É falso que Boulos tenha falado em obrigar paulistano a receber morador de rua na pandemia
- Falso
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- Postagem foi feita por perfil que tentava copiar a página real do político e foi suspenso pelo Twitter
- Conteúdo verificado: Perfil no Twitter que tenta se passar pelo candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos escreveu que decretaria um lockdown diferente no qual os paulistanos deveriam abrir suas casas para receber moradores de rua
É falso que Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, tenha tuitado sobre abrigar pessoas em situação de rua em quartos vagos nas casas de paulistanos. O perfil @boulos50, que tentava copiar a página real do político e foi suspenso pelo Twitter, publicou em 18 de novembro que o candidato faria um lockdown “diferente”, decretando que cidadãos com um ou mais quartos vazios em casa teriam que abrigar moradores de rua em seus imóveis, “pela segurança de todos”.
Não é verdade. Ele trata sobre a população de rua e a pandemia em seu programa de governo, publicado antes do primeiro turno das eleições. Entre as propostas apresentadas, estão o “reforço nas medidas de prevenção em ambientes públicos e coletivos” e a “instituição da Renda Solidária para cerca de um milhão de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade”.
Contatamos a equipe do candidato, que afirmou: “Infelizmente, nossa campanha tem sido alvo de inúmeras fake news. Não podemos permitir que mais uma eleição seja marcada por elas”. Não conseguimos contatar o autor do tuíte falso pois, como afirmado anteriormente, sua conta havia sido suspensa.
Como verificamos?
Primeiramente, buscamos no Twitter o nome de usuário que aparece no print que viralizou, o @Boulos50. Na data da nossa busca, a conta já estava suspensa.
Depois, entramos em contato com a assessoria de campanha do PSOL, partido de Guilherme Boulos, que nos disse que a conta dele na rede social é @GuilhermeBoulos, que inclusive tem o selo de verificação do Twitter. Por WhatsApp, nos enviaram uma nota sobre o caso.
Também pesquisamos o plano de governo do candidato e afirmações que ele já fez em sua conta oficial no Twitter e em reportagens sobre pessoas em situação de rua, invasões e pandemia.
Verificação
Perfil
No Twitter, o nome dos usuários faz parte do link de acesso ao perfil. Portanto, a conta que postou aparece no print que viralizou, @Boulos50, deveria estar disponível no endereço twitter.com/boulos50. O link, porém, mostra que ela foi suspensa, por violar regras da rede social.
No perfil, não há detalhes sobre quais regras teriam sido violadas, mas, no Twitter, há regras ligadas à autenticidade das contas: “não é permitido assumir a identidade de indivíduos, grupos ou organizações com a intenção de iludir, confundir ou enganar.”
Buscando pelo nome de Guilherme Boulos no Twitter, fomos direcionados a outra conta, @GuilhermeBoulos, que possui o selo de autenticidade concedido pela própria rede social. Segundo o Twitter, o selo azul “informa às pessoas que uma conta de interesse público é autêntica”.
Na conta verdadeira de Boulos, não encontramos nenhuma postagem com o mesmo conteúdo do print que viralizou, e a grafia equivocada da palavra “lockdown” – que no tuíte aparece como “lookdow” é mais um elemento que indica a inautenticidade da publicação.
Moradores em situação de rua e invasões
Além de falar sobre moradores em situação de rua em seu plano de governo, no dia 1ª de novembro, Boulos abordou o assunto em seu Twitter, afirmando: “nos primeiros 180 dias, vamos implantar o Plano Vida e Renda SP, com combate de verdade à pandemia”. E, em 19 de novembro, na mesma rede, escreveu que “se houver uma segunda onda (da covid-19), para evitar o contágio em casas com muita gente, onde o isolamento é impraticável, podemos acolher familiares provisoriamente em equipamentos da Prefeitura”.
Por ser coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e uma das principais lideranças da esquerda no país, Boulos costuma ter seu nome ligado a esse tipo de conteúdo falso e já tratou em um vídeo no YouTube sobre desinformação. Ele afirma que atua em movimentos sociais há 20 anos e que “o MTST, ao contrário do que diz a fake news, nunca invadiu casa de ninguém”. “O que ele faz é identificar imóveis (em situação irregular, como os que estão abandonados há mais de uma década, sem pagar imposto) e ocupar, junto com as pessoas, para pressionar o poder público para cumprir o seu papel”, diz ele.
Por que investigamos?
O Projeto Comprova, em sua terceira fase, verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às políticas públicas do governo federal, à pandemia do novo coronavírus e às eleições municipais.
A desinformação é sempre perigosa, mas, quando envolve candidatos às eleições, ela se torna ainda mais problemática pois pode alterar o resultado das urnas com base em mentiras. No geral, concorrentes a cargos públicos têm qualidades, mas também defeitos, e não é necessário inventar histórias para que eles sejam descredibilizados.
O tuíte verificado, que atribui falsamente uma postagem polêmica a um dos candidatos que concorrem no segundo turno à prefeitura da maior cidade do país, teve mais de 1.500 interações só no grupo Aliança pelo Brasil, formado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) – embora tenha o mesmo nome do partido em processo em formação no TSE, o grupo não tem ligação formal com a associação política. O conteúdo também foi replicado por vários outros perfis no Facebook e no próprio Twitter. A agência Aos Fatos também verificou o conteúdo, classificando-o como falso.
O Comprova já verificou outros conteúdos ligados às eleições, como os que mostraram que um recente ataque hacker ao STJ não era ameaça à segurança das eleições e que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais.
Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.