Política

Investigado por: 21/08/2025

Vídeo de idoso com tornozeleira não tem relação confirmada com atos de 8 de janeiro

Política
Apesar de alegações em redes sociais, defesa nega que homem que aparece em vídeo seja Miguel Cândido da Silva, que cumpre prisão domiciliar.

Vídeo que circula nas redes sociais de um homem idoso com tornozeleira eletrônica que afirma não saber por que está com o dispositivo e o confunde com um relógio não retrata Miguel Cândido da Silva, um dos condenados pelos atos de 8 de janeiro, ao contrário do que sugerem algumas das postagens. O advogado Samuel Castro, que representa Miguel Cândido, negou ao Comprova se tratar de seu cliente nas imagens.

A gravação tem sido republicada por diversas páginas nos últimos meses. Em uma busca reversa com prints do vídeo, no entanto, o Comprova identificou que o vídeo foi compartilhado pela primeira vez em 23 de abril. A maior parte das publicações não identifica o homem do vídeo, menciona apenas que seria um “vendedor de água de 73 anos”.

Duas postagens dos dias 10 e 12 de agosto de usuários no Facebook, no entanto, afirmam nas legendas se tratar de Miguel Cândido da Silva, que foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão em março de 2024 por acusações de tentativa de golpe de Estado, dano ao patrimônio público, associação criminosa e outros crimes associados ao 8 de janeiro, mas está agora em prisão domiciliar.

O Comprova também pediu à defesa de Miguel Cândido se poderia enviar uma foto dele, mas Castro informou que a família não se sentiu à vontade para o envio. Também foi procurado o advogado Ezequiel Silveira, que representa a Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav). Ele disse que a Asfav tentou por várias vezes identificar quem é o homem do vídeo, mas não conseguiu relacioná-lo ao 8 de janeiro.

Em depoimento à Justiça, Miguel Cândido afirmou que estava em casa, em Brasília (DF), no momento das invasões e que ouviu a notícia no rádio. Ainda segundo ele, “como às vezes trabalha como vendedor ambulante, resolveu ir para vender água e refrigerante”, mas que “como chegou tarde, desistiu de levar coisas para vender”. Ainda assim, foi até o interior dos prédios “por curiosidade”. Miguel afirmou ter entrado no Palácio do Planalto “porque estava tudo aberto” e “achou que podia entrar”.

O Comprova consultou o STF, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) sobre o vídeo, mas os três órgãos informaram que não poderiam buscar detalhes sobre tal processo sem a confirmação do nome da pessoa que aparece nas imagens.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

Tentamos contato com vários perfis que compartilharam o vídeo do homem. Usando ferramentas de inteligência artificial e a própria busca manual no Google e em redes sociais, o registro mais antigo de compartilhamento do vídeo apresentando o homem como condenado pelo 8 de janeiro foi feito pelo portal AuriVerde, em abril deste ano.

O portal em questão tem grande alcance, com 2,37 milhões de inscritos no Youtube; 153 mil seguidores no Instagram; além dos ouvintes da rádio de mesmo nome, que está sediada em Bauru (SP). O Comprova pediu a um membro da equipe da rádio o contato de quem teria enviado o vídeo, mas ele não o encontrou.

O vídeo investigado pelo Comprova tem circulado em publicações no Facebook, Instagram, TikTok e X, com disseminação tão amplamente difundida que é difícil estimar quantas pessoas já o visualizaram. Em apenas um dos perfis no X, o vídeo foi visto por 638 mil usuários; em outro, no Instagram, mais de 483 mil usuários curtiram o vídeo.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O vídeo faz um apelo emocional, mostrando um homem que aparentemente não tem consciência do motivo pelo qual está usando uma tornozeleira eletrônica. Ele chega a chamar o objeto de “relógio”. As publicações deste vídeo estão recheadas de comentários de pessoas compadecidas com a situação dele.

Além disso, o vídeo tem sido publicado por páginas que se dizem jornalísticas, apesar de não apresentarem pontos fundamentais em uma notícia, como a identificação de quem aparece no vídeo.

Fontes que consultamos: Samuel Castro, advogado de Miguel Cândido, citado em uma das postagens como sendo o homem que aparece no vídeo; Ezequiel Silveira, advogado da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav); portal AuriVerde; Defensoria Pública da União (DPU); Supremo Tribunal Federal (STF); e Ministério Público Federal (MPF). ChatGPT para fazer a busca reversa e tentar chegar à identidade do homem que aparece no vídeo.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova fez várias verificações sobre participantes nos atos de 8 de janeiro. Em uma delas, mostrou que a cabeleireira que pichou a estátua da Justiça foi acusada de cinco crimes, não só de vandalismo. Em outra, provou que era antigo um vídeo de Gilmar Mendes usado para negar a tentativa de golpe e também mostrou que o FBI não estava no Brasil para investigar atos de 8 de janeiro, diferentemente do que afirmava um vídeo viral.

Notas da comunidade: Não há notas da comunidade nas postagens do vídeo encontradas pelo Comprova no X.