Política

Investigado por: 2025-03-07

Volta a circular mentira sobre Miriam Leitão ter sido presa por assaltos a bancos e anistiada

  • Falso
Falso
É falso que a jornalista Miriam Leitão tenha sido acusada de realizar assaltos em agências bancárias com uma arma de calibre 38 durante o regime militar. A jornalista foi presa em 1972, por integrar o PCdoB, mas foi absolvida. Também não é verdadeiro que ela tenha sido beneficiada pela Lei da Anistia.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que Miriam Leitão foi acusada de assaltos em agências bancárias com arma de fogo durante a ditadura militar. O post chama a jornalista de “Amélia” e afirma que ela teria sido anistiada.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Voltou a circular nas redes sociais um boato antigo alegando que Miriam Leitão teria sido acusada de realizar assaltos com arma de calibre 38 em agências bancárias. Porém, não há registros de denúncias do crime contra a jornalista. Ela foi presa durante a ditadura militar, em 1972, quando tinha 19 anos, por razões políticas.

Segundo o registro do Ministério Público Militar, disponibilizado pelo Ministério Público Federal no projeto “Brasil: Nunca Mais”, a acusação contra Miriam foi por “agrupamento prejudicial à segurança nacional e propaganda subversiva”. A jornalista era militante do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, que atuava de maneira clandestina no país na época. Ela foi julgada e absolvida pelas denúncias em agosto de 1974.

Diferentemente do que diz a publicação analisada, a absolvição aconteceu cinco anos antes da promulgação da Lei da Anistia, sancionada em 1979, que concedeu perdão aos acusados de crimes políticos na ditadura. O nome de Miriam Leitão não consta na lista de anistiados, disponibilizada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, ou no Sistema de Informações da Comissão de Anistia, uma base pública dos processos.

O boato é compartilhado há anos nas redes sociais e tem origem em uma alegação falsa de que a jornalista teria assaltado o banco Banespa, na cidade de São Paulo, em 1968. Porém, Miriam tinha 15 anos na época e morava em Caratinga, interior de Minas Gerais, cidade-natal dela.

Em entrevista ao jornal O Globo em 2014, Miriam contou que foi presa por militares em Vitória, no Espírito Santo, a caminho da praia. Ela relatou que foi torturada grávida, espancada, ameaçada de estupro e deixada sozinha, nua, em uma sala com uma jiboia. A foto usada na publicação falsa foi publicada no livro “Em nome dos Pais”, de Matheus Leitão, filho da jornalista, sobre a história da mãe na prisão. O codinome “Amélia” era usado por Miriam na militância pelo PCdoB.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicou, em 2018, uma nota de repúdio às mentiras publicadas contra a jornalista.

O Comprova tentou entrar em contato com a autora da publicação, mas o perfil não permite o envio de mensagens.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 7 de março, a publicação alcançou 189 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Consulta na página de processos do projeto “Brasil: Nunca Mais”, nos dados de anistiados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e no Sistema de Informações da Comissão de Anistia. Pesquisa por entrevistas com Miriam Leitão e nota da Abraji.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas de checagem como Estadão Verifica, Agência Lupa, Aos Fatos e Fato ou Fake publicaram que não é verdadeiro que Miriam Leitão tenha sido presa por assaltos ou anistiada.

Notas da comunidade: Até a publicação desta verificação, não havia notas da comunidade publicadas junto ao post no X.