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Investigado por: 2022-07-08

É montagem foto que mostra Bolsonaro passando de moto sob uma faixa “Vai trabalhar, preguiçoso!” em Salvador

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Falso
É montagem foto de post em que aparece faixa com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!” no momento da passagem da motociata de Jair Bolsonaro (PL) pela avenida Oceânica, em Salvador, durante as comemorações de 2 de Julho. Embora o Comprova tenha encontrado registros de faixas semelhantes à da imagem em outras partes do trajeto, no local não havia nenhuma faixa quando da passagem da caravana do presidente.

Conteúdo investigado: Postagem com foto da motociata de Jair Bolsonaro em Salvador, no dia 2 de julho, em que aparece uma faixa com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!”.

Onde foi publicado: Twitter, TikTok e Facebook.

Conclusão do Comprova: É falsa postagem cuja foto tem uma faixa verde com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!”, escrita em amarelo, que teria sido exposta no bairro de Ondina durante motociata de Jair Bolsonaro (PL) em Salvador, nas comemorações de 2 de Julho na capital baiana. Neste trecho específico da Avenida Oceânica não havia faixa de protesto como a retratada no conteúdo aqui investigado.

Apoiadores do presidente, como o ex-BBB Adriano Castro, fizeram transmissões ao vivo do trajeto. A partir de 1:34:40 do vídeo, ele entra no corredor da Avenida Oceânica, após a Prefeitura da Aeronáutica, mas não se vê a faixa. O deputado estadual Capitão Alden (PL-BA) também fez uma transmissão ao vivo no Facebook que mostra a passagem pelo trecho. A partir de 00:55 é possível ver as primeiras árvores no canteiro central da avenida e nenhuma faixa como a da foto é vista em todo o trecho até o cruzamento com a Avenida Milton Santos (3:12). Outro apoiador do presidente registrou a passagem pelo local antes (00:03) e durante (20:37) a motociata e as imagens mostram que não havia qualquer faixa naquele ponto.

Questionada pelo Comprova no dia 5 sobre a existência da faixa, a Prefeitura de Salvador afirmou que, após o contato da reportagem, encaminhou equipe da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) até o local para retirá-la, porque não havia autorização de instalação conforme estabelece o Decreto 30.095/2018, mas nada encontrou.

Apesar de não haver uma faixa no ponto específico em que a fotografia foi feita, o presidente Bolsonaro e sua motociata passaram por pelo menos outras duas faixas no percurso. Ambas são idênticas à que aparece na foto aqui verificada e podem ser vistas nos vídeos gravados pelo ex-BBB Adriano Castro, pelo deputado Capitão Alden e por um apoiador do presidente, que filmou a motociata em três partes. Já os vídeos postados no Facebook do presidente não mostram nenhum dos trechos onde as faixas estavam fixadas.

Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O post verificado aqui teve mais de 20 mil interações no Twitter, TikTok e Facebook, entre curtidas, compartilhamentos e menções, até 8 de julho.

O que diz o autor da publicação: Vários perfis publicaram a foto. Um dos primeiros registros foi feito ainda no dia 2 de julho por @polianices, no Twitter, que reúne sozinho quase 20 mil interações na publicação. Procurado em mensagem direta na rede social, disse que havia visto a foto em outro perfil e a compartilhou sem saber a sua origem. Com posts no Facebook, também foram procurados os perfis Bolsominions Arrependidos e Ciro Progressista. Não houve retorno. O Comprova ainda tentou contato com o canal Distopia Brazil, que usou a foto em um vídeo do TikTok, mas não obteve retorno.

Como verificamos: Inicialmente, o Comprova fez uma busca reversa da foto publicada no Google; a consulta retornou apenas outras publicações de redes sociais com o mesmo conteúdo.

A frase “Vai trabalhar, preguiçoso!” também foi usada em pesquisa com a ferramenta CrowdTangle, aplicada em textos e imagens do Instagram, Facebook e Twitter, na tentativa de identificar a origem da foto.

A equipe ainda buscou conteúdos em vídeo de perfis de apoiadores de Bolsonaro, que o seguiram na motociata, para localizar o momento exato da passagem do presidente pela avenida Oceânica e confrontar com a imagem do post investigado.

Por telefone e pessoalmente, a reportagem fez contato com trabalhadores e moradores da região para se informar sobre a faixa, além de jornalistas e fotógrafos que cobriram a motociata – nenhum deles disse ter visto a faixa de Ondina. Também foram procuradas empresas que produzem esse tipo de material na tentativa de identificar quem o confeccionou e os locais onde foram instalados.

Por fim, o Comprova consultou a Prefeitura de Salvador sobre a existência da faixa e procurou perfis que compartilharam a imagem para conferir a autenticidade da foto.

 

Não havia faixa no local da foto quando Bolsonaro passou por lá

A foto aqui verificada foi feita a partir da calçada da Avenida Oceânica, em Ondina, sentido Parque dos Ventos, nas imediações do Bahia Othon Palace Hotel. É possível identificar o local a partir de pontos de referência no fundo da imagem: há uma barraca de chaveiro, uma cobertura azul de ponto de ônibus e a estrutura de um outdoor um pouco acima do muro do Centro de Esportes e Educação Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A suposta faixa estaria presa entre duas árvores e atrás de um poste de iluminação, assim como de uma sinaleira para travessia de pedestres:

No entanto, os vídeos que registram a passagem da motociata pelo local mostram que não havia nenhuma faixa presa nas árvores ao longo de todo este trecho da Avenida Oceânica:

| Apoiador registrou passagem pela Oceânica, em Ondina, entre o minuto 20:37 e 22:40 (https://www.youtube.com/watch?v=ZypjvPrvIDQ&t=1237s)

| Vídeo do ex-BBB Adriano Castro mostra passagem pelo trecho entre 1:34:40 e 1:36:40 (https://www.youtube.com/watch?v=vhl1SqafEDY&t=5770s)

| Transmissão ao vivo do deputado Capitão Alden mostra trecho entre 00:55 e 3:14 (https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=446825433929825)

Esta foto publicada no Flickr oficial de João Roma, que é pré-candidato ao governo da Bahia, mostra um trecho bem próximo ao local onde a imagem analisada teria sido feita. Ao fundo, é possível ver uma sinaleira para travessia de pedestres, como na foto verificada, mas também não há uma faixa visível:

| Crédito da imagem: Max Haack

Faixas foram colocadas em outros pontos do trajeto

Apesar de não haver uma faixa com a frase “Vai trabalhar, preguiçoso!” no trecho de Ondina da Avenida Oceânica, pelo menos mais duas faixas iguais à que aparece na foto aqui verificada foram de fato fixadas no trajeto da motociata, que partiu do Largo do Farol da Barra e seguiu pela orla marítima até o Parque dos Ventos. As duas faixas estavam no bairro do Rio Vermelho e Bolsonaro passou por elas.

A primeira estava presa entre dois postes na esquina da Rua da Paciência com a Rua Almirante Barroso. A fotojornalista Shirley Stolze chegou a registrar a imagem e postou a foto em sua conta pessoal no Facebook às 14h02 do dia 2 de julho de 2022. Ao Comprova, Shirley disse que viu a faixa quando passava pelo local e a fotografou com o celular:

O Comprova esteve no local na tarde de 7 de julho de 2022 e encontrou, ainda preso em um dos postes, o suporte para a faixa. Um funcionário de um bar que fica na esquina da Rua Almirante Barroso confirmou ter visto a faixa no local e afirmou que ela estava presa entre os dois postes quando a motociata passou por lá. Na noite do dia 2, a faixa já não estava presa, e sim pendurada em apenas um dos postes.

A faixa pode ser vista em três vídeos que registraram o percurso da motociata:

No vídeo feito por um apoiador (00:52):

Na transmissão feita pelo ex-BBB Adriano Castro (1:39:37), o Didi Red Pill:

E na transmissão feita pelo deputado estadual Capitão Alden (6:10):

A segunda faixa foi fixada entre um coqueiro e um poste ao lado de um ponto de ônibus da Rua Guedes Cabral, logo após a Rua da Paciência. O Comprova localizou a imagem através da busca por palavras-chave no Facebook:

Ela também aparece nos vídeos já citados aqui e que transmitiram a trajeto da motociata de Bolsonaro em Salvador: a primeira imagem foi captada do vídeo de Adriano Castro (1:41:02) e a segunda, do Capitão Alden (07:40):

Um apoiador do presidente que registrou sua participação na motociata em três vídeos no YouTube conseguiu captar a faixa da Rua Guedes Cabral em dois momentos. O primeiro foi quando a faixa ainda estava sendo colocada no local. É possível ver um homem em uma escada aos 04:09 deste vídeo prendendo a faixa no poste.

A segunda vez que o mesmo apoiador registrou a existência da faixa foi no terceiro vídeo, quando ele já passava pelo local acompanhando Bolsonaro e os demais apoiadores de moto. A faixa aparece rapidamente em 1:51; em seguida, há um corte no vídeo, que continua depois que o grupo já havia passado por este trecho, que fica entre a Biblioteca Juracy Magalhães Júnior e o Teatro Sesi Rio Vermelho.

O Comprova conversou também com dois funcionários de um restaurante próximo à biblioteca e eles confirmaram que viram uma faixa, mas não prestaram atenção ao conteúdo dela.

Termo preguiçoso atribuído a Bolsonaro se espalhou antes do 2 de Julho

Embora a faixa “Vai trabalhar, preguiçoso!” não carregue o nome do presidente, o termo pejorativo tem sido atribuído a Bolsonaro em redes sociais e protestos de opositores. As manifestações críticas foram pontuadas pela coluna Radar, da Veja do início de junho, ao analisar que “histórico de folgas, passeios de moto e de jet ski, além da jornada curta de expediente no Planalto consolidam imagem desfavorável ao presidente.”

Em março, a mesma revista já havia publicado que a média diária de trabalho de Bolsonaro era inferior a 3 horas naquele mês, considerando as informações da agenda oficial da presidência. Na mesma semana, o jornal Gazeta do Povo apontou os gastos com férias e folgas do agora pré-candidato à reeleição, que somavam R$ 8,3 milhões em três anos de governo.

Já em abril, o Metrópoles fez uma análise sobre o tempo dedicado pelo presidente às atividades do mandato com base em no estudo “Deixa o Homem Trabalhar?”. No mês seguinte, a Folha de S.Paulo mostrou que Bolsonaro faz do lazer uma rotina.

As redes sociais também estão recheadas de críticas e memes com esse enfoque, como mostra reportagem do Diário do Centro do Mundo (DCM), jornal digital que se identifica com o espectro político de esquerda.

Presidenciáveis em Salvador

Além de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) participaram de atos em Salvador, no dia 2 de julho, na comemoração pela Independência da Bahia.

Com exceção do presidente, os outros três pré-candidatos ao Planalto participaram de ato cívico, percorrendo regiões entre o Largo da Lapinha, no bairro da Liberdade, e o Terreiro de Jesus, no Pelourinho.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Desta vez, a peça desinformativa é contra Jair Bolsonaro, pré-candidato na disputa à presidência da República. Conteúdos falsos e enganosos são prejudiciais ao processo democrático porque atingem o direito do eleitor de fazer sua escolha baseada em fatos, não em boatos e desinformação.

Outras checagens sobre o tema: Este conteúdo que traz como pano de fundo o 2 de Julho, data em que se celebra a Independência da Bahia, não foi o único investigado por desinformação. O Comprova mostrou que post usa vídeo antigo para enganar sobre adesão a ato pró-Bolsonaro e outro que enganava ao sugerir baixa adesão na manifestação a favor do presidente.

Além desse evento, que reuniu quatro presidenciáveis na capital baiana, as eleições têm sido frequentemente tema de desinformação. O Comprova já demonstrou, nesta semana, que é falsa frase atribuída a Lula de ameaça ao STF, também esclareceu que contagem de votos é feita pelo TSE e não por terceirizada e que não há dispositivo nas urnas eletrônicas capaz de alterar votação, e ainda mostrou que fotos de atos políticos sem a presença de Lula tentam desacreditar as pesquisas.