O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2020-05-06

Ao contrário do que afirma blog, OMS recomenda isolamento como uma das medidas de combate ao novo coronavírus

  • Enganoso
Enganoso
Declaração de uma porta-voz da OMS foi tirada de contexto para dar a entender que a organização não recomenda o confinamento como ferramenta de combate ao novo coronavírus. O Comprova verificou a declaração original e está claro que a recomendação é que não se utilize o isolamento como única medida de combate

É enganosa a afirmação de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda o confinamento como estratégia de combate ao novo coronavírus. Ela foi divulgada pelo blog Estibordo, que tem uma seção dedicada a traduzir artigos de viés político de direita. O texto, compartilhado pela página do grupo no Facebook, foi baseado na entrevista de Margaret Harris, porta-voz da OMS, para o jornal The Sydney Morning Herald, sobre o afrouxamento da quarentena na Austrália.

O título “OMS diz que nunca aconselhou a aplicação de confinamento como medida para o combate ao coronavírus” desinforma o leitor, já que ao longo do texto fica claro que a declaração da representante da OMS é no sentido de que a organização não recomenda o isolamento como a única medida de combate à pandemia.

Por que investigamos isso

O Comprova monitora conteúdos duvidosos sobre coronavírus e sobre a covid-19 e encontrou o link para esse texto sendo compartilhado nas redes sociais. Também recebeu de seus leitores solicitações de checagem. A decisão pela checagem considerou dois aspectos:

  1. Um estudo feito por pesquisadores brasileiros apontou que o Brasil deve ser o próximo epicentro de contágio do novo coronavírus no mundo. Como ainda não há medicamento para tratar a covid-19 nem vacina para preveni-la, medidas de isolamento e distanciamento social são apontadas por autoridades sanitárias como as únicas maneiras de reduzir a contaminação do novo coronavírus.
  2. O Comprova verifica a veracidade de conteúdos suspeitos sobre coronavírus e a covid-19 que tenham grande viralização. O texto verificado está presente em mais de uma centena de postagens no Twitter e no Facebook.

Enganoso para o Comprova é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

Como verificamos

Começamos com o artigo original citado no texto do Estibordo, uma reportagem do jornal australiano The Sydney Morning Herald. Também entramos em contato com o escritório da Organização Mundial da Saúde no Brasil para confirmar que a entrevistada, Margaret Harris, trabalha como porta-voz da organização e quais são as diretrizes para o isolamento social recomendadas pela OMS.

Por fim, procuramos informações sobre o combate ao novo coronavírus nos site do Ministério da Saúde da Austrália e na imprensa local.

O que consta na declaração original

O texto publicado no blog Estibordo foi traduzido de um artigo originalmente publicado em francês pelo site russo Sputnik. Na página “Quem somos?”, a Sputnik se identifica como uma agência de notícias da Rússia e afirma que pertence à Empresa Federal Estatal Agência Internacional de Notícias Rossiya Segodnya.

Tanto o artigo em francês quanto a tradução brasileira usam a palavra “nunca” no título (“OMS diz que nunca aconselhou a aplicação de confinamento como medida para o combate ao coronavírus”) e, com isso, passam a impressão de que a organização é contra as medidas de isolamento em geral.

A declaração da porta-voz da Organização Mundial da Saúde foi tirada de contexto. A matéria original, publicada pelo jornal The Sydney Morning Herald, é sobre o afrouxamento das medidas de isolamento na Austrália. Na entrevista, Margaret Harris afirma que a Austrália e a Nova Zelândia são exemplos de combate à pandemia porque fizeram uma quarentena rigorosa e colocaram em prática medidas para identificar a disseminação do novo coronavírus entre a população. “Nunca dissemos façam lockdown — dissemos identifiquem, façam o rastreamento e acompanhem o desenvolvimento dos casos, isolem e tratem os doentes”, disse Harris.

O texto também confunde ao misturar conceitos diferentes: distanciamento social, isolamento e lockdown. Para a OMS, distanciamento social são as medidas aplicadas a entornos sociais específicos, ou à sociedade em sua totalidade, para reduzir o risco de adquirir ou difundir a covid-19. O lockdown é a forma mais radical, quando as pessoas são proibidas de sair de casa — salvo exceções como atendimento médico. Já o isolamento (também chamado de “confinamento”) é a separação de pessoas que já estão doentes para não propagar a infecção ou contaminação. De acordo com a assessoria de imprensa da OPAS, braço pan-americano da OMS, “distanciamento social e isolamento são algumas das medidas não farmacológicas recomendadas no contexto da covid-19”.

A crítica de Harris, da OMS, é aos países que implantaram políticas de lockdown inspiradas nas medidas colocadas em prática em Wuhan, primeira cidade onde o novo coronavírus foi detectado na China, sem a aplicação de outras políticas de controle, como o rastreamento de todos que tiveram contato com doentes para o isolamento dessas pessoas e o testes realizados em massa na população. “É muito mais do que apenas fechar tudo”, disse Harris.

Situação na Austrália

A Austrália conseguiu achatar a curva da doença. O país estava mais vulnerável pela proximidade (geográfica e comercial) com a China e pelos navios de cruzeiro que circulam por lá. Os resultados positivos se devem a uma ação rápida do governo logo que os primeiros casos foram confirmados, em 20 de janeiro. Até o dia 05 de maio, o país tinha registrado 6.849 pessoas infectadas pela covid-19 e apenas 96 mortes.

A porta-voz da OMS também elogiou a forma como o país, e a Nova Zelândia, “levaram a pandemia realmente a sério, insistindo que era um caso grave, e comunicando isso para a população”, disse ao The Sydney Morning Herald.

As medidas de distanciamento social na Austrália foram estabelecidas pelos estados. Mas todas tinham em comum o rigor. As autoridades de saúde rastrearam os doentes, que ficaram isolados. Quem teve contato com pessoas infectadas ou chegou ao país depois do dia 15 de março também teve que ficar confinado. Além disso, foram realizados testes em massa na população. Com a redução no número de os casos, a partir da última semana de abril os estados tiveram a autorização do governo federal para começar uma volta gradual à normalidade.

Contexto

Textos afirmando que medidas de isolamento social e quarentena são ineficazes têm se espalhado por veículos e grupos de mensagem de direita, muitas vezes acompanhados de mensagens que estimulam a volta das atividades econômicas. O Projeto Comprova já verificou conteúdo com informações da OMS divulgadas de maneira enganosa em outra ocasião.

O blog Estibordo divulga conteúdos de direita, muitas vezes já publicados fora do Brasil. “Nesta seção trazemos traduções feitas por nossa equipe dos maiores escritores ao redor do mundo defendendo a causa da direita no cenário político atual”, diz a descrição da seção “Tradutores de Direita”, que também dá nome ao grupo de Facebook ligado ao blog. Os posts mais recentes do grupo trazem críticas ao governador de São Paulo, João Doria, e às medidas de isolamento adotadas pelo Estado. Esses questionamentos aparecem, inclusive, na publicação com o link do texto, embora o conteúdo não tenha nada a ver com as políticas paulistas.

O Comprova entrou em contato com os autores do blog pelo Facebook, mas não obteve resposta.

Alcance

A publicação do blog Estibordo divulgada no grupo de Facebook Tradutores de Direita teve 623 compartilhamentos até o dia 05 de maio. No Facebook, encontramos outras 60 postagens do mesmo conteúdo. No post que mais viralizou no Twitter, o texto traduzido foi curtido 564 vezes até a mesma data e tuitado por outros 45 perfis. Mas uma publicação da mesma usuária com a versão do conteúdo em francês, publicada pela agência Sputnik, teve muito mais alcance, com mais de cinco mil curtidas.

Saúde

Investigado por: 2020-05-05

Registros de óbitos em cartórios confirmam dados da pandemia no Brasil

  • Falso
Falso
Texto de corrente de WhatsApp diz que "não há epidemia" e mostra números que seriam do Portal da Transparência. O Comprova verificou, no entanto, que esses números não condizem com os verdadeiros dados disponíveis na plataforma

Uma corrente de Whatsapp utiliza falsos dados de óbitos por covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus – para contestar a dimensão real da pandemia. O texto diz que os números são do Portal da Transparência, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), mas eles não condizem com os verdadeiros dados disponíveis na plataforma.

Na primeira frase da mensagem falsa, a publicação diz que não há “epidemia”. Tal desinformação é perigosa uma vez que pode corroborar com teorias conspiratórias sobre um “falso alarde” relacionado à doença. A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou em 11 de março que a propagação do novo coronavírus caracteriza uma pandemia, ou seja, que o vírus se alastra mundialmente.

De acordo com o site Worldometer, até as 14:40 de 5 de maio a doença já havia infectado 3.693.797 pessoas no mundo e registrou 255.595 óbitos. A mentira sobre a covid-19 não existir também pode influenciar as pessoas a descumprirem medidas de isolamento social, impostas para tentar frear as infecções do vírus, e saírem de casa, aumentando a propagação da doença.

Por que checamos isto?

O número de mortos pela covid-19 e a quantidade de novos casos são fundamentais para se compreender a progressão da doença. Os dados dão norte às autoridades públicas para adotar medidas de prevenção e combate ao avanço das infecções.

Boatos que questionam sem comprovação os números de mortes divulgados pelo Ministério da Saúde podem levar as pessoas a adotar comportamentos que as coloquem em risco e ajudem a disseminar ainda mais a doença.

Falso para o Comprova é o conteúdo que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Para escrever esta reportagem o Comprova contatou a assessoria dos Cartórios, consultou o regulamento sobre o procedimento para registrar mortes no Brasil e reportagens sobre a covid-19.

Também conferiu o número de óbitos registrados em 2019 e os comparou com os de 2020, assim como faz a publicação falsa.

O que dizem os dados do Portal da Transparência do Registro Civil

Ao receber o alerta sobre a viralização do texto, o Comprova acessou o Portal da Transparência do Registro Civil para conferir os dados e verificar a autenticidade da plataforma. A ferramenta foi lançada em 2018 para disponibilizar o número de óbitos, nascimentos e casamentos registrados no país. Ela é abastecida diretamente pelos dados da Central de Informações do Registro Civil (CRC), estabelecida em 2015.

O Portal da Transparência elaborou uma página exclusiva com informações sobre a covid-19. Nela, estão disponíveis dados de óbitos com causa suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus, insuficiências respiratórias e pneumonia, divididos por data da morte e do registro em cartório.

Os dados podem diferir um pouco dos apresentados pelo Ministério da Saúde por causa dos prazos legais estabelecidos por lei e normas do Poder Judiciário. A família do falecido tem até 24h para registrar o óbito em cartório. Este, por sua vez, deve efetuar o registro em até cinco dias e, dentro de oito dias, enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza a plataforma.

A assessoria de comunicação da associação de cartórios disse que os grandes centros atualizam os dados “em tempo próximo do real”. Já municípios menores ou afastados podem demorar mais, mas prestam as informações dentro do prazo legal. Assim, a plataforma é atualizada “à medida que os dados são lançados no portal, inclusive de forma retroativa”. Os números presentes nesta verificação foram consultados às 14h50 de 5 de maio.

Insuficiência respiratória e pneumonia

O Comprova verificou os dados sobre mortes por insuficiência respiratória no período de 1º de janeiro a 21 de abril de 2019 e 2020. Segundo o texto falso compartilhado nas redes sociais, os óbitos registrados teriam sido “mais de 4.600” em 2019, enquanto o número no mesmo período deste ano seria de “cerca de 4.200”. Os número não são verdadeiros e, mesmo que fossem, significariam uma redução de 8,6%, e não de 9,5% como a falsa publicação afirma.

O Portal da Transparência registra 45.468 casos de insuficiência respiratória entre 1º de janeiro e 21 de abril de 2019 e 46.440 no mesmo período deste ano — aumento de 2,1%.

Os números de óbitos registrados com causa de pneumonia também estão errados no texto falso. Enquanto o texto compartilhado nas redes sociais inclui a enfermidade entre os óbitos computados dentro da categoria “insuficiência respiratória”, o Portal da Transparência classifica esta causa de morte de forma separada e aponta aumento de 0,7% no período de 1º de janeiro a 21 de abril de 2020 com relação ao mesmo período no ano passado (variação de 59.618 para 60.038).

Covid-19

O texto que viralizou nas redes sociais também traz dados equivocados sobre o número de mortes pela covid-19. Ele afirma que “o pior dia da pandemia” teria sido 20 de abril, quando teriam morrido “mais de 300” pessoas com a doença, ao passo que nos cartórios constaria o registro de apenas 21 mortes.

Os dados oficiais disponíveis no portal da covid-19 do Ministério da Saúde mostram que entre 19 e 21 de abril foram confirmadas 279 mortes. Já os dados do portal dos cartórios mostra que em 20 de abril foram 302 mortos confirmados ou com suspeita da covid-19 como causa. Enquanto os dados do Ministério da Saúde apontam óbitos com causa confirmada no período de 24 horas, os cartórios disponibilizam os números pela data da morte.

A corrente do Whatsapp segue com a falsa informação que os cartórios registraram “um único óbito como suspeito de covid-19” no Estado de São Paulo e acusa a imprensa de “alardear a existência de uma mortandade avassaladora no estado”. Na verdade, o portal dos cartórios mostra 102 mortes em São Paulo no mesmo dia.

Quanto a Manaus, o texto compartilhado nas redes sociais diz que “enquanto a televisão anunciava 136 sepultamentos somente em 21 de abril, os cartórios registraram apenas oito óbitos”. Este número aponta o total de sepultamentos, não apenas os confirmados ou com suspeita de covid-19. Consulta ao Portal da Transparência mostra que, na verdade, as mortes com suspeita ou confirmação de coronavírus foram 17. Caso se leve em consideração a data do registro das mortes, foram nove em 21 de abril.

Manaus é uma das cidades mais prejudicadas pela covid-19 no Brasil. O Amazonas foi o primeiro estado brasileiro a ter colapso no sistema de saúde. Atualmente, contabiliza 6.683 casos da covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde.

Contexto

Os dados sobre as mortes de covid-19 tornaram-se alvo de desinformação para questionar a dimensão da pandemia e a real necessidade do fechamento do comércio e estabelecimentos e da restrição da circulação de pessoas.

Este tipo de dado sofre diferentes formas de ataques. O Projeto Comprova já verificou, por exemplo, que uma foto antiga foi tirada de contexto para dizer que governos estariam enterrando caixões vazios para aumentar o número de sepultamentos e instigar pânico na população. Outro boato acusava o governador da Bahia, Rui Costa (PT), de solicitar a prefeitos que mentissem com relação aos números.

Alcance

A corrente do Whatsapp chegou a ser repercutida pelo blog RVCHUDO nesse sábado, 2. O texto foi postado no Facebook e recebeu mais de 10 mil compartilhamentos e 172 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-05-05

Áudio de médico é verdadeiro, mas opinião sobre origem do coronavírus não tem respaldo científico

  • Comprovado
  • Enganoso
Comprovado
O áudio foi realmente gravado por Roberto Zeballos
Enganoso
Ao comentar sobre tratamento para a covid-19, o médico afirma a outro profissional que o coronavírus “veio de um laboratório de Wuhan”, mas não há evidências disso e um estudo publicado pela Nature Medicine descarta a hipótese.

Áudio em circulação no WhatsApp traz afirmações duvidosas ditas pelo imunologista Roberto Zeballos e endereçadas a outro médico, Lucas Barbieri, sobre a origem do novo coronavírus. A conversa sobre as possibilidades de tratamento da covid-19 — doença causada pelo vírus — foi registrada na quarta-feira, 29 de abril, e viralizou pelo aplicativo. O Comprova confirmou a autenticidade do material com as duas fontes.

No início da gravação, Zeballos afirma que o novo coronavírus “veio de um laboratório ao lado de Wuhan” e que o governo da China estaria escondendo a informação. Segundo ele, uma pesquisadora chinesa estaria utilizando o vírus para estudos sobre inflamação pulmonar quando um “acidente” teria dado início à pandemia. As afirmações, no entanto, não apresentam respaldo científico.

Estudo publicado pelo periódico médico Nature Medicine, em 17 de março, concluiu que “claramente” o vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, “não é uma construção de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”. Segundo os pesquisadores, as características genéticas do novo coronavírus indicam que ele é fruto da seleção natural, ocorrida em um animal ou uma pessoa.

Em entrevista ao Comprova, Roberto Zeballos disse que o áudio é “opinião pessoal” e que a colocação é “irrelevante” porque não pode provar. Ele justifica o conteúdo pelas declarações recentes do virologista francês Luc Montaigner, vencedor do Prêmio Nobel de Medicina em 2008, e entende que é “muita coincidência” a localização do laboratório de Wuhan próxima ao epicentro da pandemia.

Por que checamos isto?

O Comprova recebeu diversos pedidos de leitores para verificação do áudio nos últimos dias, o que indica forte circulação do material no WhatsApp.

Chamou a atenção que o suposto autor do áudio era o médico Roberto Zeballos, cuja entrevista à Rede Record sobre tratamento de covid-19 com corticoides e antibióticos foi distorcida em boato que afirmava ter sido encontrada a “cura oficial” da doença ao longo do mês de abril.

Além disso, postagens falsas sobre a origem do novo coronavírus são comuns nas redes sociais, acompanhando embates entre líderes políticos mundiais e teorias infundadas de que a China teria “fabricado” o vírus por razões econômicas. Tais afirmações fragilizam a relação entre o Brasil e a China — principal parceiro comercial brasileiro. O Comprova já fez outras verificações sobre o mesmo assunto.

Comprovado, para o Projeto Comprova, faz referência a fatos verdadeiros, eventos confirmados, localização comprovada ou conteúdo original publicado sem edição. A etiqueta foi escolhida com base no último critério.

Enganoso, para o Comprova, é um conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O autor do áudio se apresenta como “doutor Zeballos”. A reportagem entrou em contato por telefone com o médico Roberto Zeballos, que havia sido fonte em verificação recente e confirmou a autoria. Ele também explicou o contexto da gravação, respondeu perguntas sobre o conteúdo e confirmou o nome do destinatário.

Com base no conteúdo do áudio, o Comprova pesquisou o nome do destinatário, Lucas Barbieri, no LinkedIn, e encontrou o perfil de um cirurgião cardiovascular com atuação em São Paulo. Ele foi contatado por e-mail e mensagens, bem como telefone da clínica, e confirmou o recebimento da mesma gravação na semana passada.

Por fim, o Comprova realizou a transcrição do áudio e verificou as afirmações com base em notícias, pesquisas e verificações feitas anteriormente acerca de boatos sobre a origem do novo coronavírus.

Do que se trata o áudio?

O autor do áudio que circula no WhatsApp é o médico Roberto Zeballos, que atua em consultório próprio, em São Paulo, e nos hospitais Vila Nova Star, Sírio-Libanês e Albert Einstein. Recentemente, Zeballos concedeu entrevista à Rede Record afirmando ter obtido resultados clínicos animadores com o tratamento de pacientes com covid-19. Uma cópia desse vídeo viralizou nas redes sociais e a ela foi agregada por um perfil no Facebook uma descrição falsa de que teria sido encontrada a “cura oficial” para a doença, boato que o Comprova desmentiu em abril.

De acordo com relato de Zeballos, confirmado pelo Comprova com o interlocutor da conversa, o áudio em circulação foi encaminhado ao cirurgião cardiologista Lucas Barbieri por intermédio de um paciente em comum, no dia 29 de abril. Barbieri atua nas instituições Beneficência Portuguesa de São Paulo, HCOR, Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Hospital Santa Catarina (ACSC).

Zeballos afirma que a intenção era compartilhar com o colega experiências que estariam dando certo no tratamento de seus pacientes, enquanto aguarda a finalização de estudo, o que deve ocorrer apenas em junho. Segundo ele, a ideia era “ver se eles incluem o protocolo que a gente está fazendo”. Barbieri disse que contatos do tipo entre profissionais da saúde são comuns nessa pandemia, principalmente pelo fato de que a covid-19 é um desafio novo e os casos aumentam a cada dia. Ele não atua, porém, diretamente no atendimento a pacientes com a doença.

Conteúdo enganoso

Antes da descrição do tratamento que defende, Zeballos faz afirmações duvidosas no áudio sobre a origem do novo coronavírus. “Esse vírus veio lá da China, de um laboratório ao lado de Wuhan, onde tem uma chinesinha que pesquisava inflamação pulmonar com o vírus. O coronavírus era um vírus bom, porque ele infectava os animais, e ela estudava”, diz o médico. “Esse laboratório está a 200 metros de Wuhan, então houve um acidente […] Houve um acidente, saiu e espalhou.”

No entanto, não há respaldo científico de que o novo coronavírus seja artificial ou tenha sido fabricado. Pelo contrário: estudo publicado pelo conceituado periódico médico Nature Medicine, em 17 de março, analisou o genoma do vírus que provoca a covid-19 (SARS-CoV-2) e concluiu que “claramente não é uma construção de laboratório ou um vírus propositadamente manipulado”. Segundo os pesquisadores, as características genéticas do vírus, o sétimo coronavírus a infectar seres humanos, indicam que ele é fruto de seleção natural, ocorrida em um animal ou em uma pessoa.

Em 19 de fevereiro, 27 cientistas publicaram uma declaração de apoio aos profissionais da China contra a covid-19 no periódico The Lancet. O texto afirma, entre outros tópicos, que o trabalho estava sendo “ameaçado por rumores e desinformação” sobre a origem da pandemia e que o grupo “condena fortemente teorias da conspiração sugerindo que a covid-19 não tem origem natural”. Além do estudo do Nature Medicine, foram citadas outras oito pesquisas com conclusões semelhantes.

A hipótese de “acidente” no Instituto de Virologia de Wuhan também foi negada pela virologista Shi Zhengli, que lidera pesquisas sobre diferentes tipos de coronavírus a partir de amostras coletadas de morcegos desde 2003, quando a Ásia foi afetada pela epidemia de SARS. Em entrevista à revista Scientific American, ela disse que o laboratório verificou as sequências genéticas dos vírus circulando na China e nenhuma delas coincidiu com a dos vírus com que sua equipe trabalhava.

Pesquisadores ouvidos pela Vox ainda rejeitam a teoria de acidente em laboratório ao afirmar que as probabilidades de contaminação no meio selvagem são muito maiores. O ecologista de doenças Peter Daszak cita estudo de 2018 na província de Yunnan, na China, em que descobriu que 2,7% da população próxima a cavernas havia desenvolvido anticorpos. “Se você extrapolar para a população presente em todo o Sudeste Asiático, são 1 milhão a 7 milhões de pessoas por ano sendo infectadas por vírus de morcegos.”

Outro argumento é que não existe evidência de que os cientistas de Wuhan estariam trabalhando com o novo coronavírus — o mais próximo que estes descobriram, segundo estudos publicados, foi o vírus RaTG13, que compartilha 96% do genoma com o SARS-CoV-2. Porém, os pesquisadores entrevistados pela Vox afirmam que uma diferença de 4% é “enorme em termos evolutivos”.

Zeballos também cita no áudio uma declaração recente do virologista francês Luc Montaigner de que o vírus teria sido criado em meio ao desenvolvimento de vacina contra o HIV no local, versão contestada por outros especialistas e pelo diretor da unidade de virologia e imunologia do Instituto Pasteur, da França, Olivier Schwartz. Argumenta ainda que o fato de o novo coronavírus ser transmitido “em qualquer clima” seria um indício de artificialidade — o Comprova não encontrou referências ou estudos que embasem essa teoria.

No áudio, o médico também afirma que teria recomendado tratamento ao cardiologista Roberto Kalil Filho, do Hospital Sírio-Libanês. “Conversei com o Kalil ontem, ele me autorizou a falar que fui que falei para ele tomar o metilprednisolona que salvou ele”. Procurado pela reportagem, Zeballos negou a prescrição, disse que apenas conversou com o médico por mensagens, e que o tratamento foi decidido pelos médicos que o atendiam. Sobre a eficácia do medicamento, diz que é sua “impressão” e que “aguarda estudos”. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada em 10 de abril, Kalil Filho declarou ter sido tratado com cloroquina, antibióticos, corticoides e anticoagulantes e que “não dá para saber o que fez mais efeito ou se foi o conjunto”.

Outro ponto confuso do áudio é o trecho em que o Hospital Israelita Albert Einstein é citado. Zeballos diz o seguinte: “[…] quem tiver menos resistência não aguenta ficar muito tempo no tubo. As pessoas jovens aguentam. Tanto que, no Einstein, a gente entubou mais de 40 pessoas. No Vila Nova, os meus casos não precisaram ser entubados”. A instituição questionou o número de pacientes atendidos e o médico justificou que, ao falar “a gente”, fazia referência à classe médica.

A nota do Hospital Israelita Albert Einstein, divulgada em 4 de maio, afirma que o protocolo mencionado no áudio para tratamento de pacientes com covid-19 “não é o utilizado pela organização, pois todas as diretrizes adotadas pelo Einstein baseiam-se em evidências científicas e não na experiência isolada de um médico” e que “o profissional (Zeballos) não cuidou de número expressivo de pacientes no hospital conforme comenta em seu áudio.”

Contexto

Boatos sobre a origem do novo coronavírus na China são comuns nas redes sociais. Recentemente, o Comprova mostrou que o Nobel de Medicina Tasuku Honjo nunca disse que o coronavírus é artificial e esclareceu que reportagem de TV italiana sobre vírus criado em laboratório chinês não tem relação com a covid-19, por exemplo.

As notícias falsas também refletem críticas e acusações de líderes políticos, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em 1º de maio, questionado por jornalistas se estava vendo algo que o deixasse altamente confiante de que a origem do vírus seria o Instituto de Virologia de Wuhan, Trump respondeu: “Sim, eu tenho”, sem detalhar o comentário. O presidente norte-americano disse ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) “deveria se envergonhar por agir como agência de relações públicas da China”.

A suspeita emergiu com a revelação de observações de diplomatas dos Estados Unidos em 2018. De acordo com a coluna do jornalista Josh Rogin, do jornal The Washington Post, diplomatas alertaram há dois anos sobre a precariedade dos níveis de segurança de pesquisas com coronavírus de morcego realizadas no Instituto de Virologia de Wuhan. Órgãos de inteligência, no entanto, afirmaram na sexta-feira (30) que concordam “com o amplo consenso científico de que o vírus da covid-19 não foi feito pelo homem ou geneticamente modificado”.

Em 18 de março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho 03 do presidente Jair, causou tensão entre o Brasil e a China ao culpar o país asiático pela pandemia. No Twitter, a embaixada da China rebateu as acusações e disse que Eduardo fazia acusações irresponsáveis.

Apesar de as evidências apontarem para origem natural do vírus, cientistas ainda estão pesquisando de que forma ele entrou em contato, pela primeira vez, com humanos. Relatórios de autoridades de saúde chinesas e da Organização Mundial da Saúde (OMS) trabalhavam com a hipótese de que a doença se alastrou a partir de um mercado de frutos do mar da cidade de Wuhan. No entanto, estudo publicado no The Lancet em 24 de janeiro mostra que 13 dos 41 primeiros casos registrados não tinham relação com o mercado, enfraquecendo a tese. Especialistas ainda realizam pesquisas para descobrir se existiu algum hospedeiro intermediário.

Alcance

O Comprova recebeu de seus leitores diversas solicitações de verificação. O áudio tem sido compartilhado pelo WhatsApp e também foi encontrado em perfis no Twitter.

Saúde

Investigado por: 2020-05-04

Foto de caixão vazio não é atual nem foi tirada no Amazonas

  • Enganoso
Enganoso
Imagem que circula nas redes sociais é de 2017, foi tirada em São Paulo e publicada em uma reportagem que denunciava um golpe para resgate de seguro de vida

Uma publicação que contém a foto de um caixão aberto com um travesseiro dentro tem sido compartilhada nas redes sociais denunciando que caixões vazios estão sendo enterrados no estado do Amazonas. A imagem, contudo, não foi feita no Amazonas e nem mesmo no contexto da pandemia do coronavírus. A foto foi tirada em 2017 pelo repórter fotográfico Milton Rogério, do portal São Carlos Agora, e publicada em uma reportagem sobre golpe de seguro de vida.

Além da foto do caixão aberto, a publicação também mostra a imagem de um cemitério em Manaus, com uma fileira de caixões em uma vala, e afirma que a denúncia foi divulgada pelo Jornal da Band. A Prefeitura de Manaus garantiu que caixões não estão sendo enterrados vazios no município e que foi necessário abrir trincheiras em um dos cemitérios da cidade devido ao alto número de óbitos. A TV Band negou que tenha veiculado qualquer reportagem com o conteúdo da mensagem.

Por que investigamos isso?

O Comprova recebeu o conteúdo para investigação via WhatsApp e alguns motivos foram considerados para abrir uma verificação:

  1. Mensagens que tentam minimizar os efeitos da pandemia e questionam informações fornecidas por órgãos oficiais têm se tornado frequentes no Brasil.
  2. A mensagem viralizou em diferentes redes sociais, inclusive com versões adaptadas. Um post no Facebook publicado em um perfil pessoal no dia 23 de abril foi compartilhado por 12 mil pessoas. No instagram, a mensagem compartilhada pelo perfil “foracorruptosoficial”, que tem 107 mil seguidores, tinha 2.223 curtidas até esta sexta-feira (01).
  3. O Amazonas tem a maior taxa de mortalidade pelo coronavírus no país. Na capital, Manaus, a prefeitura precisou abrir uma vala para conseguir realizar os sepultamentos. Na última semana, mais de 100 pessoas foram sepultadas em um único dia. Diante desta situação crítica, a acusação de que caixões estariam sendo sepultados vazios é grave.
  4. A publicação contém uma foto curiosa, de um caixão com um travesseiro, o que levaria muitas pessoas a acreditar no conteúdo da mensagem. Além disso, o texto afirma que a informação foi divulgada por uma emissora de TV.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.

Como verificamos?

Para verificar a origem das fotos, o Comprova usou o Google Imagens para fazer uma pesquisa reversa e descobriu que a foto que mostra o travesseiro dentro de um caixão foi publicada em 2017, em uma reportagem do portal São Carlos Agora que denunciava um golpe de seguro de vida.

A matéria contava a fraude orquestrada por uma família de São Carlos, interior de São Paulo, que teria enterrado um caixão com apenas um saco de serragem dentro, para forjar uma morte e obter indenizações de seguradoras.

Com a viralização da mensagem, o portal São Carlos Agora publicou uma nota explicando a origem da foto e afirmou que ela está sendo usada para espalhar informações falsas.

O Comprova também entrou em contato com a rede Bandeirantes e com a Prefeitura de Manaus, que administra o cemitério onde a segunda foto foi tirada.

Por mensagem, a Band Amazonas disse que “tem produzido matérias diariamente para o Jornal da Band falando da situação da saúde no estado do Amazonas, mas em nenhuma das reportagens relatou que caixões estavam sendo enterrados vazios”.

Já a prefeitura de Manaus afirmou, por e-mail, que “não estão sendo enterrados caixões vazios nos cemitérios públicos da cidade”. Segundo a prefeitura, o sistema de valas foi adotado em um dos cemitérios do município devido ao aumento do número de sepultamentos na capital. “O número de sepultamos mais que triplicou nas últimas semanas, saindo de uma média diária de 30 sepultamentos antes da pandemia de covid-19 e já ultrapassando os 100 enterros por dia”, informou a prefeitura.

A covid-19 no Amazonas

Com alto pico de casos de coronavírus e unidades de tratamento intenso apenas em Manaus, o Amazonas foi o primeiro estado brasileiro a ver o sistema de saúde entrar em colapso. Atualmente o Amazonas contabiliza 6.683 casos da covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde.

Em números absolutos, o Estado ocupa o quinto lugar no ranking de mortes causadas pela Covid-19 no Brasil – eram 548 até a manhã desta segunda-feira (04). O Estado tem a maior taxa de mortalidade da doença, de 132 por 1 milhão de habitantes. Muitos pacientes têm morrido em casa, a espera de leito.

Só em Manaus foram registradas 396 mortes, segundo o boletim divulgado pelo governo do Estado. O alto número de mortes na capital levou a Prefeitura de Manaus a abrir valas em um cemitério da cidade para sepultar os caixões. Em abril, o município registrou 2.435 sepultamentos, um aumento de 179,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

A situação crítica do Amazonas tem preocupado o Ministério da Saúde, que enviou médicos, respiradores e equipamentos para o Estado, além de abrir vagas para contratação temporária de profissionais de saúde. Neste domingo (03), o ministro da Saúde, Nelson Teich, desembarcou em Manaus com um reforço de profissionais para ajudar no combate do coronavírus.

Alcance

Até esta segunda-feira (04), a publicação no Facebook tinha sido compartilhada por 12 mil pessoas, mas já havia sido sinalizada como falsa pelo Facebook em parceria com a Agência Lupa, que realizou a checagem do conteúdo. No instagram, uma versão adaptada da mensagem tinha sido curtido por 2.223 seguidores do perfil ForaCorruptosOficial.

Esta verificação também foi feita por Aos Fatos, Boatos.org, O Globo, e Agência Lupa.

Saúde

Investigado por: 2020-05-01

Vídeo usa informações falsas para dizer que lockdown foi inútil e pico de covid-19 ficou para trás

  • Enganoso
Enganoso
Teoria é baseada em estudo publicado por pesquisador israelense no Facebook, sem passar por revisão, mas instituições como OMS, Imperial College London e Universidade Johns Hopkins apontam o contrário. Brasil registrou recorde de novos casos nesta quinta-feira (30)

Vídeo publicado no YouTube engana ao afirmar que “dados confirmam” que o pico da covid-19 no mundo já passou e o lockdown adotado por alguns países foi inútil. A afirmação é baseada em estudo de um professor israelense da Universidade de Tel Aviv, publicado em sua conta pessoal no Facebook, sem passar pela revisão de outros especialistas.

O vídeo, inclusive, diz que o Brasil já atingiu o pico da doença e que o número de casos está em queda. A afirmação é falsa. O país registrou recorde de novos casos nesta quinta-feira (30), com 7.218 novas confirmações da doença e 435 novas mortes registradas.

Em todo o mundo, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, o número de casos confirmados apresentou uma estabilização, mas ainda não apresenta sinais de queda.

Relatório publicado na terça-feira (28) pelo Imperial College London afirma que apenas quatro países devem ter queda no número de casos na próxima semana, enquanto nove (incluindo o Brasil) devem ter aumento expressivo.

Quanto ao lockdown e outros tipos de regras de isolamento social, a Organização Mundial da Saúde defende ser uma medida necessária para controlar a disseminação do novo coronavírus e evitar o colapso dos sistemas de saúde. Estudo do Imperial College London afirma que as medidas restritivas evitaram até 120 mil mortes na Europa.

O autor faz outras afirmações falsas ao longo do vídeo, como a de que o governo de Israel não teria adotado o lockdown, que o Brasil apresentaria o menor número de casos por milhão no mundo e que a Coreia do Sul teria zerado a epidemia.

O Comprova entrou em contato com o autor do vídeo, que preferiu não conversar com a reportagem.

Por que investigamos esse conteúdo?

O Comprova recebeu pedidos de leitores para verificação do conteúdo. A decisão levou em conta três aspectos.

  1. Boatos que diminuem a gravidade da pandemia de covid-19 e se mostram contrários a medidas de isolamento social podem ser prejudiciais à saúde das pessoas. Elas podem acreditar em informações falsas e tomar menos precauções.
  2. Chamou a atenção ainda o fato de que estudos e pesquisas têm sido distorcidas com frequência durante a pandemia do novo coronavírus, na tentativa de conferir “peso científico” a argumentos pessoais. Recentemente, o Comprova verificou conteúdos que distorciam conclusões de pesquisa de Harvard e inventavam que estudo brasileiro teria encontrado a “cura oficial” para a covid-19, por exemplo.
  3. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O vídeo investigado obteve quase 300 mil visualizações no YouTube até esta quinta-feira (30).

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos?

O Comprova fez uma lista das afirmações feitas no vídeo e verificou cada uma delas, buscando fontes originais e acessando estudos de universidades reconhecidas, conteúdo jornalísticos e dados oficiais da epidemia do novo coronavírus no mundo.

Por meio de pesquisas no Google, a reportagem encontrou o perfil do professor Isaac Ben-Israel no site da Universidade de Tel Aviv e o estudo em inglês, publicado pelo The Times of Israel. Também confirmou que ele havia divulgado o texto antes, em hebraico, em sua conta pessoal do Facebook. O Comprova então fez a leitura do conteúdo e comparou com as afirmações do vídeo.

A reportagem acessou informações públicas oficiais, sites de universidades e notícias para verificar as medidas de prevenção adotadas e o cenário da pandemia nos seguintes países citados no vídeo: Israel, Reino Unido, Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e Brasil. Foram consultados artigos da Organização Mundial da Saúde, da Universidade Johns Hopkins e do Imperial College London, entre outros.

O Comprova também pesquisou arquivos da BBC News Brasil e da revista Veja para verificar a teoria do autor de que a mídia estaria “mudando o discurso” com as supostas descobertas recentes.

O que diz o estudo de Isaac Ben-Israel?

O estudo mencionado no vídeo de fato existe e foi publicado por Isaac Ben-Israel em seu perfil no Facebook, no dia 12 de abril. O artigo não apresenta referências bibliográficas, nem cita a origem dos dados utilizados para a elaboração dos gráficos. Também não foram encontrados indícios de que tenha sido submetido à revisão por pares, termo que se refere ao processo de validação científica dos métodos e conclusões por outros especialistas da área.

Ben-Israel argumenta que as estatísticas dos casos de infecção pelo novo coronavírus apresentam um padrão comum entre os países, independentemente se eles tomaram medidas severas, como o lockdown, ou moderadas. O padrão seria de que, após o primeiro registro, a infecção alcança um pico de novos casos em cerca de 6 semanas para então iniciar o declínio, chegando a zero em cerca de 10 semanas. A conclusão do autor é de que o lockdown pode ser interrompido “dentro de poucos dias” e substituído por uma política moderada de distanciamento social a partir de então.

É enganoso afirmar, porém, que os dados contidos no estudo “confirmam” que o pico da covid-19 teria passado e o lockdown foi inútil. Fontes de referência na área, como o Imperial College London, têm relatórios que apontam o contrário, assim como estatísticas oficiais de países como o Brasil.

Lockdown foi inútil?

Apesar de as medidas de restrição de circulação de pessoas e o isolamento social dividirem a população e governantes de vários países, a estratégia é vista pela OMS como uma das mais eficazes para a contenção do vírus e diminuir, ou retardar, o pico de contágio da doença — possibilitando que os sistemas de saúde dos países possam se preparar de forma adequada.

“Além das medidas de lockdown, precisamos de estratégias abrangentes baseadas em vigilância, em intervenção de saúde pública, testes, quarentena, e fortalecer os sistemas de saúde para absorver o golpe”, disse Michael Ryan, diretor executivo de emergências sanitárias da OMS em 1 de abril.

Os países que mais tiveram sucesso para conter o número de casos adotaram algum tipo de medida de restrição de circulação e incentivo ao distanciamento social. Prova disso é Hong Kong, que apesar de não ter determinado lockdown, fechou escolas, universidade e proibiu viagens.

Por outro lado, Itália e Espanha são considerados países exemplos de terem tomado medidas de restrição de forma tardia, o que acelerou o contágio, as mortes e colapsou o sistema de saúde. Apenas depois de semanas de lockdown as coisas começaram a melhorar.

Um estudo do Imperial College London publicado em 30 de março ainda mostra que as medidas de isolamento social impostas na Europa evitaram até 120 mil mortes no continente. Esse relatório também refuta o argumento no vídeo de que não existiria “nenhuma confirmação” de que o lockdown tenha influenciado no número de casos.

Pico de casos não ficou para trás

O vídeo ainda aponta que o pico de casos no mundo ficou para trás, o que não é verdade, segundo o relatório publicado nesta terça-feira (29) pelo Imperial College London, sobre previsões de curto-prazo para a transmissão do novo coronavírus. O estudo aponta que quatro países devem ter queda de casos na próxima semana (República Dominicana, França, Itália e Espanha).

Contudo, outros nove países (Brasil, Canadá, Índia, Irlanda, México, Paquistão, Peru, Polônia, Rússia) devem ter aumento expressivo.

A inclusão do Brasil nessa lista do relatório ainda faz cair outra afirmação da publicação no Youtube: a de que o país já alcançou o pico da doença.

O Ministério da Saúde afirma que não é possível determinar uma data para quando o Brasil alcançará o pico e chegará ao fim. Além disso, os números diários de casos e mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil mostram que o país ainda não chegou ao pico de contágio.

Em 29 de abril o Brasil superou a China em número de mortes, chegando a 5.513. No dia seguinte, um recorde de novos casos confirmados: 7.218 em 24 horas. Em 30 de abril, o país soma 85.380.

Segundo o Imperial College London, no Brasil, são esperadas cerca de 5,6 mil mortes para a próxima semana. Para os Estados Unidos, o prognóstico é de mais de 13 mil novas mortes no mesmo período. Em 23 países, é esperado que haja estabilização do número de casos.

Segundo a plataforma de casos de Covid-19 no mundo da Universidade Johns Hopkins, ainda que o número de casos confirmados diariamente tenha apresentado uma estabilização, ainda não há sinal de queda.

Israel adotou o lockdown

Ao contrário do que afirma o vídeo, Israel adotou medidas rígidas de controle da doença, como proibição de aglomerações e fechamento de comércio. O próprio artigo de Isaac Ben-Israel defende o fim da política de lockdown do país. O Comprova consultou o site oficial do governo do país, disponível em inglês, para verificar as normas vigentes.

Em 30 de abril, de acordo com artigo de referência contendo as diretrizes da polícia local (que é atualizado a cada alteração), estava proibida a visita a parques e praias e a operação de estabelecimentos como shoppings, bares, boates, academias, piscinas, zoológicos, cinemas, teatros, livrarias, museus e outras instituições de cultura e espaços de turismo. Restaurantes e cafés eram permitidos somente caso vendessem para consumo fora do estabelecimento, com pedidos pelo telefone ou pela internet.

Segundo notícia do The Times of Israel, o governo local estabelece medidas de restrição à circulação desde 19 de março. Além disso, algumas escolas foram fechadas em 12 de março e só retornarão às atividades no próximo domingo.

Coreia do Sul impôs isolamento e monitoramento da população

É falso o trecho do vídeo que afirma que a Coreia do Sul não impôs nenhum tipo de distanciamento social. O país é considerado exemplo de contenção do vírus justamente por ter adotado tais medidas de forma precoce, quando os primeiros casos começaram a ser confirmados. Exemplo disso é o alerta à cidade sul-coreana de Daegu, onde surgiram os primeiros doentes.

A maior parte dos casos iniciais foram de pessoas ligadas a uma igreja messiânica local. Após a confirmação, o prefeito da cidade pediu que todos ficassem em casa em um isolamento voluntário e recomendou o uso de máscaras para quem precisasse sair. O pedido foi atendido pela população, fato determinante para a contenção do vírus.

Em todo o país também foram adotadas medidas como fechamento de escolas, aplicação massiva de testes, monitoramento da localização de pessoas contaminadas e multas para quem furava quarentena (contaminados ou que tivessem contato com contaminados).

O país chegou a produzir 100 mil testes por dia. Com as pessoas sendo testadas com frequência, foi possível tratar aquelas com sintomas leves e reduzir a taxa de mortalidade. Isso aconteceu logo no início da pandemia. Uma semana depois do primeiro caso confirmado, ainda no final de fevereiro, milhares já eram testados.

Em 29 de abril, o país registrou nove casos e duas mortes pela doença. Apesar do número baixo de novas confirmações de Covid-19, o sinal de alerta ainda está ligado e as restrições seguem valendo por medo de um segundo surto de contaminação. Viajantes que chegam à Coreia do Sul são obrigados a cumprir quarentena.

Japão adotou medidas de distanciamento social após surto

Apesar dos baixos números de casos e mortes confirmadas a partir de fevereiro, quando as primeiras confirmações da doença em território japonês foram feitas, o país sofreu um grande aumento de infectados entre março e abril. Sem medidas para restringir o isolamento social, o país viu uma nova onda de casos de coronavírus.

A pressão da imprensa, de especialistas e de outros políticos fez com que o primeiro-ministro Shinzō Abe decretasse o estado de emergência em províncias do país em 7 de abril, e a medida foi estendida para todo o território japonês em 16 de abril. Dia 5 de abril, foram confirmados mais de 500 novos casos no país. Em 11 de abril, mais de 700.

O estado de emergência não chega a ser um lockdown, mas permite que autoridades proponham fechamento de colégios, bares, lojas e parques. O governo também pediu para que a população evite viagens e saídas de casa desnecessárias, mas não há multa para quem descumprir as recomendações.

O Japão também tem meta alta de índice de isolamento social. O governo quer atingir 80%, principalmente no feriado prolongado de 29 de abril a 6 de maio.

Estados Unidos e Reino Unido: demora para impor medidas e recorde de casos

Dois exemplos de países que praticaram medidas de restrição mais tardias são os Estados Unidos e o Reino Unido, que atualmente apresenta o maior número de óbitos por dia na Europa.

Os dois países têm em comum ainda que seus líderes minimizaram inicialmente a gravidade da doença. De um lado, Donald Trump dizia que “tudo estava sob controle” e por outro, o primeiro-ministro Boris Johnson evitava determinar o lockdown.

Os Estados Unidos são os primeiros da lista de número de casos do novo coronavírus, ultrapassando a marca de 1 milhão no país. As altas taxas de infecção e de letalidade se dão por vários fatores, como a demora do governo para agir contra a doença, falta de um sistema de saúde público acessível à população mais pobre e a diferença na situação de cada estado do território americano.

Enquanto Nova York é considerada epicentro no país, estados como a Califórnia vivem situação menos alarmante até o momento. Foram registrados 50.740 casos na Califórnia contra 309.696 em Nova York até dia 1º de maio.

A imprensa norte-americana coloca o presidente Donald Trump como um dos maiores responsáveis pelas altas taxas no país. Trump demorou a aceitar a gravidade da doença e agir, segundo especialistas. A rede americana CNN chegou a publicar um texto culpando o presidente. “Trump falhou na preparação para a pandemia mesmo depois dos alarmes. Ele ignorou os sinais dizendo repetidamente que tudo estava sob controle”.

O sistema de saúde dos Estados Unidos também é diferente. Não há tratamento de graça e milhões de pessoas não têm um plano de saúde, o que faz com que elas evitem ir aos hospitais quando estão doentes

Depois de falhas, o país passou a submeter grande quantidade de pessoas ao teste para covid-19, o que fez o número de casos saltar. Hoje o país é o que mais aplica testes no mundo, com mais de 6 milhões. A proporção de exames para cada milhão de habitantes, no entanto, ainda é baixa e fica na faixa de 18 mil, atrás de países como Alemanha, Espanha, Itália e Rússia.

Enquanto isso, o Reino Unido decretou lockdown em 23 de março. Em 16 de abril, as restrições foram estendidas por pelo menos mais três semanas, segundo pronunciamento do ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, que substituiu o primeiro-ministro Boris Johnson, afastado por ter contraído covid-19.

De volta ao trabalho no dia 27 de abril, Johnson afirmou que ainda não é o momento para abrir mão das medidas de restrição.

Entre as restrições, estão a proibição de aglomerações (mais de duas pessoas), ordem de sair apenas quando necessário, para compras de alimentos ou remédios, e ir ao trabalho apenas se for “absolutamente necessário”. Todo comércio considerado não-essencial foi fechado, assim como teatros e outros locais de aglomeração. O Primeiro Ministro autorizou que as medidas fossem fiscalizadas pela polícia, que pode multar em caso de descumprimento.

Brasil não é o país com menos casos por milhão

O autor do vídeo afirma falsamente que o Brasil é o país com menos casos de covid-19 por milhão. A China, por exemplo, apresenta cerca de um sétimo do número de casos por milhão registrado no Brasil — enquanto no país asiático são 59,9 casos confirmados a cada um milhão de habitantes, no Brasil são 401,7 casos.

O Comprova calculou os valores com base na estimativa de população de China e Brasil em 2020 pelo Banco Mundial e no número de casos de covid-19 registrados nos dois países até 30 de abril, segundo a Universidade Johns Hopkins. Neste momento, os dois países apresentam número parecido de casos, mas a população da China é de 1,4 trilhão, contra 212 milhões do Brasil.

A própria fonte utilizada pelo autor do vídeo (o Google Notícias, abastecido pela Wikipedia) mostra que ele está errado. Além da China, apresentam menos casos por milhão países como Índia, México, Paquistão, Japão, Polônia, Coreia do Sul, Ucrânia e Indonésia, todos com mais de 10 mil casos da doença em 30 de abril.

A mídia mudou o discurso?

O autor do vídeo no YouTube sugere que a mídia estaria “mudando o discurso” em razão de supostas descobertas recentes. Os artigos que ele usa de exemplo, porém, não afirmam em nenhum momento que o pico da covid-19 tenha passado ou que as medidas de restrição não tenham sido eficientes em algum local do mundo. Além disso, por meio de busca avançada no Google, o Comprova não encontrou menções anteriores a Isaac Ben-Israel e sua pesquisa publicada no Facebook.

A reportagem da BBC News Brasil mencionada no vídeo, de 17 de abril, afirma que alguns países estavam adotando ou discutindo regras diferentes de flexibilização do isolamento social naquela época, entre eles Dinamarca, Coreia do Sul, Espanha, Itália, Alemanha, Áustria, República Tcheca e a cidade de Wuhan, na China. Porém, o texto também cita países que não tinham perspectiva de aliviar as medidas até o mês de maio — como Reino Unido, França e Estados Unidos — e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir os riscos de “reaparição mortal” do novo coronavírus caso as nações optem por relaxar a quarentena.

A matéria da revista Veja, publicada no dia 20 de abril e também citada, informa a existência de um estudo de pesquisadores norte-americanos que aponta alto índice de subnotificação de casos nos Estados Unidos entre 8 e 28 de março. Os autores sustentam que, com a entrada desses registros nas estatísticas oficiais, a taxa de mortalidade poderia diminuir, indicando a possibilidade de ela “não ser tão grave”.

Por meio de ferramentas de busca avançada no Google, o Projeto Comprova pesquisou menções a Isaac Ben-Israel nos sites da BBC News Brasil e da Veja. Quanto ao primeiro, não há registro do nome em qualquer data. A Veja o publicou uma única vez, no dia 23 de abril de 2020 (data posterior à matéria mencionada), em nota sobre a participação do israelense em evento na internet. A ausência de referências anteriores ao professor e sua pesquisa torna improvável a teoria de que os veículos teriam “mudado o discurso” após a publicação do estudo, como sugere o vídeo.

Quem é o autor do vídeo?

O vídeo foi postado originalmente no canal do Youtube de Anderson Von Almeida. Antes da pandemia, a página tratava principalmente de assuntos ligados às criptomoedas. No entanto, nos últimos meses, há diversas postagens sobre coronavírus e política em geral.

O Comprova entrou em contato com Anderson via e-mail, mas ele se recusou a comentar sobre o vídeo. “Meu trabalho vem sendo justamente o de combater a histeria criada por vocês. E ao que parece, modéstia parte, é algo que venho conseguindo e graça a nova mídia: a internet”, escreveu.

Contexto

As medidas de isolamento defendidas por autoridades sanitárias como única maneira de frear o avanço do novo coronavírus têm sido fortemente criticadas por parte da população e alguns governantes que as consideram autoritárias.

O presidente Jair Bolsonaro já se declarou reiteradamente contra ações de controle de circulação de pessoas, como fechamento do comércio, afirmando que são catastróficas para a economia do país e do mundo. “Vai quebrar tudo”, disse, no dia 3 de abril.

Essa narrativa tem reverberado entre seus seguidores e se traduzido em carreatas e protestos pela volta das atividades econômicas por todo o país.

Contudo, como ainda não há vacina e nem remédio para o novo coronavírus, especialistas insistem que apenas o isolamento social é eficaz para atrasar as transmissões e dar tempo para que governos ampliem a capacidade de atendimento do sistema de saúde.

Alcance

Até 30 de abril, o vídeo publicado do Youtube de Anderson Von Almeida tinha 297 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-05-01

É falso que São Paulo e Rio de Janeiro tenham taxas de letalidade 10 vezes maiores que Minas Gerais

  • Falso
Falso
Minas Gerais tem uma taxa de letalidade menor da doença provocada pelo novo coronavírus, mas as diferenças são muito menores do que as apontadas por um texto publicado nas redes sociais. O Comprova verificou ainda que há outros erros no texto que viralizou

É falso que a taxa de letalidade da covid-19 em Minas Gerais seja “mais de 11 vezes menor que em São Paulo, 10 vezes menor que no Ceará e mais de 31 vezes menor que no Rio de Janeiro”, ao contrário do que afirma um texto compartilhado no Facebook. De fato, Minas Gerais tem uma taxa de letalidade menor da doença provocada pelo novo coronavírus, mas as diferenças são muito menores do que as apontadas pelo texto.

A conta feita na postagem do Facebook tem vários erros. Em primeiro lugar, calcula a letalidade de acordo com a população de cada Estado, e não levando em conta o número de casos confirmados da covid-19. Além disso, a comparação é feita entre locais que estão em diferentes estágios de contágio — São Paulo, por exemplo, registrou infecções pelo novo coronavírus muito antes do que as outras unidades da federação citadas.

Por último, a ideia de “onze vezes menor” é matematicamente incorreta: qualquer quantidade “uma vez menor” já é zero.

Por que investigamos esse conteúdo?

O Comprova encontrou o conteúdo desta investigação no monitoramento que faz sobre postagens que tratam de coronavírus e covid-19 e considerou três pontos para abrir a investigação:

  1. Muitos boatos têm circulado nas redes sociais e em aplicativos de mensagens favoráveis ou contrários a políticas de contenção da transmissão do novo coronavírus adotadas por governadores, o que leva o Comprova a prestar atenção em conteúdos associados a este tema.
  2. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O post que é alvo dessa verificação havia sido compartilhado 1,3 mil vezes quando foi encontrado pelo nosso monitoramento.
  3. O conteúdo investigado é a reprodução de um outro post feito em um perfil pessoal no Facebook. Ao buscar por esse post, o Comprova não o encontrou no perfil indicado.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Para fazer esta verificação, o Comprova analisou os dados de casos registrados oficialmente da covid-19, bem como de óbitos provocados pela doença. Além disso, consultamos o epidemiologista Fernando Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Qual é a melhor forma de comparar a evolução da covid-19 em MG e nos outros estados?

A taxa de letalidade de uma doença é calculada com um conta simples, a divisão do número de óbitos pelo número de casos registrados, e não pelo número de pessoas que vive numa determinada região geográfica, como fez o autor do texto verificado.

De acordo com o epidemiologista Fernando Carvalho, dividir o número de mortes pela população resulta na taxa de mortalidade — são dois conceitos distintos da epidemiologia. Desde 29 de abril, o Ministério da Saúde passou a usar a mortalidade, e não mais a letalidade, para comparação entre diferentes Estados em seu painel de monitoramento.

Segundo o especialista, um dos desafios de comparar a evolução da covid-19 nos diferentes Estados brasileiros está na diferença do nível de testagem da população. Um levantamento recente feito pelo portal R7 apontou que Minas Gerais era uma das unidades da federação que menos fez testes para diagnosticar pacientes com coronavírus. “A dificuldade de medir a letalidade da covid-19 é que o diagnóstico é limitado pelos testes, que são feitos em número pequeno e tem qualidade questionável”, explica Carvalho.

Dessa forma, o epidemiologista sugere comparar o volume total de óbitos em cada Estado. “Eu prefiro comparar o número total de mortos, nem mortalidade nem letalidade”, diz Carvalho. “Se possível, incluir (na comparação) as mortes por síndrome respiratória aguda grave, pois provavelmente esses casos foram covid-19 não testados. O número de mortos dá uma ideia do impacto total sobre o sistema de saúde”.

O epidemiologista também ressalta que é preciso levar em conta o estágio de disseminação do novo coronavírus em cada Estado. São Paulo foi o primeiro a registrar um caso de infecção, no dia 26 de fevereiro. Entre as unidades da federação citadas, Ceará foi o último a contabilizar pacientes da covid-19 — os cinco primeiros foram no dia 17 de março.

Seguimos as recomendações de Carvalho para comparar o número de óbitos em cada Estado. Veja o resultado abaixo:

Qual a taxa de letalidade da covid-19 em MG, SP, CE e RJ?

Comparando-se as taxas de letalidade, verificamos que a de Minas Gerais é, de fato, menor, que as de Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo, mas não tanto quanto o texto afirma. Até 30 de abril, Minas tinha 82 mortes provocadas pelo novo coronavírus e 1.827 casos, uma taxa de letalidade de 4,5%.

Dos três estados comparados no texto verificado, o que tem uma taxa de letalidade menor é o Ceará. São, também até 30 de abril, 482 mortes em 7606 caso, com uma taxa de letalidade de 6,3%, ou cerca de um terço maior (35% mais alta) que a de Minas Gerais e não “10 vezes maior” (1000% mais alta), como afirmava o texto verificado.

Rio de Janeiro e São Paulo, por sua vez, têm taxas de letalidade duas vezes maior (100% mais alta) e quatro quintos maior (82% mais alta) que as de Minas Gerais.

País/Estado*

Número de casos

Número de óbitos

Taxa de letalidade

Brasil

85.380

5.901

6,9%

Minas Gerais

1.827

82

4,5%

Ceará

7.606

482

6,3%

Rio de Janeiro

9.453

854

9%

São Paulo

28.698

2.375

8,2%

* Tabela elaborada com os dados oficiais do Ministério da Saúde

Como Minas Gerais tem lidado com a pandemia de covid-19?

Em um encontro na Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 29 de março, especialistas apontaram para um problema no enfrentamento à covid-19 no Estado: o baixo número de testes realizados. “Com um número de testes tão baixo, a amostragem pode ficar comprometida”, disse a professora Cristina Alvim, presidente do Comitê Permanente de Acompanhamento das Ações de Prevenção e Enfrentamento do Novo Coronavírus, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com o boletim mais recente do governo mineiro, o Estado tinha 1.827 casos confirmados, além de 84.994 casos suspeitos de covid-19. Minas havia registrado 82 óbitos pela doença provocada pelo novo coronavírus e 81 mortes ainda estavam em investigação, ou seja, aguardando exames laboratoriais.

Assim como a maior parte dos estados, Minas Gerais adotou, a partir de março, uma série de medidas de isolamento social para combater a propagação do novo coronavírus. Em sua conta oficial no Twitter, o próprio governador, Romeu Zema, anunciou em 21 de março medidas de restrição, como o fechamento do comércio. Ainda segundo ele, a Polícia Militar seria responsável por “fazer cumprir as regras”.

Em 13 de abril, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, anunciou que as medidas seriam mantidas pelo menos até junho. “Não dá para pensarmos em voltar a uma vida normal antes de junho”, afirmou ele.

Dez dias depois, no entanto, o governo de Minas Gerais lançou o programa “Minas Consciente”, que reúne protocolos para a retomada das atividades econômicas no estado e tem o objetivo de servir como uma forma de auxiliar prefeituras sem capacidade técnica para lidar com a situação.

Romeu Zema pretende que o governo estadual preste esse auxílio às prefeituras, mas transferiu aos prefeitos a responsabilidade de reduzir ou não os protocolos de isolamento social. Segundo ele, não se trata de uma abertura completa da economia do estado. “ Vale lembrar que não é liberdade total”, disse. “Nós teremos aqui um protocolo que vai fazer com que a reativação da economia seja gradual, segura, criteriosa, colocando a preservação da vida acima de tudo”, disse.

Desde então, o estado passou a ter situações diferentes conforme a cidade. Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, flexibilizou a abertura do comércio da cidade em 27 de abril. No mesmo dia, a cidade teve movimentação normal, com ônibus cheios, por exemplo, e pessoas circulando sem máscaras de proteção.

Em contrapartida, em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil afirmou, em um pronunciamento pelo Twitter em 28 de abril, que não há previsão para a sua administração reabrir o comércio na cidade. E criticou outros prefeitos. “Tem cidade que fez abertura irresponsável aqui perto que não tem um respirador”, afirmou ele.

Contexto

O post com os dados falsos circula em um momento de crescente tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e os governos estaduais. Desde o início da pandemia, Bolsonaro, repetidas vezes, se manifestou contra as medidas de isolamento social e tentou impedir sua continuidade.

Muitos governadores, por sua vez, decidiram enfrentar Bolsonaro. Este embate teve um pico em 19 de abril, quando o presidente da República participou de uma manifestação de apoiadores que defendiam a realização de um golpe de Estado no Brasil, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e faziam críticas ao isolamento social. Em resposta a Bolsonaro, 20 governadores divulgaram uma carta a Bolsonaro de apoio ao Congresso. Zema não assinou o documento e afirmou que há “pessoas que estão adotando um totalitarismo contra o presidente“.

Alcance

Até a publicação desta verificação, o post de Facebook que compartilhou o conteúdo teve 1,4 mil compartilhamentos. A Agência Lupa também desmentiu esse texto.

Saúde

Investigado por: 2020-05-01

Não é verdade que máscaras contaminadas serão distribuídas para a população de São Paulo

  • Falso
Falso
O Comprova verificou que não há previsão de distribuição de máscaras para a população por parte dos órgãos de saúde do estado e o próprio autor do vídeo se retratou nas redes sociais de uma afirmação que fez sobre a chegada ao porto de Santos de máscaras contaminadas por covid-19 vindas da China

Não é verdade que máscaras de proteção contaminadas estariam sendo distribuídas pelo sistema de saúde em cidades da Baixada Santista, em São Paulo. A informação foi divulgada por um homem que se identifica como “Pastor Róbson” em suas redes sociais e que, posteriormente, publicou um vídeo se retratando da declaração.

O Comprova confirmou também com órgãos de saúde do estado que não há previsão de distribuição de máscaras para a população.

Procurado pelo Comprova, o pastor se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa e disse que teria se “confundido” e produzido o vídeo inicial por estar “assustado” e “alarmado” com a informação que recebeu por meio de áudios e vídeos em um grupo no Whatsapp.

Por que investigamos esse conteúdo?

O Comprova recebeu o link para o vídeo por sugestão de leitores e também encontrou a publicação no monitoramento que faz das redes sociais. A decisão por investigar considerou dois pontos:

  1. Esta não é a primeira vez que circulam informações sobre a suposta contaminação de máscaras, e o Comprova já checou outros vídeos e áudios sobre o tema.
  2. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O post que é alvo dessa verificação obteve mais de 500 mil visualizações.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e que divulgue uma mentira.

Como verificamos?

Para fazer esta verificação, localizamos, por meio de buscas no Google, Facebook e Instagram, o pastor que aparece nas imagens. Na perfil dele no Instagram, há um número de telefone e entramos em contato por Whatsapp. A assessoria de imprensa do pastor Róbson nos respondeu e informou que ele já havia se retratado pelo vídeo publicado.

Além disso, entramos em contato, por email, com o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e as Secretarias de Saúde do Guarujá e de Itanhaém, cidades mencionadas no vídeo, para checar se havia alguma previsão de distribuição de máscaras.

Pastor se retratou das declarações

Em um vídeo publicado no Facebook, o pastor Róbson Pentecoste diz que recebeu informações sobre um carregamento contaminado de máscaras de proteção que teriam chegado ao Brasil pelo Porto de Santos (SP). Segundo ele, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) seriam distribuídos por agentes de saúde e nos postos.

Ele alega que o mesmo tipo de material de proteção individual teria sido entregue nos Estados Unidos, e provocado vários casos da doença no país – o FBI teria recolhido parte do material.

O Comprova entrou em contato com o pastor, e a assessoria de imprensa dele nos enviou uma série de links com notícias sobre problemas com máscaras produzidas na China. A seleção mistura informações de vários portais – alguns mais e outros menos conhecidos -, mas nenhuma fala efetivamente sobre contaminação de nenhum tipo. Questionamos, especificamente, sobre as alegações do vídeo divulgado, e fomos então informados de que o autor do vídeo já se retratou sobre o conteúdo no próprio Facebook. Esta correção foi feita em um stories no dia seguinte ao do primeiro vídeo e já não está mais disponível. Nele, o pastor disse que foi alertado por várias pessoas de que a suposta contaminação das máscaras não era verdade.

“Ele não costuma se pronunciar a respeito desse tipo de coisa”, afirmou a assessora de imprensa. Segundo ela, o pastor “se confundiu” se baseou em informações que recebeu em um grupo no Facebook, do qual participa.

Apesar da alegação, há outros vídeos e posts do pastor, em seu Facebook, a respeito do novo coronavírus.

Entrega de máscaras para a população

Mesmo com a retratação publicada pelo autor do vídeo, o Comprova decidiu checar algumas das informações divulgadas por ele, que se repetem em outros conteúdos que circulam pela internet.

A respeito da chegada de máscaras pelo Porto de Santos (SP), a assessoria do porto respondeu que não possui a informação.

Procuramos a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, que nos informou, por telefone, que não há previsão de entrega de máscaras para a população do estado. Segundo a pasta, o equipamento de proteção individual adquirido pelo governo é destinado aos profissionais da saúde e de outros serviços essenciais da administração.

As Secretarias de Saúde de Guarujá e Itanhaém, cidades citadas no vídeo e que ficam na Região Metropolitana da Baixada Santista, também foram contatadas pelo Comprova. Os órgãos nos informaram, por e-mail, que não há previsão de distribuição de máscaras para os moradores.

Máscaras novas podem estar contaminadas?

O Ministério da Saúde já desmentiu informações sobre máscaras chinesas contaminadas, e afirma que, em função do tempo gasto para a chegada do material ao Brasil, mesmo que as máscaras saíssem contaminadas da China, o vírus não sobreviveria ao longo trajeto. “O vírus só é transmitido entre humanos e não sobrevive mais de 24 horas fora do organismo humano ou de algum animal”, diz a publicação no site do Ministério.

FBI não apreendeu máscaras

O Pastor disse que havia publicado o conteúdo após ver um vídeo que mostra o FBI recolhendo máscaras contaminadas nos Estados Unidos. Este material já foi checado pelo Estadão e pela Agência Lupa, e classificado como falso.

Contexto

O rumor sobre as supostas máscaras contaminadas circula em um momento de elevada tensão nas relações entre os Estados Unidos e a China a respeito de responsabilidades sobre a pandemia de covid-19.

Agências de inteligência norte-americanas estão, atualmente, analisando a possibilidade de o vírus causador da doença ter começado a circular a partir de um laboratório da cidade de Wuhan que pesquisa diversos tipos de coronavírus.

Alcance

O vídeo original foi removido das redes sociais do pastor, mas a versão encontrada pelo Comprova, publicada no último dia 23 de abril, supera as 500 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-05-01

Governador da Bahia não pediu a prefeitos para inventarem casos de covid-19

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo publicado no YouTube e Facebook foi tirado de contexto. Nas imagens, o governador da Bahia, Rui Costa, discute com prefeitos sobre o crescimento de casos de covid-19 na região do extremo sul do estado. Em nenhum momento, ao longo da conversa, ele pede para que casos da doença sejam “inventados em Porto Seguro”.

Não é verdade que o governador da Bahia, Rui Costa (PT), tenha pedido para a prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira (PSD-BA), “inventar” 200 casos de covid-19. O vídeo que circula nas redes sociais, acompanhado do texto “governador Rui Costa pede para a prefeita de Porto Seguro inventar 200 doentes para receber verba de Bolsonaro”, foi retirado de contexto.

As imagens foram extraídas de uma videoconferência, realizada no dia 23 de abril, na qual o governador discute com prefeitos de 10 cidades sobre o crescimento de casos de covid-19 na região do extremo sul do estado. Em nenhum momento, ao longo da conversa, Rui Costa pede para que casos da doença sejam “inventados em Porto Seguro”. A postagem original pode ser encontrada na página do Facebook da prefeita Cláudia Oliveira. O governador desmentiu o boato em vídeo publicado no Facebook e no Instagram.

Por que checamos isto?

O Comprova recebeu o link para o conteúdo desta investigação por WhatsApp e considerou dois pontos para abrir uma investigação.

  1. Muitos boatos têm circulado nas redes sociais e em aplicativos de mensagens tendo como alvo as políticas de contenção da transmissão do novo coronavírus adotadas por governadores. Redes contrárias a essas políticas têm compartilhado informações falsas ou enganosas para desestabilizar as ações dos estados, o que leva o Comprova a prestar atenção em conteúdos com esse tema.
  2. O Comprova verifica somente conteúdos suspeitos sobre a covid-19 e o novo coronavírus que tenham obtido grande alcance nas redes sociais. O vídeo verificado foi publicado na página do Movimento do Povo Brasileiro no Facebook e estava com 78 mil visualizações somente oito horas depois de publicado.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.

Como verificamos?

Para verificar o vídeo, entramos em contato com a assessoria de comunicação do Governo da Bahia. A equipe informou que “a questão foi completamente retirada de contexto da fala do governador durante a reunião virtual com prefeitos aqui da região do extremo sul da Bahia. Em momento nenhum o governador fala em aumentar números de infectados ou menos ainda em distorcer os dados (sic)”. Em seguida, entramos nas páginas oficiais do governador da Bahia e da Prefeitura de Porto Seguro.

No Facebook, Rui Costa publicou no dia 29 de abril um vídeo em que nega ter solicitado invenção de 200 casos do novo coronavírus em Porto Seguro. O conteúdo foi enviado para a equipe do Comprova pelo assessor do governo e postado no Instagram. Na página oficial da prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira (PSD-BA) encontramos o vídeo original, postado no dia 23 de abril, às 19h06.

Também entramos em contato com a Prefeitura de Porto Seguro. Em nota, a assessoria de comunicação afirmou que está “juntando forças para investigar e encaminhar para punição os responsáveis” pelo compartilhamento do vídeo fora de contexto.

Videoconferência discutiu avanço de coronavírus no Sul da Bahia

O vídeo foi gravado durante uma reunião do governador Rui Costa (PT) com 10 prefeitos da região do extremo sul da Bahia, realizada no dia 23 de abril. Conforme publicação da página do governo da Bahia no dia da reunião, o objetivo era “abordar as ações de combate à pandemia do novo coronavírus implementadas pelo governo do estado, além de ouvir as demandas dos representantes municipais”. Participaram os líderes do executivo municipal das cidades de Belmonte, Eunápolis, Itabela, Itapebi, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Itamaraju, Medeiros Neto, Prado e Teixeira de Freitas.

A conversa foi para atualizar a quantidade de casos de covid-19 nessas cidades, dimensionar a necessidade ou não de abertura de novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outras medidas. No vídeo original, gravado dentro do gabinete da prefeita de Porto Seguro, são repassados por ela ao governador os dados atualizados até então da quantidade de casos positivos, curados e em isolamento na cidade. “Dezessete deram positivo, 11 curados e seis em isolamento”, contabiliza Cláudia Oliveira.

De acordo com o governador, os 10 leitos de UTI existentes na cidade somente estariam ocupados se houvesse, simultaneamente, 200 pessoas com a doença ativa na cidade. Em nenhum momento ele pede para que sejam inventados 200 registros da doença em Porto Seguro, como diz texto que acompanha a publicação dos vídeos tirados de contexto.

“Se você tem 11 curados e seis ativos, então normalmente você precisa de 5% da estatística para leitos de UTI”, diz. “Então para ocupar os leitos de UTI aí precisavam ter 200 pessoas simultaneamente ativas com a doença. Para ocupar os 10 leitos de UTI, a conta é essa que estamos fazendo”.

A estatística citada por Rui Costa faz referência a um estudo do Chinese Center for Disease Control and Prevention. Publicado no dia 24 de fevereiro no periódico médico Jama Network, o relatório analisou 44.415 casos confirmados da covid-19 na China e concluiu que 5% deles atingiram um estágio grave, com insuficiência respiratória, choque ou falência múltipla de órgãos. O mesmo dado está disponível nas diretrizes publicadas pela Associação Médica Brasileira (AMB).

A preocupação de Cláudia Oliveira em relação à necessidade de abertura de novos leitos de UTI fica evidente em outro trecho da conversa, também publicado em sua página no Facebook. A gravação é de um momento anterior ao vídeo descontextualizado nas redes sociais e foi postada às 18h49 do dia 23 de abril. Nas imagens, a prefeita pergunta se haverá ampliação de leitos na UTI do Hospital Regional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em Porto Seguro. A unidade funciona com cinco leitos, de acordo com o Governo da Bahia.

“A ideia é, sim, acrescentar mais cinco leitos, numa área reservada, e disponibilizar 10 leitos para a região”, respondeu o governador. “Você hoje tem 10 leitos. Se a gente abrir mais cinco, você fica com 10 para covid e cinco para atender a região.” Na página do Facebook de Cláudia, também é possível encontrar um resumo da reunião, em um vídeo publicado no dia 23, às 21h17.

Contexto

A Bahia tem 2.867 casos confirmados de covid-19, 7.929 casos descartados e 14.497 notificações, conforme boletim epidemiológico divulgado no dia 30 de abril. No estado, 106 morreram vítimas de coronavírus. O sul do estado tem sido motivo de preocupação das autoridades, por causa da rápida disseminação do coronavírus. A região somava até o dia 28 de abril 20% das mortes por covid-19 no estado. De acordo com os atuais dados, é responsável por 18% das mortes no estado. Entre os dias 20 e 27 de abril, foi registrado em Itabuna – maior município da região – um crescimento de 260% na quantidade de infectados pelo novo coronavírus. Em Ilhéus, os casos cresceram 130% no mesmo período.

Ilhéus é um dos municípios na lista das cinco cidades com maior coeficiente de incidência de covid-19 da Bahia, superando a capital, com 124,44 casos a cada 100 mil de habitantes. Outras cidades do sul – como Uruçuca (107,21 casos por 100 mil hab), Coaraci (76,50 casos por 100 mil hab) e Gongogi (56,11 casos por 100 mil hab) – aparecem no topo do ranking. Salvador tem 62,10 casos por 100 mil habitantes.

O primeiro caso do novo coronavírus na Bahia foi de uma moradora da cidade de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, que havia viajado para a Itália. A análise do teste feito na paciente confirmou o diagnóstico no dia 6 de março. A região sul, entretanto, ganhou destaque antes mesmo da primeira notificação de covid-19 na Bahia, quando convidados de um casamento realizado em um resort na cidade de Itacaré começaram a apresentar sintomas da doença. Porto Seguro tem 21 casos confirmados e outros 32 aguardando o resultado dos exames. Duas pessoas estão internadas.

A situação da região sul e extremo sul da Bahia levou o governador Rui Costa a considerar o lockdown — bloqueio total dos fluxos de deslocamento — em Itabuna e Ilhéus. Uma das preocupações é a limitação da rede de saúde das regiões, o que motivou o governador a realizar uma série de videoconferências com os prefeitos. Na quarta-feira (22), a conversa foi com 12 prefeitos das regiões do Médio Rio de Contas, Vale do Jiquiriçá e Baixo Sul. Na terça-feira (21), com 11 prefeitos da região Sul. A conversa registrada com a prefeita de Porto Seguro, Cláudia Oliveira, fez parte desse ciclo de discussões sobre a realidade local.

Alcance

O vídeo foi publicado no YouTube pela conta Movimento do Povo Brasileiro e não está mais disponível na plataforma. As mesmas imagens foram postadas na página do Movimento do Povo Brasileiro no Facebook e estavam com 78k visualizações oito horas depois de publicadas, mas também foram deletadas. Na página Aliança Pelo Brasil Santo André-SP, a publicação tinha 13 mil visualizações até o dia 29. Na página Marcos Mendes Santo André São Paulo, chegou a 33 mil visualizações.

A agência Aos Fatos e os sites Boatos.org e Bahia Notícias também checaram este conteúdo.

Saúde

Investigado por: 2020-04-29

Nobel de Medicina Tasuku Honjo não disse que o coronavírus é artificial

  • Falso
Falso
O próprio pesquisador Tasuku Honjo desmentiu as alegações atribuídas a ele em mensagens no WhatsApp e em publicações em redes sociais. Além disso, pesquisas científicas confirmaram que o vírus causador da covid-19 não foi desenvolvido em laboratório. O Comprova verificou que o boato circula há alguns dias em diversos idiomas

São falsos os textos que circulam pelo WhatsApp e os posts em redes sociais segundo os quais o prêmio Nobel de Medicina Tasuku Honjo teria afirmado que o novo coronavírus não é natural. O próprio Honjo desmentiu as alegações atribuídas a ele e, além disso, pesquisas científicas confirmaram que o vírus causador da covid-19 não foi desenvolvido em laboratório.

Por que checamos esse conteúdo?

A verificação deste texto foi solicitada por leitores que enviaram os pedidos via WhatsApp. O monitoramento das redes sociais realizado pelo Comprova detectou que este conteúdo vem circulando há alguns dias em diversos idiomas, em uma aparente tentativa organizada de criar desinformação a respeito da pandemia de covid-19.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para verificar este conteúdo, o Comprova buscou estudos científicos a respeito da origem do novo coronavírus e também a posição oficial do pesquisador Tasuku Honjo e da Universidade de Kyoto, onde ele trabalha.

O coronavírus que causa a covid-19 é artificial?

Especulações a respeito da origem do novo coronavírus acompanham a pandemia desde o seu início e se tornaram campo fértil para desinformação.

No texto que circula com afirmações falsas atribuídas a Tasuku Honjo, a argumentação é de que o novo coronavírus teria sido criado em um laboratório de Wuhan, cidade na província chinesa de Hubei que foi a primeira com infecções provocadas por este vírus. O texto afirma, ainda, que Honjo trabalharia há quatro anos no “laboratório Wuhan na China.”

Uma visita à biografia de Honjo no site da Universidade de Kyoto mostra que em toda sua carreira ele trabalhou apenas nos Estados Unidos e no Japão, onde atua seguidamente desde 1974. Honjo trabalha na mesma universidade desde 1984 e, desde 2018, é o vice diretor-geral do Instituto de Estudo Avançado da instituição. Em 2018, ele foi um dos vencedores do Nobel de Medicina ou Fisiologia pela descoberta ligada ao combate do câncer por meio da imunoterapia, estratégia que busca aumentar a função do sistema imunológico.

Em 27 de abril, a Universidade de Kyoto emitiu uma nota oficial em nome de Honjo, na qual ele lamenta que seu nome tenha sido usado “para espalhar falsas acusações e desinformação”. O médico destaca que, no momento atual, “quando todas as nossas energias são necessárias para tratar os doentes, impedir a propagação do sofrimento e planejar um novo começo, a transmissão de alegações infundadas sobre as origens da doença é perigosamente perturbadora”.

Mais importante, não há nenhum indício de que o novo coronavírus seja artificial ou tenha sido fabricado.

Um estudo publicado em 17 de março pelo conceituado periódico médico Nature Medicine analisou o genoma do vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, e concluiu “claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus propositadamente manipulado.”

Segundo os pesquisadores, as características genéticas do vírus, o sétimo coronavírus a infectar seres humanos, indicam que ele é fruto de seleção natural, ocorrida em um animal ou em uma pessoa.

O texto compartilhado nas redes sociais afirma ainda que o fato de o SARS-CoV-2 ter sido transmitido para países de climas diferentes é um indício da artificialidade do vírus. O Comprova não encontrou referências ou estudos que embasassem essa hipótese.

Uma análise inicial de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), do final de março, apontou que a maioria das transmissões do novo coronavírus se deu em temperaturas mais baixas, entre 3°C e 17°C. Isso não quer dizer, no entanto, que a contaminação não ocorra em países de clima mais quente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o vírus pode ser transmitido em todas as áreas.

Contexto

O texto com conteúdo falso atribuído ao médico japonês circula em um momento de elevada tensão nas relações entre os Estados Unidos e a China a respeito de responsabilidades sobre a pandemia de covid-19.

Agências de inteligência norte-americanas estão, atualmente, analisando a possibilidade de o vírus não ter começado a circular em um mercado de alimentos em Wuhan, mas sim em um laboratório da cidade que pesquisa diversos tipos de coronavírus.

A suspeita tem como base observações feitas por diplomatas dos Estados Unidos em 2018. De acordo com a coluna do jornalista Josh Rogin, do jornal The Washington Post, há dois anos diplomatas alertaram sobre a precariedade dos níveis de segurança de pesquisas com coronavírus de morcego realizadas no Instituto de Virologia de Wuhan.

O instituto busca ativamente novos tipos de coronavírus na natureza, especialmente em cavernas de morcegos nas províncias ao sul da China, desde que a Ásia foi afetada pela epidemia de SARS, também provocada por um coronavírus, em 2003. O objetivo é que a pesquisa ajude o país a se antecipar a novas infecções.

À revista Scientific American, a diretora do Instituto de Virologia de Wuhan, Shi Zhengli, negou que o novo coronavírus tenha relação com os estudos dirigidos por ela. Segundo a pesquisadora, seu laboratório verificou as sequências genéticas dos vírus circulando na China e nenhuma delas coincidia com a dos vírus que sua equipe havia obtido das amostras coletadas em morcegos. “Isso realmente tirou um peso da minha mente”, disse ela. “Eu não dormi nada por dias”, afirmou.

Alcance

No Facebook, o Comprova encontrou 76 posts com o texto falso sobre Tasuku Honjo, que somaram 5.091 interações (curtidas, comentários e likes) desde o dia 26 de abril. A medição foi feita por meio da ferramenta CrowdTangle. A reportagem falou com a autora da publicação mais antiga em português. Ela disse ter recebido o texto de um amigo e, depois de ter sido avisada que o conteúdo era falso, apagou o post.

O tweet em português que mais circulou e foi encontrado pelo Comprova teve mais de 700 interações entre sua publicação, em 27 de abril, e a publicação desta verificação.

As agências AFP e Aos Fatos, o jornal Observador (Portugal) e o site Factly (Índia) também checaram este conteúdo.

Saúde

Investigado por: 2020-04-27

Vídeo que alerta sobre a importação de máscaras contaminadas é montagem

  • Falso
Falso
A OMS não fez alertas sobre máscaras importadas da China e da Índia como afirma um vídeo publicado no YouTube. O vídeo verificado pelo Comprova sobrepõe um áudio à gravação original e usa logotipos de GloboNews e G1, mas ele não foi veiculado nesses dois canais

É falso o vídeo que diz que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou sobre máscaras importadas da China e da Índia que estariam infectadas com o novo coronavírus. Na publicação, uma narração em off sobrepõe o áudio original do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, com informações completamente diferentes do conteúdo original. A edição usa os logotipos do canal GloboNews e do site G1, mas o vídeo não foi exibido por nenhum dos dois veículos.

Ao Comprova, a OMS informou, em nota, que não emitiu nenhum alerta sobre importação de máscaras. O Escritório da OMS para as Américas também desmentiu a necessidade de esterilização do equipamento de proteção. “Se a máscara cirúrgica descartável estiver lacrada antes do uso, não é necessário fazer nada”, comunicou. “Se a máscara tiver sido contaminada, não se deve tentar esterilizá-la e sim descartá-la imediatamente.”

O Ministério da Saúde, por sua vez, afirmou que não há nenhuma evidência de que produtos enviados da China estejam contaminados: “Os vírus geralmente não sobrevivem muito tempo fora do corpo de outros seres vivos, e o tempo de tráfego destes produtos costuma ser de muitos dias”.

A pasta explicou ainda que importou máscaras apenas da China, assim como fizeram “diversos outros países”.

Por que checamos este vídeo?

A verificação deste vídeo foi pedida por leitores do Comprova. Nossa decisão por verificar considerou três motivos.

O primeiro deles, o tema. Postagens que denunciam a importação de máscaras contaminadas têm sido comuns durante a pandemia do novo coronavírus. O Projeto Comprova já verificou conteúdo semelhante recentemente.

Outro motivo foi a viralização. O Comprova só verifica conteúdos suspeitos sobre a covid-19 que tenham grande viralização. O vídeo verificado foi postado no dia 23 de abril no canal Xadrez Brasil12 no YouTube e, até o dia 27, foi assistido mais de 500 mil vezes.

Finalmente, chamou a atenção do Comprova o fato de o vídeo estar publicado no YouTube como “não listado”. Quando um vídeo é caracterizado desse modo, ele não aparece nos mecanismos de busca e só pode ser assistido por quem tem o link para a publicação. Mesmo com essa restrição, o vídeo obteve grande alcance.

Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Buscamos os poucos trechos com o áudio original que aparecem na publicação para localizar o vídeo original, sem adulteração no áudio. Depois fizemos a busca por esse vídeo no G1 e no site da GloboNews para conferir se as imagens foram exibidas e se houve edição.

Em seguida, procuramos publicações com as imagens das máscaras sendo produzidas em condições precárias para identificar o país em que elas foram feitas.

Também entramos em contato com o Ministério da Saúde para saber de que países os equipamentos de proteção individual (EPIs) como máscaras estão sendo importados. Por fim, consultamos a OMS e a OPAS para esclarecer se há algum tipo de restrição às máscaras produzidas na China e na Índia.

Qual a declaração original do diretor-geral da OMS?

As imagens foram tiradas de uma entrevista coletiva que os dirigentes da OMS concederam no dia 20 de abril quando, aos 54 minutos e 54 segundos, Tedros Adhanon critica o uso político da pandemia do novo coronavírus. “Nós avisamos que esse vírus ia surpreender até mesmo os países desenvolvidos”, lembrou.

O trecho exato usado na edição foi publicado no mesmo dia 20 pelo canal no YouTube da agência de notícias Bloomberg, com o discurso verdadeiro. Conseguimos identificá-lo porque a edição deixou duas frases no inglês original. A primeira, “vamos evitar essa tragédia”, e a última: “enough is enough”, ou seja, “já chega”. Todo o resto da fala foi coberto por uma narração em off em que uma voz masculina diz que a OMS “alerta que as máscaras vindas da Índia e da China estão apresentando um alto grau de contaminação por coronavírus”.

Para reforçar, a edição alterna a imagem de Adhanon com um vídeo de máscaras sendo produzidas em condições precárias. O registro mais antigo dessas imagens no YouTube é do dia 25 de março, em uma publicação que descreve uma oficina clandestina na Índia. Outros usuários também apontam a Índia com o local onde as imagens teriam sido captadas. De acordo com uma reportagem veiculada pelo telejornal India Today no dia 26 de março, essas oficinas piratas são um problema para as autoridades indianas.

O Comprova não encontrou registros de que o Ministério da Saúde tenha importado máscaras indianas. Em nota, a pasta informou apenas que comprou equipamentos de proteção chineses.

Apesar de usar vinhetas e logomarca do canal GloboNews e do site G1, nenhum dos dois veículos exibiu as imagens editadas da forma como elas aparecem no vídeo que viralizou. Uma reportagem exibida no dia 20 de abril no Jornal Nacional, da Rede Globo, usou trechos da entrevista de Adhanon. Esta sim foi a matéria reproduzida tanto pelo G1 quanto pela GloboNews.

OMS não divulgou alerta sobre máscaras

Por e-mail, a assessoria de imprensa da OMS informou que a organização não divulgou nenhum alerta sobre compra de máscaras. Atualmente, a entidade recomenda expressamente o uso de máscaras médicas por profissionais da saúde, pessoas cuidando de pacientes com a covid-19 e todos aqueles que apresentarem sintomas da doença, como tosse e dor de garganta.

O Ministério da Saúde, por sua vez, indica a utilização de máscaras de pano por toda a população. Para garantir a proteção, é necessário que a máscara seja de uso individual, tenha ao menos duas camadas de pano e cubra o nariz e a boca completamente.

Contexto

Desde que o uso de máscaras virou uma orientação do Ministério da Saúde, a desinformação sobre a importação dos equipamentos de proteção tem se espalhados pelas redes sociais. A acusação mais comum é a de contaminação pelo novo coronavírus. Alguns usuários chegam a afirmar que a China produziu o vírus em laboratório justamente para vender os EPIs. O Projeto Comprova já verificou denúncia semelhante no dia 14 de abril.

Outros veículos já verificaram denúncias de máscaras contaminadas, como o Boatos.org, a agência Aos Fatos e o Fato ou Fake, do G1.

Alcance

O canal Xadrez Brasil12 tem 1,72 mil inscritos no YouTube, mas há apenas um vídeo público, com 962 visualizações. Mesmo sem ter ligação com a Rede Globo, o canal usa o logotipo da emissora. O conteúdo que viralizou está cadastrado como “não listado” e não aparece nos mecanismos de busca. Entre 23 e 27 de abril ele foi visualizado mais de 500 mil vezes.