Não houve “vazamento de áudio” de Haddad e Manuela em trama contra Exército
É enganoso um vídeo que circula na internet como se fosse um vazamento de áudio em que o candidato à presidência Fernando Haddad (PT) e sua vice Manuela D’Ávila (PCdoB) apareceriam armando contra o Exército. Na verdade, o trecho presente na gravação é da sabatina UOL, Folha e SBT com o candidato, realizada no dia 17 de setembro de 2018. Manuela não estava presente durante a gravação. A voz feminina que se ouve é da repórter Débora Bargamasco, do SBT.
O trecho divulgado no Youtube sob o título de “Vaza áudio: Haddad e Manuela tramando contra Exército e Bolsonaro” começa com uma fala de Haddad em resposta a uma pergunta da repórter sobre um conteúdo presente no plano de governo do candidato. “Ainda sobre forças armadas, no seu programa de governo diz assim: a constituição será aplicada de maneira imediata e firme contra quem ameaça a democracia com atos e/ou declarações. O que significa isso? Por exemplo, o sujeito que for lá se manifestar e levantar uma bandeira escrito ‘intervenção militar já’, ‘volta da ditadura’, ele vai ser punido? Qual que é a ideia?”, perguntou a repórter.
Em seguida, Haddad questionou: “o cidadão?” Depois da afirmativa da jornalista, ele respondeu que não. Logo, ela completou a pergunta: “Então o que é que vocês estão dizendo aqui contra quem ameaça a democracia com atos ou declarações? O que é uma declaração? É falar? É fazer uma declaração (por escrito)?”. A partir de então, aos 49:24 do vídeo da sabatina, Haddad começa a resposta que viria a ser reproduzida no vídeo enganoso. “Quem tá debaixo de uma hierarquia. Tô falando dessas pessoas. Debaixo de uma hierarquia, vai ter que defender a democracia […]”.
A discussão segue até os 50:48 do vídeo, quando o repórter Fernando Canzian, da Folha de S. Paulo muda de assunto. O vídeo divulgado como “vazamento” também termina neste instante.
Bergamasco fez as perguntas depois que o repórter Diogo Pinheiro, do UOL, levantou o assunto sobre militares durante três perguntas. Aos 46:58 do vídeo, ele questionou qual o papel teria o Exército no combate a violência no possível governo do candidato. Haddad respondeu que gostaria de “um braço da polícia civil para atuar em relação a organizações criminosas”. Para ele, a formação do Exército tem outra finalidade, que seria “entrar numa guerra e proteger o território nacional”.
Em seguida, o repórter perguntou se o presidenciável pretende ter militares no ministério, que respondeu “não necessariamente”, mas que também não tem “tabu contra a presença”. A última pergunta do repórter foi “qual a sua opinião sobre comentários como os do comandante do exército de que o próximo presidente pode ter sua legitimidade questionada?”. Haddad respondeu que ele entende que “o comandante em chefe das Forças Armadas é o presidente da República” e que declarações como essas acontecem porque, de acordo com a sua visão, hoje não há uma “autoridade constituída, legitimada pelo voto”.
No Youtube, o conteúdo enganoso já foi visualizado mais de 1 milhão de vezes e tem 35 mil votos positivos, contra 10 mil negativos. O Comprova recebeu o vídeo também por WhatsApp. No Facebook, o vídeo foi visualizado mais de 800 mil vezes e teve 33 mil shares.