O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Investigado por: 17/04/2025

Pais que não vacinam filhos contra covid-19 podem ser multados

Contextualizando
A vacina contra a covid-19 se tornou obrigatória para crianças a partir dos 6 meses em janeiro de 2024. Alguns pais e mães, porém, se recusam a imunizar seus filhos, alegando não confiarem na segurança e eficácia do produto. Nessas situações, a Unidade Básica de Saúde (UBS) pode, após explicar a importância da vacinação, encaminhar a questão ao Conselho Tutelar e, se a recusa continuar, o caso pode seguir ao Ministério Público. Por fim, os responsáveis podem ser multados, segundo decisão proferida em março pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Conteúdo analisado: Post com vídeo em que uma mulher afirma ter sido encaminhada ao Conselho Tutelar em Santa Catarina após se recusar a vacinar seu bebê contra a covid-19.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando Uma postagem na qual uma mulher diz ter sido denunciada para o Conselho Tutelar de sua cidade após a recusa de vacinar seu bebê de um ano contra a covid-19 viralizou nas redes sociais, gerando dúvidas. O Comprova não conseguiu encontrar a autora da publicação, mas traz aqui informações sobre o que ocorre em casos semelhantes.

Em março deste ano, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que pais e mães que se recusam a imunizar seus filhos contra a covid-19 estão sujeitos à multa, que pode variar entre três e 20 salários mínimos. O órgão considerou que a vacinação foi recomendada em todo o país a partir de 2022, e que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional a obrigatoriedade da imunização, “desde que a vacina tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações, ou que sua aplicação seja imposta por lei ou, ainda, determinada pelo poder público com base em consenso científico”.

A decisão segue também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que, em seu artigo 14, diz que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.

Ainda em 2020, o STF concluiu que “o Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas restritivas previstas em lei (multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode fazer a imunização à força”. Na época, o ministro Kassio Nunes Marques disse que a liberdade de crença dos pais não pode ser imposta aos filhos quando se trata de protegê-los.

A história do post que deu origem a esta apuração teria ocorrido em Santa Catarina. Ao pesquisar no Google, o Comprova encontrou como resultado um caso anterior, semelhante, ocorrido em Brusque, no oeste do estado catarinense.

O Comprova contatou o Conselho Tutelar da cidade. O órgão afirmou que cerca de 70 famílias assinaram, após orientações e tentativa de conscientização, o Termo de Recusa Vacinal nas Unidades Básicas de Saúde da cidade desde janeiro de 2024 (quando a vacina se tornou obrigatória para crianças a partir de 6 meses).

O termo é enviado ao Conselho Tutelar, que pede que os responsáveis compareçam ao órgão, onde lhes são dadas mais informações e, “caso necessário, é aplicada uma advertência”. É dado um prazo para que eles vacinem o filho e, se continuarem se recusando, o caso é enviado ao Ministério Público.

”É importante salientar que a maioria dos genitores compreendem as orientações e vacinam seus filhos antes da comunicação ao MP”, afirmou o conselho de Brusque. Esse processo é feito em casos envolvendo qualquer uma das vacinas obrigatórias, não apenas a da covid-19.

O imunizante contra o novo coronavírus para crianças de seis meses a menores de 5 anos entrou no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 1º de janeiro de 2024 – desde então, é obrigatório. Segundo o Ministério da Saúde, o bebê pode tomar o produto da Moderna, em duas doses, ou da Pfizer, em três. Como doenças evitadas com a vacina, o ministério inclui em seu site “as formas graves e complicações pela covid-19″.

Sobre os efeitos colaterais, o Ministério da Saúde diz que eles “têm sido, em sua maioria, de leves a moderados e não duram mais do que alguns dias”. Segundo o órgão, entre os efeitos mais comuns estão dor no local da injeção, febre, fadiga, dor de cabeça, dor muscular, calafrios e diarreia.

A vacina contra a covid-19 tem sua segurança e eficácia reconhecidas por órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos. Por lá, a vacinação não é obrigatória, mas o FDA recomenda que crianças a partir dos 6 meses a recebam.

No Brasil, entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também defendem a vacinação de bebês.

Fontes consultadas: Ministério da Saúde, Anvisa, Conselho Tutelar de Brusque, OMS e reportagens sobre vacinas contra a covid.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Recentemente, a seção Comprova Explica mostrou como a desinformação sobre vacinas distorce dados e compromete a confiança pública. Ainda sobre conteúdos questionando os imunizantes contra o novo coronavírus, o projeto concluiu ser falso vídeo que usa história de criança sul-africana para alegar paralisia por causa da vacina no Brasil e que estudos mostram benefícios do produto, diferentemente do que afirma post.

Política

Investigado por: 17/04/2025

Vídeo mostra Lula em feira de construção civil e não em “casa de mentira” do Minha Casa Minha Vida

Enganoso
É enganoso o vídeo que mostra o presidente Lula (PT) posando para fotos em frente a uma “casa de mentira” e afirma que se trata de gravação com simulação de entrega de casa do programa Minha Casa Minha Vida. As imagens foram feitas durante visita do presidente a uma feira de construção civil, onde ele posou para fotos em um estande com um modelo de imóvel feito de cerâmica.

Conteúdo investigado: Publicações que utilizam vídeo que mostra o presidente Lula posando para fotos e afirmam que se trata de uma armação feita pelo governo federal para simular uma entrega do programa Minha Casa Minha Vida. “Fizeram uma casa de mentira para dizer que estão entregando casas”, afirma um homem em uma das gravações.

Onde foi publicado: X e Twitter.

Conclusão do Comprova: São enganosos os conteúdos que utilizam um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para afirmar que ele participou de uma simulação de entrega de imóvel envolvendo o programa Minha Casa Minha Vida.

As imagens mostradas nas publicações foram gravadas durante a participação de Lula na Feira Internacional da Construção Civil, a Feicon, no dia 8 de abril de 2025, durante o 100º Encontro Internacional da Indústria da Construção (Enic), em São Paulo. O presidente esteve presente ao lado de ministros e a visita foi registrada pela assessoria de imprensa do Planalto.

O que as publicações dizem ser uma casa é, na verdade, um modelo de imóvel feito de cerâmica. O projeto Casa Cerâmica, responsável pelo estande, fez uma publicação no dia da visita de Lula com fotos do momento. “Construímos uma casa modelo da @pacaembuconstrutora dentro do pavilhão do SP Expo, na maior feira da construção civil da América Latina”, informou a postagem.

A Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), que representa o empresariado do setor junto às instituições públicas e privadas, também registrou a visita do presidente à Feicon. “Na manhã desta terça-feira, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, visitou a @ceramicacasa, na Feicon. A casa modelo foi construída em 5 dias e pode ser replicada em qualquer lugar do Brasil”, informou na publicação.

O perfil oficial do presidente Lula no Instagram publicou várias fotos do evento, entre elas algumas em frente ao imóvel modelo.

| Frame do vídeo viralizado

 

| Post no Instagram da Anicer

A mais recente entrega de unidades habitacionais pelo programa Minha Casa Minha Vida, registrada pelo governo federal, foi em 13 de fevereiro, em Belém (PA). Com relação a campanha de divulgação do programa, o conteúdo mais recente, localizado pela reportagem, foi de 2 de janeiro de 2025, gravado em Fortaleza (CE) e Recife (PE), com imagens reais de conjuntos. Entretanto, os vídeos não têm a participação do presidente.

O Comprova tentou contato com os autores das postagens, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 17 de abril, o post no X teve 813,5 mil visualizações. No Tiktok, o vídeo alcançou 500 mil.

Fontes que consultamos: Busca reversa no Google com frame do vídeo viralizado levou ao site da Revista Anicer. Publicação no portal mostra a construção da casa modelo na Feicon. Depois, foram consultadas as redes sociais da Anicer e do projeto Casa Cerâmica. A presença de Lula no evento foi confirmada por meio de publicação feita pelo Planalto no site do governo federal. Para verificar informações sobre o programa Minha Casa Minha Vida, foi acessado o site da Agência Brasil e o canal no Youtube do Ministério das Cidades.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez outras verificações relacionadas a vídeos que foram tirados de contexto. Uma delas mostra que um vídeo falso foi usado para atribuir apoio do Comando Vermelho a Eduardo Paes. Outra aponta uma montagem que foi feita para mostrar Lula declarando voto em Bolsonaro. O Estadão Verifica e a AFP Checamos também verificaram o vídeo de Lula na Feicon e concluíram que a afirmação acompanhada do conteúdo é falsa.

Notas da comunidade: Até a publicação deste texto, a postagem no X não contava com notas da comunidade.

Saúde

Investigado por: 16/04/2025

Estudo sobre eficácia de vacina da gripe não conclui que imunizante aumenta o risco da doença

Enganoso
É enganoso post que usa estudo feito nos Estados Unidos para afirmar que a vacina contra a gripe é ineficaz e que vacinados têm 27% mais chance de pegar a doença. O estudo foi feito em um centro médico, incluiu apenas profissionais de saúde, em sua maioria adultos jovens e saudáveis, e mediu somente a incidência de gripe entre vacinados e não vacinados. O estudo fala que a eficácia no grupo estudado foi de -26,9%, mas, segundo autores, e diferentemente do que o post afirma, os resultados não concluem que a vacina aumenta o risco de gripe. Além disso, o material não foi revisado por pares e tem limitações, ainda de acordo com os próprios estudiosos.

Conteúdo investigado: Publicação alegando que estudo feito nos Estados Unidos mostra que a vacina da gripe é ineficaz na prevenção da doença.

Onde foi publicado: Site e X.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo de um post do site Médicos pela Vida, segundo o qual um estudo científico aponta que a vacina contra a gripe é ineficaz na prevenção da doença e aumenta em 27% o risco de adoecer. A pesquisa foi feita em um centro médico, incluiu apenas profissionais de saúde que trabalham no local, em sua maioria adultos jovens e saudáveis, e mediu somente a incidência de gripe entre vacinados e não vacinados.

Segundo os autores, o estudo tem limitações e os resultados não concluem que a vacina aumenta o risco de gripe, mas sim que, no grupo restrito analisado, a eficácia do imunizante foi de -26,9%, com uma margem de erro entre -55,0% e -6,6%. O imunizante trivalente inativado, usado pelas pessoas citadas na pesquisa, é o mesmo administrado na população brasileira.

O artigo avaliou a incidência de gripe, e não a gravidade ou nível de hospitalização pela doença, o que historicamente a vacina costuma reduzir. O artigo foi publicado em fevereiro deste ano e atualizado em abril, mas ainda está em fase de preprint, ou seja, não foi avaliado por pares. Segundo o próprio site em que ele foi publicado, estudos como este relatam “novas pesquisas médicas que ainda não foram avaliadas e, portanto, não devem ser usadas para orientar a prática clínica”.

Além disso, os próprios autores do estudo disseram ao Comprova que “os resultados não sugerem que a vacinação aumenta o risco de gripe” e sim que “a eficácia da vacina desta temporada [2024-2025] na prevenção da gripe pode ter sido limitada em profissionais de saúde relativamente saudáveis”. A vacina contra a gripe é uma estratégia eficaz de combate à doença e usada de forma ampla no mundo desde a década de 40.

O Comprova entrou em contato com o site que fez a publicação, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 16 de abril, a publicação tinha 42,2 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: O estudo publicado no MedRxiv, o site da Cleveland Clinic, os autores da publicação, especialista membro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o site do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

O que diz o estudo e onde ele foi publicado?

O estudo que deu origem ao texto checado foi feito com cerca de 50 mil trabalhadores do Cleveland Clinic, um centro médico de pesquisa estadunidense, entre outubro de 2024 e janeiro de 2025. O intuito dos pesquisadores foi verificar a incidência cumulativa da influenza entre esses trabalhadores – em sua maioria, adultos saudáveis – vacinados e não vacinados contra a doença.

Os resultados apontaram uma incidência semelhante de gripe entre os dois grupos no início, mas ela teria aumentado mais rapidamente entre os vacinados ao longo do estudo. A grande maioria dos profissionais que fizeram parte da pesquisa estavam vacinados contra a Influenza e receberam a vacina inativada trivalente.

Segundo dados publicados na versão do texto atualizada em 4 de abril, dos 43,8 mil profissionais vacinados, 1.079 foram infectados (2,02%). O texto apontou que “a vacinação contra influenza foi associada a um maior risco de influenza durante a temporada viral respiratória de 2024-2025, sugerindo que a vacina não foi eficaz na prevenção da doença”.

Apesar disso, os pesquisadores disseram ao Comprova que a conclusão não sugere que a vacinação aumenta o risco de gripe, nem os resultados se aplicam a toda a população – eles se limitam a profissionais de saúde saudáveis. Além disso, há limitações especificadas no próprio texto do artigo, como o fato de ele não ter medido a eficácia da vacina para reduzir a gravidade da doença e as hospitalizações.

Quem são os responsáveis pelo estudo? Ele foi revisado?

O artigo é assinado por quatro pesquisadores: Nabin K. Shrestha, médico do departamento de doenças infecciosas da Cleveland Clinic; Amy S. Nowacki, médica do departamento de ciências quantitativas da saúde da Cleveland Clinic; Steven M. Gordon, médico do departamento de doenças infecciosas da Cleveland Clinic; e Patrick C. Burke. O quarteto já assinou uma série de artigos juntos.

A publicação disponível online, por enquanto, não foi revisada por pares. O artigo foi publicado no repositório online MedRxiv, projeto colaborativo do laboratório Cold Spring Harbor (CSHL), Universidade de Yale e British Medical Journal (BMJ). A plataforma é destinada à publicação de preprints acadêmicos. O Frequently Asked Questions (FAQ) do site aponta que as publicações feitas ali não são revisadas por pares, nem sofrem edições antes de serem publicadas, podendo conter erros.

O site do repositório ainda deixa claro que preprints não devem ser considerados como orientação para a prática clínica ou comportamentos relacionados à saúde e não devem ser divulgados na mídia como informação consolidada.

O próprio estudo, no subtítulo da discussão, aponta que existem limitações importantes no preprint. Uma delas é o fato de que a vacina inativada trivalente contra a Influenza foi usada em 99% da coorte de estudo, e que não se pode descartar a possibilidade de que outras vacinas tenham sido mais eficazes na temporada de 2024-2025. O estudo também não comparou hospitalizações e mortalidades, nem incluiu crianças e idosos.

Publicação não concluiu que vacina da gripe é ineficaz, dizem autores

Em nota enviada ao Comprova, os autores do estudo explicaram que “os resultados não sugerem que a vacinação aumenta o risco de gripe”. Isso vai de encontro à publicação que viralizou no Brasil. “Em vez disso, o estudo sugere que a eficácia da vacina desta temporada na prevenção da gripe pode ter sido limitada em profissionais de saúde relativamente saudáveis”, completa a nota.

Os estudiosos acrescentaram que a vacina contra a gripe pode ser altamente eficaz na redução da gravidade da doença, na prevenção a hospitalizações e na minimização da disseminação do vírus. No entanto, a eficácia pode variar a depender da cepa predominante em cada temporada, além de fatores individuais, como idade e condições de saúde.

“A análise dos dados mostrou que a incidência de influenza foi maior entre os indivíduos vacinados do que entre os não vacinados. No entanto, os dados vieram de uma população relativamente saudável de cerca de 50 mil profissionais de saúde e não representavam a população em geral”, frisa a nota. Os pesquisadores destacaram ainda que o número de pessoas infectadas foi pequeno diante de um universo de mais de 43 mil vacinados.

Leia abaixo a nota completa do Cleveland Clinic:

O estudo tem fragilidades?

O estudo se trata de um preprint, ou seja, ainda não passou pela revisão de pares. Nesse sentido, a vice-presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Melissa Palmieri, aponta que a pesquisa possui fragilidades relacionadas ao tipo do estudo e à população que foi analisada.

A pesquisa foi feita com uma população relativamente jovem, com idade média de 42 anos, sendo 75% do sexo feminino. Cerca de 20% exerciam atividade profissional em enfermagem clínica. “Isso limita a generalização dos resultados para outras faixas etárias, gênero e população fora do ambiente de saúde”, explica Melissa.

A especialista esclarece que a natureza ocupacional das pessoas que participaram da pesquisa (todas atuam na Cleveland Clinic) pode interferir em pontos como o grau de exposição ao vírus e o nível de cuidado com a própria saúde, o que pode enviesar o estudo.

Na análise de Melissa, o tipo do estudo (estudo de coorte prospectivo) também deixa perguntas sem respostas. “Quem se testava mais? Eram imunossuprimidos? Tinham filhos pequenos em creches (crianças têm mais chances de se infectar)? Trabalhavam na assistência direta aos pacientes? Em detrimento de quem não se vacinou, mas também não se testou ou até fez o autoteste, mas não reportou?”, pondera.

Ela ainda critica o fato do estudo não ter acompanhado o estado de saúde das pessoas que adoeceram. “A grande riqueza da vacina é prevenir casos graves e mortes. O ideal é que se olhasse os desfechos graves”, frisa Melissa, que classifica a postagem em questão como um caso de cherry picking. “Pegam um estudo, dentre milhares que mostram a segurança e eficácia (da vacina), e fazem uma descontextualização da importância da vacinação contra a gripe”, diz Melissa.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O PolitiFact e a Lupa também checaram conteúdos nas redes sociais sobre o mesmo estudo. Sobre a covid-19, o Comprova já verificou outros conteúdos publicados pelo MPV: mostrou ser enganoso que um estudo de Harvard comprovava a eficácia da hidroxicloroquina na prevenção da doença; publicou que era falso que pessoas vacinadas tinham o dobro de chance de se contaminar; que o site enganava ao dizer que miocardite e pericardite são causadas apenas por vacina, e não por covid-19; e ainda que a morte de seis médicos canadenses não teve relação com o imunizante.

Notas da comunidade: Até a publicação deste texto, não foram adicionadas notas na comunidade à postagem no X.

Política

Investigado por: 15/04/2025

Vídeo mostra debate sobre ações de Alexandre de Moraes, não de condenação do ministro nos EUA

Enganoso
Post engana ao dizer que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi condenado por uma corte nos Estados Unidos. A publicação tira de contexto a fala da deputada republicana Maria Elvira Salazar, durante a realização de uma comissão para discutir ações de Moraes contra plataformas virtuais. A audiência não teve caráter condenatório, ao contrário do que afirma o post.

Conteúdo investigado: Vídeo em inglês mostra uma deputada americana fazendo críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Um texto sobreposto ao conteúdo afirma que Moraes foi “condenado por corte dos Estados Unidos” por “violar direitos humanos na corte internacional”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo publicado no TikTok que afirma que o ministro do STF Alexandre de Moraes foi “condenado por corte dos Estados Unidos” por “violar direitos humanos”. No trecho checado, Maria Elvira Salazar, uma deputada republicana da Flórida, chega a dizer que Moraes estaria restringindo a liberdade de expressão dos brasileiros.

No entanto, a publicação usa um recorte do discurso da deputada de maio do ano passado, durante uma audiência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Esse debate aconteceu para ouvir relatos de supostas ameaças à democracia, perseguição política e censura no Brasil, por parte do governo brasileiro.

Maria Elvira criticou Moraes, alegando que o ministro estaria cerceando a liberdade de expressão dos brasileiros. “Não sabemos se o Sr. Moraes é um socialista (…) mas sabemos que ele está cerceando um dos direitos fundamentais de uma democracia que é a liberdade de expressão”, disse a deputada republicana.

Na ocasião, foram ouvidas figuras como Michael Shellenberger e Paulo Figueiredo. Os parlamentares Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também estavam presentes.

A deputada Maria Elvira Salazar faz perguntas a Michael Shellenberger sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes. A audiência está disponível na íntegra no YouTube, e a fala de Salazar pode ser vista a partir do minuto 1:26:00. Esse é o momento em que sua fala foi tirada de contexto e republicada em peças como a checada. No entanto, a fala não tem relação com nenhuma condenação de Moraes no país nem houve desdobramentos condenatórios.

O mesmo vídeo já foi tirado de contexto em outro momento, como mostrou uma checagem do Estadão Verifica.

Como também mostrou o Estadão em fevereiro deste ano, o ministro Alexandre de Moraes é alvo de uma ação na Justiça dos Estados Unidos com a alegação de violação à soberania americana. O processo é movido pela Trump Media, do presidente dos EUA Donald Trump, e pela plataforma de vídeos Rumble. As empresas tentaram acusar o ministro de censura, e a Justiça dos Estados Unidos negou o pedido da companhia.

A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que vai atuar na ação movida pelas empresas e que a defesa será realizada em parceria com um escritório internacional com competência para atuar na justiça norte-americana. “Como previsto na legislação brasileira que disciplina a representação judicial no exterior. A pedido do STF, a AGU já iniciou as tratativas para atuação jurídica no caso”, informou a AGU em texto publicado no site oficial.

Por meio de nota, a AGU informou que não houve, até o momento, notificação para que o ministro Moraes apresentasse defesa. “A pedido do STF, a AGU seguirá monitorando o andamento do processo”, informou ao Comprova. A reportagem também não encontrou processos ou ações contra o ministro em outros países.

O Comprova entrou em contato com a página responsável pela publicação do vídeo, mas não obteve resposta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 14 de abril, o vídeo no TikTok tinha 77 mil curtidas e 17 mil compartilhamentos. O conteúdo obteve 983 mil visualizações.

Fontes que consultamos: O Comprova procurou por notícias de que Alexandre de Moraes teria sido condenado nos Estados Unidos e por audiências citando o ministro nos EUA. A busca resultou nesta checagem do Estadão Verifica, de agosto de 2024: “Vídeo de congressista dos EUA com críticas a Alexandre de Moraes não é recente”. O Comprova também procurou no YouTube pela transmissão do debate e pelo discurso completo da deputada americana (aqui e aqui).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema:Em checagens anteriores, o Comprova já examinou um conteúdo que enganava ao dizer que Moraes foi condenado por tribunal internacional. Também já mostramos em quais circunstâncias um ministro do STF pode ser preso, no Brasil e que é boato que o presidente Donald Trump poderia mandar prender o ministro por “supostas ordens ilegais” – a legislação brasileira veda a possibilidade de expedição de prisão por parte de um presidente americano contra um ministro do STF.

 

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 17 de abril de 2025, às 17h30, para incluir manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU).

Política

Investigado por: 11/04/2025

Pipoqueiro e sorveteiro não estavam trabalhando quando foram presos em frente ao QG do Exército

Contextualizando
Em meio à mobilização pela anistia dos condenados pelo 8 de janeiro de 2023, circulam posts dizendo que o Supremo Tribunal Federal (STF) erra ao condenar um pipoqueiro e um vendedor de sorvete, citados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em discurso recente. Um dos posts fala que “dois trabalhadores com seus equipamentos de venda são considerados golpistas” e que o caso é um “manicômio judicial”. Os homens disseram ter chegado a um acampamento em frente ao Quartel-General do Exército de Brasília em 8 de janeiro, mas negaram ter participado dos ataques à Praça dos Três Poderes. Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), ao estarem no acampamento, eles aderiram ao grupo que queria o golpe.

Conteúdo analisado: Post sobre condenação de pipoqueiro e vendedor de sorvete que participaram do ato golpista de 8 de janeiro. Na legenda, o autor escreve: “Pipoca e sorvete são armas de golpe? Para o STF, dois trabalhadores com seus equipamentos de venda são considerados golpistas. Além deles, outras três pessoas foram condenadas nesta sexta-feira. Esse manicômio judicial precisa acabar. Alexandre de Moraes e seus capangas precisam pagar pela crueldade contra o povo”.

Onde foi publicado: X e Instagram.

Contextualizando: Estão circulando nas redes sociais posts questionando se “pipoca e sorvete são armas de golpe”. Essas publicações se referem a dois homens que foram condenados por atos golpistas e citados por Jair Bolsonaro, no domingo (6), em São Paulo, em ato pró-anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro.

“Olhe só o que está acontecendo no Supremo no dia de hoje. Eles já têm maioria para condenar um pipoqueiro e um sorveteiro por golpe de Estado. É inacreditável o que acontece”, afirmou Bolsonaro, que, em seguida, falou sobre o caso em inglês.

O sorveteiro e o pipoqueiro são, respectivamente, Otoniel Francisco da Cruz, de 45 anos, e Carlos Antônio Eifler, de 55. Eles foram condenados pelo STF, em 4 de abril, a um ano de reclusão por associação criminosa. A pena privativa de liberdade foi substituída pela restrição de direitos, e eles terão que prestar 225 horas de serviços à comunidade ou a entidades públicas e participar presencialmente do curso Democracia, Estado de Direito e Golpe de Estado, com 12 horas de duração, além do pagamento de multa. Eles não podem sair da comarca em que vivem nem usar redes sociais até o cumprimento total da pena.

A maioria dos ministros do STF seguiram o voto do relator, Alexandre de Moraes. Apenas Kassio Nunes Marques e André Mendonça pediram a absolvição.

Os dois condenados negam ter participado dos ataques na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Cruz, que mora em Porto Seguro, na Bahia, disse ter chegado a Brasília na noite de 8 de janeiro, quando os ataques na Praça dos Três Poderes já teriam ocorrido, e que ficou em um acampamento em frente ao quartel do Exército. Contou não ter pago o deslocamento nem a comida e a bebida que recebeu no acampamento. E que não sabia quem havia pago pela viagem.

Eifler vive em Lajeado, no Rio Grande do Sul. À Justiça, contou ter ido à capital federal ao ser convidado para participar de um “abraço simbólico” na Esplanada dos Ministérios. Disse ainda que houve problemas no trajeto, fazendo com que ele só chegasse ao destino à tarde e se dirigisse diretamente ao acampamento em frente ao QG do Exército.

O “sorveteiro” e o “pipoqueiro” foram presos em 9 de janeiro, no acampamento. Diferentemente do que afirma um dos posts virais, eles não estavam trabalhando – nem vendendo sorvete nem pipoca. Segundo a Procuradoria-Geral da República, que denunciou os dois, mesmo que eles possam não ter participado dos atos de vandalismo, “o acampamento passou a se constituir como ponto de encontro para uma associação estável e permanente, que ali se estabeleceu e permaneceu inclusive durante a prática dos atos de vandalismo e protestos antidemocráticos consumados no dia 8 de janeiro de 2023, com a invasão das sedes dos Três Poderes”.

Posts afirmando que eles teriam sido condenados porque estariam apenas trabalhando são mais um dos conteúdos que circulam causando desinformação sobre as penas. Recentemente, o Comprova mostrou que a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos não foi condenada “só” por ter escrito “perdeu mané” em uma escultura na Praça dos Três Poderes, como tem sido espalhado em publicações nas redes sociais. Ela foi condenada por cinco crimes (abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada).

Fontes consultadas: Sites do STF e do JusBrasil e reportagens sobre o caso.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: A condenação dos réus envolvidos nos atos golpistas tem gerado muita desinformação nas redes sociais. Além de ter contextualizado o caso da cabeleireira que pichou estátua, o Comprova já mostrou ser enganoso um post que afirma que Moraes atropelou a competência do Superior Tribunal Militar ao decidir que cabe ao STF julgar os militares e explicou história de advogado impedido de entrar em julgamento do STF.

Saúde

Investigado por: 11/04/2025

Vídeo engana ao usar história de criança sul-africana para alegar paralisia por vacina da covid no Brasil

Falso
Vídeo falso usa imagens de garoto da África do Sul que perdeu os movimentos das pernas por causa de uma condição de saúde rara, a Mielite Flácida Aguda (AFM), para dizer que após a aplicação de uma dose da vacina Astrazeneca, em 2021, menino brasileiro ficou paralisado e desenvolveu mielite transversa, uma inflamação na medula espinhal. No Brasil, a vacinação de crianças começou apenas em 2022 e o imunizante utilizado foi a Pfizer pediátrica. O diagnóstico da criança estrangeira não tem relação com vacinas ou com a covid-19.

Conteúdo investigado: Vídeo em português que mostra imagens de uma criança com dificuldades de locomoção e afirma que a condição teria sido causada por uma vacina contra a covid-19 aplicada fora do prazo de validade. O post alega que o menino de 7 anos se chamaria Vitor e teria ficado paralisado após receber a dose em 2021.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Post viral utiliza imagens de uma criança que vive na Cidade do Cabo, na África do Sul, e perdeu os movimentos das pernas por causa de uma condição de saúde rara, a Mielite Flácida Aguda (AFM). O menino não é brasileiro e o diagnóstico não tem relação com a covid-19 ou vacinas. Por meio de busca reversa no Google, descobrimos que o post em português usa trechos de diferentes vídeos publicados originalmente em inglês nas redes sociais pela família do garoto sul-africano.

O menino nas imagens é Elijah Cottle, de 5 anos, que foi diagnosticado com AFM em 2022. A doença, que apresenta sintomas semelhantes à poliomielite, afeta o sistema nervoso e geralmente é causada por uma infecção viral. No Instagram e no TikTok, a família compartilha a trajetória do garoto e pede doações para que possam comprar um Trexo, exoesqueleto robótico que ajuda crianças com deficiência a andar.

No Brasil, fotos e vídeos de Elijah começaram a ser publicados em uma conta no Instagram. No perfil, alguém usava imagens da criança e dizia que ele se chamava Vitor e sofria de mielite transversa, uma inflamação na medula espinhal. A história contada aos seguidores era de que o menino havia ficado paralisado após receber uma dose vencida de vacina contra a covid-19. Os posts pediam doações via PIX. Após a repercussão do caso, o perfil foi configurado para funcionar como uma conta privada.

O vídeo alega ainda que o menino teria recebido a vacina da farmacêutica Astrazeneca em março de 2021. Porém, no Brasil, a imunização contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos só teve início em 2022. Além disso, o imunizante da Astrazeneca não foi aplicado no público infantil. No país, a campanha de imunização para esse grupo utilizou a Pfizer pediátrica, que posteriormente, em 2024, passou a integrar o Calendário Nacional de Vacinação para crianças de 6 meses a menores de 5 anos.

O Comprova não conseguiu entrar em contato com o autor da postagem no X porque o perfil não aceita o envio de mensagens diretas.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 11 de abril, o vídeo no X já tinha 433,6 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Google, por meio do qual foi feita a busca reversa utilizando frames do vídeo, as redes sociais de Elijah Cottle, o perfil no Instagram que se passava pelo garoto, o site e a assessoria de comunicação do Ministério da Saúde, além de sites de jornais brasileiros.

Efeitos adversos são raros

O vídeo verificado mostra manchetes sobre os supostos efeitos colaterais da vacina da Astrazeneca. Conforme já explicou o Comprova, no Brasil, qualquer medicamento ou imunizante precisa ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser distribuído para a população. A vacina da Astrazeneca teve o registro aprovado pelo órgão em março de 2021.

Segundo a agência brasileira, o registro é dado quando evidências científicas mostram que os benefícios do medicamento superam os riscos potenciais. Esse é o caso da Astrazeneca e de outras vacinas, como aquela aplicada contra o papilomavírus humano (HPV), vírus causador do câncer de colo de útero.

Um dos efeitos adversos muito raros da Astrazeneca já registrados é a Síndrome de Trombose com Trombocitopenia (TTS). Em 2023, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produz o imunizante no Brasil, esclareceu que eventos como a STT são extremamente raros e possivelmente associados a fatores pré-existentes em cada indivíduo. Um ano depois, em 2024, quando voltou a circular desinformação sobre o medicamento, o Ministério da Saúde reforçou que a vacina é segura.

Ministério da Saúde esclarece não haver associação causal

Questionado sobre o assunto, o Ministério da Saúde comunicou que não há evidências que sustentem uma associação causal entre a vacina contra a covid-19 e a ocorrência de mielite transversa em crianças. A pasta destacou que “embora existam relatos isolados na literatura médica de casos que ocorreram após a vacinação contra a Covid-19, isso não significa que a vacina tenha sido a causa”, sendo que “diversos estudos epidemiológicos já foram realizados e, até o momento, não há evidências científicas robustas que estabeleçam essa ligação”.

O governo federal ainda ressaltou que para que qualquer suspeita seja analisada com rigor, é fundamental que o caso seja formalmente notificado por um profissional de saúde. “Somente por meio da notificação e de uma investigação criteriosa é possível avaliar a situação com base em dados clínicos, exames complementares e contexto individual. Sem esses elementos, não é possível tirar conclusões seguras”, afirmou o Ministério da Saúde.

Vídeo usa matéria de 2021

O vídeo viralizado no X mostra uma reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo em julho de 2021 que aponta que cerca de 26 mil doses da Astrazeneca fora da validade foram aplicadas em 1,5 mil municípios brasileiros. Na época, o Ministério da Saúde esclareceu que não distribui doses de vacina vencidas aos estados e Distrito Federal e acompanha rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas contra a covid-19 recebidas e distribuídas.

O governo federal ainda explicou que de acordo com o Plano de Operacionalização da pasta, os estados e municípios que eventualmente tenham aplicado vacinas vencidas devem fazer a busca ativa e monitorar os casos, inclusive a possibilidade de eventos adversos. Além disso, os casos de pessoas que tenham sido vacinadas com data de validade fora do prazo devem ser notificados como um erro de imunização no e-SUS Notifica.

Depois da reportagem da Folha de São Paulo, prefeituras negaram a aplicação de vacinas vencidas e disseram haver erro de registro no sistema do governo federal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que a desinformação sobre vacinas compromete a confiança pública nos imunizantes, que estudos mostram os benefícios da vacinação infantil contra a covid-19 e ainda desmentiu um post que contesta a segurança dos imunizantes contra o coronavírus. Além disso, o Estadão Verifica também já provou que o vídeo em questão é falso.

Notas da comunidade: Até a publicação deste texto, o post no X não apresentava notas da comunidade.

Política

Investigado por: 09/04/2025

Cabeleireira que pichou estátua da Justiça no 8 de janeiro é acusada de cinco crimes, não só de vandalismo

Contextualizando
Post compara atentado contra a estátua da Justiça em 2016 com pichação feita na mesma obra durante os atos golpistas do 8 de janeiro de 2023. A publicação alega que o primeiro ataque seria de responsabilidade de movimentos de esquerda e, por esse motivo, estaria impune. Já o segundo, feito pela direita, é classificado como atentado contra a democracia. Não há provas de que os envolvidos na ação de 2016 sejam pessoas de esquerda. Naquele ano, grupos antiaborto jogaram tinta vermelha na obra em retaliação a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Mulher que escreveu “perdeu mané” na escultura em 2023 responde por cinco crimes.

Conteúdo analisado: Post que coloca lado a lado duas imagens da estátua da Justiça, situada em frente ao prédio do STF. De um lado, a obra está coberta por uma tinta vermelha que simula sangue. No extremo oposto, a escultura tem uma bandeira do Brasil amarrada ao pescoço e os dizeres “perdeu mané” escrito no peito. As imagens vêm acompanhadas de manchetes de jornais e textos. As legendas afirmam que, enquanto uma ação feita pela esquerda foi considerada “no máximo vandalismo”, a outra feita pela direita foi classificada como “atentado contra a democracia e terrorismo”, fazendo referência aos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Onde foi publicado: TikTok.

Contextualizando: As imagens mostram duas situações diferentes envolvendo a mesma escultura, a estátua “A Justiça”, localizada em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Elas vêm sendo compartilhadas fora de contexto em meio à mobilização da direita pela anistia dos condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. A foto da estátua coberta por tinta retrata uma ação de 2016. Em novembro daquele ano, a Primeira Turma do STF determinou em um caso específico não ser crime o aborto até o 3º mês de gestação. Como forma de protesto contra a decisão dos magistrados, pessoas ligadas a grupos conservadores e entidades que se intitulam “pró-vida” jogaram tinta vermelha e um boneco “ensaguentado” na estátua.

Não há provas de que as pessoas que atentaram contra a estátua em 2016 sejam ligadas a movimentos de esquerda, como a publicação afirma. Tradicionalmente, a pauta antiaborto faz parte da agenda de grupos conservadores. O caso chegou a ser investigado pela Polícia Federal (PF). O Comprova entrou em contato com a PF para verificar o resultado da investigação, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.

Já a pichação “perdeu mané” foi feita pela cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, de 39 anos, durante a invasão às sedes dos Três Poderes em 2023. O post comparando os dois atos faz parte de uma série de outras publicações que disseminam versões enganosas sobre o caso de Débora, na tentativa de minimizar suas ações e dizer que ela foi presa e está sendo julgada “só por pichar uma estátua com batom”, o que não é verdade. Na verdade, ela responde por cinco crimes diferentes (leia mais abaixo).

Os possíveis crimes cometidos em cada um dos casos não são os mesmos. Por isso, não é correto compará-los. Conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o episódio do 8 de janeiro envolveu uma tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito e a deposição do governo legitimamente constituído. Débora, por exemplo, participava dos acampamentos em frente ao Quartel-General do Exército (QGEx), em Brasília, um dos locais onde a tentativa de golpe foi discutida. Ela chegou a pedir desculpas ao STF pelo atentado.

O Comprova entrou em contato com o autor da publicação feita no TikTok, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

“Só uma pichação de batom”

Diferentemente do que diversas publicações disseminadas nas redes sociais apontam desde que o julgamento de Débora no STF começou, a cabeleireira responde por cinco crimes diferentes. O ministro Alexandre de Moraes, que é relator das ações ligadas ao atentado do 8 de janeiro, votou a favor de que a condenação dela aconteça da seguinte forma:

Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito: pena de 4 anos e 6 meses de reclusão;

Golpe de Estado: pena de 5 anos de reclusão;

Dano qualificado: pena de 1 ano e 6 meses de detenção e 50 dias-multa, sendo cada dia multa em 1/3 do salário mínimo;

Deterioração do Patrimônio Tombado: pena de 1 ano e 6 meses de reclusão e 50 dias-multa, com cada dia multa em 1/3 do salário-mínimo;

Associação Criminosa Armada: pena de 1 ano e 6 meses de reclusão.

Ao todo, são 14 anos de pena, sendo 12 anos e 6 meses de reclusão e 1 ano e 6 meses de detenção, e 100 dias-multa.

O ministro Flávio Dino acompanhou Moraes. O ministro Luiz Fux pediu vistas (mais tempo para analisar o caso), mas durante o julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe, sinalizou que pode rever a pena de Débora.

Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, ministros que também são membros da 1º turma do STF, não se manifestaram. Não há data ainda definida para a ação voltar a ser analisada.

No dia 28 de março, Moraes concedeu prisão domiciliar a Débora. Ela está presa preventivamente desde março de 2023. A PGR opinou pela prisão domiciliar até a conclusão do julgamento. Para conceder a prisão domiciliar, o ministro definiu as seguintes medidas cautelares:

  • Uso de tornozeleira eletrônica;
  • Proibição de utilização de redes sociais;
  • Proibição de comunicar-se com os demais envolvidos, por qualquer meio;
  • Proibição de concessão de entrevistas, salvo mediante autorização do STF;
  • Proibição de visitas, salvo de seus advogados, pais, irmãos e outras pessoas autorizadas pela Corte.

Fontes consultadas: Voto do ministro Alexandre de Moraes pela condenação de Débora. Decisão do mesmo ministro que concedeu prisão domiciliar para a mulher que é ré. Além disso, também foram consultadas reportagens de diversos jornais brasileiros.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já publicou que é enganoso um post que afirma que Moraes atropelou a competência do Superior Tribunal Militar ao decidir que cabe ao STF julgar os militares envolvidos nos atos de 8 de janeiro em Brasília. Outras verificações mostraram que não é verdade que o presidente Lula (PT) armou a invasão e que o atentado não foi uma “farsa”. Sobre o caso da verificação em questão, o Estadão Verifica e Aos Fatos apuraram que Débora Rodrigues é acusada de cinco crimes. O UOL Confere já apontou que Débora não é acusada apenas pela pichação e o Estadão Verifica esclareceu que a PGR não ofereceu acordo de não persecução penal a ela por conta da gravidade dos crimes.

Comprova Explica

Investigado por: 07/04/2025

Como a desinformação sobre vacinas distorce dados e compromete a confiança pública

Comprova Explica
Diversos estudos já comprovaram a eficácia e a segurança das vacinas contra a covid-19, mas, cinco anos depois do início da pandemia, os conteúdos de desinformação sobre o assunto continuam viralizando nas redes sociais. Contra eles, a seção Comprova Explica mostra como é a produção e a avaliação dos imunizantes e como a desinformação atrapalha o debate.

Conteúdo analisado: Posts com desinformação sobre as vacinas contra a covid-19. Conteúdos que afirmam que as vacinas causam doenças graves e que aumentaram o número de mortes pelo novo coronavírus, entre outros.

Comprova Explica: Já se passaram cinco anos desde o início da pandemia e quase dois do fim dela, mas conteúdos com desinformação sobre a vacina contra a covid-19 continuam circulando, sejam os antigos que voltam a viralizar ou novos que são criados.

Contra essas publicações, ainda em 2022, a seção Comprova Explica publicou, por exemplo, texto explicando por que os eventos adversos graves pós-imunização são raros e que os benefícios superam os riscos. No mesmo ano, trouxe outro texto informando que era mentirosa a associação entre a vacina e o HIV.

Estudos já comprovaram a eficácia e a segurança das vacinas, e diversas pesquisas confirmaram que elas foram fundamentais para o controle do vírus. Em setembro do ano passado, a prestigiada revista The Lancet publicou estudo estimando que, entre dezembro de 2020 e março de 2023, as vacinas contra a covid salvaram 1,6 milhão de vidas na Europa.

Um outro estudo, também publicado pela The Lancet em 2024, mostrou que as vacinas contra 14 tipos de doenças salvaram 154 milhões de vidas nos últimos 50 anos. A grande maioria das vidas salvas foram de crianças – 101 milhões.

Mas os desinformadores distorcem informações ou inventam dados para espalhar preocupação e fortalecer o movimento antivacina.

Recentemente, um artigo publicado no The New York Times trouxe uma discussão interessante: embora aceitemos diariamente viver com riscos – seja ao tomar banho de banheira, onde pessoas morrem afogadas, ou ao subir uma escada de onde a queda pode ser fatal –, e embora a relação risco-benefício seja mais explícita na área da medicina e consigamos compreender que um medicamento pode causar convulsões e mesmo assim tomá-lo, a discussão sobre os riscos das vacinas se tornou impossível.

“Quando pesquisadores relatam um efeito colateral aparente ou resultado adverso, eles podem estar quase certos de que atores ruins distorcerão suas palavras para minar seu significado”, diz o texto escrito pelo jornalista e palestrante na Escola de Saúde Pública de Yale, James Hamblin, referindo-se a conteúdos de desinformação. Frente a essa discussão, a seção Comprova Explica traz detalhes de como é o processo de produção e avaliação dos imunizantes e como a desinformação afeta o debate.

Como é medido o risco de um medicamento?

Para chegar às farmácias, qualquer medicamento no Brasil precisa ser antes aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No órgão, a unidade responsável por analisar a segurança e eficácia é a Gerência de Avaliação de Segurança e Eficácia (GESEF), da Gerência-Geral de Medicamentos.

Essa avaliação, diz a Anvisa, segue regras estabelecidas pelas Boas Práticas de Avaliação (BPA) da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a agência brasileira, o registro é dado quando evidências científicas mostram que “os benefícios conhecidos e potenciais do medicamento, quando usado para diagnosticar, prevenir ou tratar a doença ou condição clínica identificada, superam os riscos conhecidos e potenciais”.

Ao Comprova, a médica Luciana Miyahira de Mello Nunes, responsável técnica pelo Conecta Médico, plataforma de telemedicina da Interplayers, hub de negócios da saúde e bem-estar, afirmou que as evidências devem ser baseadas em pesquisa básica (com etapas como descobrimento da molécula e testes in vitro) e as três primeiras fases da pesquisa clínica, com testes em animais e em humanos.

Também à reportagem, Mayra Moura, doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), diz que as fases dos estudos clínicos seguem protocolos que contam com um comitê externo, sem ligação com o patrocinador daquele medicamento que está sendo desenvolvido. “Se foi identificada uma reação inesperada grave, esse comitê é acionado e é feita uma avaliação para entender se vale continuar com o estudo ou não.”

Com os imunizantes é diferente?

Não. A aprovação de vacinas no Brasil segue os mesmos critérios estabelecidos para qualquer medicamento.

O processo também segue as Boas Práticas de Fabricação da OMS, que, segundo a Anvisa, “têm o objetivo de estabelecer padrões de qualidade para assegurar que os medicamentos sejam fabricados de maneira uniformizada, visando minimizar a ocorrência de trocas, misturas ou contaminações na fabricação, garantindo ainda a possibilidade de se rastrear seus componentes desde a matéria-prima até a disponibilização ao consumidor final”.

“Vacinas são substâncias que induzem o sistema imunológico do corpo humano a produzir anticorpos contra aquela determinada doença, de origem viral ou bacteriana”, diz Luciana, que reforça que o processo de aprovação também engloba uma fase pré-clínica e outra clínica. “A fase pré-clínica envolve toda pesquisa sobre os vírus ou bactérias, a doença e a forma como o corpo age após a exposição ao patógeno ou durante a doença.”

Depois, ela explica, são realizados estudos para “testar e tentar comprovar a resposta imune que aquela substância consegue induzir em animais” e, “com a demonstração de resultados positivos nesta fase, a pesquisa avança para a fase clínica, divididas em 4 etapas, assim como nos testes para medicamentos”.

Nas vacinas, os riscos de efeitos colaterais costumam ser muito menores do que o das doenças. O que isso significa na prática?

Apesar de intensa campanha de desinformação sobre o tema, a ciência prova que as vacinas são seguras. Os riscos de efeitos colaterais são muito menores do que os riscos das próprias doenças que elas previnem.

“Quando falamos de vacinas, estamos falando de medicamentos extremamente seguros. Os eventos adversos mais comuns são leves, como dor no local da aplicação, vermelhidão ou febre baixa. E duram, em média, de dois a três dias”, explica a enfermeira Mayra Moura.

A comparação com os riscos das doenças é direta. “Um bom exemplo é a miocardite. Ela pode acontecer como efeito colateral da vacina contra a covid-19, mas acontece com muito mais frequência em quem contrai a própria covid. Ou seja: o risco de não se vacinar é sempre maior”, destaca.

A médica assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) Jorgete Maria e Silva acrescenta que, no caso da vacina contra a febre amarela, por exemplo, o risco de reação grave após a aplicação do imunizante é de 0,8 casos para cada 100 mil doses aplicadas, enquanto a letalidade da doença é em torno de 60% a 80% para os não vacinados.

“De uma forma geral, a incidência de eventos adversos é bem menor nos vacinados do que o risco de adoecer nos não vacinados”, reforça Jorgete.

Como são reportados os efeitos colaterais?

Qualquer sintoma inesperado que apareça após a vacinação é monitorado pelas autoridades de saúde. Esses episódios são chamados de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI).

“Tudo o que acontece com a pessoa depois da vacina deve ser avaliado. Mesmo que ainda não se saiba se foi causado diretamente pela vacina, o profissional de saúde precisa registrar”, explica Mayra. No Brasil, a notificação é feita pelo sistema e-SUS Notifica e dá início a uma investigação.

Esse processo passa por três níveis: municipal, estadual e federal. O caso é analisado em busca de uma possível relação causal com a vacina. Quando essa ligação é confirmada, o evento deixa de ser considerado apenas um ESAVI e passa a ser classificado como reação adversa — aquela que vai para a bula do imunizante.

Como e quando os efeitos adversos são incorporados à bula?

O processo de avaliação de uma vacina não termina quando ela é aprovada para uso na população. Mesmo depois de licenciada, a vacina segue sob monitoramento constante, tanto pelo fabricante quanto pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

“Isso acontece com qualquer medicamento. Qualquer remédio que esteja disponível para uso é monitorado enquanto existir. Com as vacinas, não é diferente”, explica Mayra Moura.

O acompanhamento contínuo permite verificar se o perfil de segurança identificado nos ensaios clínicos se mantém ao longo do tempo ou se há novas informações que precisam ser incluídas na bula. “Às vezes, uma reação muito rara não aparece durante os testes, porque esses estudos, por maiores que sejam, ainda envolvem um número limitado de pessoas. Mas quando a vacina passa a ser aplicada em milhões de pessoas, essas reações raras podem surgir”, afirma a especialista.

Como a desinformação provoca ruído no debate sobre vacinas?

O professor sênior da (USP) e vice-presidente para São Paulo da Academia de Brasileira de Ciências (ABC), Glaucius Oliva, explica que, durante a pandemia da covid-19, as revistas científicas decidiram publicar imediatamente os artigos relacionados à doença, sem cobrança dos autores para publicação e com acesso liberado ao público. O objetivo era promover a circulação de informações sobre a doença da forma mais rápida possível, numa expectativa de que isso pudesse contribuir para o controle da pandemia.

No entanto, o que seria uma atitude bem intencionada, acabou por servir de combustível para o movimento antivacina, pois não houve tempo necessário para uma revisão por pares criteriosa dos artigos antes de eles serem publicados, inclusive em revistas de prestígio na comunidade científica, o que resultou na divulgação de informações que, posteriormente, se mostraram incorretas.

“O resultado disso é que diversos artigos científicos publicados forneceram, eu diria intencionalmente ou não, material que depois veio a ser utilizado de forma indevida pelos movimentos antivacina para gerar dúvidas sobre segurança e eficácia das vacinas”, diz Oliva.

Mesmo após serem retirados de publicação por erros metodológicos e conclusões equivocadas, esses estudos continuaram a circular na internet, alimentando as campanhas de desinformação e influenciando a percepção pública. Um dos exemplos é o estudo “The Safety of covid-19 Vaccinations—We Should Rethink the Policy” (“A segurança das vacinas contra covid-19 — Devemos repensar a política”). Publicado na revista Vaccines em 24 de junho de 2021, ele sugeria que, para cada três mortes evitadas pela vacina contra a covid-19, duas seriam causadas pela própria vacina.

O artigo foi retirado de publicação no mês seguinte, após uma série de críticas que apontaram erros no trabalho e levaram, inclusive, à renúncia de membros do conselho editorial da revista. “Esse artigo foi amplamente promovido por ativistas antivacina para sustentar suas alegações sobre supostos perigos”, diz Oliva. “Isso nos mostra a importância da revisão vigorosa por pares e da interpretação cautelosa de resultados científicos, especialmente durante crises globais de saúde”.

Por outro lado, a proliferação das chamadas revistas predatórias – que lucram com taxas cobradas para a publicação de artigos sem um adequado processo de revisão – também foi outro fator que impulsionou a desinformação sobre vacinas na internet. Segundo Luiz Carlos Dias, professor da Unicamp e membro titular da ABC, os movimentos antivacina se valem de estudos publicados nessas revistas para dar um caráter “científico” às alegações enganosas que pretendem difundir.

“Eles se valem da má ciência publicada nessas revistas de baixo nível para espalhar desinformação e mentiras”, diz Luiz Carlos Dias. “A população não tem como saber quem está produzindo ciência de qualidade ou não e acaba confiando nesses grupos que disseminam desinformação”.

Como a emergência do movimento antivacina durante a pandemia afetou a vacinação no Brasil?

O professor Luiz Carlos Dias, autor do livro “Não há mundo seguro sem a ciência – A luta de um cientista contra as pseudociências”, explica que o movimento antivacina ganhou força no Brasil durante a pandemia. E vem afetando, de forma indireta, a taxa de cobertura de outros imunizantes que não o da covid-19. Em 2024, de acordo com dados do Ministério da Saúde, somente a vacina BCG, que previne contra formas graves de tuberculose, e a Tríplice Viral – 1ª dose, que protege contra o sarampo, caxumba e a rubéola, atingiram patamar maior ou igual à meta de cobertura.

Segundo o professor, há outros fatores influenciando a queda de cobertura vacinal. Ele cita a falta de campanhas de conscientização, a necessidade de reestruturação do SUS, com abertura de mais salas de vacinação e contratação de profissionais, e a impressão de parte da população de que doenças como sarampo e poliomielite não existem mais.

“Nesse sentido, podemos dizer que as vacinas são vítimas do próprio sucesso”, diz Luiz Carlos. “Sempre tivemos taxas de cobertura vacinal elevadas no Brasil e isso contribuiu para o controle dessas doenças. As pessoas acreditam que elas não existem mais, mas isso não é verdade. São necessárias altas taxas de vacinação, em torno de 95%, para que essas doenças continuem sob controle”.

Segundo levantamento da revista Pesquisa Fapesp, as taxas de vacinação infantil no Brasil estiveram em queda consecutiva desde 2016, com aumento das taxas a partir de 2022. Em outra publicação, a revista cita entre os fatores para a queda, aspectos como a percepção enganosa de que algumas doenças não existiriam mais, o horário restrito de funcionamento dos postos de vacinação, desconhecimento do calendário vacinal, que se tornou mais complexo, e o receio de reações adversas e sobrecarga do organismo com o número mais elevado de vacinas. O texto cita ainda o efeito da circulação de notícias falsas sobre vacinas e a ação organizada de grupos contrários à imunização.

Impacto da desinformação sobre a vacina infantil contra a covid

Segundo o professor Luiz Carlos Dias e o doutor em microbiologia e diretor de Educação do Instituto Questão de Ciência (IQC), Luiz Almeida, a desinformação vem afetando de forma mais considerável a vacinação de crianças contra a covid-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, a taxa de cobertura é mais baixa entre crianças de 6 meses e de 3 a 4 anos de idade.

De acordo com o painel, até o momento, 35,8% das crianças de 6 meses receberam duas doses e 11,2%, três doses da vacina monovalente. Já na faixa etária de 3 a 4 anos, 30,6% receberam duas doses e 15,2%, três doses do imunizante.

“Não há dúvida que o movimento antivacina atrapalhou a adesão às vacinas contra a covid, especialmente em crianças, pois vimos uma campanha intensa nas redes sociais, inclusive protagonizada por membros do governo federal”, avalia Luiz Carlos Dias.

Luiz Almeida acrescenta que a percepção equivocada de que a covid-19 não afeta crianças de forma grave também contribuiu para as baixas taxas da cobertura vacinal contra a doença nesse grupo. “Isso é uma falácia. Acredito que esse tipo de desinformação tenha sido mais prejudicial do que qualquer outra”.

Como mostrou o Comprova, informe do Ministério da Saúde mostra que, em 2024, houve 82 mortes por covid-19 de crianças menores de 1 ano a 11 anos de idade.

Fontes consultadas: Sites de órgãos como Anvisa e OMS, a médica Luciana Miyahira de Mello Nunes, a diretora da SBim Mayra Moura, os professores Luiz Carlos Dias e Glaucius Oliva e Luiz Almeida, do IQC.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Os imunizantes são frequentemente temas de conteúdos de desinformação. Recentemente, o Comprova mostrou que estudos mostram benefícios da vacina infantil contra covid, ao contrário do que dizia post e que publicação engana ao afirmar que levantamento concluiu que o produto anti-covid não é seguro.

Golpes virtuais

Investigado por: 07/04/2025

Saiba o que fazer quando você recebe uma mensagem de um número desconhecido no WhatsApp

Golpes virtuais
Diante da quantidade de golpes virtuais aplicados diariamente, receber uma mensagem de um número desconhecido é motivo de alerta. Pode ser alguém que conseguiu o seu telefone e ainda não está salvo na sua lista de contatos, mas também pode ser um golpista. O Comprova mostra como se proteger de golpes e quais ferramentas o WhatsApp oferece para que os usuários possam denunciar contas suspeitas ou se livrar de um grande volume de mensagens indesejadas.

O que fazer quando você recebe uma mensagem de um número desconhecido no WhatsApp?

Por que você deve tomar cuidado com números que não estão na sua lista de contatos: com tantos golpes virtuais sendo aplicados diariamente, uma mensagem de um número desconhecido é motivo de alerta. Pode ser uma pessoa que conseguiu o seu telefone com alguém e ainda não está salva na sua lista de contatos, mas também pode ser um golpista. Os números usados para aplicar golpes são variados, não têm um DDD ou sequência específica. Por isso, é importante desconfiar sempre antes de passar informações pessoais.

Como os golpistas abordam as pessoas: existem diferentes cenários. Você pode receber um simples “oi” de um contato que usa a foto de um amigo ou familiar, mas um número diferente do que aquele salvo na sua lista. Nesse caso, o golpista se justifica afirmando que a pessoa em questão precisou trocar de número. Na sequência, surge um pedido por dinheiro com urgência, geralmente via Pix. Outro tipo de golpe comum por números desconhecidos é a falsa oferta de emprego. Em muitas abordagens, o golpista pede para que a pessoa clique em links ou forneça informações pessoais, como data de aniversário ou número de cartão de crédito.

Que táticas eles usam para chamar a atenção: as propostas de trabalho contam com promessas financeiras elevadas, com poucas horas de trabalho e muitos benefícios. Já no caso de golpistas se passando por pessoas conhecidas, a mensagem tem um apelo emocional e de urgência.

Qual é o objetivo do golpe: geralmente, o mais comum é tirar dinheiro das vítimas.

Como se proteger:

  • Observe se o número está registrado em um país diferente ou se vocês não possuem grupos em comum.
  • Fique atento a erros gramaticais nas mensagens.
  • Caso o contato utilize uma foto de alguém conhecido, preste atenção se não há uma diferença na maneira de escrever habitual daquela pessoa.
  • Desconfie se a mensagem vem acompanhada de um pedido para clicar em um link ou baixar um aplicativo.
  • Analise se a conversa possui um tom alarmista, como o anúncio de que você ganhou um prêmio ou uma promoção, especialmente se a pessoa do outro lado da tela pedir o compartilhamento de dados pessoais.

A quem denunciar: o WhatsApp não disponibiliza um número de telefone para denúncias, mas oferece outros caminhos caso o usuário queira reportar uma conta suspeita ou se livrar de mensagens indesejadas.

O aplicativo oferece as opções de bloquear e denunciar contas suspeitas. Ao bloquear um número, você deixa de receber dele ligações, mensagens e atualizações de status. Para isso, é preciso ir até a página onde aparece a foto do contato e clicar em “bloquear”. Uma vez bloqueado, a conversa ainda aparece na sua lista, mas o contato não tem acesso a sua foto ou informações de “visto por último” e “online”. Para que a conversa desapareça da tela principal, você pode apagá-la ou arquivá-la.

Outra alternativa é bloquear e denunciar a conta ao mesmo tempo. Ao selecionar essa opção, além de deixar de receber mensagens daquela pessoa ou grupo, você encaminha para o WhatsApp as últimas cinco mensagens da conversa. Dessa forma, a empresa irá analisar se o denunciado violou ou não os termos de serviço da plataforma. Após o envio da denúncia, o denunciante não é contatado pelo WhatsApp nem notificado se o denunciado foi banido ou não do aplicativo de mensagens.

| No próprio aplicativo, o usuário do WhatsApp pode bloquear e denunciar contas suspeitas. O usuário denunciado não é notificado sobre a identidade de quem enviou a denúncia ao WhatsApp (simulação feita em um aparelho que usa iOS).

Um terceiro mecanismo é o bloqueio de um alto volume de mensagens recebidas por números desconhecidos. Essa opção pode ser ativada ao acessar “configurações > privacidade > configurações avançadas”. Com a medida ativada, o WhatsApp bloqueará mensagens de números desconhecidos quando elas ultrapassarem um volume determinado. Esse limite não é identificado pelo aplicativo. Os demais contatos ainda poderão enviar mensagens normalmente. Mas assim que a taxa de mensagens do número desconhecido voltar ao normal, a plataforma deixará de bloquear as mensagens.

Desconfiou que é golpe? O Comprova pode ajudar a verificar: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, eleições e possíveis golpes digitais e abre verificações para os conteúdos duvidosos que mais viralizam. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já explicou como identificar e se proteger do golpe do falso emprego e também como se proteger de roubos de contas de redes sociais. O Estadão Verifica publicou uma matéria mostrando como criminosos usam inteligência artificial para manipular vídeos de pequenos influenciadores e aplicar golpes nas redes sociais. A Agência Lupa também criou um site que mapeia golpes digitais e orienta vítimas de fraudes. O Comprova tem uma seção inteira sobre golpes virtuais.

Política

Investigado por: 04/04/2025

PIB per capita do Brasil costuma estar atrás da média mundial, diferentemente do que diz post

Enganoso
É enganoso um post que afirma que, “pela primeira vez na história, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil é inferior à média mundial”. A publicação usa uma estimativa feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Os dados oficiais do órgão apontam que, desde 1980, o PIB per capita do Brasil só esteve à frente da média mundial, em dólares americanos, entre os anos de 2010 e 2014. O post também engana ao afirmar que o Brasil ocupa atualmente a 81ª posição no ranking – é a 79ª posição entre os países com dados estimados para 2025 pelo FMI.

Conteúdo investigado: Post afirma que, “pela primeira vez na história, o PIB per capita do Brasil é inferior à média mundial”, que o país ocupa atualmente a 81º posição neste ranking e que “o Brasil de Lula está mais pobre perante o mundo”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo de um post no X que usa dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicados na Wikipédia para afirmar que, pela primeira vez na história, o PIB per capita do Brasil é menor do que a média mundial.

A publicação compartilha o print de parte de uma tabela da Wikipedia em que o Brasil ocupa, supostamente, a 81ª posição no ranking, com estimativa de PIB per capita para 2025 de US$ 10.816, valor menor do que a média mundial para o período, de US$ 14.450 per capita. Os valores são os mesmos estimados pelo FMI, embora haja uma ligeira imprecisão na posição no ranking – o Brasil está na 79ª posição (leia mais abaixo).

Não é verdade, no entanto, que esta seja a primeira vez na história que o Brasil fica atrás da média mundial. De acordo com dados do próprio FMI, desde 1980, o Brasil sempre esteve atrás da média mundial – exceto nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT).

De acordo com o economista Luciano Nakabashi, professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador da área de crescimento e desenvolvimento econômico, o Brasil teve um crescimento considerável entre os anos 1930 e 1980, se aproximando dos países ricos. De lá para cá, contudo, o país se manteve bastante próximo da média mundial.

Depois, voltou a crescer nos últimos quatro anos, embora o crescimento não seja sustentável. “Tirando 2021, que foi a recuperação da crise lá da pandemia, a gente teve um crescimento em torno de 3% em 2022, 2023 e 2024, o que é um bom crescimento. Não é extraordinário, mas é bom. Só que eu acho que a gente está crescendo de uma forma não sustentável, porque há um aumento da dívida”, explica.

O autor do conteúdo não permite o envio de mensagens no X para não seguidores.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até a tarde de 4 de abril de 2025, o post tinha mais de 62 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, o Comprova acessou dados do PIB per capita do Brasil calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o banco de dados de PIB per capita do FMI e entrevistou o economista Luciano Nakabashi, da USP.

O que é o PIB per capita e qual a posição atual do Brasil no ranking mundial?

O PIB per capita, explica o economista Luciano Nakabashi, é o Produto Interno Bruto total de um país – ou seja, tudo aquilo que o país conseguiu produzir em um determinado intervalo de tempo – dividido pelo número de habitantes. Além de ser uma medida de capacidade produtiva, também serve para medir o consumo, já que, como num ciclo, a produção, seja de bens ou de serviços, é demandada pelas pessoas.

“Tudo que é produzido remunera o trabalho, gera renda e essa renda é utilizada para consumir o que se produziu. Então, quanto maior o PIB per capita, maior o poder de compra das pessoas”, afirma Nakabashi.

Cada país calcula seu PIB per capita em moeda corrente – ou seja, em reais, no caso do Brasil. Mas, é comum que entidades internacionais façam estimativas de valores em dólares americanos, como uma forma de fazer uma comparação desse poder de compra entre pessoas de diferentes países.

O FMI é uma dessas entidades e foram os dados do Fundo que serviram de fonte para o artigo na Wikipedia utilizado pelo autor do post. Há também estimativas feitas do Banco Mundial e da Universidade da Pensilvânia, por exemplo, mas os números são menos atualizados. Embora considerados bastante confiáveis pelos economistas, os dados mais recentes da Universidade Pensilvânia são de 2019.

No caso do FMI, foi feita uma estimativa para 2025, divulgada em outubro de 2024. Segundo ela, o Brasil deve ter um PIB per capita este ano de US$ 10.816, cerca de US$ 3,6 mil a menos do que a média mundial estimada, de US$ 14.450. Apesar de a tabela do post verificado apontar o Brasil na 81ª colocação no ranking, o país aparece em 79º lugar, segundo dados do FMI. Isso porque o artigo levou em conta no ranking as Ilhas Cook e Cuba, para quem o FMI não tem estimativa para 2025.

No caso do Brasil, o PIB é calculado pelo IBGE e ainda não há dados para este ano. O PIB per capita de 2024 foi de R$ 55.247,45, com um crescimento real de 3% com relação ao ano anterior. Se o valor fosse convertido em dólares americanos hoje, o PIB per capita de 2024 teria sido de US$ 9.562,18, de acordo com o conversor de moedas do Banco Central.

É a primeira vez que o Brasil fica atrás da média mundial?

Não. A página dedicada a informações sobre PIB per capita do FMI contém dados de 1980 a 2025 e, ao comparar num gráfico os números do Brasil e do mundo, é possível ver que apenas entre os anos de 2010 e 2014, o Brasil ultrapassou a média mundial. No restante do tempo, o país se manteve perto da média. Luciano Nakabashi ressalta, portanto, que esta afirmação de que o Brasil fica para trás pela primeira vez na história é falsa.

“O Brasil fica perto da média mundial. A gente é considerado um país de renda média. Não é um país desenvolvido, também não é um país pobre. É um país de renda média, mas com muita desigualdade. Então, a gente está numa situação intermediária”, aponta. Justamente por conta dessas desigualdades, explica, é que seria importante para o Brasil aumentar a capacidade produtiva, para que as pessoas pudessem consumir mais e, assim, melhorar a distribuição de renda.

| Reprodução: FMI

Os números do FMI não mostram os resultados de 1930 a 1980 – período que, segundo Nakabashi, o Brasil teve um melhor desempenho na economia. De 1980 para cá, aponta, o crescimento ficou perto da média, o que é considerado fraco. A exceção, aponta, fica entre os anos de 2000 a 2012.

“Os países desenvolvidos, por terem uma série de tecnologias, acabam crescendo mais do que os que estão na fronteira do desenvolvimento. Mas o Brasil, além de não estar diminuindo essa distância (de crescimento), está aumentando. Isso é ruim, porque como a gente tem uma distribuição de renda ruim, tem muita gente ficando ainda mais pra trás do que a média do Brasil”, diz.

O que significa a posição do Brasil no ranking do FMI?

O post investigado critica o fato de o Brasil estar atrás de países como México, Turcomenistão e Nauru, na Oceania, no ranking do PIB per capita, e diz que “o Brasil de Lula está mais pobre perante o mundo”. Mas, não é bem assim. Como mostrado anteriormente, o PIB per capita é importante para medir a capacidade produtiva e o poder de compra das pessoas, o que está diretamente ligado ao bem-estar da população.

No entanto, em termos de economia do país, o PIB total costuma ser um dado mais importante, porque questões políticas também são levadas em conta, explica o professor da USP. Ele cita como exemplo o caso da China, cujo PIB per capita é um pouco maior do que o do Brasil – estimativa para 2025 de US$ 13.873, segundo o FBI, na 69ª posição.

“O PIB per capita deles passou o do Brasil faz pouco tempo, mas eles são a segunda economia do mundo porque eles têm um PIB total maior, e um poder político maior. Se você pegar a Holanda, eles têm um PIB per capita muito maior, mas a importância da Holanda na economia mundial é muito menor do que a da China”, observa. Segundo os dados do FMI, a estimativa para o PIB per capita da Holanda este ano é de US$ 70.606, a 10ª posição.

Em resumo, em termos políticos e de poderio econômico, o PIB total é uma variável mais importante, enquanto o PIB per capita é mais significativo para medir a qualidade de vida das pessoas, explica Nakabashi. Ele aponta que, apesar da crítica ao atual presidente, o Brasil tem tido um desempenho econômico melhor nos últimos anos, embora o crescimento não seja sustentável por conta da demanda de despesas.

“Nesses últimos três anos, na verdade, o Brasil tem crescido relativamente bem. Tirando 2021, que foi a recuperação da crise da pandemia, a gente teve um crescimento em torno de 3% em 2022, 2023 e 2024, que é um bom crescimento. A gente deve ter parado de ficar cada vez mais para trás em relação aos países desenvolvidos, em relação à média mundial”, diz.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já publicou ser falso um post sobre PIB e inflação que inventava falas do ministro Fernando Haddad sobre pagamento do funcionalismo, e mostrou que a simples comparação entre o PIB e o número de senadores não era suficiente para entender a distribuição de recursos federais.

Notas da comunidade: Até a publicação deste texto, não foram adicionadas notas da comunidade à publicação investigada.