O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação.
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Comprova Explica

Investigado por: 10/06/2025

Ferramentas de IA podem falhar em checagens e buscas. Entenda por quê

Comprova Explica
Ferramentas de Inteligência Artificial, adotadas como alternativas para buscas e verificação de conteúdos, são treinadas com grandes volumes de informação e podem reproduzir erros, com respostas desatualizadas, simplificações ou informações incorretas.

O uso de ferramentas de Inteligência Artificial como fonte de informação é cada vez mais comum, mas os resultados podem ser imprecisos, provocar danos ou até colocar em risco a saúde de pessoas que seguem orientações sem validá-las com fontes confiáveis.

O problema se agrava quando a IA responde sobre temas frequentemente alvo de desinformação, como vacinas contra a covid-19. Mesmo informações já desmentidas por órgãos oficiais e estudos científicos podem ser reproduzidas de forma imprecisa ou descontextualizada pelas IAs.

O Comprova Explica o funcionamento dessas IAs e analisa um caso em que o Grok, chatbot de inteligência artificial do X, responde a uma pergunta de um usuário sobre supostos efeitos colaterais de vacinas.

As ferramentas de IA sempre trazem respostas corretas?

Não. Ferramentas de IA como o Grok, ChatGPT, Gemini e outras são treinadas com grandes volumes de informação, mas não têm senso crítico ou compromissos com valores éticos. As IAs também podem fornecer informações incorretas ou desatualizadas e cometer erros que refletem preconceitos presentes nos dados de treinamento ou gerados por uma má interpretação da pergunta que deveriam responder.

De acordo com o monitor de desinformação em IA da NewsGuard, durante o mês de março de 2025, os 11 principais chatbots analisados repetiram afirmações falsas em 30,9% das respostas. Entre os observados estão o ChatGPT-4 (OpenAI), o Grok (xAI), o Claude (Anthropic) e o Gemini (Google). Além disso, quando se considera também as respostas evasivas ou que não oferecem informação útil, a taxa total de falha chega a 41,51%.

Um estudo recente do Tow Center for Digital Journalism analisou oito buscadores com inteligência artificial e apontou falhas graves no desempenho dessas ferramentas. O Grok forneceu respostas incorretas em 94% das consultas analisadas. O estudo mostra que os chatbots, de modo geral, têm dificuldade em reconhecer quando não sabem a resposta e, em vez de admitirem isso, oferecem respostas erradas ou especulativas.

O Grok também apresentou um alto índice de fabricação de links: mais da metade de suas respostas incluíam URLs falsas ou quebradas, além de frequentemente citar artigos errados ou vincular incorretamente as fontes, mesmo quando localizaram o material correto. Especificamente, 154 das 200 citações testadas para o Grok 3 levaram a páginas de erro.

Casos em que a IA pode gerar desinformação

Alguns exemplos recentes registrados nos dias de conflito entre Índia e Paquistão, no início de maio, ilustram situações em que as ferramentas de IA podem acabar produzindo desinformação em vez de esclarecer informações. Uma reportagem do portal UOL mostrou que o Grok afirmou, de forma errada, que um vídeo antigo de um aeroporto do Sudão seria um ataque de mísseis contra uma base aérea no Paquistão. Imagens de um prédio incendiado no Nepal também foram identificadas de forma incorreta pela IA como sendo “provavelmente” a resposta militar do Paquistão.

O coordenador científico do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (IA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Anderson Soares, explica que a IA foi treinada para prever palavras que façam sentido dentro do contexto da linguagem, e não necessariamente para fornecer informações corretas ou respostas precisas. Entender esse princípio básico ajuda a reduzir dúvidas sobre possíveis “alucinações” e a confiabilidade das respostas.

De acordo com o especialista, essas ferramentas apenas geram respostas com base em conteúdos disponíveis na internet. Algumas soluções já adotam uma postura mais cautelosa, deixando claras suas limitações e indicando as fontes das informações utilizadas.

“Sabe aquele amigo que, quando não sabe, mente? É como se a gente colocasse um amiguinho do lado e dissesse o seguinte: ‘olha, a única regra do jogo é que você tem que responder’. “‘Ah, mas e quando eu não sei?’ Você fala: monta o conjunto de palavras a ponto de parecer que faz sentido’. Essa é a regra”, diz o especialista.

Ele compara a situação com os buscadores que surgiram no início da internet, que exigiam educação dos usuários para filtrar e usar os resultados das pesquisas. “A gente está vivendo isso com essa era das IAs, em que vamos ter que duvidar do que vemos, do que escutamos e do que lemos com mais intensidade”.

O caso do CDC nos Estados Unidos

Outro exemplo recente mostra uma situação em que a IA pode oferecer informações imprecisas ou incompletas. Nos comentários a uma postagem que associa falsamente as vacinas a doenças como miocardite e AVCs, um usuário perguntou ao Grok se existe uma relação direta entre esses dois fatos. A resposta do chatbot apontou uma rara associação entre vacinas de mRNA para covid-19 e miocardite e fez uma relação de vacinas de vetor adenoviral com trombose, mas salientou que em ambos os casos os riscos são menores do que os causados pela infecção pelo vírus.

O usuário perguntou se, afinal, era melhor tomar ou não as quatro doses de vacinas contra a covid. O Grok respondeu que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) deixou de recomendar a vacinação de rotina contra covid-19 para crianças saudáveis e mulheres grávidas.

De fato, o órgão americano alterou a orientação sobre a aplicação de vacinas contra a covid-19 para esse público no final de maio, mas não deixou de recomendar a imunização. A nova orientação não diz mais que esses grupos “devem” tomar a vacina, mas que eles “podem” receber o imunizante caso haja interesse das famílias ou recomendação médica. A emissora norte-americana PBS publicou em 30 de maio de 2025 uma reportagem explicando sobre as nuances na mudança de orientação do CDC.

A mudança nas recomendações ocorreu após o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., afirmar que as vacinas contra a covid-19 seriam removidas do calendário de vacinação do CDC. A resposta do Grok é imprecisa quanto à mudança na orientação do órgão de saúde americano.

Fontes consultadas: O site do CDC e reportagens da PBS, do UOL e do The Washington Post. Também foram consideradas análises sobre o desempenho de ferramentas de inteligência artificial, como o monitor da NewsGuard, e um estudo do Tow Center for Digital Journalism. E foi entrevistado Anderson Soares, da UFG.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: A seção Comprova Explica já publicou um guia básico para entender a inteligência artificial, mostrou como funcionam os algoritmos e ensinou como identificar boatos nas redes.

Política

Investigado por: 06/06/2025

Banco do Brasil responde a processo de direito do consumidor, não por fraude

Verificação
Instituição financeira foi processada por suposta prática ilícita na concessão de crédito

O Banco do Brasil respondeu a uma ação civil pública cujos valores chegavam a R$ 841 bilhões, mas isso não significa que a instituição financeira tenha um rombo ou esteja envolvida em um esquema de corrupção desta monta. Essas alegações estão em um post publicado no X, que cita um “escândalo” que seria o “maior da história bancária mundial”. O post ainda compara o caso às fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), dando a entender erroneamente que o Banco do Brasil está sendo acusado de um esquema de desvios de dinheiro.

Não há evidências de esquema de corrupção envolvendo o BB ou investigação de fraudes, como no caso do INSS. O caso em questão diz respeito a um processo nas esferas cível e trabalhista movido pela Associação Brasileira de Defesa do Agronegócio (ABDAgro), sem relação com a administração pública federal, estadual ou municipal.

A ação civil pública alega que o Banco do Brasil teria, durante décadas, promovido uma prática irregular na concessão de empréstimos, conhecida como venda casada. Essa prática, tipificada como abusiva pelo Código de Defesa do Consumidor, consiste em “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”. O valor da causa, que soma restituição do prejuízo e indenizações por danos morais, chega a R$ 841 bilhões.

No caso da ação, a ABDAgro afirma que o banco teria induzido produtores rurais a adquirir produtos como seguros, títulos de capitalização, consórcios e previdência privada para a aquisição do crédito rural. Segundo o levantamento da associação, a instituição concedeu R$ 1,5 trilhão em crédito rural nos últimos anos, dos quais R$ 176,5 bilhões teriam sido “desviados ilegalmente para a compra compulsória desses produtos financeiros”.

Post está em perfil crítico ao governo Lula

O perfil do autor conta com mais de 58 mil seguidores com postagens recorrentes contendo críticas ao governo Lula (PT) e em defesa da direita bolsonarista. Até a data da publicação, o post investigado tinha 72 mil visualizações, 4 mil curtidas e 2 mil compartilhamentos. O responsável pela publicação foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta verificação.

Alarmismo e imagem semelhante a notícia real podem levar a engano

O post se vale de uma linguagem alarmista, para gerar uma resposta emocional no público. Essa é uma estratégia comum de desinformadores: o objetivo é fazer com que o usuário compartilhe a postagem por impulso, sem pensar se ela está correta factualmente. Exemplos da linguagem alarmista são as palavras “escândalo” e o número de “R$ 841 bilhões” em tamanho grande.

Além disso, a imagem foi elaborada com elementos visuais que simulam uma notícia real, com fundo azul, letras grandes e um selo que tenta passar credibilidade, como se viesse de um veículo de imprensa.

Outro fator que colabora para a desinformação é o fato de assuntos econômicos estarem com frequência no noticiário, como as fraudes no INSS e as mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A tentativa de quem compartilha esses conteúdos é tentar associá-los ao que já está sendo noticiado pela imprensa. A falta de uma fonte clara, de dados oficiais ou de um link para uma reportagem não impede que isso se espalhe, porque a comoção pode motivar o compartilhamento.

O que é venda casada

Estabelecida como ilícita pelo Código de Defesa do Consumidor, essa prática acontece quando a empresa condiciona a aquisição do produto ou serviço pretendido à compra de outro. Um exemplo seria quando o cliente tenta pegar um financiamento para comprar uma casa, mas, para isso, o banco faz com que ele adquira um seguro.

A venda casada acontece de forma direta ou indireta, explica a advogada Elaine Keller, especialista em direito civil. “Na venda casada indireta, ele faz uma pressão dissimulada sobre esse cliente, ele impõe a condição de ‘eu aprovo seu crédito rural desde que você compre um pacote de serviços bancários’”, exemplifica.

Na direta, o consumidor é compelido a comprar outro item para adquirir o produto principal. Um exemplo citado pela especialista eram as caixas de achocolatado, que vinham em embalagem de três. “Eles foram obrigados a vender individualmente, porque você só queria comprar um, mas se via obrigada a comprar três”, comenta.

Segundo a advogada, a prática é comum nos bancos, mas acontece de forma indireta e velada.

A pena em caso de prática de venda casada, descrita na Lei nº 12.529/2011, é de multa de 0,1% a 20% do faturamento bruto do acusado, obtido no último exercício no ramo da atividade que ocorreu a infração. Ou seja, se o caso é o de um banco que concede empréstimos, a porcentagem é calculada sobre o valor que o banco faturou no ano fiscal anterior com esse tipo de produto. O valor não pode ser inferior à vantagem obtida pela empresa com a conduta ilegal, caso seja possível mensurar o valor.

Valores

O valor da ação movida pela ABDAgro é calculado em R$ 841 bilhões, sendo essa a soma de indenizações pelo prejuízo causado e por danos morais.

Para chegar ao valor, a Associação calculou o montante negociado em crédito rural nos últimos 10 anos. A partir disso, o levantamento calculou que pelo menos 10% das negociações tiveram venda casada — a porcentagem foi estimada levando em consideração os 2.500 associados da ABDAgro —, o que resulta em cerca de R$ 180 bilhões que teriam sido apropriados pelo banco com os produtos vendidos na prática irregular. O levantamento foi explicado em entrevista à Folha de S.Paulo.

A defesa da associação exige restituição do valor em dobro, ou seja, R$ 360 bilhões. Além da restituição, o processo requer R$ 150 bilhões em danos morais individuais, R$ 50 bilhões em danos morais coletivos, R$ 179 bilhões em danos sociais e R$ 70 bilhões por inversão da cláusula penal.

Tramitação

O caso tramita no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). As últimas atualizações aconteceram em maio deste ano, quando a turma julgadora rejeitou o pedido da ABDAgro. Segundo a decisão, não há “prova suficiente, em cognição sumária, da vulnerabilidade coletiva dos produtores rurais e da existência de política institucionalizada de venda casada”. O texto aponta ainda que o valor da causa gera risco de dano inverso ao Banco do Brasil.

A ABDAgro afirma que ainda deve recorrer da decisão.

Em nota, o Banco do Brasil afirmou que “respeita o Código de Defesa do Consumidor e nega, veementemente, a prática de venda casada”. A instituição reiterou a parceria com o agronegócio e ressaltou que a política de atendimento da empresa é pública.

Fontes que consultamos: Por meio de busca pelas palavras-chave, encontramos o texto original publicado pela ABDAgro. Em seguida, procuramos pelo caso no sistema Jusbrasil e encontramos o processo no site oficial do TJ-GO. Consultamos também o Banco do Brasil, além de especialista para explicar a prática da venda casada.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema:

O Projeto comprova mostrou que o presidente Lula não derrubou lei de combate a fraudes no INSS e que é falso que Janja tenha sido barrada em Moscou com mala de dinheiro proveniente de esquema de corrupção. O Estadão também mostrou que vídeo exagera perda de fundo de pensão do Banco do Brasil durante governo Lula.

Notas da comunidade:

A postagem no X não exibe notas da comunidade.

Política

Investigado por: 06/06/2025

Foto de Lula com mapa-múndi invertido foi feita em reunião com IBGE e não tem relação com plano de ação militar

Verificação
Publicação feita em rede social sugere que reunião em que presidente aparece com mapa-múndi invertido seria de planejamento de ofensiva contra os EUA

Foto em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com outras pessoas em torno de uma mesa apontando para um mapa-múndi foi tirada em visita ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 30 de maio, não em uma reunião de planejamento para uma retaliação militar aos Estados Unidos, como afirma um post publicado na rede social X.

Segundo o post investigado, a imagem seria um “registro exclusivo” de reunião na qual teria sido discutida uma ação militar caso o presidente Donald Trump cancele o visto de entrada nos EUA de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma busca reversa, no entanto, mostra que a foto foi publicada primeiro por Marcio Pochmann, presidente do IBGE.

Na foto, Lula e Pochmann apontam para locais do mapa ao lado dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira. Os quatro estavam analisando o mapa-múndi invertido lançado em maio pelo IBGE como uma forma de colocar o Brasil e o hemisfério Sul no “centro do mundo”.

Na legenda, o presidente do IBGE afirmou que os presentes visualizaram o “destaque ao Sul Global identificado nos países latino-americanos com limítrofes no bioma Amazônico e pertencentes ao BRICS, Mercosul e Língua Portuguesa”.

Ao Comprova, a Secom afirmou que o conteúdo do post investigado é falso e confirmou que o verdadeiro contexto da foto é o descrito na publicação de Pochmann.

Autor do post defendeu tratamento não reconhecido para covid-19

A publicação foi feita por uma conta associada ao médico infectologista Francisco Cardoso, conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM) por São Paulo. No X, ele se define como “a favor da vida” e “Anti-Woke”. A postagem tinha 407 mil visualizações até a tarde desta sexta-feira (6).

Francisco ficou conhecido após depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado, em junho de 2021, em que defendeu o uso de cloroquina e outros medicamentos do chamado “tratamento precoce” contra a covid-19. O tratamento não é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como eficaz contra a doença.

No perfil, Francisco compartilha diversas postagens sobre covid-19, além de críticas à Lula e à esquerda.

Procurado, o autor afirmou que a postagem “trata-se de uma piada, construída de forma evidentemente irônica, sem qualquer pretensão de relatar um fato verídico” e que utilizou recurso de hipérbole para gerar o engajamento. Ele ironizou a atuação do Comprova e, em uma tentativa de intimidação, expôs a repórter que o contatou.

Post não tem nenhuma indicação de ser uma piada

Embora o autor afirme que a publicação se trata de uma piada, o post não tem nenhuma indicação clara sobre isso. Comentários evidenciam que algumas pessoas acreditaram no conteúdo. Um exemplo são as menções ao Grok, inteligência artificial do X, para questionar se a informação era verdadeira.

Além disso, o autor utiliza um tema que tem muita repercussão na atualidade: o anúncio de que o governo dos EUA está revisando suas políticas de restrição a estrangeiros. A conexão com um fato real pode conferir credibilidade ao post.

As mudanças nas práticas norte-americanas foram mencionadas em maio pelo secretário de Estado Marco Rubio. Segundo ele, deve ser colocada em prática uma restrição aos vistos de “cidadãos estrangeiros responsáveis pela censura da expressão protegida nos EUA”.

Outra tática de persuasão utilizada na publicação é o uso da expressão “veja imagem exclusiva”, sugerindo que a foto fosse de um momento revelador e de bastidor. O autor do post também usa o verbo “prepara”, o que pode sugerir algo em andamento ou urgente.

Fontes que consultamos: Busca reversa de imagens no Google, contato com as assessorias de comunicação do IBGE, do Ministério da Defesa e da Secom e com o autor da postagem.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova mostrou ser uma dublagem com uso de inteligência artificial o vídeo que inventa ameaça de líder de Burkina Faso contra Lula e constatou que imagens divulgadas nas redes sociais mentem ao dizer que a Polícia Federal teria encontrado dinheiro do INSS em um suposto quarto secreto do petista. Também já explicou como funciona a Lei Magnitsky, legislação dos Estados Unidos que prevê sanções a estrangeiros acusados de corrupção ou de violação de direitos humanos e foi citada como possível ferramenta de punição ao ministro Alexandre de Moraes pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.

Notas da comunidade: A postagem não possuía notas da comunidade do X até a publicação desta verificação.

Mudanças climáticas

Investigado por: 04/06/2025

Boato infundado envolvendo marido de Marina Silva e serrarias ilegais volta a circular

Verificação
A Procuradoria-Geral da República arquivou processo citando Fábio Vaz de Lima em 2013 por falta de provas.

Não há provas de que Fábio Vaz de Lima, marido da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, seja dono de serrarias clandestinas no Pará ou esteja envolvido com contrabando de mogno na região Norte, diferentemente do que sugere uma imagem que voltou a circular nas redes sociais. A publicação resgata acusações antigas e sem comprovação, apresentando-as como se fossem fatos atuais e confirmados.

O boato remonta a um episódio ocorrido em maio de 2011, durante discussões no Senado sobre o Código Florestal. Na ocasião, o então deputado Aldo Rebelo acusou o marido de Marina de envolvimento com contrabando de madeira. A acusação foi uma reação a uma crítica feita por ela no antigo Twitter. No dia seguinte, Marina convocou uma coletiva para rebater as acusações, que classificou como “levianas e infundadas”. O próprio Rebelo recuou, dizendo ter falado “de cabeça quente” e prometeu que ligaria para se desculpar.

As acusações feitas por Aldo Rebelo se baseavam em uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU), que apurou a doação de quase seis mil toras de mogno apreendidas na Amazônia para a ONG Fase, por meio de convênio com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em nota oficial, divulgada em 2011, Marina disse que o vínculo de Fábio Vaz de Lima era indireto, pois ele trabalhou no Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), rede à qual a ONG era ligada, mas havia deixado o grupo em 1999. A FASE é uma organização não governamental que não possui fins lucrativos e hoje atua em seis estados brasileiros, tendo sua sede nacional no Rio de Janeiro. De acordo com o seu site oficial, a ONG “esteve comprometida com o trabalho de organização e desenvolvimento local, comunitário e associativo” desde as suas origens.

Marina Silva, por sua vez, pediu formalmente que o Ministério Público Federal investigasse o caso. Em 23 de julho de 2013, o então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivou o processo por falta de provas. A decisão diz que “quanto às acusações feitas contra Fábio Vaz de Lima, não há um único elemento que confira foros de verossimilhança aos fatos noticiados pela imprensa”.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O conteúdo foi publicado por uma conta no X que, até a data da verificação, contava com 30,8 mil seguidores. A postagem específica teve grande alcance: 1,4 milhão de visualizações, 2 mil republicações e 4 mil curtidas até 4 de junho.

O Comprova entrou em contato com o responsável pela conta, mas não obteve resposta até o momento. Ele diz se chamar Miguel e informa como local a cidade gaúcha de Bento Gonçalves.

A conta existe desde 2014 e tem um histórico de publicações alinhadas à direita política, frequentemente com elogios a líderes conservadores como Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL), e críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em uma das postagens, por exemplo, o perfil afirma: “Não tem como reorganizar o país ou resolver ao menos o problema da corrupção enquanto que esta máfia estiver no poder, isto é fato e ponto final.”

O contexto e o padrão de publicações sugerem uma intencionalidade de deslegitimar figuras do atual governo federal, o que pode explicar o interesse em associar a ministra Marina Silva e seu marido a práticas ilegais sem apresentar qualquer tipo de comprovação.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação usa linguagem alarmista para provocar indignação imediata. Ao apresentar acusações graves, como envolvimento com serrarias clandestinas e contrabando de madeira, sem qualquer prova, o post apela para o escândalo como forma de convencimento. O conteúdo não cita fontes, investigações ou documentos, mas é escrito como se as informações fossem de conhecimento público.

Outro recurso usado é o ataque direto à imagem de Marina Silva, com um tom depreciativo (“hipócrita descarada”) e menção pejorativa à sua aparência (cabeça de tartaruga). Isso reforça o caráter emocional da postagem, criando um contraste entre o discurso ambientalista da ministra e as informações não comprovadas sobre o envolvimento do marido com o contrabando de madeira.

A publicação também utiliza uma imagem pessoal do casal para sugerir cumplicidade, reforçando a ideia de contradição entre a vida pública e a vida privada. Esse tipo de abordagem pode enganar leitores justamente porque simula uma denúncia séria, ainda que sem qualquer sustentação factual.

A ausência de contexto e a forma como o conteúdo é apresentado — direto e visualmente impactante — aumentam as chances de compartilhamento, principalmente entre perfis críticos à ministra ou ao governo.

Isso é verdade, @grok?

É cada vez mais comum que usuários do X perguntem ao Grok, ferramenta de inteligência artificial da plataforma, se afirmações de determinados posts são verdadeiras. Essa tática foi absorvida também por desinformadores, que a utilizam para espalhar mentiras nas redes sociais.

Ao fazer isso, a mentira pode se espalhar de três formas. Uma delas é quando os usuários nem leem a resposta do Grok, apenas o conteúdo com desinformação. Outra, pior, é quando o Grok dá uma resposta errada, contendo falsidades. E uma terceira, quando usuários aproveitam para compartilhar a desinformação com a desculpa de estarem apenas consultando a IA.

Como o UOL mostrou, a ferramenta afirmou, erroneamente, que um vídeo em um aeroporto no Sudão seria um ataque de mísseis contra uma base aérea no Paquistão.

No caso do post envolvendo Lima, também é possível perceber como o Grok age em relação à desinformação. O cantor Roger Rocha Moreira, que já teve publicações verificadas e classificadas pelo Comprova como falsas ou enganosas (1, 2 e 3 e 4), compartilhou o post mencionando o marido de Marina Silva incluindo a legenda “Isso é verdade, @grok?”.

 

A ferramenta dá respostas diferentes à mesma pergunta. Para Roger, ele diz que Lima é acusado. Já para um usuário que comenta no mesmo post do cantor com uma captura de tela de reportagem da CNN intitulada “Ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles vira réu por exportação ilegal de madeira” e a pergunta “Isso é verdade @grok?”, a ferramenta responde, em inglês, que “a alegação de que Fábio Vaz de Lima, marido de Marina Silva, está envolvido com extração ilegal de madeira ou possui serrarias ilegais no Pará é falsa” e que “isso parece ser desinformação”.

 

 

O Comprova tentou contato com Roger, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Vale lembrar que as ferramentas de inteligência artificial podem cometer erros e as informações que fornecem devem sempre ser checadas em fontes confiáveis.

Fontes que consultamos: Reportagens e verificações sobre o assunto e o site JusBrasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As alegações contra o marido da ministra Marina Silva já foram desmentidas por diversas iniciativas de checagem. O Comprova, em 2018, mostrou que é falso que ele tenha extraído madeira ilegalmente em 2003. Estadão, Lupa, UOL Confere e Aos Fatos também desmentiram versões semelhantes da mesma acusação. Em 2023, o boato foi revivido e desmentido novamente pelo Estadão.

Notas da comunidade: A postagem no X não exibe notas da comunidade.

Comprova Explica

Investigado por: 02/06/2025

Entenda a Lei Magnitsky, citada por secretário de Estado dos EUA como possível ferramenta de sanção a Moraes

Comprova Explica
Durante audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, respondeu a pergunta sobre a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A medida prevista na legislação estadunidense é aplicada contra estrangeiros acusados de corrupção ou violação dos direitos humanos. O Comprova explica as implicações da lei e a repercussão do caso.

Conteúdo analisado: Diálogo entre o deputado americano Cory Mills e o secretário de Estado Marco Rubio, em que discutem a possibilidade de Washington aplicar sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky.

Comprova Explica: A fala de um representante do governo dos Estados Unidos sobre o ministro do STF Alexandre de Moraes repercutiu na última semana e movimentou as relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos. A declaração foi dada em 22 de maio, quando o secretário de Estado, Marco Rubio, participou de audiência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes.

Na ocasião, o deputado republicano Corry Mills declarou que o Brasil vive uma “censura generalizada e perseguição política a toda a oposição, incluindo jornalistas e cidadãos comuns” que, segundo ele, “se estende para além das fronteiras do Brasil e atinge indivíduos em solo americano”. Em seguida, o político pergunta a Rubio se o governo do país avalia impor sanções a Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky. Em resposta, o representante do governo Trump declarou que “isso está sob análise no momento e há uma grande possibilidade de que aconteça”.

A Lei Magnitsky é uma medida criada pelos Estados Unidos para impor restrições a estrangeiros que tenham cometido corrupção grave ou violação dos direitos humanos. Formulada em 2012, no governo do ex-presidente Barack Obama, a medida surgiu para sancionar envolvidos na morte do advogado Sergei Magnitsky, morto na prisão após investigar esquema de corrupção do governo russo.

Em 2016, a lei, que ficou conhecida como “pena de morte financeira”, foi ampliada e passou a valer para acusados em qualquer país. Embora não sejam punitivas, as medidas impedem que o indivíduo entre nos Estados Unidos ou mantenha contas e operações financeiras no país.

Segundo o advogado e membro da Comissão Internacional de Juristas (CIJ) em Genebra Belisário dos Santos Jr., o uso do dispositivo contra o ministro Alexandre de Moraes seria fugir do objetivo da Lei Magnitsky.

Além de ausência de evidências de violação dos direitos humanos, a atuação do ministro não atinge cidadãos dos Estados Unidos. Embora Trump possa aplicar as sanções em solo americano, o governo dos EUA — ou de qualquer outro país — não tem competência para conduzir investigação contra Moraes ou outros cidadãos brasileiros.

Sanções

A legislação autoriza o presidente dos Estados Unidos, com base em evidências, a impor medidas previstas contra estrangeiros responsáveis por crimes de tortura e outras violações dos direitos humanos contra indivíduos que buscam expor atividades ilegais por parte do governo ou atuam na defesa dos direitos humanos. Podem ser alvos das restrições também estrangeiros envolvidos em grandes esquemas de corrupção.

Caso seja alvo da Lei Magnitsky, o indivíduo fica impossibilitado de obter visto para entrada nos EUA. Caso já tenha o documento, ele pode ser cancelado.

A lei prevê ainda o bloqueio de bens e contas, o que rendeu o apelido de “pena de morte financeira”. O estrangeiro também terá bens e contas bancárias nos Estados Unidos bloqueadas, assim como fica impossibilitado de fazer transações financeiras em instituições americanas.

Ao Comprova, o STF informou que o ministro Alexandre de Moraes “não tem e nunca teve bens, dinheiro ou qualquer propriedade nos Estados Unidos”.

No campo político, há a expectativa de que eventuais sanções dos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes ou a outras autoridades brasileiras por meio da Lei Magnitsky possam desencadear uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos.

Em audiência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados em 28 de maio, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, comentou o caso. Segundo o chefe do Itamaraty, os Estados Unidos têm total autonomia para tomar medidas a respeito das movimentações financeiras e ingresso dentro do próprio país. No entanto, a medida não pode “ser extraterritorial e atingir, dentro do território brasileiro, os cidadãos brasileiros”.

Lei de Migração e Nacionalidade

Em 28 de maio, Marco Rubio fez novas declarações sobre a sanção de estrangeiros, mas citando outra legislação. Desta vez, ele mencionou dispositivos da Lei de Imigração e Nacionalidade. A nova política autoriza o secretário de Estado a impedir a entrada de cidadãos estrangeiros cuja presença no país “possa ter consequências potencialmente graves para a política externa dos EUA”.

Sem citar o Brasil, o representante do governo Trump declarou ser inaceitável que “autoridades estrangeiras emitam ou ameacem emitir mandados de prisão contra cidadãos, ou residentes dos EUA por postagens em redes sociais feitas em plataformas americanas enquanto estão fisicamente presentes em solo americano”. Esse é o caso de apoiadores bolsonaristas como Allan dos Santos, investigado nos inquéritos das fake news e milícias digitais.

O secretário afirmou ainda que autoridades de outros países não podem exigir de plataformas estadunidenses a adoção de políticas globais de moderação de conteúdo ou envolvimento em “ações de censura”.

Falas da oposição

Uma semana antes de Cory Mills questionar o secretário Marco Rubio, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou no X uma foto de um encontro entre ele e o também deputado brasileiro Filipe Barros (PL-PR) com Mills nos Estados Unidos. A agenda foi uma das divulgadas pelo filho do ex-presidente Jair Bolsonaro em solo americano em busca de sanções dos Estados Unidos ao ministro Moraes e a autoridades brasileiras.

Após a fala de Marco Rubio no Congresso norte-americano, Eduardo Bolsonaro voltou a publicar foto relembrando o encontro. No dia 26 de maio, o STF abriu um inquérito para investigar a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. A decisão aponta possíveis crimes de coação e obstrução de investigação, além de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Embora bolsonaristas tenham citado outros nomes como suposto alvo da Lei Magnitsky, a exemplo do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e do ministro Gilmar Mendes, os nomes dos magistrados não foram citados por autoridades estadunidenses.

Fontes consultadas: Site e canal no YouTube do Congresso norte-americano, publicações em redes sociais, matérias na imprensa profissional sobre a Lei Global Magnitsky, contatos com assessorias do Itamaraty, STF e entrevista com o advogado Belisário dos Santos Jr, membro da Comissão Internacional de Juristas (CIJ) em Genebra.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Estadão Verifica também publicou conteúdo explicativo sobre a Lei Magnitsky. O Comprova também explicou a discussão entre STF e Congresso brasileiro sobre o Caso Ramagem e também que a Operação Shadow não mostrou que há organização criminosa dentro do Supremo. Verificações também apontaram que imagens da invasão aos prédios dos Três Poderes no 8 de janeiro não foram vazadas e nem provam que Lula (PT) armou invasão.

Política

Investigado por: 30/05/2025

Dublagem com IA inventa ameaça de líder de Burkina Faso contra Lula

Verificação
Mesmo com aviso de que conteúdo contém elementos fictícios e foi dublado por IA, usuários do YouTube acreditaram que declarações fossem verdadeiras

Vídeo viral no YouTube usa inteligência artificial para inventar declarações do líder do país africano Burkina Faso, Ibrahim Traoré, ameaçando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A imagem da gravação é verdadeira e foi feita em cúpula da Rússia e da África realizada em 2023, mas o áudio, não.

No vídeo, a narração feita por IA afirma que o Brasil estaria cometendo crimes diplomáticos. Entre as declarações criadas artificialmente estão: “Se o Brasil estiver jogando contra a África, então, que Deus nos ajude. A próxima mensagem não virá por um microfone” e “Presidente Lula, meu último recado foi um aviso; agora é um ultimato”.

O conteúdo verificado tem um aviso destacado sobre o vídeo informando que o áudio foi “dublado por IA” (inteligência artificial). Abaixo, o canal informa que a publicação “contém elementos fictícios” e que “nenhuma afirmação deve ser entendida como um fato real ou como representação fiel de acontecimentos verídicos”. Mesmo assim, usuários do YouTube acreditaram que o vídeo, intitulado “Guerra diplomática no ar: Ibrahim Traoré revela segredos que ameaçam Lula”, fosse verdadeiro.

“Ele é presidente do Brasil, mas não representa o povo brasileiro” e “Isso é gravíssimo! Espero que nós brasileiros não soframos as consequências! Tem que tirar esse Lula do governo urgente!” são alguns dos comentários deixados no vídeo.

Além do aviso “dublado por IA”, há indícios visuais de que o vídeo foi manipulado, visto que alguns trechos da gravação se repetem. No início, há um corte abrupto e a tela fica preta por cerca de dois segundos.

Em seguida, a mulher que aparece atrás de Traoré mexe no celular. Vinte e cinco segundos depois, o homem ao lado dela se inclina e cochicha algo em seu ouvido — uma cena que se repete alguns minutos depois, reforçando a ideia de que o material foi editado para simular um discurso diferente daquele que realmente ocorreu.

No vídeo original, Traoré mencionou o fortalecimento da relação com o governo russo e criticou líderes africanos que, de acordo com ele, agem como “fantoches” ao se aliar a “nações imperialistas”. Ele também reprovou os chefes de estado africanos, afirmando que eles repetem o discurso dos imperialistas ao chamar os lutadores de “milícia” e violadores de direitos humanos.

Vídeo foi postado por canal conservador

O canal, com 36,9 mil inscritos, afirma, em sua apresentação, ser um espaço para discutir “ideias, valores e perspectivas que moldam a sociedade, sempre com foco na liberdade, tradição e na defesa de princípios conservadores” e na “busca pela verdade”.

Apesar de afirmar na descrição dos vídeos que o canal “não tem torcida” e é para quem “quer entender a política sem filtro”, a maioria dos conteúdos são críticos a Lula e à esquerda – sendo que muitos levam as pessoas a cair em desinformação – e não há nenhum contrário à direita. Um exemplo é que, após a publicação do vídeo verificado aqui, o canal lançou seguidamente outros quatro conteúdos de Traroé, alguns usando as mesmas gravações e todos com áudio inventado (apenas um não fala sobre a questão direita e esquerda):

  • 20 de maio: Brasil em crise: Ibrahim Traoré critica Lula e louva Nikolas Ferreira – Entrevista exclusiva
  • 22 de maio: Ibrahim Traoré ao papa: Inspira como profeta ou governa como político?
  • 24 de maio: De Burkina Faso ao Brasil: Traoré vê Michelle como a esperança do futuro
  • 27 de maio: Após vídeo viral, Traoré fala: Lula abandona o povo em crise!

Até 29 de maio, o vídeo verificado somava 2,6 milhões de visualizações e 115 mil curtidas. O Comprova tentou contatar o responsável pelo canal, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Tom solene e imagens reais podem enganar

O vídeo usa uma combinação de imagem real com áudio falso criado por inteligência artificial. A gravação mostra Traoré discursando em um evento oficial – na cúpula Rússia-África –, o que dá aparência de legitimidade à cena.

A forma como as falas são apresentadas — com tom sério, frases impactantes e fundo de discurso oficial — faz parecer que se trata de uma denúncia real. A escolha do título também reforça essa impressão, pois apresenta a história como se fosse um furo jornalístico ou uma revelação urgente. Mesmo com um aviso no vídeo informando que a dublagem foi feita por inteligência artificial, o canal só deixa claro que o conteúdo é fictício na descrição da publicação.

O vídeo menciona datas, locais, nomes de empresas e supostos agentes secretos para gerar uma falsa sensação de veracidade. A fala é marcada por frases como “a próxima mensagem não virá por um microfone” e “isso é um ultimato”, aumentando o clima de tensão.

O conteúdo foi roteirizado para parecer uma denúncia real, com um enredo envolvente, o que o torna ainda mais convincente. Essas estratégias tornam o vídeo facilmente compartilhável e capaz de enganar quem assiste e não lê a descrição da publicação.

Fontes que consultamos: O Comprova utilizou o NotebookLM para traduzir as falas originais de Traoré e reportagens sobre a cúpula de 2023. O vídeo verdadeiro foi achado por meio de uma busca reversa no Google Imagens.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Estadão Verifica e UOL também verificaram o mesmo conteúdo. Publicações com desinformação inventando declarações com inteligência artificial e envolvendo Lula têm sido comuns. Recentemente, o Comprova mostrou que vídeo usa a ferramenta para simular crítica do papa ao brasileiro no Jornal Nacional e que Donald Trump não chamou o petista de “palhaço corrupto”.

Política

Investigado por: 29/05/2025

Janja não foi sozinha à Rússia e não há provas de que ela seja vigiada por autoridades norte-americanas

Verificação
Não há registros na imprensa nacional ou internacional de que a primeira-dama tenha viajado para o exterior levando 200 malas, nem que ela esteja sendo investigada nos Estados Unidos

A primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, não fez viagens internacionais sozinha em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) levando consigo 200 malas, ao contrário do que é afirmado em vídeo que circula no Instagram e no X. No vídeo, um homem usando um colete escrito “police” (polícia, em inglês) e um item que parece um distintivo policial diz que Janja andou em uma aeronave com capacidade para 200 pessoas. Ele afirma ainda que a polícia dos Estados Unidos estaria “de olho” na primeira-dama.

A imprensa nacional e internacional não noticiou nada do tipo. Também não há registros de que Janja esteja sendo monitorada pela polícia norte-americana por conta disso, como afirma o homem no vídeo. No site do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos Estados Unidos, está explicado que a instituição só faz investigações em outros países mediante convite.

No início de abril deste ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) publicou uma instrução normativa sobre a atuação de Janja em compromissos nacionais e internacionais. O documento detalha que o cônjuge do presidente da República, em sua atuação de interesse público, “exerce um papel representativo simbólico em nome do Presidente da República de caráter social, cultural, cerimonial, político e/ou diplomático”.

A recomendação, elaborada a pedido da Casa Civil, comandada por Rui Costa, é de que a agenda de compromissos públicos do cônjuge do presidente da República seja divulgada em site oficial e que as informações sobre despesas e viagens estejam no Portal da Transparência.

As viagens internacionais de Janja e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são amplamente noticiadas pela imprensa e já se tornaram alvo de contestação da oposição. As viagens também são, frequentemente, alvo de desinformação. Recentemente, a chegada da primeira-dama à Rússia gerou uma série de postagens falsas nas redes sociais afirmando que ela teria sido barrada ao chegar no país com diversas malas cheias de dinheiro.

A primeira-dama saiu do Brasil em 2 de maio e chegou à Rússia no dia seguinte, quatro dias antes do presidente Lula (PT). Conforme a agenda de Janja, ela só chegou ao Brasil em 15 de maio. No país, a comitiva presidencial participou da comemoração aos 80 anos da vitória da União Soviética e aliados contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

De fato, Janja viajou para a Rússia a bordo de um avião da FAB, o KC-30. A aeronave é o maior veículo da FAB, com capacidade para 238 passageiros. O responsável pelo conteúdo investigado afirma que ela estava sozinha na aeronave, mas dados do Portal da Transparência apontam que isso não é verdade. Ao menos dois servidores da Presidência que a imprensa aponta como integrantes da equipe informal da primeira-dama, Edson Antônio Moura Pinto e Julia Camilo Fernandes Silva, viajaram para a Rússia e retornaram ao Brasil em veículo oficial nas mesmas datas que Janja.

Sobre o assunto, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) esclareceu em nota que a viagem foi realizada “dentro dos trâmites legais e com total transparência”. “Rejeitamos categoricamente a invenção absurda de que teria sido levada uma ‘elevada quantidade de malas’, bem como qualquer menção a incidentes com a bagagem — nada disso ocorreu, nem foi registrado por qualquer autoridade responsável”, frisou a Secom.

Somente neste mês, conforme a agenda da primeira-dama, Janja esteve em dois outros países, mas em nenhuma dessas ocasiões viajou sozinha. Logo após a ida para a Rússia, ela foi para a China junto com o presidente e outros membros do governo federal. Depois, ela acompanhou Lula e outros políticos brasileiros no velório do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica.

O mesmo cenário se repetiu em outras viagens que a primeira-dama fez ao longo deste ano. A imprensa mostrou que Lula levou Janja e mais 220 pessoas ao Japão ao custo de R$ 4,5 milhões, em março. Janja foi escolhida por Lula para participar da cúpula da iniciativa Nutrition For Growth (N4G) no país asiático. Um mês antes, ela viajou com uma comitiva de 12 pessoas para Roma, na Itália, a convite do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, para participar de compromissos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Autor do vídeo postou outros conteúdos com desinformação

O vídeo foi publicado originalmente em um perfil no Instagram de um homem que se identifica como Eduardo Matos, empreendedor em tecnologia e inovação. Em alguns dos vídeos publicados no perfil dele, o homem afirma morar nos Estados Unidos. Ele tem 114 mil seguidores. Até 29 de maio, o vídeo investigado pelo Comprova e publicado por ele já contava com 5 mil comentários no Instagram. No X, já acumulava 225,9 mil visualizações. O Comprova tentou contato com Eduardo para saber quais foram as fontes consultadas por ele, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Eduardo produz uma série de peças de desinformação críticas a membros do governo federal, com ataques direcionados aos ministros, à primeira-dama, ao presidente, dentre outros. Em outros vídeos, ele também faz ataques a Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em um post de fevereiro, por exemplo, ele afirma que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) financiou a saída de Lula da cadeia e a volta dele para a presidência da República. O Comprova já mostrou que documentos da agência norte-americana e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não provam que “o modelo de censura americano foi aplicado no Brasil” para manipular as eleições de 2022.

Além disso, produz conteúdos reagindo a vídeos produzidos por celebridades que apoiaram a eleição de Lula, como Preta Gil, sempre com críticas ligadas às escolhas políticas dessas pessoas. Em alguns dos conteúdos em que reage a vídeos, principalmente de mulheres, reforça um discurso conservador.

Um exemplo é um vídeo em que ele critica as pessoas que foram assistir ao show da Lady Gaga na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no início de maio deste ano. Ele afirma que a reunião tratou-se de uma reunião de pessoas em um “culto profano”.

Colete e distintivo simulam sinal de autoridade

Apesar de se identificar como empreendedor em tecnologia e inovação nas redes sociais, no vídeo em que critica Janja, Eduardo faz parecer que é uma autoridade policial ao usar um colete escrito “police” (polícia, em inglês) e um item que se assemelha a um distintivo policial.

A caracterização confere ar de autoridade quando ele diz que Janja está sendo vigiada pela polícia norte-americana. Dessa forma, quem assiste somente a este vídeo pode achar que o homem realmente se trata de uma autoridade policial e possui informações privilegiadas sobre um possível monitoramento da primeira-dama.

O homem ainda não detalha de onde tirou a informação de que Janja viajou para o exterior com 200 malas, nem de que a polícia norte-americana estaria vigiando a primeira-dama. Ele apenas faz essas afirmações de forma categórica, o que induz o espectador a acreditar que o que ele diz é verdade. Além disso, a afirmação de que ela está sendo vigiada pelos norte-americanos é feita com um tom conspiratório e se aproveita do fato de que dificilmente uma investigação do tipo seria confirmada pelas forças de segurança de outro país.

Fontes que consultamos: Busca reversa no Google por meio de um frame do vídeo publicado no X para identificar o verdadeiro autor da postagem. Assim, o perfil dele no Instagram foi localizado; pesquisa em veículos da imprensa nacional e internacional; consulta à Secom do governo federal.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que posts mentem ao dizer que malas com dinheiro foram apreendidas com Janja em Moscou e que um outro post inventou um encontro noturno entre ela e o Emmanuel Macron, presidente da França. O UOL Confere, Estadão Verifica, g1 e Aos Fatos também já desmentiram o boato ligado à viagem de Janja para a Rússia.

Notas da comunidade: A postagem no X não possui notas da comunidade.

Saúde

Investigado por: 29/05/2025

Pesquisa diz ser improvável que ivermectina produza melhora significativa para pacientes com covid

Verificação
Vídeo engana ao atribuir à ivermectina redução de mortes e hospitalizações por covid

Diferentemente do que afirma um médico em um vídeo que circula nas redes sociais, o artigo “Ivermectina para COVID-19 em adultos na comunidade (PRINCIPLE): Um ensaio clínico de plataforma, aberto, randomizado, controlado e adaptativo sobre desfechos de curto e longo prazo“, publicado em abril de 2024 pelo The Journal of Infection, da British Infection Association, não concluiu que o uso de ivermectina reduza o tempo de hospitalização e de mortes de pacientes com covid-19. O artigo em questão reconhece uma redução estatisticamente relevante no tempo de recuperação dos pacientes que utilizaram ivermectina, mas ressalta que o efeito é mínimo para ser considerado clinicamente relevante.

No conteúdo, publicado no Instagram, o autor do vídeo afirma que o uso do medicamento resultou em dois dias a menos de infecção, além de uma redução de 60% nos casos de hospitalização e morte. Em um post publicado no X, uma pessoa reproduziu o vídeo acrescentando que a ivermectina funcionaria não apenas contra covid como contra a gripe (influenza). Na realidade, o estudo em questão nem mesmo menciona a ivermectina como tratamento para a gripe (influenza).

A conclusão à qual chegou o médico, que se identifica como Davi Rodrigues, não é sustentada pelos autores do estudo. Logo no início do texto, na seção “interpretação”, os autores afirmam que é “improvável que a ivermectina para covid-19 proporcione melhora clinicamente significativa na recuperação, internações hospitalares ou desfechos a longo prazo”. A pesquisa também afirma que, mesmo que os resultados evidenciem um pequeno benefício na duração dos sintomas, o uso de ivermectina não é apoiado como tratamento para covid-19 em uma população amplamente vacinada. Na conclusão do artigo, os pesquisadores afirmam que os resultados “apoiam a posição de que a ivermectina não deve ser usada para tratar a infecção por SARS-Cov-2 na comunidade em países de alta renda com uma população amplamente vacinada”.

Infectologista, doutor em medicina tropical e professor do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), César Carranza Tamayo explica que estudos, como o artigo “PRINCIPLE”, devem ser analisados a partir de dois pontos de vista: o estudo isoladamente e no contexto de outras pesquisas. Analisada isoladamente, a pesquisa indicou um benefício subjetivo no uso da ivermectina em pacientes com casos leves a moderados de covid-19, independentemente do status vacinal. Contudo, para os desfechos importantes e que podem ser medidos objetivamente (hospitalização, mortalidade e qualidade de vida), não houve vantagem em usar esse medicamento.

Tamayo também menciona a pesquisa “‘Efficacy and safety of ivermectin for treatment of non-hospitalized COVID-19 patients: A systematic review and meta-analysis of 12 randomized controlled trials with 7,035 participants”. Em português: “Eficácia e segurança da ivermectina para tratamento de pacientes com COVID-19 não hospitalizados: uma revisão sistemática e meta-análise de 12 ensaios clínicos randomizados com 7.035 participantes”, realizada por ele em parceria com outros pesquisadores. O estudo concluiu que a ivermectina não demonstrou eficácia no tratamento da Covid-19 em nenhum estágio da doença, independentemente da situação vacinal do paciente.

O autor do conteúdo investigado afirma no vídeo que 60% das hospitalizações e mortes por covid-19 foram reduzidas com o uso de ivermectina, mas ele faz uma interpretação errônea dos dados. Ele se baseia na tabela que registra 34 hospitalizações e/ou mortes relacionadas à covid-19 (1,6%) no grupo da ivermectina e 144 (4,4%) no grupo de cuidados habituais. Contudo, o homem ignora o dado de 0%, detalhado na coluna seguinte: “diferença estimada na mediana do tempo até a recuperação ou na taxa de hospitalização/óbito (95% intervalo de credibilidade bayesiano).

Para o Estadão Verifica, que checou o vídeo em janeiro, o pesquisador Gabriel da Rocha Fernandes, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Minas Gerais, explicou o motivo de conclusão estar errada: “O teste estatístico mostra que em 95% das vezes, essa diminuição da porcentagem (cerca de 60% de redução de mortes) pode ser de -1% até 0.6%”. Ou seja, o valor negativo indica que o efeito pode ser inverso. E isso deve-se à aleatoriedade representada pelas observações. Então, essa ‘diferença’ de fato não existe, e é apenas um artefato do conjunto de dados”.

Conteúdo foi publicado por médico

O vídeo foi gravado pelo médico brasiliense Davi Rodrigues. Em sua conta no Instagram, ele costuma publicar vídeos questionando a eficácia de vacinas contra covid-19. Ele também publica conteúdos sobre a energia das células do corpo humano e vende cursos, produtos e consultas para quem deseja recuperar a energia do corpo e melhorar a saúde.

O Comprova entrou em contato com o autor da publicação original no Instagram e com o usuário que repostou o vídeo no X, mas não obteve respostas até a publicação deste texto.

Credibilidade de profissionais de saúde pode enganar

Uma combinação de fatores pode ser responsável por fazer o público ser enganado por este tipo de conteúdo. Um deles é o fato de que o autor do vídeo é um médico, o que confere a ele uma aura de credibilidade junto à sociedade. Outro fator é que o autor do vídeo faz uma referência a um estudo científico e, para isso, utiliza uma linguagem técnica. Isso pode convencer pessoas que não têm familiaridade com a leitura crítica de evidências científicas.

Além disso, como ficou claro durante os anos da pandemia, uma parte da sociedade acreditou na possibilidade de que medicamentos como a ivermectina proporcionariam uma melhora para os sintomas de covid-19 ou mesmo que poderiam impedir a contaminação pelo vírus causador da doença. Esse discurso foi insuflado por profissionais de saúde e políticos, o que deu a ele grande visibilidade, apesar da falta de evidências científicas para embasá-lo.

Fontes que consultamos: Pesquisa no Google pelas palavras-chave do vídeo; consulta a checagem do Estadão Verifica, ao site do Ministério da Saúde e ao site onde o estudo foi publicado; uso da ferramenta NotebookLM para tradução e resumo do artigo; pesquisa de outros estudos sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Em janeiro de 2025 o Estadão Verifica já mostrou que o estudo não concluiu que ivermectina reduz tempo médio de infecção por covid. O Comprova já checou outras peças de desinformação sobre ivermectina, incluindo vídeos que enganam ao indicar seu uso para o tratamento da dengue e post que citava estudo feito em Itajaí que não provava a eficácia do medicamento contra covid-19.

Notas da comunidade: Na publicação no X não foram incluídas notas da comunidade sobre as informações do vídeo.

Golpes virtuais

Investigado por: 27/05/2025

Como identificar e se proteger dos golpes do reconhecimento facial

Golpes virtuais
Golpistas têm se aproveitado da necessidade que as pessoas têm de acessar um serviço e também de ofertas enganosas, mas atrativas, para usar o rosto das vítimas em reconhecimentos faciais que acabam em prejuízo financeiro. O Comprova tem produzido uma série de conteúdos informativos sobre os diferentes tipos de golpes digitais. Entenda abaixo como se proteger e ao que ficar atento quando for solicitada uma foto ou vídeo do seu rosto em algum atendimento online.

Golpe do Reconhecimento Facial

Como os golpistas abordam as pessoas: Em muitos casos, noticiados amplamente em reportagens, o golpista se passa por um atendente dos mais variados tipos de serviço, como saúde, educação e telefonia, e solicita uma foto do indivíduo para um cadastro. As ofertas de emprego também podem ser usadas na tática, com solicitação da imagem para fazer cadastro na suposta nova empresa. Também existem casos em que o golpista entra em contato com a vítima e diz que ela ganhou um benefício ou brinde. Ele vai até a casa da vítima e finge tirar uma foto dela para registrar a entrega do benefício, mas, na verdade, o que ele faz é o reconhecimento facial da vítima.

Que táticas eles usam para chamar a atenção: Os golpistas se aproveitam da necessidade que a vítima tem de acessar um serviço e também de ofertas enganosas, mas atrativas. Eles também podem se passar por funcionários de órgãos públicos responsáveis por manter cadastros da população, como agentes de saúde municipais.

Qual é o objetivo do golpe: Os dados biométricos são utilizados em cadastros de instituições financeiras, no portal estatal gov.br, e na maioria das transações que envolvem bens. Com o reconhecimento facial e os dados coletados, os golpistas podem criar ou entrar na conta do banco e pegar empréstimos. Também há casos em que os criminosos financiam automóveis e outros bens em nome da vítima.

Como se proteger: É importante estar atento a ofertas tentadoras, como promessas de emprego ou distribuição de cestas básicas.

O especialista em cibersegurança Eduardo Nery orienta que, caso seja solicitada uma foto ou vídeo fazendo movimentos do rosto, a vítima deve desconfiar imediatamente. Além disso, não se deve compartilhar ou confirmar os dados pessoais que o atendente indique parcialmente. Por exemplo, é possível que o golpista diga o nome da vítima e peça para que ela diga o nome da mãe. Em caso de dúvida ou suspeita, a orientação é ligar para os canais oficiais da empresa para confirmar se essa é a abordagem padrão.

No caso de abordagens por pessoas que se apresentam como agentes de saúde ou outros servidores públicos, verifique se os atendentes estão devidamente identificados com uniformes, crachás ou outros dispositivos. Essa atenção também vale para os aparelhos utilizados para fazer a biometria. Nos estabelecimentos que fazem cadastramento biométrico, esse procedimento é feito por celulares ou outros aparelhos da empresa, que também devem estar identificados.

A quem denunciar: Se desconfiar que foi vítima de um golpe, uma alternativa é consultar o Registrato — ferramenta do Banco Central — para verificar se há empréstimos, financiamentos ou contas abertas em seu nome. Em caso de atividades suspeitas, a vítima pode entrar em contato com o banco em que foi feita a transação e registrar boletim de ocorrência. A queixa pode ser feita em uma delegacia da Polícia Civil – ou de forma virtual pelo site da repartição –, Polícia Federal ou Ministério Público. A organização não governamental SaferNet Brasil também mantém um canal de denúncias e conta com especialistas que podem orientar o usuário nesse processo.

Desconfiou que é golpe? O Comprova pode ajudar a verificar: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, eleições e possíveis golpes digitais e abre verificações para os conteúdos duvidosos que mais viralizam. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova investiga diferentes tipos de golpes virtuais e orienta o leitor a como se proteger de golpes como o do falso emprego e o que fazer quando você recebe uma mensagem no Whatsapp com um código. A Agência Lupa criou um site que mapeia golpes digitais e orienta vítimas de fraudes.

Saúde

Investigado por: 27/05/2025

É uma encenação o vídeo em que agentes de saúde tentam obrigar mãe a vacinar filho contra covid

Verificação
Prefeitura de Piraquara esclareceu que as visitas realizadas no município não têm caráter coercitivo

Agentes oficiais de saúde e de assistência social de Piraquara (PR) não tentaram obrigar uma mãe a vacinar seu filho contra a covid-19, diferentemente do que é sugerido em vídeos que circulam no TikTok e no Twitter.

O conteúdo investigado traz uma cena em que uma mulher relata estar sendo pressionada por um agente de saúde e uma assistente social a vacinar o filho de oito meses contra a covid-19. Eles teriam batido à sua porta e afirmado que, caso ela não realizasse a imunização, seria multada. Embora o vídeo tenha sido publicado originalmente por um perfil no TikTok com o nome de Sâmela Miranda, a mulher no vídeo se identifica aos supostos agentes municipais com outro nome: Gislaine Rosane.

Há evidências de que é tudo uma encenação. A mais importante delas é o fato de que, na conta de Sâmela, é possível ver vários vídeos de encenação, nas quais as mesmas pessoas assumem diferentes papéis — em outro vídeo, por exemplo, ela se identifica como Ana. Em nenhum momento, no entanto, as postagens deixam claro que as situações mostradas são fictícias. Muitos comentários indicam que parte do público acredita que as cenas representam casos reais.

Além disso, a Prefeitura de Piraquara, onde Sâmela reside, nega fazer esse tipo de abordagem. Contatada pelo Comprova, a prefeitura informou que as visitas realizadas no município não têm caráter coercitivo e têm como foco a orientação em saúde. A gestão municipal afirma ainda que “as visitas domiciliares são realizadas exclusivamente por Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), devidamente identificados com crachá e colete vermelho” – o que não aparece no post. Na cena gravada, uma das pessoas está com um jaleco branco, normalmente usado em ambientes hospitalares. Além disso, seus rostos não são exibidos.

A vacinação de crianças em casos recomendados pelas autoridades sanitárias é obrigatória de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990. Como mostrou o Comprova em abril, ainda assim, alguns pais e mães podem se recusar a imunizar seus filhos. Quando isso ocorre, as unidades de saúde devem encaminhar a questão ao Conselho Tutelar e, se a recusa continuar, o caso pode seguir ao Ministério Público, que solicitaria à Justiça a aplicação de multa.

Conteúdo está em conta de pessoa identificada como atriz

Os vídeos foram publicados originalmente na conta de uma pessoa identificada como Sâmela Miranda no TikTok. Na cena investigada, no entanto, ela atende pelo nome de Gislaine Rosane. Seu perfil tem 87,3 mil seguidores e publica vídeos com encenações que já lhe renderam mais de 780 mil curtidas. Somente um dos vídeos verificados pelo Comprova foi visualizado 364 mil vezes.

O perfil de Facebook da Sâmela informa que ela é atriz e que reside na cidade de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Essa informação é consistente com outras publicações em seu perfil, como em um vídeo em que ela aparece no estacionamento do Supermercado Jacomar. O Comprova identificou o local ao comparar elementos visuais do vídeo com imagens do supermercado disponíveis no Google Street View.

O perfil de Sâmela indica que ela é casada com Kauê de Aguiar, que publica os mesmos vídeos com encenações no TikTok e no Instagram. Ele aparece em vários dos conteúdos, desempenhando diferentes papeis. No vídeo da vacina, é possível identificar pela voz que ele interpreta o agente de saúde. Kauê, no entanto, é dono de uma barbearia em Piraquara, cujo endereço ele divulga nas redes sociais.

O Comprova tentou contato com Sâmela e Kauê, por diferentes meios, para confirmar as informações e esclarecer detalhes da situação relatada em vídeo, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Imagens circulam nas redes sem contexto

A linguagem audiovisual usa imagens e sons para criar narrativas que podem estimular fortes reações emocionais, sobretudo quando parecem autênticas. O vídeo investigado pelo Comprova apresenta uma cena de ameaça a um bebê gravada por uma mãe com seu próprio celular, o que provoca indignação especialmente em pessoas críticas à vacinação.

No entanto, o perfil omite diversas informações. E são esses vazios que, juntamente com as reações emocionais provocadas, se aproveitam da nossa atenção precária nas redes sociais para nos fazer crer na veracidade de algo simulado.

Em primeiro lugar, o vídeo esconde os rostos das pessoas que a criadora do vídeo apresenta como profissionais de saúde. O suposto agente também omite o nome da cidade ao se apresentar como sendo “do posto de saúde da sua cidade”.

Quem assiste somente ao vídeo investigado não percebe que em outras publicações do perfil no TikTok algumas pessoas reaparecem interpretando diferentes papeis. A própria responsável pelo perfil se apresenta com um nome diferente na cena gravada. Em uma página do Facebook, cujo link é fornecido na descrição de seu perfil, ela usa ainda um terceiro nome e diz que é atriz, informação que omite no TikTok.

Fontes que consultamos: Prefeitura de Piraquara, os canais da autora do post e leis vigentes sobre a obrigatoriedade das vacinas para crianças no Brasil.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Uma checagem anterior da coalizão esclarece que a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 é prevista em lei, mas não implica imunização forçada. Na seção Comprova Explica, o projeto mostrou como a desinformação sobre vacinas distorce dados e compromete a confiança pública.