O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2023-05-08

Vacinas não têm vírus e fungos ‘do câncer’, ao contrário do que alega vídeo compartilhado nas redes sociais

  • Falso
Falso
Vacinas não têm vírus e fungos que causam câncer para “matar lentamente os pobres, os feios e os velhos”. A alegação compartilhada em vídeo nas redes sociais não tem comprovação científica. O câncer não está relacionado à aplicação de qualquer imunizante, segundo o Butantan. O Instituto Nacional do Câncer também desmentiu a publicação e reforçou que “as vacinas são um dos principais métodos de prevenção de doenças infecciosas e não são causadoras de doenças”.

Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem que se diz “estudioso das vacinas” alega que os imunizantes, em especial aqueles contra o H1N1, teriam “vírus e fungos do câncer”. Ele diz que os imunizantes são usados para controle populacional.

Na gravação, ele cita especificamente que vacinas contêm o VRS Virus, o Papiloma Vírus Humano (HPV), o Mumps Virus, o vírus da Herpes e diz que esses são os causadores silenciosos da doença.

Onde foi publicado: TikTok, Facebook e YouTube.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um vídeo que alega que as vacinas, especialmente a que previne contra o vírus H1N1, estejam sendo usadas para matar lentamente os pobres, os velhos e os feios. A postagem compartilha a gravação de um senhor que mente ao dizer que os imunizantes contêm “vírus e fungos do câncer”.

Em resposta às alegações, o Instituto Butantan explicou ao Comprova que “é errado afirmar que a vacina contra influenza causa câncer, uma vez que não há comprovação científica de que a doença está correlacionada à aplicação de quaisquer imunizantes”.

O instituto também ressaltou que as vacinas, na realidade, têm o potencial de prevenir alguns cânceres que podem ser causados por vírus. Um exemplo é a vacina contra o HPV, disponível na rede pública para pessoas com idade entre 9 e 14 anos. O imunizante protege contra o vírus que é responsável pelo câncer de colo uterino, de pênis, anal e oral. O Butantan citou ainda a vacina contra hepatite B, que previne o câncer de fígado.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) também desmentiu a postagem. A médica infectologista Marianne Monteiro, chefe da divisão clínica do Inca e membro da Comissão de Controle e Infecção, explicou que “as vacinas são um dos principais métodos de prevenção de doenças infecciosas e não são causadoras de doenças”.

A especialista também comentou que a vacina contra o H1N1 está liberada para pacientes com imunossupressão, inclusive câncer. “Os profissionais de saúde devem ser vacinados e também dar as orientações para a vacinação de seus pacientes”, concluiu.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Compartilhado em 30 de abril no TikTok, o vídeo checado somava, até a manhã do dia 8 de maio, 420,9 mil visualizações, 22,6 mil curtidas e 2 mil comentários.

Como verificamos: O Comprova consultou o Butantan, produtor da vacina contra o vírus H1N1 no Brasil, e o Inca para falar sobre a suposta relação entre as vacinas e o desenvolvimento de câncer.

Também pesquisou no site da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as vacinas que usavam vírus em suas composições e a explicação de como elas são feitas para que se garanta a segurança do imunizado.

Vacinas que usam vírus

Atualmente existem vacinas que fazem, sim, uso de vírus (enfraquecido ou em partes) em sua composição para estimular a resposta imune dos anticorpos. Entretanto, nenhuma delas possui quaisquer riscos de transmitir a doença ao imunizado.

Em 2021, a OMS divulgou um guia explicativo dos tipos de vacina que eram aplicadas contra a covid-19 e que faziam uso de vírus. A lista inclui vacina inativada, vacina atenuada ao vivo, vacina vetorial viral, vacina subunita e vacina de ácido nucleico.

As mais comuns são as de vírus inativado e de vetor viral:

  • A primeira consiste no uso de produtos químicos, calor ou radiação para matar ou inativar o vírus, impossibilitando-o de contaminar o vacinado ou gerar efeitos patológicos nas pessoas.
  • A segunda conta com o uso de vírus seguros, que fornecem sub-partes específicas do germe de interesse – chamadas proteínas (como a spike) – para que possa desencadear uma resposta imune sem causar doenças nos imunizados.

Vídeo circula pelo menos desde 2018

A gravação compartilhada no TikTok possui uma marca d’água com o nome “med natural”. Na busca pelo vídeo original, o Comprova encontrou matéria do Fantástico de 2019 que usava trecho do conteúdo checado como exemplo de desinformação sobre as vacinas.

Na matéria, o vídeo aparecia como uma gravação compartilhada no YouTube com o título “A indústria fará de tudo para você não ver este vídeo! Prof. Jaime Bruning 2019”. A reportagem televisiva borrou o nome do canal em que o conteúdo tinha sido publicado.

Ao procurar pelo nome da gravação no YouTube, a equipe de checagem não achou nenhum resultado, o que pode indicar que o conteúdo foi excluído ou ocultado.

Buscando, entretanto, pelo mesmo título no Google, foi possível chegar a uma publicação da página no Facebook “Saúde é qualidade de vida”, que mostra o vídeo na íntegra. O post, de 13 de novembro de 2018, divulga o livro de Bruning, uma palestra do autor, o seu blog e um link para um vídeo no YouTube que virou privado.

Quem é Jaime Bruning

No site de Jaime Bruning atualmente disponível não há informações sobre quem ele é. Há apenas uma página onde consta uma nota em que ele se diz alvo de “acusações, denúncias e perseguição implacável de pessoas que se utilizam de alguns meios de comunicação tendenciosos” por seu trabalho como “terapeuta naturista”. No mesmo texto, ele afirma que interrompeu seus atendimentos ao público.

Contudo, analisando o código-fonte do site (captura de tela feita em 8 de maio de 2023), é possível acessar o conteúdo antigo da página. Nele, Jaime se diz terapeuta naturista e afirma ter feito “mais de três mil palestras em todos os estados do Brasil e também no exterior”. Ele também diz ser formado em Filosofia.

Nessa página, há links para a venda de um folder e de um livro sobre supostas terapias naturais de cura. Neles, há um aviso indicando que Brunning não é médico.

Jaime já foi citado em matéria do Estadão que apontava disseminadores de desinformação que usavam o alcance da audiência para vender produtos como suplementos, cursos e livros.

O que diz o responsável pela publicação: O conteúdo foi publicado pelo perfil @didibraga4 no TikTok, mas a conta não mostra informações de contato e não aceita envio de mensagens pela plataforma. O Comprova buscou no Google e na ferramenta UserSeach pela usuária em outras redes sociais e não encontrou nenhum resultado com o mesmo nome. Seu perfil compartilha majoritariamente vídeos não autorais e contrários ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos com desinformação antivacina utilizam afirmações impactantes para disseminar o medo na audiência, como a de que a pessoa possa desenvolver câncer caso se imunize. Nesse caso, o homem no vídeo cita nomes de livros em que estariam tais informações, mas, ao pesquisar sobre as publicações, é possível perceber que são livros de cunho religioso e espiritual, não publicações científicas. Outra estratégia também usada neste vídeo é a de relatar o caso específico de um indivíduo, impossível de ter a veracidade verificada, como “prova” da suposta informação repassada.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova desmentiu por diversas vezes postagens que relacionavam as vacinas com doenças diversas. Já explicou que os imunizantes contra a pólio não causam câncer, e que aqueles contra a covid-19 não causam anomalia genética, não transmitem HPV, nem HIV ou geram problemas de infertilidade.

Saúde

Investigado por: 2023-05-05

Texto repete afirmações falsas de médico norte-americano para criar temor sobre vacinas contra covid-19

  • Falso
Falso
É falso um texto que viralizou no Twitter e que relaciona imunização a aumento de casos de infertilidade ou incidência de tumores. Não há embasamento científico nesta tese, já que os imunizantes tiveram sua segurança comprovada em estudos clínicos. Além disso, o conteúdo exagera na relevância atribuída ao médico norte-americano citado.

Conteúdo investigado: Postagem do site Jornal Tribuna Nacional com o título “O melhor patologista do mundo adverte que centenas de milhões de vacinados estão contraindo câncer e se tornando inférteis”, sobre falas do médico norte-americano Ryan Cole acerca dos supostos efeitos das vacinas de RNA mensageiros (mRNA) contra covid-19. O texto é uma reprodução do site The Exposè.

Onde foi publicado: Site do Jornal Tribuna Nacional e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um texto publicado pelo site Tribuna Nacional, que viralizou no Twitter, no qual o autor reproduz afirmações do médico patologista norte-americano Ryan Cole de que o uso de vacinas de RNA mensageiros (mRNA), como algumas das utilizadas contra a covid-19, provocaria um aumento de casos de câncer e infertilidade. Não há comprovação científica sobre essa relação.

Em abril deste ano, o Ministério da Saúde desmentiu que as vacinas causem infertilidade. Estudo feito com homens norte-americanos entre 18 e 50 anos vacinados contra a covid-19 não mostrou alteração na contagem de espermatozoides, diferentemente do que afirma o texto checado. O que existem são estudos que mostram efeitos negativos no sistema reprodutor de homens que se infectaram e morreram de covid.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), não há evidência alguma de que vacinas causem câncer. “As vacinas são um dos principais métodos de prevenção de doenças infecciosas e não são causadoras de doenças”, disse o instituto em nota. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também ressaltou ao Comprova que a relação entre a vacina contra a covid-19 e problemas de saúde graves como câncer e infertilidade não tem qualquer embasamento científico.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, também ressalta que não há evidências de que as vacinas causem infertilidade em homens ou em mulheres. Inclusive, recomenda a vacinação para pessoas que desejam ter filhos.

O site brasileiro traduziu o texto de um site inglês que já foi banido do Twitter por publicar desinformação sobre a covid-19.

O Comprova classifica como falso o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O texto verificado aqui foi compartilhado no Twitter por pelo menos sete contas diferentes. Em uma delas, a postagem teve 73,5 mil visualizações até o dia 5 de maio.

Como verificamos: Buscamos informações a respeito do médico patologista Ryan Cole e questionamos a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) a respeito do título de “melhor patologista do mundo”. A pesquisa relacionada ao nome do médico gerou registros em sites internacionais que atribuem a ele informações similares a respeito de uma suposta relação entre as vacinas contra a covid-19 e doenças como câncer, infertilidade e coágulos sanguíneos.

Com isso, buscamos informações junto ao Inca e à Anvisa para checar se havia correspondência científica nas afirmações de Cole traduzidas pelo texto aqui investigado. Também buscamos informações no Ministério da Saúde sobre a relação da vacina de mRNA contra covid-19 com casos de infertilidade.

Vacina não causa infertilidade e nem câncer

Segundo o Ministério da Saúde, uma pesquisa da Universidade de Miami refutou a relação das vacinas contra a covid-19 baseadas em mRNA com a infertilidade. A pesquisa, publicada na revista científica Jama, ocorreu com homens entre 18 e 50 anos que receberam as duas doses do imunizante, e o estudo constatou que os pacientes vacinados não tiveram alteração na contagem de espermatozoides.

Por outro lado, o não uso do imunizante, ao facilitar a propagação da covid-19, pode causar impacto no sistema reprodutor masculino. “A pesquisa do Programa de Urologia Reprodutiva da Universidade de Miami realizou autópsias em 6 homens que morreram de covid-19. Os cientistas verificaram a presença do vírus no testículo de um deles e a redução na contagem de espermatozoides de outros três.”

O ministério cita ainda uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que avaliou 26 pacientes com idades entre 18 e 55 anos com casos leves e moderados de covid-19. Os pacientes não se queixavam de dores escrotais e, mesmo assim, 42,3% deles apresentaram epididimite. “Essa inflamação atinge os epidídimos, estruturas responsáveis parte do processo de maturação, às vezes do armazenamento e também do transporte dos espermatozoides”, explica.

Além disso, o autor do artigo desinformativo afirma que as doenças citadas são causadas pela “proteína Spike”, supostamente responsável pelo desenvolvimento de câncer e de coágulos sanguíneos. Porém, como a Anvisa ressaltou, “a vacina induz imunidade celular e produção de anticorpos neutralizantes contra o antígeno spike (S)”. É dessa forma, inclusive, que protege contra a covid-19. O Inca também confirma que não há qualquer comprovação científica que relacione aumento de casos de câncer com a vacinação.

A Anvisa esclareceu ainda que a maioria dos eventos adversos identificados após a vacinação contra a covid-19 não é grave, e está normalmente relacionada a efeitos no local da aplicação, como dor e inchaço, ou eventos de curta duração, como ocorrência de febre e indisposição. Essa informação está disponível na bula dos imunizantes.

Origem do texto

A publicação do Tribuna Nacional é uma reprodução do texto “Top pathologist confirms cancer, infertility & strange blood clots are common side effects of covid-19 vaccination”, do site britânico The Exposè. Esse mesmo site já foi objeto de outra checagem feita pelo Comprova.

No entanto, o site, criado em novembro de 2020, é reconhecido internacionalmente por propagar conspirações e desinformações sobre a covid-19. Ele é escrito pelo mecânico britânico Jonathan Allen-Walker e se tornou famoso por um dos seus artigos, reproduzido pelo Before It’s News. O site foi citado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como fonte para relacionar as vacinas contra covid-19 com a incidência de AIDS. Em dezembro do ano passado, a Polícia Federal concluiu que Bolsonaro cometeu crime ao fazer tal relação.

Em 2021, o Twitter suspendeu a conta principal do The Exposè, que criou contas alternativas para evitar o banimento. A startup britânica Logically, especializada em combater e analisar a desinformação, descreveu o The Exposè como um site que promove um portfólio de mitos negacionistas da covid-19 e anti-vacina. O mesmo site é responsável por difundir desinformação sobre a origem da covid-19, composição da vacina e estatísticas relacionadas à doença.

Quem é Ryan Cole

O médico estadunidense Ryan Cole é dermatopatologista e trabalha de forma independente desde 2004. É fundador e atua como CEO do laboratório Cole Diagnostics, que realiza serviços de laboratório clínico e patologias. Ele participa da Associação de Médicos Independentes do estado norte-americano de Idaho.

A entidade é um grupo formado desde 2013 por profissionais de saúde que realizam práticas médicas próprias, com “liberdade de diagnosticar e tratar sem sobrecarga de interesses potencialmente conflitantes”, segundo o site da organização. “Somos uma organização de médicos independentes em Idaho. Donos de nossas clínicas, portanto, livres para nos juntar a nossos pacientes na escolha de suas melhores opções de cuidados de saúde”, diz o site, em tradução livre.

Cole já havia questionado a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. Por três vezes suas declarações sobre o assunto foram checadas e desmentidas pela FastCheck.Org. Em janeiro deste ano, foi aberta uma declaração de acusação contra a licença do médico no estado de Washington por suas declarações falsas ou enganosas sobre a covid-19.

“Melhor patologista do mundo”

A Sociedade Brasileira de Patologia informa que as informações dadas pelo médico Ryan Cole sobre as vacinas de mRNA são inverídicas. “Em consulta a bases de dados, não foram encontradas pesquisas publicadas em nome dele sobre o tema”, confirmou. Sobre ser considerado o melhor patologista do mundo, a SBP reforça que não existe um ranking mundial de patologistas.

Segundo a entidade, “eventualmente entidades da área em todo o mundo promovem homenagens e condecorações de reconhecimento a médicos patologistas de destaque”. Em uma pesquisa no Google sobre condecorações a patologistas mundiais, a maior referência é da revista The Pathologist, com sedes no Reino Unido e nos Estados Unidos. Eles publicam anualmente uma lista de profissionais influentes na área.

Em 2015, a lista foi feita entre os patologistas para definir qual seria o mais influente da área e o escolhido foi o português Manuel Sobrinho Simões. Em nenhuma das listas anuais da revista o médico Ryan Cole é citado em qualquer categoria.

Com relação à atuação do profissional médico com especialização em patologia, a SBP reitera que, em geral, “é responsável pelo laudo anatomopatológico de exames realizados em biópsias ou peças cirúrgicas, atuando em laboratórios, hospitais e universidades”.

“Este profissional é quem diagnostica o câncer, definindo se um tumor é maligno ou benigno. Com base nesses laudos, clínicos e cirurgiões que acompanham os pacientes podem decidir entre as opções de tratamento. Eventualmente, os clínicos examinam com os patologistas os detalhes técnicos específicos dos laudos e, em alguns casos, discutem opções de tratamento”, informa a entidade médica.

O que diz o responsável pela publicação: O Tribuna Nacional afirma que a publicação ocorreu porque entende que é preciso “mostrar também o outro lado da moeda e não apenas seguir o que alguns ditam como regra e o restante copia, pois estão estourando muitos casos com efeitos adversos e os meios de comunicação não estão divulgando”- embora não haja embasamento para fazer tal afirmação. Ele complementa que o texto foi publicado originalmente no The Exposè, o qual considera “internacional e confiável”.

O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores com frequência utilizam materiais falsos traduzidos de outras línguas e citando supostos especialistas de outros países para dar a impressão de credibilidade ao conteúdo falso. Da mesma forma, utilizam termos técnicos, gráficos e imagens desconhecidos da maior parte da população para confundir o leitor. Uma estratégia que pode ser observada neste caso é o uso de dados imprecisos sem a fonte. No título o autor diz que “centenas de milhões de vacinados” estariam sendo prejudicados. Não há no texto a origem desse dado.

Outro ponto a ser notado no texto em questão como estratégia de desinformação é a citação de alguma autoridade como a “melhor do mundo” ou algum título atribuído de maneira genérica, com o interesse de dar peso ao informante. Por isso, é necessário sempre desconfiar de textos chamativos que conclamam alguém desconhecido da maior parte da população como uma pessoa de referência em determinada área.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As desinformações realizadas pelo médico Ryan Cole já foram alvo de diversas verificações em todo o mundo desde 2020. Em 2021, o Projeto Comprova já havia considerado como enganosa sua afirmação sobre o aumento de casos de câncer após o uso da vacina contra covid-19. Outras agências, como a FactCheck.org e a Fato ou Fake, do G1, também já realizaram checagens sobre falas do médico.

Saúde

Investigado por: 2023-04-24

É enganoso post de deputado que questiona a eficácia das vacinas contra a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso tuíte em que o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) coloca em dúvida a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. Em seu post, ele tira de contexto reportagens sobre a pandemia e, diferentemente do que ele afirma, as vacinas não foram retiradas da campanha de imunização, como confirmou o Ministério da Saúde ao Comprova.

Conteúdo investigado: Tuíte em que o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) publica títulos de reportagens da BBC News Brasil, da Associação Médica Brasileira e do G1 e escreve: “Mas não foi só a vacina Astrazeneca retirada da vacinação pelo Ministério da Saúde. A Jansen e a Coronavac também foram. Falta de eficácia e efeitos colaterais com risco, foram alegados. Na verdade não haviam completado os testes quando foram autorizadas pela Anvisa, de forma emergencial. Parte da fase 3 de testagem, foi feito direta em toda população, sem ter ideia ainda do que aconteceria…É isso?”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) engana ao afirmar, em tuíte, que as vacinas da Astrazeneca e da Janssen e a Coronavac foram retiradas pelo Ministério da Saúde da campanha de imunização contra a covid-19. Ele desinforma ao escrever que “falta de eficácia e efeitos colaterais com risco foram alegados” e que elas foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com testes ainda incompletos.

Na publicação, o deputado posta prints de reportagens de diferentes sites. O título do texto da BBC News Brasil é “Por que Brasil deixou de recomendar uso das vacinas Astrazeneca e Janssen contra covid-19?”; o da Associação Médica Brasileira (AMB), “Sem demanda e registro definitivo, Butantan suspende produção de Coronavac”; e, por último, o do G1, “Investigação sobre morte de gestante de 35 anos levou à suspensão do uso da vacina Astrazeneca, diz Anvisa”.

Sobre o texto da BBC, a própria reportagem diz que “a interrupção do uso e produção do imunizante [Astrazeneca] pelo Ministério da Saúde nada tem a ver com a eficácia, mas sim com um possível risco aumentado de trombose dias após a vacinação, segundo documento publicado pelo Ministério da Saúde” e que o Ministério ainda prevê o uso da vacina “caso outras opções estejam em falta”. A reportagem é de 12 de abril. Um dia depois, o governo federal publicou documento de dezembro afirmando que a Astrazeneca continua sendo indicada para pessoas a partir de 40 anos – ou seja, diferentemente do que diz o deputado, ela continua sendo aplicada.

Já o texto da AMB copia o título de uma reportagem do UOL de 25 de junho de 2022, que também não diz que a vacina foi retirada da campanha, apenas que não havia mais pedido do ministério para que o Instituto Butantan, seu fabricante, a produzisse. “O Ministério da Saúde planeja usar a vacina produzida pelo Butantan —e criada pelo laboratório chinês Sinovac— apenas para o público infantil, de 3 a 11 anos. A pasta anunciou ter assinado um aditivo de contrato com o instituto para adquirir um total de 2,6 milhões de doses”, diz o texto.

O terceiro print publicado por Terra, do G1, é de 11 maio de 2021 e trata da suspensão da aplicação da Astrazeneca em grávidas. A reportagem informa que, de acordo com o ministério, apenas gestantes com comorbidades seriam imunizadas, e com Coronavac ou Pfizer. Mas comunicado do órgão em 9 de julho do mesmo ano anunciou a retomada da vacinação para todas as grávidas. Segundo a recomendação, que segue valendo, gestantes devem se vacinar com imunizantes Coronavac e Pfizer.

Em contato com o Comprova, a Fiocruz enviou link para um texto publicado em seu site em 14 de abril. Nele, afirma que “o imunizante [Astrazeneca] continua sendo considerado seguro e eficaz” pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa e que “o acordo de cooperação técnica do Ministério da Saúde com o Biomanguinhos/Fiocruz para produção de insumos, incluindo a vacina AstraZeneca, segue vigente”.

Também procurado, o Ministério da Saúde afirmou que o post contém informação falsa e reforçou a segurança e eficácia de todas as vacinas ofertadas para a população. “O atual cenário da covid-19 no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada”, escreveu o órgão. “Os eventos adversos, inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros” e apresentam “risco significativamente inferior ao de complicações causadas pela infecção da covid-19”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O tuíte verificado aqui foi compartilhado mais de 3,3 mil vezes e teve mais de 10,3 mil comentários até 24 de abril.

Como verificamos: O primeiro passo foi buscar as reportagens cujos prints foram publicados no tuíte enganoso e verificar seu conteúdo. A equipe também pesquisou sobre as decisões mais recentes do Ministério da Saúde e da Anvisa em relação aos imunizantes nos sites dos órgãos e em reportagens de veículos profissionais.

Além disso, contatou o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan e a Fiocruz.

O que diz o responsável pela publicação: Procurada pela reportagem a partir do e-mail informado no site da Câmara dos Deputados, a equipe de Osmar Terra – que já teve outros posts relacionados à pandemia classificados como enganosos ou falsos pelo Comprova (como o que ele usava dados de um único hospital para dizer que a covid-19 estava reduzindo no Rio Grande do Sul e o que ele publicava informações imprecisas para colocar em dúvida a eficiência de medidas de distanciamento social) – não respondeu até a publicação deste texto.

O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos duvidosos sobre as vacinas contra a covid vêm sendo publicados nas redes sociais desde antes de elas serem ofertadas à população, embora sejam comprovadamente seguras e eficazes. Quando nos depararmos com peças que questionem isso, devemos ficar atentos e buscar informações confiáveis em sites de veículos profissionais e de órgãos como Ministério da Saúde e Anvisa, além do da Organização Mundial da Saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova publicou recentemente um texto para ajudar o leitor a entender a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou. Também já explicou que o imunizante contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live e que os eventos adversos graves pós-imunização são raros e benefícios superam os riscos.

Comprova Explica

Investigado por: 2023-04-20

Entenda a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou

  • Comprova Explica
Comprova Explica
Em dezembro de 2022, o Ministério da Saúde mudou a recomendação da vacina da Astrazeneca para covid-19 por conta de novas evidências científicas que relacionam o imunizante com casos raros de trombose. Nos últimos dias, conteúdos de desinformação têm usado essa nova indicação para afirmar que o imunizante foi banido no Brasil e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estava certo ao atacar as vacinas, entre outras afirmações enganosas. A partir desta confusão, o Comprova responde perguntas sobre o assunto.

Conteúdo analisado: Conteúdos publicados nas redes sociais que desinformam sobre a segurança e aplicação da vacina Astrazeneca.

Comprova Explica: Conteúdos de desinformação sobre a vacina Astrazeneca têm se disseminado após reportagens recentes tratarem de nota técnica acerca do imunizante contra a covid-19 publicada em dezembro pelo Ministério da Saúde. No texto, o órgão afirma que a vacina produzida pela Astrazeneca/Oxford e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) passa a ser indicada para pessoas a partir dos 40 anos, “de acordo com as evidências científicas mais recentes” – as evidências, no caso, são ligação da Astrazeneca com casos raros de trombose, diz o texto.

Mas, diferentemente do que dizem os conteúdos de desinformação, as vacinas continuam sendo aplicadas no Brasil. Em nota sobre o assunto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou ser “perfeitamente normal que algumas das vacinas da primeira geração aplicadas anteriormente sejam substituídas por outros imunizantes, como acontece com outras vacinas atualizadas regularmente”.

A seguir, o Comprova responde algumas dúvidas comuns sobre o assunto.

O que diz a nota do Ministério da Saúde sobre os casos de trombose?

A nota é uma atualização da recomendação do uso da vacina Astrazeneca. O texto começa reforçando a importância dos imunizantes para a redução do número de infectados e mortos pela covid e segue para falar “do perfil de segurança das vacinas Astrazeneca e Janssen”.

Neste trecho, o texto destaca que diversos países europeus (como Áustria, Dinamarca, Noruega, Alemanha, Reino Unido) e Austrália registraram casos de síndrome de trombose com trombocitopenia (STT) entre as pessoas que receberam imunizantes que “utilizam plataformas de vetor viral não replicante como a vacina covid-19 recombinante Astrazeneca/Oxford e, posteriormente nos Estados Unidos com a vacina Janssen”. Em linhas gerais, a STT é uma doença marcada pela combinação da formação de coágulos sanguíneos com baixos níveis de plaquetas no sangue.

Ainda de acordo com o documento, a incidência de ocorrência da STT é bastante variável entre os diferentes países, com estimativas entre 0,2 até 3,8 casos por 100 mil doses aplicadas. “Devido à raridade das ocorrências, ainda não foi possível identificar fatores de risco associados à síndrome a exceção de um aparente aumento do risco em indivíduos com idade abaixo de 40 anos de idade”, diz o texto.

A seguir, a nota diz que, embora todas as vacinas sejam seguras, “não se pode descartar a ocorrência de raríssimos casos de reações adversas graves” e que no início da pandemia, com número de mortes elevado, a vacina foi extremamente importante, mas que é preciso reavaliar a relação de risco e benefício constantemente, ainda mais “considerando-se a existência de alternativas para vacinação”.

Ao considerar a elevada cobertura vacinal dos adultos no Brasil, as recomendações de vacinação foram atualizadas “para melhor adequação da relação benefício versus risco face à possibilidade de ocorrência de raríssimos casos de reações adversas graves de vacinas de vetor viral”.

A nota conclui com as novas recomendações, que serão tratadas mais abaixo.

O Brasil deixou de usar e produzir a vacina da Astrazeneca?

Não, o Brasil não deixou de usar e nem de produzir a vacina. Em nota publicada em 13 de abril, a Anvisa reafirmou que todas as vacinas contra covid-19 estão válidas e que os imunizantes são eficazes em reduzir mortes e doenças graves pela infecção e os danos da doença. O documento esclarece ainda que a vacina da Astrazeneca “está registrada no Brasil” e, “com isso, está autorizada para uso no país dentro das condições e indicações aprovadas pela Anvisa”.

Em nota enviada para a CNN Brasil, a Fiocruz manifestou que o acordo de cooperação técnica entre a Bio-Manguinhos (unidade da Fiocruz responsável pela produção de vacinas) e o Ministério da Saúde continua em vigor. Cabe ao Ministério da Saúde, segundo a nota, as tomadas de decisão sobre a descontinuação ou desautorização do imunizante no país.

“Neste momento, em razão do novo cenário epidemiológico e do quantitativo de imunizantes disponíveis, há um contexto de baixa demanda e a produção foi readequada. No momento, Bio-Manguinhos/Fiocruz está produzindo um novo lote de IFA, que permanecerá em estoque para ser processado prontamente caso necessário”, disse a instituição para a CNN.

A Astrazeneca continua a ser aplicada no Brasil? Para quais grupos? Em que situações?

Sim, continua. Em 13 de abril, o Ministério da Saúde publicou recomendação garantindo a segurança e eficácia da Astrazeneca e reforçando que ela foi aprovada pela Anvisa e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, apesar de “escassas ocorrências” de STT ligada à vacina, “e devido a um visível aumento de risco para pessoas com idade inferior a 40 anos”, o Ministério da Saúde mudou a indicação da Astrazeneca. Desde dezembro de 2022, quando foi publicada a nota técnica, ela é recomendada para pessoas acima de 40 anos. De acordo com o texto, “as vacinas de vetor viral (como a Astrazeneca) estão indicadas para uso na população a partir de 40 anos de idade e, em pessoas de 18 a 39 anos de idade, devem ser administradas preferencialmente vacinas Covid-19 da plataforma de mRNA (RNA mensageiro, como a Pfizer)”.

É melhor não tomar vacina nenhuma a tomar a vacina da Astrazeneca?

Não. O melhor é se vacinar. Segundo a nota do ministério, embora a indicação, como informado acima, para pessoas abaixo de 40 anos sejam as vacinas de mRNA, “nos locais de difícil acesso ou na indisponibilidade do imunizante dessa plataforma, poderão ser utilizadas as vacinas de vetor viral (Astrazeneca e Janssen)”.

Bolsonaro estava certo ao atacar as vacinas afirmando que elas causavam trombose e embolia?

Não, essa afirmação tratou-se de mais um ataque, sem provas, às vacinas feito pelo ex-presidente. Bolsonaro citou efeitos adversos considerados raros para colocá-los como uma regra de que os imunizantes provocariam trombose e embolia.

No caso da vacina Astrazeneca, como foi afirmado acima, a ação do Ministério da Saúde foi a de recomendar que as doses sejam dadas a pessoas com mais de 40 anos. Apesar disso, conforme enfatizou a pasta, o imunizante da Astrazeneca pode ser dado a pessoas de qualquer faixa etária. Ou seja, a preferência por imunizar um público específico não anula o fato de que a vacina é segura e eficaz e que seus benefícios superam os riscos.

Ao longo da pandemia, o ex-presidente ficou conhecido por disseminar conteúdos enganosos que, além de descredibilizar a comprovada eficácia dos imunizantes contra a covid-19, iam de encontro às medidas de saúde pública para prevenir a doença, como mostrou o próprio Comprova.

A equipe verificou ser enganoso tuíte que sugere que Bolsonaro recusou oferta anterior da Pfizer para conseguir mais vacinas e ser falso que o Japão declarou ivermectina mais eficaz do que vacinas.

O risco de trombose é maior em contaminados pela covid?

Embora, de acordo com o Ministério da Saúde, haja “escassas ocorrências” de STT em vacinados, o risco de desenvolver a doença ainda é maior em pessoas contaminadas. Essa constatação é corroborada pela professora do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB) Anamélia Lorenzetti Bocca.

“Quando comparado com os riscos da vacina, ter covid aumenta em 10 vezes a chance de trombose”, detalha a bióloga.

Especialista em vacinas, ela diz não ser necessário se preocupar com a possibilidade de desenvolver STT. A bióloga também indica que pacientes com predisposição à formação de trombose podem procurar um médico para tirar dúvidas sobre a imunização.

“Vale lembrar que agora temos várias vacinas no mercado, com características de imunização diferentes. Isto permite adequar a melhor para cada um dos pacientes”, afirma.

Como verificamos: Pesquisamos documentos sobre a Astrazeneca e sua recomendação, como a nota do Ministério da Saúde, e também reportagens de veículos profissionais sobre o assunto.

Por que explicamos: Desde o início da vacinação contra a covid-19, as redes sociais foram tomadas por dúvidas sobre a eficácia das vacinas e também sobre os possíveis riscos de eventos adversos. Este Comprova Explica tem o objetivo de informar sobre esses tópicos, destacando que a imunização ainda é fundamental, já que, como informa o Ministério da Saúde, “o atual cenário no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada”. A desinformação não deve atrapalhar e impedir que todos se imunizem.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já explicou que a vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live e que os eventos adversos graves pós-imunização são raros e benefícios superam os riscos.

Saúde

Investigado por: 2023-04-18

É falso que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas com mRNA na bebida

  • Falso
Falso
É falso que Bill Gates tenha a intenção de inserir vacinas com RNA mensageiro (mRNA) no refrigerante Coca-Cola para controlar o DNA das pessoas. Os imunizantes com essa tecnologia sequer têm essa capacidade e não há registro de alteração na fórmula da bebida.

Conteúdo investigado: Posts afirmam que o empresário norte-americano Bill Gates comprou grande parte das ações da Heineken e da Coca-Cola, que a fórmula do refrigerante foi alterada e que a intenção é inserir nesta bebida vacinas com mRNA.

Onde foi publicado: Twitter, TikTok, Instagram e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o empresário norte-americano Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas mRNA na bebida que leva o nome da empresa no intuito de controlar o DNA das pessoas.

Recentemente, foi noticiado que ele adquiriu ações da Heineken no mesmo dia em que a empresa Fomento Economico Mexicano SAB – conhecida como Coca-Cola Femsa e que negocia na Bolsa de Valores com a sigla KOF – vendeu participação na companhia. A Femsa é responsável por engarrafar o refrigerante e Gates também detém participação nela, mas não é algo recente: as ações foram compradas em 2007.

Além disso, ao Comprova, tanto a Femsa quanto a Coca-Cola garantem não ter havido mudanças na fórmula da bebida. A empresa mexicana é apenas uma das engarrafadoras do refrigerante. Somente no Brasil, o sistema Coca-Cola possui outras seis parceiras engarrafadoras que, juntas, somam 37 fábricas.

Para reforçar a teoria falsa de que Bill Gates estaria querendo interferir no DNA de quem consome a bebida, o autor escreve que “eles nem escondem mais: a propaganda da Femsa (empresa distribuidora) é justamente a seguinte: Um só DNA!”.

Sobre isso, a Femsa acrescentou que utiliza o termo “DNA KOF” na comunicação interna da empresa como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem os colaboradores.

“Com o propósito de empoderar nossas equipes para liderarem o crescimento e a transformação em um ambiente de constante mudança na indústria, definimos o DNA KOF como uma série de crenças e comportamentos fundamentais que regulam nossas ações diárias”, detalha a companhia em seu site.

Uma explicação sobre o assunto também foi publicada na página da empresa no Facebook em 2021.

 

| As menções à sigla DNA são feitas no contexto da comunicação interna da Femsa. (Fonte: Captura de tela do site da Femsa Brasil feita em 17 de abril).

Por fim, é amplamente comprovado, como já mostrou o Comprova, algumas vezes, que as vacinas mRNA não são capazes de alterar o DNA humano.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Twitter, a postagem foi curtida 2 mil vezes até o dia 14 de abril e depois foi deletada. No Instagram, os conteúdos somavam mais de 4 mil curtidas até 18 de abril. Até a mesma data, a postagem registrou 59 mil interações no TikTok, entre curtidas, compartilhamentos e comentários.

Como verificamos: Pelo Google, buscamos notícias publicadas pela imprensa profissional sobre a possível compra de ações das companhias Heineken e Coca-Cola pelo empresário Bill Gates. Em seguida, entramos em contato com as assessorias de imprensa da Coca-Cola, da Femsa e da Fundação Bill e Melinda Gates. A Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros (Autoriteit financiële Markten – AFM), reguladora do mercado financeiro da Holanda, também foi procurada. Por fim, revisitamos checagens do Comprova sobre a tecnologia mRNA, utilizada em vacinas contra a covid-19, e procuramos os autores das postagens.

Bill Gates comprou ações da Heineken e já possuía da Femsa há anos

Não há notícia de que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola Company, empresa dona do refrigerante Coca-Cola.

Na verdade, foi noticiado recentemente que o empresário adquiriu, em 17 de fevereiro de 2023, uma participação minoritária na Heineken Holding NV, acionista controlador da segunda maior cervejaria do mundo, por cerca de US$ 902 milhões.

Segundo a Bloomberg, o fundador e filantropo da Microsoft comprou 3,8% da Heineken Holding, de acordo com um documento da Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros, totalizando 6,65 milhões de ações, em sua capacidade individual, e outros 4,18 milhões de ações por meio da Fundação Bill & Melinda Gates. A AFM foi procurada pelo Comprova para confirmar a informação, mas não retornou.

O nome do refrigerante aparece nessa história porque Gates adquiriu a participação no mesmo dia em que a Femsa, engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola, lançou uma venda de € 3,7 bilhões em ações vinculadas a parte de suas participações na Heineken. Pouco antes, a Femsa havia anunciado planos de se desfazer de sua participação na cervejaria por motivos estratégicos.

Conforme o site de investimento Seu Dinheiro, em 2007, há 16 anos, o empresário comprou uma participação avaliada em US$ 392 milhões (R$ 2 bilhões no câmbio atual) na Femsa. Sete anos antes, a mexicana havia vendido sua cervejaria para a Heineken.

O Comprova também solicitou à Femsa, à Fundação Bill e Melinda Gates e à Coca-Cola informações sobre possíveis venda e compra de ações e se Gates detém ações na empresa que fabrica o refrigerante. A Coca-Cola respondeu informando ser uma empresa de capital aberto nos Estados Unidos e que não comenta movimentações de acionistas. A Femsa não respondeu e a Fundação Bill e Melinda Gates enviou nota ao Comprova sem fazer referências à compra de ações e afirmando que são falsas as alegações de que Bill Gates está inserindo mRNA em bebidas e que ele faça parte de uma “Nova Ordem Mundial”.

Não há registro de alteração na fórmula da Coca-Cola

Os responsáveis pelas postagens não apresentam quaisquer provas de que a Coca-Cola tenha mudado a composição da bebida tradicional que leva seu nome. Ao Comprova, a empresa garantiu que não houve qualquer alteração recente na fórmula do produto. Uma nota sobre o assunto foi publicada no site da companhia, acrescentando que todos os ingredientes utilizados nos produtos são seguros, aprovados pelos órgãos regulatórios e constam no rótulo das embalagens.

O último registro de mudança de fórmula da tradicional bebida ocorreu em de 23 de abril de 1985, há mais de 35 anos. À época, a alteração não foi bem aceita pelos consumidores e a fórmula original foi retomada poucos meses depois, em 11 de julho de 1985.

A assessoria de imprensa da Coca-Cola Femsa declarou que as alegações feitas nas redes sociais são inverídicas e explicou que utiliza o termo “DNA KOF” em sua comunicação interna como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem seus colaboradores. A expressão foi utilizada nas peças desinformativas como “prova” de que se pretende alterar as informações genéticas das pessoas por meio da bebida.

Vacinas não alteram o DNA das pessoas

Não há sentido em afirmar que inserir vacinas com mRNA em refrigerantes possibilite o controle do DNA, isso porque nem mesmo os imunizantes aplicados nas pessoas para o combate da doença são capazes disso.

A falsa afirmação de que o mRNA pode alterar o DNA passou a ser amplamente difundida após a aprovação de duas vacinas contra a covid-19, da Pfizer e da Moderna, que usam a tecnologia. A alegação foi desmentida várias vezes ao longo da pandemia de coronavírus. O Comprova já explicou que as vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir no DNA humano e que não há qualquer evidência de que sejam capazes de causar danos genéticos.

O mRNA é uma molécula existente no corpo humano e que leva informações até o núcleo das células para produção de proteínas. Os laboratórios responsáveis pelos imunizantes produziram mRNAs sintéticos, que contêm uma parte da informação genética do novo coronavírus. No nosso corpo, esse RNA vai fazer com que produzamos uma proteína que alerta o sistema imunológico para criar anticorpos.

Sobre alegações desta natureza, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já se posicionou informando que as vacinas que empregam em sua tecnologia o código genético do vírus Sars-CoV-2 não são produtos de terapia gênica porque não utilizam cópias de genes humanos para tratamentos de doenças.

Bill Gates é alvo frequente de teorias conspiratórias devido aos investimentos filantrópicos na área de saúde, incluindo para o combate ao coronavírus. O Estadão Verifica demonstrou, por exemplo, que uma postagem editou vídeo do empresário para sugerir conspiração envolvendo vacina da covid-19 e que um trecho de outra fala dele foi modificado para desacreditar segurança dos imunizantes.

O que diz o responsável pela publicação: No Twitter, o conteúdo foi postado pela conta @VitimasVacinas, que não possui qualquer identificação de quem seja o responsável e não permite o envio de mensagens. Posteriormente, o tuíte foi apagado. O vídeo no Instagram foi gravado por Cristiane Luz. Ao Comprova, ela disse ter se baseado em sites de jornalismo independentes e páginas do Twitter, além dos próprios conhecimentos espirituais sobre o tema, encerrando o contato em seguida.

O que podemos aprender com esta verificação: Os posts têm ar de teoria conspiratória ao sugerirem que um empresário mundialmente conhecido estaria planejando controlar a humanidade. Também envolvem os nomes de duas gigantes do ramo de bebidas. Caso essas empresas, ou mesmo o bilionário, estivessem agindo de má-fé contra os consumidores, o fato certamente teria ampla divulgação. Nesse contexto, é importante destacar que a imprensa profissional é uma fonte de informação confiável, portanto, bastaria uma busca pelo assunto para encontrar notícias nesse sentido. Sobre o funcionamento da tecnologia em vacinas, há farto conteúdo não só na imprensa, como também nos sites das agências que regulamentam esses produtos e em fontes oficiais dos governos, que devem ser consultadas. É importante também que o leitor fique atento a conteúdos muito mirabolantes, como este, e se perguntar se faz algum sentido o que é afirmado na publicação. Bastaria uma simples pergunta, como “É possível colocar DNA em um refrigerante?”, para desconfiarmos do conteúdo.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdos semelhantes foram verificados por Fato ou Fake, Uol Confere e por Boatos.Org. Além disso, o Comprova já demonstrou anteriormente ser falsa uma publicação sugerindo que Bill Gates instalaria nanopartículas nas doses da vacina e que imunizantes não injetam “DNA alienígena” nos humanos.

Saúde

Investigado por: 2023-03-29

Reportagem da TV Record não alega que pandemia foi planejada, ao contrário do que afirma legenda

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso afirmar que a pandemia de covid-19 foi planejada. Um conteúdo que circula na internet alega tal coisa a partir de uma reportagem da TV Record, levada ao ar em 2021. A reportagem em questão relata um pedido feito, em 2018, por cientistas norte-americanos e chineses para criar uma linhagem de coronavírus, o que acabou negado pelo governo dos EUA. O conteúdo investigado sobrepôs à reportagem um texto afirmando que isso provaria a existência de um complô para criar a pandemia de covid-19. Não há evidência científica que sustente o argumento de que a pandemia foi criada propositalmente. As investigações atuais se dividem entre duas teorias: transmissão a partir de animais ou vazamento de laboratório.

Conteúdo investigado: Texto sobreposto sobre uma reportagem da TV Record a respeito do coronavírus afirma: “A pandemia foi toda planejado (sic)! A grande mentira, que afetou o mundo”.

Onde foi publicado: Telegram.

Conclusão do Comprova: É enganoso afirmar, a partir de uma notícia veiculada na TV Record, que a pandemia de coronavírus foi planejada. A reportagem de 2021 não alega isso, apenas reproduz informações do jornal britânico The Telegraph sobre cientistas chineses e norte-americanos terem proposto, em 2018, criar novos tipos de coronavírus a partir de combinação genética.

O veículo inglês baseou-se em um pedido de subsídios feito em 2018 por pesquisadores à Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa norte-americana que, posteriormente, foi negado.

Ainda não se sabe concretamente qual a origem do Sars-Cov-2, o vírus causador da covid-19. Uma teoria apoiada por serviços de inteligência dos Estados Unidos aponta um vazamento em um laboratório em Wuhan, na China, cidade onde foram notificados os primeiros casos da doença. Outra, divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresenta indícios de que a contaminação tenha partido de animais e se iniciado em um mercado, na mesma cidade.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Telegram, a postagem aqui verificada teve 6,3 mil visualizações até 29 de março.

Como verificamos: A partir das informações na reportagem e da identificação visual de que se tratava de um conteúdo da TV Record, a equipe buscou palavras-chave no Google que levaram à publicação da notícia. Nela, constava a data de veiculação, possibilitando encontrar a íntegra do programa. O conteúdo foi comparado com o que circula nas redes sociais e com a legenda que o acompanha. Em seguida, foram consultadas notícias e estudos acerca das hipóteses levantadas até o momento em torno da origem do Sars-Cov-2.

Reportagem de 2021 não afirma que pandemia foi planejada

A reportagem compartilhada com a legenda enganosa foi veiculada pelo JR na TV, da TV Record, em 6 de outubro de 2021. Ao contrário do que sustenta o texto compartilhado nas redes sociais, a reportagem não confirma que a pandemia da covid-19 tenha sido planejada ou mesmo desencadeada de forma deliberada por ação humana.

Os âncoras Christina Lemos e Celso Freitas afirmam apenas que o jornal inglês The Telegraph revelou a existência de um documento que lançava novas dúvidas sobre as origens da pandemia.

De acordo com o noticiário britânico, em 2018, cientistas de Wuhan, na China, e dos Estados Unidos, planejavam criar novos coronavírus combinando os códigos genéticos de outros vírus. O caso veio à tona a partir de documentos vazados nos quais os pesquisadores pediam subsídios à Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa norte-americana. A intenção, segundo a interpretação desses documentos, era misturar dados genéticos de cepas intimamente relacionadas e cultivar vírus novos. O jornal informa que a proposta foi rejeitada no mesmo ano.

O veículo acrescenta, ainda, que o banco de dados com as cepas virais estudadas antes da pandemia em Wuhan foi retirado do ar depois da pandemia, tornando impossível verificar em quais vírus a equipe estava trabalhando e se algum chegou a ser criado. Destaca, por fim, que os cientistas negam consistentemente a criação do Sars-CoV-2 em laboratório.

A TV Record, por sua vez, reproduz essas informações e acrescenta que a China nega que a covid-19 tenha surgido a partir do laboratório de Wuhan, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou relatório inconclusivo sobre o assunto e o governo americano ainda investiga o surgimento do vírus.

Existe uma origem definida para a pandemia?

Desde o surgimento da pandemia de coronavírus, em março de 2020, cientistas tentam identificar de que forma surgiu o SARS-CoV-2. A origem, no entanto, ainda não foi comprovada.

Em março deste ano, quando a pandemia completou três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou ter exigido dos Estados Unidos e de outros países que compartilhassem informações que pudessem ser úteis na investigação da origem da doença.

O posicionamento ocorreu após o The Wall Street Journal divulgar, em 26 de fevereiro, que um relatório sigiloso do Departamento de Energia dos Estados Unidos atribuía a origem da pandemia a um vazamento acidental no Instituto de Virologia de Wuhan.

Ao jornal, fontes do órgão sustentaram a tese a partir de novas informações de inteligência, estudos acadêmicos e consultas a especialistas, mas ponderaram que o próprio relatório afirma ter uma “confiança baixa” na conclusão apresentada, o que significa que as informações não permitem realizar um julgamento definitivo.

Em fevereiro, Tedros Adhanom comprometeu-se a fazer todo o possível para ter uma resposta final e disse ter enviado e-mail oficial ao alto escalão do governo chinês solicitando novamente a colaboração de Pequim.

A teoria de que houve um vazamento compete com outra hipótese, popularizada em fevereiro de 2021, quando uma equipe interdisciplinar de especialistas liderada pela OMS e acompanhada por chineses passou duas semanas no país asiático e publicou um relatório conjunto sobre a transmissão do vírus aos humanos por um animal, possivelmente em um mercado de Wuhan.

Recentemente, o The New York Times divulgou que amostras positivas para o coronavírus colhidas no mercado foram carregadas em um banco de dados internacional e divulgadas apenas em 2023. Uma equipe de especialistas internacionais analisou este conteúdo genético e divulgou um relatório, em 20 de março, descrevendo as evidências da amostra e defendendo que elas fortalecem a teoria de que animais silvestres comercializados ilegalmente deflagraram a pandemia de coronavírus. A reportagem foi republicada pela Folha de S.Paulo e repercutida pela Veja.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível chegar ao autor da postagem, pois o canal no Telegram não identifica o responsável, tampouco fornece links para outras redes sociais que permitam fazer contato.

O que podemos aprender com esta verificação: Desde o início da pandemia há um forte movimento desinformativo sobre o assunto e que engloba não apenas a origem do vírus, mas também as medidas restritivas no combate à covid-19 e o desenvolvimento das vacinas contra ela.

Conteúdos como o aqui verificado tendem a disseminar preconceito contra a população de origem asiática ao cravar que o vírus tenha sido espalhado de forma proposital após ser desenvolvido em laboratório.

O autor da postagem utiliza uma reportagem televisiva para reforçar a desinformação que está sendo propagada na legenda, mas basta assistir à peça jornalística para entender que ela não confirma essa hipótese.

O leitor também pode utilizar os sites de busca, como o Google, para identificar a data em que a matéria foi ao ar e, assim, descobrir se a notícia é atual ou se a informação está desatualizada.

Da mesma forma, pesquisas podem ser feitas em veículos de imprensa profissional e em sites de organizações de saúde para acesso aos dados atualizados sobre a pandemia.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde 2020, no início da pandemia, o Comprova checa conteúdos que acusam a China de ter propagado o coronavírus. Já foi demonstrado que o FBI não confirmou a origem do vírus, que é enganoso que e-mail de Anthony Fauci prove origem do vírus em laboratório e que uma frase dita em 2016 por um pesquisador americano não indica que os chineses provocaram a pandemia.

Saúde

Investigado por: 2023-03-28

Laudos não relacionam morte de médico citada em tuíte à vacina contra covid

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso insinuar que médico tenha morrido no Paraná em decorrência da vacinação contra a covid-19. Ele foi vítima de um infarto fulminante que sequer chegou a ser notificado como caso de evento adverso, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Conteúdo investigado: No Twitter, médico afirma que colega de profissão é o “milionésimo caso de morte súbita em jovem vacinado”, insinuando que a vacina contra a covid-19 tenha causado o óbito. Ele compartilha, junto da afirmação, trecho de notícia sobre a morte do profissional e uma postagem de janeiro de 2022 na qual o médico dizia ser favorável à deportação do tenista sérvio Novak Djokovic da Austrália por recusar o imunizante.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso associar a morte do médico Atamai Moraes por infarto fulminante à vacinação contra a covid-19. A postagem analisada coloca em dúvida a causa da morte de Moraes e o identifica como um militante pró-vacina que criticou o tenista Novak Djokovic por ser contrário à vacinação. O autor da publicação enganosa escreve:

“O tenista continua vivo, sem vacina de Covid e ganhando títulos. O médico raivoso é o milionésimo caso raro de morte súbita em jovem vacinado”.

A família de Atamai Moraes afirma que a necropsia e os laudos iniciais não apontaram a possibilidade de o óbito estar relacionado ao imunizante. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná, onde ele morreu, informou não ter localizado notificação de reação adversa à vacina após o óbito.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) garante a segurança das vacinas, assim como as principais agências reguladoras do mundo. Todos os imunizantes passam por rigorosas fases de ensaios clínicos antes de serem aprovados para uso na população em geral. Após a aprovação das vacinas contra a covid-19, o monitoramento da segurança delas continua como parte normal dos programas de imunização, o que é feito para todas as vacinas.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O tuíte aqui verificado somou 14,4 mil curtidas, 288 comentários e 3,9 mil retuítes até o dia 28 de março.

O que diz o responsável pela publicação: Ao Comprova, o autor do post, alegou que o tuíte não correlaciona diretamente a morte de Atamai com a vacinação contra a covid-19 e citou uma publicação do médico no Facebook afirmando, em novembro de 2021, ter sofrido uma reação grave após ser imunizado com a primeira dose.A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba informou ter sido feita a investigação clínica deste caso e concluído que a situação não tinha vínculo com a vacinação. A pasta destacou, ainda, não haver evidência de que a morte, quase dois anos depois, tenha relação causal com a vacina.

Como verificamos: Para se informar sobre o caso do óbito citado no post, a reportagem conversou com a família de Moraes por WhatsApp. Além disso, como as mortes relacionadas à vacinação contra a covid-19 precisam ser relatadas às autoridades de saúde, o Comprova procurou as Secretarias de Saúde do Paraná e de Curitiba e o Ministério da Saúde e a Anvisa. Também pesquisou dados referentes ao número de mortes relacionadas à imunização.

Relação causal entre a vacina e a morte não é comprovada

Atamai Caetano Moraes, de 27 anos, morreu enquanto trabalhava na Santa Casa de Prudentópolis, na região central do Paraná. O caso foi registrado em 23 de outubro de 2022, e a causa foi divulgada como infarto pelos veículos Plural, Aventuras na História e G1. O Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM/PR) chegou a emitir uma nota de pesar. Não houve, na ocasião, qualquer menção à suspeita de que o médico tivesse sofrido uma reação adversa grave à vacinação.

À época, a Polícia Civil informou que investigaria o caso. Ao Comprova, a assessoria de imprensa do órgão explicou que foi instaurado um inquérito policial para apurar a causa da morte e que testemunhas estão sendo ouvidas, mas o caso não foi concluído.

Ao Comprova, a enfermeira Jaqueline Rodrigues Zaborovski afirmou não haver relação entre o infarto fulminante sofrido pelo marido e qualquer tipo de vacina, incluindo a da covid-19. Conforme ela, a necropsia e os laudos iniciais não apontaram essa possibilidade.

[Nota da redação: Jaqueline Rodrigues Zaborovski afirma ser a noiva de Atamai Caetano Moraes, mas o Comprova foi notificado pela família de que há uma disputa judicial a respeito.]

Jaqueline condenou as peças desinformativas que associam o nome de Atamai a uma campanha anti-vacinação. “É algo repugnante depois de tanto trabalho como médico na pandemia e como defensor da verdade e da luta contra o negacionismo referente aos cuidados com a covid-19, à vacina e aos coquetéis medicamentosos sem fundamento científico algum”, desabafou.

Reação adversa anterior à morte foi descartada

A enfermeira informou, ainda, que Atamai chegou a ser internado no início de 2021 ao sofrer uma crise convulsiva, mas que esta esteve relacionada a uma febre sentida quando foi infectado pelo vírus. À época, diz, ele havia tomado a primeira dose do imunizante que ainda estava em fase de testes e, por isso, a vigilância epidemiológica acompanhou o caso, mas descartou a relação posteriormente. O atendimento neurológico pelo qual passou também descartou haver ligação entre o episódio e o imunizante, conforme ela.

Ao Comprova, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná informou registrar no sistema e-SUS Notifica Covid, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, casos de reações adversas após a vacinação.

Conforme o órgão, ao ser realizada a busca pelo nome do médico, o sistema informa uma notificação feita pelo município de Curitiba em 26 de janeiro de 2021. Não há outra notificação registrada após a morte dele.

A Secretaria Municipal de Saúde da capital paranaense também foi procurada e informou que Atamai era morador da cidade, mas trabalhava em municípios da região metropolitana, tendo apresentado uma suspeita de reação adversa após ser vacinado com a primeira dose em 20 de janeiro de 2021, no município de Pinhais.

A pasta acrescentou ter sido realizada toda a investigação clínica do caso e concluído que a situação não tinha vínculo com a vacinação. “A morte do médico ocorreu quase dois anos depois, em 23 de outubro de 2022. Não há qualquer evidência que exista relação causal com a vacinação ocorrida no passado”, destacou a assessoria de imprensa.

Benefícios da vacinação superam os riscos

Segundo os dados da Sesa, em 2021 o Paraná registrou 28.073 notificações de reações adversas, em 2022 foram 10.956 e, em 2023, outras 363 até o dia 23 de março, somando 39.392 desde o início da vacinação. A plataforma de transparência da pandemia mantida pelo governo do Paraná informa que, até a manhã de 27 de março, foram aplicadas 27,4 milhões de doses no Estado, ou seja, as reações notificadas são apenas 0,14% do total de doses aplicadas.

O órgão não identificou quantas evoluíram a óbito, mas o Comprova já explicou anteriormente que os eventos adversos graves pós-vacinação contra a covid-19 – dentre eles a morte – são raros e que os benefícios da imunização superam os riscos. Um boletim epidemiológico divulgado pelo governo federal no final de 2021 mostrou que o risco de óbito pela doença é 56 vezes maior do que o risco de ocorrência de um evento adverso relacionado à vacinação.

À reportagem, o Ministério da Saúde lembrou que, assim como qualquer medicamento ou imunizante, as vacinas para a covid-19 podem causar eventos adversos, sendo a maioria deles sem gravidade, como dores de cabeça, tosse, diarreia, rinite, náusea, entre outros.

As reações graves, destacou a pasta, são muito raras e ocorrem, em média, um caso a cada 100 mil doses aplicadas, apresentando um risco significativamente inferior ao de complicações causadas pela infecção do vírus. Dentre elas, está a possibilidade de desenvolvimento de tromboses venosas, miocardite e pericardite, síndromes neurológicas como a síndrome de Guillain-Barré, encefalite, hemorragias cerebrais, arritmia, infarto agudo do miocárdio e embolia pulmonar, entre outros.

Uma nota técnica da pasta publicada em maio de 2022 analisou a incidência de miocardite e pericardite no contexto da vacinação contra a covid-19 entre 18 de janeiro de 2021 e 12 de março de 2022, um período de mais de um ano. Foram identificados 222 eventos no e-SUS Notifica e, destes, apenas 87 tiveram diagnóstico sindrômico de miocardite/pericardite com algum nível de certeza. No mesmo período, o país registrou 294.159.843 doses aplicadas. Entre as reações graves confirmadas, apenas dois óbitos foram registrados.

A Anvisa informou ao Comprova que todos os dados de monitoramento e relatos de eventos adversos recebidos até o momento mantêm a relação de benefício-risco da vacina favorável ao seu uso. Sobre os casos graves como os de trombose, infartos e miocardites, explicou que eles podem ser desencadeados por multifatores e são conhecidos e descritos nas bulas das substâncias.

O órgão reforça que cidadãos e profissionais de saúde devem ficar atentos aos sinais e sintomas de eventos adversos e notificar imediatamente casos suspeitos, tendo em mãos a identificação do tipo de vacina, bem como a identificação e registro do número do lote utilizado e do fabricante. Quando esses eventos graves são notificados, é aberta uma investigação, com o objetivo de um diagnóstico diferencial e exclusão de causas alternativas.

O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática comum de desinformadores é fazer correlações entre fatos diversos e destoantes, como a crítica feita pelo médico Atamai Moraes ao tenista Novak Djokovic por sua contrariedade ao uso da vacina e a morte de Moraes por um infarto fulminante. Isso ocorre em um contexto no qual há publicações diversas alegando que a vacina contra a covid-19 tem causado mortes súbitas em pessoas mais jovens.

A relação é feita quando a postagem afirma que “o médico raivoso é o milionésimo caso raro de morte súbita em jovem vacinado”, ou seja, se apropria da dualidade entre “milionésimo” e “caso raro” como crítica às explicações de que não é possível relacionar a vacinação ao falecimento de Moraes.

A prova de que o conteúdo desinforma é a quantidade de respostas de usuários que demonstram ter associado a morte do jovem médico à vacinação. Uma pessoa, por exemplo, respondeu à publicação dizendo que “o dr. Atamai Moraes é uma vítima da vacina”, enquanto outra afirma que “sem vacinas, sem efeitos colaterais” e uma terceira declara estar “fora dessas vaxinas (sic)”.

Desta forma, tem-se que é preciso questionar também o interesse, a intenção e o contexto das postagens que recebemos.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Sobre esse assunto, o Comprova já desmentiu que o jogador Lucas Leiva apresentou problemas cardíacos por ter se vacinado, mostrou não haver comprovação de que morte de menino em Arujá (SP) tenha relação com o imunizante e que não é verdade que a vacina da covid fez ‘explodir’ doenças cardíacas em crianças.

 

Atualização: Esta verificação foi atualizada em 3 de abril de 2023 para inserção de uma nota da redação.

Saúde

Investigado por: 2023-03-23

Lucas Leiva e médicos desmentem áudio que relacionava aposentadoria do atleta com a vacina contra a covid-19

  • Falso
Falso
Não é verdade que o problema cardíaco que levou o ex-jogador de futebol Lucas Leiva, do Grêmio, a se aposentar tenha relação com o fato de ele ter se vacinado contra a covid-19, ao contrário do que afirmam áudio no WhatsApp e posts em redes sociais. O atleta e o seu médico desmentiram as publicações em suas redes sociais. "O conteúdo difundido pelo autor do áudio não possui qualquer relação com o caso", afirmou Márcio Dornelles, médico do clube, no Instagram.

Conteúdo investigado: Em áudio atribuído ao “médico do Lucas Leiva”, homem alega que a aposentadoria do jogador do Grêmio aconteceu por um problema cardíaco causado pela vacina contra a covid-19. Posts nas redes sociais também relacionam o problema ao imunizante.

Onde foi publicado: WhatsApp, TikTok, Instagram e Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que o médico de Lucas Leiva, ex-jogador de futebol do Grêmio que se aposentou devido a um problema cardíaco, tenha gravado um áudio atribuindo a condição do atleta às vacinas contra a covid-19. Posts nas redes sociais também fazem essa falsa relação, utilizando foto que o atleta postou em junho de 2021, quando tomou a primeira dose. Tanto o ex-jogador quanto o médico do clube, Márcio Dornelles, desmentiram a informação em suas redes sociais.

Atleta de 36 anos, Lucas anunciou a aposentadoria do futebol em 17 de março devido a uma fibrose cicatricial do miocárdio. Em coletiva de imprensa, o médico do Grêmio, Márcio Dornelles, disse que o problema provavelmente derivou de uma miocardite — que é uma inflamação no músculo cardíaco com múltiplas causas, mas geralmente resultado de uma infecção no organismo. Ele não falou em evento adverso de vacina em nenhum momento da conversa com os jornalistas.

Ao Comprova, Dornelles ressaltou que o atleta não teve nenhuma alteração cardíaca constatada nos exames realizados em junho do ano passado, quando o clube gaúcho contratou o volante. A condição só viria a ser descoberta em dezembro, na bateria de exames de pré-temporada. Nesse intervalo, Lucas não recebeu nenhuma dose da vacina.

A miocardite já foi descrita, de fato, como um evento adverso extremamente raro das vacinas contra a covid-19, em especial as que usam plataformas de RNA mensageiro, como a Comirnaty, da Pfizer. Mas, ao fazer uma relação com o caso de Lucas, o conteúdo espalha desinformação.

De acordo com nota técnica do Ministério da Saúde, a incidência de miocardite como reação adversa das vacinas contra a covid-19 ocorre na ordem de 0,029 eventos para cada 100 mil doses aplicadas no Brasil, ou um caso a cada 3,4 milhões de doses. A maioria dos pacientes apresenta sintomas leves, dentro de duas semanas, e se recupera. Autoridades de saúde e especialistas ressaltam que os benefícios são maiores do que os riscos do medicamento.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O áudio circula no WhatsApp com o aviso “encaminhada com frequência”, sinalização que indica a alta viralização do conteúdo. Post no Twitter ligando o caso de Lucas à vacina foi visualizado mais de 630 mil vezes até 22 de março. No TikTok, publicação semelhante teve cerca de mil compartilhamentos, e, no Instagram, chegou a 4,2 mil interações.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com as contas que divulgaram o conteúdo por mensagens diretas nas redes sociais, mas não obteve resposta. O autor do áudio não pôde ser identificado.

Como verificamos: O primeiro passo foi buscar reportagens sobre a aposentadoria de Lucas Leiva. Uma delas, do UOL, detalha o problema cardíaco do atleta. Em seguida, entramos em contato com a assessoria de imprensa do Grêmio, por mensagem no WhatsApp, e acompanhamos as redes sociais do atleta e da equipe médica envolvida em seu caso.

Também pesquisamos informações sobre a relação da vacina com a miocardite. Foi encontrado, por exemplo, um alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre relatório da FDA, órgão de saúde dos Estados Unidos, que aborda casos de miocardite em pessoas imunizadas com vacinas da Pfizer e da Moderna. O Ministério da Saúde também atualizou uma nota técnica no ano passado a respeito do assunto.

Na tentativa de descobrir se o áudio viral do WhatsApp era de alguém da equipe médica do atleta, a reportagem pesquisou vídeos no YouTube com Dornelles e outros integrantes da equipe e comparou com a voz do áudio. Já na primeira audição foi possível verificar que não eram as mesmas vozes. Nesta terça-feira, 21 de março, Lucas e o médico do Grêmio postaram stories no Instagram desmentindo o boato.

O caso

O meio-campista do Grêmio Lucas Leiva anunciou a aposentadoria em 17 de março informando que os exames realizados no começo do mês indicaram que ele não poderia continuar a carreira. O atleta foi diagnosticado com fibrose cicatricial do miocárdio em dezembro, durante os procedimentos de pré-temporada no clube gaúcho. Ele havia retornado ao Grêmio em junho do ano passado, quando não havia nenhuma anomalia cardíaca constatada.

O anúncio ocorreu em uma coletiva de imprensa convocada pelo Grêmio, da qual participaram os médicos do clube Márcio Dornelles e Paulo Rabaldo. Além deles, os consultores da área de cardiologia Ricardo Stein e Leandro Zimerman prestaram apoio no caso do atleta, segundo relato da diretoria.

Desde o diagnóstico, Lucas ficou afastado dos treinamentos. Os médicos constataram que uma zona do coração não estava contraindo de forma adequada, o que era resultado de uma fibrose. O mais provável é que o problema tenha resultado de uma miocardite — uma inflamação no coração — mesmo que sem apresentar sintomas.

A miocardite pode surgir por múltiplas causas, mas ocorre principalmente por conta de infecção por um vírus. Diversos outros agentes, como bactérias e protozoários, podem desencadear o processo. A maioria das pessoas recupera o músculo normalmente, mas há casos em que as fibras acabam sendo substituídas por tecidos mais rígidos que se assemelham a cicatrizes e apresentam capacidade de contração reduzida.

Além de prejudicar o rendimento físico, a condição pode causar arritmias graves e parada cardíaca diante do esforço mais intenso. Lucas não apresentou evolução no quadro nos últimos meses e foi aconselhado a interromper a carreira para não correr riscos de desenvolver uma situação mais grave.

Áudio de WhatsApp

Após o anúncio, um áudio atribuído ao “médico do Lucas Leiva” começou a circular no WhatsApp espalhando a tese insustentável de que o problema teria sido causado pela vacina contra a covid-19.

“O cara fica com uma sequela para sempre e é um efeito pós-vacinação”, alega o autor da gravação, que não pôde ser identificado pelo Comprova. Ele também espalha a ideia de que o atleta tinha uma “saúde monstruosa” e que “não tem cabimento nenhum” receber o imunizante nessa situação.

Parte dos conteúdos trazia a foto de Lucas recebendo uma das doses da vacina em 26 de junho de 2021. “Sensação única! São quase 2 anos que estamos lutando contra esse vírus e eu realmente acredito que uma forma de vencê-lo é se vacinando”, escreveu o atleta, quando ainda era jogador da Lazio, da Itália.

No entanto, não é de nenhum dos médicos citados na coletiva do Grêmio a autoria do áudio. Basta comparar a voz do homem com a de Dornelles, Rabaldo, Stein e Zimerman em diferentes entrevistas disponibilizadas no YouTube.

Na terça-feira, 21 de março, tanto Lucas quanto Dornelles postaram stories no Instagram desmentindo a informação. “Tem um áudio que está rolando no WhatsApp e estou aqui para desmentir a veracidade deste áudio. Não é o médico do Grêmio. Então, queria deixar isso bem claro até porque estão expondo situações muito desagradáveis”, gravou o atleta.

“Não possuo qualquer relação com o conteúdo difundido”, escreveu o médico do Grêmio em uma nota de esclarecimento. “O conteúdo difundido pelo autor do áudio não possui nenhuma relação com o caso. Ao contrário, (as informações) são falsas e espalham desinformação ao grande público através da rede social e apps”. Ele anunciou que tomaria as “medidas cabíveis” em busca da identificação dos envolvidos.

O Comprova conversou com Dornelles e Zimerman por telefone. O médico do Grêmio garantiu que não havia qualquer relação do caso com a vacina de covid-19 e que não existe uma conexão temporal entre esses fatos, considerando que Lucas não tomou nenhuma dose do imunizante no ano passado.

O médico cardiologista Leandro Zimerman, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, disse que não viu nenhuma evidência relacionando a condição de Lucas ao fato de ter recebido a vacina. “Definitivamente, não é essa a ideia. Não é uma hipótese que estamos levando a sério”, declarou ao Comprova.

Zimerman relata que uma série de fatos apontam para a ausência de relação, a começar pela época que o jogador do Grêmio recebeu as doses e o tipo de vacina. Além disso, destaca que a chance de miocardite pós-vacinação é muito baixa e, nos casos em que aparece, geralmente ocorre em jovens e adolescentes.

O cardiologista lamentou ainda o teor do áudio que circula nas redes e reforçou que as pessoas devem tomar as vacinas quando forem chamadas. “A chance de fazer uma miocardite pela vacina é muito menor do que a chance de desenvolver a mesma condição ao pegar o vírus. Então, é óbvio que vale a pena.”

Miocardite

Como mostrou o Comprova em outras verificações, a miocardite é um evento adverso que pode ocorrer em decorrência das vacinas contra a covid-19. O tema é amplamente explorado por grupos antivacina, mas estes ignoram que as chances de esse tipo de reação ocorrer são extremamente baixas e que a chance de desenvolver miocardite ao se infectar com o vírus da covid-19 são maiores.

Em setembro de 2021, por exemplo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) publicou um estudo segundo o qual a incidência da miocardite em pacientes que pegaram Covid é de 150 casos por 100 mil e de 9 casos por 100 mil entre aqueles que não tiveram a doença. O estudo cita ainda que, embora haja evidências de aumento de casos entre pessoas vacinadas contra a doença, os benefícios superam o risco e, por isso, a vacinação é recomendada.

De acordo com nota técnica do Ministério da Saúde, atualizada em maio do ano passado, levantamento da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) estimou um risco de miocardite de 1 a cada 10 mil pessoas vacinadas após mais de 479 milhões de doses da vacina da Pfizer terem sido aplicadas no continente. Ainda que a incidência seja baixa, os casos se referem mais frequentemente a jovens do sexo masculino e com sintomas aparecendo nos primeiros 14 dias.

O Ministério da Saúde fez o mesmo exercício com o sistema de notificação do Sistema Único de Saúde (SUS) e constatou que, de janeiro de 2021 a março de 2022, foram registrados 222 eventos de miocardite e pericardite após a vacinação. Nem todos os casos podem ser atribuídos aos imunizantes, pois diante de uma aplicação em massa de um medicamento na população, casos que ocorreriam naturalmente podem se misturar aos causados pelas vacinas simplesmente por uma questão cronológica.

Segundo a pasta, 87 casos foram classificados como provavelmente relacionados às vacinas, dentro de um universo de 294 milhões de doses aplicadas no Brasil no mesmo período. A incidência total encontrada foi de 0,029 eventos para cada 100.000 doses, o equivalente a um caso a cada 3,4 milhões de doses da vacina. O sexo masculino foi mais frequente, a idade média foi de 35 anos e a maioria ocorreu após uma média de 14 dias da vacina.

A maioria das pessoas se recupera do problema pouco tempo depois do diagnóstico. Foram notificadas apenas duas mortes, sendo que para uma a vacina foi entendida como uma possível causa e a outra foi apontada como inclassificável pelo Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e outros Imunobiológicos.

A mesma nota técnica aponta que a incidência estimada de miocardite na população em geral é de 0,2% a 12% — ou seja, casos ocorrem naturalmente e não devem ser relacionados aos imunizantes antes de uma análise médica, que envolve exames complementares. Os sintomas mais comuns são dor no peito, falta de ar e palpitações.

“Os dados de incidência basal da doença e da baixa incidência de miocardite/pericardite como evento adverso pós vacinação (EAPV) descritos reforçam o benefício da vacina em detrimento do risco da doença COVID-19 e o risco de desenvolvimento de formas graves. Assim, mantém-se a recomendação de vacinação para toda população com indicação do uso do imunizante Pfizer/Cominarty sem restrições”, conclui a nota.

O que podemos aprender com esta verificação: Desde o início da pandemia, circulam nas redes sociais peças de desinformação desacreditando as vacinas. O Comprova, inclusive, já publicou diversas verificações sobre o tema. Considerando isso, tome cuidado com conteúdos virais que questionem os imunizantes.

Além disso, é de conhecimento geral entre os verificadores de fatos que áudios são um dos conteúdos mais difíceis de serem checados, por trazerem menos informações do que fotos ou vídeos. O que não impede que algumas ações simples possam ser feitas por qualquer pessoa. Ao receber um áudio sem a identificação do autor, desconfie. No WhatsApp, devemos desconfiar ainda mais quando o arquivo chega com a etiqueta “encaminhada com frequência”.

Como não é simples – muitas vezes, nem possível – identificar a autoria do áudio, busque em sites de veículos profissionais notícias sobre aquele assunto. Alguma mídia tradicional publicou conteúdo sobre médicos ligando o problema de Lucas Leiva à vacina? Se não encontrar nada, é bem possível que o áudio seja mentiroso mesmo.

O conteúdo verificado aqui mistura um acontecimento real, o anúncio da aposentadoria de Leiva por um problema de saúde, com uma mentira – a ligação da doença à vacina. Essa tática é bastante usada pelos desinformadores, na tentativa de tornar a mentira mais verossímil, como se isso fosse possível. Para não cairmos nela, a mesma dica anterior: sempre procure fontes confiáveis, como veículos de imprensa profissionais e órgãos governamentais.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo verificado aqui foi checado por Boatos.org e GZH. Foco de desinformação desde o início da pandemia, as vacinas continuam sendo descredibilizadas até hoje. Já nesta quinta fase, o Comprova publicou ser falso que Lula não foi imunizado e que é enganoso que o governo federal indica o uso de cloroquina no tratamento contra a covid. No ano passado, outro conteúdo enganoso envolvendo miocardite em atletas de futebol foi verificado.

 

Correção: Esta verificação foi atualizada em 23 de março de 2023, às 12h, para corrigir uma informação equivocada que constava no terceiro parágrafo da seção Áudio de WhatsApp. A primeira versão do texto dizia que o jogador estava no Liverpool, da Inglaterra. Na verdade, o clube era a Lazio, da Itália.

Saúde

Investigado por: 2023-03-10

Governo federal não indica uso de cloroquina contra a covid; post tira falas de Flávio Dino de contexto

  • Enganoso
Enganoso
É enganosa uma publicação que usa uma entrevista de maio de 2020 de Flávio Dino (PSB), atual ministro de Justiça e Segurança Pública, à TV Mirante, como se fosse atual. O conteúdo descontextualiza a fala do então governador do Maranhão para dizer que houve uma mudança de opinião sobre o uso de medicamentos como cloroquina e azitromicina para prevenir ou tratar a covid-19. Esses remédios até hoje não têm eficácia comprovada contra a doença.

Conteúdo investigado: Vídeo de homem reagindo a uma entrevista de Flávio Dino à TV Mirante, gravada em maio de 2020, como se a fala fosse atual.

Onde foi publicado: WhatsApp e TikTok.

Conclusão do Comprova: Post com entrevista do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, sobre o uso de cloroquina e azitromicina para o tratamento da covid-19, é enganoso. O conteúdo foi exibido, na verdade, em 19 de maio de 2020 – nos primeiros meses da pandemia –, quando ainda não havia um consenso entre cientistas sobre a ineficácia desses medicamentos. Dino era, na época, governador do Maranhão.

De acordo com a mensagem que acompanha o vídeo, dá-se a entender que Dino acredita na eficácia da cloroquina para o tratamento da covid-19 hoje em dia, o que não é verdade. “Agora pode tomar cloroquina, azitromicina”, diz o texto que se sobrepõe à gravação de um homem que usa um efeito de palhaço do TikTok.

Na entrevista, o ministro responde ao repórter que o havia questionado sobre a “polêmica nacional” de médicos receitarem cloroquina para tratar o novo coronavírus.

Ele diz: “Polêmica completamente desnecessária, porque, desde o meio de março, eu afirmo e reitero que a cloroquina pode ser receitada pelos médicos. Nós sempre oferecemos aos médicos a oportunidade de receitar cloroquina, azitromicina, ivermectina”.

Em junho de 2020, poucos dias depois da fala de Dino à TV Mirante, a Secretaria de Saúde (SES) do Maranhão divulgou novas diretrizes de tratamento (veja aqui) que desaconselham o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina.

Diferentemente do que o post afirma, o governo federal não recomenda o uso dos remédios. A atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, no dia 10 de janeiro, informou, segundo o Valor Econômico, que “medidas sem base científica ou sem amparo legal, entre elas nota técnica sobre cloroquina, serão revogadas imediatamente pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Procurada, a assessoria de Flávio Dino disse que o atual posicionamento do ministro da Justiça e da Segurança Pública, a respeito do uso das drogas para a covid-19, é o mesmo de maio de 2020 –quando, segundo eles, o então governador do MA não se dizia a favor do uso das drogas, mas sim que respeita a decisão dos médicos sobre o assunto.

“Se o médico achar necessário administrar o medicamento, ele será administrado. Se o médico não considerar cabível, ou que há riscos para os pacientes, é claro que não serei eu nem nenhuma autoridade externa que vai influenciar no conteúdo do trabalho do médico”, dizia Dino em maio na mesma entrevista em trecho após a cena cortada e divulgada nas redes.

“Esquemas com estas drogas não demonstraram benefício em pacientes internados, com aumento do risco de complicações cardiológicas”, informa o documento.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, durante toda a pandemia, aconselhou o uso da cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid-19, apesar de esses medicamentos não possuírem eficácia comprovada para combater a doença.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: No TikTok, a peça de desinformação alcançou, até a manhã desta sexta-feira (10), 44,6 mil visualizações e 2,1 mil curtidas, 290 comentários e 1,9 mil compartilhamentos em diversas plataformas, incluindo o WhatsApp.

O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível contatar o perfil que publicou o conteúdo no TikTok. No entanto, há no perfil vários conteúdos similares ao vídeo checado pelo Comprova.

Em sua conta, o usuário republica e reage – por vezes usando o filtro de palhaço – a vídeos contrários ao governo do presidente Lula (PT) e a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Como verificamos: Para investigar o vídeo, o Comprova fez uma busca por palavras-chave da gravação para identificar a data de gravação do vídeo que estava circulando. Com isso, a reportagem encontrou a íntegra da entrevista de Dino ao JMTV 2ª Edição no Globoplay, o serviço de streaming da Rede Globo.

Localizada a gravação original, o Comprova entrou em contato com o ministro para esclarecer qual é – e qual já foi – o posicionamento de Dino em relação aos medicamentos no contexto do enfrentamento à covid-19.

Em seguida, a reportagem buscou o protocolo adotado pela Secretaria de Saúde do Maranhão sobre o uso de cloroquina para o tratamento da covid na época da entrevista e hoje em dia, para verificar se houve alguma mudança após a fala de Dino para a emissora.

O projeto também procurou no site oficial do governo federal as orientações atuais do Ministério da Saúde sobre o tratamento farmacológico de adultos hospitalizados com covid-19. O site disponibiliza um documento de maio de 2021. Nele não é recomendado o uso da hidroxicloroquina, azitromicina ou cloroquina, nem mesmo em associação com outros medicamentos.

Mudanças no protocolo farmacêutico do Maranhão

A Secretaria da Saúde do Maranhão iniciou, em maio de 2020, a implementação de um protocolo de medicamentos para tratar a covid-19 em pacientes hospitalizados. O tratamento era ofertado para pessoas no período de um a cinco dias após a infecção.

Na época, a secretaria justificou o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina como complemento a outros tratamentos, como assistência ventilatória e medicações para sintomas como febre e mal-estar. Porém, a cloroquina e a hidroxicloroquina não eram indicadas para prevenção da doença ou tratamento de casos leves.

Dois anos depois, em agosto de 2022, a SES divulgou a 10ª edição do seu Plano de Contingência do Novo Coronavírus. O documento não registrava novas recomendações relacionadas com o uso de hidroxicloroquina, cloroquina ou azitromicina.

O protocolo destaca a importância do reconhecimento precoce dos sintomas da covid-19 e do monitoramento contínuo dos pacientes para um atendimento adequado dos casos suspeitos ou confirmados da doença. Além disso, o protocolo aponta que o tratamento da doença deve obedecer aos pareceres técnicos mais recentes do Ministério da Saúde, publicados em maio de 2021, que dispensam o uso de cloroquina e azitromicina em casos de hospitalização.

Ministério não recomenda uso de cloroquina ou hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados

A última orientação do Ministério da Saúde acerca do tratamento farmacológico de adultos hospitalizados com covid-19 foi publicada em maio de 2021.

Segundo o órgão, não é recomendado o uso da hidroxicloroquina e cloroquina, nem mesmo em associação com outros medicamentos. De acordo com as diretrizes ministeriais, não há evidências de benefícios do uso desses medicamentos, seja de forma isolada ou em combinação com outros remédios.

O Ministério da Saúde ressalta, no entanto, que os pacientes que já fazem uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para outras condições de saúde devem continuar com o tratamento.

Além disso, a azitromicina, segundo o mesmo documento, também não é recomendada para pacientes hospitalizados com covid-19, a menos que haja suspeita ou presença de infecção bacteriana.

O uso do medicamento deve seguir as orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar local ou dos protocolos institucionais de uso de antimicrobianos. Estudos clínicos não mostraram benefícios no uso de outros medicamentos no tratamento da covid-19 (colchicina, plasma convalescente, associação de casirivimabe e imdevimabe, lopinavir/ritonavir e ivermectina).

O Ministério da Saúde pontuou, ainda, que as recomendações foram emitidas com base em avaliações técnicas e científicas, e devem ser seguidas pelos profissionais de saúde que atuam no tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19.

O que podemos aprender com esta verificação: Retirar de contexto conteúdos legítimos para usá-los em um contexto diferente para apoiar narrativas enganosas é uma tática comum dos disseminadores de desinformação. Conteúdos legítimos usados em falsos contextos são verossímeis e mais facilmente aceitos pelos incautos. Um olhar mais atento ao vídeo permite identificar elementos de cena e informações contidas na fala de Dino que mostram que o vídeo foi gravado quando ele ainda era governado do Maranhão antes, portanto, de assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo atual.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Em abril de 2021, o Projeto Comprova desmentiu o mesmo vídeo que tirava entrevista de Flávio Dino de contexto. A publicação em questão era oriunda da página de Carlos Bolsonaro. Após a recente viralização do mesmo conteúdo, também verificaram o conteúdo: UOL, G1, Estado de Minas, Aos Fatos e AFP checamos.

Saúde

Investigado por: 2023-03-07

FBI não confirmou origem do novo coronavírus, ao contrário do que diz tuíte

  • Enganoso
Enganoso
Tuíte engana ao afirmar que o FBI confirmou que o novo coronavírus saiu de um laboratório chinês. O diretor do órgão afirmou, em entrevista à Fox News, que "provavelmente" isso ocorreu. O FBI vê a possibilidade de vazamento acidental do vírus com "moderada confiança", ou seja, diferentemente do que afirma o tuíte, não dá certeza sobre isso.

Conteúdo investigado: Tuíte diz que o FBI confirmou que o novo coronavírus saiu de um laboratório chinês.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o tuíte segundo o qual o FBI (Federal Bureau of Investigation; a polícia federal norte-americana) confirmou que o coronavírus, responsável pela covid-19, saiu de um laboratório chinês. O tuíte remete a uma publicação na internet que usa a mesma afirmação no título. Essa informação, porém, não consta no texto.

O conteúdo cita uma entrevista de 28 de fevereiro em que Christopher Wray, diretor do FBI, diz à Fox News que “provavelmente” um vazamento acidental em um laboratório em Wuhan teria iniciado a pandemia. Diferentemente do conteúdo apurado aqui, publicado pelo portal Terra Brasil Notícia, o diretor não crava a informação sobre a origem da covid-19.

A declaração de Wray foi feita após o jornal The Wall Street Journal divulgar dados de relatório entregue à Casa Branca em que o U.S. Energy Department, órgão do governo norte-americano responsável pela política de energia e segurança nuclear, diz que “a pandemia de covid provavelmente surgiu de um vazamento de laboratório”.

Segundo o relatório, “o vírus covid-19 circulou pela primeira vez em Wuhan, na China, no mais tardar em novembro de 2019”.

Na mesma reportagem, publicada em 26 de fevereiro, o Wall Street cita que o FBI vê a teoria de vazamento acidental com “confiança moderada” e que o relatório cita que outras quatro agências e um painel nacional de inteligência acreditam que a pandemia resultou provavelmente de uma transmissão natural. A Central Intelligence Agency (CIA) e um outro órgão não identificado estão indecisos sobre a origem, segundo o documento.

Um dia depois, o jornal publicou que a Casa Branca afirma não haver “consenso dentro do governo Biden sobre as origens do vírus”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de março, o tuíte teve 390,9 mil visualizações, 16,3 mil curtidas e 3.490 compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação: A reportagem contatou o site Terra Brasil Notícias, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Como verificamos: Inicialmente, a equipe buscou a entrevista de Wray para a Fox News, citada no conteúdo. Também pesquisou reportagens internacionais sobre o posicionamento do FBI em relação à origem da covid. Por último, tentou, via mensagem privada no Instagram, contato com o site que publicou o tuíte e o texto verificados aqui.

O que podemos aprender com esta verificação: Não se deixe levar somente pelo título. Muitas publicações titulam posts com informações bombásticas e alarmistas que não são confirmadas pelo texto. Quando isso acontece, desconfie. Busque pelos termos usados no título em sites de bsuca e outras publicações confiáveis. Verifique também se o texto contém links para as fontes originais antes de compartilhar.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde o início da pandemia o Comprova vem checando conteúdos que acusam a China de ter propagado o coronavírus. Entre as checagens estão a de frase de pesquisador americano de 2016 que não indica que chineses provocaram pandemia e a de que é enganoso que e-mail de Anthony Fauci mostrado no Fantástico prove origem do vírus em laboratório.