Post engana ao dizer que Exército construiu ponte em 24 horas em Goiás
- Enganoso
- Enganoso
- O vídeo apresentado é real, mas é de 2019 e os militares levaram uma semana para realizar a instalação. A ponte era provisória e já foi substituída por uma estrutura fixa
- Conteúdo verificado: Post acompanhado de vídeo afirma que o Exército montou uma ponte em 24 horas a pedido do governo de Goiás.
É enganoso um post publicado em 27 de junho sobre a construção de uma ponte pelo Exército em Goiás. Diz o texto: “O governo de Goiás sem dinheiro para construir uma ponte para fazer o escoamento de produtos agrícolas, fez uma solicitação ao governo Bolsonaro e em 24 horas a engenharia do Exército brasileiro compareceu e montou uma ponte ‘Bayley’ (sic). Acorda Brasil. Vamos divulgar porque não vai sair na imprensa…”. A publicação é acompanhada de um vídeo que mostra dois homens próximos a uma das extremidades de uma ponte conversando sobre a estrutura. O vídeo é real, mas é de 2019 e a ponte não foi instalada pelo Exército em apenas um dia.
Segundo o governo de Goiás, em 2019 o estado fechou parceria com o Exército, por meio do Ministério do Desenvolvimento, para a instalação de uma ponte metálica entre os municípios de Israelândia e Fazenda Nova. A área, localizada em trecho da rodovia GO-060, estava interditada por causa de fortes chuvas. O Exército iniciou a construção da obra nove dias depois do rompimento da antiga estrutura e construiu uma nova, provisória, em uma semana, e não em 24 horas.
[Atualizado em 14 de julho de 2020 – O parágrafo acima foi atualizado para corrigir uma informação sobre o “comparecimento” do Exército ao local de construção da ponte. Na verdade, o Exército foi até o local no dia seguinte para “reconhecimento do local” – como explicado adiante – mas as obras realmente foram iniciadas somente dias depois]
Além disso, ao afirmar que é preciso “divulgar porque não vai sair na imprensa”, o post engana ao insinuar que a obra seria atual e deveria ser tema de reportagens. A construção da nova passagem metálica, que era provisória, foi finalizada em 26 de março do ano passado, ou seja, há mais de um ano, e foi noticiada por veículos de comunicação goianos.
Como verificamos?
O passo inicial foi buscar pelos termos “ponte Bailey Goiás” no Google. Entre os primeiros resultados, apareceram diversas reportagens sobre a construção de uma ponte provisória na rodovia GO-060, no município de Israelândia, no interior do estado. Uma matéria exibida no dia 22 de março de 2019 pelo jornal JA2 da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, mostrava a maquete de uma ponte muito semelhante à apresentada no vídeo do post que viralizou.
Outra reportagem, do portal G1, divulgada em 27 de março de 2019, já mostrava a estrutura metálica em funcionamento. Pelas imagens, foi possível confirmar que era a mesma ponte do post.
Entramos em contato com a assessoria de comunicação do governo de Goiás no dia 3 de julho por e-mail. Recebemos a resposta no mesmo dia por WhatsApp.
Tentamos identificar os homens que aparecem no vídeo e que seriam os autores das imagens, mas não foi possível. O Comprova também entrou em contato com Altaisa Teixeira, responsável pelo post de maior viralização no Facebook, por meio de mensagens diretas no Facebook e no Instagram. Não obtivemos resposta até a publicação desta verificação.
O Comprova enviou e-mail para a assessoria de comunicação do Exército em 6 de julho, às 12h27, e não obteve resposta até a publicação da verificação. O órgão respondeu por meio do Departamento de Engenharia e Construção em 14 de julho, depois que a checagem já havia sido publicada.
[Atualização em 14 de julho de 2020: o parágrafo acima foi acrescentado após a resposta do Exército]
Verificação
Ponte provisória
Segundo o governo de Goiás, a rodovia estadual GO-060 foi interditada no trecho entre Israelândia e Fazenda Nova em 10 de março de 2019, após fortes chuvas e o rompimento de um bueiro. Ainda de acordo com o governo, o governador Ronaldo Caiado (DEM) contatou o Ministério do Desenvolvimento para efetuar parceria com o Exército Brasileiro e, assim, viabilizar a instalação de uma ponte metálica, tipo Logistic Support Bridge (LSB) – mais moderna e mais leve que a ponte Bailey.
Com 32 militares e 17 viaturas, a 23ª Companhia de Engenharia de Combate do Exército começou a obra em 19 de março – nove dias após o acordo com o governo estadual – e liberou a estrutura para o tráfego na noite de 26 do mesmo mês. “A ponte serviu para a passagem de veículos pesados, acima de dois eixos (mais de 16 toneladas), e foi adotado o modo ‘pare e siga’ para atender os dois sentidos da via”, informou o governo. A ponte provisória foi desmontada em setembro de 2019, após a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), órgão do estado, concluir a recomposição definitiva do bueiro rompido.
Após publicarmos a matéria, o Exército respondeu ao pedido de informações da reportagem. Informou que compareceu, sim, no dia seguinte ao rompimento do bueiro para “realizar o reconhecimento do local para posterior montagem da ponte”. Mesmo assim, a nota confirma que a construção da ponte só começaria dias depois. O Departamento de Engenaria e Construção diverge do estado ao dizer que a obra começou em 22 de março, mas confirma que os trabalhos foram concluídos em 26 de março. Falou, por fim, que “o recurso destinado à montagem e operação da ponte foi oriundo do orçamento da Secretaria de Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)”.
[Atualização em 14 de julho de 2020: o parágrafo acima foi acrescentado após a resposta do Exército]
Ponte permanente
Ainda de acordo com o governo, a ponte instalada pelo Exército era provisória e “foi desmobilizada em setembro de 2019, após a Goinfra concluir a recomposição definitiva do bueiro rompido”.
Em 18 de setembro do ano passado, o site da agência publicou um texto que informava que “a estruturação de um novo bueiro no KM 184 da GO-060, entre Israelândia e o trevo para Fazenda Nova, está em fase final de execução. A 23ª Companhia de Engenharia de Combate, do Exército Brasileiro, concluiu na manhã de hoje (18) a retirada da ponte metálica do local, com o objetivo de liberar a pista para as últimas etapas da obra”. Seguia dizendo que uma equipe da Goinfra trabalhava para pavimentar o trecho e motoristas que precisassem passar pela região poderiam acessar um desvio “até a conclusão dos serviços na rodovia”.
No dia 9 de outubro, a Goinfra contava sobre a etapa de concretagem da obra. E acrescentava: “Os próximos passos, que já estão em andamento, são: execução das alas das bocas do bueiro, escalonamento lateral para estabilização de corpo de aterro, pavimentação asfáltica e sinalização viária”. O desvio continuava sendo a opção para os motoristas.
A autora do post
Altaisa Teixeira, que postou o conteúdo no Facebook, costuma publicar na rede social textos, imagens e vídeos alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Há posts pedindo intervenção militar e algumas publicações verificadas pelo Comprova e classificadas como falsas – como uma combinação de fotos que usava imagens antigas como sendo obras de Bolsonaro e outra que diz que Ciro Gomes tem caminhões-pipa no Ceará.
Em 2018, ela foi candidata a deputada federal no Rio de Janeiro pelo PSL, antigo partido do presidente. Recebeu 1.128 votos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, insuficientes para ser eleita.
O Comprova tentou contatá-la via Facebook e Instagram, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.
Por que investigamos?
O Projeto Comprova faz a verificação de conteúdos virais sobre políticas públicas do governo federal. O vídeo sobre a construção da ponte em Goiás pelo Exército Brasileiro, publicado no Facebook por Altaisa Teixeira em 27 de junho de 2020, recebeu 32,6 mil compartilhamentos e foi visto mais de 561 mil vezes até o fechamento desta verificação. O conteúdo foi compartilhado por páginas como “Bolsonaro Presidente 2022” e “Beto Fontes – FFAA – Brasil”.
O Exército Brasileiro ganhou destaque no governo Bolsonaro, ele próprio um capitão reformado, com a indicação de generais da reserva e da ativa para alguns ministérios — como Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Eduardo Pazuello (interino na pasta da Saúde). Além disso, as Forças Armadas foram chamadas a atuar em ações da União, como a Operação Verde Brasil 2, de combate ao desmatamento na Amazônia. Este programa é chefiado pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão.
A utilização de homens e equipamentos das Forças Armadas em programas federais ou nos estados é alvo de desinformação nas redes sociais. Um boato checado anteriormente pelo Comprova falsamente alegava que o Exército teria refeito trecho da transposição do Rio São Francisco durante o governo Bolsonaro.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.