O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.Filtro:
É falso que Donald Trump tenha chamado Lula (PT) de “palhaço corrupto”. Uma publicação viral com suposto trecho de discurso do republicano alterou o áudio com uso de inteligência artificial. Na verdade, o vídeo mostra a participação do americano em um evento em Washington, em julho de 2022. Durante sua fala, Trump não fez menção a Lula ou ao Brasil.
Conteúdo investigado: Post que mostra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falando sobre o Brasil e a gestão do presidente Lula (PT). No discurso, o republicano chama o brasileiro de “palhaço corrupto” e afirma que o país poderia ser grande se não estivesse sendo comandado pelo petista.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: Vídeo em que Donald Trump chama o presidente Lula de “piada” e “palhaço corrupto” teve o áudio manipulado digitalmente. Uma busca reversa no Google mostrou que o discurso original do norte-americano ocorreu em um evento da organização AFPI (America First Policy Institute), em Washington, em julho de 2022. Durante sua fala, ele não fez qualquer menção a Lula ou ao Brasil.
Durante pouco mais de uma hora e meia, Trump abordou temas como imigração, inflação e a invasão ao Capitólio em 2021. Na época do discurso, o presidente do Brasil era Bolsonaro e não Lula, que só foi reeleito para o terceiro mandato em outubro de 2022 e tomou posse no dia 1º de janeiro de 2023.
O próprio usuário que publicou o vídeo no TikTok identifica que o conteúdo foi gerado por inteligência artificial (IA), tanto na descrição do post quanto do perfil. No entanto, pessoas que replicam a gravação em outras plataformas não sinalizam que se trata de um material manipulado.
Além da busca pelo vídeo original, o Comprova utilizou o programa Hive Moderation para analisar a probabilidade do conteúdo ter sido manipulado. A ferramenta indicou que 99,9% do áudio é adulterado com ajuda da inteligência artificial. Também utilizamos o programa InVid-WeVerify, que mostrou o mesmo resultado. Plataformas de detecção como essas são passíveis de erro, mas em conjunto com outras evidências ajudam a identificar conteúdos manipulados.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, até o dia 8 de maio, o vídeo acumulava 1,9 milhão de visualizações, mais de 120 mil curtidas e 22 mil compartilhamentos.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
É falso que Donald Trump tenha visitado Jair Bolsonaro no hospital enquanto o ex-presidente brasileiro esteve internado em Brasília. Não há registros do suposto encontro na mídia profissional, nas redes sociais de ambos os líderes políticos ou no site oficial da Casa Branca. O vídeo verificado usa imagem que apresenta indícios de ter sido criada por inteligência artificial (IA).
Conteúdo investigado: Vídeo com narração que afirma ter ocorrido uma visita do presidente americano Donald Trump a Jair Bolsonaro enquanto ele esteve internado em hospital em Brasília. A gravação ainda diz que o encontro teria sido motivado por uma proposta de cooperação internacional.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: Ao contrário do que afirma vídeo viral, não há registros de visita de Donald Trump ao hospital em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve internado, em Brasília, durante 23 dias. No Google, pesquisas em português e em inglês não encontram nenhum resultado (aqui e aqui). O fato, caso fosse verídico, seria noticiado amplamente pelas mídias nacional e internacional, o que não ocorreu.
Bolsonaro, Michelle e filhos não mencionaram o suposto encontro. Em suas redes sociais, o ex-presidente do Brasil não citou em nenhum momento qualquer visita de Trump enquanto esteve hospitalizado (aqui,aqui, aqui e aqui). Também não há indício do suposto evento nos perfis da esposa Michelle (aqui) e dos filhos Carlos (aqui e aqui), Flávio (aqui e aqui), Eduardo (aqui e aqui) e Jair Renan (aqui).
A Casa Branca também não publicou nada na agenda do presidente americano sobre a vinda ao Brasil. Trump veio pela última vez ao país em 9 de abril de 1989. Ele esteve no Rio de Janeiro para prestigiar a Trump Cup, um torneio internacional de turfe do qual era patrocinador no Jockey Club da Gávea.
Além da ausência de registros oficiais sobre a visita de Trump, imagens usadas no vídeo verificado apontam para a falsidade do conteúdo. A foto que mostra Bolsonaro e Trump lado a lado em um ambiente hospitalar apresenta indícios de ter sido criada por inteligência artificial (IA), como o aspecto de “cera” da pele de ambos e o cabelo de Trump que aparece quase como uma pintura. Outro detalhe é a sonda usada pelo brasileiro, que está posicionada no queixo ao invés do nariz. Uma busca reversa no Google também não mostrou essa imagem publicada em qualquer outra fonte.
O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no TikTok, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, até o dia 7 de maio, o vídeo acumulava 1,3 mil visualizações e mais de 10 mil compartilhamentos.
Fontes que consultamos: Busca reversa no Google por foto de Trump e Bolsonaro em um hospital; perfis de Bolsonaro, Michelle e filhos nas redes sociais; agenda de Donald Trump no site da Casa Branca, além de pesquisas por matérias sobre o suposto encontro na mídia profissional.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Lei de combate a fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sancionada por Bolsonaro não foi derrubada pelo governo Lula. A norma de 2019 continua em vigor, mas sofreu alterações aprovadas pelo Congresso em 2022, quando o presidente do Brasil ainda era Jair Bolsonaro (PL).
Conteúdo investigado: Vídeo em que um deputado afirma que Lula revogou uma lei criada por Jair Bolsonaro (PL) para combater fraudes no INSS. Ele alega ainda que esse suposto ato do atual presidente teria possibilitado o escândalo de descontos irregulares em benefícios previdenciários de aposentados e pensionistas, revelados por operação recente da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União e que pode chegar a mais de R$ 6 bilhões.
Onde foi publicado: YouTube, X, TikTok e Instagram.
Conclusão do Comprova: O governo Lula não revogou lei de combate a fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) aprovada durante a gestão Bolsonaro. A norma continua em vigor, mas sofreu alterações aprovadas pelo Congresso em 2022, quando o presidente do Brasil ainda era Bolsonaro.
Em 2019, foi editada a Medida Provisória nº 871, que mais tarde se transformou na lei nº 13.846 e instituiu o Programa Especial para Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade. Com o intuito de coibir fraudes, a legislação previa, entre outras ações, a revalidação periódica das autorizações de descontos em benefícios previdenciários.
Desde o ano de 1991, é previsto em lei que podem ser descontados dos benefícios previdenciários valores referentes às mensalidades de sindicatos e outras entidades de aposentados legalmente reconhecidas. Os descontos precisam ser autorizados pelos filiados e as associações devem ter Acordo de Cooperação Técnica com o INSS.
Em 2019, a lei sancionada por Bolsonaro endureceu as regras ao exigir que o desconto fosse revalidado pela entidade recebedora a cada três anos. Ou seja, as entidades precisavam comprovar que os descontos foram autorizados pelos filiados. Porém, em agosto de 2022, essa exigência foi revogada com a sanção de uma outra norma.
A lei 14.438 revogou ainda dispositivos de outras legislações, como da lei 8.036/1990, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); e da lei 8.213/1991, que trata dos Planos de Benefícios da Previdência Social. Em relação às mensalidades associativas, a principal alteração foi a exclusão do prazo de revalidação das autorizações de descontos.
Portanto, é falsa a alegação de que Lula revogou lei antifraude proposta por Bolsonaro. A legislação de 2019 permanece em vigor. Entre as ações previstas na lei, segue válida a permissão para que o INSS acesse dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e das movimentações do FGTS para analisar a concessão de benefícios. Além disso, as alterações que flexibilizaram algumas de suas disposições ocorreram ainda durante o governo bolsonarista.
Vale ressaltar que outras legislações anteriores à sancionada por Bolsonaro já estabeleciam regras antifraude. Uma delas é a própria lei de 1991, que prevê o desconto das mensalidades associativas desde que haja autorização dos filiados.
O Comprova buscou o autor da publicação, o deputado estadual do Rio Grande do Sul Gustavo Victorino, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No YouTube, até o dia 06 de maio, o vídeo acumulava 697 mil visualizações e 32 mil curtidas. No TikTok, foram 79,9 mil visualizações, mais de mil compartilhamentos e 5.245 curtidas.
Fontes que consultamos: Lei nº 13.846, sancionada por Bolsonaro em 2019 e que criou o Programa Especial para Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade; Lei 14.438/2022, que alterou dispositivos da legislação antifraude; e reportagens da imprensa profissional sobre os desdobramentos da Operação Sem Desconto.
Fraudes no INSS
O assunto das fraudes no INSS tomou conta das redes sociais desde a deflagração da Operação Sem Desconto pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) no dia 23 de abril. A operação apura descontos indevidos de mensalidades associativas sobre benefícios previdenciários. A investigação aponta que descontos eram feitos sem autorização de aposentados e pensionistas e que as entidades falsificavam assinaturas e documentos para conseguir os valores.
Segundo a PF e a CGU, as fraudes ocorreram entre 2019 e 2024 e o total desviado pode chegar a R$ 6,3 bilhões. A CGU realizou auditorias em 29 entidades que tinham Acordo de Cooperação Técnica com o INSS e entrevistou mais de mil beneficiários. A maioria dos entrevistados alegou não ter autorizado os descontos aplicados nas folhas de pagamento.
Diante das descobertas da operação, o governo federal suspendeu, por meio de publicação feita no Diário Oficial da União no dia 29 de abril, todos os Acordos de Cooperação Técnica envolvendo descontos de mensalidades associativas em folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Em nota, o Ministério da Previdência Social (MPS) afirmou que a medida estará em vigor “até que seja concluída a reavaliação da regularidade e conformidade com as normas”.
O governo anunciou ainda a exoneração do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Para os aposentados e pensionistas que tiveram desconto de mensalidade não autorizado no contracheque de abril, o MPS afirmou que será devolvido na folha de pagamento de maio. Já a devolução dos valores anteriores a abril de 2025 será avaliada pela Advocacia Geral da União (AGU).
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
É falso que um vídeo de câmera de segurança mostre a primeira-dama brasileira Janja Lula da Silva deixando o hotel do presidente francês Emmanuel Macron em Roma, na Itália, durante a madrugada. Post verificado pelo Comprova mostra imagens feitas em 2024, no Brasil. O governo federal negou o encontro e informou que Janja acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante toda a viagem para o funeral do papa Francisco.
Conteúdo investigado: Vídeo afirma que câmeras de segurança gravaram a primeira-dama deixando o hotel onde o presidente francês estava hospedado na madrugada após o velório do papa Francisco. O conteúdo alega que os dois passaram duas horas juntos.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: É falso. Não há evidências de que a história narrada no vídeo ocorreu. Veículos de imprensa brasileiros e franceses não fazem menção a este assunto. Além disso, as fotos que mostram Janja e Macron próximos um ao outro e que são utilizadas para ilustrar o post não são recentes. Elas foram registradas durante a visita do presidente da França ao Brasil, em março de 2024.
A Secretaria de Comunicação do governo federal informou que não houve encontro entre a primeira-dama e o presidente da França. “Janja acompanhou o presidente Lula em todos os momentos da viagem a Roma”, informou a pasta.
Janja e Lula chegaram juntos em Roma no dia 25 de abril. Ambos participaram do velório do Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Na manhã seguinte, estiveram no funeral do líder religioso e, em seguida, embarcaram de volta para o Brasil. O casal ficou hospedado na Embaixada do Brasil na capital italiana.
Apesar de mencionar uma suposta gravação de câmera de segurança e um áudio que comprovariam o encontro entre Janja e Macron, o perfil no TikTok não comprovou a existência desses arquivos.
Em 2024, quando Lula e Janja receberam o francês no Palácio do Planalto, em Brasília, a primeira-dama foi condecorada por Macron como oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra. A honraria é concedida pelo governo francês a pessoas que se destacam em temas importantes ao país europeu. As fotos de ambos se cumprimentando foram feitas neste momento.
O perfil que publicou o vídeo foi procurado e não respondeu até a publicação deste texto.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post somou 19,6 mil compartilhamentos, 31,3 mil curtidas e 4,7 mil comentários até o dia 6 de maio.
Fontes que consultamos: Buscamos por notícias que indicassem uma visita de Janja a Macron em Roma na madrugada do dia 26 de abril. Também pesquisamos a origem das fotos utilizadas para ilustrar o conteúdo. Depois, procuramos as assessorias de imprensa dos governos brasileiro e francês. O país europeu não respondeu. Por fim, questionamos o autor da postagem sobre o vídeo e o áudio citados no vídeo, mas não houve retorno.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
A idade mínima para se aposentar no Brasil é 62 anos para mulheres e 65 para homens. Ela foi estipulada em 2019, durante a Reforma da Previdência sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O governo Lula (PT) não apresentou projeto para aumentar a idade mínima para 78 anos. O número aparece em estudo do Banco Mundial que analisa o sistema previdenciário brasileiro e projeta que essa deverá ser a idade mínima para aposentadoria em 2060 caso nada seja feito sobre os problemas do atual sistema.
Conteúdo investigado: Citando manchete publicada em um site, post afirma que a idade mínima para se aposentar deve subir para 78 anos e atribui essa possibilidade ao governo Lula, responsabilizando os eleitores dele. “Esse é o Brasil que vocês escolheram: menos dignidade para quem trabalha, mais privilégios para quem vive da mamata”, afirma.
Onde foi publicado: X
Conclusão do Comprova: O governo Lula não apresentou projeto para aumentar a idade mínima para aposentadoria. Desde 2019, mulheres podem se aposentar aos 62 anos e homens aos 65. O post aqui verificado retira de contexto um estudo do Banco Mundial que projeta aumento da idade mínima para 78 anos em 2060. O documento afirma que esse será o cenário caso nada seja feito para aprimorar o atual sistema previdenciário (leia mais abaixo).
A última vez que a idade mínima para a aposentadoria subiu foi em 2019, sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando ocorreu a Reforma da Previdência por meio da Emenda Constitucional 103 (EC 103). Ela começou a tramitar em 2016, ainda sob a gestão de Michel Temer. Conforme a regra atual para o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), mulheres podem se aposentar com idade mínima de 62 anos e o mínimo de 15 anos de contribuição, e homens com 65 anos de idade e 20 anos de contribuição. Acompanhando a reforma, o governo federal criou regras de transição para quem já estava no mercado de trabalho. As normas vão alterar as exigências a cada ano até 2031.
O autor da publicação que viralizou no X baseia sua alegação no título “Idade mínima para se aposentar deve subir para 78 anos”, publicado pelo site Diário do Comércio, em 21 de abril. O texto, contudo, não atribui essa expectativa ao governo federal ou à eleição de Lula. Na verdade, replica informações de uma reportagem publicada em agosto do ano passado pelo Valor Econômico sobre o estudo do Banco Mundial sobre a Previdência Social no Brasil.
Conforme o jornal, sem novas mudanças nas regras de concessão de aposentadorias e pensões no país, o Brasil precisaria estabelecer uma idade mínima de 72 anos em 2040 e de 78 anos em 2060 para manter a razão de dependência dos idosos no mesmo patamar de 2020.
O Comprova entrou em contato com o autor da publicação, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post aqui verificado somou 363,9 mil visualizações, além de 11 mil curtidas, 3 mil compartilhamentos e 650 comentários até o dia 29 de abril.
A projeção de que a idade mínima para aposentadoria no Brasil precisará aumentar está no estudo The Brazilian Pension System Under an Equity Lens, assinado por Asta Zviniene e Raquel Tsukada e publicado em dezembro de 2023. O texto aponta que, apesar de o Brasil ter conseguido desenvolver um pacote de benefícios para idosos abrangente, ele tem um alto custo. O estudo dá como exemplo o ano de 2019, em que o sistema previdenciário brasileiro consumiu 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB), gasto que não é compatível com grande parte dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde a média é de 7,7%.
As pesquisadoras ainda apontam que embora a proporção entre a população em idade ativa e a população idosa no Brasil ainda seja favorável, o país está envelhecendo rápido. Também pontuam que o sistema previdenciário brasileiro cria desigualdades por conta de regras diferentes para alguns grupos de trabalhadores.
Conforme os números apresentados pelo estudo, apenas 56,4% da população economicamente ativa no Brasil contribui para o RGPS. O regime e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) têm 32 milhões de pensionistas, enquanto o País tem apenas 20,7 milhões de idosos acima de 65 anos e 11% dos beneficiários recebem mais de um benefício do governo. De acordo com as pesquisadoras, para manter a mesma taxa de dependência, a idade de 65 anos para aposentadoria teria de aumentar para 72 anos até 2040 e 78 anos até 2060.
Por fim, o estudo propõe reformas para melhorar a situação do sistema previdenciário brasileiro. Algumas são alterações nas condições de elegibilidade ao benefício, como a eliminação das diferenças de gênero nas idades de aposentadoria e das diferenças de aposentadoria para professores. Outras alterações são nas contribuições e benefícios, como a eliminação das distinções urbanas/rurais e o aumento das taxas de contribuição do empregador para profissões de risco.
Qual o cenário da previdência social?
Em 2024, o déficit do Regime Geral da Previdência Social, administrado pelo INSS e que cobre trabalhadores do setor privado, foi de aproximadamente R$ 297 bilhões. Se considerado todo o sistema previdenciário brasileiro, ou seja, com os servidores públicos civis e militares, esse “rombo” chega a R$ 410 bilhões.
O doutor em Direito Luis Lopes Martins, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito Rio e pesquisador na área previdenciária, explica que, em relação às contas públicas, a previdência brasileira apresenta situação delicada e desequilibrada, mesmo após a reforma realizada em 2019, sendo o principal gasto não financeiro da União.
“Estamos falando de mais de R$ 1 trilhão para a previdência social e mais de R$ 280 bilhões para a assistência social, sem contar estados e municípios.” Para fins de comparação, diz, o orçamento da União para Ciência e Tecnologia é de R$ 22,3 bilhões. “É impossível discutir o orçamento sem discutir a previdência”.
Os pontos mais sensíveis da previdência são o envelhecimento da população e a modificação da pirâmide etária brasileira, com cada vez menos jovens e, portanto, menos novos trabalhadores no mercado, tendência que tende a se agravar. Projeções da ONU (Estadão, UOL) indicam que a população em idade ativa do Brasil deve ser reduzida, enquanto a população idosa triplicará até 2100.
O especialista ressalta que a reforma de 2019 eliminou algumas distorções, como a aposentadoria por tempo de contribuição, e teve resultado importante, pois permitiu uma relativa estabilização do déficit nos anos seguintes. Contudo, quando se fala em previdência, é comum que as reformas demorem muito tempo para gerar efeitos porque não mudam a situação daqueles que já estavam aposentados ou que tinham direitos adquiridos anteriormente.
O problema foi causado pela eleição de Lula?
Não é correto afirmar que o atual governo seja responsável por uma eventual necessidade de ampliação da idade para aposentadoria porque o problema da previdência não é recente e tampouco uma particularidade brasileira.
Conforme o especialista ouvido pelo Comprova, grande parte dos países está tendo a mesma discussão que a brasileira. “Embora vivam uma realidade absolutamente diferente da brasileira, países como a Dinamarca já têm regras de aumento automático da idade de aposentadoria conforme o crescimento da expectativa de vida nacional”, observa.
Como medidas para o futuro, Martins observa que será importante que novas reformas enfrentem as distorções do tratamento dos militares, que ainda contam com um conjunto de regras desproporcionalmente mais vantajoso que o restante da população. Além disso, com o envelhecimento da população, será inevitável rediscutir a idade de aposentadoria e a aproximação da idade do homem e da mulher, ainda que sejam temas politicamente sensíveis.
Martins defende que as próximas reformas repensem estruturalmente a previdência brasileira. “O modelo adotado, com imenso foco no trabalho formal, se mostrou inadequado para a nossa realidade e precisa ser debatido”, afirma, observando haver uma crescente massa de trabalhadores informais desamparados tanto pelo INSS quanto pelo BPC e que ficarão vulneráveis no futuro.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Notas da comunidade: A publicação chegou a exibir uma nota da comunidade com a seguinte descrição: “O autor, por desconhecimento ou ignorância, ignora o fato de que trata-se de um estudo do Banco Mundial no qual é apontada a idade mínima de 78 anos para aposentadoria no ano de 2060, caso nada seja feito sobre o atual sistema previdenciário”. Entretanto, o conteúdo foi excluído posteriormente.
Vídeo que mostra visita de Lula (PT) ao Vietnã foi espelhado para disseminar a teoria conspiratória de que ele teria sido substituído por um sósia. A imagem mostra a mão direita do presidente, com cinco dedos. É na mão esquerda que ele possui quatro dedos após ter perdido o dedo mínimo em um acidente de trabalho.
Conteúdo investigado: Vídeo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece apertando a mão de um outro homem em frente a um casarão amarelo com janelas verdes. A legenda afirma que o encontro teria acontecido no Japão. A gravação dá um zoom nas mãos de Lula e questiona se ele teria um sósia, pois o vídeo mostra cinco dedos em sua mão esquerda.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: Vídeo que mostra visita do presidente ao continente asiático teve as imagens espelhadas para disseminar teoria conspiratória. Por meio de busca reversa no Google, descobrimos que a agenda de Lula aconteceu em Hanói, capital do Vietnã, em março deste ano. A gravação é um registro da cerimônia de boas-vindas ao chefe de Estado brasileiro, que ocorreu no dia 28, no Palácio Presidencial de Hanói. O vídeo foi publicado originalmente na página de Lula no Instagram. Ao comparar as gravações, é possível observar elementos que comprovam que as imagens foram invertidas.
No vídeo alvo da verificação, Lula aparece do lado direito enquanto à sua esquerda está Luong Cuong, presidente do Vietnã. Atrás do brasileiro, estão os oficiais vietnamitas enfileirados também à direita. Já na gravação original, as posições estão invertidas. Como em um espelho, a mão direita de Lula parece ser a esquerda, o que gera a confusão. É fato amplamente conhecido que o presidente perdeu o dedo mínimo da mão esquerda em um acidente de trabalho quando atuava como metalúrgico.
Essa não é a primeira vez que a teoria conspiratória de que Lula teria morrido e sido substituído por um sósia circula nas redes sociais. Em outras ocasiões, o Comprova já explicou que se trata apenas de uma história sem fundamento. Geralmente, são utilizadas ferramentas de manipulação de imagens para dar falsa credibilidade à conspiração, como distorção de voz ou inversão de vídeos.
No caso da visita ao Vietnã, outros registros oficiais do mesmo evento mostram a mão esquerda de Lula sem o dedo mínimo. Confira foto abaixo:
| Foto: Ricardo Stuckert/PR
O Comprova entrou em contato com o autor da postagem no TikTok, mas não recebeu respostas até a publicação deste texto.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, até o dia 29 de abril, o vídeo havia acumulado mais de dois milhões de visualizações, mais de 20 mil compartilhamentos e 48,3 mil curtidas.
Fontes que consultamos: Busca reversa no Google para identificar onde e quando ocorreu o fato registrado no vídeo; consulta à agenda de Lula no site do governo federal; redes sociais do presidente brasileiro; além de matérias na imprensa profissional sobre a missão do chefe de Estado no Vietnã.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Golpes virtuais utilizam diversas táticas para chamar a atenção de suas vítimas, frequentemente explorando a urgência, fazendo ofertas tentadoras, propagando informações falsas ou se fazendo passar por entidades conhecidas. O Comprova vem analisando diferentes tipos de golpes digitais. Entenda como golpistas abordam suas vítimas pela internet ou pelo celular, conheça as táticas que utilizam para chamar a sua atenção e saiba como você pode se proteger dessas armadilhas.
Golpe do frete
Como os golpistas abordam as pessoas: Via redes sociais. Eles invadem contas no Instagram e, passando-se pelo dono do perfil, anunciam que estão doando móveis, eletrodomésticos e eletrônicos, entre outros itens. Quando uma pessoa interessada entra em contato, os golpistas pedem o pagamento de uma taxa para o frete dos itens, mas a entrega nunca é realizada.
Que táticas eles usam para chamar a atenção: Ao invadir a conta de alguém e usá-la como plataforma para suas mensagens, os golpistas aproveitam da credibilidade ou confiabilidade que aquela pessoa possui com sua rede de contatos. Também são usadas fotos dos supostos itens para doação para atribuir veracidade ao ato. A qualidade dos produtos e o suposto fato de estarem sendo doados também funcionam para chamar a atenção de quem vê os stories com o conteúdo falso.
Qual é o objetivo do golpe: Utilizar a identidade de alguém para receber transferências bancárias ou Pix por fretes inexistentes.
Como se proteger: Para proteger uma conta de possíveis invasões, é importante configurar a autenticação de dois fatores do Instagram e nunca fornecer o código para terceiros. Para ativar esse método de proteção, é preciso acessar o menu de configurações e, na sequência, selecionar a opção “central de contas”. Nesta tela, o usuário deve seguir o caminho “senha e segurança” > “autenticação de dois fatores” e escolher a conta que deseja configurar. Dessa forma, será necessário fornecer um código de login toda vez que o usuário conectar a conta em um novo aparelho.
Além disso, é possível aumentar a segurança do seu perfil ao ativar o envio de solicitações de login. Quando um aparelho que não é o seu tentar se conectar à sua conta, uma notificação será enviada para o dispositivo já cadastrado. Essa configuração está disponível em “central de contas” > “senha e segurança” > “autenticação de dois fatores” > “métodos adicionais”.
Uma senha forte para o acesso ao Instagram também pode ajudar você a se proteger de invasões ao perfil. O ideal é que a senha possua pelo menos seis caracteres e combine números, letras maiúsculas e minúsculas, símbolos e espaços. É importante evitar informações óbvias, como o seu nome, data de nascimento, apelido, cidade onde mora ou número de telefone.
No caso das pessoas que vierem a se deparar com posts da falsa doação, é importante refletir e se fazer algumas perguntas antes de realizar o pagamento. Você conhece aquela pessoa? Ela está se mudando ou tem algum outro motivo para doar tantas coisas de qualidade? Mesmo que as respostas para ambas as perguntas sejam “sim”, fale com ela por outros canais, como telefone e WhatsApp, para checar se o anúncio é verdadeiro. Ao perceber que é falso, denuncie para o Instagram – basta clicar nos três pontinhos no canto superior direito dos Stories e clicar em “denúncias”.
A quem denunciar: Assim que souber que seu perfil foi invadido, é importante avisar amigos e familiares. E também avisá-los de que o anúncio de doação é falso. Em seguida, registrar um Boletim de Ocorrência junto à Polícia Civil com o máximo de informações. O titular da conta hackeada pode solicitar suporte do Instagram acessando https://www.instagram.com/hacked.
Desconfiou que é golpe? O Comprova pode ajudar a verificar: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, eleições e possíveis golpes digitais e abre verificações para os conteúdos duvidosos que mais viralizam. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Depois que o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou que pretende aumentar o número de beneficiários da tarifa social de energia elétrica, iniciativa que concede isenção ou descontos na conta de luz, dúvidas surgiram sobre quem irá pagar a conta dos R$ 4,45 bilhões que a medida custará. Abaixo, o Comprova explica a proposta do governo federal e suas implicações.
Conteúdo analisado: Vídeos publicados no TikTok afirmam que, após proposta do governo federal, cidadãos passarão a ser responsáveis por arcar com os custos da conta de luz de brasileiros beneficiados pela tarifa social de energia elétrica. Um dos narradores pergunta: “E aí, já tá preparado para pagar o talão de luz do teu vizinho?”. Outro vídeo sugere: “Já pensou abrir a geladeira sem medo, ligar o ar condicionado sem peso na consciência?”
Comprova Explica: O Ministério de Minas e Energia (MME) enviou à Casa Civil, no dia 16 de abril, a proposta de projeto de lei de reforma do setor elétrico. Ela ainda pode sofrer alterações antes de chegar ao Congresso Nacional. Atualmente, cerca de 60 milhões de brasileiros se enquadram no perfil que pode acessar a tarifa social, iniciativa que concede isenção ou descontos na conta de luz.
Caso o projeto do MME prospere, 16 milhões de pessoas terão a conta de luz zerada. O governo federal defende que a proposta é uma forma de promover “justiça tarifária”.
O projeto é isentar os seguintes usuários com consumo de até 80 quilowatts-hora (kWh) por mês:
Famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) com renda mensal de até meio salário mínimo per capita;
Pessoas com deficiência ou idosos inscritos no Benefício de Prestação Continuada (BPC);
Famílias indígenas ou quilombolas do CadÚnico;
Famílias do CadÚnico atendidas em sistemas isolados por módulo de geração.
Se o consumo for superior a 80 kWh, o consumidor pagará apenas o que ultrapassar o limite estabelecido. Dessa forma, caso o consumo seja de, por exemplo, 100 kWh, o consumidor pagará apenas 20 kWh.
Além disso, a proposta também prevê um novo desconto para famílias com renda entre meio salário mínimo e um salário mínimo por pessoa e consumo de até 120 kWh por mês por meio da isenção do pagamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que financia uma série de políticas no setor de energia.
De acordo com o governo federal, o desconto pode beneficiar cerca de 55 milhões de pessoas. A previsão é de uma redução de cerca de 11,8% nas contas de luz dessas pessoas. A economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni pontua que o intuito é que esse desconto contribua para a diminuição do roubo de energia, conhecido como “gato”. Atualmente, os consumidores já pagam pelos “gatos”. Em 2023, as tarifas foram até 13,4% maiores por conta disso.
Como funciona atualmente?
Pelas regras vigentes, a tarifa social funciona da seguinte maneira para famílias inscritas no Cadúnico:
Desconto de 65%: consumo de 0 a 30 kWh;
Desconto de 40%: consumo de 31 a 100 kWh;
Desconto de 10%: consumo de 101 a 220 kWh;
Desconto de 0%: consumo a partir de 221 kWh.
Famílias indígenas e quilombolas têm isenção de até 50 kWh.
Quem paga a conta?
Conforme noticiado por diversos veículos jornalísticos, a proposta deve custar R$ 4,45 bilhões aos demais consumidores. O impacto imediato na conta de luz é de 1,4%. Entretanto, o governo federal prevê uma compensação gradual com a limitação dos descontos às fontes de energia incentivada, a exemplo das energias eólica e solar.
A ideia é que com o vencimento dos contratos de aquisição de energia de fontes incentivadas, sejam retirados R$ 10 bilhões em subsídios da conta de luz a longo prazo. Porém, ainda não há informação de quando começaria ou se encerraria esse faseamento da compensação.
Nesse sentido, Carla destaca que os consumidores já arcam com os custos da tarifa social praticada atualmente. “Minha conta já tem um adicional para isso e a sua também”, ressalta a economista. A tarifa social da energia elétrica foi criada em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso. A ideia é que, a partir de agora, esse custo seja dividido entre diversos tipos de consumidores, como os das residências, indústria e comércio.
De acordo com a proposta do governo federal, o conjunto de medidas foi desenhado para que o aumento dos recursos necessários para oferecer os benefícios sociais seja neutralizado em outras ações estruturais de “redução ou de redistribuição de encargos setoriais”. Um exemplo é a distribuição dos custos, ou seja, o rateio, da energia das usinas Angra 1 e 2 entre todos os consumidores. Atualmente, ele é pago somente pelo consumidor cativo, como é o caso das residências.
Outras ações seriam “a redução dos encargos decorrentes do consumo de energia incentivada, a distribuição uniforme de encargos entre todos os os consumidores e a melhor definição da autoprodução de energia elétrica”.
Apesar de considerar necessário combater a pobreza energética no Brasil, Carla tece críticas à proposta e afirma faltar informações detalhadas sobre dois aspectos cruciais: o sistema de compensação e a abertura do mercado (leia mais abaixo). “É importante (promover justiça tarifária), mas a proposta precisa ser mais bem detalhada. Estamos falando de uma mudança no setor energético do país”, frisa a economista.
Outras medidas
A proposta de mexer na tarifa social de energia elétrica faz parte do projeto do governo federal para promover a reestruturação do setor elétrico. Também está inclusa no projeto a abertura do mercado de energia. Assim, os consumidores poderão escolher de qual empresa geradora querem comprar o serviço. O terceiro eixo da reforma quer promover o rateio de custos entre consumidores livres (têm liberdade de escolher o fornecedor de energia) e cativos (têm que comprar energia do fornecedor que detém a concessão do local onde está conectado). O MME criou uma cartilha para sanar dúvidas sobre o assunto.
O Comprova entrou em contato com os autores das publicações no TikTok que falam sobre a proposta de alterar a tarifa social da energia elétrica, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.
Fontes consultadas: Assessoria de imprensa e site do MME, sites de veículos jornalísticos e especialista da FGV.
Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Circulam posts sugerindo que o governo federal pretende acabar com o Bolsa Família. Eles são enganosos, uma vez que não há nenhum anúncio oficial nesse sentido. Uma das publicações tira de contexto declaração do presidente Lula sobre o Brasil não ficar “eternamente vivendo do Bolsa Família". Ele falava sobre a situação econômica dos brasileiros melhorar até não haver mais necessidade do benefício. Outro post cita “apuração da CNN", mas não há registro de que o veículo tenha publicado qualquer conteúdo dizendo que o governo vai acabar com o benefício.
Conteúdo investigado: Postagens sugerindo o fim do Bolsa Família. Uma delas traz a legenda: “Governo Lula avisa os pobres que a situação do Brasil está melhorando, por isso o programa social pode acabar”.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: São enganosos posts insinuando que o governo federal teria anunciado o fim do Bolsa Família. Um dos conteúdos verificados distorceu uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para espalhar tal mentira.
Em um evento em 15 de abril, em Resende, no Rio de Janeiro, o presidente afirmou que o “país não pode ser eternamente pobre, eternamente vivendo de Bolsa Família”. Em seguida, ele disse que seu desejo é que as pessoas se formem e aprendam uma profissão para “viver bem”.
Como a Folha afirmou, a declaração se deu em meio a discussões no governo federal sobre a redução do prazo da regra de proteção do Bolsa Família, que faz com que pessoas continuem recebendo o benefício mesmo após um aumento da renda acima do estipulado pelo programa.
Atualmente, de acordo com as regras, se a renda familiar passar de R$ 218 por pessoa (limite para receber), mas continuar abaixo de meio salário mínimo (R$ 759), 50% do benefício é mantido por 24 meses. A regra de proteção foi estabelecida em junho de 2023 pelo artigo 6º da Lei 14.601.
Outros posts mencionam “apuração da CNN” para sugerir que o fim do programa estaria em discussão no governo. A partir de busca no Google, o Comprova encontrou trecho em que a jornalista Juliana Lopes, da CNN, comenta mudanças no programa.
Ela diz que, após fazer um pente-fino e distribuir o benefício a quem realmente tem direito, agora o governo está reavaliando o recebimento da bolsa por pessoas com carteira assinada. Diferentemente do que o post sugere, em nenhum momento ela fala do fim do programa. No site da CNN também não há nenhum conteúdo nesta linha.
O Comprova tentoucontatar os perfis que publicaram o conteúdo enganoso, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 25 de abril, apenas dois posts com a desinformação somavam mais de 537,2 mil visualizações.
Fontes que consultamos: O MDS e reportagens sobre a declaração de Lula em Resende e sobre o Bolsa Família.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Pessoas que recebem assistência social na Dinamarca podem votar nas eleições sem qualquer tipo de impedimento, desde que sejam cidadãos maiores de 18 anos com residência permanente no país. Post viral que afirma o contrário se baseia em legislação antiga do país europeu, conhecida como “Ajuda aos Pobres”. O dispositivo foi anulado em 1961.
Conteúdo investigado: Post com a foto de uma mulher loira apontando para a seguinte frase: “É uma ideia que tem a maior lógica. Interessante. Na Dinamarca, toda pessoa que recebe algum tipo de ajuda social está inabilitada para votar. Desta forma evita-se que a cidadania se transforme em clientelismo político e que votem cativamente. Compartilhe isso se você quiser que seu país consiga o mesmo”.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: É enganoso o post que afirma que as pessoas que recebem algum tipo de assistência social na Dinamarca ficam impedidas de votar. A publicação que viralizou no X menciona legislação antiga para desinformar. O dispositivo conhecido como “Ajuda aos Pobres” foi anulado em 1961.
Ao Comprova, a Embaixada da Dinamarca no Brasil informou que “qualquer cidadão maior de 18 anos com residência permanente tem o direito de votar nas eleições gerais” e destacou que “é falsa a informação de que as pessoas que recebem benefícios sociais no país não têm o direito ao voto”. O direito é garantido pelo artigo 29 da Constituição da Dinamarca. A informação pode ser confirmada, em inglês, no site do Parlamento dinamarquês.
Ainda de acordo com a embaixada, desde 2019 circulam nas redes sociais, principalmente em países latino-americanos, informações falsas sobre quem pode votar na Dinamarca. Além do Brasil, o Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca observou postagens sobre o tema na Argentina, no Paraguai, no Chile e no México.
Um trecho da Constituição do país aponta que quem recebe assistência governamental pode perder direito ao voto apenas por lei. Entretanto, não existe legislação vigente sobre o assunto. Até 1933, aqueles que recebiam assistência do governo dinamarquês, chamada de “Ajuda aos Pobres”, não podiam votar. Após uma reforma social, as pessoas que recebiam benefícios do governo passaram a poder votar. Em 1961, a “Ajuda aos Pobres” foi oficialmente retirada da legislação.
O sistema de segurança social da Dinamarca é famoso em todo o mundo. Além do acesso à educação e saúde, os cidadãos dinamarqueses têm outros benefícios. Desempregados recebem subsídios, há licença parental paga, jovens de 18 a 24 anos têm direito à assistência psicológica, entre outros – tudo financiado por impostos. Ademais, pessoas que residem legalmente na Dinamarca e não têm meios de subsistência ou não conseguem prover o próprio sustento também podem receber assistência governamental.
O Comprova entrou em contato com o perfil que fez a publicação no X, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 23 de abril, a publicação havia sido visualizada 236,8 mil vezes.
Fontes que consultamos: Embaixada da Dinamarca no Brasil, sites do governo e do parlamento dinamarquês, portal da The Nordic Co-operation, Constituição da Dinamarca e redes sociais das embaixadas da Dinamarca no México e na Argentina.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O UOL Confere, a AFP Checamos, o Estadão Verifica e a Agência Lupa também já mostraram que as pessoas que recebem assistência social na Dinamarca não ficam impedidas de votar nas eleições do país.
Notas da comunidade: A postagem no X exibe uma nota da comunidade com a seguinte frase: “Restrição do voto, de fato, existiu a cidadãos que recebiam a ‘ajuda para os pobres’, mas a legislação foi extinta em 1961”.