Site antivacina inventa dado sobre efeito colateral em crianças imunizadas com Pfizer
- Falso
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- É falso que dados da Pfizer revelem que 80% das crianças vacinadas desenvolvem efeitos adversos, como afirma uma publicação em um site. A farmacêutica não tem nenhum estudo sobre vacinação em crianças concluído e, até o momento, afirma, assim como órgãos como o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e a Anvisa, que os benefícios da imunização superam os riscos.
- Conteúdo verificado: Texto em site afirma que vacinas das Pfizer produzem “efeitos adversos” em 80% das crianças e indica que a vacinação seria pior do que a covid-19.
É falsa a publicação no site antivacina Coletividade Evolutiva segundo a qual dados da farmacêutica Pfizer teriam mostrado que “80% das crianças vacinadas desenvolvem efeitos adversos”.
Um dos links do conteúdo falso leva a uma página em alemão, de onde o texto em português foi traduzido. Na versão estrangeira há um link para um documento da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, citado como fonte dos tais dados, mas ele é apenas uma ficha técnica para profissionais de saúde que aplicam vacinas. Neste relatório, há informações sobre reações adversas em públicos de idades diferentes, mas em nenhum momento cita os tais 80% de casos de crianças vacinadas que teriam desenvolvido efeitos adversos.
A Pfizer afirmou à reportagem que, em junho, anunciou o início do teste da vacina em um grupo de crianças com menos de 12 anos, mas ainda não há resultados disponíveis.
A empresa acrescentou que “os benefícios da vacinação superam em muito os potenciais eventos adversos”. É o mesmo que afirmam o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Comprova considerou o conteúdo falso porque ele foi inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. A reportagem tentou falar com o site que publicou o material, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
Como verificamos?
O primeiro passo foi verificar para onde levavam os links incluídos no post verificado. O primeiro deles, logo no início do texto, sugeria que o leitor seria levado diretamente a um suposto relatório da Pfizer, de 37 páginas, onde constavam informações sobre reações adversas em 80% das crianças vacinadas.
O link, contudo, levava a um site austríaco, com texto escrito em alemão. Usando a ferramenta de tradução do Google, a reportagem percebeu que o conteúdo era similar, embora maior. Este, sim, fornecia um link direto ao suposto relatório que, na verdade, era uma ficha técnica destinada a profissionais responsáveis por aplicar as vacinas, disponibilizado pela FDA, mas sem os dados destacados por nenhum dos dois textos.
Foram realizadas pesquisas sobre a imunização de crianças e adolescentes no site da Pfizer e nas páginas de autoridades de saúde como CDC, FDA e Anvisa.
A reportagem contatou, por e-mail, a Pfizer, que respondeu com um comunicado. Também tentou falar com o Coletividade Evolutiva via e-mail e preenchendo o formulário de contato no site, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de agosto de 2021.
Verificação
Pfizer em crianças
Segundo comunicado da farmacêutica enviado ao Comprova, ainda não há dados disponíveis sobre resultados da vacinação de crianças menores de 12 anos. Em junho, a empresa anunciou o início dos testes nesse grupo, mas não informou quando os resultados devem ser publicados.
“A fase 2/3 do ensaio contará com até 4,5 mil participantes com 11 anos ou menos nos Estados Unidos, Polônia e Espanha em mais de 90 locais de ensaios clínicos”, informa o documento.
Sobre o relatório
Citado como fonte dos dados do texto verificado aqui, o relatório da FDA é verdadeiro, mas não contém as informações alegadas pelo texto original e pela tradução publicada no Brasil. No documento, de 39 páginas, há informações sobre reações adversas em públicos de idades diferentes, mas também como acondicionar, diluir e aplicar uma dose da vacina.
A postagem aqui verificada afirma que 80% das crianças que receberam a vacina da Pfizer tiveram efeitos adversos e que pelo menos 80% podem esperar reações adversas “traumáticas”. O documento não traz este percentual, nem o de 79%, mencionado no texto original do site austríaco. Também não há qualquer menção a reações “traumáticas” ou a um relatório publicado pela Pfizer no dia 19 de maio.
Segundo o documento, que teve a última atualização no site em 12 de agosto de 2021, a reação adversa que atingiu o maior percentual de pessoas vacinadas pela Pfizer com idades entre 12 e 15 anos foi dor no local da injeção (86,2% após a primeira dose).
Nesta mesma faixa de idade, os eventos adversos considerados graves se manifestaram em 0,4% dos que receberam a vacina, após a segunda dose. No grupo placebo da mesma idade, essas reações ocorreram em 0,1% dos participantes. Dos 2.260 adolescentes de 12 a 15 anos que participaram do Estudo 2 da Pfizer nos Estados Unidos, 1.131 receberam a vacina e 1.129, o placebo.
Em um estudo clínico, as reações adversas em adolescentes de 12 a 15 anos de idade incluíram dor no local da injeção (90,5%), fadiga (77,5%), dor de cabeça (75,5%), calafrios (49,2%), dores musculares (42,2%), febre (24,3%), dores nas articulações (20,2%), inchaço no local da injeção (9,2%), vermelhidão no local da injeção (8,6%), linfadenopatia (0,8%) e náuseas (0,4%).
Casos de reações alérgicas graves, miocardite e pericardite foram relatados após a administração da vacina fora dos ensaios clínicos.
Estudo da Pfizer
Em estudo clínico com jovens de 12 a 15 anos, a vacina “demonstrou eficácia de 100%”, segundo a empresa informou à reportagem. “Os ensaios de fase 3 foram realizados em 2.260 adolescentes, nos Estados Unidos, e apresentou respostas robustas na produção de anticorpos e o perfil de segurança aceitável semelhante a outros grupos etários também foi estabelecido.”
Ainda de acordo com o documento, as reações adversas mais comuns, em 10% dos pacientes, e comuns (entre 1% e 10%) “podem incluir dor, inchaço ou vermelhidão no local de injeção, cansaço, dor de cabeça, diarreia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre, além de náusea e vômito”.
Pfizer em jovens
Ao contrário de outros imunizantes, o grupo mais jovem a receber a Pfizer na fase de ensaios clínicos foi entre 16 e 25 anos – o que possibilitou que a aprovação inicial do imunizante já considerasse os adolescentes mais velhos como aptos a receber as doses. Depois, graças a estudos divulgados no final de março, os órgãos reguladores ampliaram a possibilidade de aplicação da vacina.
A Pfizer é usada em maiores de 12 anos desde maio. O primeiro órgão a autorizar esse uso foi o CDC, em 12 de maio de 2021. Dias depois, a União Europeia também autorizou o uso do imunizante nesta faixa etária.
Israel também autorizou a vacinação de adolescentes em maio com as doses da Pfizer e, no Reino Unido, foi no começo de junho.
No Brasil
Por aqui, a Anvisa autorizou o uso em adolescentes, a partir de 12 anos, em 11 de junho. Como a própria agência sinaliza, este é o único imunizante aprovado para uso em menores de idade no país.
Por decisão do Ministério da Saúde, a vacinação dos adolescentes, entre 12 e 17 anos, deve ocorrer nos estados após o término da aplicação da primeira dose, por faixa etária, nos adultos.
Como o ritmo de vacinação não é o mesmo em todos os estados, o Comprova buscou informações sobre os 26 estados e o Distrito Federal e constatou que ao menos as seguintes localidades já começaram a imunização de adolescentes (até 20 de agosto): Acre; Amapá; Amazonas; Distrito Federal (no caso dos adolescentes com deficiência ou síndromes, e antes do término da vacinação dos adultos); Maranhão; Mato Grosso do Sul; Pernambuco; Rio Grande do Sul; Rondônia; Roraima e São Paulo.
Em Minas Gerais, a cidade de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, e, no Pará, Ananindeua, na região metropolitana de Belém, também já começaram a vacinação de menores de idade.
O Site
Esta não é a primeira postagem do site Coletividade Evolutiva que contém informações falsas sobre a vacinação. Há, na página, uma editoria de “manipulação”, com textos sobre o suposto caráter experimental das vacinas contra a covid e sobre o efeito “magnético” do imunizante. O Comprova já considerou falsa uma postagem do site sobre os efeitos colaterais da CoronaVac.
O site austríaco Report24, que teve a postagem traduzida, também já publicou outros conteúdos conspiratórios e contrários à vacinação.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições que viralizam nas redes. O texto verificado aqui entrou na lista de monitoramento do Comprova via pedidos de leitores pelo WhatsApp (se tiver dúvida sobre algum conteúdo, você pode enviá-lo para o telefone 11 97045-4984 ou clicando neste link).
Conteúdos que tentam desacreditar as vacinas são perigosos porque podem levar a população a colocar a saúde em risco.
O Comprova já esclareceu diversos conteúdos sobre imunização, como, por exemplo, que é falso que internação de Silvio Santos por covid indique ineficácia da Coronavac, que é enganoso post que afirma que o CDC e Anthony Fauci não acreditam na vacina, que o diagnóstico positivo de Doria não indica ineficácia da Coronavac e que é falso que imunizantes usados no Brasil não passaram por testes de segurança e eficácia.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.