Política

Investigado por: 26/09/2025

Post inventa declaração de Haddad culpando exclusivamente a gestão anterior por problemas econômicos

Contextualizando
Publicação usa fala verdadeira do ministro da Fazenda sobre reeleger Lula, mas inventa outras partes.

Conteúdo analisado: Posts afirmam que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria dito em evento de banco privado: “Tudo de ruim nesses últimos três anos de governo é culpa do governo anterior. Descumpri tudo o que prometi, mas as críticas são muito injustas. Se a gente reeleger o Lula ano que vem, vai ficar tudo mais facil”.

Onde foi publicado: X e Instagram.

Contextualizando: Posts misturam uma frase real do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), com afirmações que ele não fez durante um evento organizado por um banco privado. Haddad não disse que “tudo de ruim nesses últimos três anos de governo é culpa do governo anterior”. Tampouco fez a seguinte declaração: “Descumpri tudo que prometi, mas as críticas são muito injustas”.

Haddad participou, em 22 de setembro, em São Paulo, do Macro Day, evento realizado pelo banco BTG. Durante cerca de uma hora em que esteve no encontro, o ministro de fato afirmou que determinados problemas atuais da economia brasileira são resultado de ações do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas não atribuiu toda a origem dos entraves à gestão anterior.

“Você não consegue escapar de despesa contratada até 2022”, disse ele, referindo-se a mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) feitas no governo anterior. Haddad afirmou que só esses gastos somam mais de R$ 70 bilhões.

Em 2021, o Congresso aprovou, e Bolsonaro sancionou, uma alteração na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) que ampliou o acesso ao BPC. O programa garante um salário mínimo mensal a idosos com 65 anos ou mais e a pessoas com deficiência de qualquer idade que tenham impedimentos para participar plenamente da sociedade.

Sobre o Fundeb, fundo contábil que financia a educação básica pública, o Congresso aprovou, e Bolsonaro sancionou, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que aumentou o valor pago pela União de 10% para 23%.

Mas Haddad citou também a “tese do século”, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2021, retirar o ICMS da base de cálculo de PIS/Cofins desde março de 2017, sob o argumento de que não se pode cobrar tributos sobre outro imposto.

“Eu estimo que 10% do PIB da nossa dívida pública seja uma consequência dessa decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal”, disse Haddad no evento. Neste momento, diferentemente do que sugere o post verificado aqui, Haddad não estava responsabilizando o governo Bolsonaro.

Em nenhum momento o ministro disse, ou sequer sugeriu, que “descumpriu tudo que prometeu”. Haddad comentou que “se a gente resolver tapar o sol com a peneira, nós vamos ficar com o dedo (apontando para) ‘o governo tal’, ‘o governo tal’, ‘governo tal’, quem é o culpado, e nós não vamos resolver o problema”.

A postagem analisada pelo Comprova mistura a frase falsa com uma declaração que Haddad realmente fez. Questionado por Mansueto Almeida, sócio e economista-chefe do BTG, se “independentemente da eleição é para a gente ficar otimista com o Brasil”, o ministro respondeu: “Se a gente reeleger o Lula ano que vem, vai ficar tudo mais fácil”.

Ao Comprova, o Ministério da Fazenda afirmou que os posts são falsos. “Ao longo de uma hora de evento, o ministro fez diversas comparações e referências ao governo anterior, como por exemplo quando citou despesas executadas na atual gestão, mas que foram contratadas no governo anterior, mas em nenhum momento afirmou a frase”, comunicou.

O Comprova tentou contatar o autor de um dos posts que viralizou, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Fontes consultadas: O vídeo com a íntegra da participação de Haddad no evento, reportagens sobre o tema, site do Ministério da Fazenda e contato com o órgão.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Haddad e a economia brasileira são assuntos frequentes de conteúdos de desinformação com frequência. Recentemente, o Comprova publicou na seção Comprova Explica que adultos que moram com os pais não serão notificados pela Receita Federal e que norma que obriga fintechs a informar Receita sobre operações acima de R$ 2 mil já existe para bancos e não tributa Pix.