Em Londres, mesária foi afastada após responder pergunta de eleitor sobre número de candidato; não houve confusão
- Enganoso
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- É enganoso post segundo o qual houve quebra de urna após uma mesária que trabalhou na eleição brasileira em Londres, na Inglaterra, ter tentado “incitar fraude falando que as pessoas eram obrigadas a votar no Bolsonaro”. De acordo com o Itamaraty, a mesária foi desligada por ter respondido a um eleitor o número de urna de um dos candidatos – e não obrigado as pessoas a votar em Jair Bolsonaro (PL), como afirma a publicação. Além disso, ainda segundo o Itamaraty, a eleição ocorreu dentro de "absoluta normalidade". Uma delegada fiscal do PT também confirmou ao Comprova que não houve nenhum episódio de violência.
Conteúdo investigado: Tuíte diz que mesária bolsonarista tentou fraudar a eleição presidencial durante votação em Londres ao informar que os eleitores eram obrigados a votar no presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). A postagem também alega que uma urna foi quebrada durante a confusão.
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: É enganoso tuíte que afirma que mesária, “desesperada com alta adesão a Lula em Londres”, teria dito para eleitores que eles eram obrigados a votar em Jair Bolsonaro (PL) e que o tumulto teria resultado em uma urna quebrada.
Consultado pelo Comprova, o Itamaraty afirmou que “a mesária brasileira que trabalhava no West London College respondeu pergunta de eleitor sobre número de candidato, quando deveria tê-lo conduzido à lista afixada na entrada das seções” e, “como tal conduta pode ser interpretada por outros eleitores e fiscais como tentativa de induzir voto, ela foi desligada dos trabalhos”.
Segundo Elda Cardoso, que atuava como delegada fiscal do PT na zona eleitoral, a mesária teria respondido “22” a uma pergunta feita por um eleitor, referindo-se ao número do candidato Bolsonaro. Então, uma eleitora petista que estava na fila da seção naquele momento fez a denúncia aos fiscais.
Diferentemente do que afirma o tuíte, não houve quebra de urna. “De modo geral, a votação em Londres transcorreu bem, com absoluta normalidade, não tendo sido relatados grandes contratempos”, afirmou o Itamaraty.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: A informação foi postada às 11h01, horário de Brasília, de 2 de outubro, dia da eleição. Até 5 de outubro, a publicação obteve 53 mil curtidas, 326 comentários e 4,8 mil retuítes.
O que diz o autor da publicação: O tuíte foi postado por @ThiagoResiste, apoiador de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A reportagem tentou contato com ele por mensagem direta no Instagram, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.
Como verificamos: Para verificar se a declaração do autor da postagem era verdadeira, o Comprova entrou em contato com o Itamaraty, a delegada do Partido dos Trabalhadores nas eleições em Londres, Elda Cardoso, e a assessoria de imprensa do PT.
Também pesquisamos na imprensa profissional reportagens sobre a votação em Londres e verificamos no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dados sobre o eleitorado na cidade.
Votação em Londres
Os eleitores brasileiros que votam em Londres tiveram de comparecer ao West London College, edifício de uma faculdade britânica, para registrar o voto no primeiro turno da eleição deste ano. A votação ocorreu entre 8h e 17h, no horário local. Dados do TSE mostram que a cidade tem 34 mil eleitores brasileiros aptos a votar.
O tuíte enganoso aqui verificado relata uma grande confusão envolvendo uma mesária bolsonarista que estaria revoltada com a alta adesão de apoiadores de Lula na cidade e teria incitado fraude ao dizer a eleitores que eles eram obrigados a votar em Bolsonaro.
No entanto, em nota enviada ao Comprova, o Itamaraty disse que uma mesária respondeu a uma pergunta de eleitor sobre número de um candidato (o órgão não citou qual), quando deveria tê-lo conduzido à lista afixada na entrada das seções. Ainda segundo o Itamaraty, como a conduta pode ser interpretada por outros eleitores e fiscais como tentativa de induzir voto, ela foi desligada dos trabalhos.
O texto também informa que todos os agentes eleitorais convocados no exterior realizam treinamento on-line disponibilizado pela Justiça Eleitoral, conforme as funções designadas no dia do pleito. De acordo com a pasta, o Consulado-Geral em Londres realizou, no dia 27 de setembro, reunião de coordenação com a presença dos presidentes e mesários das 44 seções eleitorais na jurisdição daquele posto. “De modo geral, a votação em Londres transcorreu bem, com absoluta normalidade, não tendo sido relatados grandes contratempos”, informou.
Em entrevista ao Comprova, a delegada representante do PT na eleição em Londres, Elda Cardoso, informou que uma eleitora petista da seção ouviu a mesária dizendo o número 22 para o eleitor. Essa eleitora, que tinha o telefone de Elda, denunciou o caso para ela, que decidiu acompanhar o ocorrido. Elda explicou que o juiz eleitoral afastou a mesária dos trabalhos e que não houve quebra de urna ou violência.
O Partido dos Trabalhadores afirmou que houve um incidente por volta das 8h da manhã nas eleições em Londres, em que a mesária teria orientado o voto ao candidato Bolsonaro. Entretanto, a situação foi resolvida e a mesária foi retirada antes das 9h, sem confusão. O partido informou que acompanhou a votação com 15 fiscais.
Reportagens publicadas pela Folha de S.Paulo e pela BBC Brasil relataram que os brasileiros que votam em Londres enfrentaram longas filas, mas não citam confusões. Na cidade, Lula recebeu 55,18% dos votos válidos. Bolsonaro teve 34,94%. No resultado geral, Lula teve 48,43% e Bolsonaro, 43,2%, o que levou os dois candidatos para o segundo turno.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre as eleições presidenciais, políticas públicas e a pandemia. O tuíte publicado pelo influenciador digital denunciava uma tentativa de fraude eleitoral, mas não apresentava testemunhas nem informações oficiais sobre o suposto fato ocorrido. Essa omissão trazia dúvidas sobre a veracidade e/ou acuracidade da denúncia, o que poderia causar suspeitas sobre o processo eleitoral em Londres e seu resultado.
Outras checagens sobre o tema: Dentro do tema eleição, o Projeto Comprova também já mostrou que Alexandre de Moraes não disse que vai mandar prender eleitor que reclamar das urnas e que uma montagem foi feita e publicada no Instagram para espalhar a mentira de que Ciro Gomes havia declarado apoio a Bolsonaro. Também publicamos texto explicativo sobre Padre Kelmon, candidato à Presidência da República pelo PTB.