Saúde

Investigado por: 2021-01-11

Estudo sobre plasma equino está em fase inicial e não prova que é a cura para covid-19

  • Enganoso
Enganoso
O Instituto Vital Brazil de fato iniciou estudo em maio de 2020 para produzir anticorpos contra a covid-19 a partir de soro obtido de experimento em cavalos. Embora os resultados dos testes in vitro tenham sido promissores, o tratamento não pode ser considerado como a cura para a covid-19 pois os testes em humanos ainda não foram realizados.
  • Conteúdo verificado: Tuíte que afirma que o Instituto Vital Brasil achou a cura da Covid com um tratamento que usa plasma equino para produzir anticorpos mais potentes do que o humano.

É enganosa a mensagem que circula pelo Whatsapp e pelo Twitter afirmando que o Instituto Vital Brazil teria encontrado a “cura” para a covid-19. No Twitter, o texto é acompanhado por um trecho de reportagem da GloboNews, e cita produção de anticorpos “100 vezes mais potentes do que o humano”. A publicação também questiona o que será feito com as vacinas, como se as mesmas não tivessem mais utilidade.

O Instituto Vital Brazil, localizado no Rio de Janeiro, de fato iniciou estudo em maio de 2020 para produzir anticorpos contra a covid-19 a partir de soro obtido de experimento em cavalos. Os resultados dos testes in vitro apontam que os animais inoculados apresentaram de 20 a 100 vezes mais anticorpos neutralizantes contra o novo coronavírus do que os plasmas de pessoas que tiveram o vírus.

Mas ainda não há qualquer dado sobre a eficácia no tratamento em humanos, já que os ensaios clínicos, aqueles realizados em pessoas, ainda não foram iniciados. Para que isso aconteça, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão trabalhando para aprovar os protocolos que vão embasar os testes clínicos em 41 voluntários já selecionados pelo instituto.

Como verificamos?

Inicialmente, fizemos contato com o Instituto Vital Brazil, para saber mais sobre a pesquisa que é desenvolvida pelo laboratório. Em nota, a assessoria esclareceu sobre a soroterapia, o procedimento para realizar os testes em humanos e a sua eficácia.

Realizamos pesquisas sobre o instituto para saber mais sobre sua história, o trabalho do laboratório e as pesquisas já desenvolvidas por ele.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 11 de janeiro de de 2021.

Verificação

Resultado dos estudos

O tratamento desenvolvido pelo Vital Brazil replicou a técnica dos estudos sobre “plasma convalescente”. Os pesquisadores inocularam cinco cavalos com a proteína S, recombinante do coronavírus, produzida no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, a Coppe da UFRJ.

Na biologia, uma proteína recombinante é obtida a partir de um código genético, nesse caso, o do SARS-CoV-2. Elas são extraídas e modificadas em laboratório, para que sejam utilizadas com a finalidade de capturar anticorpos do organismo em que serão injetadas.

O estudo revelou que os plasmas de quatro dos cinco animais apresentaram de 20 a 100 vezes mais anticorpos neutralizantes contra o novo vírus do que os plasmas de pessoas que contraíram a covid-19.

Apesar do sucesso do estudo in-vitro, realizado apenas no ambiente controlado do laboratório, não há certeza sobre a eficácia da soroterapia contra a doença. Os ensaios clínicos que testam o tratamento em voluntários humanos ainda não foram iniciados.

O plasma equino com os anticorpos não é injetado diretamente no corpo humano. Ele passa por diversos processos de purificação, filtragem e diluição até virar o soro. Somente depois desse processo é que o soro pode ser aplicado em pacientes, sendo feita a injeção intravenosa em ambiente hospitalar.

Segundo o instituto, o estudo se encontra em fase de delineamento dos protocolos clínicos, que consiste na uniformização do tratamento, na criação de um documento cujo objetivo é orientar decisões e critérios relacionados ao diagnóstico, gerenciamento e tratamento em áreas específicas da saúde. Esse documento está sendo criado junto à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a etapa de testes em 41 voluntários.

Tratamento não pode ser considerado “cura”

Ao contrário do que afirma a publicação, o tratamento não pode ser considerado como a cura para a covid-19. A eficácia do tratamento em humanos não foi comprovada, pois os testes ainda não foram realizados.

Além disso, há diferença entre o tratamento com soro e a vacina. A soroterapia tenta neutralizar o agente causador da a covid-19, o vírus Sars-CoV-2, sendo eficaz somente nos pacientes que estão passando pela infecção. Em contrapartida, a vacina é uma medida que previne que as pessoas sejam contaminadas pelo coronavírus.

O que é o Instituto Vital Brazil?

É um laboratório que atende o setor público, com a produção de soros, vacinas e medicamentos de uso humano. O instituto realiza estudos e pesquisas no campo farmacêutico, biológico, econômico e social. O Instituto Vital Brazil é um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros, um dos quatro fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos e produtor de medicamentos estratégicos para o Ministério da Saúde. Desde sua criação fabricava produtos veterinários, biológicos – como soros e vacinas – e farmacêuticos. Também baseou as atividades em pesquisa e formação.

Foi fundado em 3 de junho de 1919 em Niterói, no Rio de Janeiro, pelo cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha, que integrou a primeira diretoria do Instituto Butantan, em São Paulo. Na década de 30, tornou-se uma propriedade privada, mas manteve o vínculo com o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1957, a empresa voltou a ser majoritariamente do Governo do Estado. O processo de venda de parte da instituição só ocorreu após ser firmado um compromisso de que o Instituto manteria, por toda a sua existência, o modelo idealizado pelo fundador.

Por que investigamos?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus.

A postagem feita no Twitter possui mais de 7 mil interações. O conteúdo engana e traz falsas esperanças em relação à cura da covid-19. Ao questionar as vacinas em estudo, o post também invalida a importância e utilidade dos imunizantes desenvolvidos para proteção contra a contaminação pelo vírus.

Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.