Conteúdo investigado: Vídeo de cerca de 14 minutos em que dois médicos falam sobre as vacinas contra o coronavírus e defendem o tratamento precoce. Os homens ainda relacionam os imunizantes com o surgimento de problemas cardíacos e alegam que pessoas vacinadas estariam adoecendo tanto quanto aquelas que não receberam as doses.
Onde foi publicado: Youtube.
Conclusão do Comprova: É enganoso um vídeo no Youtube em que dois médicos afirmam a existência de um estudo envolvendo eficácia de tratamento precoce contra a covid. Eles chegam a mencionar que o “tratamento imediato” tem muito mais chance de salvar do que os imunizantes. Além disso, os profissionais também associam as vacinas contra a covid a um possível aumento de problemas cardíacos em pessoas imunizadas.
Apesar da tentativa de desqualificar a vacina contra a covid, os médicos não apresentam estudos que invalidem os resultados de pesquisas realizadas ao longo de mais de dois anos de pandemia. Até aqui, está claro que a vacinação continua sendo a principal arma de combate ao coronavírus e seus efeitos no corpo.
Além disso, diversos órgãos nacionais e internacionais como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a OMS e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), do governo dos Estados Unidos, asseguram a segurança e eficácia dos imunizantes, e recomendam a continuação da aplicação das doses.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 15 de julho, o vídeo teve mais de 119 mil interações, sendo 99,3 mil visualizações, 19 mil curtidas e 1,4 mil comentários.
O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o médico Edimilson Migowski, responsável pela publicação, por meio do e-mail disponível em seu canal do Youtube. Em resposta, Migowski afirmou que o objetivo do vídeo foi “trazer opiniões técnicas de médicos e pesquisadores” com experiência no tratamento de pacientes com covid-19 e com “total isenção econômica, política e partidária”.
Procurado através de e-mail, Flavio Cadegiani afirmou que o vídeo é baseado em estudos científicos e, por isso, não deveria ser alvo de uma checagem. O Comprova então solicitou os estudos citados pelo médico. Como resposta, ele disse que não tem a obrigação de dividir as pesquisas e que iria aguardar a publicação do Comprova para se pronunciar nas redes sociais.
“Não irei tratar na forma de ataque, mas sim de esclarecimento. Assim julgo que será mais justo comigo, tentando trazer um pouco de volta o respeito que mereço pela minha carreira e a quem sou”, disse o médico.
Cadegiani concluiu afirmando que “mediante tantas incertezas, temos muito mais questões do que fatos consagrados”.
Como verificamos: O Comprova iniciou a verificação buscando publicações em revistas científicas (Clinical Science, CDC, The New England Journal of Medicine e Imperial College London) e órgãos oficiais (Fundação Britânica do Coração, Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, OMS) a respeito da relação entre os imunizantes contra a covid e doenças cardiológicas, e do adoecimento de pessoas vacinadas e não vacinadas.
Em seguida, investigamos estudos (The New England Journal of Medicine, British Medical Journal) e reportagens jornalísticas (UOL e BBC News Brasil) sobre a suposta efetividade do “tratamento precoce” contra a infecção por coronavírus.
Além disso, o Comprova consultou outras verificações (1, 2, 3, 4 e 5) envolvendo os imunizantes contra a covid-19.
Também reunimos informações a respeito dos médicos Edimilson Migowski (Anvisa e Correio Braziliense) e Flavio Cadegiani (El País, Metrópoles e Conselho Nacional de Saúde).
Por fim, o Comprova entrou em contato com o CDC, com o médico infectologista Nelson Barbosa e os médicos que aparecem no conteúdo verificado.
Benefícios das vacinas contra a covid-19 superam risco de miocardite
No vídeo verificado, Migowski e Cadegiani afirmam que houve um aumento de casos de miocardite (inflamação no músculo do coração) e de infarto agudo do miocárdio após a utilização de determinadas vacinas.
Conforme o site do CDC, que mantém informações atualizadas a respeito dos possíveis efeitos adversos da vacinação, uma revisão dos dados de segurança dos imunizantes realizada entre dezembro de 2020 e agosto de 2021 encontrou um aumento nos casos de miocardite após as vacinas de mRNA, como da Pfizer e Moderna, que, no entanto, continuam muito baixos.
Mais de 350 milhões de vacinas de mRNA foram aplicadas durante o período do estudo e os cientistas descobriram que as taxas de miocardite eram mais altas após a segunda dose entre homens de 12 a 15 anos (70,7 casos por um milhão de doses da Pfizer), 16 a 17 anos (105,9 casos por um milhão de doses da Pfizer) e 18 a 24 anos (52,4 casos e 56,3 casos por milhão de doses de Pfizer e Moderna, respectivamente).
Os médicos que aparecem no vídeo não falam, no entanto, que o desenvolvimento de miocardite ou pericardite (inflamação na membrana que recobre o coração) após a vacinação é raro, que as vacinas são seguras e que a maioria dos pacientes com miocardite ou pericardite após a vacinação respondeu bem à medicina e se sentiu melhor rapidamente, segundo o CDC.
Conforme investigado em checagem anterior do Comprova, diversos especialistas apontam, utilizando estudos variados, que o risco de uma pessoa desenvolver miocardite após a vacinação é muito inferior ao risco de ter esse problema após contrair a covid-19.
Em julho de 2021, o subcomitê para covid-19 do Comitê Consultivo Global da OMS sobre Segurança de Vacinas (GACVS) emitiu uma declaração sobre notificações de miocardite e pericardite após vacinas de mRNA contra covid-19.
A partir da revisão de dados da Austrália, Canadá, Israel e Estados Unidos, o subcomitê observou maior incidência de miocardite após uma segunda dose da vacina da Moderna (Spikevax) do que a vacina da Pfizer (Comirnaty) em homens jovens, embora o risco geral seja pequeno. De acordo com os dados do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas dos Estados Unidos, até 11 de junho de 2021 foram notificados aproximadamente 40,6 casos de miocardite por milhão após a segunda dose entre homens e 4,2 casos por milhão entre mulheres. Ambos na faixa etária de 12 a 29 anos que receberam as vacinas de mRNA.
Para pessoas com mais de 30 anos, as taxas de notificação foram de 2,4 e 1,0 por milhão após a segunda dose, respectivamente, para homens e mulheres.
Observou ainda que a miocardite pode ocorrer após a infecção pelo vírus da covid-19 e que as vacinas de mRNA têm um benefício claro na prevenção de hospitalização e morte pela doença. Ou seja, os benefícios da vacinação para proteção da doença superam em larga escala eventuais riscos dos imunizantes.
Dois meses depois, o CDC publicou um estudo segundo o qual a incidência da miocardite em vacinados era de nove casos a cada 100 mil. No caso de pessoas que tiveram a doença e não se vacinaram, o resultado foi de 150 casos para cada 100 mil.
Um estudo publicado no periódico The Lancet Respiratory Medicine em 11 de abril de 2022 e realizado por pesquisadores de Cingapura apontou que “o risco geral de miopericardite após a vacinação contra a doença é muito baixo, afetando 18 pessoas por milhão de doses aplicadas”. Os achados confirmam que os riscos são comparáveis ou mais baixos do que o apresentado por outros tipos de imunizantes.
A pesquisa, que se baseou em bancos de dados internacionais, analisou informações de mais de 400 milhões de doses aplicadas, para comparar o risco de miopericardite após a vacinação contra covid-19 e outras doenças, como gripe e varíola, conforme reportagem da CNN.
Neste ano, a Sociedade Brasileira de Cardiologia emitiu um posicionamento sobre a segurança cardiovascular da vacinação em que afirma que “a taxa de miocardite associada à covid-19 excede a taxa observada com as vacinas na maioria dos levantamentos populacionais”. Além disso, “quando comparadas às taxas de mortalidade da infecção pelo vírus SARS-Cov2, bem como o risco de hospitalização, o benefício geral da vacina supera o risco de miocardite por ela induzida”.
Além disso, em março de 2022, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica em que dispõe atualizações do diagnóstico, investigação, manejo e incidência de miocardite e pericardite após a vacinação no contexto brasileiro. Segundo o documento, no período de 18 de janeiro de 2021 a 12 de março de 2022, foram idenficados 222 eventos com os termos “miocardite”; “pericardite”; “perimiocardite” ou “ressonância cardíaca” no sistema de informação e-SUS Notifica. Destes, apenas 87 tiveram diagnóstico de miocardite/pericardite, sendo 66 após a vacina Pfizer/Cominarty.
Em 39 das notificações os dados eram insuficientes para o diagnóstico e em 62 dos eventos o diagnóstico era negativo para miocardite/pericardite.
No mesmo período, foram aplicadas 294.159.843 doses da vacina contra o coronavírus, segundo informações da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI). Isso significa que a incidência total de miocardite/pericardite encontrada foi de 0,02 eventos para cada 100 mil doses aplicadas e de 0,05 a cada 100 mil doses após a vacina Pfizer/Cominarty. Apenas dois óbitos foram registrados.
“Os dados de incidência basal da doença e da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós vacinação descritos reforçam o benefício da vacina em detrimento do risco da doença covid-19 e o risco de desenvolvimento de formas graves. Assim, mantém-se a recomendação de vacinação para toda população com indicação do uso do imunizante Pfizer/Cominarty sem restrições”, diz a nota.
Risco de morte por miocardite ou pericardite após a vacina é pequeno
Em 14 de abril de 2022, a Fundação Britânica do Coração (BHF) publicou uma matéria respondendo perguntas sobre a relação das vacinas com a miocardite. A reportagem afirma que não há evidências de que as pessoas estejam em risco de parada cardíaca após a vacina contra o coronavírus.
Pesquisas realizadas em Israel, Portugal e outros países analisando miocardite e pericardite após a vacina não encontraram nenhum risco aumentado de morte ou parada cardíaca, em comparação com não vacinados.
Um grande estudo, realizado com quatro milhões de pessoas vacinadas na Dinamarca, publicado no British Medical Journal, descobriu que não houve mortes ou diagnósticos de insuficiência cardíaca em pessoas que foram diagnosticadas com miocardite ou pericardite após serem vacinadas. A pesquisa também mostrou que a vacinação estava associada a um risco muito menor de parada cardíaca ou morte em relação a pessoas não vacinadas ou contaminadas com covid.
No Reino Unido, não houve registros para paradas cardíacas em menores de 18 anos após a vacina – o que significa que houve um número pequeno demais para ser publicado, ou nenhum.
Pegar covid-19, por outro lado, pode aumentar significativamente o risco de parada cardíaca e morte, segundo a BHF.
Uma pesquisa apoiada pela Fundação está trabalhando para descobrir mais sobre a suposta relação entre as vacinas contra a covid e problemas no coração. “Embora ainda não tenhamos todas as respostas, isso não é necessariamente um motivo para não tomar a vacina (ou não vacinar seu filho)”, diz a entidade, em um trecho de perguntas e respostas sobre o assunto.
Casos de miocardite e morte em atletas após vacinação são raros
Contrariando a afirmação feita pelos médicos no vídeo analisado, não existe nenhum dado estatístico oficial que aponte que mortes súbitas de atletas foram de fato associadas à vacinação contra a covid-19. No conteúdo, Cadegiani afirma que a proteína spike (S) do coronavírus vai até as glândulas adrenais e estimula a produção de noradrenalina e adrenalina, hormônios que segundo o médico estão presentes em maior quantidade em pessoas fisicamente ativas, em especial os atletas, e que seriam os responsáveis pelos casos de miocardite nessa população.
Os profissionais então relacionam os casos de miocardite em atletas após a vacinação com imunizantes de RNA mensageiro (mRNA), que utilizam um mRNA sintético do vírus que ensina o organismo a fabricar a proteína S do SARS-CoV-2. Essa proteína sintética, no entanto, não é capaz de realizar qualquer outra tarefa e não penetra no núcleo das células. Portanto, não consegue causar a covid-19 ou qualquer alteração no genoma humano, conforme explicou a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm).
Em checagem recente do Comprova, o Comitê Olímpico Internacional (COI), que adota um protocolo de segurança para casos de morte súbita cardíaca, informou que não possui dados sobre eventos relacionando ataques cardíacos em atletas após vacinação contra a covid, durante a pandemia ou após o início da vacinação, nem a Federação Internacional de Futebol (FIFA). De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), embora haja casos que levantem uma possibilidade de associação entre mal súbito e as vacinas contra o Sars-CoV-2, os casos são “muito raros e insuficientes para sustentar uma suficiente relação de causalidade”.
Em novembro de 2019, a cardiologista Alinne Katienny Lima Silva Macambira fez uma apresentação durante o XXXVI Congresso Brasileiro de Arritmias Cardíacas falando sobre mortes súbitas no esporte. Entre as razões para a morte de um atleta estão a alta exigência física, o aumento excessivo da função cardíaca, o aumento da ventilação pulmonar, desidratação, alteração eletrolítica, elevado consumo energético, diminuição da imunidade e por um gatilho para uma doença pré-existente.
Pessoas vacinadas têm menos chances de adoecer que as não vacinadas
Ao contrário do que afirmam os médicos no vídeo verificado, pessoas vacinadas não “estão adoecendo na mesma intensidade de quem não inoculou” (os profissionais usam o termo como sinônimo de “vacinação” para evitar que o vídeo, ao defender o tratamento precoce contra a covid-19, seja classificado pela plataforma como fonte de desinformação e, por isso, retirado do ar). Resultados do estudo do Imperial College London e Ipsos MORI mostraram que as pessoas totalmente vacinadas têm três vezes menos probabilidade de serem infectadas do que as que não receberam as doses. Os dados foram coletados entre 24 de junho e 12 de julho de 2021.
Ao Comprova, o médico infectologista Nelson Barbosa, do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, que atua no Amazonas e participou do atendimento de pacientes em duas ondas da covid no estado, afirmou que não procede a informação de que pessoas vacinadas estão adoecendo na mesma quantidade de quem não se vacinou.
Ele ressalta que, apesar das vacinas não impedirem o contágio, elas protegem a população das formas graves das doenças. “A BCG protege as pessoas das formas graves da tuberculose, e a vacina da covid protege as pessoas de suas formas mais graves também”, exemplifica.
O médico lembra que quem está vacinado e é infectado pelo coronavírus, muitas vezes, sente apenas os sintomas de uma gripe. “Muitas vezes a pessoa nem desconfia que está com covid, eu já atendi várias assim. Pacientes com sintomas gripais, que quando fazem o teste detectam o coronavírus. Agora, por que a doença não evoluiu para uma forma grave? Porque ela estava vacinada. E a cada dose de reforço, a pessoa aumenta a sua imunidade. Hoje, se você for ver quem está internado, a maioria não tem cobertura vacinal completa.”
A respeito da relação de doentes com vacina e sem vacina, o infectologista considera também que, até o momento, os efeitos colaterais mais comuns da vacina são dor local, febre, mialgia, astenia. “A doença em si causa mais dano cardíaco que a própria vacina”, diz o médico.
“Tratamento precoce”
Ao longo do vídeo, os médicos defendem o “tratamento precoce”, protocolo com medicamentos sem eficácia comprovada para tratar a covid-19, e alegam que ele seria mais eficaz para salvar vidas do que as vacinas.
Atualmente, segundo reportagem da BBC News Brasil publicada em 5 de julho, são seis remédios contra o coronavírus aprovados pela Anvisa para pacientes e situações específicas, e nenhum deles deve ser tomado sem indicação médica. Eles são indicados para ajudar a evitar o agravamento dos casos e não devem ser utilizados como substitutos das vacinas.
- Rendesivir – produzido pela farmacêutica Gilead, é um antiviral injetável e de uso hospitalar. É destinado no Brasil a pacientes com pneumonia que precisam de suplementação de oxigênio, mas que não estão sob ventilação artificial.
- Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) – antiviral oral da Wyeth/Pfizer, indicado como tratamento para pessoas com maior risco de ter covid-19 grave. Deve ser tomado assim que possível dentro de cinco dias de início dos sintomas.
- Molnupiravir – antiviral da farmacêutica MSD (Merck Sharp & Dohme). Deve ser indicado por um médico e é destinado principalmente a pacientes com quadros leves e moderados e com risco de agravamento. Também deve ser tomado via oral dentro de cinco dias do início dos sintomas.
- Sotrovimabe – anticorpos monoclonais da GSK de uso restrito a hospitais. Indicado pela Anvisa para pessoas com covid-19 leve a moderada, mas que estão em risco de progressão para o estágio grave da doença. No serviço de saúde britânico, costuma ser administrado como transfusão para receptores de transplantes, pacientes com câncer e outros grupos de alto risco.
- Baricitinibe – anti-inflamatório recomendado pela OMS para pacientes graves; e autorizado pela Anvisa para uso em pacientes adultos hospitalizados que “necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal, ou que necessitam de alto fluxo de oxigênio ou ventilação não invasiva”.
- Evusheld (cilgavimabe + tixagevimabe) – tratamento injetável da AstraZeneca com anticorpos monoclonais indicado como profilaxia (ou seja, deve ser tomado antes da exposição à covid-19) para pessoas com comprometimento imunológico moderado a grave ou em tratamento com imunossupressores. A Anvisa destaca que a profilaxia com Evulshed não substitui a vacinação para indivíduos em que a vacinação é recomendada.
A OMS também tem quatro medicamentos pré-aprovados para o tratamento de covid. No entanto, têm preços elevados e não estão amplamente disponíveis no mundo todo. O mesmo vale para remédios aprovados pela Anvisa.
De acordo com a matéria, diferentemente da vacinação, que é um produto preventivo e tem objetivo de preparar o sistema imunológico do corpo para evitar a contaminação, os tratamentos com medicamentos são administrados durante o desenvolvimento da doença, após a contaminação. O objetivo é combater o vírus e evitar o agravamento da doença.
Outros medicamentos, como a hidroxicloroquina e a ivermectina, não funcionam contra o vírus, como já demonstraram diversos estudos (The New England Journal of Medicine, Jama Network, The Lancet Rheumatology).
Em depoimento na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, em fevereiro de 2022, o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, afirmou que os medicamentos hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida e as vacinas não estão no mesmo plano de eficácia no combate à covid-19.
Quem é Edimilson Migowski?
Edimilson Migowski é médico infectologista, mestre em Medicina na área de Concentração Pediátrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Medicina na área de Concentração de Doenças Infecciosas e Parasitárias pela UFRJ.
Também é membro da Sociedade Europeia de Infectologia Pediátrica desde 2007, membro titular da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro desde 2009 e membro titular da Academia Nacional de Farmácia desde 2008.
Atualmente, atua como diretor do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ. Migowski também é pré-candidato a deputado federal pelo PL no Rio de Janeiro.
Em dezembro de 2021, secretários do Ministério da Saúde se reuniram com membros da pasta e especialistas que são contra a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid. Na época, Migowski foi um dos profissionais que assinaram documento encaminhado à Anvisa, contrário à imunização compulsória do grupo.
Reportagem do Correio Braziliense de junho de 2020 apontou que o médico defendia o tratamento precoce contra o coronavírus com o antiparasitária Nitazoxanida, substância sem eficácia comprovada no combate à doença.
Em março de 2021, o governo brasileiro divulgou uma nota técnica a respeito do uso da nitazoxanida para prevenção e tratamento de pacientes com covid-19. O documento utiliza como base para a análise três ensaios clínicos randomizados, porém, segundo o governo, “considerados de baixa qualidade metodológica e com moderado a alto risco de viés”. A nota concluiu que são necessários estudos com maior qualidade e tempo de acompanhamento para interpretar os resultados.
“A nitazoxanida, se usada no início dos sintomas, parece ter um efeito na redução da carga viral avaliado em sete dias de tratamento e aumentou a proporção de pacientes com teste negativo para SARS-CoV-2, porém a certeza dessa evidência é muito baixa. O medicamento não mostrou benefícios comparado ao placebo para os desfechos importantes como mortalidade, ventilação mecânica e melhora clínica.”
Apesar de alguns estudos indicarem potencial da nitazoxanida para o tratamento da covid (The Lancet, European Respiratory Journal), ainda é cedo para afirmar que ela funciona contra a doença. Isso porque são poucos os estudos, sobretudo os que envolvem seres humanos, que já tiveram resultados aprovados para divulgação em periódicos científicos, de forma que não há uma quantidade suficiente de dados confiáveis que atestem o uso seguro e comprovadamente eficaz do remédio nesses casos.
Um dos estudos mais recentes publicados sobre o medicamento ressalta que “outros testes com números maiores são necessários para avaliar a eficácia da terapia com nitazoxanida na prevenção da progressão para doenças graves”.
Quem é Flavio Cadegiani?
Flavio Adsuara Cadegiani é médico endocrinologista e fundador do Instituto Corpometria, que oferece tratamento para doenças endócrinas. Ele virou alvo de denúncias da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) pela possibilidade de ter levado 200 pessoas à morte por conta do desenvolvimento do estudo “Proxalutamida para pacientes hospitalizados por covid-19”. A proxalutamida é uma droga experimental estudada para aplicação em pacientes com alguns tipos de câncer, como de próstata ou mama, pois bloqueia a ação de hormônios masculinos.
No início de 2021, um homem de 28 anos infectado pelo coronavírus iniciou tratamento com Cadegiani. Segundo relatório publicado sobre o caso na revista britânica British Medical Journal (BMJ) em 15 de fevereiro, o paciente fazia uso diário de um anabólico esteróide que agravou seu diagnóstico, com piora dos sintomas da covid-19 quatro dias antes da consulta. Em seu tratamento, o homem recebeu uma dose de 600mg de proxalutamida, seguida de 200mg diários pelos sete dias seguintes. O fármaco não possui registro no Brasil e foi utilizado pelo médico sem a autorização da Anvisa, numa dose jamais aplicada oficialmente em um ser humano.
O endocrinologista também foi inserido entre as 68 sugestões de indiciamento no relatório da CPI da Pandemia por crime contra a humanidade.
No dia 15 de outubro de 2021, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) publicou uma nota esclarecendo que a pesquisa de Cadegiani foi interrompida por descumprimento das normas, e não por motivação política. A Rede Latinoamericana e Caribenha de Bioética da Unesco (Redbioética-Unesco) se manifestou apontando “grave violação ética” na pesquisa de Cadegiani, acusações que o médico nega.
Cadegiani também é conhecido por defender tratamentos alternativos à covid-19, mesmo sem eficácia comprovada cientificamente. Em fevereiro de 2022, uma reportagem do The Intercept Brasil apontou que a CPI da Pandemia revelou que o médico recebeu R$ 10 mil da Vitamedic, empresa produtora da ivermectina. O diretor da Vitamedic, porém, nega que o pagamento tenha ocorrido.
Em março deste ano, o Comprova verificou que um estudo feito em Itajaí, em Santa Catarina, com participação de Cadegiani, não prova eficácia de ivermectina contra covid-19.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. Conteúdos como este aqui verificado, que colocam em dúvida a vacinação contra o coronavírus, são perigosos porque podem influenciar a população a não se imunizar, o que impacta diretamente no combate à pandemia.
Outras checagens sobre o tema: Em verificações recentes envolvendo os imunizantes, o Comprova mostrou que vacina contra covid-19 não causa câncer e não tem relação comprovada com herpes-zóster, que não é verdade que vacina da covid fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças e que post engana ao relacionar mortes no esporte à vacinação contra a covid-19.