Texto sobre atentado a Bolsonaro mistura fatos que não se relacionam
É enganoso um texto que circula no WhatsApp sobre uma possível ameaça contra o candidato do PSL à Presidência da República Jair Bolsonaro. A mensagem, que reúne uma série de eventos que não necessariamente aconteceram ou têm relação entre si, chegou ao Comprova por meio do aplicativo de mensagens, com mais de 200 pedidos de verificação.
A mensagem inclui o seguinte texto: “URGENTE: Serviço de inteligência impede que Bolsonaro viaje para São Paulo. O candidato foi informado que ele corria risco de ser morto”. A afirmação é reformulação de uma fala do candidato durante uma transmissão de vídeo ao vivo no Facebook em 18 de outubro. Ele disse, sem mencionar indícios concretos de suspeita, que ‘iria para São Paulo no dia de hoje’ mas foi ‘recomendado por questão de estratégia de segurança, a não ir, porque ao pousar em São Paulo eu teria um deslocamento. Poderia sofrer um atentado’. Nem a Polícia Federal nem a Agência Brasileira de Inteligência informaram registro de ameaça.
Em seguida, o texto diz que a PF “investiga advogados de Adélio” por “envolvimento com o PCC”. Não há confirmação de que advogados do autor do atentado contra Bolsonaro estejam sendo investigados, tampouco por envolvimento com a facção criminosa. A informação do PCC pode ter sido uma confusão com a notícia de que a Polícia Federal está investigando envolvimento de Adélio com o PCC. Gustavo Bebianno, presidente do PSL, deu uma entrevista no dia 19 de outubro na qual contou que a PF estaria seguindo essa linha de investigação.
O texto diz que Bolsonaro lembrou, durante uma live no dia 18 de outubro, que Adélio era filiado ao PSOL e que “esclareceu” aos eleitores que “de acordo com a legislação eleitoral, a partir de agora, se ele for assassinado”, disputaria a eleição o “terceiro lugar no primeiro turno”, ou seja, Ciro Gomes. O candidato realmente fez as afirmações durante a transmissão de vídeo e elas estão corretas. A substituição em caso de morte está prevista na Constituição.
O PDT e o PT realmente entraram com pedido de impugnação da candidatura de Bolsonaro no dia 18 de outubro por conta da suspeita do uso sistemático de propagação de desinformação via WhatsApp, como está no texto. Mas, como leva a crer a mensagem, a ida de Bolsonaro à sede do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro não tem qualquer relação com esse acontecimento.
O conteúdo afirma que “sentindo-se ameaçado, Bolsonaro foi à sede do Bope e da Polícia Federal pedir apoio”. A ida do candidato à instituição, no entanto, aconteceu no dia 15 de outubro, antes mesmo da denúncia de irregularidades na propaganda política pelas redes do candidato ser publicada na Folha de S.Paulo. Além disso, enquanto candidato, desde o início da campanha, Bolsonaro já tem sua segurança feita pela Polícia Federal. Ele não precisaria pedir apoio para a instituição agora.
No texto há também a informação de que na na segunda semana de outubro o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu dissera que falta “pouco para tomarmos o poder e não será por eleição”. Dirceu não disse exatamente essas palavras. Em entrevista ao jornal El País, em 26 de setembro, ele disse que “dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”. A frase foi em resposta à pergunta feita pela repórter, que questionou se ele tinha medo de o PT “ganhar a eleição e não levar”.
O teor enganoso da mensagem também foi verificado pelo Boatos.org.
Neste sábado e domingo a equipe do Comprova se uniu a outras seis agências de checagens de notícias no Brasil para checar as mensagens de conteúdo suspeito nesta reta final das eleições. A ideia de juntar forças é para ganhar mais agilidade e aumentar o alcance das checagens. A parceria reúne AFP, Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, E-Farsas, Fato ou Fake e Projeto Comprova.