Verificação de textos
1. Qual é a data de publicação?
O primeiro e mais básico princípio para verificar a veracidade de um texto é conferir a data em que ele foi publicado. Seja por engano ou por estratégia, não é incomum vermos circulando pelas redes sociais e por aplicativos de mensagens links antigos e, portanto, fora de contexto.
É importante lembrar que pessoas, partidos políticos, governos e quaisquer outras instituições podem mudar de opinião ou posição ao longo do tempo. É fundamental verificar o contexto em que o texto foi escrito.
2. Quem é o autor do texto?
Outro princípio básico é entender quem é o autor do texto. Se estivermos falando da imprensa profissional, a maior parte dos textos virá acompanhada do nome do autor, seja um repórter ou um colunista, que permitirá verificar outros textos de sua autoria.
Se o texto for de um colunista, cabe ao leitor ter a noção de que aquilo se trata da opinião do autor, ou seja, representa sua interpretação de determinados fatos e não necessariamente o registro e a apuração desses fatos. Assim, é fundamental tomar cuidado com textos anônimos ou com autoria duvidosa, como os que circulam por WhatsApp, por exemplo. Eles podem ter intenções ocultas.
3. Qual é a plataforma em que esse texto foi publicado?
Além de procurar a autoria do texto, é importante buscar entender em que lugar aquele texto foi publicado. Pensar nisso pode ser útil quando você deparar com textos sem assinatura. Um texto sem autor em um veículo de mídia profissional pode ser, por exemplo, um editorial (a opinião dos donos do veículo).
Pode, também, ser uma nota publicada sem apuração de um repórter e, portanto, sem o nome do responsável. Neste caso, se você conhece o veículo em questão, tem a credibilidade dele como sustentação. Aqui, vale o alerta para textos em redes sociais e aplicativos de mensagens: os textos podem ter sido escritos por qualquer um, inclusive com assinatura falsa, com intenções pouco claras. É preciso, assim, desconfiar e buscar fontes fidedignas.
4. As informações constam apenas ali?
Um quarto ponto fundamental requer um pouco mais de tempo. Para ter um grau mais elevado de certeza sobre a confiabilidade de uma determinada informação, é interessante verificar se ela consta em outros veículos. Pela forma como a imprensa profissional é organizada atualmente, é muito difícil que um veículo tenha, sozinho, uma informação, em especial quando se tratar de decisões governamentais ou leis aprovadas pelo Congresso.
Matérias exclusivas são “furos”, difíceis de conseguir. Ao longo dos últimos anos, vimos muitas desinformações circulando com a alegação de serem “urgentes” ou “exclusivas”, sem que isso fosse verdade. Assim, comparar o noticiário de dois ou mais veículos é uma estratégia interessante antes de compartilhar textos sobre os quais você tenha dúvida. Se mais de um veículo estiver noticiando aquele fato, a chance de o conteúdo estar correto é maior.
5. Vale a pena compartilhar?
Depois de feitas as verificações anteriores, chega o momento mais importante: decidir se o conteúdo em questão deve ou não ser divulgado ou compartilhado. Neste caso, é preciso examinar, além do conteúdo, seu próprio viés ou visão de mundo.
- Vale a pena compartilhar um conteúdo com o qual você concorda mesmo que você não saiba a procedência ou o contexto em que foi publicado?
- Vale a pena divulgar mesmo sem saber se é verdade?
É importante refletir sobre que tipo de informação você gostaria de ver circulando entre os debates locais e nacionais no Brasil.
- Devem ser baseados em fatos confirmados ou em boatos?
Confira na prática
Em janeiro de 2022, o Projeto Comprova verificou um texto que dizia como entidades internacionais estavam denunciando a vacinação contra a covid-19, que seria perigosa para a população. Ao se debruçar sobre o texto, os verificadores descobriram se tratar de entidades antivacinação, que tinham uma agenda própria não demonstrada no texto inicial. Confira a verificação completa aqui.
Verificação de imagens
1. Pare e pense: o que essa imagem me faz sentir?
O primeiro passo para verificar uma imagem é refletir sobre o que aquela imagem te faz sentir e pensar se ela está sendo compartilhada para causar sentimentos de raiva, indignação ou medo.
Essa é uma técnica muito comumente usada por desinformadores: mexer com a emoção das pessoas e fazer com que elas não se questionem ao compartilhar alguma coisa e realizem um compartilhamento mais instintivo, sem parar para pensar se o conteúdo é falso ou não.
2. Observe inconsistências na imagem e foque nos detalhes
É possível notar inconsistências na imagem que você vai compartilhar. Se você estiver vendo uma imagem com muitas pessoas, é comum que em tempos de pandemia alguém esteja usando máscara. Se esse não for o caso, pode ser um sinal de que aquela é uma imagem mais antiga. Logo, vale tentar descobrir se isso é verdade ou não.
Existem diferenças muito gritantes de iluminação? Uma foto com duas pessoas em que uma delas está com uma luminosidade vinda de cima e a outra da lateral pode ser um sinal de que a foto foi manipulada.
Também observe detalhes como placas, prédios, monumentos geológicos ou lagos, mares e rios, que podem indicar a localização da imagem verificada.
3. Busca reversa de imagem
Fazer uma busca reversa de imagem pode resolver a maioria das verificações. Ao invés de utilizar palavras-chaves para fazer uma busca no Google ou em outra ferramenta de pesquisa, basta utilizar uma imagem.
A busca reversa procura em todos os lugares da internet onde aquela imagem já foi publicada anteriormente. Isso é muito útil para verificar, por exemplo, se uma imagem é antiga.
4. Se ainda estiver com dúvida, tente uma verificação mais detalhada
Se você não conseguir achar nada conclusivo com a busca reversa de imagens, parta para uma verificação mais detalhada, com ferramentas de verificação de imagens.
O que se usa muito no Estadão Verifica e no Comprova é uma extensão do Google Chrome chamada InVID, que é uma toolbox com várias ferramentas diferentes para verificação de vídeos e fotos. Você pode usar, por exemplo, uma lupa para ver detalhes com mais precisão ou verificar os metadados – informações de data, localização e modelo de câmera que aparecem no arquivo da imagem.
5. Busque uma agência de checagem
Por último, se você chegou ao fim do quarto passo e não obteve nenhuma conclusão, não compartilhe a imagem e procure uma agência de checagem.
Entre em contato pelo número de WhatsApp de algumas dessas agências:
Confira na prática
- O falso diamante gigante da Amazônia
- É falso que EUA estejam distribuindo ivermectina e leite condensado a vacinados
- Guia essencial da First Draft para verificação de informação on-line
Verificação de vídeos
1. Observe se as informações do vídeo são objetivas
Os propagadores de desinformação, muitas vezes, são genéricos para dificultar a checagem daquela informação que querem passar.
Um exemplo frequente desta pandemia é a pessoa que diz: “o filho de uma amiga morreu após tomar a vacina contra a covid, mas não posso falar o nome dele, nem a cidade ou o hospital em que ele morreu”. Desta forma, sem dados, é fácil um boato mentiroso se espalhar.
2. Fique atento à qualidade da gravação
Outro ponto de atenção é a qualidade da imagem da gravação. Se ela estiver muito ruim, dificultando, ou mesmo impossibilitando a identificação de alguns elementos do vídeo, desconfie.
Ao borrar um detalhe, um vídeo pode ser usado para passar uma mensagem diferente da original. Às vezes, uma placa que foi filmada ajuda a verificar a autenticidade do conteúdo; se ela foi borrada pelos propagadores de desinformação, não conseguimos pegar aquele detalhe.
3. Faça perguntas
Há algumas perguntas que nos ajudam a perceber se um vídeo é verdadeiro ou não.
- Dá para saber quem é o autor do vídeo?
- Quando ele foi gravado?
- O conteúdo do vídeo faz sentido?
- Quem enviou a gravação para você ou como ela chegou até você?
- Quem ou que grupo teria interesse em divulgar esse vídeo?
4. Verifique a hospedagem do vídeo
Se o vídeo está hospedado em um link, verifique se é de um veículo de comunicação, um site reconhecido ou se é um endereço desconhecido.
Aqui cabe outra dica: o site em que a gravação está linkada possui muitos erros de português? Se sim, fique esperto: meios de comunicação tradicionais têm equipes com conhecimento da língua e cuidado para não cometer tais erros.
5. Descubra se o vídeo é atual
Muitas vezes, uma gravação antiga volta a circular em outro contexto para passar outra mensagem, diferente daquela original.
Um exemplo frequente que aparece no Comprova é sobre obras de infraestrutura. Desinformadores apoiadores do governo, por exemplo, utilizam vídeo de uma rodovia “X” em situação ruim para dizer que aquela cena era em governos anteriores, o que, muitas vezes, não é verdade.
De olho no Deep Fake
Ao receber um vídeo deve-se levar em conta que ele pode ter sido editado, adulterado, retirado do contexto ou modificado por programas como o Deep Fake. Muitas vezes, isso é feito de forma grosseira, mas há falsificações que podem enganar o espectador mais atento. O Deep Fake também é usado como forma de humor e sátira, mas, neste caso, o autor “assina” sua obra.
Confira na prática
- Post engana ao dizer que Exército construiu ponte em 24 horas em Goiás
- É falso que irmãos morreram após se vacinarem contra a covid-19
- Não há comprovação que morte de menino em Arujá (SP) tem relação com vacina
- Vídeo de pai desesperado é antigo, foi filmado no Amazonas e não tem relação com vacina
Verificação de áudios
1. Coloque em dúvida
Temos alguns caminhos que podem ajudar quem busca saber se um áudio é verdadeiro ou não. O primeiro deles é sempre colocar em dúvida o que você recebe, tendo em vista que não há como enxergar uma conclusão apenas ouvindo um áudio que foi compartilhado.
Para isso, observe os indicativos de que aquele áudio pode não ser real. Se pedem a distribuição do conteúdo para muitas pessoas ou se a forma de falar do autor está muito exaltada ou com gesticulações muito forçadas. O tom de voz também diz muito, principalmente se for de uma figura pública.
2. Identifique a autoria do áudio
A verificação de áudio é mais complexa do que outras verificações quando se trata da identificação do autor. Diferente do vídeo, no áudio não é possível, por exemplo, visualizar o rosto de uma pessoa ou identificar se há sincronia entre a voz e a boca de quem está falando.
Para verificar se de fato o áudio foi produzido ou distribuído por determinada pessoa:
- Confira se o autor compartilhou algo naquele sentido em alguma rede social ou negou o áudio compartilhado;
- Procure na internet se alguma agência de checagem confirmou a veracidade do áudio;
- Busque o próprio autor ou procure a assessoria de imprensa, se for o caso;
- Entre em contato com as pessoas que são citadas no áudio.
3. Analise o conteúdo
Caso não seja possível a identificação do autor, mesmo assim, é preciso checar o conteúdo. Neste caso, a transcrição do áudio auxilia para que as informações contidas nele sejam verificadas. Elas podem ser classificadas como verdadeiras (mesmo que o autor não seja identificado), falsas ou enganosas.
A checagem de conteúdo de áudio é a mesma checagem feita para verificar um texto. Mas, a depender do tema, será preciso procurar especialistas que esclareçam se os dados expostos são verídicos ou não. Caso os áudios estejam em outros idiomas, devemos traduzir ou, dependendo da língua, pedir ajuda a um tradutor.
4. Acione uma agência de checagem
Há muitas pessoas imitáveis. Se há uma imitação muito perfeita, é preciso acionar uma agência de checagem que poderá buscar um perito e confirmar se de fato o aúdio é verídico, se as nuances da voz conferem ou se o timbre é o mesmo. Nem todos os programas garantem 100% de resultado e, em alguns casos, a ajuda especializada se faz necessária.
Confira na prática
- Áudio atribuído a Jair Bolsonaro no hospital é falso
- Áudio de médico é verdadeiro, mas opinião sobre origem do coronavírus não tem respaldo científico
- É falso que áudio mostre Luana Piovani defendendo Jair Bolsonaro
Verificação de gráficos
1. Verifique a publicação
- Se o site que publica o gráfico em questão é de credibilidade;
- Se é de uma empresa jornalística que tem periodicidade em suas publicações;
- Se a reportagem mostra a fonte dos dados divulgados, entrevista com os autores e origem das informações.
2. Confirme a fonte do gráfico
Qual é a origem do gráfico?
- Universidade, centro ou instituto de pesquisa relevante;
- Instituições ou autarquias do poder público.
3. Identifique os autores
Observe se os nomes dos autores que produziram o gráfico foram citados.
4. Observe a origem da pesquisa
Se a fonte divulga a:
- Origem dos dados;
- Metodologia;
- Informações adicionais que dão base à pesquisa;
- Versão da pesquisa com os dados completos e resumidos;
5. Canais de contato
Se existem canais de contato com a instituição que foi feita a pesquisa e se é possível entrar em contato com os autores do material produzido.
De olho na eleição
Nestes tempos eleitorais, há muitos gráficos mostrando dados falsos de intenção de voto, distribuídos sobretudo em redes de troca de mensagens e até atribuindo a pesquisa eleitoral a reconhecidos institutos ou criando nomes falsos para eles. Neste caso, é importante saber que todas as pesquisas eleitorais que têm finalidade de divulgação precisam ser registradas na Justiça Eleitoral. É por isso que os veículos de imprensa divulgam o número de inscrição da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O interessado pode pesquisar nos sites eleitorais o número da pesquisa e confirmar os dados.
- Patrocínio da pesquisa;
- Autoria;
- Amostra coletada;
- Região dos entrevistados;
- Metodologia.
Confira na prática
- Proporção de mortes por covid é maior entre não vacinados no Reino Unido, diferentemente do que insinua post
- Post compara de forma enganosa valores do gás de cozinha com o salário mínimo
- Pesquisa que aponta Bolsonaro com 45% das intenções de voto é enganosa
*Texto: Caê Vatiero | Artes: Paula Neiva [Abraji]