Registro de número de mortes não diminuiu no Amazonas após visita do ministro da Saúde
- Falso
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- Ao contrário do que afirma uma publicação no Twitter, não é verdade que o número de mortes causadas pelo novo coronavírus tenha reduzido no Amazonas depois da visita de Nelson Teich. O estado também registrou recorde de óbitos pela covid-19 em um único dia quando o ministro deixou a capital
Não é verdade que o número de mortes causadas pelo novo coronavírus tenha reduzido no Amazonas depois da visita do ministro da Saúde, Nelson Teich, ao estado.
Uma publicação compartilhada nas redes sociais diz que, antes da visita do ministro, o governo registrava 140 óbitos diários, mas, com a chegada de Teich, o número caiu para 46, sendo apenas dois por covid-19. O conteúdo dessa mensagem é falso.
Ao contrário do que afirma a publicação, o Amazonas registrou recorde de óbitos em um único dia na última terça-feira (05), quando o ministro deixou a capital, Manaus.
Por que investigamos isso?
O Comprova monitora conteúdos duvidosos sobre o novo coronavírus e sobre a covid-19 compartilhados nas redes sociais e aplicativos de mensagens. A decisão pela checagem considerou três aspectos:
- Muitos boatos têm sido compartilhados nas redes sociais com conteúdos enganosos que negam os números da pandemia, minimizam os efeitos da covid-19 ou que questionam as decisões de governadores que adotam medidas de isolamento social.
- Nesta semana, o Brasil teve recorde de mortes pela por covid-19 em um único dia – foram 615, entre terça e quarta-feira. No Amazonas, o número de óbitos causados pela covid-19 também aumentou, e o Estado enfrenta um colapso do sistema de saúde e do sistema funerário. Medidas restritivas têm sido adotadas para diminuir a velocidade de contágio e, assim, reduzir a pressão sobre esses sistemas.
- O Comprova verifica a veracidade de conteúdos suspeitos que tenham grande viralização. O texto verificado foi curtido e retweetado milhares de vezes pelo Twitter e apareceu no monitoramento do Comprova em publicações no Facebook e no WhatsApp.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Como verificamos?
O Comprova acessou dados do Ministério da Saúde sobre o número de casos de infecção pelo novo coronavírus no Amazonas. Também utilizamos dados relacionados ao repasse de verbas do ministério para o estado e entramos em contato com as assessorias de imprensa das secretarias de saúde do governo do Amazonas e da cidade de Manaus.
O Comprova ainda consultou matérias publicadas na imprensa sobre a situação da pandemia no Amazonas e tentou fazer contato com o responsável pela publicação, no Twitter.
Você pode refazer o caminho da verificação acessando os links que oferecemos nesta reportagem.
Recorde de mortes no Amazonas
Uma das primeiras publicações foi feita pelo perfil @GrimoaldoL, no Twitter, na tarde de terça-feira (05). A mensagem havia sido compartilhada por 1,6 mil pessoas e curtida por 4,2 mil até o dia 7 de maio, quando esta verificação foi concluída.
Na publicação, o autor afirma que no dia 4 de maio, quando o ministro da Saúde realizava visitas a hospitais de Manaus, 46 pessoas haviam morrido em todo Estado, sendo apenas duas delas por covid-19. Diz, ainda, , que no dia 5 de maio, quando a mensagem foi compartilhada, haviam sido registradas 39 mortes. A afirmação é falsa.
De acordo com dados divulgados pelo governo do Amazonas, no dia 4 de maio foram registradas 36 novas mortes só por covid-19 no Amazonas, sendo 22 delas em Manaus. Já no dia 5 de maio, o Estado bateu recorde diário no número de mortes registradas por coronavírus, com 65 óbitos — 41 na capital.
Outro trecho da mensagem que circula pelo Twitter afirma que, antes da visita do ministro, o governo de Manaus dizia que morriam 140 pessoas por dia no estado. A prefeitura da capital negou a informação. Por e-mail, o município disse que “o recorde de óbitos no sistema público funerário ocorreu no dia 26 de abril, quando 120 sepultamentos e duas cremações foram realizadas”. Além disso, “a média de sepultamentos e cremações no sistema público funerário nos cinco primeiros dias de maio segue muito acima da média diária de todo o ano de 2019, que foi de 28,3 sepultamentos”, informou a prefeitura.
O Comprova entrou em contato com o autor da publicação no Twitter, para saber a fonte das informações que divulgou. Ele respondeu que havia lido uma notícia sobre o assunto e que encaminharia o link da reportagem. Contudo, isso não foi feito até o momento da publicação desta checagem.
Uma outra versão do texto falso, que também circulou pela internet, dizia que houve redução de 1000% no número de mortes no Estado em dois dias, o que, além de não fazer sentido, matematicamente, não se confirma em nenhum aspecto. O Amazonas registrou um aumento de 38% no número de mortes entre o domingo (3) e terça-feira (5), período da visita do ministro ao estado.
Manaus é uma das cidades mais atingidas pela covid-19 no país, registrando um aumento de 60% no número de casos confirmados da doença na última semana. A taxa de mortalidade do coronavírus no Estado é a mais alta do país e já fez com que a Prefeitura de Manaus abrisse uma vala em um cemitério público da cidade para conseguir realizar todos os sepultamentos. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde no dia 7 de maio mostram que o Amazonas registra 9.243 casos da covid-19 e 751 mortes.
A visita do ministro
O Amazonas é o primeiro Estado visitado pelo ministro da Saúde, Nelson Teich, durante a pandemia. Na visita, que durou dois dias, Teich conheceu hospitais em Manaus e anunciou a chegada de 267 profissionais de saúde para reforçar o enfrentamento ao coronavírus no estado. Ao todo, são 37 médicos, 118 enfermeiros, 57 técnicos em enfermagem, 26 fisioterapeutas, 12 farmacêuticos e 17 biomédicos, que vão atuar em todo o Amazonas.
Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde destinou R$ 68,8 milhões ao Estado para o fortalecimento da rede hospitalar e de vigilância, além do envio de 1,5 milhão de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e de 90 respiradores.
Contexto
Os dados sobre a dimensão da pandemia do novo coronavírus no Brasil vem sendo constantemente questionados por grupos contrários às medidas de isolamento social e podem ser prejudiciais no combate à doença no país.
O texto verificado sugere, de forma equivocada, que, com a presença do ministro da Saúde, dados que estariam inflados passaram a ser registrados da forma correta.
Alcance
A mensagem havia sido compartilhada por 1,6 mil pessoas e curtida por 4,2 mil, no Twitter, até o dia 7 de maio, quando esta verificação foi concluída.
O conteúdo desta verificação também foi checado por Aos Fatos.