Contextualizando

Investigado por: 05/11/2025

Pedido de apoio feito pelo governo do Rio foi anterior à megaoperação e se dirigiu à Defesa, não à Justiça

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O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, não mentiu ao afirmar que não recebeu pedido de ajuda do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), no caso da megaoperação de 28 de outubro. Como o Comprova contextualiza, houve um pedido de Cláudio Castro, feito no início do ano, ao Ministério da Defesa, sem relação direta com a ação recente.

Conteúdo investigado: Posts dizendo que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, teria mentido ao dizer que não negou pedido de apoio do governo do Rio de Janeiro em relação à megaoperação que deixou 121 mortos na capital fluminense.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Um post viral combina a fala do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, com a imagem de uma carta enviada pelo governador Cláudio Castro ao ministro da Defesa, José Múcio, em 28 de janeiro de 2025, e conclui incorretamente que Lewandowski teria “mentido” ao negar ter recebido solicitação do governo fluminense.

Na gravação, Lewandowski declara: “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública para esta operação. Nem ontem, nem hoje. Absolutamente nada.” A declaração é de 28 de outubro, dia da operação que deixou 121 mortos nos Complexos do Alemão e da Penha.

O documento exibido na postagem é, de fato, uma carta que Cláudio Castro enviou a Múcio em 28 de janeiro de 2025. Nela, o governador solicita “a valiosa cooperação e apoio logístico da Marinha do Brasil, por meio do fornecimento de veículos blindados, com os respectivos operadores e mecânicos”. A carta, porém, se refere à presença de blindados na região de um hospital carioca onde uma médica militar havia morrido após ser atingida por uma bala perdida em dezembro de 2024.

Em nota da Defesa sobre o assunto, enviada ao Comprova, o órgão confirmou ter recebido o documento e informou que foi submetido à análise da Advocacia-Geral da União (AGU). Afirmou que “a Marinha posicionou veículos blindados no perímetro do hospital, respeitando o limite legal de 1.400 metros em torno de instalações militares, medida voltada à segurança da área e dos militares” na época da morte da capitã. E que a “AGU emitiu parecer técnico indicando que a solicitação do governo do Rio de Janeiro somente poderia ser atendida no contexto de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o que demandaria decreto presidencial.”

Ou seja, diferentemente do que afirma o post investigado, Lewandowski não mentiu, pois o Ministério da Justiça não recebeu nenhum pedido e, além disso, a carta de Castro não tinha relação com a recente operação.

Contatado pela reportagem, o Ministério da Justiça afirmou que mantém “cooperação contínua” com o governo do Rio de Janeiro desde 2023, por meio da Força Nacional de Segurança Pública, e que todos os pedidos feitos pelo Estado para emprego da Força Nacional foram atendidos.

Quem criou o conteúdo

O perfil reúne cerca de 317 mil seguidores no X. Em sua biografia, o usuário se apresenta como uma “conta de paródias” e afirma publicar uma “sinopse diária dos assuntos políticos, econômicos, sociais e ocorrências mundanas”.

Apesar de se autodefinir como um perfil humorístico ou de sátira, não fica clara a intenção do autor, e muitas pessoas acreditam que os posts contêm verdades. Com frequência, a página publica conteúdos de cunho político e opinativo, com ênfase em temas de segurança pública, economia e gestão federal. As postagens mais recentes mantêm um tom crítico em relação ao governo Lula e aos ministros.

O Comprova tentou contato com o perfil por meio do e-mail informado na biografia, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que o Comprova contextualizou este assunto? O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta, no monitoramento, um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Lula autorizou a GLO a atuar em áreas nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro em 2023, com validade até maio de 2024. Você pode ler mais sobre o assunto na verificação feita pelo Comprova sobre mudanças na Anatel.