem direta ou indiretamente levar as pessoas a minimizar os efeitos da pandemia e relaxar os cuidados com a higiene pessoal, uso de máscaras e o distanciamento social, medidas importantes para conter a transmissão do novo coronavírus.

O conteúdo investigado pelo Comprova se insere também no contexto da disputa entre governadores que decretaram medidas de distanciamento social e o presidente da República, que reiteradas vezes minimiza o impacto do novo coronavírus e pede o isolamento apenas de grupos de risco.

Falso para o Comprova é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

A verificação foi realizada em duas etapas. Primeiro, o Comprova investigou se houve, de fato, uma operação da Polícia Federal no Ceará em datas próximas à da postagem e se havia relação com o contexto da pandemia do novo coronavírus. Em seguida, checou os registros de óbitos do estado em datas próximas à da postagem para verificar se houve uma redução de 90% dos registros.

O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal por e-mail, em 1º de junho. A assessoria de comunicação da Superintendência da PF no Ceará informou que há uma investigação em curso que apura um possível desvio de recursos públicos federais na compra de respiradores através de duas dispensas de licitação feitas pela Prefeitura de Fortaleza. E que, no âmbito da investigação, foi deflagrada, no dia 25 de maio, a Operação Dispnéia, que contou com o cumprimento de oito mandados de busca e apreensão em Fortaleza e São Paulo — onde fica a sede da empresa de equipamentos médicos. Detalhes da operação podem ser encontrados no site da PF.

Para a checagem dos registros de óbito, o Comprova acessou dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, pela Secretaria de Saúde do Ceará e pela iniciativa Brasil.io, que utiliza programação para fornecer dados mais precisos ao cidadão. Nenhum deles apontou uma redução de 90% do número de óbitos nos dias subsequentes à realização da operação da Polícia Federal no estado.

Por fim, tentamos falar com a autora da postagem para entender a origem dos dados e que relação a ação da PF teria com a redução do número de mortes. Até o momento da publicação, porém, não houve resposta.

Verificação

Os boletins técnicos do Ministério da Saúde, publicados diariamente pela pasta, apontam que em 25 de maio o estado registrou 169 novas mortes em relação ao dia anterior. Dois dias depois, na data da postagem, o número de mortes confirmadas em 24 horas foi de 68. A queda no número de óbitos diários foi de 60% — e não de 90%, como alega a autora do post. Os valores apontados pela pasta são os mesmos apresentados pelo Brasil.io, que reúne dados públicos a respeito de casos e óbitos de covid-19 no país.

Já os dados da Secretaria de Saúde do Ceará, embora sejam diferentes dos enviados pelo governo federal, também desmentem a redução de 90% alegada na postagem. Segundo a secretaria, 69 novos óbitos foram registrados em 25 de maio. Em 27, a quantidade de novas mortes confirmadas foi de 49, uma queda de 29% entre as duas datas.

Os dados do gráfico acima foram coletados no dia 1º de junho e — no caso do levantamento feito com a InfoSus, plataforma usada pelo governo do Ceará — podem apresentar variação se pesquisados em outras datas. Isso porque a plataforma é constantemente atualizada.

Assim que novas ocorrências são registradas, os óbitos são redistribuídos de forma retroativa, conforme a data em que efetivamente ocorreram. Portanto, entre 31 de maio e 1º de junho, os 236 novos registros de mortes também incluem óbitos que ocorreram em dias anteriores — o que explicaria o valor baixo apresentado entre 30 e 31 de maio, de 8 mortes. O atraso no diagnóstico se deve à fila para realização dos testes.

Procurada por email pela equipe do Comprova, a Secretaria de Saúde do Ceará não respondeu diretamente se houve redução de 90% no número de mortes. No entanto, a pasta enviou o link de um boletim epidemiológico, datado de 26 de maio, contendo a informação de que, em uma semana, a letalidade no Estado passou de 6,8 para 7. A taxa de letalidade mede o percentual de pacientes diagnosticados com a doença que acabam evoluindo para óbito. Ou seja: a probabilidade de pessoas com covid-19 morrerem em decorrência da doença aumentou no Ceará.

Já o Ministério da Saúde, também procurado pelo Comprova, disse por e-mail que a diferença entre os dados apresentados pelos governos federal e estadual se dá pela diferença de tempo entre a pasta ser notificada e a inclusão de todos os casos e óbitos, consolidados, no boletim diário. Enquanto a plataforma do governo estadual é atualizada várias vezes ao longo do dia, o governo federal publica os dados ligados à covid-19 uma única vez no dia.

Na mira da PF

A autora do post associa a queda no número de mortes no Estado desde o dia 25 de maio à Operação Dispnéia da Polícia Federal, que investiga suposto desvio de recursos públicos federais na compra de respiradores adquiridos pela Secretaria de Saúde de Fortaleza. Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão na capital do estado e em São Paulo, onde fica a sede da empresa investigada. Segundo a PF, há indícios de superfaturamento de R$ 34,7 milhões nos contratos e de ausência de capacidade técnica da empresa contratada. A polícia acrescenta que há um potencial prejuízo financeiro de R$ 25,4 milhões aos cofres públicos.

Procurada pelo Comprova, a PF afirmou, por e-mail, que investigação “está em andamento”. A corporação acrescentou à resposta o link para um release sobre a operação. No texto, a PF afirma que a ação não envolveu nenhuma apreensão de equipamentos — também não há menção sobre possíveis novas aquisições de respiradores.

“A operação policial se desenvolve sem quaisquer prejuízos à continuidade do serviço público de saúde, inclusive, não estão sendo apreendidos equipamentos que são utilizados para o atendimento à população na rede hospitalar”, diz trecho do texto sobre a ação divulgado para a imprensa.

O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) publicou um vídeo apontando “motivações políticas eleitorais” na operação da Polícia Federal. Roberto Cláudio vai ser candidato à reeleição.

Críticas ao governo

A imagem foi publicada em um perfil pessoal do Facebook no dia 25 de maio. A autora se apresenta como moradora de Fortaleza e afirma que é formada em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará. Na página, ela costuma postar mensagens a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o governador do Ceará, Camilo Santana (PT).

As críticas se estendem a partidos de esquerda; instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal; e antigos aliados de Bolsonaro, como o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. As postagens relacionadas à pandemia de covid-19 seguem na toada dos apoiadores do presidente, com links para sites de conteúdo de direita reclamando da quarentena e estimulando o uso da cloroquina para o tratamento da doença.

A mensagem verificada foi publicada no dia 27 de maio, viralizou rapidamente e chegou a mais de 13 mil compartilhamentos. Muitos dos comentários alertavam para o conteúdo falso da mensagem, questionando uma queda de 90% no número de mortes por covid-19 no estado. Na defensiva, a autora afirmou que usou uma “figura de linguagem” e que “pessoas com inteligência limitada” não conseguiram entender o que quis dizer. Ela acabou apagando o post.

Mas voltou a compartilhar o mesmo conteúdo, dessa vez como uma foto. O Facebook alerta para os usuários que a imagem traz informações falsas. E sugere o link para uma verificação feita pela Agência Lupa.

A equipe do Comprova entrou em contato com a autora da postagem. Perguntamos de onde são os dados que ela usou para afirmar que houve uma queda no número de mortes de vítimas do novo coronavírus no Ceará, mas não tivemos retorno até a publicação desta verificação.

Contexto

Os governos estaduais são o alvo preferencial de Jair Bolsonaro na crise política e econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. A crise começou em março, com os governos estaduais decretando medidas de distanciamento social, enquanto o presidente diminuía o impacto do novo coronavírus, comparando a covid-19 a “uma gripezinha”.

O Ceará foi um dos estados que adotou uma quarentena rigorosa. Até um sistema de câmeras foi usado para fiscalizar a circulação de pessoas. No dia 30 de maio, o governador Camilo Santana renovou o decreto de isolamento social, com foco em cidades do interior do Estado. Mas anunciou a flexibilização das medidas de distanciamento social na capital, Fortaleza, com a retomada de algumas atividades, como a construção civil. O prefeito Roberto Cláudio falou da melhora nos indicadores do município, como a redução no número de mortes, para justificar o afrouxamento. Mas nenhum dos dois associou essa queda à ação da Polícia Federal.

O Projeto Comprova já verificou críticas de apoiadores do presidente a governadores e prefeitos como forma de fortalecer o discurso do governo federal e minimizar os efeitos da pandemia. O Comprova também já checou denúncias de que governos estaduais estariam se aproveitando do caos causado pela covid-19 para desviar dinheiro público.

O jornal O Estado de São Paulo checou conteúdo semelhante sobre a redução de mortes no Rio de Janeiro.

Alcance

A postagem original chegou a 13 mil compartilhamentos, antes de ser apagada. A imagem com o mesmo conteúdo teve menos alcance, com apenas 59 interações até o dia 2 de junho.

Publicações afirmando que o número de mortes por covid-19 caiu 90% no Ceará depois da intervenção da Polícia Federal também circularam no Twitter. A publicação que mais viralizou teve mais de 1,1 mil interações até o dia 2 de junho.

Saúde

Investigado por: 2020-06-01

É falso que o número de casos de covid-19 seja menor que o oficial

  • Falso
Falso
Ao contrário do que diz apresentador de canal no Youtube, as mortes confirmadas pelo novo coronavírus só entram na estatística após o resultado positivo do teste

Um vídeo publicado no YouTube afirma que o número de mortes por covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, é menor do que o divulgado pelas autoridades brasileiras. O autor do conteúdo atribui a informação a uma reportagem da Record TV que teria revelado a “fraude” e também o registro de mortes por pneumonia como sendo de covid-19. As afirmações são, no entanto, falsas. As mortes confirmadas pelo novo coronavírus só entram na estatística após o resultado positivo do teste.

O vídeo foi publicado em 25 de maio no canal de Youtube “Giro de Notícias” por um homem chamado Alberto Silva, que se identifica como apresentador. Nas redes sociais e no próprio YouTube, Silva diz ter um canal de “jornalismo independente”. Com 1,15 milhão de inscritos, o canal faz críticas ao STF, defende o presidente da República, Jair Bolsonaro, e a intervenção militar.

Uma matéria do jornal O Globo, publicada neste domingo (31), mostra que o canal Giro de Notícias é um dos veículos conhecidos por divulgar notícias falsas abastecidos por verbas publicitárias de estatais. O canal, inclusive, foi o que mais veiculou anúncios da Petrobras, com 10.027 anúncios. O youtuber faturou em dose dupla com a Eletrobras. O “Giro de Notícias” veiculou 2.355 anúncios da estatal. Já seu canal pessoal, “Alberto Silva”, recebeu 1.950.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos que tenham grande repercussão nas redes sociais. No caso da pandemia, conteúdos falsos ou enganosos têm o potencial de provocar prejuízos à saúde de pessoas e à saúde pública, por incentivarem comportamentos danosos.

Este vídeo se insere em um grupo de conteúdos que tem como objetivo minimizar a extensão da pandemia e, portanto, a gravidade da situação pela qual passa o mundo e, em particular, o Brasil.

Quando da chegada da pandemia ao país, em março, o presidente Jair Bolsonaro fez diversos comentários que tinham o objetivo de minimizar os efeitos do novo coronavírus. Desde então, páginas e perfis de apoiadores têm insistido nessa estratégia. Recentemente, o Comprova verificou conteúdos que, de maneira falsa ou enganosa, tentavam reduzir o impacto da pandemia usando números de mortes registradas em cartório, de sepultamentos em um cemitério de São Paulo e o resultado de autópsias na Itália.

Como verificamos?

O Comprova entrou em contato com Alberto Silva pelo número de telefone divulgado no vídeo. Em três tentativas por WhatsApp, foi solicitado o link da reportagem da Record TV à qual ele se referia. O apresentador não respondeu às mensagens e ligação.

Além disso, o Comprova buscou, sem sucesso, reportagens da Record TV disponíveis no site da emissora que trouxessem alguma referência a uma “farsa” nos números das mortes por covid-19. A Record TV também foi procurada, mas não se pronunciou.

Procuramos também o Ministério da Saúde para entender como funciona a confirmação de casos e mortes por covid-19, com a intenção de entender as diretrizes e protocolos.

Por fim, foram entrevistados dois pneumologistas para explicar a relação da pneumonia com a covid-19.

Verificação

No vídeo verificado, Alberto Silva diz que uma reportagem da Record TV teria denunciado uma fraude na contagem de mortos por covid-19 no Brasil. Segundo ele, nem toda pessoa cujo óbito entra para as estatísticas da doença morreu devido ao novo coronavírus. Silva, inclusive, insinua que todas as mortes por pneumonia estariam sendo diagnosticadas como covid-19.

“A pessoa tem um infarto, covid-19, a pessoa cai de um andaime, covid-19, a pessoa é atropelada, covid-19. A reportagem mostrou então que o nosso pico de informações pode ser possivelmente que não seja nem a metade do que eles estão anunciando. Estamos na casa de 22, 23 mil pessoas falecidas pelo covid-19, mas se forem descartadas as pessoas que não testaram, a gente não chega nem a 5 mil”, afirma Alberto no vídeo.

Durante a apresentação, Silva afirma que não poderia compartilhar o link da reportagem porque poderia ser banido do YouTube. Assim, o Comprova entrou em contato com ele solicitando o link da reportagem. Silva visualizou a mensagem, mas não respondeu.

O Ministério da Saúde, por sua vez, contesta a alegação. A pasta informou, por nota, que os números divulgados diariamente de casos e óbitos por covid-19 são informados pelos estados ao ministério por meio do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe). Os casos de óbitos são confirmados pelo teste RT-PCR realizado nos pacientes antes do óbito. Até domingo (31), o Brasil registrava 29.314 mortes confirmadas.

A pasta esclareceu ainda que os dados de óbitos em investigação são os casos de pacientes que fizeram o teste e, até a data do óbito, não tinham resultado confirmado ou foram diagnosticados por critérios clínicos epidemiológicos. Após o óbito, esses casos continuam a ser investigados para confirmar a causa da morte.

A Record TV também foi procurada para comentar o vídeo, mas até o fechamento desta verificação, na sexta-feira (29), não havia respondido.

A secretaria de Estado de Saúde de São Paulo também informou, por nota, que a confirmação da morte ocorre apenas se o teste de PCR comprovar a infecção pelo novo coronavírus, com diagnóstico por laboratórios já validados na rede de saúde.

Covid-19 e pneumonia

No vídeo verificado, o apresentador afirma que pessoas diagnosticadas com pneumonia estariam sendo registradas como doentes por covid-19. O Comprova decidiu, então, verificar a relação entre as doenças.

Um dos principais fatores de morte por covid-19 é a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Essa complicação também é observada em pacientes com pneumonia. De acordo com especialistas, a pneumonia é uma inflamação no pulmão que pode ser causada tanto por vírus quanto por bactérias.

O médico pneumologista Valderio do Valle Dettoni, professor de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que a covid-19 pode ocasionar um quadro de pneumonia, mas não é a única doença capaz de fazer isso porque há outros vírus e bactérias com a mesma capacidade. Dettoni esclareceu, ainda, que nem todas as pessoas com o novo coronavírus irão desenvolver a inflamação no pulmão.

“Tem muita gente com o novo coronavírus no organismo que não vai apresentar sintomas ou a doença poderá vir de forma leve”, disse ele. “A pneumonia é uma inflamação no pulmão, a complicação do quadro é que pode levar à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causadora da maioria das mortes por covid-19”, explica.

A pneumologista Karina Tavares Oliveira, médica da Unimed no Espírito Santo, acrescenta que a covid-19 também pode levar à morte por outros motivos. “A pessoa pode desenvolver a pneumonia e, com um pouco mais de tempo, consegue resolver a infecção no pulmão. Entretanto, o agravamento da doença pode desenvolver outras comorbidades causadoras da morte, ou seja, a pneumonia não será a fonte primária”, destacou.

Contexto

O vídeo foi publicado em um momento de contínua tensão política no Brasil sobre a covid-19. Como destacado anteriormente, o presidente Jair Bolsonaro, defensor do retorno à normalidade, vem tentando minimizar a pandemia do novo coronavírus, assim como muitos de seus apoiadores. Na mais famosa declaração com este teor, Bolsonaro afirmou que a covid-19 era uma gripezinha.

Bolsonaro quer a retomada de todas as atividades econômicas no país. Essa visão contraria as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, para países sem capacidade de testar, rastrear e isolar as pessoas com covid-19, recomenda políticas de distanciamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus e, consequentemente, o aumento do número de casos da covid-19.

Por outro lado, os governos estaduais mantêm o isolamento em seus territórios, mesmo trabalhando para reabrir determinados setores. De acordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em casos de saúde pública, como a pandemia de covid-19, não há hierarquia entre os entes da federação. Ou seja, um decreto federal não vale mais que um estadual. Na ocasião, o ministro Alexandre de Moraes criticou a falta de atuação do governo federal na coordenação do combate à pandemia.

Alcance

O vídeo publicado no YouTube no dia 25 de maio teve mais de 220 mil visualizações até sexta-feira (29). Já no Facebook, o conteúdo teve 9,3 mil curtidas e 6,1 mil compartilhamentos, tendo sido comentado por mais de 900 pessoas.

Saúde

Investigado por: 2020-05-29

Vídeo distorce informações sobre o uso da cloroquina para a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Em vídeo compartilhado nas redes sociais, um homem sem formação na área de saúde exagera a eficácia da cloroquina e minimiza seus efeitos colaterais e diz que as notícias sobre esses efeitos fazem parte de uma luta contra o presidente da República

É enganoso um vídeo que circula nas redes sociais e atribui notícias sobre os efeitos colaterais da cloroquina e da hidroxicloroquina a uma “luta contra o presidente Jair Bolsonaro”. Na realidade, os alertas sobre a utilização dessas substâncias contra a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, têm como base o fato de não existirem provas da eficácia da substância para tratar a doença. Como a cloroquina e a hidroxicloroquina podem gerar efeitos colaterais graves, autoridades sanitárias têm enfatizado os riscos de utilizá-las.

No vídeo, um homem apresenta uma lista de efeitos colaterais de um remédio e, em seguida, diz ao espectador não se tratar de algo retirado da bula da hidroxicloroquina, mas sim da Novalgina, um dos nomes comerciais da dipirona sódica, medicamento destinado ao tratamento de dores e à redução da febre.

O homem no vídeo acerta ao dizer que a cloroquina é usada contra a malária há 70 anos, mas engana ao insuflar sua eficácia e ao minimizar seus efeitos colaterais, o que pode causar danos à saúde de quem acreditar no que é dito no vídeo.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos que tenham muita viralização e repercussão nas redes sociais sobre a pandemia. O vídeo em questão se insere no contexto da disputa iniciada pelo presidente Jair Bolsonaro acerca do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina como tratamento para a covid-19.

Assim como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bolsonaro insiste na adoção dessas substâncias apesar da ausência de dados técnicos ou científicos que comprovem a afirmação. Além disso, os efeitos colaterais dessas substâncias podem ser graves, o que torna sua utilização arriscada em se tratando de uma doença para a qual elas não têm eficácia atestada.

Para o Comprova, o conteúdo enganoso é aquele que foi retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Foram realizadas pesquisas no Google, nas redes sociais Facebook e Instagram, resgatando informações sobre os envolvidos no vídeo, e buscas de artigos científicos no Brasil e pelo mundo, além de reportagens nacionais e internacionais. O Comprova também levantou documentos, recomendações e orientações das principais associações, instituições profissionais e científicas que discutem técnica e cientificamente o assunto.

Os envolvidos na produção do vídeo foram entrevistados por e-mail, telefone e aplicativo de mensagens WhatsApp.

Verificação

Um dos responsáveis pelo vídeo, que aparece em frente à câmera, é identificado como José Renato Castro. Com uma simples busca no Google, o Comprova identificou essa pessoa. Ele é um ator, produtor cultural e musical que fez sucesso nos anos 1990, como integrante da dupla musical e humorística “Rosa e Rosinha”. Castro atua como o cantor “Rosa” desde 1993.

José Renato diz que sentiu necessidade de se “afirmar politicamente” no vídeo devido à baixa qualidade das informações na internet. Ele afirmou querer alertar as pessoas que o uso de qualquer medicamento tem contraindicações e pode ser perigoso. A ideia “era falar sobre coisas verdadeiras” e, por isso, fez a parceria com seu amigo, o escritor Leo Reis, porque gosta dos textos produzidos por ele.

Leo Reis é o corresponsável pelo vídeo. Eles foram parceiros musicais na dupla musical Rosa e Rosinha. Reis também foi médico da família de José Renato Castro. Ele afirma ser escritor, músico e compositor e explica que é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ao longo da carreira, foi dono de hospital, cirurgião, clínico geral e atuou na Amazônia tratando pacientes com malária usando a cloroquina. Há 20 anos trabalha como médico de diagnósticos por imagem.

Tanto José Renato quanto Leo Reis acreditam que a hidroxicloroquina e a cloroquina têm efeito contra o novo coronavírus quando combinada com outros tratamentos, como a azitromicina, zinco ou a aplicação de plasma sanguíneo. José Renato admite, no entanto, que as substâncias não são a cura para a covid-19, mas diz acreditar que são um “fio de esperança”.

Ambos ressaltaram ao Comprova a defesa do uso da medicação alegando ter amigos e colegas que fizeram uso das drogas com resultados positivos. Como o Comprova informou em outras verificações, experiências pessoais compartilhadas como verdade absoluta, sem pesquisa adequada e comprovação científica, podem causar danos.

Leo Reis acrescenta ainda que o remédio só deve ser receitado na “primeira fase” da covid-19, “antes que os pulmões sejam atingidos”. Depois disso, o medicamento não teria mais efeito. Como também o Comprova já mostrou, não há evidência científica sobre a capacidade de nenhuma medicação impedir a evolução para a fase inflamatória da doença.

Cloroquina e covid-19

Ao incentivar o uso da hidroxicloroquina, o vídeo engana os espectadores e pode levá-los a ter problemas de saúde para além da covid-19. No Brasil, desde o início da pandemia, diversas entidades fizeram alertas (ver abaixo) a respeito da falta de estudos sobre a eficácia da hidroxicloroquina e de seus potenciais efeitos colaterais.

Originalmente, o Comprova destacou neste espaço um estudo publicado na revista The Lancet com 96 mil pacientes, que desqualificou a hidroxicloroquina como tratamento eficaz para a doença provocada pelo novo coronavírus e concluiu que a substância estaria relacionada a um aumento no risco de morte por problemas cardíacos.

A pesquisa em questão promoveu o cancelamento de diversos ensaios clínicos envolvendo a hidroxicloroquina no mundo, mas dias depois a própria revista The Lancet disse que “sérias questões científicas” foram trazidas à sua atenção sobre a validade dos dados apresentados. Antes, a publicação havia corrigido dados de localização de alguns pacientes após críticas à sua metodologia, mas sem alterar as conclusões.

Em 3 de junho, a Organização Mundial de Saúde retomou os testes com a hidroxicloroquina, destacando que isso não significa uma recomendação de uso, pois mais estudos são necessários para averiguar a eficácia contra a covid-19. Em 4 de junho, os responsáveis pelo estudo publicado na The Lancet pediram uma retratação, o que implicou na despublicação da pesquisa do site da revista.

[Atualização em 4 de junho de 2020: os três parágrafos foram editados após a divulgação de questionamentos acerca do estudo citado]

Os protocolos do Ministério da Saúde

No Brasil, o uso da hidroxicloroquina para tratar a covid-19 é regulado pelo Ministério da Saúde.

Em uma nota técnica de 27 de março, a pasta sugeriu, em seu primeiro protocolo sobre o tema, o uso da cloroquina para covid-19. É necessário que o paciente declare ciência dos efeitos colaterais do remédio. Na ocasião, o documento determinava que a substância deveria ser utilizada pelos médicos no tratamento apenas de pacientes graves e hospitalizados diagnosticados com a doença provocada pelo novo coronavírus. O protocolo reforçava que tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina não eram indicadas para prevenir a doença nem tratar casos leves.

Dois meses depois, em 20 de maio, o ministério publicou novas recomendações para ampliar o acesso ao medicamento por pacientes com covid-19. Desde então, o uso pode ser feito também por pacientes com sintomas leves, desde que no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento pode variar conforme os sintomas e a saúde do paciente e o acesso ao medicamento só pode ser feito por prescrição médica, com a concordância por escrito do paciente para o uso da medicação.

O uso da cloroquina

O vídeo acerta apenas ao afirmar que a cloroquina é usada contra a malária na região amazônica há 70 anos. Ocorre que, neste caso, há estudos que comprovam a eficácia da substância, ao contrário do que se pode constatar no caso da covid-19.

A cloroquina foi descoberta em 1934, mas de início foi avaliada como uma droga muito tóxica e acabou rejeitada. Novos estudos realizados nos Estados Unidos e na Austrália mostraram que variações do medicamento eram possíveis para o tratamento de doenças, desde que a dose fosse ajustada. Em 1945, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a cloroquina para o tratamento da malária. O medicamento foi distribuído em massa na região amazônica e outras regiões do mundo com alta predominância de casos.

Farmacêuticos e a cloroquina

O vídeo engana, também, ao destacar que a cloroquina ou a hidroxicloroquina podem ser indicadas por farmacêuticos. No caso da covid-19, entidades que reúnem farmacêuticos têm feito alertas importantes a respeito disso.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicou um texto em seu portal, no dia 31 de março, explicando que o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina “não evita que pessoas fiquem doentes por coronavírus e, por isso, não devem ser usados para prevenir a covid-19”. No mesmo texto, o CFF ressalta que ainda não há um estudo definitivo e que o “uso se justifica apenas com prescrição e supervisão médica, com acompanhamento de profissionais de saúde, dentro de hospitais, como parte de um protocolo de pesquisa”.

O Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP), por sua vez, publicou em 18 de maio uma nota técnica com diversos alertas à classe. O documento ressalta que, diante das orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS); da Lei 13.021/2014 sobre o uso racional de medicamentos; do código de ética do Conselho Federal de Farmácia (CFF); e de uma resolução do CFF de 2001, o farmacêutico só deve liberar a “cloroquina e outros medicamentos utilizados para a covid-19” diante da apresentação da “prescrição médica, ainda que não seja medicamento sob regime especial de controle”.

Contexto

Desde março, o presidente da República, Jair Bolsonaro, tornou-se um dos principais defensores do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, mesmo sem confirmações científicas e após o apoio e recuo de líderes estrangeiros, como Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Por várias vezes, Bolsonaro defendeu o uso do medicamento em coletivas de imprensa, vídeos e textos publicados nas redes sociais e até mesmo em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.

A insistência no medicamento já provocou a saída de dois ministros da Saúde durante a pandemia do coronavírus – Henrique Mandetta e Nelson Teich. Ambos discordavam da indicação do presidente da República. O segundo protocolo do Ministério da Saúde, citado acima, só foi publicado após o general Eduardo Pazuello assumir interinamente a pasta.

Com a defesa do presidente ao medicamento, muitos apoiadores, entre eles seus filhos, como o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, atacaram adversários, como o governador de São Paulo, João Doria, para apoiar o uso da cloroquina.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Associação de Medicina Intensiva Brasileria (AMIB), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e a Associação Médica Brasileira (AMB) são algumas das organizações científicas e profissionais que publicaram orientações e recomendações reforçando que ainda não há evidências que comprovem a eficácia do medicamento, e que sua eventual aplicação seja feita conforme a situação ou protocolo determinado.

Alcance

O Comprova verificou que vídeo original foi publicado na página do Facebook de José Renato Castro no dia 19 de maio. Até 25 de maio, já foi visualizado mais de 90 mil vezes, com 74 comentários, 745 reações e mais de 5 mil compartilhamentos. No Instagram, o vídeo também já foi visualizado mais de 2 mil vezes.

 

Saúde

Investigado por: 2020-05-29

Boato usa frase de Doria para levantar dúvidas sobre a extensão da pandemia

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte usa o a lista de membros da ONU, 193, para sugerir que o governador de São Paulo exagera os números de países afetados pela pandemia. Dória afirmou que 213 países enfrentam a pandemia de covid-19 em entrevista à Band TV. São, na realidade, 214 países e territórios afetados, segundo a OMS

Publicação com grande circulação no Twitter sugere que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), inventou o número de países afetados pela pandemia do novo coronavírus em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, da Rede Bandeirantes. O boato afirma que o político teria citado 215, quando o número de países no mundo é de 193. A informação, no entanto, é enganosa.

De fato, Doria erra ao falar sobre o cenário da pandemia no programa Brasil Urgente, em 11 de maio — mas o número não aparenta ser invenção. Na verdade, está bastante próximo à quantidade de áreas com casos confirmados de covid-19 até aquele momento, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A entrevista está no Canal do Datena no YouTube e foi transmitida ao vivo na Band TV. O trecho citado pelas publicações no Twitter pode ser visto a partir de 8 minutos e 20 segundos de vídeo. Doria fala, primeiro, em 212 países enfrentando a pandemia, depois corrige o número para 213.

“A pandemia é mundial, ela afeta o mundo: 213 países, neste momento, Datena, estão enfrentando a pandemia, estão perdendo vidas”, afirma o governador de São Paulo.

A informação é imprecisa porque Doria relata casos do novo coronavírus em 213 países, quando a referência só é possível de ser feita quando somam-se tanto os países de reconhecimento pleno quanto outros tipos de território no mundo.

Ainda assim, o número atualizado em 11 de maio, segundo a base da dados da OMS, era de 214 áreas com casos confirmados de covid-19. Desses, 180 eram países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e 34 eram territórios dependentes e países de reconhecimento limitado, entre outros.

Quanto ao número real de países, a principal referência para o dado é a lista de membros da ONU, com 193. A quantidade de nações permanece inalterada desde 2011. Esse também é o número que consta nas postagens do Twitter.

Porém, mesmo essa informação é questionável em razão de disputas políticas em andamento. Taiwan e Kosovo, por exemplo, são considerados países de reconhecimento parcial, o que significa dizer que algumas nações as entendem como estados soberanos e outras, não. A ONU também conta com dois “estados observadores” em suas reuniões, Vaticano e Palestina. Esses quatro já aumentariam as nações para 197.

O post mais antigo no Twitter com a descrição foi publicado no dia 26 de maio pelo perfil @Thacloroquina, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. A autora se descreve como “católica, conservadora, anti-esquerda e robô do Bolsonaro com CPF”. A mensagem também aumenta o número dito por Doria na entrevista para 215, o que é incorreto.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas redes sociais e alcançam grande audiência.

Além disso, conteúdos que questionam a gravidade da pandemia são potencialmente prejudiciais à população. Ao acreditar em informações enganosas que desacreditam a crise mundial de saúde, as pessoas podem decidir tomar menos precauções, ficando assim expostas mais facilmente a uma doença que ainda não tem cura conhecida.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Com base no texto do tuíte, o Comprova pesquisou sobre entrevistas recentes do governador João Doria ao jornalista José Luiz Datena. A reportagem encontrou trecho semelhante à descrição no vídeo “Lockdown não está descartado em SP, diz Doria em entrevista a Datena”, publicado no Canal do Datena no YouTube, referente à transmissão do programa Brasil Urgente, na Band TV, em 11 de maio.

A seguir, o Comprova consultou a base de dados aberta da Organização Mundial da Saúde (OMS) para descobrir a quantidade de países e territórios com casos de covid-19 registrados até a data da entrevista. Por meio de um editor de planilhas, a reportagem filtrou os casos acumulados até o dia 11 de maio e elaborou uma lista por localidade informada.

Finalmente, a reportagem procurou em notícias, artigos e outras fontes confiáveis a quantidade real de países no mundo. Entre os conteúdos, estava a lista de países membros da ONU informando o número alegado pela publicação, 193. As informações, então, foram comparadas com a planilha de casos registrados pela OMS. As localidades que não constavam na lista das Nações Unidas foram pesquisadas individualmente.

Verificação

O governador de São Paulo, João Doria, realmente fez uma declaração semelhante à apontada pelo boato em entrevista ao jornalista José Luiz Datena em 11 de maio, durante o programa Brasil Urgente, da Band TV.

Doria respondia se estava perto ou não de tomar a decisão pelo lockdown em São Paulo e qual deveria ser a prioridade do governo durante a crise de saúde. O trecho sobre a situação da covid-19 no mundo aparece logo depois de o governador afirmar que não colocaria a economia “à frente da vida” e que o adversário não era a quarentena, mas a pandemia. Ele cita outros países do mundo para argumentar que as dificuldades econômicas não eram exclusividade de São Paulo.

Doria falou, primeiro, em 212 países enfrentando a pandemia e depois alterou a informação. “A pandemia é mundial, ela afeta o mundo: 213 países, neste momento, Datena, estão enfrentando a pandemia, estão perdendo vidas”, disse o político. “Não é um tema local, não é um tema regional, não é um tema nacional — é um tema mundial”. A entrevista também contém diversas críticas ao presidente Jair Bolsonaro.

Quantos países existem no mundo?

A principal referência para o dado é a lista de países-membros das Nações Unidas, organização internacional fundada em 1945. Atualmente, a lista conta com 193 países, entre eles o Brasil. Ela permanece inalterada desde 2011, com a entrada do Sudão do Sul. Entretanto, essa informação não é absoluta, em razão dos conflitos e disputas políticas que ocorrem hoje.

Em entrevista à BBC, publicada pelo portal G1, o especialista em geografia história e política da Universidade de Leeds, na Inglaterra, Martin Purvis, disse que a existência de um país depende do contexto político. Purvis explica que, para ser considerada um país, uma região precisa ter um território definido; ser habitada com algum grau de permanência; ter instituições políticas e governo próprios; ter a independência reconhecida por outros estados soberanos; e interagir diplomaticamente. Dessa forma, existem diversos territórios que ficam no meio termo: é o caso daqueles que declararam independência e funcionam, em grande parte, como países, mas não tiveram a soberania reconhecida pela comunidade internacional.

O que diz a base de dados da OMS?

De acordo com os dados abertos da Organização Mundial da Saúde (OMS), 214 países, territórios e áreas tinham registros de casos confirmados do novo coronavírus em 11 de maio de 2020, quando o número de infectados era de 4 milhões de pessoas no planeta. Desses, 180 eram países membros da ONU e 34 eram territórios dependentes e países de reconhecimento parcial, entre outros.

A OMS faz a contagem, separadamente, de uma série de arquipélagos e ilhas que pertencem a países como Reino Unido, Países Baixos, França, Dinamarca e Estados Unidos, por exemplo. Apenas o Caribe, região localizada na costa do continente americano, concentra 16 delas, todas com casos de covid-19: Anguilla, Aruba, Bermudas, Ilhas Cayman, Curaçao, Guadalupe, Martinica, Montserrat, Países Baixos Caribenhos, Porto Rico, São Bartolomeu, São Martinho Francês, São Martinho Neerlandês, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Virgens Americanas.

Os dois estados observadores da ONU — a Palestina, estado que reivindica a soberania sobre territórios no Oriente Médio, e o Vaticano, cidade-estado cercada por Roma, na Itália, e sede da Igreja Católica — também apresentam informações próprias. O mesmo acontece com Kosovo, país de reconhecimento limitado localizado na região dos Bálcãs, na Europa. Por outro lado, Taiwan — considerada província pelo governo chinês, mas que chegou a fazer parte da ONU até a década de 1970 —, é integrada à China pela OMS. Outras bases de dados, como a da Universidade Johns Hopkins, contabilizam Taiwan de forma separada.

Os demais territórios na base de dados da OMS são Ilhas Falkland (Malvinas), Ilhas Faroé, Guiana Francesa, Polinésia Francesa, Gibraltar, Groenlândia, Guam, Guernsey, Ilha de Man, Jersey, Mayotte, Nova Caledônia, Ilhas Marianas do Norte, Ilha da Reunião e Saint-Pierre e Miquelon. A contagem também informa os casos acumulados em transporte internacional no navio de cruzeiro Diamond Princess, registrados entre fevereiro e março, no total de 712.

Atualmente, o número de países afetados é de 181, com o primeiro caso em Lesoto confirmado em 14 de maio. Ao todo, foram confirmados 5,5 milhões de casos de covid-19 no mundo até quarta-feira, 27, segundo dados da OMS. Apenas 12 países da ONU não haviam divulgado casos da doença até esse dia: Coréia do Norte, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Kiribati, Micronésia, Nauru, Palau, Samoa, Tonga, Turcomenistão, Tuvalu e Vanuatu. De acordo com informações da Reuters, outros 20 territórios também passam ilesos pela pandemia.

Em seus boletins diários, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reúne as localidades em uma coluna denominada “países, territórios e áreas”. Abaixo das informações, a instituição esclarece que “as designações empregadas e a apresentação desses materiais não implicam a expressão de qualquer opinião da OMS sobre o status legal de qualquer país, território ou área ou de suas autoridades, ou ainda sobre a delimitação de suas fronteiras e limites.”

Contexto

São Paulo é o epicentro do novo coronavírus no Brasil, com o maior número de casos confirmados e de mortes por covid-19 — eram 6.712 óbitos e 89.483 pessoas infectadas até quarta-feira, 27. Outro dado preocupante é a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva na região metropolitana da capital, que está em 91%, de acordo com estatísticas oficiais do estado.

Diante do cenário, o governador João Doria adotou uma série de medidas para conter a disseminação do vírus, como o fechamento de estabelecimentos não essenciais ainda em março, como forma de reduzir a pressão sobre o sistema de saúde. Doria também vinha afirmando que não descarta estabelecer o lockdown, medida mais dura de controle sobre a circulação de pessoas e a operação de estabelecimentos comerciais, em algumas localidades, mas acabou anunciando um plano de flexibilização, incluindo abertura de shoppings e lojas na capital paulista, nesta semana.

Esse discurso é contrário ao que defende o presidente da República, Jair Bolsonaro, com quem Doria rompeu politicamente meses depois da aliança “Bolsodoria” no segundo turno das eleições de 2018. Durante a crise do novo coronavírus, a rivalidade ganhou maiores proporções. O governador de São Paulo chegou a afirmar que o presidente “despreza vidas” e deveria começar “a ser um líder, se for capaz”.

Bolsonaro, por outro lado, acusa Doria de usar a crise como palanque para as eleições de 2022. O presidente chamou o governador de São Paulo de “bosta” em reunião ministerial tornada pública por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e que foi analisada em meio ao inquérito que apura interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal.

Alcance

A mensagem circula no Twitter e no Facebook desde 26 de maio e teve mais de 8,6 mil curtidas e 1,6 mil compartilhamentos até a tarde desta quinta-feira, 28, de acordo com a plataforma de monitoramento de redes sociais CrowdTangle.

Saúde

Investigado por: 2020-05-26

Vídeo “Plandemic” faz afirmações falsas sobre a COVID-19

  • Falso
Falso
“Plandemic” consiste em uma entrevista com a controversa pesquisadora Judy Mikovits, que reproduz informações erradas sobre a covid-19 e faz acusações sem provas de uma conspiração em torno da pandemia

Apesar de ter sido retirado de sites como YouTube, Facebook e Vimeo por oferecer conselhos de saúde infundados, um vídeo de mais de 25 minutos repleto de alegações falsas sobre o novo coronavírus continua a circular online em plataformas de vídeo menos conhecidas. O vídeo “Plandemic” consiste em uma entrevista com a controversa pesquisadora Judy Mikovits, que reproduz informações erradas sobre a covid-19 e faz acusações sem provas de uma conspiração em torno da pandemia.

Uma versão do vídeo com legendas em português acumulou mais de 901 mil visualizações ao longo de 18 dias. O filme foi produzido pela produtora californiana Elevate, dirigida pelo ex-modelo Mikki Willis, que também aparece no vídeo como entrevistador. Ele tem mais de 30 mil inscritos em seu canal de YouTube, onde publica conteúdo conspiratório. Em um vídeo, divulga a teoria sem provas de que o novo coronavírus teria sido vazado de um laboratório.

A doutora Mikovits teve seu trabalho desacreditado em 2011, depois que a revista científica Science teve de publicar uma retratação sobre um estudo a respeito da síndrome da fadiga crônica. A pesquisa havia sido publicada em 2009, e ao longo dos dois anos seguintes os resultados foram questionados por outros pesquisadores, que não conseguiram replicar a experiência descrita por Mikovits e outros coautores.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas plataformas de redes sociais e em aplicativos de mensagens e que alcançam uma grande audiência e muitas interações.

O vídeo “Plandemic” foi colocado em suspeição, teve parte de seu conteúdo desmentido por diversas organizações internacionais de checagem e banido de plataformas como YouTube, Facebook e Vimeo. O Comprova optou por publicar também uma verificação ao encontrar em uma plataforma de vídeo uma versão legendada em português e com cerca de 900 mil visualizações.

Além disso, o vídeo propaga ideias de uma pesquisadora controversa e que questiona temas sensíveis para a saúde como a eficácia das vacinas, a natureza do vírus, o uso de medidas protetivas e recomendação de uso de medicamentos cuja eficiência é questionada pelas autoridades de saúde.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova usou nesta verificação conteúdos investigados previamente pela AFP, que faz parte do projeto, consultou artigos já publicados pela imprensa sobre o caso Plandemic e conteúdos de outras verificações feitas pelo projeto. Os links de referência estão disponíveis no texto abaixo.

A AFP entrevistou o pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet, na sigla em espanhol) Juan Manuel Carballeda, especializado em Virologia Molecular e a médica Kathleen Montgomery, patologista da Universidade de Vanderbilt.

Verificação

Quem é Judy Mikovits?

De acordo com a revista Science, Mikovits começou a carreira como técnica de laboratório no Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI, na sigla em inglês) em 1988. Sua formação acadêmica inclui um PhD em bioquímica e biologia molecular pela Universidade George Washington. Sua tese para conclusão do PhD de fato foi sobre HIV, como afirma o vídeo “Plandemic” — no entanto, a publicação não teve qualquer impacto sobre o tratamento da Aids.

A Science também mostrou que não há evidências de que Mikovits tenha participado da equipe do NCI que isolou o vírus HIV em 1984. Em “Plandemic”, a cientista acusa o doutor Anthony Fauci, atual diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês), de ter adiado a publicação de pesquisas sobre a Aids. Judy não fornece qualquer prova para a acusação e não existe qualquer indício de que seja verdade.

Em 2009, ano em que publicou o desacreditado estudo sobre síndrome de fadiga crônica, Mikovits era diretora de pesquisa no Instituto Whittemore Peterson (WPI, na sigla em inglês). Ao contrário do que alega o vídeo “Plandemic”, o estudo publicado na Science não mostrava que uso de tecidos fetais causava doenças crônicas. Na realidade, a pesquisa sugeria que um vírus derivado de ratos, chamado XMRV, era a causa da síndrome de fadiga crônica.

Posteriormente, outros pesquisadores mostraram que o vírus tinha sido criado acidentalmente em laboratório e que provavelmente nunca tinha infectado humanos. A própria Mikovits tentou replicar o achado científico em um estudo com amostras de sangue de 300 pessoas, metade delas pacientes da síndrome de fadiga crônica. O XMRV não foi encontrado em nenhum dos materiais analisados. A cientista se recusou a assinar a retratação na Science.

Mikovits foi presa em 2011, depois de ter sido demitida do Instituto Whittemore Peterson (WPI), como ela própria admite no vídeo “Plandemic”. Ao contrário do que a pesquisadora afirma, porém, não é verdade que ela tenha sido presa sem acusações. De acordo com o Washington Post, Judy foi acusada pela procuradoria do condado de Washoe, no Estado de Nevada, de roubar dados de computadores e outros materiais do WPI. A acusação criminal foi retirada em junho de 2012.

O New York Times reportou na época que, antes que a acusação fosse retirada, um funcionário do WPI disse em depoimento que ajudou Mikovits a retirar materiais do laboratório. Judy estaria se escondendo em um barco para evitar ser intimada pelo WPI.

Em “Plandemic”, Mikovits acusa o doutor Fauci de ter subornado investigadores no caso da WPI. Novamente, ela não oferece qualquer prova disso. O site de fact-checking americano Snopes consultou vários documentos dos processos cível e criminal contra Mikovits que desmentem a acusação da doutora de conspiração promovida por Fauci.

Procurado pelo Politifact, o NIAID, agência governamental dirigida por Fauci, informou que está “focado em pesquisas com o objetivo de pôr fim à pandemia da covid-19 e a prevenir novas mortes” e que não comentaria “táticas de pessoas que procuram impedir nossos esforços”.

Como mostrou a AFP, a base de dados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos aponta que Mikovits não publicou nem participou da produção de artigos científicos desde 2012.

Vacinas já mataram milhões no mundo?

No vídeo, Judy diz que vacinas mataram milhões de pessoas no mundo e que não há imunização para vírus RNA. São duas afirmações falsas. À AFP, o pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet, na sigla em espanhol) Juan Manuel Carballeda, especializado em Virologia Molecular, disse que a declaração feita pela doutora Mikovits era uma das “mais insanas que já ouvi até hoje”.

“Milhões de vidas humanas são salvas devido às vacinas para vírus de RNA”, indicou o pesquisador. “Penso na pólio, por exemplo, pronta para ser erradicada da face da Terra graças às vacinas Salk e Sabin. Outra vacina de sucesso, e a que mais se aplica no mundo, é a vacina da influenza, outro vírus de RNA”.

RNA é uma sigla que significa ácido ribonucleico. De acordo com Carballeda, o fato de o vírus ser de RNA é relacionado à forma com que o genoma, código genético do vírus, é guardado. “A diferença principal é que o RNA, por ser uma molécula bem mais instável que o DNA (ácido desoxirribonucleico), tende a mudar mais. Ou seja, os vírus cujo genoma é RNA tendem a ter uma taxa de mutação mais alta que os vírus de DNA”, explicou o pesquisador à AFP.

Em “Plandemic”, Mikovits afirma ainda que as vacinas contra gripe aumentaram em 36% as chances de infecção pelo novo coronavírus. No entanto, ela cita como referência um estudo sobre a temporada de influenza de 2017 a 2018. Os primeiros casos de covid-19 só foram identificados em 2019. A pesquisa, na verdade, faz referência aos quatro coronavírus que causam o resfriado comum.

De acordo com a OMS, vacinas são seguras e seus efeitos colaterais geralmente são temporários, como dor local no braço ou febre branda. Efeitos colaterais mais graves são possíveis, mas extremamente raros, informa a entidade. Todas as vacinas licenciadas passam por múltiplas fases de testes antes de serem liberadas para o público. A segurança das imunizações é constantemente monitorada para evitar riscos à saúde.

Como reforça a OMS: é muito mais provável que você fique doente por uma enfermidade que pode ser evitada por uma vacina do que pela imunização em si.

Vírus foi criado em laboratório?

No filme, Willis pergunta à doutora Mikovits se ela acredita que o novo coronavírus foi criado em laboratório, e a virologista responde que “é muito claro que o vírus foi manipulado”. Não é o que apontam estudos publicados até o momento sobre o assunto. Em 17 de março, a revista Nature divulgou pesquisa que analisou o genoma do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19. “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositadamente”, afirmaram os autores.

Autoridades como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, têm ventilado a teoria de que o vírus teria sido liberado do Instituto de Virologia de Wuhan, cidade chinesa onde foram registrados os primeiros casos da covid-19. Recentemente, a diretora da instituição, Wang Yanyi, negou os rumores, classificando-os como “pura fabricação”.

Em março, a agência de inteligência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos atualizou um relatório sobre o novo coronavírus para incluir a possibilidade de que ele tenha vazado acidentalmente de um laboratório. No entanto, essa chance é remota, de acordo com a comunidade científica. O The Washington Post mostrou que não há evidências de que um vazamento tenha ocorrido — porém, como o governo da China não forneceu informações suficientes para esclarecer os boatos, agências de inteligência ainda exploram a questão.

Mikovits afirma ainda que o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) financiou experimentos com o novo coronavírus em Wuhan e, por isso, seria responsável pela atual pandemia. À AFP, a médica Kathleen Montgomery, patologista da Universidade de Vanderbilt, disse que de fato os Estados Unidos estavam estudando a família de vírus dos coronavírus — que inclui organismos que podem causar resfriados até doenças mais graves, como a síndrome respiratória aguda severa (SARS).

“[Mikovits] diz que os Estados Unidos estavam trabalhando com Wuhan para estudar os coronavírus há anos, como se isso fosse uma grande revelação. Sim, é claro que estávamos fazendo isso: a China é um foco de coronavírus e faz sentido estudar essa família de vírus onde ela surge naturalmente”, disse Montgomery por e-mail.

Boatos que afirmam que o novo coronavírus é produto de manipulação humana são frequentes e o Projeto Comprova já desmentiu alguns exemplos (aqui, aqui e aqui).

Usar máscaras e luvas diminui a imunidade?

A alegação de que máscaras e luvas protetivas podem comprometer o sistema imunológico, divulgada em “Plandemic”, já foi desmentida pelo Projeto Comprova nesta checagem. Os três especialistas consultados pela reportagem confirmaram que o uso de equipamentos de proteção não diminui a imunidade. “A máscara vai evitar que você esteja exposto aos agentes infecciosos”, explicou o infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo.

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda o uso de máscaras de pano por toda a população, mesmo entre aqueles que não apresentem sintomas da covid-19. Essa medida deve ser aliada a outras precauções, como a lavagem correta das mãos e o distanciamento social. As máscaras devem ser higienizadas frequentemente.

Hidroxicloroquina é tratamento mais efetivo contra covid-19?

A hidroxicloroquina, medicamento que aparece em vários boatos sobre a covid-19, também é citada em “Plandemic”. O vídeo afirma que o fármaco tem funcionado “muito bem” no combate à doença causada pelo novo coronavírus, mas estudos recentes apontaram a ineficácia e o risco do tratamento com cloroquina.

Uma pesquisa publicada na sexta-feira (22) na revista científica The Lancet mostrou que o remédio não apresentou benefícios no tratamento da covid-19, além de ter aumentado o risco de morte e de problemas cardíacos. O estudo foi realizado em 96 mil pacientes.

A Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou nota contra a recomendação médica da cloroquina para pacientes infectados pelo novo coronavírus. A OMS recomendou a suspensão de testes.

O vídeo “Plandemic” também cita uma pesquisa feita com 6,2 mil médicos de 30 países. De uma lista com 15 medicamentos, 37% dos profissionais de saúde consultados apontaram a hidroxicloroquina como a mais eficaz contra o novo coronavírus.

Como mostrou o site de fact-checking Aos Fatos, a enquete foi realizada por um fórum online chamado Sermo e não tem validade estatística. Além disso, o levantamento apenas reflete a percepção pessoal dos médicos entrevistados, o que não é suficiente para atestar a eficácia do medicamento.

Outras checagens

O vídeo “Plandemic” foi compartilhado ao redor do mundo, o que motivou desmentidos de diversas agências de checagem. Veja algumas das verificações produzidas:

Alcance

A publicação do vídeo analisada pelo Comprova obteve 901 mil visualizações ao longo de 18 dias. “Plandemic” foi republicado na plataforma de vídeos Brighteon, cujos termos de serviço asseguram que qualquer conteúdo postado está protegido pela liberdade de expressão.

 

Saúde

Investigado por: 2020-05-26

Vídeo engana ao atribuir protesto na Bélgica a profissionais de saúde de São Paulo

  • Falso
Falso
Vídeo foi gravado na Bélgica e compartilhado nas redes sociais como se fosse um protesto de médicos e enfermeiros contra o prefeito de São Paulo, Bruno Covas

O vídeo de um protesto de profissionais de Saúde em Bruxelas, na Bélgica, foi tirado de contexto para atacar o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). As imagens gravadas mostram funcionários em uniforme hospitalar dando as costas para uma comitiva de carros que chega a um hospital. O conteúdo é acompanhado de um texto que diz: “O prefeito de SP Bruno Covas é recebido assim por enfermeiros e médicos: de costas no hospital. Parabéns a esses guerreiros”.

O protesto na verdade aconteceu em Bruxelas, na Bélgica, no último dia 16 de maio. As pessoas que aparecem no vídeo eram funcionários do Hospital Saint-Pierre, como reportado por veículos internacionais, e fizeram o protesto silencioso durante visita oficial da primeira-ministra Sophie Wilmès.

A Bélgica é o país da União Europeia com a maior taxa de mortes por grupo de um milhão de habitantes, 804, de acordo com o site worldometers. O governo belga tem sido alvo de duras críticas pela maneira como enfrenta a pandemia e a primeira-ministra Wilmès chegou a dizer que talvez estejam sendo apresentados números de casos maiores do que a realidade.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a covid-19 que sejam muito compartilhados e tenham repercussão significativa nas redes sociais. Este vídeo, com informações falsas, foi publicado em um momento de grande disputa política a respeito de como lidar com a pandemia do novo coronavírus.

Enquanto o governo federal, comandado por Jair Bolsonaro, insiste na retomada completa de todas as atividades econômicas, governadores e prefeitos têm mantido orientações de distanciamento social, como a proibição de aglomerações e a obrigatoriedade de máscaras em lugares públicos.

João Doria, governador de São Paulo, o estado mais atingido pela pandemia, contestou Bolsonaro diversas vezes e ambos trocaram farpas em público. Bruno Covas, prefeito da capital paulista e alvo do vídeo falso verificado aqui, é um aliado político de Doria.

Na semana passada, com a divulgação do vídeo de uma reunião ministerial realizada em abril, foi possível confirmar a hostilidade de Bolsonaro em relação aos governadores. Diante de seus ministros, o presidente da República chamou Doria de “bosta” e Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, de “estrume”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova utilizou o mecanismo de busca reversa do Google para localizar a origem do protesto. A pesquisa das imagens levou a diversas reportagens escritas por veículos de comunicação estrangeiros como a rede BBC e o jornal The Telegraph sobre o protesto belga.

Também analisamos detalhes do vídeo, como aspectos das ambulâncias e placas dos carros. Em outra gravação, foi possível identificar detalhes escritos na roupa dos funcionários de saúde para comparar com o usado por esses profissionais na Bélgica.

Verificação

O jornal belga Le Soir publicou reportagem sobre o caso no sábado, 16 de maio. O texto diz que centenas de funcionários do hospital — entre enfermeiros, médicos, pessoal da limpeza e da área administrativa — protestaram contra dois decretos que permitiam a convocação dos profissionais em caso de uma emergência. Para os profissionais, eles já se dedicam suficientemente ao combate da pandemia e não seria preciso uma convocação.

Ao procurar pelo hospital no Google Street View, foi possível encontrar edificações semelhantes às que aparecem no vídeo.

Em certo momento, o vídeo foca em um dos carros da comitiva da primeira-ministra e é possível ver com clareza sua placa. O modelo, diferente do padrão brasileiro (composto de três letras e quatro números), é o mesmo adotado na Bélgica segundo o guia de regulamentos rodoviários belga (número, três letras e três números).

Outro detalhe que chama a atenção é a cor das ambulâncias. Os veículos que aparecem no vídeo são amarelos e vermelhos, mesmo padrão dos veículos utilizados na Bélgica, além de possuir a inscrição do número “112”. Esse é o telefone de emergência no país europeu. Já em São Paulo, as ambulâncias são brancas e vermelhas com a inscrição do número para serviço de atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência da Prefeitura de São Paulo, 192.

Em outra gravação do mesmo episódio é possível ver que o uniforme de um dos profissionais contém as palavras “infirmier” e “verpleegkundige”, correspondentes em francês e holandês, respectivamente, para “enfermeiro”. Portanto, o vídeo não poderia ter sido gravado no Brasil. As duas línguas são faladas na Bélgica.

Em seu Twitter, a primeira-ministra afirmou, sobre a visita ao hospital: “Foi um momento de encontros e de diálogo importante para os profissionais de saúde e para mim”.

Contexto

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e o governador João Doria (PSDB) adotaram medidas como ampliação do rodízio de veículos na capital e antecipação de feriados no Estado para tentar aumentar a taxa de isolamento social. Ambos defendem que a medida é necessária para evitar um colapso no sistema de saúde pública. São Paulo lidera o ranking de mortes no Brasil, com 6.220 óbitos e 83.625 casos confirmados até segunda-feira, 25. A taxa de ocupação dos leitos em UTIs na região metropolitana da capital era de 91%.

O governador e o prefeito tentam evitar o decreto de um “lockdown” — bloqueio total que obrigaria as pessoas a ficarem em casa. Enquanto especialistas afirmam que a medida será inevitável caso não haja redução na proporção de contágios e internações, os líderes do Executivo são alvos de protestos de caminhoneiros e outros setores que pedem pelo afrouxamento das medidas de distanciamento e pela reabertura do comércio.

Alcance

Um dos vídeos foi compartilhado em 20 de maio e já foi visto quase 100 mil vezes. Outra postagem se destacou com 20 mil compartilhamentos. O mesmo vídeo com a afirmação enganosa recebeu versões no Instagram, Twitter e YouTube.

Este boato foi também checado pelo Fato ou Fake e pela AFP.

Comunicados

Lista de sites de notícias falsas não foi criada pelo Comprova

  • Falso
Falso
O Comprova jamais produziu qualquer lista ou ranking que dê destaque a publicadores de informações falsas ou enganosas

Uma lista com 27 endereços de sites de internet está sendo compartilhada nas redes sociais e em grupos de aplicativos de mensagens como sendo de “alguns dos principais sites de notícias falsas no país reunidos pelo Projeto Comprova em diferentes publicações”. Essa lista é falsa.

O Comprova jamais produziu qualquer lista ou ranking que dê destaque a publicadores de informações falsas ou enganosas. Pelo contrário, o projeto sempre procura fazer poucas referências a quem publicou o conteúdo investigado e, por regra, nunca dá link para esses perfis e páginas.

O Comprova, também por regra, procura identificar as fontes primárias de qualquer conteúdo suspeito e tenta entrevistar essas fontes para entender contextos e motivações, e traçar a trajetória completa do conteúdo investigado.

O Comprova é um projeto colaborativo e independente que monitora todas as fontes que publicam conteúdos sobre o novo coronavírus ou relacionadas a políticas públicas no âmbito do governo federal, desde sites até perfis, grupos e páginas de plataformas sociais.

A decisão de investigar algum conteúdo passa necessariamente por duas condições:

  • O conteúdo deve ser duvidoso – textos, fotos, áudios ou vídeos cuja veracidade seja posta em dúvida pelos editores ou pela audiência.
  • O conteúdo deve ser viral – conteúdos sob suspeição que tenham obtido grande alcance ou interação ou, ainda, que tenham potencial de viralização medido por software de monitoramento.

O Comprova não verifica a veracidade de comunicados oficiais ou afirmações públicas de políticos ou outras autoridades nem conteúdos cuja fonte seja um veículo de comunicação reconhecido.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.

Saúde

Investigado por: 2020-05-22

Médico confunde ao indicar cloroquina e criticar isolamento social e o uso de respiradores

  • Enganoso
Enganoso
Homem que aparece em vídeo faz afirmações sobre como lidar com a pandemia de coronavírus que não têm comprovação científica e são questionadas por diversas autoridades de saúde

É enganoso o vídeo no qual um homem, que se identifica como médico, diz que os hospitais públicos estão intubando pacientes para “mostrar trabalho” e justificar a compra de ventiladores e respiradores artificiais. Ele é contra o procedimento e defende o uso de medicamentos, como a cloroquina, como alternativa ao tratamento da covid-19.

O autor do vídeo também afirma que o vírus não mata pessoas fora do grupo de risco e que o uso de alguns medicamentos, na fase inicial da contaminação, pode levar à cura de pacientes em até quatro dias. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento não existe remédio ou cura comprovados para a doença causada pelo novo coronavírus. Além disso, no Brasil, 25% das pessoas que morreram por covid-19 não tinham comorbidades.

O homem que aparece no gravação é João Carlos Luiz Vaz Marques Leziria, que de fato é médico, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele mistura diferentes tipos de informações, a maioria delas falsas, para confundir e enganar as pessoas. As afirmações que ele faz no vídeo não têm comprovação científica e são questionadas por diversas autoridades de saúde.

De acordo com o médico, o vídeo foi originalmente compartilhado com um grupo de amigos, mas viralizou após ser publicado nas redes sociais. Uma das primeiras publicações foi feita no dia 7 de maio, por um perfil pessoal no Facebook.

Por que investigamos isso?

O Comprova verifica conteúdos de grande repercussão e que atinjam um alto número de interações nas redes sociais. No caso do vídeo em questão, ele foi compartilhado por diversos perfis, atingindo em um deles mais de 49 mil compartilhamentos.

O fato de o autor do vídeo se identificar como médico e fornecer o telefone pessoal para “prestar atendimento” também chama atenção. Ele faz afirmações sobre assuntos amplamente questionados e debatidos por autoridades de saúde, como a eficácia de medicamentos como a cloroquina, além de incentivar a população a voltar a trabalhar. A ideia é contra as orientações do Ministério de Saúde e decretos estaduais.

O autor também fala sobre um tema sensível, que é a aquisição de equipamentos para tratar a covid-19. Com a urgência no tratamento e contenção dos danos da doença, o governo permitiu a compra de respiradores por contratos com dispensa de licitação, e liberou verba para a compra de material necessário. Essa permissão de expandir os gastos públicos deve ser observada para evitar o desvio de verba ou o mau uso do dinheiro público.

Nas últimas semanas, o Comprova verificou diversos conteúdos nessa linha. Um deles foi um vídeo contendo informações enganosas em que uma pessoa, sem formação na área de saúde, sugeria que o uso de determinados medicamentos curariam pacientes com coronavírus sem necessidade de internação. Um outro texto dizia que as mortes na Itália não teriam como causa o coronavírus, mas problemas de trombose, recomendando o uso de coagulantes para cura da doença.

Enganoso para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

Apesar de o autor do vídeo não se identificar, alguns perfis que compartilharam a gravação atribuíam ao médico o nome Dr. João Vaz. O Comprova então buscou, no cadastro do Conselho Federal de Medicina, médicos que possuíam os dois nomes. Entre os listados estava João Carlos Luiz Vaz Marques Leziria. Ao verificar o nome completo em sites de pesquisa e redes sociais, foi possível encontrar fotos do médico que aparece no vídeo, confirmando que se tratava da mesma pessoa.

Além disso, o Comprova entrou em contato com o número de telefone disponibilizado no vídeo. O médico não atendeu as ligações, mas respondeu aos questionamentos da equipe com um vídeo, no qual mostrava seu número de inscrição no CRM e fornecia informações pessoais e profissionais.

Nesta investigação foram usadas reportagens sobre o remédio cloroquina e o apoio do presidente Jair Bolsonaro à medicação. A equipe também consultou o site da OMS para entender se o fármaco é recomendado pela instituição.

Quem é o médico?

João Vaz é um médico com número de inscrição regular no Conselho Regional de Medicina. Em vídeo encaminhado ao Comprova, Vaz diz que se formou em dezembro de 1971 na UFRJ e que possui quase 50 anos de profissão. Ele afirma que trabalhou por um período na Alemanha e que está acostumado a lidar com vírus. Ele não menciona sua área de especialidade, e esta também não é informada pelo CRM, mas Vaz diz que isso não faz diferença na Medicina.

No vídeo divulgado nas redes sociais, João Vaz se posiciona contra a intubação de pacientes com a covid-19 e diz que o procedimento é “sinônimo de morte”. Segundo ele, os hospitais públicos no Brasil têm intubado pacientes para justificar os gastos com aparelhos.

Como alternativa à intubação, o médico defende o uso de remédios como a cloroquina associada à azitromicina e também a manipulação de heparina, um anticoagulante. Ele se oferece para tirar as dúvidas das pessoas e se coloca à disposição de quem tem interesse em fazer uso dos remédios.

O médico ainda critica o isolamento horizontal, incentiva as pessoas a voltarem ao trabalho e afirma que apenas pessoas com comorbidades morrem de covid-19.

Como funciona a intubação e quando o paciente deve ser intubado?

A intubação é um procedimento realizado em pacientes em estado de saúde grave para ventilar mecanicamente os pulmões por meio de aparelhos. A dificuldade de respirar é determinante para que os médicos decidam se irão intubar o paciente e usar os respiradores. Eles são um dos últimos recursos para pacientes com insuficiência respiratória grave após infecção pelo novo coronavírus.

Estima-se que aproximadamente 5% dos pacientes com covid-19 sofram a chamada síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e precisem de respiradores mecânicos. O tratamento utiliza uma reserva de ar e oxigênio que é levada até os pulmões do paciente por meio de um tubo inserido pela boca, nariz ou pela traqueia, através de um corte na garganta.

Estudos recentes, contudo, têm mostrado que a letalidade do novo coronavírus é alta mesmo com uso de respiradores e feito pesquisadores questionarem a eficácia da intubação. Ainda assim, as autoridades de saúde orientam para o uso de ventilação mecânica em casos de insuficiência respiratória.

O que as autoridades dizem sobre os medicamentos indicados?

O uso da cloroquina por pacientes infectados com o novo coronavírus segue sendo estudado por vários países. Nesta sexta-feira (22), uma pesquisa científica publicada pela revista “The Lancet” apontou que o uso da substância não apresenta benefícios no tratamento da covid-19. O estudo foi feito com 96 mil pacientes e os resultados mostram que não há melhora na recuperação de infectados que usaram cloroquina, e que existe risco maior de morte e piora cardíaca durante a hospitalização.

A OMS recomendou que o medicamento não seja usado como tratamento, apenas em testes de ensaios clínicos, e alertou para os efeitos colaterais da cloroquina, que podem levar a disfunções graves dos órgãos e prolongar internações.

O uso da cloroquina foi autorizado para casos leves em novo protocolo assinado pelo Ministério da Saúde na última quarta-feira (20). Para isso, os pacientes ou familiares devem assinar um termo de consentimento, estando cientes dos efeitos colaterais possíveis, como arritmia.

A medida segue parecer do CFM (Conselho Federal de Medicina), que emitiu autorização no fim de abril para que médicos prescrevessem o medicamento para pacientes com sintomas leves e para uso domiciliar, mediante consentimento.

A Sociedade Brasileira de Infectologia se manifestou contra a recomendação médica da cloroquina. A instituição afirmou que não há comprovação da eficácia do medicamento no tratamento do coronavírus, assim como de outras substâncias, como a azitromicina, indicada por Vaz em vídeos nas redes sociais.

Recentemente, um estudo realizado pelo plano de saúde Prevent Senior verificou que o uso da hidroxicloroquina associada a azitromicina foi capaz de reduzir em mais de duas vezes o número de internações, comparado com pacientes que não tomaram os remédios.

A pesquisa, contudo, tem uma série de limitações, como não saber se os pacientes que receberam o tratamento estavam infectados com o novo coronavírus nem ter sido aceita ainda em um periódico científico. Este estudo foi suspenso posteriormente porque os testes com pacientes foram iniciados antes de a empresa receber o aval para realização da pesquisa, o que é contra normas do país.

Apesar de existirem resultados promissores em pesquisas com anticoagulantes como a heparina, mencionada pelo autor do vídeo, no tratamento da covid-19, pesquisadores acreditam que para comprovar a eficácia do medicamento ainda há necessidade de ensaios clínicos. Assim como a cloroquina e a azitromicina, a substância só deve ser ministrada com auxílio e orientação médica, pois pode colocar em risco a vida do paciente.

A OMS e o Ministério da Saúde afirmam que nenhuma cura ou vacina foi encontrada até o momento contra a covid-19, que já matou mais de 330 mil pessoas no mundo.

Isolamento social

Medidas de isolamento social são apontadas pela OMS como a melhor alternativa contra o coronavírus. Um estudo recente feito no Brasil mostra que há uma tendência de diminuição do número de mortes pela covid-19 após a adoção de medidas restritivas à circulação de pessoas.

A maioria dos médicos defende a adoção do isolamento horizontal nos municípios, que reduz ao máximo possível de circulação de pessoas. Isso, segundo cientistas, seria fundamental para achatar a curva de transmissão do coronavírus e diminuir o número de pessoas infectadas que necessitariam de um leito hospitalar. Atualmente, a quantidade de leitos disponíveis para a população tem preocupado os Estados.

Para forçar o isolamento da população, diversos Estados decretaram o fechamento de comércios e suspenderam o funcionamento de atividades não essenciais. A ideia é que o máximo de pessoas fique em casa, saindo apenas para realizar atividades essenciais, reduzindo a propagação do vírus.

A suspensão das atividades, apesar de necessária e recomendada pela OMS, provoca uma recessão na economia e por isso é criticada pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Na contramão da maioria dos líderes de outros países, Bolsonaro chegou a sugerir que o Brasil adotasse o método de isolamento vertical, em que apenas idosos e pessoas do grupo de risco ficam isoladas.

A Suécia, citada por Bolsonaro como exemplo, adotou um modelo de isolamento mais relaxado. No país, escolas, restaurantes e bares ficaram abertos, por exemplo. O número de casos de infectados e mortos, no entanto, foi maior do que os registrados nos outros países nórdicos, que estabeleceram medidas mais severas, com confinamento obrigatório e paralisação de atividades econômicas. Esta semana a Suécia tornou-se o país com maior taxa de mortalidade pelo novo coronavírus no mundo.

Contexto

A prescrição livre da cloroquina para qualquer pessoa que esteja com os sintomas da covid-19 é feita por Vaz no momento em que o governo libera um protocolo que autoriza o uso do medicamento em pacientes com sintomas leves da doença. O documento não tem respaldo da OMS e é criticado pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Pelo protocolo, o Sistema Único de Saúde (SUS) fica liberado para prescrever o remédio em qualquer fase do tratamento, com os sintomas em qualquer nível – embora ainda precisando da autorização do paciente. Antes, era apenas para casos graves.

As declarações do médico a respeito da letalidade da doença se chocam com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, que mostram que um quarto das pessoas que morreram vítimas do novo coronavírus não possuíam comorbidades. A orientação de Vaz para que as pessoas saiam às ruas, sem medo de se contaminar, é feita em um momento crítico da pandemia na América Latina, considerada pela a OMS como epicentro da doença e tendo o Brasil como caso mais preocupante.

Até a manhã desta sexta-feira (22), a covid-19 já havia contaminado cerca de 315 mil pessoas e sido responsável por mais de 20 mil mortes no país. Nesta semana o Brasil registrou, pela primeira vez, mais de mil mortes em menos de 24 horas.

Alcance

Até esta quinta-feira (21), o vídeo publicado pelo perfil de Paula Silvestre Craveiro, no Facebook, tinha sido compartilhado por mais de 49 mil pessoas.

Saúde

Investigado por: 2020-05-21

Vídeo engana ao sugerir tratamento “sem internação e sem sofrimento” para covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Em vídeo, pessoa sem formação na área de saúde mistura dados falsos e verdadeiros sobre os remédios atualmente indicados para o tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus e divulga informações sem comprovação científica

Um vídeo publicado no YouTube confunde ao dizer que há medicamentos que curam a covid-19 e impedem a evolução da doença para fases mais graves caso sejam receitados no início dos sintomas. O material mistura dados falsos e verdadeiros sobre os remédios atualmente indicados para tratamento e contém informações sem comprovação científica. Há também ataques contra as medidas de isolamento social utilizadas para reduzir a velocidade de contágio da doença.

O conteúdo foi postado por Silvana Conte em seu canal no YouTube e já teve mais de 270 mil visualizações. No vídeo, ela diz fazer um relato pessoal citando uma lista de medicamentos que o marido teria tomado antes mesmo de ter o diagnóstico positivo para covid-19, como antibióticos receitados logo no início dos sintomas. Ela também fala sobre o uso autorizado da hidroxicloroquina por médicos na Itália e ainda afirma que “o isolamento não salva vidas”. Até o momento, não há medicamento que cure a doença. Alguns estão sob testes clínicos, mas ainda não apresentaram eficácia contra o vírus em concentração que não seja prejudicial à saúde.

Além disso, especialistas ressaltam que entre 80% e 85% dos pacientes infectados pela covid-19 serão assintomáticos ou terão sintomas leves —- semelhantes aos de uma gripe —, portanto não precisarão ser submetidos a medicações que podem causar efeitos colaterais. O acompanhamento médico é essencial principalmente para o grupo de risco, aquelas pessoas que podem evoluir para uma forma mais grave da doença e terão de ser submetidas a tratamentos de suporte como o uso de oxigênio.

Silvana diz que mora em Bergamo, na Itália, e que o marido ficou doente após uma viagem ao Rio de Janeiro. Ela, que admite não ser médica, acusa profissionais de saúde e hospitais de serem negligentes “ao orientar a procura de médicos apenas quando a pessoa sentir falta de ar”. Os protocolos de Brasil e Itália para o atendimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus recomendam o acompanhamento médico desde os primeiros sintomas, o que não quer dizer que todos precisarão de variados tipos de medicação para superar a doença.

Por que checamos isto?

O Comprova realiza verificações de conteúdos que viralizam nas redes sociais, como é o caso em questão. Esta verificação foi realizada pois o vídeo é um entre vários que apresentam pessoas sem qualificação profissional na área da saúde fazendo recomendações sanitárias para lidar com o novo coronavírus e a covid-19, doença provocada por ele. Tais recomendações são danosas pois poluem o debate público e, no limite, podem ser prejudiciais à saúde das pessoas.

Recentemente, o Comprova verificou, por exemplo, um vídeo no qual uma pessoa argumentava que o uso de máscaras reduziria a imunidade e potencializaria a infecção. Isso não é verdade. Pesquisadores e autoridades sanitárias confirmam que a máscara pode, de fato, proteger as pessoas. Do mesmo modo, o Comprova também verificou conteúdos que afirmavam que medidas de isolamento social seriam inúteis ou prejudiciais.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

O Comprova entrou em contato com dois especialistas para checar a veracidade das informações técnicas sobre a covid-19 presentes no vídeo. Consultamos o Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus na Atenção Primária à Saúde e questionamos o Ministério da Saúde italiano sobre as práticas e recomendações adotadas no país. O órgão compartilhou um link com dúvidas e respostas mais comuns para a doença na Itália.

Após a publicação desta verificação, Silvana entrou em contato com o Comprova. Suas alegações e nossos comentários estão na seção Atualização (abaixo).

O Comprova ainda acessou os protocolos brasileiro e italiano de prescrição da hidroxicloroquina.

Verificação

Silvana afirma que o vídeo é opinativo e que não é médica. Segundo ela, trata-se da experiência vivenciada pelo marido ao viajar de Bergamo, na Itália, onde moram, para o Rio de Janeiro. Silvana conta que o marido apresentou sintomas de pneumonia e foi atendido por um médico que receitou o antibiótico levofloxacina. Como o marido não melhorou, a família foi submetida a testes de covid-19, e o resultado dele deu positivo. Ele ainda teria tomado, por prescrição médica, o anti-alérgico Allegra e os medicamentos Fluimucil, Deocil e paracetamol.

Silvana compartilhou o tratamento com amigos de Bergamo e teria identificado a capacidade de “cura” desse tratamento aliado a outros medicamentos, como os antibióticos azitromicina e amoxicilina. Ela apresenta um protocolo que diz ter recebido de um médico da Lombardia chamado Marcelo Contini que recomenda o tratamento com os medicamentos usados pelo marido, e ainda sugere a medicação da hidroxicloroquina. Silvana insiste na importância do uso de “medicação forte para bloquear a inflamação” nos primeiros dias de sintomas para impedir a evolução do quadro baseada em fato pessoal.

[Atualizado em 27 de maio de 2020 – O parágrafo acima foi atualizado para corrigir uma informação sobre o protocolo que Silvana Conte disse ter recebido no vídeo. Na verdade, ela se referiu ao médico Marcelo Cotini e não a Stefano Manera, como estava escrito na primeira versão da verificação]

O Comprova ouviu médicos sobre a “necessidade de tratar pacientes leves com medicação para impedir que os sintomas se agravem”. Guilherme Spaziani, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, explica que as complicações decorrem de uma inflamação exacerbada cujas causas ainda são investigadas. Esse quadro de evolução da doença é observado principalmente nas pessoas do grupo de risco, como idosos, cardiopatas e obesos.

“Cerca de 55% dos infectados pela covid-19 apresentam a forma leve da doença, com sintomas gripais. Outros 30% sequer apresentam sintoma algum. Isto quer dizer que apenas 15% dos doentes evoluem para a forma grave e, destes, um em cada três precisam do tratamento intensivo”, diz Guilherme Spaziani.

“Não há evidência científica sobre a capacidade de nenhuma medicação que possa ser prescrita nos primeiros dias de sintomas para impedir a evolução para a fase inflamatória”, afirma o infectologista.

Gerson Salvador, médico infectologista do Hospital Universitário da USP e associado da Sociedade Paulista de Infectologia, ressalta o perigo de pessoas usarem uma grande quantidade de medicamentos.

“Quando a pessoa usa um número grande de medicamentos de maneira desorganizada, aumentam as chances de efeitos adversos, que podem ser graves dependendo da condição de saúde da pessoa. O que recomendamos é o tratamento sintomático para casos leves e tratamento de suporte para casos graves.”

Protocolo do Ministério da Saúde abrange orientação de atendimento de sintomas mais leves a graves

O Comprova pediu ao Ministério da Saúde explicações mais claras sobre o protocolo de manejo clínico de pacientes com a covid-19 ou de casos suspeitos, que está no site da entidade, mas não teve retorno. Foi questionado quando alguém deve procurar uma Unidade Básica de Saúde, quais medicamentos são indicados e a orientação para o tratamento em casa.

A versão atualizada do documento, disponível no site do Ministério, tem 41 páginas e detalha como deve ser a ação médica e como as Unidades Básicas de Saúde devem trabalhar, dos casos com sintomas leves aos graves.

Diferentemente do que sugere o vídeo de Simone Conte, o Ministério da Saúde não fala em “esperar pela falta de ar” para tratamento. Pelo contrário, ressalta a importância do acompanhamento de quem apresenta os sintomas leves, principalmente pessoas com mais de 60 anos ou com outros fatores de risco. A entidade orienta para o seguimento do tratamento domiciliar com monitoramento médico por telefone a cada 24 ou 48 horas, inclusive para casos não confirmados.

O arquivo traz na página 17 a sugestão de prescrição de dipirona e paracetamol, medicamentos analgésicos que aliviam sintomas como dores no corpo, mal-estar e febre. Eles não têm propriedades de cura. Há ainda o remédio oseltamivir, um antiviral usado para combater o vírus da gripe. Seu uso, porém, é encerrado quando o teste de gripe dá negativo ou quando o da covid-19 dá positivo, já que ele não tem ação comprovada contra o novo coronavírus. São determinadas ainda medidas de suporte e conforto, isolamento domiciliar e monitoramento até a alta médica.

O protocolo de uso da hidroxicloroquina foi acrescentado na quarta, 20, entre os documentos do site do Ministério da Saúde que orientam uso de medicamentos contra a covid-19 no sistema público de saúde. O comunicado está entre as “orientações gerais” de tratamentos da doença e recomenda o remédio inclusive em casos leves.

O documento sobre o uso da hidroxicloroquina diz que, até o momento, não há dados científicos que apontem um determinado tratamento farmacológico e que o uso ou não do remédio está condicionado à decisão do médico e à autorização por escrito do paciente. O protocolo também fala de contra indicação em pacientes com doenças cardíacas, como a comunidade científica vem ressaltando há tempos.

Em 18 de maio, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, divulgaram o documento “Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da Covid-19”, contra o uso da hidroxicloroquina. O texto foi produzido por 27 especialistas e ressalta, principalmente, a falta de provas científicas de que o medicamento é eficaz e o perigo dos seus efeitos colaterais.

Depois do novo protocolo divulgado pelo Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Infectologia voltou a se manifestar sobre os riscos associados à utilização de um medicamento que não tem eficácia científica comprovada e pela recomendação de uso apenas para pesquisa clínica.

No mesmo dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a cloroquina e a hidroxicloroquina sejam usadas nos hospitais apenas em estudos clínicos. O diretor-executivo Michael Ryan ressaltou a falta de evidências científicas sobre a eficácia dos remédios e lembrou os efeitos colaterais da droga.

Recomendação na Itália é tratamento de sintomas e cuidado com hidroxicloroquina

O vídeo sugere que médicos italianos que usaram hidroxicloroquina em pacientes no início dos sintomas tiveram sucesso com a redução de internações na Itália.

De fato, o medicamento está entre aqueles com uso autorizado no país, inclusive para pacientes com sintomas leves e em tratamento domiciliar. No entanto, a Agência Italiana de Fármacos alerta para a importância de que a hidroxicloroquina seja receitada por um médico e com autorização do paciente, por se tratar de medicamento sem eficácia científica comprovada. A entidade também alerta para seus efeitos colaterais cardíacos e os perigos de sua utilização em altas doses em cardiopatas.

A principal orientação do Ministério da Saúde italiano sobre o tratamento de covid-19, atualizada em 11 de maio, é similar à feita no Brasil: cuidar dos sintomas apresentados pelos pacientes com terapias de suporte, como uso de oxigênio; descansar; continuar isolado em casa; comer bem e beber bastante água.

Isolamento não salva vidas?

“Isolamento não salva a vida de ninguém. Pode até diminuir o contágio, porém não vai salvar a vida das pessoas”, fala Silvana. Ela acredita que o foco de governos no combate à pandemia de covid-19 não deveria estar no isolamento social, mas sim na prescrição de medicamentos para pacientes ainda na fase inicial da doença.

O infectologista Guilherme Spaziani diz que caso não seja encontrada uma vacina, o mesmo número de pessoas será infectado com ou sem a adoção do isolamento social. No entanto, a medida de distanciamento evita que as pessoas sejam contagiadas em um curto espaço de tempo e, com isso, sejam esgotados os recursos hospitalares, médicos e de insumos necessários a um suporte adequado. Isto é, o isolamento social permite o serviço hospitalar para cada paciente, inclusive aqueles que estiverem em estado grave.

Medicamentos citados não combatem o coronavírus

Especialistas ressaltam não haver um remédio que cure a covid-19. Por isso, é importante o cuidado na divulgação de um determinado tratamento. O vídeo cita diversos remédios que vão de antibióticos (contra bactérias) a remédios usados para tratamentos antiparasitários (contra vermes). A covid-19 é uma doença causada por um vírus.

Gerson Salvador, infectologista do Hospital Universitário da USP, ressalta que o passo a passo de orientação médica depende de cada paciente.

“Antibióticos agem contra bactéria e não têm atividade antiviral. Ivermectina e nitazoxanida são antiparasitários e não têm atividades contra vírus. Os dois últimos apresentaram efeito antiviral in vitro no laboratório, mas isso nunca se reproduziu num organismo vivo. Portanto, seu uso não está liberado. Eles estão sob estudos, mas a possibilidade de funcionar não é elevada”, diz o médico.

Salvador completa: é importante que o médico fique atento principalmente a doentes com fatores de risco. “No caso do coronavírus depende mais da resposta imunológica [de cada um] do que do vírus. Nas pessoas que têm doenças crônicas, quando apresentarem sonolência, desconforto ou incapacidade de realizar suas atividades usuais, é necessário fazer avaliação e tratamento de suporte, oferecendo oxigênio no tempo certo. Também é preciso controlar doenças como diabetes, asma ou doenças cardíacas que podem estar em crise. Por isso é importante fazer esse tipo de suporte médico.”

Atualização

Após a publicação da verificação, o Comprova foi contactado por Silvana Conte, que fez algumas argumentações a respeito do texto. Abaixo, seguem os pontos de contestação levantados por ela que ainda não tinham sido abordados no texto e, na sequência, os comentários do Comprova.

Silvana respondeu ao Comprova no último dia 21 de maio. Desde então, questiona a reportagem sobre a classificação de seu vídeo no site do projeto. O Comprova manteve a etiqueta “Enganoso”, que é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

A partir de agora, o Comprova abre espaço para os pontos questionados por Silvana Conte e os responde.

Silvana: “Meu marido e mais de 30 pacientes do médico Erverton Andrade e mais 28 da médica Alessandra Almeida foram curados sem hospitalização e sem sofrimento”.

Comprova: Ainda não há um tratamento específico para a doença, ou seja, algo que funcione para todas as pessoas infectadas. Assim, não é possível, por enquanto, falar em “cura” de covid-19. Como o Comprova ressaltou através de especialistas ouvidos, apenas 15% dos infectados desenvolvem casos mais graves da doença e precisarão da hospitalização e medicações fortes. Desses 85% que passam tranquilamente pela doença, nem todos vão desenvolver sintomas ou precisar de qualquer tipo de medicação.

É importante ressaltar que todos os remédios usados, quando necessários, são para tratamento de sintomas e infecções paralelas que a pessoa possa vir a ter. Remédios para febre e antibióticos, por exemplo. Alguns pacientes infectados podem desenvolver pneumonia bacteriana e é por isso que é preciso a utilização de antibióticos.

O painel de covid-19 do Ministério da Saúde não utiliza o termo ‘curados’, mas sim recuperados, para informar sobre as pessoas que sobreviveram à doença.

Silvana: “Os protocolos estão sim, em uso na Lombardia e na Toscana e na Itália de forma geral.”

Comprova: Silvana enviou ao Comprova o documento “Indicações terapêuticas para PCS com pneumonia COVID GERIDO EM CASA”. O documento é assinado pelo médico Roberto Moretti. Este documento informa em seu primeiro parágrafo que se trata de “sugestões derivadas da prática hospitalar” uma vez que “não existem LGs validados no tratamento farmacológico e não farmacológico de pacientes com ‘pneumonia’ covid-19”.

Silvana também enviou o documento “Indicazioni per i medici di medicina generale sulle terapie dei pazienti affetti da COVID-19” (“Indicações para clínicos gerais sobre as terapias de pacientes com COVID-19”). Assinado por dez médicos, é datado de 20 de abril de 2020 e, segundo Silvana, seria da Lombardia. Não há no documento, no entanto, nada que confirme essa informação. O documento também não fala que é importante dar os medicamentos na “primeira fase da doença”, apenas fornece um guia de medicamentos para tratar os sintomas da covid-19.

Silvana: “O Dr. Stefano Manera declara a divisão das fases e a Itália recomenda o tratamento na fase viral, que é a primeira.”

Comprova: Os dois médicos especialistas consultados pela reportagem preferem não propor uma divisão de fases, uma vez que uma pequena parcela dos infectados passará por um agravamento dos sintomas. Os outros sequer terão sintomas.

Silvana: “Fui absolutamente surpreendida de vocês, sem falar comigo, retirarem meu vídeo do ar, me declararem enganosa sem ao menos checar as fontes que eu dei”

Comprova: O Projeto Comprova entrou em contato com Silvana Conte pelo Facebook na terça-feira, 19. Como ela é ativa no Facebook e não tínhamos outra forma de contato, achamos que seria a melhor forma de chegar até ela. Silvana respondeu às mensagens da reportagem na quinta-feira, 21, após a publicação da verificação.

O Projeto Comprova ressalta que não tem poder para retirar conteúdos do ar.

Silvana: “Escrevendo um texto com várias informações erradas citando o vídeo, que , pelo jeito, vocês não viram.”

Comprova: O Comprova assistiu ao vídeo várias vezes após receber um pedido de checagem por meio de seus leitores. As afirmações contidas no material foram anotadas e compartilhadas com dois infectologistas. Além disso, os protocolos utilizados no Brasil e na Itália foram consultados.

Silvana: “Essa doença é brutal, mas segundo o meu médico que inclusive pegou covid e usou azitromicina + axetilcefuroxima + ivermectina + zinco e está bem … curado sem sofrimento e sem hospitalização. Temos de 3 a 4 dias para bloquear a infecção. Entre a ciência e a experiência, fico com a experiência”.

Comprova: Nossa reportagem reforça que é preciso apontar quando um determinado tratamento não possui comprovação científica. A azitromicina e a ivermectina são drogas que apresentaram bom resultado em laboratório, isto é, nos testes in vitro, mas ainda não possuem eficácia comprovada em seres humanos. A experiência pessoal de uma pessoa compartilhada como verdade absoluta e sem comprovação científica pode causar danos como a automedicação.

Contexto

Remédios como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e remdezivir passam por testes clínicos para averiguar sua eficácia e segurança no combate à covid-19. Embora eles apresentem bons resultados em testes de laboratório — os chamados testes in vitro — o mesmo não ocorreu em seres humanos. Além disso, pesquisas apontam para os riscos à vida de alguns pacientes por causa dos efeitos colaterais, como é o caso já citado da hidroxicloroquina.

Embora faltem pesquisas e estudos científicos que comprovem a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina e a azitromicina no tratamento de pacientes com a covid-19, prefeituras e empresas já se mobilizam para fornecer os medicamentos. Em Belém, a operadora de planos de saúde Unimed distribuiu gratuitamente um kit com azitromicina, cloroquina e ivermectina aos beneficiários que apresentaram um receituário médico.

No interior de São Paulo, o prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSB), anunciou que pacientes com sintomas leves da covid-19 serão atendidos em casa com o tratamento de hidroxicloroquina aliada à azitromicina. “Evitamos a ida aos hospitais, já que o tratamento pode ser feito em casa por um profissional da rede de saúde pública”, anunciou o político em seu Facebook.

Mesmo com a falta de eficácia comprovada, a cloroquina se tornou o ponto central da disputa ideológica em torno da pandemia de covid-19. O remédio foi motivo de desgastes que levaram à demissão dos ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich. Eles se negaram a editar um protocolo de prescrição da cloroquina para pacientes na fase leve da doença, o que acabou ocorrendo sob a gestão do chefe interino da pasta, General Eduardo Pazuello.

Alcance

O vídeo publicado inicialmente no canal do YouTube de Silvana Conte no dia 23 de abril já foi visto mais de 278 mil vezes até 21 de maio. Ele foi compartilhado no Facebook pela página “TV Médica” e foi visto mais de 1,3 milhão de vezes.