O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
Filtro:

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Reportagem de TV italiana sobre vírus criado em laboratório chinês não tem relação com a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
A reportagem em questão, na verdade, fala sobre um grupo de cientistas que criou uma versão híbrida de um coronavírus de morcego na China cinco anos atrás e foi baseada em um estudo da revista científica Nature. Em março de 2020, o periódico esclareceu que não há evidências de que esse experimento tenha relação com a pandemia atual e, em análise posterior, pesquisadores afirmaram que o SARS-CoV-2 não foi fabricado em laboratório ou produzido propositalmente

São enganosas as publicações que afirmam que uma reportagem, veiculada em novembro de 2015, pela emissora de TV italiana RAI, demonstra que o novo coronavírus foi criado em um laboratório pelo governo chinês.

A matéria em questão, que fala sobre um grupo de cientistas que criou uma versão híbrida de um coronavírus de morcego na China cinco anos atrás, foi baseada em um estudo da revista científica Nature. Em março de 2020, o periódico esclareceu que não há evidências de que esse experimento tenha relação com a pandemia atual.

Em análise posterior publicada no periódico britânico, pesquisadores afirmaram que o SARS-CoV-2 não foi fabricado em laboratório ou produzido propositalmente.

A alegação verificada neste artigo foi publicada no Twitter em 25 de março pelo ex-vice-premiê da Itália Matteo Salvini e aparece em múltiplos artigos e postagens compartilhados no Facebook, Twitter e YouTube ao menos desde 28 de março.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo que foi retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Para esta verificação foram consultadas reportagens da mídia italiana, a plataforma digital de vídeos da emissora de TV RAI e estudos publicados pelo periódico científico britânico Nature. Outra fonte de informação foi o site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que diz a reportagem

Para afirmar que o novo coronavírus – que já deixou mais de 38 mil mortos no mundo desde que foi detectado na cidade chinesa de Wuhan em 2019 – foi criado em um laboratório, as publicações utilizam uma reportagem veiculada no quadro sobre ciências de um telejornal da emissora de TV italiana RAI, o TGR Leonardo, em 16 de novembro de 2015.

“Cientistas chineses criaram um supervírus pulmonar a partir de morcegos e ratos. Serve apenas para fins de estudo, mas há muitos protestos. Vale a pena arriscar?”, diz um jornalista ao apresentar a reportagem.

A matéria detalha a maneira como pesquisadores chineses conseguiram criar um organismo modificado “alterando a proteína superficial de um coronavírus encontrado em morcegos” para que este crie uma síndrome respiratória aguda grave (SARS). Segundo a reportagem, o vírus criado em laboratório poderia contagiar humanos, levando a um debate sobre se os aprendizados promovidos por experimentos deste tipo justificariam os possíveis riscos.

Por conter elementos semelhantes aos presentes na pandemia atual, a reportagem passou a ser compartilhada como se provasse que “o novo coronavírus foi criado em um laboratório na China” e que teria “escapado”. Uma busca no Google pelos termos mencionados na reportagem e o nome do programa levou a um artigo da agência de notícias italiana ANSA sobre a recente repercussão da matéria de 2015.

No texto, o diretor do programa TGR Leonardo, Alessandro Casarin, explica que a reportagem foi baseada em uma publicação da revista científica Nature e que “há apenas três dias, a mesma revista deixou claro que o vírus sobre o qual o serviço relata, criado em laboratório, não tem relação com o vírus natural [que causa a ] COVID-19”.

De fato, uma análise dos materiais publicados pela Nature em novembro de 2015 localiza um artigo intitulado, em tradução livre: “Vírus de morcego projetado gera debate sobre pesquisas arriscadas”.

Em março de 2020, uma nota foi acrescentada no topo do texto, afirmando: “Sabemos que essa história está sendo usada como base para teorias não verificadas de que o novo coronavírus que causou a COVID-19 foi projetado. Não há evidências de que isso seja verdade; os cientistas acreditam que um animal é a fonte mais provável do coronavírus”.

Após a reportagem de 2015 começar a ser associada ao novo coronavírus, o programa Porta a Porta, da mesma emissora de TV italiana, convidou um especialista para debater o tema. Na emissão, o professor Fabrizio Pregliasco, especialista em virologia da Universidade de Milão, classificou a possibilidade do novo coronavírus ter “escapado” de um laboratório como uma “teoria da conspiração”.

“Há, pelo contrário, confirmações de que se trata de uma origem natural, através sempre de uma variação de um vírus do morcego. O genoma que foi isolado mostra uma origem natural. Teórica, essa possibilidade entra nas possibilidades de complôs, de teorias da conspiração que são também ligadas ao fato que em Wuhan há um belíssimo laboratório de alta segurança onde acontecem estudos. Mas reforço que, na realidade, essa não seria a origem desse vírus”, afirmou Pregliasco, em tradução livre do italiano.

 

Origem do novo coronavírus

Estudo publicado em 17 de março deste ano no período científico Nature reitera a informação de que o novo coronavírus tem origem natural. “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositadamente”, afirmaram os pesquisadores.

Como parte do estudo, os autores analisaram a estrutura genética do SARS-CoV-2, concluindo que, se houvesse manipulação genética em laboratório, a estrutura do novo coronavírus seria semelhante a de outros organismos existentes. “No entanto, os dados genéticos mostram irrefutavelmente que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma estrutura central de vírus usada anteriormente”, afirma a pesquisa.

Esta possibilidade também é considerada como mais provável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Atualmente, a origem do SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a COVID-19, é desconhecida. Todas as evidências disponíveis sugerem que o SARS-CoV-2 tem uma origem animal natural e que não é um vírus construído”, explica a organização em seu site.

Os primeiros caso de infecção pelo novo coronavírus foram confirmados em dezembro do ano passado na cidade chinesa de Wuhan. A região, que chegou a registrar milhares de novos casos por dia no auge do surto, no fim de fevereiro, foi considerada no último dia 28 de março uma zona de “baixo risco” por uma fonte do governo local. No restante do mundo, países intensificam as medidas de confinamento para controlar a doença.

Viralização

A alegação de que a reportagem de 2015 da TV italiana comprovaria que o novo coronavírus foi gerado em um laboratório na China circulou amplamente pelo WhatsApp e foi enviada ao Comprova por meio do número (11 97795-0022).

O vídeo, acompanhado da mesma afirmação, foi compartilhado mais de 4 mil vezes em postagens no Facebook e Twitter, desde 28 de março. A mesma alegação acumula mais de 54 mil visualizações no YouTube, além de ter sido publicada em artigo com 9.627 interações no Facebook.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Limão com bicarbonato não cura covid-19 e pode fazer mal à saúde

  • Falso
Falso
Ao contrário do que afirma a corrente, o Ministério da Saúde diz que ainda não existe vitamina, terapia alternativa ou remédio licenciado capaz de evitar o contágio ou tratar a doença. Especialistas informam que ingerir a mistura em excesso pode causar prejuízos à saúde. O sódio presente no bicarbonato pode ser prejudicial para pessoas que apresentam problemas cardiovasculares, além de poder aumentar a pressão arterial em indivíduos saudáveis

É falso que a mistura de limão com bicarbonato de sódio cure a covid-19, ao contrário do que afirma uma corrente que circula no WhatsApp e nas redes sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, ainda não existem tratamentos ou remédios específicos comprovadamente capazes de curar pacientes com o novo coronavírus.

O texto do boato afirma também que a cura foi anunciada por Israel, onde o vírus não teria causado nenhuma morte. Isso não é verdade. De acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, até esta terça-feira, 31, foram registradas 17 mortes causadas pela covid-19 no país do Oriente Médio. Ao todo, são 4.831 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus até essa data.

O Comprova analisou publicações em perfis e páginas de Facebook e mensagens compartilhadas por WhatsApp.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

O Comprova consultou materiais sobre coronavírus divulgados pela OMS e pelo Ministério da Saúdee dados de infecção compilados pela Universidade Johns Hopkins. Também entramos em contato com o farmacêutico Leandro Medeiros, que coordena um observatório sobre covid-19 na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Ainda não existe cura para coronavírus

A OMS informa que não há evidências de que os remédios existentes possam curar a covid-19, ainda que certos medicamentos ou tratamentos caseiros possam aliviar os sintomas causados.

Da mesma forma, o Ministério da Saúde afirma que “não existe vitamina, terapia alternativa ou remédio licenciado capaz de evitar o contágio ou tratar a doença”. Os médicos tratam os sintomas para evitar o agravamento da doença e reduzir o desconforto dos pacientes.

Consultado pelo Comprova, o farmacêutico Leandro Medeiros, da Unicap, afirmou que a mensagem “não tem fundamento algum”. “Até então, não há estudos científicos que comprovem este benefício do limão e do bicarbonato, o que é necessário para gerar uma recomendação de uso”, disse ele. “Ainda que o limão contenha nutrientes importantes para o sistema imunológico, como a vitamina C, a inexistência destes estudos feitos em seres humanos coloca em xeque esta afirmação”.

Medeiros também alertou que ingerir a mistura em excesso pode causar prejuízos à saúde. O sódio presente no bicarbonato pode ser prejudicial para pessoas que apresentam problemas cardiovasculares, além de poder aumentar a pressão arterial em indivíduos saudáveis.

O farmacêutico destacou ainda que bicarbonato em excesso pode prejudicar a função dos rins e causar a chamada alcalose metabólica, que resulta em irritabilidade, contrações e cãibras musculares.

A cura vem de Israel?

O texto do boato afirma que os israelense bebem limão e bicarbonato como se fosse um chá quente; por isso, ninguém por lá estaria preocupado com a doença. Isso não é verdade. Até esta terça-feira, 31, foram registrados 4.831 casos da covid-19 em Israel, com 17 mortes. O país tem mais registros que o Brasil.

Como o Comprova mostrou em checagem publicada em 27 de março, a nação do Oriente Médio adotou diversas medidas de isolamento social para contenção do vírus. Em 25 de março, o governo israelense estabeleceu a proibição de sair de casa, exceto em casos urgentes, e o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais e parques.

Não há nenhuma evidência que Israel aprove o uso de limão com bicarbonato de sódio. Na página do Ministério da Saúde israelense, as recomendações são as mesmas que no restante do mundo: ficar em casa, lavar as mãos e se dirigir a um serviço médico em caso de sintomas como febre e dificuldade de respirar.

Viralização

Leitores solicitaram a checagem deste texto por meio do WhatsApp (11 97795-0022). O boato também foi compartilhado no Facebook. Em um dos perfis pessoais,a mensagem obteve 512 compartilhamentos até a manhã do dia 31 de março.

Fato ou Fake, Snopes e Reuters também checaram esta corrente.

Saúde

Investigado por: 2020-03-30

É falsa a corrente que fala em “etapa máxima de infecção” pelo novo coronavírus até 3 de abril

  • Falso
Falso
Segundo especialistas, o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da covid-19. E não está proibido sair de casa, o Ministério da Saúde só recomenda que as pessoas evitem ao máximo sair de casa. Cada Estado brasileiro está adotando medidas próprias de quarentena, como o fechamento de serviços não essenciais

É falsa a mensagem compartilhada no WhatsApp e nas redes sociais que recomenda à população o total isolamento até o dia 3 de abril, prazo da “etapa de máxima infecção” do coronavírus. De acordo com especialistas consultados pelo Comprova, o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da covid-19 e não há previsão de pico no número de infecções.

O Ministério da Saúde também disse desconhecer as informações disseminadas na mensagem viral.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova entrou em contato com o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por especialistas das seguintes instituições: Departamento de Engenharia Industrial e Instituto Tecgraf (PUC-Rio); Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal); Divisão de Pneumologia do InCor (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo); Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro; Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino; e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Também consultamos o Ministério da Saúde, além de recomendações de quarentena em diferentes localidades e reportagens sobre projeções de evolução de casos da covid-19.

Etapa de máxima infecção?

O texto que circula no WhatsApp e nas redes sociais afirma que entre os dias 23 de março e 3 de abril ocorrerá a “etapa de máxima infecção” do coronavírus e por isso a recomendação é não sair de casa “para nada”, “nem para ir comprar pão”. Isso não é verdade, de acordo com especialistas consultados pelo Comprova.

O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que faz projeções sobre a evolução no número de casos de covid-19 no País, informou, por e-mail, que não há como prever quando ocorrerá o pico da pandemia no Brasil.

Os estudos do NOIS comparam a disseminação do novo coronavírus no Brasil com a de outros países, a partir do momento em que cada nação registrou 50 casos (chamado de dia zero ou D0).

“O Brasil começou o D0 em 11 de março, ainda está no início da curva de crescimento da doença e não há como prever quando será o pico. Nem mesmo os países europeus chegaram a esse ponto”, comunicou o NOIS.

A mensagem disseminada no WhatsApp afirma ainda que a “etapa de máxima infecção” duraria duas semanas, depois das quais ocorreriam “duas semanas de calmaria” e só então, depois de mais duas semanas, os casos diminuíram.

Segundo o NOIS, essa lógica também não faz sentido. Nos Estados Unidos, 30 dias depois do “D0”, o crescimento no número de infecções pela covid-19 ainda era grande. Atualmente, o país tem o maior número de casos no mundo, superando a marca de 156 mil nesta segunda-feira, 30.

Na China, a pior fase da epidemia terminou 23 dias após o registro dos 50 casos iniciais. Passados 32 dias do “dia zero”, o número de casos diários caiu para menos de 500, e, depois de 45 dias, a menos de 100.

Na Itália, após 31 dias do “D0”, percebeu-se uma diminuição no número de novos casos, mas de acordo com o NOIS, “ainda não é possível determinar se o número de novos casos irá diminuir”.

O NOIS afirma que a evolução no número de infectados pelo coronavírus no Brasil depende das medidas tomadas para contenção da doença: “Se as medidas de isolamento e contenção propostas pelos Estados forem respeitadas, podemos considerar um crescimento da epidemia melhor do que na França”.

“Se a população seguir o que foi preconizado pelo presidente Bolsonaro, ou seja, reabertura do comércio e escolas, a trajetória da epidemia pode seguir a de países como Espanha, onde as medidas de isolamento foram tardias”, informou o grupo de estudos.

É importante destacar que as projeções sobre coronavírus mudam rapidamente; as respostas do NOIS foram enviadas ao Comprova no sábado, 27.

Nesse mesmo dia, o Grupo de Resposta à Covid-19 do Imperial College de Londres divulgou um estudo que previa 529 mil mortes no Brasil caso fossem adotadas apenas medidas de isolamento de idosos; com distanciamento social intensivo, o número de óbitos varia entre 44 mil e 206 mil, dependendo da data em que a estratégia é iniciada.

Recomendação é ‘não sair de casa nem pra comprar pão’?

O Ministério da Saúde pede que as pessoas evitem ao máximo sair de casa, principalmente as mais velhas. De acordo com a pasta, “reduzir a circulação é extremamente importante para diminuir a transmissão do coronavírus”.

Isso não quer dizer, no entanto, que é proibido sair de casa. A recomendação do Ministério é simplesmente evitar aglomerações. Ou seja, passear com o cachorro, correr sozinho, levar o filho ao parquinho — tudo isso é permitido, desde que se evite juntar pessoas e que se tome as medidas adequadas de higiene.

Ao chegar em casa, é preciso lavar as mãos, tirar os sapatos e deixar a casa bem arejada: medidas básicas de higiene.

Cada Estado brasileiro está adotando medidas próprias de quarentena, como o fechamento de serviços não essenciais. Em São Paulo, por exemplo, a quarentena vai até 7 de abril e tem como objetivo evitar aglomerações de pessoas.

Viralização

Leitores do Comprova solicitaram a checagem do boato por WhatsApp (11 97795-0022). O texto também foi divulgado no Facebook, onde obteve 62 mil compartilhamentos desde o dia 27 de março.

Saúde

Investigado por: 2020-03-30

Vídeos de Osmar Terra são compartilhados como se fossem do ex-ministro Adib Jatene

  • Falso
Falso
Vídeos do deputado Osmar Terra defendendo o isolamento vertical circulam nas redes atribuídos erroneamente ao cardiologista Adib Jatene, falecido em 2014

São falsos os vídeos que atribuem ao falecido médico e ex-ministro da Saúde Adib Jatene a defesa do chamado isolamento vertical, estratégia assumida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como política oficial para enfrentar o novo coronavírus. Quem aparece nas imagens, na verdade, é o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS).

Essa verificação foi realizada com base em buscas reversas de dois vídeos encontrado pelo Comprova atribuídos ao ex-ministro.

Depois de um pronunciamento em rede nacional realizado na terça-feira, 24, o presidente da República passou a defender o isolamento vertical, em que apenas idosos e pessoas em grupo de risco sejam mantidos isolados durante a pandemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Os demais cidadãos, segundo Bolsonaro, deveriam voltar às “atividades normais” para reduzir os impactos econômicos do isolamento social.

Desde o pronunciamento do presidente, circulam nas redes sociais dois vídeos diferentes, ambos creditados ao famoso médico cardiologista. Adib Jatene, contudo, morreu em 14 de novembro de 2014.

Jatene foi secretário estadual da Saúde de São Paulo e ministro da Saúde nas gestões Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Também foi diretor-geral do Hospital do Coração, em São Paulo, e um dos pioneiros da cirurgia cardíaca no Brasil.

Em alguns dos textos que acompanham os vídeos, Adib é creditado como infectologista, o que também é falso. Ele foi um médico conhecido pela sua especialização em cardiologia e respeitado pelos serviços público e acadêmico prestados. Apesar de ter assumido cargos públicos, nunca foi filiado a nenhum partido político.

Quem aparece nos vídeos é, na realidade, um aliado de Bolsonaro. Trata-se de Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania do governo Bolsonaro. No último dia 21, Terra, publicou em seu canal no YouTube um vídeo em que defende algumas medidas alinhadas ao posicionamento do presidente da República, como, por exemplo, o fim da quarentena e o isolamento vertical para que a economia não seja prejudicada. Este vídeo, por sua vez, foi relacionado várias vezes na internet a Adib Jatene, falecido em 2014.

Além de ex-ministro, Terra é médico e está no sexto mandato como deputado federal. Alinhado ao discurso do presidente da República, vem defendendo diariamente em postagens e entrevistas as medidas propagadas por Bolsonaro, que contrariam as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também do Ministério da Saúde. Outro vídeo de Osmar Terra com circulação alta e creditado a Jatene é um discurso que o deputado fez na Câmara, no último dia 18, com o mesmo tom e argumentos parecidos a favor do isolamento vertical.

Como verificamos

Osmar Terra é uma figura pública reconhecida, é deputado federal pelo estado do Rio Grande do Sul e aliado do presidente Jair Bolsonaro. A partir da identificação, buscamos nas redes sociais do deputado pronunciamentos a respeito do novo coronavírus. As entrevistas e declarações sobre o tema também estão disponíveis no perfil dele no Twitter, possibilitando o cruzamento com os vídeos que circulam. Em consulta na internet é possível localizar as imagens do político.

Sobre Adib Jatene foi possível identificar sua história e biografia com buscas na internet. Apenas usando no nome dele em buscadores é simples encontrar reportagens sobre o cardiologista e sobre as instituições das quais ele participava. Estão na internet, por exemplo, diversas reportagens sobre a morte dele, publicadas por jornais como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e portal G1.

Diferença entre os isolamentos

A orientação majoritária dos epidemiologistas e infectologistas tem sido pelo distanciamento social máximo possível, em que apenas os serviços considerados essenciais são mantidos. As medidas são de precaução para minimizar o período e a intensidade do colapso do sistema de saúde. Essa política é chamada de “isolamento horizontal”.

O que médicos como Osmar Terra argumentam, apesar de escassos dados disponíveis, é que seria possível conter a doença reduzindo as massivas perdas econômicas que o modelo de contenção pode causar.

Viralização

O Comprova recebeu o vídeo pelo seu canal no WhatsApp e no Twitter, onde há o registro de dezenas de publicações do suposto vídeo relacionado ao famoso médico cardiologista morto em 2014.

Saúde

Investigado por: 2020-03-30

Formulário que pede dados para receber benefício emergencial é falso

  • Falso
Falso
O Projeto de Lei que cria o benefício ainda tramita no Congresso. Se aprovado, precisa ser sancionado pelo presidente da República e ter definido o modo como o valor será distribuído

É falso o formulário divulgado por meio de uma mensagem de WhatsApp para o recebimento do auxílio emergencial a pessoas de baixa renda durante a crise do novo coronavírus. Os sites com o formulário estão registrados fora do Brasil, em servidores que comportam outros endereços de internet em português e sem informações sobre seus proprietários.

O projeto do benefício, que nasceu na Câmara dos Deputados, onde já foi votado, ainda está em tramitação. O texto precisa ser referendado pelo Senado, cuja sessão está marcada para a tarde desta segunda-feira, 30, e depois deve passar pela sanção do presidente da República, ainda sem data para acontecer. O governo federal também tem que decidir como o valor será distribuído.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para realizar esta verificação, o Comprova consultou o texto do projeto de lei que tramita no Congresso, os sites noticiosos da Câmara e do Senado e o DNSlytics, uma ferramenta online para descobrir dados como a localização dos servidores de sites na internet.

Sites de formulário estão registrados no exterior

A mensagem falsa que circula com o suposto formulário leva os usuários a um site que simula ser oficial. Há, inclusive, a imitação de um logo utilizado pelo governo federal nas gestões do Partido dos Trabalhadores (PT), com o slogan “Brasil, País de Todos”. Na página, o usuário precisa responder um questionário com informações pessoais.

Utilizando a extensão para Chrome do aplicativo DNSlytics (IP Adress and Domain Information), é possível verificar que os sites estão registrados no exterior, uma estratégia muitas vezes realizada por grupos que tentam aplicar golpes online.

Um dos sites investigados pelo Comprova estava hospedado no Québec, no Canadá, com o mesmo IP (uma espécie de cadastro único dos sites) de páginas como “saboreaqui.online”, “tecnologiaws.online”, “noticiasdahora.website”, “receitasdecomidas.club” e “focofamaetv.com”. Outro estava baseado nos Estados Unidos, no mesmo IP de sites como “gotoceleb.com”, “osforums.net” e “fundwise.com”.

O projeto de lei do benefício

O benefício votado na Câmara é uma medida emergencial diante da pandemia da covid-19. Como as providências para conter a doença envolvem medidas de distanciamento social, como o fechamento do comércio, e, portanto, terão um impacto negativo na economia, o Congresso decidiu aprovar o pagamento deste valor para minimizar os efeitos de uma eventual crise sobre as populações mais vulneráveis.

O texto aprovado é de autoria do deputado Marcelo Aro (PP-MG), relator do Projeto de Lei 9236/17, originalmente apresentado por Eduardo Barbosa (PSDB-MG). O projeto se tornou prioridade da Câmara na última semana e foi aprovado na quinta-feira, 26.

O valor original que constava no projeto era de R$ 500, bem acima dos R$ 200 ventilados inicialmente pelo governo de Jair Bolsonaro. Durante as negociações, parlamentares e Executivo chegaram aos R$ 600 aprovados. Inicialmente, o valor será pago por três meses.

Quem tem direito

O benefício é direcionado aos trabalhadores informais, que compõem mais de 40% da força de trabalho no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo IBGE. Esses autônomos estão em posições que não desfrutam dos direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Para ter direito ao benefício é necessário, no entanto, que o trabalhador informal integre, também, famílias de baixa renda. Como fica claro no texto aprovado pela Câmara, para ter acesso ao auxílio emergencial a pessoa deve cumprir, ao mesmo tempo, cinco requisitos:

– Ter mais de 18 anos

– Não ter emprego formal;

– Não receber benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou de outro programa de transferência de renda federal que não seja o Bolsa Família;

– Ter renda familiar mensal per capita (por pessoa) de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou renda familiar mensal total (tudo o que a família recebe) de até três salários mínimos (R$ 3.135,00); e

– Não ter recebido rendimentos tributáveis, em 2018, acima de R$ 28.559,70.

Além disso, para receber o benefício, a pessoa deve exercer atividade na condição de microempreendedor individual (MEI) ou ser contribuinte individual ou facultativo do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) ou ser trabalhador informal inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).

Caso o trabalhador informal não pertença a nenhum desses cadastros, é preciso ter cumprido, no último mês, um dos requisitos de renda citados acima.

Duas pessoas de uma mesma família poderão acumular os benefícios, sendo um do auxílio emergencial e um do Bolsa Família. Se o auxílio for maior que a bolsa, é possível fazer a opção pelo auxílio. As mães que são chefes de família poderão receber duas cotas do auxílio, totalizando R$ 1,2 mil.

Faltam a votação no Senado e a sanção presidencial

Para que o projeto se torne lei, o próximo passo é sua votação no Senado. Davi Alcolumbre, presidente da Casa, disse que a votação deve ocorrer nesta segunda-feira, 30. A tendência é que o texto seja aprovado com facilidade e, depois, siga para a sanção do presidente da República. Como o governo federal concordou com o valor de R$ 600, Bolsonaro deve sancionar o projeto.

Quando o projeto for aprovado pelo Senado e sancionado pela Presidência da República, quem deve cuidar da logística do pagamento é a Caixa Econômica Federal, seguindo um decreto presidencial que ainda não foi divulgado. Pedro Guimarães, presidente do banco, afirmou em entrevista coletiva nesta sexta-feira, 27, que a Caixa é a única com capilaridade no país para efetuar a distribuição dos valores por meio de suas agências e caixas lotéricas. O Banco do Brasil e o INSS devem ser usados nas próximas fases do pagamento do benefício.

Dados de viralização

Essa verificação foi proposta por leitores que receberam a mensagem por WhatsApp. Não é possível mensurar o alcance dessas mensagens. O Comprova não faz verificações de conteúdos suspeitos que não tenham grande viralização, mas abre uma exceção neste caso dado o dano que a circulação desse conteúdo pode causar.

Saúde

Investigado por: 2020-03-27

É falso que Israel controle o coronavírus sem distanciamento social

  • Falso
Falso
Ao contrário do que afirma mensagem divulgada nas redes sociais, o país do Oriente Médio mantém ativas algumas medidas de isolamento e não tem a “melhor situação do mundo” diante da pandemia

É falsa mensagem que circula no WhatsApp e em redes sociais que atribui a Israel “a melhor situação do mundo no controle do coronavírus” por supostamente não adotar medidas de isolamento social. Na verdade, o país do Oriente Médio tem tomado várias iniciativas para restringir a circulação de pessoas, como o fechamento de escolas e universidades. Em 25 de março, o governo israelense endureceu as regras e estabeleceu a proibição de sair de casa, exceto em casos urgentes, e o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais e parques. Além disso, o país tem mais casos confirmados pela covid-19 do que outros com IDH semelhante, no mesmo período.

O texto que foi objeto desta verificação circula no WhatsApp e nas redes sociais com um vídeo em que o ministro da Defesa israelense, Naftali Bennett, apoia o isolamento prioritário de idosos, grupo com maior risco de mortalidade pela covid-19. Esse vídeo foi publicado em 21 de março no Twitter de Bennett. Em postagens subsequentes na rede social, ele afirma a necessidade de permanecer em quarentena nacional e também propõe outras estratégias de enfrentamento à pandemia, como a adoção de testes em massa.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova consultou o painel de contagem de casos de coronavírus da Universidade Johns Hopkins. Também acessou os portais do governo e do Ministério da Saúde israelense. Outras fontes de informação foram reportagens da imprensa local, cujos links estão incluídos nesta verificação.

Número de casos da covid-19 em Israel

Ao contrário do que afirma a mensagem publicada em 25 de março no Facebook, Israel não tinha até então “1700 casos e 1 morte” registradas pelo novo coronavírus. Naquela data, o número de infectados pelo novo coronavírus no país era de 2.369, segundo o Ministério da Saúde israelense. Nesta sexta-feira, 27, este número aumentou para 3.035. No dia 25, eram cinco mortes no país pela covid-19, e agora são 11 mortos.

O gráfico abaixo, que mostra a evolução dos casos confirmados em Israel até o dia 24 de março, apresenta uma acentuada curva de pacientes do novo coronavírus. Os números foram compilados pela Universidade Johns Hopkins.

 

Em pronunciamento na quarta-feira, 25, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que o número de pacientes dobrava a cada três dias.

“Em duas semanas, podemos ter milhares de pacientes, muitos dos quais estarão em risco de morte”, disse o premiê. “Por isso, já estou dizendo que se não vermos uma melhora imediata nessa tendência, não teremos outra alternativa a não ser impor o lockdown completo”.

O Comprova também consultou os números de contágio em nações com índice de desenvolvimento humano (IDH) semelhante ao de Israel, como Coreia do Sul, Espanha e Japão. Comparamos a evolução do número de casos no mesmo período: 36 dias, o tempo transcorrido desde o primeiro caso registrado em Israel (20 de fevereiro).

Ao longo desse período, todas as nações citadas tinham número inferior de infectados pelo coronavírus: em 36 dias, a Coreia do Sul tinha 1,8 mil casos; a Espanha, 673; e o Japão, 214.

Nesta sexta-feira, 27 de março, a Coreia do Sul tem 9.332 casos. Embora tenha um número de pacientes maior, o exemplo do país asiático é interessante, pois conseguiu “achatar” a curva de crescimento de casos confirmados da covid-19. O número de novos casos por dia tem diminuído desde o fim de fevereiro e início de março. Uma das estratégias adotadas pela Coréia foi a adoção de testes em massa da população e o isolamento dos infectados.

O gráfico abaixo mostra o “achatamento” na curva de casos da Coréia do Sul. Os dados são da Universidade Johns Hopkins.

Isolamento social em Israel

É igualmente falsa a afirmação de que Israel não tem adotado amplas medidas de isolamento social, optando apenas por restringir a circulação de pessoas do grupo de risco, como afirma a mensagem compartilhada em redes sociais.

Desde 9 de março, o Ministério da Saúde israelense determinou que qualquer pessoa que tenha voltado de um país estrangeiro, ou que tenha tido contato com um paciente confirmado da covid-19, entre em isolamento domiciliar por 14 dias. No site da pasta é possível consultar um mapa com a quantidade de pessoas que estão nesta situação pelo país.

No dia 12 de março, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou o fechamento de escolas e universidades.

Depois da difusão do vídeo de Bennett, Israel anunciou outras iniciativas, mais rígidas, de isolamento social. Em medida aprovada no último dia 25 de março, o governo implementou regulamentações de emergência, determinando o fechamento de estabelecimentos comerciais considerados “não essenciais” e proibindo a circulação de pessoas em espaços públicos, com poucas exceções, incluindo saídas para comprar comida e medicamentos.

Em pronunciamento na mesma data, Netanyahu defendeu a implementação destas medidas, pedindo enfaticamente que a população evitasse sair de casa.

“Nós publicamos regulamentações de emergência para os próximos dias. Elas reduzem ainda mais as saídas para a esfera pública. Eu sei que há muitos paradoxos e que é possível dizer uma grande quantidade de coisas, mas não importa. Primeiro, leiam-nas e fiquem em casa; essa é a principal questão. Eu digo isso da forma mais clara possível: vocês precisam ficar em casa! Fiquem em casa, fiquem seguros. O perigo espreita para todos”, afirmou.

No discurso, o premiê destacou que as medidas também são válidas para crianças – indo contra a afirmação de que Israel só estaria isolando idosos. “Eu sei que com crianças pequenas é muito difícil mantê-las em casa, mas não há escolha”, disse Netanyahu.

Situação da Economia e dos hospitais em Israel

O texto viralizado afirma, ainda, que a economia e o sistema de saúde de Israel têm funcionado normalmente frente à pandemia do novo coronavírus, o que também não é verdade.

O governo proibiu no dia 19 de março qualquer atividade de comércio ou lazer dentro de shoppings com mais de 10 lojas, clubes, bares, academias, piscinas públicas, cinemas, teatros, parques, pontos turísticos, entre outros.

As medidas de emergência foram ampliadas em 25 de março, determinando o fechamento de estabelecimentos comerciais considerados “não essenciais” e que restaurantes funcionassem apenas por delivery.

Farmácias e lojas que vendem principalmente produtos de higiene foram autorizadas a funcionar, mas mantendo uma distância de dois metros entre um cliente e outro, e uma média de no máximo quatro pessoas por caixa ativo dentro da loja. Motoristas de táxi também podem circular, mas apenas com um passageiro, ou dois quando um acompanhante médico for necessário.

O Ministério de Finanças do país estimou que a pandemia do novo coronavírus deve causar um dano de aproximadamente 12 bilhões de dólares na economia do país. Comerciantes entrevistados pela AFP neste mês em Jerusalém afirmaram já sentir os efeitos da doença em seus negócios.

O Ministério da Saúde também se prepara para um impacto no serviço médico. No dia 16 de março, o Jerusalem Post informou que o governo iria importar mil respiradores para tratar pacientes com covid-19. A imprensa local também registrou uma corrida nos hospitais israelenses para aumentar o números de leitos nas unidades de tratamento intensivo (UTI).

Viralização

A mensagem com informações falsas sobre o combate ao coronavírus em Israel circulou principalmente no WhatsApp. Leitores solicitaram a verificação por meio do número (11 97795-0022). No Facebook, o texto verificado pelo Comprova foi publicado por diversos usuários. Um dos posts obteve 740 compartilhamentos desde o dia 25 de março. Mensagem semelhante somou outros 2.138 compartilhamentos desde a mesma data. A ferramenta Google Trends, que mede tendências de busca, também registrou um pico de interesse por Israel e Naftali Bennett.

Saúde

Investigado por: 2020-03-25

É falso que Itália tenha registrado 232 mortes de crianças pela covid-19

  • Falso
Falso
O governo italiano não havia registrado óbitos de pessoas com menos de 30 anos até o dia 24 de março

São falsas as postagens segundo as quais a Itália registrou as mortes de 232 crianças na atual pandemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Até o dia 24 de março, o governo italiano ainda não havia registrado óbitos de pessoas com menos de 30 anos.

Essa verificação foi realizada com base em consultas a diversos documentos oficiais de diferentes órgãos do governo da Itália.

O post que foi objeto desta verificação foi escrito no Facebook por um usuário à 1h22 da manhã desta quarta-feira, 25 de março. O texto dizia que “morreram 232 crianças num dia na Itália e o demente manda as crianças voltarem pra escolas”.

A postagem era uma referência ao pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, na noite de 24 de março. O mandatário minimizou a epidemia de covid-19 e sugeriu que os governadores deveriam descumprir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre elas a de fechar escolas e universidades.

Outros posts de mesmo teor foram encontrados pelo Comprova no Facebook. Esses, no entanto, traziam uma outra informação, a de que as supostas 232 mortes de crianças teriam ocorrido em um dia com 793 mortes por covid-19 na Itália.

O Comprova verificou uma postagem feita por um perfil pessoal no Facebook.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para fazer a verificação, o Comprova procurou, inicialmente, os dados oficiais publicados pelo Ministério da Saúde da Itália. Como mostram os relatórios diários da pasta, de fato houve um dia em que o país teve 793 mortes provocadas pelo novo coronavírus. Isso ocorreu entre os dias 20 de março, quando o total de óbitos era de 4.032, e o dia 21 de março, quando o total chegou a 4.825 mortes. Diante desses números, a imprensa registrou que aquele fora o dia, até então, com mais mortes no país europeu. Uma rápida pesquisa no Google com os termos “793 mortes Itália” mostra diversos links semelhantes com o registro desse fato.

Desde então, a Itália registrou um total de 651 mortes em 22 de março, 601 no dia 23, 743 no dia 24 e 683 nesta quarta-feira, 25, chegando ao total de 7.503 óbitos.

Em seguida, o Comprova foi atrás do número de mortes de crianças italianas por conta da covid-19.

Na Itália, os dados a respeito das mortes provocadas por covid-19 são também congregados pelo Instituto Superior de Saúde (Istituto Superiore di Sanità-ISS), órgão técnico do Serviço Nacional de Saúde (Servizio Sanitario Nazionale) italiano, equivalente ao Sistema Único de Saúde (SUS) existente no Brasil.

Desde 28 de fevereiro, o ISS coordena um sistema de informações abastecido pelos dados dos governos regionais e locais italianos. Todos os dias, esse sistema de vigilância integrada divulga neste site informações consolidadas a respeito do andamento da epidemia provocada pelo novo coronavírus.

Segundo o mais recente relatório, disponível tanto em italiano quanto em inglês e publicado em 25 de março, a Itália tinha 6.157 mortes provocadas pela covid-19, sendo que nenhuma delas era de crianças. Na realidade, 100% das mortes registradas na Itália, segundo o relatório do ISS, foram de pessoas com 30 anos ou mais.

Os dados do ISS italiano usam uma metodologia diferente daquela utilizada pelo Ministério da Saúde da Itália para consolidar os dados. Dessa forma, podem haver discrepâncias entre os relatórios.

Como afirma o ISS italiano na nota técnica que acompanha seu relatório diário, os dados coletados “estão em fase de consolidação contínua e, como previsível em situações de emergência, algumas informações estão incompletas”. O órgão governamental informa ainda que diferenças nos dados ocorrem principalmente por conta de eventuais atrasos entre a confirmação do diagnóstico e a inclusão da informação na plataforma oficial que congrega os dados.

O Comprova entrou em contato com o usuário que fez a postagem no Facebook referente ao discurso de Bolsonaro, solicitando a fonte de informação. O usuário não respondeu o contato e, após receber a mensagem, apagou o post. Naquela altura, o conteúdo já havia sido compartilhado mais de 38 mil vezes.

Viralização

Outras duas postagens encontradas pelo Comprova no Facebook e feitas em 21 de março continuam no ar. Juntas, tiveram quase 7 mil compartilhamentos.

O jornal Observador e o site de fact-checking Polígrafo, ambos de Portugal, e o site brasileiro Aos Fatos também verificaram conteúdos com esses números a respeito da epidemia de covid-19 na Itália.

Saúde

Investigado por: 2020-03-25

Imagem de repórter com traje de proteção contra o coronavírus é tirada de contexto para atacar a mídia

  • Enganoso
Enganoso
Repórter não usou traje de proteção contra coronavírus "para causar pânico" como afirma post verificado pelo Comprova. Ela estava demonstrando uso de roupa produzida para médicos

A foto de uma repórter de TV vestida em traje completo de proteção no Líbano viralizou no Facebook no Brasil com legenda que acusa a mídia de fabricar pânico em torno da pandemia do novo coronavírus — já que o cinegrafista que captava as imagens não usava nenhum item de proteção. A realidade é que a jornalista paramentada produziu uma reportagem sobre uma fábrica local de roupas de proteção para profissionais da área da saúde e experimentou um dos trajes apenas para demonstrá-lo em uma aparição ao vivo na emissora em março deste ano.

A matéria foi divulgada no dia 18 de março pela Al Hadath, uma TV com base em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A repórter, Ghinwa Yatim, fez uma transmissão ao vivo de Beirute, no Líbano. Como ela explicou em seu Twitter, a reportagem focava em uma fábrica que produzia equipamentos médicos com materiais alternativos, uma vez que existe dificuldade em importar trajes para proteção contra o coronavírus em meio à crise da economia libanesa.

Na rede social, a repórter Yatim acrescentou que, durante a entrada ao vivo, afirmou que não havia motivo para pânico em Beirute. Ela frisou que só usou o traje para demonstrá-lo, e por isso o cinegrafista não precisou vesti-lo. O Comprova entrou em contato com uma jornalista da AFP em árabe, que confirmou o que Yatim disse nos vídeos.

Esta verificação investigou uma postagem feita por um perfil pessoal no Facebook. Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.

Como verificamos

Um comentário postado na publicação da foto no Facebook indicava o contexto original da imagem e fornecia links para a reportagem sobre a fábrica de trajes. A partir daí, o Comprova encontrou a conta de Ghinwa Yatim no Twitter, onde ela explica em inglês a motivação de sua matéria.

Por que a repórter usava um traje completo de proteção e o cinegrafista não?

A reportagem veiculada pela emissora Al Hadath mostrava a produção de trajes de proteção contra o coronavírus por mulheres libanesas para uso pela equipe médica de hospitais. A repórter Ghinwa Yatim explicou no Twitter que a fabricação local de roupas poderia reduzir a crise de importação de equipamentos no exterior.

Enquanto entrava ao vivo de uma rua de Beirute para falar da reportagem, Yatim foi gravada por uma terceira pessoa, o produtor e vídeojornalista Michael Downey. Ele publicou o vídeo em seu Twitter com críticas à repórter. Na rede social, Downey afirma ter feito trabalhos para veículos como New York Times e BBC.

Após a repercussão negativa do uso do traje de proteção, Yatim publicou uma thread no Twitter em que explica a reportagem. A jornalista explicou que estava experimentando um traje que foi especialmente produzido na fábrica para ela. A repórter informou também que usou a roupa apenas para falar sobre ela, e por isso não havia necessidade de o cinegrafista também usar o traje.

Yatim acrescentou que Beirut já estava em quarentena e ela escolheu uma rua mais vazia para gravar a entrada ao vivo. Até esta quarta-feira, 25, foram registrados 333 contágios por coronavírus no Líbano, com quatro mortes e oito recuperações.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a utilização de máscaras apenas por pessoas que tiverem contato com pacientes da covid-19 ou por aqueles que apresentarem sintomas como tosse e espirros.

Viralização

O produtor e vídeojornalista Michael Downey filmou Yatim e seu cinegrafista em Beirute, criticando o fato de a repórter estar em traje de proteção. Seu vídeo obteve 1,8 milhão de visualizações no Twitter desde o dia 18 de março. No Facebook, a foto da jornalista foi publicada por um usuário no dia 23 de março e obteve mais de 78 mil compartilhamentos desde então.

Comunicados

Projeto Comprova inicia checagem de conteúdos sobre o novo coronavírus

Tem início nesta quarta-feira (25 de março) um expediente especial do Projeto Comprova sobre o novo coronavírus, causador da covid-19. Os 24 veículos de comunicação que compõem a coalizão agora se dedicam a monitorar redes sociais e aplicativos de mensagens em busca de informações duvidosas sobre o vírus e a doença.

Além de reforçar a capacidade de verificação dos conteúdos já desenvolvida por diversas iniciativas no Brasil e no mundo, o objetivo da iniciativa é expandir a disseminação das informações verdadeiras. Fazem parte da coalizão do Comprova veículos impressos, radiofônicos, televisivos e digitais de grande alcance, como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, SBT, Band News FM e UOL, entre outros.

“A imprensa como um todo tem feito uma ótima cobertura direcionada para o coronavírus. O conteúdo informativo e de serviço está muito bom. Mas o conteúdo de verificação da desinformação que circula nas redes precisa ter seu alcance reforçado”, explica Sérgio Lüdtke, editor do Comprova.

É possível enviar ao projeto sugestões de conteúdos duvidosos e que podem ser verificados. No site, há o canal “Pergunte ao Comprova”, e os boatos também podem ser enviados por WhatsApp (11 97795-0022). Para acompanhar as verificações que serão produzidas, basta acessar o site do projeto e as redes sociais (Twitter e Facebook). Os 24 veículos membros da coalizão também replicarão as verificações em seus canais.

O presidente da Abraji, Marcelo Träsel, reforça que a iniciativa pretende contribuir com a capacitação dos cidadãos na hora de discernir o que é falso sobre a pandemia da covid-19. “Queremos desbancar os boatos nocivos, mas também instrumentalizar jornalistas e o público em geral para identificar as características dos embustes e ajudar a filtrar desinformação de forma autônoma”, afirma.

O expediente especial sobre o novo coronavírus conta com patrocínio de Google News Initiative (GNI), Facebook Journalism Project, First Draft, WhatsApp e apoio da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Checagens já feitas por agências de fact-checking e iniciativas de verificação

A International Fact-Checking Network | IFCN coordena uma aliança de mais de 100 iniciativas de checagem de quase 50 países que verificam informações duvidosas que circulam sobre coronavírus e a covid-19. Essas checagens são identificadas nas redes sociais com as tags #CoronaVirusFacts e #DatosCoronaVirus

Antes da volta do Comprova, agências de fact-checking, seções de verificação de veículos de comunicação e outras iniciativas de checagem já estavam investigando conteúdos suspeitos compartilhados nas plataformas, sites de internet e em aplicativos de mensagens. Confira as verificações publicadas por algumas delas:

Comunicados

Investigado por: 2019-12-18

Como foi a segunda fase do projeto Comprova

O projeto Comprova foi criado para verificar a veracidade de conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais durante as eleições presidenciais de 2018. Por três meses, jornalistas de 24 veículos de comunicação monitoraram redes sociais e aplicativos de mensagens para localizar e checar informações duvidosas relacionadas ao pleito.

Em 2019, o projeto voltou a reunir as 24 organizações e por cinco meses, de 15 de julho a 15 de de dezembro, colocou sua atenção em conteúdos duvidosos relacionados a políticas públicas no âmbito do governo federal.

Como os temas associados a políticas públicas são complexos e o ambiente político continuou tensionado após as eleições, o Comprova optou por fazer nesta segunda fase um jornalismo mais explicativo, agregando mais contexto as suas verificações.

As checagens em 2019 foram também mais complexas. As apurações exigiram mais tempo e esforço e demandaram narrativas mais atraentes. Nossas reportagens deveriam ser capazes de competir com as informações suspeitas, principalmente quando os conteúdos se mostraram falsos ou enganosos, com potencial de causar danos à sociedade.

Optamos por publicar verificações ainda mais transparentes, convidando os leitores para refazer os caminhos das investigações e compartilhamos com eles todos os materiais reunidos pelas apurações.

Outro ponto que se mostrou fundamental para validar nossas conclusões nessa segunda fase do Comprova foi a busca obsessiva pelas fontes originais, pela primeira publicação do conteúdo investigado. Determinar a primeira vez em que um conteúdo foi a público permite traçar o caminho completo percorrido por uma informação e localizar os pontos em que ela foi ganhando tração nas redes ou quando mudou o contexto original.

Inquirir essas fontes fez também com que pudéssemos, em alguns casos, provocar a publicação de desmentidos e erratas ou, no limite, fazer com que os perfis, páginas ou grupos apagassem os conteúdos falsos que haviam publicado.

Em cinco meses de trabalho, foram produzidas 77 reportagens que, multiplicadas pelas publicações em cada um dos veículos que fizeram parte da coalizão, se transformaram em ao menos 520 artigos.

Todas essas verificações foram feitas colaborativamente por jornalistas de distintos veículos e checadas por ao menos outros três meios de comunicação para que estivessem aptas para publicação. O Comprova também preparou alguns estudos de caso para mostrar como foram feitas as verificações.

No encerramento desta segunda fase do Comprova, gostaríamos de nominar as equipes de investigação e de apoio que trabalharam durante os cinco meses do projeto.

Equipe de Redação

Alessandra Monnerat

Amanda Miranda

Ana Carolina Santos

Bernardo Barbosa

Bianca Giacomazzi

Camila Caroline Cecilio

Carlos Mazza

Cecília Sorgine

Cido Coelho

Cinthia Macedo

Clara Cerioni

Clarissa Pacheco

Eric Raupp

Gabriel Ruggiero (estagiário)

Geraldo Campos Jr

Giordano Moreira Pienegonda (estagiário)

Helio Miguel Filho

Isabel Marquezan

José Antonio Lima

João Pedro Caleiro

Karla Torralba

Larissa Neumann

Lucas Jozino

Mahila Ames de Lara

Marcel Hartmann

Maria Clara Pestre

Marina Cid

Mariana Vick

Paulo Roberto Netto

Renata Galf

Romulo Tesi

Sérgio Lüdtke

Tiago Aguiar

Vanessa Selicani

Equipe de gestão

Adriana Garcia

Adriana Miziunas

Pedro Noel (First Draft)