Não há evidências de que urnas tenham chegado a Cordeiro (RJ) com votos já registrados, ao contrário do que afirma áudio
- Falso
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- É falso o conteúdo de áudio que afirma que urnas eletrônicas teriam chegado à cidade de Cordeiro, na região serrana do Rio de Janeiro, com votos registrados para o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) comunicou a abertura de uma investigação no cartório da 52ª Zona Eleitoral (Cordeiro) contra o suspeito de produzir o conteúdo de desinformação. Antes de iniciar o processo de votação, todas as urnas eletrônicas passam pelo procedimento de emissão da zerésima, documento que confirma que nenhum voto foi depositado no equipamento.
Conteúdo investigado: Áudio que circula no WhatsApp aponta suposta fraude eleitoral por meio da inserção de votos – de forma antecipada e a favor de Lula – em urnas eletrônicas encaminhadas à cidade de Cordeiro, no Rio de Janeiro.
Onde foi publicado: WhatsApp.
Conclusão do Comprova: É falsa a informação de que duas urnas eletrônicas enviadas à cidade fluminense de Cordeiro já teriam votos registrados para Lula, como diz um áudio que circula no WhatsApp. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) desmentiu o conteúdo em nota publicada na quarta-feira (28/9). O Ministério Público do Estado (MPE-RJ) também classificou o conteúdo como falso.
Segundo o texto publicado no site do tribunal, a Justiça Eleitoral do Rio encerrou o processo de preparação dos aparelhos em cerimônia aberta ao público e a entidades, como partidos e o Ministério Público. Pelo MPE-RJ, acompanharam a preparação das urnas equipes da 52ª Promotoria Eleitoral que atua em Cordeiro. Nenhum tipo de irregularidade foi encontrada nas cerca de 39 mil urnas que serão utilizadas no estado no domingo (2), quando acontece o primeiro turno das eleições de 2022.
Mesmo que houvesse algum problema durante a preparação, em toda eleição as urnas precisam passar pelo processo de emissão da zerésima no dia da votação, antes da abertura das seções eleitorais ao público. A zerésima é um documento impresso na própria urna e atesta que não há nenhum voto registrado no aparelho. Depois de impressa, ela deve ser assinada pelo presidente da seção eleitoral e pelos mesários e fiscais dos partidos ou coligações presentes no local.
Após a circulação do áudio, o TRE informou que o cartório da 52ª Zona Eleitoral do Rio, que fica em Cordeiro, abriu uma investigação para responsabilizar o autor das declarações falsas. Segundo o tribunal, o suspeito foi identificado e deverá responder criminalmente.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e tenha sido divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: Não é possível medir o alcance de mensagens que circulam no WhatsApp.
O que diz o autor da publicação: Não é possível identificar o autor do áudio que circula no WhatsApp, portanto, o Comprova não conseguiu contatá-lo. O cartório da 52ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro diz ter colhido indícios que indicam a identidade do suspeito, mas não revelou essas informações ao público.
Como verificamos: Iniciamos verificação buscando no Google pelas palavras “fraude urnas” e “Cordeiro”, que retornou a publicação do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. O próprio conteúdo cita uma apuração aberta pela zona eleitoral responsável pelo município com objetivo de responsabilizar o autor do conteúdo falso.
Também buscamos informações já divulgadas pela Justiça Eleitoral que explicam o processo de preparação das urnas citado pelo TRE e o funcionamento da “zerésima” — documento emitido no dia da votação que atesta que não há nenhum voto registrado nas urnas eletrônicas.
O Comprova buscou, ainda, posicionamento do Ministério Público do Rio de Janeiro, que confirmou se tratar de um conteúdo falso.
A preparação das urnas
Depois que o Tribunal Superior Eleitoral envia as urnas aos estados, os TREs fazem a preparação desses aparelhos. O processo, que é feito em uma cerimônia aberta ao público, consiste na instalação do sistema operacional das urnas, que inclui programas e dados dos candidatos e eleitores da região. Em seguida, a Justiça Eleitoral faz testes para verificar se os aparelhos estão funcionando da forma correta.
Entre os programas inseridos nas urnas, está um software do TSE com mecanismos de segurança para impedir a instalação de programas ou dados não reconhecidos pela Justiça. Os aparelhos nunca são conectados à internet ou a outra rede de comunicação externa, o que os protege contra invasões. Além disso, os sistemas instalados só permitem o uso das urnas no momento programado para a votação.
Após a preparação, as urnas são seladas com lacres produzidos pela Casa da Moeda e armazenadas em um local escolhido pelos TREs. Na véspera das eleições, a Justiça Eleitoral as transporta para os locais de votação. Depois, para voltar a garantir que os aparelhos não foram violados, os presidentes das seções eleitorais, mesários e fiscais de partidos presentes no dia da eleição emitem e assinam as zerésimas.
A zerésima é um relatório impresso pelas próprias urnas. Depois da impressão, ela deve ser guardada em um envelope, que no fim da votação será enviado à Justiça Eleitoral. Uma cópia do documento também é impressa nesse momento e afixada na porta das seções eleitorais, em um local visível para os eleitores. Apenas depois desses procedimentos a votação pode começar.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados às eleições de 2022, à pandemia da covid-19 ou às políticas públicas do governo federal. A postagem verificada dissemina conteúdo falso que descredibiliza o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.
Outras checagens sobre o tema: O conteúdo alvo desta verificação foi classificado como falso pelo próprio Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. Além disso, o áudio foi desmentido em checagens produzidas pelo G1, Uol Confere e Estadão, por exemplo.
O Comprova também investigou recentemente informação sobre suposta redução do número de seções de votação em função das mortes por covid-19; alegações falsas de que funcionários da Justiça Eleitoral estariam fraudando urnas eletrônicas durante procedimento de carga e lacração e que a terceirização de procedimentos comprometeria integridade das eleições.