O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Saúde

Investigado por: 2020-04-07

Orçamento do governo para hospitais não foi desviado para projetos culturais

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Falso
O Comprova conferiu a situação de 14 projetos culturais, mencionados em um post no Facebook, que estariam habilitados para captar recursos pela Lei Rouanet. Dois deles não existem e outros oito não conseguiram captar os recursos necessários e foram arquivados. O Comprova não encontrou indícios de que os valores foram retirados do orçamento da Saúde como sugere a publicação

Uma imagem que circula pelas redes sociais atribui a um desvio de orçamento para projetos culturais uma suposta falta de dinheiro para os hospitais brasileiros. A publicação, além de mostrar uma série de projetos e os supostos valores destinados a cada um deles, ainda traz os dizeres: “Toma um calmante, senta e lê isso”.

O texto é semelhante a outros que circulam nas redes sociais pelo menos desde 2018 e voltou a ser compartilhado em meio à pandemia do novo coronavírus. Algumas publicações já alegavam que os recursos para os projetos causaram falta de dinheiro para hospitais. Em outras, que os valores poderiam ser usados para salvar o Museu Nacional, no Rio de Janeiro – que sofreu um incêndio em 2018 e teve parte de seu acervo de 20 milhões de itens destruído.

O Comprova conferiu a situação dos projetos culturais mencionados no texto. Em 12 dos 14 itens apontados na lista os dados usados são de projetos que realmente existem e foram habilitados para captação de recursos pela Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet.

Oito deles, porém, não conseguiram captar os recursos suficientes e foram arquivados. Outros precisaram arrecadar apenas parte do total autorizado pelo governo. Os valores citados na lista também não são exatamente iguais aos que foram apresentados nos projetos culturais. A lista mostra, ainda, projetos cadastrados entre 2010 e 2018.

O Comprova não encontrou indícios de que os valores destinados aos projetos culturais foram retirados do orçamento da Saúde. Cabe salientar que, sendo a lei Rouanet uma lei de incentivo fiscal, não há repasse direto de valores do orçamento do Ministério da Cultura para os responsáveis pelo projeto. Cabe ao ministério apenas autorizar a captação por parte do idealizadores dos projetos junto às empresas.

O Comprova verificou o conteúdo de uma imagem publicada em 30 de março em um perfil pessoal no Facebook e encontrou o mesmo conteúdo em contas de Twitter, Pinterest e Facebook. A versão mais antiga da postagem foi encontrada no “Portal da Direita do Brasil”. Posteriormente, a publicação foi apagada da página.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

A maior parte dos projetos listados no boato consta na plataforma VerSalic, ferramenta do Governo Federal que informa quais projetos culturais foram habilitados para receber incentivos fiscais. Também foram consultadas reportagens que abordam os temas listados e a Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Os leitores podem refazer o caminho da verificação acessando os links para visualizar os conteúdos da apuração.

Confira a verificação de cada item da lista

Livro sobre a vida de José Dirceu (R$1.526.536,25): NÃO REALIZADO

Não houve a intenção de se fazer um livro sobre o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em 2013 diversas notícias diziam que foi aprovada a captação de R$ 1,5 milhão para realizar um filme sobre ele. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), essa quantia era o valor total da obra que poderia ser captada de diversas formas de financiamento. Pela Lei Rouanet nenhum recurso foi destinado e o projeto foi cancelado.

DVD de Mc Guimé (R$ 516 mil): NÃO REALIZADO

Houve um projeto aprovado para um DVD do Mc Guimê em 2015, com o registro de 14 músicas em um show na cidade de São Paulo. No entanto, o projeto de R$ 516.550 não teve recursos captados e foi arquivado.

Livro de poesia de Maria Bethânia (R$ 1,3 milhão): NÃO REALIZADO

O projeto original do blog “O mundo precisa de poesia”, de Maria Bethânia, é de 2010. Ele tinha permissão para captar R$ 1.356.858. Essa quantia, no entanto, não foi atingida e o projeto foi arquivado por excesso de prazo. Após o projeto gerar críticas nas redes sociais, a artista desistiu de criar o blog de poesia.

Turnê de Luan Santana (R$ 4,1 milhões): NÃO REALIZADA

O projeto “Luan Santana – Turnê: Nosso Tempo é Hoje – Parte II” foi aprovado para captação de recursos em 2014. Ele poderia receber até R$ 4.143.325, mas não arrecadou nada. Ele foi arquivado pelo próprio proponente.

Turnê Detonautas (R$ 1 milhão): NÃO REALIZADA

A banda Detonautas teve um projeto aprovado para captar recursos pela Lei Rouanet no valor de R$ 1.086.214,40. Ele foi aberto em 2013, mas arquivado por excesso de prazo sem captação.

Shows de Cláudia Leitte (R$ 5,8 milhões): REALIZADO, COM RESSALVAS

Um projeto para a realização de 12 shows da cantora Cláudia Leitte, em 2012, foi aprovado para captação de R$ 5.883.100. A cantora conseguiu captar R$ 1,2 milhão na iniciativa privada. Em 2016, porém, o Ministério da Cultura (MinC) reprovou as contas apresentadas pela cantora e pediu a devolução do dinheiro aos cofres públicos. O processo continua em tramitação.

Filme do Brizola (R$ 1,9 milhão): NÃO REALIZADO

Não consta na plataforma Versalic nenhum filme sobre Leonel Brizola (1922-2004), mas sim a montagem do espetáculo “Brizola”, que conta a história do político que fundou o PDT e governou os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. O valor aprovado para captação era de R$ 1.641.506, no ano 2015, mas foi arquivado por excesso de prazo sem captação.

Peppa Pig (R$ 1,7 milhão): NÃO REALIZADO

O objetivo do projeto era a realização de uma turnê do espetáculo infantil Peppa Pig. Aprovado em 2014 para receber captação pela Lei Rouanet, no valor de R$ 1.772.320, o projeto acabou arquivado sem nenhuma captação.

Painel do Club São Paulo (R$ 5,7 milhões): NÃO REALIZADO

A proposta era a criação de um painel artístico de difusão cultural nos segmentos da música, dança e artes cênicas, dentro e fora do espaço físico do Club A São Paulo. O projeto, de 2011, no valor de R$ 5.714.399,96, não teve nenhuma quantia captada e foi arquivado por excesso de prazo.

Turnê Shrek, o Musical (R$ 17,8 milhões): REALIZADO COM MENOR VALOR

Em 2010, foi aprovada a captação de recursos para o espetáculo “Shrek, o musical”, no valor de R$ 8.260.620. O projeto conseguiu captar R$ 6 milhões de empresas como a Vivo e o Bradesco. Dois anos depois, em 2012, foi aprovada outra captação de R$ 9.618.120. O projeto levantou um total de R$ 5,36 milhões em sete empresas, entre elas os Correios e BrasilCap Capitalização. As duas prestações de contas foram aprovadas.

Cirque du Soleil (R$ 9,4 milhões): REALIZADO

Em 2006, a empresa CIE Brasil propôs a turnê brasileira do grupo canadense Cirque du Soleil, O projeto era de R$ 22,3 milhões, mas o Ministério da Cultura (MinC) liberou apenas uma parte (R$ 9,4 milhões) para captação via Lei Rouanet.

Livro do Chico Buarque (R$ 414 mil): REALIZADO COM MENOR VALOR

O projeto mais recente da lista é a produção de um livro fotobiográfico sobre a vida e a obra do artista Chico Buarque. A proposta é de 2018 e teve aprovação para captar até R$ 415.958,04. Conseguiu R$ 280.000,29 da empresa Icatu-Hartford e agora está na fase de prestação de contas.

Queermuseu (R$ 800 mil): REALIZADO

A Queermuseu é uma exposição que teve dois projetos aprovados para captação. Um é de 2013 no valor de R$ 539.043,60, mas não obteve recursos e foi arquivado por excesso de prazo sem captação. O outro é de 2016 no valor de R$ 872.560. Este conseguiu captar R$ 800 mil, a maior parte do Banco Santander. A exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que apresentava trabalhos que discutiam diversidade de gêneros e de sexualidade, foi cancelada pelo banco após uma série de protestos.

Museu Lula (R$ 7.9 milhões): EM TRÂMITE

O projeto do Museu do Trabalho e do Trabalhador, como seria chamado o Museu Lula, é de 2013 e poderia captar R$ 19.859.580,43 pela Lei de Incentivo à Cultura. Conseguiu arrecadar R$ 3,6 milhões da construtora OAS e da Vale. O projeto, no entanto, está parado e com a prestação de contas reprovada. Em 2018, faltando dez dias para deixar o cargo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, autorizou que o prédio onde seria construído o museu, em São Bernardo do Campo, fosse ocupado por uma Fábrica de Cultura.

Entenda a Lei Rouanet

Criada em 1991, a Lei Rouanet, hoje chamada de Lei de Incentivo à Cultura, é o principal mecanismo de fomento à cultura no Brasil. Ela autoriza empresas a destinar parte de seu Imposto de Renda a pagar para projetos culturais. Para isso, o proponente deve ter seu projeto submetido ao órgão federal responsável pela cultura (atualmente a Secretaria Especial de Cultura, vinculada ao Ministério do Turismo).

Se o projeto é aprovado, é o próprio proponente que deve buscar apoio financeiro diretamente junto aos investidores culturais. Os repasses não são feitos pelo Governo Federal, mas pelos incentivadores cadastrados.

A lei sofreu alterações em 2019. A principal mudança foi a redução no valor máximo para captação por projeto, de R$ 60 milhões, caiu para R$ 1 milhão. No caso das carteiras – que são o conjunto de projetos apresentados por uma empresa ou por um grupo de empresas com sócio em comum – o teto caiu de R$ 60 milhões para R$ 10 milhões.

Saiba como se dá a aprovação de um projeto pela Lei de Incentivo à Cultura:

1) Apresentação de proposta: o proponente, responsável pelo projeto, insere uma proposta cultural no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic), de forma eletrônica.

2) Análises: A proposta passa por uma série de análises antes da decisão final quanto à sua aprovação ou rejeição.

3) Captação: após a aprovação do projeto, cabe ao proponente encontrar as empresas que apoiarão a ideia. Quando conseguir captar 20% do valor total aprovado, pode iniciar a execução da proposta.

4) Execução: é a realização do projeto, quando o proponente entra em contato com fornecedores, artistas e outros prestadores de serviço que irão ajudar a executar a proposta. Também envolve a realização em si do espetáculo, show, festival, montagem e visitação de exposições, impressão de livros, etc.

5) Prestação de contas: após o término do projeto, o proponente precisa prestar contas de tudo o que foi realizado. É preciso comprovar como os recursos foram aplicados, se os objetivos e resultados do projeto foram alcançados, quantas pessoas foram atingidas, qual foi a contrapartida social oferecida – tudo acompanhado por notas fiscais, comprovantes de transferência, panfletos, anúncios, matérias de jornal, fotos, etc

Incentivos

Segundo dados do governo Federal, somente em 2017 houve R$ 1,15 bilhão em incentivos fiscais à cultura. Em 2018, esse número foi de R$ 1,2 bilhão. Se forem somados os valores dos dez anos entre 2009 e 2018, o total de incentivos fiscais para projetos culturais foi de R$ 10,66 bilhões.

“Não é verdadeira a informação de que os recursos destinados aos hospitais serviram para o financiamento público de projetos culturais. Salienta-se que o orçamento público é definido pela Lei Orçamentária Anual (LOA) encaminhada pelo Executivo e votada pelo Congresso Nacional”, informou em nota o Ministério da Cidadania.

Os números da saúde são bem mais expressivos que os da cultura no Brasil. A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 tem previsão de R$ 125 bilhões para o Ministério da Saúde. Somente para fortalecer a rede pública de saúde no enfrentamento ao novo coronavírus (covid-19), foram acrescentados R$ 14,5 bilhões ao orçamento deste ano. Isso foi possível através de duas medidas provisórias, uma em março no valor de R$ 5 bilhões, e outra em abril, de R$ 9,4 bilhões.

Viralização

O conteúdo pelo Comprova foi publicado em 30 de março em um perfil pessoal do Facebook. Até o dia 7 de abril, a publicação já teve 12 mil compartilhamentos. No Twitter, a publicação feita pelo perfil @ernanitec, em 16 de maio de 2019, obteve 1,3 mil retuítes. O Comprova também encontrou publicações em outras contas de Twitter, Facebook e Pinterest e recebeu solicitações de verificação de leitores que receberam a imagem pelo WhatsApp.

Saúde

Investigado por: 2020-04-07

Imagem de prédio da FIESP com bandeira da China é usada fora de contexto para relacionar a instituição ao governo chinês

  • Enganoso
Enganoso
Postagens em redes sociais e mensagens em aplicativo usam imagem e link de uma publicação de 2019 para acusar a FIESP de proteger o governo chinês em meio à pandemia do novo coronavírus

São enganosas as postagens nas redes sociais que acusam o governo de São Paulo e a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de “serem comunistas e protegerem o governo chinês em meio à pandemia do novo coronavírus”. Os posts reproduzem imagens de outubro de 2019 do prédio da instituição na Avenida Paulista, em São Paulo, iluminado com a bandeira da China.

Algumas das publicações no Facebook e no Twitter também trazem o link de uma reportagem da Folha de São Paulo de 2 de outubro de 2019, que diz que a entidade iria exibir a bandeira do país asiático em homenagem aos 70 anos da revolução comunista. A matéria antiga explica ainda que não se tratava de uma iniciativa da própria FIESP, mas que diversos países costumam entrar em contato solicitando a exibição de suas bandeiras. São citados Japão e Itália como exemplos.

Em 2020, a FIESP também projetou a bandeira da China em seu prédio, mas o motivo era outro. A bandeira chinesa foi exibida junto a várias outras de países com maior número de casos confirmados de Covid-19 como Estados Unidos e Itália.

O Comprova entrou em contato com a FIESP, que enviou à reportagem uma nota e o vídeo completo com todas as bandeiras exibidas. “Na última semana, nossa galeria digital prestou homenagem e solidariedade aos povos mais atingidos pelo novo coronavírus. Foram exibidas bandeiras dos países com maior número de pessoas infectadas confirmadas, em gesto humanitário. Foram projetadas em sequência as bandeiras de Alemanha, China, Espanha, Estados Unidos, França e Itália”, diz o comunicado.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado ou que induza a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.

O Comprova verificou mensagens de WhatsApp enviadas para verificação por leitores e postagens com conteúdos similares em vários perfis no Twitter, em páginas e grupos de Facebook.

Como verificamos

Após constatar que o texto da Folha de S. Paulo reproduzido nos últimos dias se tratava, na verdade, de uma publicação de outubro de 2019, o Comprova entrou em contato com as assessorias de imprensa da FIESP e do governo de São Paulo. A FIESP esclareceu que a bandeira chinesa foi projetada na última semana no prédio junto a de outros países e mandou à reportagem o vídeo completo.

FIESP não é ligada ao governo de São Paulo

Algumas das postagens sobre a bandeira da China no prédio da FIESP atacam o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que é acusado de “comemorar o comunismo”. “Comunismo comemorado em SP #ForaDoria. #BolsonaroTemRazao. Isso foi a (sic) 6 meses. Não é de hoje que DoriAna tem seu projeto”, diz um dos posts, que ainda avisa que a matéria da Folha é antiga, mas reproduz o texto mesmo assim.

Há ainda comentários chamando os chineses de “donos do vírus”: “Homenagem aos donos do vírus. Agora vendem respiradores e demais insumos. Valeu São Paulo homenagem aos fabricantes da pandemia”.

Em contato por telefone, a assessoria de imprensa do governo de São Paulo ressaltou que a FIESP não depende do governo de São Paulo e tem total liberdade para ações próprias.

A FIESP representa 130 mil indústrias de São Paulo de diversos setores e “luta pela competitividade da indústria brasileira com reivindicações para diminuir custos de produção e conter a desindustrialização”, como é explicado em seu site oficial.

João Doria pediu para que ataques à China parassem

Os ataques à China vêm se disseminando pelas redes sociais desde o início da pandemia do novo coronavírus por ter sido o país onde foi confirmado o primeiro caso da doença no mundo. Em 19 de março, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) rebateu publicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro sobre a China. O filho do presidente havia publicado uma crítica em suas redes sociais no dia 18 de março.

O governador de São Paulo é um dos críticos da postura do presidente Jair Bolsonaro, que defende o fim do isolamento completo da população brasileira no combate ao novo coronavírus. Em São Paulo, João Doria prorrogou a quarentena até 22 de abril. Apenas serviços considerados essenciais estão permitidos funcionar.

“Graças às medidas de isolamento adotadas até aqui, a taxa de ocupação de leitos no estado de SP é de 50% hoje. Sem as medidas de isolamento social, faltariam 3 mil leitos”, escreveu João Doria em seu Twitter em 7 de abril.

Viralização

A imagem e o link da Folha foram compartilhados em dezenas de páginas, grupos e perfis nas redes sociais e em grupos de WhatsApp. O perfil @MBColunista do Twitter obteve 850 interações. A publicação na página Voz da Liberdade Brasil, no Facebook, foi compartilhada 311 vezes e a página Carlos Alberto Brilhante Ustra, também no Facebook, tinha 1.560 interações até a tarde do dia 7 de abril.

Saúde

Investigado por: 2020-04-06

Vacina do coronavírus não terá microchip para rastrear a população

  • Falso
Falso
Não há nenhuma notícia de qualquer vacina com microchip em desenvolvimento no mundo como tenta fazer crer uma publicação que viralizou nas redes sociais. E, embora haja uma série de testes clínicos em andamento, ainda não existe vacina contra o coronavírus

Uma teoria conspiratória sobre a covid-19 que tem se espalhado pelas redes sociais alega que as vacinas contra o novo coronavírus terão “microchips” para colher a “identidade biométrica da população”. A tese é falsa. Não há nenhuma evidência que comprove o conteúdo do texto, publicado no blog “Livro das Revelações”.

O texto mistura uma série de informações falsas sobre projetos internacionais de identidade digital, como a Aliança ID2020 e o a2i, e sobre a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi, na sigla em inglês), entidade que atua para fornecer vacina para países pobres.

O blog reproduz em português trechos de um texto em inglês sobre a mesma teoria conspiratória, publicado em outubro de 2019 no blog “Natural News”. Na mensagem “original”, o coronavírus sequer é mencionado.

Inicialmente, não há notícia de que qualquer vacina com microchip esteja em desenvolvimento no mundo. A informação foi confirmada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, em entrevista pelo telefone.

Cunha também ressaltou que, como tem sido amplamente divulgado pela imprensa mundial, ainda não existe vacina contra o coronavírus. Há uma série de testes clínicos em andamento, mas nenhum concluído até o momento. Segundo a perspectiva mais otimista da comunidade médica, as doses para o combate à covid-19 estarão disponíveis dentro de um ano – esse prazo, contudo, pode ser maior.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O Comprova consultou a Aliança ID2020 e a Sociedade Brasileira de Imunizações. Também pesquisou o histórico da Aliança Mundial para Vacinas e Imunização e da a2i (Access to Information, na sigla em inglês). Os links utilizados como fonte de informação estão ao longo do texto.

O que são as entidades mencionadas?

Aliança ID2020

O texto do blog “Livro das Revelações” apresenta a Aliança ID2020 como uma conspiração criada para inserir microchips no corpo das pessoas por meio da vacinação. Isso significaria que a população seria controlada “por meio de uma matriz de identificação global”. Nada disso faz sentido.

Na realidade, a Aliança ID2020 é um projeto anunciado em 2017 pelas empresas Accenture e Microsoft. Lançada como um consórcio público-privado em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), a iniciativa busca atender o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável para 2030 de fornecimento de identidade legal a toda a população mundial.

De acordo com uma estimativa divulgada pela Microsoft em 2018, uma em cada seis pessoas no mundo não tinha qualquer forma de identificação oficial, dificultando o acesso a direitos humanos básicos, como saúde, habitação e educação.

Por e-mail, a ID2020 informou que o consórcio público-privado trabalha com ações de financiamento e suporte técnico de organizações não-governamentais, corporações e governos. O objetivo é ajudar a implementar soluções de identidade digital, sem qualquer relação com a implantação de microchips nas pessoas.

“Tipicamente, a identidade digital depende de telefones celulares como forma de autenticar a identidade do usuário”, afirmou a ID2020. “Os dados do usuário geralmente são armazenados em uma base de dados descentralizada, para garantir o máximo de privacidade e controle sobre as informações pessoais”.

A teoria conspiratória menciona de maneira descontextualizada três programas da Aliança ID2020 que são reais — nos Estados Unidos, na Tailândia e na Indonésia.

O primeiro é uma parceria com a prefeitura de Austin, no Texas, para fornecimento de identidade digital à população sem-teto. A proposta ainda está em fase inicial.

O projeto tailandês tem parceria com as organizações iRespond e Comitê Internacional de Resgate e tem como objetivo providenciar uma plataforma de identidade digital para os refugiados do acampamento Mae La.

Já na iniciativa na Indonésia, a ID2020 atua com a cooperação das organizações Everest e TNP2K, do governo local, para estabelecer um sistema de identidade digital para 6 mil famílias de baixa renda. Nenhum desses programas, contudo, prevê implantação de microchips.

A ID2020 também negou, por e-mail, que tenha qualquer relação com o desenvolvimento de vacinas. O único projeto da entidade relacionado ao assunto é em parceria com a Gavi (leia mais abaixo). “Nossa missão e mandato são bem delimitados, e não desenvolvemos ou participamos do desenvolvimento de vacinas”, informou.

Gavi

A Gavi foi criada em 2000 com o objetivo de imunizar pessoas sem acesso a vacinas em países pobres. Diferente do que é citado no texto, de que a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização “contribuirá para a distribuição dessas supostas vacinas com microchips” com o governo de Bangladesh e outras organizações, esse não é o papel da organização.

A Gavi surgiu por iniciativa da Fundação Bill e Melinda Gates que, no final dos anos 1990, projetava que mais de 30 milhões de crianças poderiam estar em risco porque seus países não tinham dinheiro para a compra de vacinas. A ideia consistiu em reunir parceiros que pudessem financiar as vacinas e incentivar os fabricantes a reduzir os preços.

A aliança se tornou uma parceira mundial de saúde de setores privados e públicos. Hoje, a Gavi faz parte da Aliança Global de Força de Trabalho na Saúde (Global Health Workforce Alliance, em inglês) da Organização Mundial da Saúde, uma parceria que envolve governos, sociedade civil, instituições financeiras, pesquisadores e educadores e mobiliza recursos humanos para a saúde.

Bangladesh, citado no texto do blog “Livro das Revelações”, é um dos países contemplados pelo trabalho da Gavi. Em release divulgado pela Gavi em fevereiro, o país aparece como um dos beneficiados para receber doses de vacinas para imunizar crianças nos próximos seis meses. “Gavi financiará vacinas contra sarampo-rubéola para mais de 15,5 milhões de crianças menores de cinco anos. O governo de Bangladesh também apoiará a vacinação de mais 17 milhões de crianças até nove anos de idade”, diz a nota.

O governo de Bangladesh, a Gavi e a ID2020 também são parceiros para o fornecimento de uma identidade digital de saúde no nascimento ou na primeira imunização de crianças do país. Em contato por e-mail, a ID2020 explicou que o programa facilita os atendimentos médicos da criança e que isso continua pela vida toda.

De acordo com estimativa da entidade, em Bangladesh, apenas 20% das crianças recebem uma certidão de nascimento durante os primeiros cinco anos de vida, enquanto mais de 95% recebem pelo menos uma dose da vacina. O projeto prevê que profissionais de saúde, empregados por organizações comunitárias, facilitem a inscrição para “aumentar a porcentagem de crianças registradas, melhorar os resultados da vacinação e melhorar o acesso aos serviços de saúde durante toda a vida útil”, segundo informou a ID2020 em nota.

A2I

O A2i (Acesso à Informação), também mencionado no texto falso, é um setor do governo de Bangladesh que busca desburocratizar o acesso da população a serviços públicos. Em seu site oficial, menciona até mesmo o quanto as pessoas conseguem economizar em tempo e custos graças à iniciativa. Tudo é atualizado em tempo real e até a finalização do texto, já foram quase “2 bilhões de dias economizados”.

Outro citado na teoria conspiratória, Anir Chowdhury é consultor de políticas da a2i e realmente trabalha para o governo de Bangladesh. Porém, não é possível dizer que as falas atribuídas a Chowdhury na matéria falsa são realmente dele. Desde setembro de 2019, as mesmas declarações atribuídas a ele têm sido reproduzidas em sites não-confiáveis.

O Comprova questionou a a2i sobre as falas atribuídas a Anir Chowdhury, mas não teve retorno até o fechamento deste texto.

Viralização

O texto do blog “Livro das Revelações” obteve 3,8 mil compartilhamentos desde o dia 22 de março.

Saúde

Investigado por: 2020-04-06

Estudo do médico Vladimir Zelenko com hidroxicloroquina não tem comprovação científica

  • Enganoso
Enganoso
O estudo do médico de Nova York que alega ter “resultados positivos tremendos” usando hidroxicloroquina, azitromicina e zinco contra a covid-19 não foi publicado em nenhum periódico de saúde. Pesquisas divulgadas até agora são inconclusivas

É enganosa uma postagem no Youtube que destaca “100% de sucesso” em um tratamento contra a covid-19 realizado por Vladimir Zelenko, um médico de Nova York, nos Estados Unidos, com drogas como a hidroxicloroquina, o zinco e a azitromicina. A postagem acompanha trechos editados de uma entrevista concedida por Zelenko a Rudolph Giuliani, importante apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump. O estudo feito por Zelenko não tem comprovação científica, não foi publicado em nenhum periódico médico e a única evidência de sua existência são as declarações do próprio autor da suposta pesquisa.

A cloroquina e sua versão menos tóxica, a hidroxicloroquina, são indicadas no Brasil para tratar doenças como malária, reumatismo, inflamação nas articulações, lúpus, entre outras. A azitromicina, por sua vez, é um antibiótico. O zinco é um suplemento nutricional. Testes com esses medicamentos estão, de fato, sendo realizados em pacientes com graus diferentes de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, mas ainda não há comprovação científica de sua eficácia e a automedicação com essas substâncias é contra-indicada pela Anvisa, pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde.

Enganoso para o Comprova é o que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

Para esta verificação, buscamos as orientações do Ministério da Saúde, da Anvisa e da Organização Mundial da Saúde para o tratamento da covid-19, bem como os estudos recentes envolvendo o tratamento da doença com hidroxicloroquina e azitromicina.

Também buscamos o vídeo original da entrevista com Zelenko, publicado no canal Rudolph Giuliani no Youtube.

Cloroquina ainda está sendo testada para covid-19

A postagem verificada pelo Comprova foi feita em 2 de abril no canal “Embaixada da Resistência” no Youtube, uma página dedicada a traduzir para o português vídeos de apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O vídeo publicado pelo canal mostra trechos editados de uma entrevista feita por Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, com Vladimir Zelenko, um médico que atua em Kiryas Joel, comunidade de 35 mil habitantes no Estado de Nova York. A entrevista foi publicada no dia 28 de março deste ano. O texto que acompanha o vídeo diz que Zelenko teve “100% sucesso até agora” usando zinco e as drogas hidroxicloroquina e azitromicina, numa “abordagem pronta e rápida que não deixa a doença evoluir para um quadro de internamento, de onde é difícil recuperar ileso” (sic).

De fato, Zelenko alega ter obtido 100% de sucesso em tratamento realizado com 700 pacientes. Em uma entrevista para o canal no Youtube de um investidor do mercado financeiro, publicada em 1º de abril, o médico disse que apenas seis deles precisaram ser hospitalizados, sendo que dois tiveram pneumonia, mas se recuperaram; dois foram entubados e um faleceu. Este último teria, segundo Zelenko, abandonado o protocolo de tratamento.

Não há evidências de que essa pesquisa tenha realmente sido realizada a não ser a palavra do próprio médico. Em uma carta aberta publicada após o sucesso instantâneo do médico, líderes comunitários de Kiryas Joel acusaram Zelenko de exagerar a extensão da infecção pelo novo coronavírus na comunidade. Os resultados alardeados por Zelenko também não foram divulgados em nenhum periódico acadêmico. Estudos feitos em diversos países têm tentado verificar a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina, mas seus resultados são, por enquanto, inconclusivos (leia mais abaixo).

No Brasil, o Ministério da Saúde decidiu, em março, distribuir essas drogas em determinados hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) como tratamento auxiliar a pacientes que estejam internados e em estado grave. Como mostra essa nota informativa da pasta, a automedicação com cloroquina é contra-indicada e, no caso da covid-19, ficará a critério dos médicos responsáveis fazer uso, ou não, do medicamento.

Apesar da recomendação do Ministério de Saúde de tratar casos graves e críticos, a operadora de planos de saúde Prevent Senior orientou, segundo reportagem do portal G1, orientou os médicos da rede a prescrever cloroquina em tratamento para pacientes que relatam sintomas respiratórios e febre, mas sem confirmação de coronavírus.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a liberação das substâncias para pacientes em estado grave a partir de dados preliminares ocorreu devido à situação emergencial causada pela pandemia. De acordo com a agência, “esse é o chamado uso compassivo (por compaixão), já que não há alternativa terapêutica específica para esses pacientes.”

Também em março, a Anvisa autorizou a primeira pesquisa com a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina no Brasil, a ser realizada pelo hospital Albert Einstein, em São Paulo.

A OMS afirma que está acompanhando os estudos clínicos com o uso da cloroquina e derivados, mas até o momento os dados são insuficientes para estabelecer a eficácia desses medicamentos para o tratamento ou prevenção da infecção pelo novo coronavírus. Por enquanto, o órgão só recomenda o uso da cloroquina para o tratamento da malária e alerta para o risco de superdosagem.

O caminho de Vladimir Zelenko para a fama

Zelenko, de 46 anos, é, segundo a revista norte-americana Forward, um imigrante russo. Ele é médico nas cercanias de uma comunidade judaica ortodoxa, chamada Kiryas Joel, que fica a uma hora da cidade de Nova York.

Antes da entrevista com Giuliani, um vídeo transformou Zelenko em celebridade nos Estados Unidos. Publicado no Youtube em 21 de março, era endereçado a Trump. Desde então, as imagens foram removidas pelo site de vídeos por “violar os Termos de Serviço” da plataforma. O Comprova acessou o canal do médico no Youtube e constatou que ele foi criado em 15 de março deste ano. De fato, o vídeo em questão não consta mais na lista de publicações de Zelenko. Apesar disso, o vídeo continua circulando na internet, como o Comprova pode constatar em dois sites que publicam notícias das comunidades judaicas dos Estados Unidos.

No vídeo direcionado a Trump, de 3 minutos e 6 segundos, Zelenko se apresenta, detalha a experiência que tem realizado em Kiryas Joel e sugere que a combinação de hidroxicloroquina, azitromicina e zinco deve ser usada em pacientes do grupo de risco da covid-19 nos estágios iniciais da infecção ou mesmo como “profilaxia” – antes da infecção, portanto – em pacientes de alto risco. Trata-se de uma recomendação que difere do chamado “uso por compaixão” autorizado pelo Ministério da Saúde no Brasil.

“Eu estou vendo resultados positivos tremendos”, diz Zelenko no vídeo. O médico encerra o vídeo desejando sorte a Trump. “Minha sincera bênção para você, senhor presidente. Eu pessoalmente te amo. Espero que Deus proteja você e sua família e abençoe tudo o que você faz, que é salvar esta nação de um desastre”, diz.

Além de postar o vídeo no Youtube, Zelenko fez o mesmo no Facebook e publicou uma carta aberta no Google Docs divulgando seus resultados, segundo relatou o jornal The Washington Post. Quem colocou os holofotes sobre a experiência do médico de Nova York foi a Fox News, canal de televisão próximo a Trump.

Na noite de 23 de março, Sean Hannity, um dos principais apresentadores da emissora e conselheiro informal de Trump, leu trechos da carta de Zelenko ao vivo, durante uma conversa com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence.

Ainda segundo o The Washigton Post, Zelenko foi contactado pelo novo chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, e, na manhã de terça-feira 24, o ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, Rudolph Giuliani, elogiou seu trabalho no Twitter.

No último dia 28, Giuliani publicou uma entrevista de 41 minutos e 36 segundos com Zelenko em seu canal no Youtube. Nela, o médico afirmou que prescreveu hidroxicloroquina, zinco e azitromicina para cerca de 450 pacientes que apresentavam os primeiros sintomas da covid-19. Ele acredita que os medicamentos devem ser usados por pacientes que estão em casa, para diminuir o risco de serem internados. Mas faz uma ressalva: só receita o “coquetel” para pessoas com mais de 60 anos ou com doenças crônicas, alegando receio por causa dos efeitos colaterais das drogas. “É a arte da medicina, você quer o máximo de benefícios com o mínimo de efeitos colaterais”, disse.

Zelenko também especifica as dosagens de cada medicamento e quantas vezes por dia as prescreve para cada paciente. Dessa entrevista que foram retirados os trechos que estão no vídeo de 7 minutos e 53 segundos publicado no canal Embaixada da Resistência.

Ao divulgar a conversa no Twitter, Giuliani disse haver provas de que “a cloroquina é 100% eficiente contra a covid-19”. Como não há evidência científica disso, o tweet de Giuliani foi apagado pelo Twitter por violar as regras de uso da plataforma durante a pandemia da doença. Outros tweets de Giuliani nos quais ele não garante a cura da covid-19 continuam disponíveis em seu perfil na rede social.

Trump apoia a cloroquina, apesar da controvérsia

Há semanas, Trump tem apoiado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19, mesmo na ausência de evidências científicas sobre sua eficácia. Em 21 de março (mesma data em que Zelenko postou seu vídeo para Trump), o presidente dos Estados Unidos afirmou no Twitter que “hidroxicloroquina e azitromicina, tomadas em conjunto, têm uma chance real de ser um dos maiores fatores de mudança na história da medicina”.

Desde então, Trump vem incentivando com frequência o uso dessas substâncias. Diante da comoção provocada por seus discursos, pelo menos 20 estados tiveram, segundo levantamento do Wall Street Journal, de emitir diretrizes limitando a prescrição da hidroxicloroquina. A intenção é garantir que o medicamento continue disponível para os pacientes de doenças como o lúpus, por exemplo, que dependem da substância.

No sábado, 4, a agência de notícias Reuters publicou uma reportagem segundo a qual Trump e a Casa Branca pressionaram as autoridades sanitárias dos EUA para acelerar a permissão de uso da hidroxicloroquina contra a covid-19. Em um comunicado enviado à Reuters, a Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa, afirmou que “foi determinado, com base nas evidências científicas disponíveis, que é razoável acreditar que os medicamentos específicos podem ser eficazes no tratamento da covid-19 e que, dado que não existem tratamentos alternativos adequados, aprovados ou disponíveis, os conhecidos e os potenciais benefícios do tratamento desse vírus superam os riscos conhecidos e potenciais”.

No domingo, 5, Trump voltou a incentivar o uso da hidroxicloroquina em uma entrevista coletiva. Na conversa com os jornalistas, o presidente dos EUA impediu, no entanto, que seu principal conselheiro científico com relação à covid-19 respondesse sobre a hidroxicloroquina. Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, enfatizou em diversas outras oportunidades que não há comprovação científica da eficácia da hidroxicloroquina contra a covid-19.

Não há provas de eficácia da cloroquina

No tweet de 21 de março em que alardeou o uso da hidroxicloroquina, Trump citou um estudo realizado em Marselha, na França, por um grupo liderado pelo médico Didier Raoult. Segundo o estudo, a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina teria curado alguns pacientes de covid-19. Com um passado controverso, Raoult foi duramente criticado por conta do estudo, apontado como falho do ponto de vista científico e pouco transparente, uma vez que os dados brutos não foram compartilhados.

Desde então, outros estudos se debruçaram sobre essa questão. Um deles, realizado no hospital Renmin, da Universidade de Wuhan, na China, encontrou indícios de que a hidroxicloroquina ajudou a acelerar a recuperação de um pequeno número de pacientes que tinham sintomas leves da covid-19. Vale salientar que, segundo a OMS, entre os sintomas leves da doença está a pneumonia.

Outro pequeno estudo realizado na China, e publicado em um periódico da Universidade Zhejiang, não detectou benefícios com o uso de hidroxicloroquina e concluiu que mais pesquisas são necessárias.

Um quarto estudo, coordenado por Jean-Michel Molina, professor do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade de Paris, publicado no periódico Médecine et Maladies Infectieuses, não encontrou nenhuma evidência de redução da carga viral ou benefício clínico com a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes com infecção grave por covid-19.

Viralização

A postagem do canal Embaixada da Resistência registrou, até esta segunda-feira 6, 47 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-04-03

É falsa a corrente que diz que Xangai e Pequim não tiveram casos de coronavírus

  • Falso
Falso
Segundo a OMS, ao contrário do que afirma uma corrente que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagem, foram registrados 583 casos de coronavírus em Pequim e 526 em Xangai até o dia 3 de abril. Levantamento da universidade Johns Hopkins dá conta de 14 mortes nas duas cidades até a mesma data

Uma corrente que circula nas redes sociais afirmando que o novo coronavírus não chegou às grandes cidades chinesas, apresenta uma série de dados falsos para tentar comprovar que o vírus é um “atentado terrorista” produzido pela China para “criar pânico no mundo”.

O conteúdo foi publicado originalmente na página do Facebook “Jair Bolsonaro Presidente – Atibaia” em 1º de abril e depois passou a ser veiculado por outros perfis nas redes sociais.

A corrente usa dois argumentos centrais: de que a covid-19 se espalhou por todos os países, mas não atingiu Pequim, a capital chinesa, e nem Xangai, o polo econômico do país asiático; e que o vírus não teve impacto na economia e no mercado financeiro chinês.

Ambas as afirmações são falsas. No último balanço da universidade americana Johns Hopkins, até dia 03/04, às 17h, Pequim tinha 584 pacientes que testaram positivo para a doença, oito mortes e 434 pessoas recuperadas. Na mesma data, Xangai tinha 526 casos confirmados, seis mortes e 348 pacientes recuperados. De acordo com o levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), até o dia 03/04, foram registrados 583 casos de coronavírus em Pequim e 526 em Xangai.

Já em relação aos impactos econômicos, reportagem da Agência Reuters, de 31 de março, mostra que o mercado de ações chinês teve o pior trimestre desde 2018, por conta das consequências econômicas do coronavírus. No começo de fevereiro, as bolsas chinesas chegaram a registrar a queda mais importante em cinco anos, de 8%. Os dados do impacto da covid-19 na economia chinesa podem ser lidos em texto publicado (em inglês) pela Agência Nacional de Estatísticas do país.

Há outros trechos da corrente que também são falsos, como o Comprova destrinchou na seção abaixo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para verificar a veracidade das informações do texto que circula nas redes sociais, o Comprova dividiu o conteúdo em 8 perguntas.

Buscamos as informações em publicações oficiais de contaminação pela covid-19, no mapa em tempo real mantido pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e no site da Organização Mundial da Saúde.

Foram utilizadas, ainda, reportagens com fontes oficiais e autoridades publicadas em veículos jornalísticos.

Você pode refazer o caminho da verificação clicando nos hiperlinks do texto verificado.

  1. É verdade que esse vírus não atingiu a capital da China, Pequim, e a capital econômica, Xangai, e não tem efeito sobre essas cidades?

O texto começa dizendo que doença se espalhou por todos os países, mas não atingiu Pequim, a capital chinesa, nem Xangai, o polo econômico do país asiático. De acordo com autoridades locais, em 20 de janeiro a China contava com 200 casos confirmados e já tinha pacientes infectados pelo vírus em ambas as cidades.

No último balanço da universidade americana Johns Hopkins, até dia 03/04, às 17h, Pequim tinha 584 pacientes que testaram positivo para a doença, oito mortes e 434 pessoas recuperadas. Na mesma data, Xangai tinha 526 casos confirmados, seis mortes e 348 pacientes recuperados. De acordo com o levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), até o dia 03/04, foram registrados 583 casos de coronavírus em Pequim e 526 em Xangai.

  1. É verdade que Pequim e Xangai não foram fechadas, não entraram em quarentena nem em lockdown e também não tiveram bloqueios?

Em outro trecho, o texto diz que não houve lockdown ou bloqueios em nenhuma dessas duas cidades. De fato, os governos locais não determinaram um isolamento total de toda a população, como foi feito em Wuhan, cidade onde foram registrados os primeiros casos da doença. No entanto, autoridades restringiram deslocamentos, fecharam restaurantes, cinemas, lojas e shoppings.

Os governos locais também adotaram uma política rigorosa para a medição da temperatura da população, por meio de um sistema de reconhecimento facial implementado em estabelecimentos, como mostra esse documentário sobre a quarentena em Pequim realizado pelo canal ArteTV.

Em Pequim, lojas, cinemas, museus e restaurantes foram fechados. Em Xangai, visitas a pontos turísticos foram suspensas na última semana. No dia 15 de março, as duas cidades impuseram uma quarentena obrigatória de 14 dias para pessoas que voltassem de viagens do exterior. Em Pequim, os que se recusarem em se isolar ou obedecer regras oficiais podem ser punidos pelo governo.

Alguma autoridade de saúde informou que o vírus não chegaria a Pequim e Xangai?

Em pesquisas na internet, em jornais locais e internacionais, o Comprova também não identificou nenhuma autoridade de saúde que tenha divulgado que o vírus não atingiria as duas cidades chinesas.

Pequim e Xangai são as áreas adjacentes de Wuhan, cidade em que se originou a doença?

A corrente também afirma que as cidades são “adjacentes de Wuhan”, local onde a doença se originou. Segundo o Google Maps, Pequim está a 1.152 quilômetros de Wuhan e Xangai, a 820 quilômetros.

É verdade que novos casos não estão chegando na China e o país está aberto?

Em seguida, o texto afirma que o “mundo está assolado enquanto novos casos não estão chegando na China”. Em 12 de março, o país informou que, após registrar 80.980 casos do novo coronavírus e 3.173 mortes, o pico da doença havia passado e os novos casos diários estavam em declínio. Com isso, seria possível começar a relaxar as medidas de isolamento no país, como reabrir as salas de cinema, e voltar a abrir a economia.

Contudo, segundo a ferramenta da Johns Hopkins, nos últimos vinte dias a China registrou mais 1.529 pessoas infectadas e 153 óbitos, até as 11h30 de 03/04. A preocupação com uma segunda onda de surto da doença por pessoas que possam voltar de países que ainda registram transmissão levou as autoridades chinesas a decretarem o fechamento das salas de cinema novamente .

É verdade que não há efeito do coronavírus no mercado financeiro da China?

Depois da exposição sobre os casos, a corrente se dedica a comprovar que não houve efeitos do vírus na economia e no mercado financeiro da China. Reportagem da agência Reuters, de 31 de março, mostra que o mercado de ações chinês teve o pior trimestre desde 2018, devido a preocupações sobre as consequências econômicas do coronavírus.

No começo de fevereiro, as bolsas chinesas chegaram a registrar a queda mais importante em cinco anos, de 8%. A produção industrial na China sofreu em fevereiro a mais rápida contração da história. Os lucros industriais diminuíram 38,3% nos dois primeiros meses de 2020.

A taxa de desemprego no país aumentou mais do que durante a guerra comercial com os Estados Unidos. O aumento da taxa, mês a mês, chega a ser maior do que o desemprego que ocorreu nos 18 meses anteriores, quando havia influência do embate comercial. Os dados do impacto da covid-19 na economia chinesa podem ser lidos em texto publicado pela Agência Nacional de Estatísticas do país.

Como a China é hoje um dos maiores polos econômicos mundiais, as consequências se espalharam por todo o mundo: a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento prevê uma redução de 5% a 15% nos investimentos estrangeiros diretos no mundo em 2020. A OCDE, o clube dos países ricos, projeta que o impacto mundial do coronavírus deve derrubar de 0,5 a 1,5 ponto percentual o PIB global. Em valores, se trata de uma perda de US$ 500 bilhões a US$ 1,4 trilhão em geração de riqueza, que deixará de existir.

É verdade que o vírus chinês é uma arma biológica da China? Há indícios de que o país tem remédios que não foram compartilhados com o mundo?

O conteúdo falso também diz que o vírus é uma “arma biológica” criada pela China para destruir o mundo e sugere que o país asiático “talvez também tenha remédios que não está compartilhando”. No entanto, segundo pesquisa científica publicada na revista médica Nature Medicine, o vírus não foi criado em laboratório.

Pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália apontam evidências de que o novo coronavírus seja resultado de uma seleção natural, segundo os cientistas. Uma das possibilidades consideradas é de que o novo coronavírus tenha evoluído em alguma espécie de animal (ainda não se sabe ao certo qual seria) e, então, ter feito a transição para o organismo humano.

O Comprova também consultou o virologista Lindomar Pena, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), se havia possibilidade de o vírus ter sido criado em laboratório. Ele disse que o genoma dos coronavírus é enorme e isso dificulta sua manipulação genética.

“Nem mesmo o maior especialista em vírus do planeta teria a capacidade de construir um vírus tão exitoso em transmissibilidade. Isso é efeito de mutação e seleção natural durante a circulação do vírus em animais silvestres. A natureza é mais sábia que qualquer cientista”, disse o virologista.

O texto levanta ainda a possibilidade da China ter desenvolvido um remédio para combater o coronavírus, e não ter compartilhado com o mundo. Atualmente, não há nenhum tratamento comprovadamente eficaz para a doença. A China e outros países têm investido em pesquisas, mas nenhum deles já conseguiu comprovar a descoberta de um remédio único para tratar pacientes com a covid-19.

Na última semana, a Organização Mundial da Saúde anunciou que começará uma pesquisa global chamada de SOLIDARITY (solidariedade, em inglês), com o objetivo de testar, em milhares de pacientes, quatro terapias promissoras.

Recentemente, cientistas da Universidade Tsinghua, em Pequim, descobriram anticorpos que podem ser úteis para combater o novo coronavírus. O estudo foi divulgado pela China e pela mídia, mas não tem ainda eficácia comprovada.

O diretor-geral da OMS tem alguma relação com a China? Ele foi colocado no cargo através do esforço diplomático chinês?

Por fim, o texto classifica o novo coronavírus como “o pior atentado da história”. O conteúdo sugere que a propagação da doença contou com a participação do “presidente” da Organização Mundial da Saúde (OMS), que teria sido colocado no cargo por um esforço do governo chinês.

Na verdade, o etíope Tedros Adhanom foi indicado pelo governo da Etiópia para concorrer ao cargo, que começou com seis candidatos na disputa. De acordo com o site de notícias STAT, especializado na cobertura de saúde, foram três rodadas de votação secreta entre os estados membros da OMS até que Tedros fosse eleito.

Na última votação, que ocorreu na 70ª Assembleia Mundial de Saúde em 2017, o etíope derrotou David Nabarro, da Inglaterra, e Sania Nishtar, do Paquistão. Ele recebeu 133 votos dos 185 estados membros. O Comprova não encontrou nenhuma referência online de apoio da China à eleição de Tedros.

Quem compartilhou o conteúdo?

O texto foi publicado primeiro às 15h37 do dia 1º de abril, no perfil “Jair Bolsonaro Presidente – Atibaia” do Facebook.

Depois, o Comprova identificou outras reproduções do conteúdo, em sites de notícias conservadores do Paraguai, em páginas do Twitter e em mensagens no WhatsApp.

Viralização

O post original na página do Facebook bolsonarista teve 44 curtidas e 38 compartilhamentos. Em seguida o perfil do Twitter @zfabrogmailcom reproduziu o conteúdo, que teve 353 curtidas e 173 compartilhamentos até as 17h de 3 de abril.

Outros perfis compartilharam o conteúdo, que também circulou pelo WhatsApp.

Outras verificações

Também desmentiram a corrente o site Boatos.org, AosFatos.org e o portal G1PAGE_BREAK: PageBreak

Saúde

Investigado por: 2020-04-03

Áudio no qual um suposto médico de hospital do Rio de Janeiro defende o fim da quarentena tem informações falsas

  • Falso
Falso
Não existe a função de chefe de rotina no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no bairro de Acari, no Rio de Janeiro, função que o suposto médico diz exercer, e os dados que ele apresenta em áudio compartilhado em redes sociais não condizem com a realidade

O áudio que circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagens com uma mensagem de um suposto médico de um hospital do bairro de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que recomenda a interrupção das medidas de isolamento social e a volta da população ao trabalho, devido ao baixo número de casos da covid-19 registrados na capital fluminense, apresenta dados falsos.

O homem que se apresenta como “chefe da rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla não diz seu nome, mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, não existe essa função no hospital de Acari.

O áudio surgiu em grupos de WhatsApp e foi veiculado no canal do YouTube da jornalista Regina Villela, em 27 de março. O conteúdo produzido por ela foi então publicado, no dia 29 do mesmo mês, na página de Facebook do deputado estadual Delegado Cavalcante, do PSL do Ceará.

No áudio, um suposto médico, que se apresenta como “chefe de rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, questiona as medidas de isolamento social impostas pelo poder público. Ele também diz que é chefe da emergência do Hospital Municipal Rocha Faria e que atua no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes.

Procuradas pelo Comprova, as Secretarias Estadual e Municipal negaram que o suposto profissional faça parte do quadro de funcionários das instituições, e a pasta municipal ressalta que ainda que o áudio fosse realmente de um médico atuante nas instituições, a opinião pessoal de um profissional não refletiria o posicionamento adotado pela Prefeitura e pela Secretaria Municipal de Saúde.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Em uma busca básica na internet e na rede social do deputado cearense Delegado Cavalcanti (PSL/CE) e a partir da publicação, localizamos a conta de Regina Vilella no YouTube, onde o vídeo ainda estava disponível.

Além disso, com outras ferramentas de busca levantamos a origem dos perfis citados na verificação do conteúdo e consultamos as assessorias de imprensa e comunicação das secretarias municipal e estadual de Saúde.

No vídeo, Regina Villela começa sua apresentação dizendo que recebeu, pelo WhatsApp, o áudio “trocado entre um médico e os seus amigos, no Rio de Janeiro”. Segundo ela, a voz seria do “chefe de rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, que foi “alocado para ser o centro de referência para o atendimento dos pacientes que chegarem na rede municipal ou estadual com problema pneumológico provocado pelo ‘vírus chinês’”. Entramos em contato com a jornalista, por email, para obtermos mais detalhes sobre a origem do áudio e a identidade do suposto médico, mas não obtivemos resposta.

No áudio, o suposto médico diz que tem uma “boa notícia”. “Desde segunda-feira, nós temos no CTI quatro pacientes, nenhum óbito. Desses pacientes, 2 estão no tubo, grave, se mantendo. No quinto andar, onde temos 160 leitos distribuídos em 20 ou 25 enfermarias, cada uma com 4 ou 5 leitos, 8 pacientes internados, todos eles estáveis. Nem mesmo no CTI, são pacientes que não fazem parte da nossa faixa etária, e olha que eu tô com 56 anos“, afirma.

O Hospital Ronaldo Gazolla é a principal unidade de saúde que está sendo preparada, na capital fluminense, para receber a maior parte dos casos de coronavírus da cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a unidade terá 381 leitos para os pacientes da covid-19, que estão sendo preparados e liberados conforme demanda. Ao contrário do que é afirmado pelo suposto médico, os casos registrados no Rio de Janeiro não se restringem a pessoas com comorbidades ou a idosos. O Estado tem, segundo o boletim epidemiológico publicado em 1º de abril, 832 casos confirmados da covid-19, 697 deles na capital. Além disso, pelo menos 28 mortes por coronavírus ocorreram no estado até o dia primeiro.

 

O suposto profissional reforça a volta ao trabalho e diz que tem acompanhado a retomada de atividades nas proximidades dos hospitais onde afirma trabalhar: “Voltem ao trabalho, não fiquem em casa. O que o Bolsonaro falou, ele tá coberto de razão. A gente já está experimentando, dentro das favelas – eu trabalho dentro da favela de Acari [onde fica o hospital], eu sou chefe da vermelha do Rocha Faria, eu estou nesse momento aqui saindo do Hospital Adão Pereira Nunes, que é o de Saracuruna, as imediações desses hospitais é formada [sic] por um povo… Uma população muito pobre, já tá tendo uns ‘piquetezinhos’, pedido de dinheiro, o povo tá começando a entrar em desespero“. Como mencionamos, as Secretarias do Estado e do Município do Rio de Janeiro não reconhecem o vínculo do suposto médico com os hospitais citados.

O homem ainda continua sua argumentação: “Não existe risco de coronavírus matar quem quer que seja da faixa etária até 40 anos ou 45 anos“, pontua. Ao contrário do que afirma o suposto médico, o Brasil já registra, conforme boletim do Ministério da Saúde, no dia 1º de abril de 2020, 11% das mortes em pacientes abaixo dos 60 anos. Destes, 15 estavam na faixa entre os 40 e os 59 anos, e 7 tinham entre 20 e 39 anos. A vítima mais jovem da doença no país tinha 23 anos.

Outra afirmação do autor do áudio é de que “nós temos a taxa de replicação do vírus muito mais baixa do que as pesquisas mostram. Existem uns gráficos, não sei se vocês já viram, de cor, onde a faixa acima do Equador tá toda vermelha, tomada, porque lá é um ambiente frio. Nós não temos invernos radicais. Então, vamos evitar aí o colapso econômico“. Uma projeção da Imperial College, de Londres, na Inglaterra, aponta que o Brasil terá, pelo menos 44 mil mortes causadas pela covid-19, caso sejam adotadas medidas mais duras de isolamento. Caso se adote o que vem sendo chamado de “isolamento vertical”, ou seja, somente o isolamento de indivíduos que fazem parte de grupos de risco, esse número pode chegar a 529 mil.

A respeito da suposta diferença de replicação do vírus no Brasil, por causa do clima tropical do país, não há estudos conclusivos que suportam esta afirmação. Ao contrário, especialistas afirmam que o clima mais quente do país não protege contra a doença.

Quem é Regina Villela?

No site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do Tribunal Superior Eleitoral, Regina Maura Villela Barboza, 58 anos, se apresenta como jornalista e redatora, nascida na cidade do Rio de Janeiro, moradora de Fortaleza/CE, e foi candidata do Partido Social Liberal (PSL) à vaga de deputada federal pelo estado do Ceará.

Regina já prestou serviços para a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado do Ceará, fornecendo trabalhos na área de comunicação e atualmente mantém um canal no YouTube intitulado “Regina Villela: Informação, Opinião e Gargalhadas”, cujo perfil é conservador e o principal tema é a abordagem de temas políticos.

Ela é também autora da divulgação do áudio do suposto médico em seu canal e escreve para o site conservador Terça Livre.

Outros conteúdos divulgados por Regina Vilella já foram checados e apontados como inverídicos.

Viralização

O Comprova encontrou publicações feitas no YouTube, Twitter e Facebook, entre os dias 27 a 29 de março.

Até às 20h23 desta quinta-feira (2), o vídeo publicado no canal ‘Regina Villela’ no dia 27 de março, teve mais de 560 mil visualizações, 43 mil reações positivas, 1,5 mil reações negativas, com mais de 1.700 comentários.

Na conta oficial de Regina Villela no Twitter, a publicação feita em 28 de março tem 811 retweets e 1.700 curtidas.

A publicação da jornalista no Facebook, feita no dia 28, tinha 231 reações, 34 comentários e 140 compartilhamentos até o dia 2 de abril.

O vídeo de Regina foi compartilhado no dia 29 de março, na página ‘Delegado Cavalcante’, ligada ao deputado estadual do Ceará, do PSL, no Facebook. A publicação alcançou até esta quinta, mais de 77 mil reações, 18 mil comentários e 117 mil compartilhamentos.

O portal de notícias G1 também produziu uma reportagem sobre esta fraude.PAGE_BREAK: PageBreak

Saúde

Investigado por: 2020-04-02

Ministério da Defesa desmente boato de que Exército tenha construído 2 mil leitos em 48 horas

  • Falso
Falso
As Forças Armadas têm, de fato, atuado em montagem de hospitais de campanha, mas não é verdade que tenham construído 2.000 leitos em 48 horas como afirmam postagens nas redes sociais. Na China, os primeiros três hospitais de campanha tinham 4 mil leitos e foram feitos em 29 horas

São falsas as publicações no Facebook que afirmam que o Exército brasileiro construiu 2 mil leitos em 48 horas para responder à pandemia do novo coronavírus, em comparação com a China, que teria construído 1.000 leitos em 10 dias. Procurado, o Ministério da Defesa assinalou que esta informação não procede, mas que as Forças Armadas estão atuando na montagem de hospitais de campanha. O Exército também foi procurado pelo Comprova para esclarecer o assunto, mas não respondeu até o fechamento deste texto.

A afirmação verificada neste artigo foi publicada em 29 de março no Facebook e, desde então, foi replicada no próprio Facebook, além do Instagram e Twitter.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Para esta verificação, foram consultadas as páginas na Internet do Exército e do Ministério da Defesa, os sites da Comissão Nacional de Saúde da China e do jornal China Daily e usada a busca reversa de imagens do Google. Também entramos em contato por e-mail e telefone com o Ministério da Defesa e com o Exército.

Atuação do Exército no combate à covid-19

As Forças Armadas brasileiras têm, de fato, atuado no combate à pandemia de coronavírus. De acordo com uma publicação no site do Ministério da Defesa com data de 1º de abril, a chamada “Operação Covid-19” está em seu 10º dia de ação e conta com mais de 22 mil militares.

Contudo, diferentemente do que afirmam as publicações viralizadas, não foi registrada até este momento nenhuma construção de 2.000 leitos em apenas 24 horas.

Em e-mail ao Projeto Comprova, o Ministério da Defesa indicou que “a informação não procede” e que as Forças Armadas estão trabalhando “no apoio para a montagem de hospitais de campanha”.

Nos sites do Governo Federal e do próprio Ministério da Defesa, há matérias a respeito da instalação em Boa Vista, Roraima, de uma “área de proteção e cuidados” para atender, em princípio, 80 brasileiros e venezuelanos com suspeita ou confirmação de coronavírus, e cuja ação faz parte da “Operação Acolhida”.

Em confirmação por telefone ao Projeto Comprova, o tenente Edwaldo Costa, da assessoria de comunicação do Ministério da Defesa, explicou que, com a participação do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), este local de proteção e cuidados será ampliado para 1.200 leitos hospitalares e 1.000 leitos para pessoas infectadas ou com suspeita de infecção, mas ainda não está em funcionamento, pois estão sendo providenciados.

Publicações que exaltam o Exército tiram fotos de contexto

Várias postagens no Facebook que elogiam a construção de 2 mil leitos pelo Exército brasileiro utilizam duas fotos fora de contexto.

A primeira imagem mostra a montagem de uma estrutura para atender pacientes com problemas respiratórios no Pavilhão de Eventos São Sebastião Mártir, em Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul. A foto foi publicada no site de notícias local Portal RVA no dia 24 de março de 2020 — a reportagem informa que ali serão instalados 30 leitos, e não 1,2 mil.

Nesta outra matéria do Portal RVA, é possível ver outras fotos da estrutura de atendimento. Esta reportagem de outro site local informa que os leitos foram emprestados pelo Exército ao município.

A outra foto é do Hospital de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, em Curitiba. A foto foi tirada no dia 1º de outubro de 2019, data de inauguração de dez novos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pelo governo do Paraná. O espaço da UTI existia desde 2008, mas estava sem equipamentos.

China construiu 13 mil leitos

De acordo com a Comissão Nacional de Saúde da República Popular da China, 16 centros médicos temporários foram construídos em ginásios e centros de exposição da cidade de Wuhan, epicentro da pandemia na China.

As informações sobre os hospitais foram divulgadas no China Daily, jornal do Partido Comunista Chinês. Treze mil leitos foram disponibilizados para o tratamento de vítimas da covid-19 que apresentavam sintomas leves nesses locais. Os primeiros três hospitais de campanha, de um total de 16, tinham 4 mil leitos e foram feitos em 29 horas. Segundo agências de notícias internacionais, como a BBC, outro hospital, com mil leitos, foi construído em dez dias.

Ainda segundo as autoridades chinesas, o tempo médio para a construção dos hospitais de campanha foi de um dia. Os centro médicos funcionaram durante o ápice da epidemia, por um período de 35 dias.

Viralização

As publicações tiveram grande repercussão desde que foram postadas pela primeira vez, somando, até este momento, mais de 39,5 mil compartilhamentos no Facebook. Embora em menor escala, postagens com alegações semelhantes foram reproduzidas no Twitter e Instagram.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Áudio vazado de suposto assessor do governador do Ceará é falso

  • Falso
Falso
Os envolvidos negam o conteúdo do áudio e o nome Ricardo Certi não consta na lista de servidores estaduais do Ceará nem foi encontrado em outros sistemas de busca. O único nome semelhante encontrado pelo Comprova é Riccardo Certi, um barítono italiano de Bréscia

São falsos os áudios e vídeos divulgados em páginas e grupos de Facebook, Twitter e no WhatsApp que atribuem a um suposto assessor da Casa Civil do Governo do Ceará, chamado Ricardo Certi, o envio de uma mensagem para o Sistema Verdes Mares de Comunicação. O governador do estado, Camilo Santana, publicou uma postagem na sua página oficial do Facebook desmentindo o conteúdo e a autoria da mensagem. Ricardo Certi não é um nome que consta na lista de servidores estaduais. De acordo com a Secretaria de Estado da Casa Civil do Ceará, o caso foi informado às autoridades policiais para investigação.

Na mensagem de áudio, o suposto assessor pede ao interlocutor para “fazer a sua parte”, que seria criticar Jair Bolsonaro. “A parte de vocês é meter o pau só no Bolsonaro, só no Bolsonaro, porque a nossa parte aqui a gente está fazendo, que é fechar os comércios para ter a revolta”, diz, em um trecho, o autor do áudio. Em outro, afirma que “quando o povo se revoltar, a gente quer a revolta, que o povo passe fome mesmo. […] Pedir o impeachment do Bolsonaro. Aí vocês jogam aí na imprensa essa coisa: ah, o Bolsonaro não está sabendo lidar com a covid.” A mensagem finaliza dizendo que “[…] a intenção é essa mesmo. Começar a deixar faltar coisas nos supermercados ou então limitar o acesso ao supermercado, que é para o povo ir para a rua, mas contra o Bolsonaro.”

A Associação Cearense de Rádio e Televisão (ACERT) emitiu nota na qual afirma que “o áudio, que sugere que um servidor do Governo do Ceará está conversando com um suposto colaborador do SVM, é inverídico e criminoso”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

Para realizar esta verificação, o Comprova consultou o portal Ceará Transparente e verificou que o nome de Ricardo Certi não consta na lista de servidores estaduais. Também não há registro de servidores com nomes de grafia semelhante, como Ricardo Serti, Certti, Sertti. ou Certe. A busca pelo nome também não traz resultados no Google, a não ser do próprio áudio vazado. Buscando em um sistema de busca de pessoas no Brasil, também não foi encontrado nenhum resultado nem o CPF do suposto assessor, nem quando a busca foi feita pelos sobrenomes de grafia similar (Certi, Serti, Serte, Certe, Certti, Sertti). A única pessoa com nome semelhante e registro na internet é Riccardo Certi, um barítono italiano de Bréscia.

Além da publicação na página oficial do Facebook, o Comprova buscou a assessoria de comunicação do governador do Ceará, que desmentiu o conteúdo do áudio. Também entramos em contato com a Associação Cearense de Rádio e Televisão (ACERT), que nos enviou uma nota de repúdio ao conteúdo do áudio, na íntegra. O Comprova entrou em contato com a assessoria de comunicação do Grupo Edson Queiroz, detentor do Sistema Verdes Mares, que corroborou a nota da Acert.

Diferente do que afirma o conteúdo do áudio, o decreto para fechamento do comércio no estado do Ceará, publicado no dia 19 de março, ocorreu para intensificar as medidas para enfrentamento da infecção pelo novo coronavírus. A decisão considerou o decreto anterior, n.º 33.510, de 16 de março de 2020, que determinou situação de emergência em saúde no âmbito estadual em função do crescente aumento no Estado do Ceará do número de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O governo também seguiu a recomendação expedida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

O que diz o governo: comércio e desabastecimento

Ao contrário do que diz o áudio compartilhado, o Governo do Ceará não decretou limite de acesso a supermercados nem o fechamento desses espaços. De acordo com decreto, prorrogado por mais sete dias no último dia 28, “todas as atividades essenciais à vida da população permanecem funcionando, toda a sua cadeia, desde a produção de alimentos, a distribuição, logística e os supermercados.” O próprio governador explicou, em áudio publicado no site oficial do governo, quais são as exceções ao fechamento do comércio no Ceará.

O Comprova também consultou a Associação Cearense de Supermercados (ACESU). A entidade diz, em seu site, que “os supermercados fazem parte do rol de atividades essenciais instituído pelo governo federal e estão funcionando normalmente no estado do Ceará”. Além disso, a entidade regional diz que acompanha de forma atenta, com a Associação Brasileira de Supermercados, toda a cadeia de abastecimento do segmento, e que “não há desabastecimento de gêneros alimentícios, de higiene pessoal, bem como, de limpeza em geral”.

Viralização

O áudio, muitas vezes acompanhado de um vídeo, do suposto assessor Ricardo Certi teve mais de 1.500 compartilhamentos no Facebook, mais de 500 vezes no Twitter. No Youtube, o conteúdo falso teve mais de 150.000 visualizações.

O material foi enviado ao Comprova por meio do nosso Whatsapp (11 97795-0022)

A Agência Lupa e o Boatos.Org também fizeram a checagem deste áudio.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Vídeo do diretor da OMS foi tirado de contexto para validar discurso de Bolsonaro

  • Enganoso
Enganoso
Alerta de Tedros Adhanom Ghebreyesus, no entanto, não significa que a OMS tenha deixado de apoiar o isolamento social como estratégia contra o novo coronavírus

Um trecho fora de contexto de uma fala do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), no qual ele alerta para os impactos econômicos do distanciamento social, tem sido compartilhado nas redes sociais de modo a referendar a posição do presidente Jair Bolsonaro sobre o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, contrária à implementação do isolamento social. O alerta de Tedros Adhanom Ghebreyesus, no entanto, não significa que a OMS tenha deixado de apoiar o isolamento social como estratégia contra o novo coronavírus.

Em sua colocação, feita durante coletiva de imprensa da OMS no dia 30 de março, Adhanom pede que os governos levem em consideração os impactos econômicos que um lockdown pode ter sobre as pessoas mais pobres.

Ele respondia à pergunta de uma repórter da Índia sobre a crise humanitária que o país tem enfrentado em meio à pandemia. Na semana passada, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, impôs a 1,3 bilhão de habitantes a maior quarentena da história da humanidade.

“Alguns países têm um forte sistema de bem-estar social e outros não”, disse. “Os governos devem ter em conta esta população; se estamos fechando ou se estamos limitando a movimentação, o que vai acontecer às pessoas que têm de trabalhar diariamente e têm de ganhar o pão de cada dia?”, questiona o diretor-geral da OMS.

Por conta da repercussão de sua fala, o diretor-geral da OMS esclareceu posteriormente, em sua conta de Twitter, que não quis dizer que os países não deveriam impor o distanciamento social para conter a disseminação da covid-19. Adhanom afirmou que os governos deveriam desenvolver políticas para proteger os mais vulneráveis.

“Cresci na pobreza e entendo essa realidade”, escreveu. “Peço que os países desenvolvam políticas públicas para garantir proteção econômica àqueles que não podem ganhar dinheiro ou trabalhar em meio à pandemia da covid-19. Solidariedade!”

A fala de Adhanom não representou uma mudança de postura da OMS em relação ao isolamento social, como as publicações do vídeo da coletiva nas redes sociais insinuam. Em resposta à mesma pergunta feita pela repórter indiana, o diretor do programa de Emergências de Saúde da entidade, Michael Ryan, reforça a importância dos lockdowns para contenção da doença.

“Infelizmente, em algumas situações neste momento, [lockdowns] são a única medida que os governos podem realmente tomar para conter este vírus”, disse Ryan. “É lamentável, mas essa é a realidade e precisamos explicar continuamente as razões para isso às nossas comunidades”.

A assessoria de comunicação da OMS, em resposta ao Comprova, declarou: “o que podemos esclarecer é o que o diretor-geral da OMS disse em suas declarações à imprensa ontem. Ele foi muito claro. Disse que cada país precisa fazer sua própria avaliação [de quais medidas, incluindo restrições de movimento, eles devem implementar], e ao fazer isso eles precisam levar em conta a realidade daqueles que precisam ganhar a vida diariamente e que essas pessoas precisam ser protegidas, cuidadas. A íntegra está aqui (o trecho mencionado por você está a partir de 34:30).

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Como verificamos

O Comprova consultou a transcrição oficial e o vídeo oficial da entrevista coletiva da OMS do dia 30 de março; além da conta oficial de Twitter de Adhanom e da OMS.

Quem publicou o vídeo do diretor-geral da OMS?

O vídeo fora de contexto da fala de Adhanom foi publicado no dia 30 de março às 16h19 com legendas em português no Twitter pelo usuário @RFGlau, que usou o trecho para justificar as opiniões de Bolsonaro em relação ao isolamento social. A conta de @RFGlau foi criada em março deste ano e usa a mesma foto de perfil de outros dois perfis suspensos, @RafaGlau e @RFLGlau.

O mesmo vídeo, com marca d’água de @RFGlau, foi republicado no mesmo dia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e por seus filhos Carlos (vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Social Cristão), Eduardo (deputado federal de São Paulo pelo PSL) e Flávio Bolsonaro (senador do Rio de Janeiro atualmente sem partido). Os deputados federais Osmar Terra (MDB-RS), Bia Kicis (PSL-DF) e Daniel Silveira (PSL-RJ) também divulgaram o clipe.

O vídeo foi reproduzido ainda no canal de YouTube do pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro.

O que Tedros Adhanom Ghebreyesus disse sobre isolamento social de pessoas mais pobres? Leia a transcrição completa:

Uma repórter da Índia fez a seguinte pergunta durante coletiva de imprensa da OMS direcionada ao diretor de Emergências, Michael Ryan:

“Dr. Ryan, deve estar ciente de que a Índia por conta de seu lockdown está testemunhando uma crise humanitária sem precedentes sob a forma de movimento de migrantes de uma parte do país para outro. Eu entendo que você não gosta de comentar sobre decisões individuais de país, mas esta é uma crise humanitária sem precedentes. Qual seria o seu conselho para o nosso governo?”

O diretor do programa de Emergências de Saúde da OMS, Michael Ryan, respondeu o seguinte:

“Voltando ao que acredito ser a parte mais importante da sua pergunta, e que é sobre os impactos das quarentenas, restrições de movimento, número um, precisam ser vistas com muito cuidado e, dois, obviamente que independentemente da sua intenção, são difíceis de serem aceitas pelas comunidades porque as pessoas precisam se movimentar e querem se movimentar pelas famílias, por razões econômicas e outras razões.

É importante que os governos se comuniquem de forma aberta e transparente às pessoas sobre as razões de as quarentenas, fechamentos ou restrições ao movimento estarem acontecendo porque elas colidem com a liberdade de movimento das pessoas. E se as pessoas precisam abrir mão da sua liberdade de movimento, precisam entender porque isso está acontecendo. Restrições ao movimento são lamentáveis em todas as situações. Ninguém quer que elas aconteçam, mas em situações nas quais você tem uma epidemia muito, muito intensa em uma parte do país e em outra parte do país não é tão intensa assim, você pode precisar implementar algum tipo de medida para pelo menos encorajar – Às vezes é uma recomendação, às vezes é uma forte recomendação e às vezes é uma restrição na qual o transporte é suspenso.

Cada governo deve escolher o equilíbrio entre o que é recomendação para as comunidades e, em alguns casos, o que é uma quarentena forçada. Qualquer uma que seja escolhida, é importante que a comunicação e a aceitação da comunidade estejam no centro da preocupação do governo. É impossível ter uma efetiva restrição de movimento sem que a comunidade esteja de acordo com aquela restrição de movimento.

E, como o Tedros Adhanom Ghebreyesus disse no seu discurso, quando tais medidas são postas em prática é excepcionalmente importante que essas medidas sejam realizadas não só com a aceitação da população, mas também com os direitos humanos e a dignidade das pessoas afetadas no centro. Isso nem sempre é fácil, mas é o que deve ser o centro do objetivo do processo. Eu não estou falando especificamente sobre a Índia; estou falando sobre isso em termos gerais, mas penso que o que ele [Tedros Adhanom Ghebreyesus] fala é que essas medidas para toda a sociedade são difíceis, não são fáceis e estão prejudicando as pessoas.

Mas a alternativa é ainda pior se os países forem capazes de se afastar dessa abordagem. Se nós vamos nos afastar disso como estratégia para suprimir o vírus, temos de pôr em prática a saúde pública. A vigilância, o isolamento, a quarentena, as descobertas, a detecção. Temos de ser capazes de mostrar que podemos ir atrás do vírus, porque só os bloqueios não vão funcionar.

Mas, infelizmente, em algumas situações, neste momento, os lockdowns são a única medida que os governos podem utilizar. É preciso desacelerar este vírus e isso é lamentável, mas essa é a realidade e nós precisamos para explicar continuamente as razões para isto às nossas comunidades”.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, complementou a resposta:

“Sobre a questão do chamado lockdown, talvez alguns países já tenham tomado medidas para o distanciamento físico, fechamento de escolas e prevenção de reuniões e assim por diante. Isso pode ganhar tempo mas, ao mesmo tempo, cada país é diferente.

Alguns países têm um forte sistema de bem-estar social e outros não. Eu sou da África, como sabem, e sei que muitas pessoas têm de trabalhar todos os dias para ganhar o seu pão de cada dia. Os governos devem ter em conta esta população; se vamos fechar ou limitar os movimentos, o que vai acontecer às pessoas que têm de trabalhar diariamente e têm de ganhar o pão de cada dia?

Então cada país, com base na sua situação, deve responder a esta pergunta. Não estamos vendo isso como um impacto econômico sobre um país, como uma média de perda do PIB, ou as repercussões econômicas. Temos que ver também o que significa para o indivíduo na rua e talvez eu tenha dito muitas vezes: eu venho de uma família pobre e sei o que significa preocupar-se sempre com o seu pão de cada dia e isso tem que ser levado em conta.

Porque cada indivíduo é importante e como cada indivíduo é afetado por nossas ações tem que ser levado em conta. É isso que estamos dizendo. Trata-se de qualquer país; não se trata da Índia; trata-se de qualquer país da Terra.

Mesmo o país mais rico da Terra pode ter pessoas que precisam trabalhar pelo seu pão de cada dia. Nenhum país é imune. Todos e cada país têm que ter a certeza de que isto é levado em conta”.

Viralização

Os vídeos foram publicados em canais com grande número de inscritos, como do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos. Juntos, os vídeos somam mais de 500 mil visualizações.

Saúde

Investigado por: 2020-03-31

Reportagem de TV italiana sobre vírus criado em laboratório chinês não tem relação com a covid-19

  • Enganoso
Enganoso
A reportagem em questão, na verdade, fala sobre um grupo de cientistas que criou uma versão híbrida de um coronavírus de morcego na China cinco anos atrás e foi baseada em um estudo da revista científica Nature. Em março de 2020, o periódico esclareceu que não há evidências de que esse experimento tenha relação com a pandemia atual e, em análise posterior, pesquisadores afirmaram que o SARS-CoV-2 não foi fabricado em laboratório ou produzido propositalmente

São enganosas as publicações que afirmam que uma reportagem, veiculada em novembro de 2015, pela emissora de TV italiana RAI, demonstra que o novo coronavírus foi criado em um laboratório pelo governo chinês.

A matéria em questão, que fala sobre um grupo de cientistas que criou uma versão híbrida de um coronavírus de morcego na China cinco anos atrás, foi baseada em um estudo da revista científica Nature. Em março de 2020, o periódico esclareceu que não há evidências de que esse experimento tenha relação com a pandemia atual.

Em análise posterior publicada no periódico britânico, pesquisadores afirmaram que o SARS-CoV-2 não foi fabricado em laboratório ou produzido propositalmente.

A alegação verificada neste artigo foi publicada no Twitter em 25 de março pelo ex-vice-premiê da Itália Matteo Salvini e aparece em múltiplos artigos e postagens compartilhados no Facebook, Twitter e YouTube ao menos desde 28 de março.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo que foi retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Para esta verificação foram consultadas reportagens da mídia italiana, a plataforma digital de vídeos da emissora de TV RAI e estudos publicados pelo periódico científico britânico Nature. Outra fonte de informação foi o site da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que diz a reportagem

Para afirmar que o novo coronavírus – que já deixou mais de 38 mil mortos no mundo desde que foi detectado na cidade chinesa de Wuhan em 2019 – foi criado em um laboratório, as publicações utilizam uma reportagem veiculada no quadro sobre ciências de um telejornal da emissora de TV italiana RAI, o TGR Leonardo, em 16 de novembro de 2015.

“Cientistas chineses criaram um supervírus pulmonar a partir de morcegos e ratos. Serve apenas para fins de estudo, mas há muitos protestos. Vale a pena arriscar?”, diz um jornalista ao apresentar a reportagem.

A matéria detalha a maneira como pesquisadores chineses conseguiram criar um organismo modificado “alterando a proteína superficial de um coronavírus encontrado em morcegos” para que este crie uma síndrome respiratória aguda grave (SARS). Segundo a reportagem, o vírus criado em laboratório poderia contagiar humanos, levando a um debate sobre se os aprendizados promovidos por experimentos deste tipo justificariam os possíveis riscos.

Por conter elementos semelhantes aos presentes na pandemia atual, a reportagem passou a ser compartilhada como se provasse que “o novo coronavírus foi criado em um laboratório na China” e que teria “escapado”. Uma busca no Google pelos termos mencionados na reportagem e o nome do programa levou a um artigo da agência de notícias italiana ANSA sobre a recente repercussão da matéria de 2015.

No texto, o diretor do programa TGR Leonardo, Alessandro Casarin, explica que a reportagem foi baseada em uma publicação da revista científica Nature e que “há apenas três dias, a mesma revista deixou claro que o vírus sobre o qual o serviço relata, criado em laboratório, não tem relação com o vírus natural [que causa a ] COVID-19”.

De fato, uma análise dos materiais publicados pela Nature em novembro de 2015 localiza um artigo intitulado, em tradução livre: “Vírus de morcego projetado gera debate sobre pesquisas arriscadas”.

Em março de 2020, uma nota foi acrescentada no topo do texto, afirmando: “Sabemos que essa história está sendo usada como base para teorias não verificadas de que o novo coronavírus que causou a COVID-19 foi projetado. Não há evidências de que isso seja verdade; os cientistas acreditam que um animal é a fonte mais provável do coronavírus”.

Após a reportagem de 2015 começar a ser associada ao novo coronavírus, o programa Porta a Porta, da mesma emissora de TV italiana, convidou um especialista para debater o tema. Na emissão, o professor Fabrizio Pregliasco, especialista em virologia da Universidade de Milão, classificou a possibilidade do novo coronavírus ter “escapado” de um laboratório como uma “teoria da conspiração”.

“Há, pelo contrário, confirmações de que se trata de uma origem natural, através sempre de uma variação de um vírus do morcego. O genoma que foi isolado mostra uma origem natural. Teórica, essa possibilidade entra nas possibilidades de complôs, de teorias da conspiração que são também ligadas ao fato que em Wuhan há um belíssimo laboratório de alta segurança onde acontecem estudos. Mas reforço que, na realidade, essa não seria a origem desse vírus”, afirmou Pregliasco, em tradução livre do italiano.

 

Origem do novo coronavírus

Estudo publicado em 17 de março deste ano no período científico Nature reitera a informação de que o novo coronavírus tem origem natural. “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus manipulado propositadamente”, afirmaram os pesquisadores.

Como parte do estudo, os autores analisaram a estrutura genética do SARS-CoV-2, concluindo que, se houvesse manipulação genética em laboratório, a estrutura do novo coronavírus seria semelhante a de outros organismos existentes. “No entanto, os dados genéticos mostram irrefutavelmente que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma estrutura central de vírus usada anteriormente”, afirma a pesquisa.

Esta possibilidade também é considerada como mais provável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Atualmente, a origem do SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a COVID-19, é desconhecida. Todas as evidências disponíveis sugerem que o SARS-CoV-2 tem uma origem animal natural e que não é um vírus construído”, explica a organização em seu site.

Os primeiros caso de infecção pelo novo coronavírus foram confirmados em dezembro do ano passado na cidade chinesa de Wuhan. A região, que chegou a registrar milhares de novos casos por dia no auge do surto, no fim de fevereiro, foi considerada no último dia 28 de março uma zona de “baixo risco” por uma fonte do governo local. No restante do mundo, países intensificam as medidas de confinamento para controlar a doença.

Viralização

A alegação de que a reportagem de 2015 da TV italiana comprovaria que o novo coronavírus foi gerado em um laboratório na China circulou amplamente pelo WhatsApp e foi enviada ao Comprova por meio do número (11 97795-0022).

O vídeo, acompanhado da mesma afirmação, foi compartilhado mais de 4 mil vezes em postagens no Facebook e Twitter, desde 28 de março. A mesma alegação acumula mais de 54 mil visualizações no YouTube, além de ter sido publicada em artigo com 9.627 interações no Facebook.