Política

Investigado por: 07/11/2025

G1 não publicou matéria afirmando que o governo indenizará famílias de vítimas da megaoperação no Rio

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O texto falso tem erros de gramática e imita design do portal de notícias para enganar os leitores.

Diferentemente do que alega uma imagem que circula nas redes sociais, o portal g1 não publicou uma reportagem dizendo que o governo Lula (PT) garantiu indenização às famílias dos mortos na megaoperação da capital fluminense para “compensar o dano causado pela polícia”.

Após a repercussão da imagem, o g1 publicou uma checagem destacando que “jamais publicou uma reportagem com esse título e conteúdo”. “Comuns em mensagens falsas, erros de padrão denunciam que se trata de uma fraude”, destacou no texto.

O texto falso tem erros de gramática, mas usa design e letras semelhantes aos do veículo, induzindo leitores a acreditarem que se trata de uma reportagem.

É provável que essa peça de desinformação tenha sido inspirada por uma nota publicada em uma coluna do portal Metrópoles., Em 4 de novembro, o portal publicou texto sob o título “Governo Lula discute assistência a familiares de mortos no RJ”. O texto, assinado pelo colunista Paulo Cappelli, afirmava, com base em fontes que preferiram não se identificar do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), que o governo analisava se prestará auxílio às famílias dos 117 suspeitos mortos na megaoperação policial realizada pela administração de Cláudio Castro (PL) no Rio de Janeiro.

O conteúdo também mencionava que a ministra Macaé Evaristo defendia prestar apoio formal da União às famílias, mas que o Palácio do Planalto via a medida “com cautela”, por temer associação com o tráfico e o crime organizado. Logo em seguida, o texto registra uma resposta da própria pasta, negando ter cogitado prestar qualquer tipo de assistência financeira.

“O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania esclarece que não procede a informação. A visita da ministra Macaé Evaristo ao estado teve como principal objetivo a articulação para retomada imediata dos serviços públicos de educação, saúde e assistência social nas áreas impactadas. Informamos ainda que o MDHC abriu um canal específico no Disque 100 para receber relatos das comunidades impactadas pelas operações”, disse a pasta na nota, reproduzida pelo próprio Metrópoles.

Após a repercussão da notícia, internautas e parlamentares de direita atacaram o governo por causa da informação apurada pela coluna do Capelli. O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) e o deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil-SP) publicaram vídeos em suas redes sociais criticando a suposta medida, negada pelo MDHC.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O fato de a captura de tela emular as fontes e o design do portal g1 pode ter sido um fator para o conteúdo circular.

Além disso, muitos leitores não estão familiarizados com certas dinâmicas envolvendo o jornalismo e a política. Nas redações jornalísticas, “off” é o termo usado para designar informações fornecidas por fontes que pedem para não ser identificadas. Esse tipo de dado pode ser útil para revelar bastidores e geralmente é confirmado com outras fontes. Deve, além disso, ser apresentado com transparência ao leitor. Não é incomum que, nesses casos, autoridades desistam de determinadas ideias ou políticas públicas após a repercussão.

No caso do texto do Metrópoles, a matéria baseava-se em relatos de servidores ligados ao Ministério dos Direitos Humanos, sem identificação nominal. O posterior desmentido da pasta mostra como esse tipo de informação pode ser interpretado de maneira incorreta quando retirada do contexto original.

No comunicado em que negou a suposta assistência financeira, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania também detalhou os motivos para ter enviado uma equipe aos complexos do Alemão e Penha dias após a megaoperação.

Segundo o MDHC, a visita ao local da ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, teve como principal objetivo o acolhimento às comunidades afetadas e a discussão sobre a retomada imediata dos serviços públicos de educação, saúde e assistência social nas áreas impactadas.

De acordo com a nota, as principais ações realizadas pela MDHC foram a articulação com órgãos públicos para garantia do funcionamento de escolas, hospitais e equipamentos essenciais, e o mapeamento das necessidades locais e coordenação de apoio técnico e institucional, com base em protocolos humanitários internacionais.

Fontes consultadas: g1, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Metrópoles

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já desmentiu montagens que simulavam o site do g1, sobre desarmamento e as eleições de 2022. Além disso, também foram feitas verificações sobre a megaoperação, concluindo que o pedido de apoio feito pelo governo do Rio foi anterior à ação e se dirigiu à Defesa, não à Justiça, e que a polícia apreendeu fuzis de diversos países nos complexos da Penha e Alemão, mas nenhum de Cuba.

Notas da comunidade: Uma resposta do Grok, serviço de inteligência artificial do X, a um usuário que perguntou sobre a veracidade da imagem afirmou que a captura de tela é verdadeira. No entanto, o Grok aparentemente se referia a uma declaração de Lula citada em um post anterior. Em sua fala, Lula classificou a megaoperação como “desastrosa” e chamou a ação de “matança”. O Grok não respondeu diretamente à questão do usuário sobre uma suposta indenização do governo.