Ursal não existe e, portanto, não armou esquema para manipular urnas

São falsas as alegações de uma publicação no Facebook sobre supostas estratégias da Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) para fraudar as eleições brasileiras. Além disso, as ações descritas no suposto plano demonstram desconhecimento do processo eleitoral e não poderiam ser colocadas em prática pela forma como são operacionalizadas as eleições no Brasil.

O post original foi apagado, mas usuários filmaram o conteúdo. Esses vídeos viralizaram principalmente no Facebook. O narrador de uma das gravações declara que “a gente está correndo um risco tremendo”. O texto que descreve um dos posts é o seguinte: “COMPARTILHEM E FAÇAM CHEGAR A PF, MPF, E A TODOS QUE INTERESSEM!!!”.

Como o próprio Comprova já demonstrou, a Ursal não existe. Trata-se de um termo escrito por uma socióloga para uma ironia, em 2001, e que acabou alimentando teorias conspiratórias. O termo voltou à tona em agosto, quando o então candidato Cabo Daciolo (Patriota), no debate da Band, pediu para Ciro Gomes (PDT) falar sobre o “plano Ursal”.

Apesar de a entidade não existir e, portanto, não ser organizada para atuar politicamente, o Comprova também analisou as principais afirmações do post e concluiu que elas usam informações falsas ou mesmo sem qualquer possibilidade técnica de se viabilizarem.

O post afirma que uma das estratégias da pretensa Ursal é, em locais onde o candidato Jair Bolsonaro (PSL) tem mais votos, “deixar partes do código [das urnas] com erros propositais” para que os equipamentos sejam substituídos e, consequentemente, os votos anulados. Contudo, a Justiça eleitoral esclarece que os softwares são desenvolvidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não há possibilidade de inserção de erros propositais.

Além disso, os sistemas recebem uma assinatura digital e são lacrados. Por outro lado, sempre que uma urna apresenta algum problema e precisa ser substituída há um procedimento para que os votos que ela já recebeu sejam aproveitados.

Outra informação falsa diz respeito à ideia de gerar algum defeito no sistema biométrico de identificação para que os votos do eleitor não sejam contabilizados. Quando, por alguma razão, não é possível fazer a leitura da impressão digital, o mesário confere os documentos e faz a liberação da urna para que o eleitor vote. Em seguida, o fato precisa ser relatado na ata da seção. Não cabe ao mesário definir se o voto será ou não contabilizado.

Também causa desinformação a frase do post sobre o interesse em “dar fim” aos Boletins de Urna com votos significativos para “o candidato da direita”. A verdade é que, ao final da votação, a urna imprime cinco desses boletins. Eles têm informações sobre as quantidades de votos e total de eleitores da seção. Outras vias ficam disponíveis para fiscais do partido. Apesar desse relatório “físico”, versões eletrônicas dos boletins são enviados aos Tribunais Regionais Eleitorais dos estados.

O post ainda lança um boato sobre interferência de empresa da Venezuela para “organizar e enviar” dados ao TSE, para a apuração. Esse caminho, segundo a informação falsa, seria usado para alterar os votos da urna. Não é verdade. Como o Comprova já verificou, códigos de urnas eletrônicas nunca foram entregues para empresa venezuelana. Os votos da eleição presidencial são apurados após os dados das urnas serem enviados aos TREs que, em seguida, os remete ao TSE. A apuração dos votos não passa por atores estrangeiros.

A página que fez a primeira publicação foi apagada. O Facebook não informou a razão. O Comprova analisou postagens de páginas que também levam o nome Ursal. Em regra, os posts apresentam críticas ao candidato Jair Bolsonaro ou trazem memes satíricos.

O vídeo, divulgado em um perfil pessoal no Facebook no dia 13 de outubro, foi compartilhado 32,1 mil vezes e teve 322 mil visualizações até 17 de outubro. O assunto também foi encaminhado para verificação pelo WhatsApp do Comprova. Também capturamos a mensagem em quatro grupos de política no WhatsApp.

Outros desmentidos sobre este vídeo foram feitos pelo Boatos.org e TRE-MG.