O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Política

Investigado por: 23/05/2025

Vídeos virais de escultura de areia de Bolsonaro foram gerados com IA

Falso
Vídeos que mostram um homem de boné construindo uma escultura de areia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram criados com inteligência artificial (IA). A conclusão foi feita após o Comprova analisar diferentes versões do vídeo e concluir que elas contêm detalhes típicos do uso da ferramenta, como membros deformados e duas pessoas se fundindo uma na outra.

Conteúdo investigado: Posts mostrando uma escultura de areia de Jair Bolsonaro que estaria sendo construída na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Onde foi publicado: TikTok, Facebook e Instagram.

Conclusão do Comprova: Foram feitos com inteligência artificial (IA) vídeos que estão viralizando nas redes sociais mostrando uma escultura de areia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Há diferentes versões do conteúdo, todas muito semelhantes: um homem de boné esculpindo a escultura de Bolsonaro maior ou menor e pessoas circulando ou paradas ao fundo, algumas com o celular na mão.

Um dos posts que viralizou é de um homem que usa o vídeo da escultura como pano de fundo – ele aparece à frente, comentando a imagem. “Este vídeo desse moço que fez o Bolsonaro na areia está viralizando de uma forma tamanha”, o homem diz. Depois, ele afirma que a obra teria sido erguida na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

A partir de uma busca reversa – pesquisa por imagens semelhantes publicadas anteriormente –, o Comprova chegou a um vídeo igual com o aviso: “marcado pelo criador como gerado por IA“.

Mesmo sem o alerta, é possível constatar o uso da ferramenta. O Comprova conseguiu perceber que diferentes versões do conteúdo são artificiais apenas reparando em detalhes típicos da IA, como pessoas deslizando na areia ao invés de andar, mãos em formatos incomuns e, como mostrado a seguir, uma criança se fundindo à perna de um homem.

Outra etapa executada pela reportagem foi fazer uma análise com o detector de uso de IA em mídias Hive Moderation. O resultado foi que há 99,9% de probabilidade de a imagem ter sido gerada artificialmente. Ferramentas como o Hive – que podem ser usadas por qualquer pessoa que desconfie de uma imagem – podem apresentar erros, mas ajudam na detecção de uso de IA, servindo como mais um elemento de evidência.

A reportagem tentou contatar o autor do post verificado aqui por mensagem no WhatsApp, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Um dos posts foi visualizado mais de 209,9 mil vezes até 22 de maio e teve quase 30 mil curtidas.

Fonte que consultamos: O detector Hive Moderation.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O uso de IA tem sido cada vez mais recorrente nos conteúdos de desinformação. O Comprova verificou, nesta semana, por exemplo, que um vídeo usa a ferramenta para simular crítica do papa Leão XIV ao presidente Lula (PT) no Jornal Nacional e que uma imagem fazia o mesmo para inventar que o ministro Alexandre de Moraes estaria com boné da USAID.

Política

Investigado por: 21/05/2025

Vídeo usa IA para simular crítica do papa a Lula no Jornal Nacional

Falso
É falso que o Jornal Nacional tenha noticiado uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Vaticano após fala de Leão XIV sobre a política no Brasil. Imagens da apresentadora Renata Vasconcellos na bancada do programa, assim como a voz da jornalista, foram produzidas com uso de inteligência artificial.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra a jornalista Renata Vasconcellos em uma chamada do Jornal Nacional. A apresentadora afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria ficado incomodado com comentários do papa Leão XIV sobre ele.

Onde foi publicado: TikTok

Conclusão do Comprova: É falso que o papa Leão XIV tenha feito comentários sobre Lula e que o Jornal Nacional tenha veiculado uma notícia sobre o assunto. O vídeo foi feito com inteligência artificial.

Na postagem, aparecem imagens da apresentadora Renata Vasconcellos na bancada do JN. Tanto o vídeo da jornalista quanto a voz dela foram geradas com auxílio de inteligência artificial. É possível identificar que apenas o rosto dela se move, de forma mecânica, enquanto o corpo fica imóvel. O pano de fundo com a logo do jornal também não apresenta nenhuma alteração, assim como a câmera, que fica estática. A voz, embora imite o timbre da apresentadora, também enuncia o texto de forma robótica.

Uma análise na ferramenta Sensity AI aponta que o conteúdo sofreu manipulação de sincronização labial, a confiança da avaliação é de 89%. Já o detector Hive apontou que o áudio tem 99% de chances de ter sido gerado por IA.

Após a aparição da jornalista, o vídeo exibe imagens do presidente e do pontífice, enquanto a voz continua a narrar a discussão que não aconteceu. Segundo o conteúdo, o papa teria feito uma declaração “sem citar nomes, mas com palavras fortes” sobre o Brasil durante cerimônia no Vaticano. A informação teria chegado até Lula, que teria interrompido uma reunião após ser informado da fala do papa. A postagem afirma ainda que o Planalto teria feito uma ligação para o Vaticano após as declarações do papa Leão XIV. Mas nada disso aconteceu.

Não há registros de reportagens sobre falas do líder religioso a respeito do presidente do Brasil no site oficial do Jornal Nacional ou em outros veículos da imprensa.

Procurada, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República respondeu que o conteúdo “evidentemente é falso” e lamentou a disseminação de boatos sobre o tema.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A postagem alcançava cerca de 1,1 milhão de visualizações antes de ser retirada do ar.

Fontes que consultamos: Consultamos os canais oficiais do Jornal Nacional para checar se havia matérias sobre o tema, além de questionar o Palácio do Planalto sobre a suposta ligação. Também analisamos as imagens da apresentadora nas ferramentas Sensity AI e Hive para comprovar o uso de deepfake.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova mostrou ser falso que o Leão XIV tenha feito declarações públicas sobre Lula ou Jair Bolsonaro (PL) e checou que vídeo com suposta citação do pontífice ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) se trata de uma história fictícia. O Boatos.Org elencou cinco conteúdos de desinformação criados com uso de IA sobre o novo papa.

 

Política

Investigado por: 20/05/2025

Vídeo exibe história fictícia de que papa Leão XIV teria elogiado deputado brasileiro

Falso
Vídeo que afirma que o papa Leão XIV citou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) no primeiro discurso após o conclave é um conteúdo de ficção. Não há registros de falas do pontífice sobre o parlamentar ou sobre o contexto político do Brasil. Na legenda da postagem original, o autor indica que as histórias publicadas são “totalmente fictícias e produzidas exclusivamente para fins de entretenimento”.

Conteúdo investigado: Vídeo afirma que o papa Leão XIV citou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) no primeiro discurso dele como líder da Igreja Católica. Postagem narra momento da suposta citação e resposta do parlamentar nas redes sociais.

Onde foi publicado: YouTube.

Conclusão do Comprova: Vídeo que narra suposta citação do papa Leão XIV ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) é falso. Na descrição do conteúdo publicado no YouTube, o perfil afirma que as histórias são “totalmente fictícias e produzidas exclusivamente para fins de entretenimento”.

“Qualquer semelhança com pessoas, eventos ou situações da vida real é puramente coincidência e não foi planejada. Essas histórias não têm a intenção de representar, sugerir ou fazer alusão a nenhuma ocorrência, indivíduo ou entidade existente”, destaca o canal do YouTube. Embora a legenda indique que a história é fictícia, não há menção sobre isso no próprio vídeo e comentários na postagem indicam que alguns espectadores tomaram o conteúdo como verdadeiro.

O vídeo traz uma montagem com imagem do papa Leão XIV ao lado de uma foto de Nikolas. As imagens são acompanhadas de uma narração. Segundo a publicação, o novo pontífice fazia o primeiro pronunciamento após o conclave, em 8 de maio, quando declarou que Nikolas era “não apenas um político, mas um sinal de esperança, coragem e integridade” e que o parlamentar deveria ser o próximo presidente eleito pelos brasileiros em 2026. Conforme o vídeo, a menção teria repercutido globalmente e Nikolas teria feito um pronunciamento oficial nas redes sociais.

Não há qualquer registro de fala sobre Nikolas ou sobre a política no Brasil na fala inaugural ou nos discursos seguintes do papa Leão XIV. No pronunciamento de 8 de maio, disponível na íntegra no site do Vatican News, o papa Leão XIV falou sobre o legado do antecessor, papa Francisco, e clamou pela paz.

Também não há publicações nas redes sociais do deputado federal sobre o novo líder da Igreja Católica.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 19 de maio, o vídeo no YouTube já tinha 517 mil visualizações.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou as páginas oficiais do Vaticano e do papa Leão XIV, bem como os perfis nas redes sociais de Nikolas Ferreira. Também buscamos por repercussão na imprensa nacional e internacional.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou que supostas menções a Lula e Bolsonaro pelo papa Leão XIV foram criadas por inteligência artificial. Outras peças de desinformação sobre o novo pontífice circularam na internet. O Boatos.Org mostrou ser falso que Leão XIV tenha feito o “L”, já a AFP Checamos mostrou que o bispo de Roma não ignorou bandeira LGBTQIA+ em encontro com fiéis.

Política

Investigado por: 19/05/2025

Trecho da Transposição no Ceará está seco por falta de demanda e não foi abandonado como afirmam postagens

Enganoso
Vídeos enganam ao afirmar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desativou a estrutura do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) no Ceará, a chamada Transposição do São Francisco. O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) explicou que o trecho mostrado em vídeo está seco porque não há pedidos de entrega de água por parte dos estados. O argumento é sustentado pela Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará, que assegura que os principais reservatórios do estado apresentam níveis satisfatórios de armazenamento e não há necessidade de abastecimento.

Conteúdo investigado: Vídeos mostram trecho vazio do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), conhecido como Transposição do São Francisco, em Mauriti (CE). Postagens acusam o presidente Lula de ter desativado a estrutura para “deixar a população na miséria”.

Onde foi publicado: X e Youtube.

Conclusão do Comprova: Postagens enganam ao afirmar que o presidente Lula desativou o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) e por isso os canais em Mauriti, cidade do Ceará, estão sem água. Após a desinformação circular nas redes sociais, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) esclareceu que “o trecho mostrado nas imagens está seco porque não há pedidos de entrega de água por parte dos estados”.

A transposição segue um Plano de Gestão Anual (PGA) que atende a demandas feitas pelos estados beneficiados — Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte —, através das operadoras estaduais, ao governo federal. No Plano de Gestão Anual referente ao uso das águas da Transposição – publicado em formato de resolução (246 de 17 de março de 2025) pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico – o Ceará não estipulou uma vazão mínima dessas águas, em nenhum mês deste ano, nem no Reservatório de Jati, nem no trecho em questão entre o Açude Boi II e a divisa com a Paraíba.

Em resposta ao Comprova, a Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará informou que em 2025 ainda não houve necessidade de bombeamento de água do São Francisco para o estado, uma vez que os grandes reservatórios do Ceará, com ajuda da quantidade chuvas deste ano, estão com nível de abastecimento suficiente. O Governo do Ceará afirmou ainda que o açude Orós – o segundo maior do estado -, atingiu 100% da capacidade este ano.

O órgão estadual também aponta que existe uma liberação mínima de vazão apenas para manter uma lâmina d’água nos canais e isto “não se configura como um aporte significativo de água da Transposição”.

O projeto da Transposição é composto por estações de captação e bombeamento geridas pelo governo federal. Uma vez captada do rio, a água passa por canais e aquedutos até os reservatórios, de administração estadual.

O MIDR detalhou que o trecho seco está entre os reservatórios Boi II, que atualmente apresenta volume de 50% da capacidade total de armazenamento (13.242.913,32 m³ de água), e Morros, com 18% da capacidade operacional (855.562,17 m³ de água).

“O sistema PISF funciona para sanar os déficits hídricos dos estados, portanto, sob demanda dos governo estaduais, e não como uma rede de abastecimento de água convencional em que a água é entregue de modo ininterrupto. O MIDR enfatiza que todos os reservatórios estão em condições operacionais para atendimento aos estados e segue à disposição para a liberação das águas do PISF, caso seja necessário”, detalhou o ministério, ao acrescentar que aproveita a situação de maneira estratégica para realizar manutenção no reservatório de Atalho, também no Ceará.

À reportagem, a Prefeitura de Mauriti respondeu que não tem participação direta na gestão do projeto. Em nota, a gestão municipal destacou a recorrência das chuvas no local. “Algumas regiões estão com água acima do nível, estamos no início de maio e mesmo com um inverno fraco já choveu mais 600 milímetros no município, algumas regiões passam dos 800 (milímetros)”, diz o texto.

Conforme dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em 2025, o acumulado de chuvas em Mauriti foi de 537,2 milímetros, sendo 310,2 milímetros durante o período chuvoso, que no Ceará vai de fevereiro a maio – portanto, ainda não chegou ao fim.

Na bacia hidrográfica do Salgado, na qual a cidade de Mauriti está inserida, o volume acumulado dos reservatórios, nesta segunda-feira (19) está em 63,08%, o que é considerado um volume confortável no Ceará, conforme a Resolução 03/2020 do Conselho de Recursos Hídricos do Ceará.

No site da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) também é possível acompanhar o nível das barragens do local. Mauriti é abastecida pela sub-bacia do Salgado, na bacia do Jaguaribe. Os reservatórios que abastecem a cidade, Quixabinha e Gomes, estão, nesta segunda, em 13,91% e 61,9%, respectivamente.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 16 de maio, o conteúdo no Youtube alcançou 365 mil visualizações. No X, foram 170 mil.

Fontes que consultamos: Entramos em contato com a Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará e a Prefeitura de Mauriti (CE), além do site do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), com informações sobre o funcionamento da PISF. Também consultamos o site da ANA para conferir os níveis das barragens do estado.

O que é a Transposição do São Francisco

O principal objetivo do Projeto de Integração do Rio São Francisco é levar água do Rio São Francisco para regiões semiáridas do Nordeste brasileiro. É considerada a maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil.

Conforme já publicado pelo Comprova, o Rio São Francisco, conhecido como Velho Chico, nasce em Minas Gerais, percorre 2,8 mil km, atravessando os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Ele responde por 70% de toda a oferta de água do Nordeste, uma região que abriga 28% da população brasileira, mas conta com apenas 3% da disponibilidade de água do país.

O PISF, cujo custo da obra chegou a R$ 14 bilhões, busca garantir a segurança hídrica de cerca de 12 milhões de pessoas em 390 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

O projeto da Transposição tem um longo histórico. A ideia de levar água do São Francisco a outras regiões remonta a estudos de engenharia nas décadas de 1840 e 1850, encomendados por Dom Pedro II. Mas, no cenário recente, o projeto nasceu formalmente em 1985 e a obra só começou a sair do papel em 2007, passando por seis governos. Desde então, o empreendimento foi marcado por atrasos, problemas de planejamento e execução.

O Comprova mostrou que até 2016 (último ano completo do governo Dilma), a execução física da obra alcançou 95,5% nos eixos Norte e Leste. O Eixo Leste entrou em operação no governo Temer e as entregas do Eixo Norte foram concluídas no governo Bolsonaro.

A estrutura da transposição é composta por dois eixos principais, que partem de Pernambuco:

  • Eixo Norte: Com 260 km de extensão, leva água para cidades dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Passa pelos municípios de Cabrobó, Salgueiro, Terranova e Verdejante (PE); Penaforte, Jati, Brejo Santo, Mauriti e Barro (CE); São José de Piranhas, Monte Horebe e Cajazeiras (PB).
  • Eixo Leste: Possui 217 km de extensão e atende municípios de Pernambuco e Paraíba. Atravessa os municípios Floresta, Custódia, Betânia e Sertânia (PE); e Monteiro (PB).

Por que o Comprova investigou essa publicação: A transposição do São Francisco é alvo frequente de disputas políticas e conteúdos de desinformação devido ao tamanho, aos altos valores envolvidos e à relevância política e eleitoral para o Nordeste. Tendo em vista esse cenário, nos últimos anos o Comprova fez inúmeras verificações de conteúdos enganosos sobre o projeto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Dentre outras checagens sobre a transposição, o Comprova já verificou afirmações falsas sobre o desligamento de bombas ou fechamento de comportas, causando crise hídrica; o conteúdo enganoso que Lula havia inaugurado obra da transposição já entregues por Bolsonaro; que Lula supostamente enfrentou protestos por ter fechado bombas da transposição que enviam água para reassentados em Pernambuco; e informações enganosas sobre um suposto fechamento de um trecho do Eixo Norte para beneficiar donos de carros-pipa. A mesma situação também foi checada pelo Estadão Verifica recentemente.

Notas da comunidade: Até a publicação dessa checagem, não havia nota da comunidade na postagem sobre a veracidade da informação.

Política

Investigado por: 16/05/2025

Declarações públicas do papa Leão XIV não citam nem Lula nem Bolsonaro; vídeos foram criados com IA

Falso
O papa Leão XIV não teceu comentários sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nem sobre Jair Bolsonaro (PL), durante orações ou discursos feitos após sua eleição como pontífice, ocorrida em 8 de maio. Não há registros disso na imprensa nacional e internacional e nem nos sites oficiais do Vaticano.

Conteúdo investigado: Vídeos que afirmam que o papa Leão XIV fez elogios ao presidente Lula (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante discursos.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que o papa Leão XIV tenha feito comentários sobre o presidente Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) durante algum dos discursos feitos depois que ele foi eleito como pontífice, em 8 de maio. Não há registros na imprensa nacional ou internacional desses elogios.

Um dos vídeos analisados afirma que, durante uma cerimônia “diante de milhares de fieis”, o papa teria dito que Lula é o melhor presidente do mundo e que o pontífice estaria preparando uma homenagem ao brasileiro. O papa Leão XIV fez seu primeiro discurso em 8 de maio, dia em que foi eleito. Na ocasião, ele falou sobre a promoção da paz e união, citou o Evangelho e a Ordem dos Agostinianos, da qual faz parte, e reverenciou o papa Francisco, que morreu em 21 de abril. Não houve nenhuma citação a Lula.

Depois de ter sido eleito, o papa Leão XIV se encontrou com cardeais, rezou a oração do Regina Caeli no balcão central da Basílica de São Pedro e fez reuniões com a imprensa mundial e com o Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé. O portal GZH noticiou que, nessa última ocasião, o embaixador do Brasil no Vaticano, Everton Vieira Vargas, convidou o pontífice para participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30). O papa também discursou aos Irmãos das Escolas Cristãs e aos participantes no Jubileu das Igrejas Orientais. Em nenhum desses momentos, os discursos dele citaram Lula ou Bolsonaro.

O segundo vídeo analisado afirma que o papa Leão XIV teria feito uma oração na sua primeira missa na Praça de São Pedro e citado Bolsonaro como um dos líderes que apoiam a Igreja Católica. Um dia após ser eleito, o papa Leão XIV realizou uma missa para os cardeais eleitores na Capela Sistina, na qual não fez declaração do tipo. Vale destacar que a missa que marca o início do pontificado só será celebrada dia 18 de maio.

Os dois perfis do TikTok que divulgaram os vídeos usam Inteligência Artificial (IA) para narrá-los e costumam reproduzir uma série de conteúdos com histórias fantasiosas envolvendo personalidades midiáticas e acontecimentos políticos.

Várias das imagens reproduzidas são feitas por IA, como é o caso do vídeo que cita Bolsonaro. Em uma delas, o ex-presidente está ajoelhado e chorando em um banco de uma igreja. Na outra, ele está internado em um leito hospitalar e chorando. Nas duas imagens, a pele dele está com aspecto de cera, característica típica de imagens feitas por IA. Além disso, na imagem da igreja, Bolsonaro aparece sem o lábio superior. Já na imagem do hospital, o cateter usado por ele se funde à pele do pescoço.

O Comprova entrou em contato com os perfis do TikTok que publicaram os vídeos, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Alcance da publicação: Até 16 de maio, o vídeo no TikTok que fala de Lula tinha 1,2 milhão de visualizações e o que fala Bolsonaro tinha atingido a marca de 712,4 mil visualizações.

Fontes que consultamos: O Comprova buscou informações na imprensa nacional e internacional sobre citações do papa Leão XIV a Lula e Bolsonaro. Sites do Vaticano também foram consultados.

O novo papa e o Brasil

Em 2024, quando ainda era um cardeal, o papa Leão XIV gravou um vídeo com uma mensagem destinada ao Brasil. “Saúdo todos os irmãos agostinianos e toda a família de Santo Agostinho, os irmãos no Brasil. É uma grande alegria e uma bênção celebrar aqui em Roma a conclusão desta congregação. Que Deus os acompanhe sempre, obrigado pelo seu trabalho e que a bênção do Senhor os acompanhe sempre”, disse.

O recado ao Brasil foi gravado durante o V Congresso Internacional de Leigos Agostinianos, em 2024, sediado em Roma, na Itália. O vídeo voltou a circular recentemente, após o padre Marcelo Rossi publicá-lo em seu perfil no Instagram no dia 10 de maio.

O papa já esteve no Brasil em diferentes ocasiões, principalmente durante o período em que atuou como superior-geral da Ordem dos Agostinianos, entre 2012 e 2013, anos que também foram marcados pelo período de preparação e realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento ocorrido no Rio de Janeiro em 2013.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outras publicações que relacionam política e religião, como um vídeo que foi editado para parecer que Lula defende o fechamento de igrejas e outro que foi usado fora de contexto parecer que um padre estava criticando o petista. A Aos Fatos, o Estadão Verifica, o g1 e o UOL Confere também já mostraram que o papa Leão XIV não fez declarações relacionadas a Lula e Bolsonaro.

Comprova Explica

Investigado por: 15/05/2025

Caso Ramagem: entenda discussão entre Câmara e STF que envolve réu pelo 8 de janeiro

Comprova Explica
Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) é um dos réus no processo que julga os envolvidos na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Em 7 de maio deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou a suspensão da ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) que inclui Ramagem. No dia 10, o STF, com base na Constituição Federal, decidiu por unanimidade manter parcialmente a ação. O Comprova explica o caso.

Conteúdo analisado: Posts nas redes sociais que alegam que o Supremo Tribunal Federal ataca a democracia ao contrapor decisão da Câmara dos Deputados. O caso envolve o deputado federal Alexandre Ramagem, que é um dos réus no processo que julga os envolvidos na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Comprova Explica: Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) está no centro de um embate entre a Câmara dos Deputados e o Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar é um dos réus no processo que julga os envolvidos na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Ele, assim como Bolsonaro e outros aliados, foram apontados pela Procuradoria Geral da República (PGR) como parte do núcleo central da trama golpista, que culminou nos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Em abril deste ano, o ministro do STF Alexandre de Moraes abriu uma ação penal contra Ramagem e outros sete réus, incluindo o ex-presidente Bolsonaro. Com a abertura do processo, o atual deputado federal passou a responder por cinco crimes:

  • Organização criminosa;
  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Tentativa de golpe de Estado;
  • Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União;
  • Deterioração de patrimônio tombado.

O processo ganhou novos desdobramentos quando a Câmara dos Deputados aprovou, por 315 votos a 143, a suspensão da ação penal no STF que inclui todos os réus, inclusive Bolsonaro. O pedido de sustação foi feito pelo Partido Liberal (PL) e aprovado em plenário em 7 de maio de 2025. A solicitação se baseou no artigo 53 da Constituição Federal, que prevê que uma vez recebida denúncia contra deputado, por crime ocorrido após a diplomação, a Casa Legislativa poderá sustar o andamento da ação.

O relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), o deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), entendeu que todos os crimes teriam sido cometidos após a diplomação de Ramagem como deputado federal. Por isso, seria possível suspender integralmente a ação penal. Porém, esse não é o entendimento do STF.

Em ofício enviado à Câmara em 24 de abril de 2025, o presidente da 1ª Turma do STF, ministro Cristiano Zanin, já havia informado que a suspensão só seria válida para os crimes cometidos após a diplomação de Ramagem, ocorrida em dezembro de 2022.

Dessa forma, no entendimento do STF, seria possível interromper apenas a análise de dois crimes (dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado), referentes aos atos de 8 de janeiro de 2023, que ocorreram após a diplomação de Ramagem como deputado, realizada em 16 de dezembro de 2022. Os processos pelos outros três crimes (tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa) continuariam em andamento.

Qual a decisão do STF sobre o caso de Ramagem?

No dia 10 de maio, a 1ª Turma do STF decidiu por unanimidade manter a ação penal no que se refere às três acusações relativas à tentativa de golpe. As outras duas foram suspensas até o fim do mandato do deputado. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, ainda observou que a regra constitucional só é válida para os parlamentares em exercício, o que impossibilita a extensão para os demais réus na ação.

Além de Ramagem, são réus na Ação Penal 2668 o ex-presidente Jair Bolsonaro; o ex-ministro Walter Braga Netto; o general Augusto Heleno; o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira; e o tenente-coronel Mauro Cesar Cid.

A decisão do STF também se baseou no artigo 53 da Constituição, considerando os crimes que ocorreram antes e após a diplomação de Ramagem. Mas, ao contrariar a ação da Câmara, o STF se tornou alvo de críticas.

Cabo de guerra

A suspensão da ação penal pela Câmara ocorre em um contexto de embate entre a Câmara e o STF. Durante sua defesa ocorrida na CCJ, Ramagem chegou a dizer que é perseguido por parte dos membros do STF e que atualmente existe uma “hipertrofia de um poder sobre o outro”.

Diante da posição do Supremo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos – PB) ingressou na terça-feira, 13, com uma ação no STF para que prevaleça a decisão dos deputados em suspender integralmente a ação penal contra Ramagem. Para tentar reverter a situação, foi protocolada uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), que deverá ser julgada pelo plenário do STF.

A Câmara solicita a suspensão da decisão do Supremo e a aplicação da decisão da Câmara. Além disso, pede que a tramitação da ação penal contra Ramagem seja suspensa até o julgamento final da ADPF. O órgão argumenta que o STF invadiu a competência privativa do Legislativo e esvaziou os efeitos da Resolução 18/25, que suspendeu a ação penal.

Além do imbróglio envolvendo Ramagem, tramita na Câmara o Projeto de Lei (PL) 2858/22, conhecido como PL da Anistia, que tem como intuito anistiar os envolvidos nos atos antidemocráticos do 8 de janeiro. No dia 14 de abril, o líder do PL na Câmara, deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou um pedido de urgência para que a proposta seja analisada diretamente pelo Plenário. Entretanto, o presidente da Câmara, que define quando o requerimento será analisado, ainda não o colocou na pauta do plenário.

Imunidade parlamentar

As decisões da Câmara e do STF sobre Ramagem se baseiam no artigo 53 da Constituição. A norma prevê que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões e palavras emitidas em razão do exercício do mandato. A legislação trata da imunidade parlamentar, que protege parlamentares caso cometam crimes contra a honra ou façam apologia ao crime, por exemplo.

No caso de Ramagem, foi aplicado o inciso terceiro, que trata da possibilidade de sustação de denúncias contra um deputado por crime ocorrido após a diplomação. Outro mecanismo que concede aos parlamentares imunidade perante à lei.

Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria do senador Jorge Seif (PL-SC), pretende alterar o artigo 53 e ampliar as hipóteses de imunidade já previstas para deputados e senadores.

A PEC prevê a proibição de busca e apreensão em gabinetes, a recusa em cumprir ordens judiciais que restrinjam os meios de expressão parlamentar e a restrição dos casos em que a justiça autorizar quebras de sigilo telefônico e comunicações. O projeto está em tramitação no Senado e aguarda designação de relator na CCJ.

Fontes consultadas: Sites oficiais do STF e da Câmara dos Deputados; Constituição Federal; e matérias na imprensa profissional sobre o caso de Ramagem.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já explicou caso de advogado impedido de entrar em julgamento do STF e que operação não mostrou que há organização criminosa dentro do órgão. Além disso, verificou que imagens do 8 de janeiro não foram vazadas e nem provam que Lula armou invasão. Sobre a possível prisão de Bolsonaro, o Estadão Verifica explicou que o STF rejeitou decisão da Câmara de suspender ação penal que envolve o ex-presidente.

Política

Investigado por: 14/05/2025

Posts mentem que malas com dinheiro foram apreendidas com Janja em Moscou

Falso
Posts mentem ao afirmar que malas com dinheiro proveniente do esquema no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) teriam sido apreendidas com a primeira-dama, Rosângela da Silva, Janja, no aeroporto de Moscou. As imagens utilizadas por vídeo com desinformação são de uma ação da Polícia Federal na Paraíba em 2023.

Conteúdo investigado: Postagens apontam que a primeira-dama Rosângela da Silva teria sido barrada em aeroporto na Rússia com 200 malas contendo cédulas de dinheiro. Segundo as publicações, o dinheiro teria origem em desvios e fraudes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Onde foi publicado: TikTok, Instagram e X.

Conclusão do Comprova: São falsas as publicações nas redes sociais que alegam que a primeira-dama, Rosângela da Silva, Janja, teria sido barrada em Moscou carregando malas de dinheiro. Ela viajou para a capital russa a convite do governo local, chegando quatro dias antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para cumprir uma agenda que teve foco nas áreas de educação e cultura, tendo em vista “importantes acordos de cooperação” entre Brasil e Rússia nesses segmentos, destacou o governo federal.

Por meio de uma busca reversa, o Comprova identificou que as imagens de mala de dinheiro que circulam no vídeo com a alegação falsa de apreensão em Moscou se referem, na verdade, a uma ação da Polícia Federal em fevereiro de 2023 na Paraíba (Política da Paraíba e Jornal da Paraíba).

Não há qualquer registro, em veículos de imprensa brasileiros ou internacionais, sobre um suposto escândalo envolvendo malas de dinheiro. Caso tal incidente tivesse ocorrido, dada a posição pública da primeira-dama, seria amplamente noticiado em escala global.

Em nota, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República negou as alegações. Segundo o órgão, Janja viajou em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) “dentro dos trâmites legais e com total transparência” e não houve qualquer incidente relacionado à bagagem. “Rejeitamos categoricamente a invenção absurda de que teria sido levada uma ‘elevada quantidade de malas’, bem como qualquer menção a incidentes com a bagagem — nada disso ocorreu, nem foi registrado por qualquer autoridade responsável”, afirmou a Secom.

A secretaria lamentou ainda que alguns “agentes escolham disseminar informações distorcidas para confundir e manipular a opinião pública”, em vez de se pautarem pela verdade.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Algumas das postagens somavam 400 mil visualizações e 4 mil compartilhamentos no X, 28,3 mil curtidas no Instagram, 12 mil compartilhamentos no TikTok e 140 mil visualizações no YouTube.

Fontes que consultamos: O Comprova buscou informações na imprensa brasileira sobre a viagem da comitiva do presidente e da primeira-dama a Moscou. Também foram consultados alguns sites da imprensa russa, como a agência Tass. O Comprova ainda fez consultas no site do governo federal e nas agendas oficiais de Janja e Lula, e contatou a Secom.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica, UOL Confere e Aos Fatos também concluíram que são falsas as alegações verificadas nesta checagem. Em relação a publicações sobre as fraudes no INSS, o Comprova também mostrou que Lula não derrubou lei de combate a fraudes no INSS e que vídeo mente ao dizer que PF encontrou dinheiro do INSS em quarto secreto do presidente.

Notas da comunidade: As postagens no X não continham “notas da comunidade” até a publicação desta verificação.

Saúde

Investigado por: 13/05/2025

Casos de SRAG aumentaram, mas Brasil não vive surto de covid-19

Enganoso
O Ministério da Saúde informou que embora a covid-19 contribua para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que apresentaram aumento recente no Brasil segundo boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os dados não indicam um aumento anormal nem caracterizam um surto da doença.

Conteúdo investigado: Vídeo em que uma jornalista aparece falando que mais da metade dos estados brasileiros está em nível de alerta para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Na imagem também aparece um print de uma pesquisa do Google que aponta ligação da SRAG com o coronavírus e as seguintes frases: “O país está num surto de COVID e o governo se nega a informar a população” e “negacionismo é esconder a realidade”. Após a fala da jornalista, um homem aparece comentando que “dessa vez não tem hospital de campanha, não tem tenda emergencial, não tem campanha de picadinha, não tem a imprensa falando nada”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Mesmo com o aumento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre a população de crianças até 2 anos, jovens, adultos e idosos – como revelam dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) -, é enganoso afirmar que o Brasil enfrenta um surto de covid-19. O Ministério da Saúde esclareceu que embora a doença esteja contribuindo de forma relevante para os casos e óbitos de SRAG, os dados não indicam um aumento anormal nem caracterizam um surto.

O vídeo usado no post viralizado no TikTok é do programa jornalístico SBT News e foi retirado de uma reportagem que foi ao ar em 3 de maio de 2025. A reportagem fala do aumento de casos de SRAG em todo o Brasil e cita o InfoGripe, boletim semanal da Fiocruz. Na ocasião, o documento apontou que mais da metade dos estados brasileiros estão em alerta para casos de SRAG. Um dos exemplos usados para ilustrar a situação é o de um menino que teve pneumonia bacteriana grave, e não covid-19. A reportagem deixa claro que a SRAG pode surgir de uma gripe e/ou caso de covid-19, mas também pode ter origem bacteriana ou fúngica.

Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e infectologista do Hospital Giselda Trigueiro, localizado em Natal e referência no tratamento de doenças infectocontagiosas no Rio Grande do Norte, Igor Thiago Queiroz explica que os vírus que atacam o sistema respiratório circulam ao longo do ano, sendo que alguns estão mais presentes em alguns meses, fazendo com que aumento de casos sejam esperados nesses períodos. O vírus influenza, que transmite a gripe, por exemplo, costuma circular mais no meio do ano, durante o inverno. “A covid-19 tem se comportado, até então, mais como uma doença de verão, com os casos aumentando no final e no início do ano”, aponta.

Sobre a SRAG, Queiroz esclarece que ela sempre está associada a outras doenças, como a gripe e a covid-19. “A síndrome é um conjunto de sintomas, não é uma doença”, frisa. Dessa forma, a SRAG se caracteriza inicialmente por um conjunto de sintomas como coriza, tosse e espirros e, depois, de sintomas respiratórios como falta de ar, queda da saturação e queda da pressão arterial. De acordo com o especialista, os vírus mais comuns são o coronavírus, influenza e Vírus Sincicial Respiratório (VSR). “Todos com o grupo de risco parecido: principalmente crianças e idosos”, destaca.

A definição de um quadro sintomático de SRAG possibilita a realização de exames para determinar qual doença acometeu o paciente. O intuito é gerar uma notificação para as autoridades de vigilância em saúde sobre as doenças que têm circulado entre a população a fim de providenciar informações para a definição de estratégias de manutenção da saúde pública.

Dados do Ministério da Saúde disponíveis na plataforma Informs.Saude mostram que na semana epidemiológica 18, período de 27 de abril a 3 de maio, foram registrados 2.470 novos casos de covid-19 e 61 óbitos. Para se ter ideia, na mesma semana epidemiológica de 2022 foram registrados 110,2 mil casos da doença.

Sobre os números atuais, Queiroz explica que existe uma subnotificação, pois as pessoas não realizam atualmente tantos testes quanto na época mais crítica da pandemia da covid-19. Ele reforça, ainda assim, que não existe um surto da doença. “Para pensar em surto de covid-19, precisamos pensar em um aumento do número de casos além do esperado em uma determinada população e um determinado período de tempo”, afirma.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que o crescimento recente de casos de SRAG está associado à circulação dos vírus influenza e VSR. “O VSR predominou no início do ano, mas o Influenza passou a ser o principal responsável nas semanas mais recentes”, disse o Ministério em nota.

O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no TikTok, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 12 de abril, o vídeo no Tik Tok já tinha 246,7 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Pesquisa no Google por reportagem do SBT News; entrevista com Igor Thiago Queiroz, especialista da SBI; consulta aos sites da Fiocruz e do Ministério da Saúde e esclarecimento sobre a situação epidemiológica da covid-19 enviado pelo Ministério da Saúde por e-mail.

InfoGripe

Segundo o último boletim da InfoGripe, da Fiocruz, apesar de uma desaceleração nacional nos casos de SRAG em crianças pequenas de até 2 anos, alguns estados continuam apresentando crescimento de casos nesta faixa etária. Nas crianças de 2 a 14 anos, o número de novos casos da síndrome segue em queda, enquanto na população idosa ele aumenta.

Já nos casos de SRAG associados ao VSR, observou-se um aumento em crianças de até 2 anos, a nível nacional. Nas regiões centro-oeste, sudeste, norte e nordeste o estudo mostrou uma desaceleração dessas notificações. No entanto, apesar dos sinais de desaceleração, o boletim aponta que a incidência das ocorrências nas regiões citadas ainda permanece elevada.

O boletim da Fiocruz também realizou a análise com base na semana epidemiológica 18. Até o momento, já foram notificados 50.090 casos de SRAG, de acordo com a FioCruz.

O boletim ainda aponta que dentre os casos positivos do ano corrente, observou-se 13% de influenza A, 1,5% de influenza B, 40,4% de VSR, 27,2% de rinovírus e 18,6% de covid-19. Já dentre os óbitos positivos do ano corrente, observou-se 18,2% de influenza A, 2,2% de influenza B, 5,3% de VSR, 10,5% de rinovírus e 61,8% de covid-19. Nesse sentido, Queiroz destaca a importância da vacina contra a covid-19. “Quando olhamos para os óbitos, a covid-19 ainda é importante”, salienta.

O Ministério da Saúde divulgou ações de combate à SRAG, diante do aumento de casos no país. A pasta anunciou um incentivo de R$ 100 milhões para reforçar o atendimento de crianças no Sistema Único de Saúde (SUS) e também realizou o dia D de vacinação contra a gripe em todo o país neste sábado, 10.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que estudo sobre eficácia de vacina da gripe não conclui que imunizante aumenta o risco da doença. Sobre a covid-19, foi verificado que é enganosa a informação de de um estudo concluiu que as vacinas contra a doença não são seguras e que é falso que pessoas imunizadas tenham o dobro de chance de pegar o vírus.

Comprova Explica

Investigado por: 09/05/2025

Entenda como funcionam os algoritmos e veja dicas para tentar escapar das bolhas

Comprova Explica
Os algoritmos são códigos desenvolvidos para executar tarefas. Nos aplicativos de transporte, eles podem, por exemplo, sugerir o trajeto mais rápido de um ponto a outro; nos de delivery, podem mostrar os restaurantes em que você já fez algum pedido na tela inicial. Nas redes sociais, eles entendem que tipo de conteúdo você costuma gostar – seja ao analisar suas curtidas ou comentários, entre outros pontos – e sugerem apenas posts com potencial de te agradar, mesmo que contenham desinformação. A seção Comprova Explica traz informações sobre o funcionamento deles.

Comprova Explica: Quando navegamos nas redes sociais, somos apresentados a diferentes conteúdos, mas já parou para pensar quem escolhe o que vemos? São os algoritmos, criados por programadores seguindo instruções de empresas como X, TikTok e Meta, dona do Facebook e Instagram. “Eles não são neutros”, afirma Kérley Winques, professora e pesquisadora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Além de não serem neutros, os algoritmos, no caso das redes sociais, respondem a estímulos dados pelos usuários. Quanto mais você curte um tipo de conteúdo, mais eles te recomendam outros semelhantes – inclusive posts com desinformação. A seguir, a seção Comprova Explica mostra como eles funcionam e traz informações sobre a formação das chamadas bolhas, entre outros pontos.

O que são e como funcionam os algoritmos?

O dicionário Oxford traz duas definições para a palavra “algoritmo”: “sequência finita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas” e “conjunto das regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam à solução de um problema em um número finito de etapas”.

Segundo Paola Accioly, professora de Engenharia de Software do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o conceito de algoritmo é genérico, e significa um passo a passo com instruções para a execução de uma determinada tarefa. Nesse sentido, ela explica, pode ser feita uma analogia com a produção de um bolo, em que a descrição da receita seria um algoritmo para se chegar ao resultado final.

Em informática, os algoritmos são criados por meio de linguagens de programação, como Python. Nas redes sociais, explica a professora, são utilizados algoritmos de inteligência artificial, que aprendem, por exemplo, sobre o que o usuário gosta de ver para recomendar conteúdos parecidos. O objetivo é manter o usuário fidelizado à plataforma.

“Qualquer interação que uma pessoa fizer na rede social, os algoritmos vão estar aprendendo sobre o seu padrão de comportamento”, diz Paola Accioly.

A professora Kérley Winques explica que os algoritmos das redes sociais são programados por meio de códigos que, alimentados com dados dos usuários, geram resultados específicos, como filtrar informações e classificar conteúdos.

“A ideia de que esses códigos, por serem matemáticos, são neutros, não é verdadeira”, diz Kérley. “Há desenvolvedores humanos que tomam decisões em relação a que perguntas responder e companhias que gerenciam esses ecossistemas informacionais com objetivos comerciais.”

Por combinarem tecnologia e elementos sociais (como as preferências do usuário), explica Virgílio Augusto Fernandes Almeida, professor emérito do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esses algoritmos são chamados de “sociotécnicos”.

“Eles tomam decisão por nós”, diz Almeida. “Quando você abre, por exemplo, o TikTok ou o Facebook, os algoritmos já tomaram as decisões de te apresentar aquele conjunto de notícias, posts ou imagens que eles sabem que vão te agradar.”

Para Kérley, é importante entender que as redes sociais são interfaces projetadas para serem personalizadas, respondendo sempre aos nossos estímulos.

“Se eu curto mais determinado tipo de conteúdo, se sigo mais determinadas páginas, se comento mais em tais publicações, a tendência é que os algoritmos tornem o meu feed mais parecido comigo”, explica a professora da UFJF. “Ou seja, para que eu fique o máximo de tempo possível ali, eles precisam me apresentar um conteúdo que me agrade.”

Algoritmos das redes sociais

Nos últimos anos, empresas de redes sociais revelaram alguns aspectos do funcionamento dos seus algoritmos. Em 2023, a Meta, responsável pelo Facebook e Instagram, divulgou informações sobre o funcionamento dos algoritmos. Na página da empresa, consta que os sistemas de IA “oferecem uma experiência personalizada ao usuário”. “Nossos sistemas de IA tentam mostrar mais do tipo de conteúdo em que as pessoas demonstraram interesse, enquanto criam oportunidades para a descoberta de novas coisas que o sistema de IA prevê que elas podem curtir”, diz o site da Meta.

Em seguida, o site descreve o funcionamento de alguns sistemas de IA do Facebook e do Instagram, que influenciam, por exemplo, a ordem dos posts que aparecerão em seu feed, que comentários o usuário verá primeiro em um post e sugestões de conteúdo que ele não segue. “Essas decisões são resultado de ‘previsões’ que os algoritmos fazem de acordo com os conteúdos que você interagiu anteriormente”, diz Paola Accioly.

Segundo a professora, milhares de algoritmos podem funcionar ao mesmo tempo para coletar padrões de comportamento do usuário enquanto ele utiliza as redes sociais.

Também em 2023, a rede social X divulgou informações sobre o funcionamento dos algoritmos de recomendação de conteúdo. Os códigos executam funções como selecionar os tweets mais populares das contas que um usuário segue e prever aqueles com maior probabilidade de engajamento.

Já em relação às contas que o usuário não segue, os algoritmos do X estimam o que o usuário consideraria relevante analisando os engajamentos de pessoas que ele segue ou aquelas com interesses semelhantes e selecionando quais tweets e usuários são semelhantes aos seus interesses, entre outras funções.

Segundo o X, a linha do tempo “Para você” apresenta ao usuário, em média, 50% de tweets dentro da sua rede e 50% de tweets fora da sua rede. A empresa acrescenta que essa proporção pode variar de usuário para usuário.

O TikTok, por sua vez, explica que quando o usuário interage com um conteúdo, ele oferece uma variedade de sinais que são utilizados pela plataforma para definir uma pontuação para diferentes vídeos. Essa pontuação estima previsões de o usuário interagir com um conteúdo. Vídeos com maior pontuação são selecionados para aparecer na linha do tempo.

As bolhas e seus problemas

Ao apresentar aos usuários o que lhes agrada com o intuito de mantê-los conectados, formam-se as bolhas informacionais. “Os algoritmos, percebendo as características de quem está interagindo com eles, vão recomendando conteúdos. E não mostram o lado oposto, o diferente”, diz Almeida.

Um exemplo: se o usuário gosta do político de esquerda, os algoritmos entendem que, ao mostrar conteúdos elogiosos ao da direita, as chances de aquela pessoa sair da rede aumentam.

Esse monitoramento, como explica Paola, é feito analisando um sistema de pesos como quantos segundos você fica supostamente olhando para determinado conteúdo. “Se você ficou muito tempo ou se passou rapidamente, ele vai aprendendo o que você gosta para mostrar mais conteúdos parecidos com isso”, diz ela.

“Mas é uma armadilha ficarmos vendo só o que gostamos”, pontua Kérley. “Eu passo o tempo todo conversando sempre com o mesmo ciclo de pessoas e vendo os mesmos sites, a mesma perspectiva, os mesmos conteúdos sobre determinada vertente política. Isso vai me fechando nessa ideia de bolha. Passo a ter pouco contato com o diferente, com aquilo que me causaria estranhamento”, diz a especialista.

Ao se fechar, diz ela, a pessoa pode se tornar mais furiosa em torno do que acredita. “Ela fica tão fechada que passa a ter dificuldade de conversar com quem pensa de forma diferente.”

Além de nos fecharmos para a possibilidade de novas ideias, a tendência é ficarmos mais tempo na rede social e, como diz Kérley, “ao fazer isso, estamos cedendo nosso tempo para as empresas lucrarem”.

Como se precaver

Os especialistas ouvidos pelo Comprova dão algumas sugestões para tentar evitar que usuários caiam nas bolhas. Confira algumas:

  • Gostou do filme que acabou de ver em uma plataforma de streaming? Dê uma nota baixa. Assim, o algoritmo poderá sugerir obras diferentes daquela nas próximas vezes.
  • Mesmo que você apoie o candidato X, curta e comente posts do político Y. Isso bagunça o algoritmo.
  • Navegue por conteúdos contraditórios. Abra páginas que talvez você não leria, mesmo que apenas para personalizar o algoritmo para que ele não seja tão centrado em questões em que você já acredita.

“Mas isso são medidas individuais. A outra maneira de se precaver é resistir a isso por meio de regulações”, afirma Almeida. “Hoje não há regras sobre os algoritmos, e precisamos de mais transparência.”

Sobre isso, tramita na Câmara dos Deputados desde 2020 o PL das Fake News, que tenta regular as plataformas digitais, mas o texto nunca foi para votação no plenário. Recentemente, o governo federal começou a discutir um novo projeto, como a Folha mostrou, estabelecendo critérios para a remoção de posts criminosos, como os que contêm discurso de ódio.

Kérley concorda com Almeida na questão da falta de regulação, e destaca que plataformas como Facebook e Instagram se colocaram por muito tempo como empresas de tecnologia, mas são também empresas de mídia e precisam de regulação.

“Ao considerarmos essas plataformas como espaços midiáticos, teríamos a possibilidade de discutir a regulação. Acho que isso fortaleceria o debate sobre o funcionamento dessas plataformas, inclusive forneceria instrumentos para que o governo pudesse impor sanções mais rígidas em relação ao discurso de ódio, à questão da desinformação e tantas outras, inclusive ataques em escolas.”

Outro ponto que Kérley ressalta é a importância da educação midiática para todos os públicos. “O grande desafio é tornar as pessoas conscientes do funcionamento das redes sociais, para que elas também possam responder aos próprios estímulos sem se deixar levar por bolhas.”

Fontes consultadas: Os especialistas Virgílio Augusto Fernandes Almeida, Kérley Winques e Paola Accioly, sites de plataformas como Facebook, X e Instagram, e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Além de verificar posts potencialmente enganosos nas redes sociais, o Comprova publica conteúdos de educação midiática para ajudar o leitor a não cair em desinformação, como o texto Inteligência Artificial: o básico para entendê-la. Para quem quiser ir além, é possível fazer o minicurso Aprenda a identificar boatos nas redes.

 

Política

Investigado por: 09/05/2025

Vídeo mente ao dizer que PF encontrou dinheiro do INSS em quarto secreto de Lula

Falso
A Polícia Federal não realizou operação que tenha encontrado dinheiro do INSS em quarto secreto de Lula. Todas as operações já realizadas são divulgadas no site oficial da corporação, no qual não há registro de ação contra o presidente. Vídeo utiliza fotos aleatórias de agentes e imagens da internet. Não há, até o momento, evidências de que Lula tenha ligação com a fraude do INSS.

Conteúdo investigado: Vídeo afirma que a Polícia Federal encontrou dinheiro do INSS em um quarto secreto de Lula em um prédio do governo. A publicação utiliza várias imagens de agentes em operação. Há uma narração que diz que as informações da ação da polícia ainda estão sob sigilo.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não existiu operação que tenha apreendido dinheiro no quarto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como afirma um vídeo que circula nas redes sociais. Em contato com o Comprova, a Polícia Federal negou a existência de ação descrita pela postagem. “Todas as operações da Polícia Federal são divulgadas em nosso site. Não foi realizada operação com as informações enviadas em seu email”, afirmou o órgão.

Várias das imagens utilizadas no vídeo podem ser encontradas na internet em outros contextos. Os registros mostram cenas diferentes. A imagem de uma prateleira de livros que seria um acesso secreto, por exemplo, foi publicada há seis anos no site do banco de imagens Pinterest. Outra que mostra uma porta secreta no chão foi disponibilizada na mesma rede anos antes de Lula voltar à Presidência, em 2019. Nenhuma das duas tem, portanto, relação com Lula.

Os registros de ações de policiais foram retirados de portais de notícias em diferentes ocasiões. Uma, por exemplo, foi publicada em uma notícia de 2020, sendo que Lula foi empossado em 2023. Outra em que aparecem o presidente e, ao fundo, agentes da Polícia Federal, é uma montagem.

Após as investigações que apuram a fraude bilionária com recursos de aposentados e pensionistas, o presidente do INSS Alessandro Stefanutto e o ministro da Previdência Social Carlos Lupi foram demitidos. Até o momento, não há nenhuma ligação comprovada de Lula com o crime. Ele não é investigado pela PF.

O vídeo com informações falsas apresenta no final um tom apelativo para que os seguidores comentem para ter acesso a mais detalhes da falsa operação. O perfil publicou outros vídeos com informações falsas. Entre eles, reproduziu uma versão de um conteúdo já desmentido pelo Comprova, o de que teria ocorrido um encontro secreto entre o presidente da França, Emmanuel Macron, e a primeira-dama do Brasil, Janja.

Até a publicação desta verificação, além do conteúdo ter sido tirado do ar, o autor não postou a “segunda parte” como prometido e não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a fonte das informações. Há também outras versões do conteúdo circulando na mesma rede social.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post somou 38,9 milhões de curtidas e 1 milhão de visualizações até 7 de maio.

Fontes que consultamos: Polícia Federal, pesquisa reversa de imagem do Google e consulta no site de banco de imagens Pinterest.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde quando começou a repercutir o caso de desvio de dinheiro no INSS, várias peças de desinformação foram criadas, como os posts que manipulam vídeos de César Tralli e Nikolas Ferreira para divulgar falsa indenização do INSS e que alegam que Lula não derrubou lei de combate a fraudes no INSS, norma que foi sancionada por Bolsonaro. Outra checagem feita pela Lupa afirma ser falso que governo Lula derrubou lei de combate a fraudes no INSS e que site promete indenização para quem foi prejudicado com o desvio de dinheiro. O Estadão fez a mesma checagem com a conclusão de que o post publicado nas redes sociais é falso.