Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-15

Vídeo engana ao dizer que Anvisa impede transporte de medicamentos no RS

  • Enganoso
Enganoso
Live realizada no Instagram por médico engana ao afirmar que o transporte de medicamentos feito por aviões particulares ao Rio Grande do Sul está sendo impedido devido à burocracia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que pessoas morreram por conta disso. Ao Comprova, a assessoria do médico confirmou que os medicamentos chegaram ao destino final, e disse que a frase sobre mortes de pessoas foi dita “no calor do momento”. A Anvisa emitiu comunicado no qual diz que a afirmação é falsa e publicou duas portarias que facilitam o acesso de produtos e flexibilizam receituário para remédios no estado.

Conteúdo investigado: Live no Instagram do médico Victor Sorrentino, na qual ele alega que medicamentos levados em aviões particulares ao Rio Grande do Sul estão tendo o transporte impedido no estado devido à burocracia da Anvisa.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: São enganosas as afirmações feitas em uma live do médico Victor Sorrentino de que medicamentos transportados em aviões particulares não estão chegando às vítimas da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul devido à burocracia por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo ele, isso estaria “matando pessoas”. Em contato com o Comprova, a equipe do médico negou que ele tenha conhecimento de mortes causadas por este motivo e confirmou que os medicamentos em questão foram enviados. 

Na live, Sorrentino cita a existência de “medicações paradas nos aeroportos” e afirma que aviões carregados de medicamentos não estavam conseguindo voar em três aeroportos por conta das regras da agência. O médico não mostra, no entanto, quais seriam os aviões barrados, nem em quais locais teriam ocorrido as retenções.“Entendemos a necessidade dessa regulação, mas não no estado em que estamos, porque senão nenhuma aeronave particular vai conseguir transportar esses medicamentos”, disse ele na live.

Na noite de quarta-feira 8, a Anvisa afirmou que as alegações eram falsas e garantiu ainda que “não efetuou qualquer restrição ao transporte de medicamentos destinados ao Rio Grande do Sul”.

No mesmo dia, a agência publicou duas Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC) para o enfrentamento às enchentes no estado. A RDC nº 863 suspende por 90 dias os prazos processuais para pedidos de liberação de responsabilidade da Anvisa e prioriza petições que pedem o acesso a produtos estratégicos para o enfrentamento da situação de calamidade pública na região. A RDC nº 864 flexibiliza o receituário para medicamentos de uso controlado para os municípios localizados no estado.

A agência diz que essas medidas vão permitir o acesso a produtos prioritários e necessários para a manutenção e proteção da saúde da população com mais agilidade. Afirma ainda que o objetivo é facilitar o acesso aos medicamentos controlados e evitar a interrupção de tratamentos, diante da dificuldade de emissão de receitas especiais.

“Acredita-se que os agentes estavam cumprindo protocolo como se fosse um dia normal, o que [Sorrentino] entende e concorda”, escreveu a equipe do médico. Ainda segundo a assessoria, as “medicações foram enviadas”.

Perguntado sobre a afirmação de que pessoas estariam morrendo por falta de medicamentos, a equipe argumentou que o vídeo foi feito “em uma situação de apelo e de desespero”, e pediu que não fosse levado “tão ao pé da letra tudo o que foi dito no calor do momento”.

Na segunda-feira 13, o Ministério da Saúde publicou atualização sobre o estoque de medicamentos nos hospitais do Rio Grande do Sul. Segundo o comunicado do secretário de Atenção Primária à Saúde, Felipe Proenço, a pasta tem garantido o envio regular de medicamentos e vacinas para o Rio Grande do Sul.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de maio, a live contabilizava mais de 13,3 milhões de visualizações.

Fontes que consultamos: Procuramos por publicações sobre possíveis retenções de medicamentos no Rio Grande do Sul e por declarações da Anvisa sobre o tema.

Médico teve registro suspenso por divulgar assunto médico com sensacionalismo

Em março de 2024, Victor Sorrentino teve o registro profissional suspenso temporariamente por violação de quatro artigos do Código de Ética Médica, após decisão do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). Entre os artigos violados, está a divulgação de assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico.

Com a determinação, o médico ficou por 30 dias impedido de exercer a medicina, até 23 de abril. O motivo do processo é mantido sob sigilo e foi originado no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul em 2019.

O médico tem mais de 1,3 milhões de seguidores no Instagram e, além da atuação na área da saúde, se apresenta como escritor, professor e palestrante.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão também verificou que a Anvisa não impediu a entrega de medicamentos enviados por médicos ao Rio Grande do Sul. Outras peças de desinformação sobre a enchente no estado também foram checadas pelo Comprova, que já mostrou ser enganosa a alegação de que o Haarp, sistema de ondas eletromagnéticas, seria o causador da chuva intensa na região, e já explicou que caminhões com doações aos gaúchos não são retidos por falta de nota fiscal.